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ASPECTOS DA RELAÇÃO ENTRE ARQUITETURA, URBANISMO E EDUCAÇÃO: O CASO DA ESCOLA NORMAL OFICIAL DE JUIZ DE FORA

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13 RESUMO

Este artigo tem como objetivo apresentar alguns profícuos aspectos das relações entre os campos da arquitetura, urbanismo e a história da educação através do estudo da trajetória inicial da Escola Normal Oficial de Juiz de Fora. A construção de equipamentos escolares representa ideais de um grupo de lideranças governamentais e intelectuais e influi diretamente na construção das cidades nas quais está inserido. Essas posturas trazem à tona diversos temas que, embora permaneçam atrelados ao campo da educação, também se aproximam das temáticas urbanísticas. Uma abordagem que leve em consideração a diversidade de temáticas apresenta a oportunidade de promover uma compreensão mais ampla do objeto de estudo. A pesquisa para este artigo exigiu a coleta e análise de dados de diferentes fontes tais como jornais, livros, dissertações, artigos, memoriais justificativos e processos, além de um vasto acervo de imagens composto por fotografias, projetos arquitetônicos e urbanísticos. Analisar a história da cidade através de seus edifícios permite compreender seu processo de desenvolvimento e crescimento através das heranças deixadas por seus antepassados. A Escola Normal de Juiz de Fora não só interferiu no cenário urbano como também sofreu com os desejos de mudança do município e, hoje, configura-se como um patrimônio urbano que ainda carece de estudos os quais levem em consideração a amplitude de suas relações com a urbe.

Palavras-chave: Arquitetura. Escola. História. Urbanismo.

1 Este artigo foi produzido a partir do projeto de iniciação científica apoiado pelo CES/JF através de seu programa de iniciação científica.

* Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo do CES/JF, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestre e Doutor em Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

** Professora do curso de arquitetura e Urbanismo do CES/JF graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestre e Doutoranda em Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

*** Alunos do curso de arquitetura e urbanismo do CES/JF.

Klaus Chaves Alberto*

Luciane Tasca** Ana Paula de Souza Teixeira*** Eron Rossignoli Emerick*** Patrícia de Moura e Silva Toledo*** Vinícius Resende Pereira***

ASPECTOS

DA

RELAÇÃO

ENTRE

ARQUITETURA,

URBANISMO E EDUCAÇÃO: O CASO DA ESCOLA NORMAL

OFICIAL DE JUIZ DE FORA

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14 ABSTRACT

This article intends to show many common aspects of architeture, urbanism and the education’s history by the study of the beginnings of Escola Normal Oficial of Juiz de Fora. The Intelectuals and governmental leaders’ ideas are represented throughout a direct interference at the building of scholars equipage and this influence reaches the cities where they are.These conducts and behaviors called to mind many themes althoug linked to the education in inspite of being closer to the urbanistic thematic. An approach that is concerned about to these different themes is a oportunity to promote an enlarge compreenhension of the objective of this study.The article’ search demanded input analyze from different sources of information: newspapers, books, dissertations, articles, reports, proceedings and a wide database of photographs besides urbanistics and architectures projects .Having the history of the city being analize through its buildings, allows us comprehending the growth and the development left by the ancestors. The Escola Normal of Juiz de Fora not only interfered in the urban scenery as well as has received interferences and today is a urban patrimony claming to studies that take into account the enlarge connection with the city.

Keywords: Architecture. School. History. Urbanism.

1 INTRODUÇÃO

“Aqui houve uma prisão, hoje há uma escola”1

A primeira instituição escolar com o nome de Escola Normal foi criada pela Convenção de Paris em 1794 por proposta do educador francês Lakanal e foi instalada nessa mesma cidade no ano seguinte. Recebeu o título de Escola

Normal porque deveria servir de exemplo na formação de professores para as

demais unidades escolares.

Embora sua origem possa ser remontada no século XVIII, ainda antes, o educador Comenius, no século anterior, já indicava a necessidade de preparação do professor, ainda que não tivesse criado esse tipo de ensino.

Essa idéia foi seguida por vários países no século XIX. Em 1835 foi implantada a primeira Escola Normal na Inglaterra e, em 1838, nos Estados Unidos. Na Alemanha, somente no início do século XIX, em decorrência do movimento Pestalozziano, que a preparação de professores para o ensino 1 Epígrafe no acesso da Escola Normal de Juiz de Fora

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elementar institucionalizou-se. (REIS FILHO, 1981, p. 128).

Na América Latina, a primeira Escola Normal foi criada em 1835 no Brasil, na cidade de Niterói, no contexto de sua recente elevação à capital do estado do Rio de Janeiro, e foi a primeira de caráter público no continente.

Em Minas Gerais, na capital Ouro Preto, foi inaugurada a primeira Escola Normal de ensino primário em 1840. No ano de 1882 havia um total de cinco escolas com este caráter no estado (OLIVEIRA, 2000, p. 43).

Durante o governo do então presidente do estado de Minas Gerais (1926-30) Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, houve um grande aumento do ensino normal no estado. Andrada, em seu mandato, tinha por objetivo reformular a base do ensino, atuando nas escolas primárias de forma direta, criando as escolas primárias anexas às Escolas Normais, mas principalmente de forma indireta, investindo na formação de professores. Os dados do crescimento na área da educação no Estado são demonstrados na tabela a seguir:

TABELA 1 - UNIDADES DO ENSINO PÚBLICO EM MG (1926-1930)

NATUREZA 1926 1930 TAXA DE CRESCIMENTO Ensino Primário 2117 3926 179% Ensino secundário 2 6 200% Ensino normal 2 21 950% TOTAL 212 5954 170% Fonte: OLIVEIRA, 2000, p. 53

2 ESCOLA NORMAL EM JUIZ DE FORA

A pesquisadora Delaine Gomes de Oliveira (2000) destaca em sua dissertação de mestrado sobre a Escola Normal de Juiz de Fora, a existência de outras instituições de ensino que promoviam o ensino normal na cidade. Segundo Albino Esteves (1915, p. 263-6) foram elas: 1. Colégio e Escola Normal Lucindo Filho, fundado por Machado Sobrinho, em janeiro de 1911; 2. Colégio e Escola Normal Delfino Bicalho, fundado em janeiro de 1905; 3. Escola Normal Santa Cruz, fundada em abril de 1913 (ILUSTRAÇÃO 1); 4. Colégio Malta, fundado em 1893.

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ILUSTRAÇÃO 1 – 1. Escola Normal Lucindo Filho; 2. Colégio e Escola Normal Delfino Bicalho; 3. Escola Normal Santa Cruz.

Fonte: ESTEVES, 1915, p. 265-76.

Diferente dessas escolas já existentes na cidade, a Escola Normal Oficial, criada em 1894, inicialmente destinada exclusivamente para formação de mulheres, era de responsabilidade do Estado. Inicialmente ocupou o prédio onde funcionara o antigo Mercado Municipal, e, posteriormente, passou a funcionar no Palacete de Santa Mafalda. Esta primeira tentativa teve vida curta, pois, quatro anos depois, foi fechada por motivos econômicos durante o governo de Silviano Brandão.

No decreto nº. 8245 de 20 de Fevereiro de 1928 no governo de Antônio Carlos, a Escola Normal Oficial de Juiz de Fora foi reaberta. Instalou-se provisoriamente no dia 21 de Março de 1928 na Rua Espírito Santo na antiga residência do Sr. Luís Eugênio Horta Barbosa sob direção do professor João Augusto Massena. As obras de adaptação desse edifício foram realizadas por supervisão do Engenheiro Lourenço Baeta Neves2 auxiliado por Benjamim Quadros (OLIVEIRA, 2000, p. 62-64).

2 Lourenço Baeta Neves foi diretor da Viação e Obras Públicas do Estado de Minas Gerais e consultor técnico do Presidente do Estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. (OLIVEIRA, 2000, p. 86).

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17 3 A ESCOLHA DO TERRENO

Neste contexto aparece a necessidade de se instalar o novo edifício da Escola Normal Oficial em um espaço diferenciado, onde se destacaria o investimento do Estado na educação e simbolizaria a importância da inserção do ensino normal no desenvolvimento e imagem da cidade.

O terreno escolhido para sua implantação estava localizado na esquina da Rua Espírito Santo com a Avenida Quinze de Novembro (atual Getúlio Vargas), onde abria a Rua Doutor Fontin.

Neste local existia o prédio da Cadeia Municipal (ILUSTRAÇÕES 2 e 3), essa era uma das primeiras edificações que se via ao chegar a Juiz de Fora pela Estrada União e Indústria.

Essa edificação possivelmente gerava uma desagradável recepção no acesso do município. Era do interesse das autoridades inverter esse quadro, erguendo uma escola, simbolizando aos visitantes uma nova imagem que, ao invés de punir, seria admirável formar cidadãos dignos através da educação.

ILUSTRAÇÃO 2 - Situação do terreno em 1884 Fonte: PASSAGLIA, [198-]. (grifo nosso).

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18 ILUSTRAÇÃO 3 - Cadeia Municipal

Fonte: Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Juiz_de_fora_(1893). jpg (destaque nosso)

É fato que a implantação de Escolas Normais no Brasil sempre teve como princípio a ocupação de terrenos centrais nas cidades, sendo pontos de destaque na cena urbana, de modo que refletisse o ideal republicano (ILUSTRAÇÃO 4). Segundo Bencosta et al. (2005, p. 97):

[...] a construção de edifícios específicos para os grupos escolares foi uma preocupação das administrações dos estados que tinham no urbano o espaço privilegiado para sua edificação, em especial, nas capitais e cidades prospera-se economicamente. Em regra geral, a localização dos edifícios escolares deveria funcionar como ponto de destaque na cena urbana, de modo que se tornasse visível enquanto signo de um ideal republicano, uma gramática discursiva arquitetônica que enaltecia o novo regime.

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Escola Normal Liceu Lakanal

Colégio Estadual do Paraná ILUSTRAÇÃO 4 - Outras Escolas Estaduais no Brasil Fonte: BENCOSTA, 2005, p. 86, 252

Em Juiz de Fora, não foi diferente. Ficou idealizado que o prédio deveria estar em uma posição de destaque na cidade e esse terreno atendia a essa preocupação. Situado na Praça Antônio Carlos, a Escola Normal era envolvida por prédios de grande relevância para cidade como o Edifício da Fábrica Bernardo Mascarenhas, a Alfândega Seca, o Prédio da Companhia Industrial e Construtora Pantaleone Arcuri e o Edifício da Companhia Mineira de Eletricidade. (ILUSTRAÇÕES 5 e 6).

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ILUSTRAÇÃO 5 - Foto aérea mostrando a Escola Normal e seu entorno em 11 de setembro de 2008

Fonte: Acervo pessoal de Eron Rossignoli Emerick.

ILUSTRAÇÃO 6 - Planta da Zona Central, mostrando o entorno da Escola Normal.

Fonte: Mapa consultado no Arquivo Histórico de Juiz de Fora grifo nosso). Klaus Chaves Alberto, Luciane Tasca, Ana Paula de Souza Teixeira...

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Também podemos verificar a importância desse terreno no memorial descritivo de Lourenço Baeta Neves, engenheiro responsável pelo projeto.

Dentro do núcleo central da cidade, envolvido pela linha circular de bondes da Companhia Mineira de Eletricidade, passando pela estação da Central do Brasil, a situação escolhida, de conveniência para o ensino normal, permitira que o grupo escolar e jardim de infância que se anexa à escola normal, para tirocínio profissional, sirvam à população do extremo sudoeste da cidade, de um lado e do outro do Paraibuna; e como a edificação daí por diante se rareia, o ponto tem também verdadeira situação vestibular, para o lado do Rio de Janeiro. (ESCOLA..., 1927).

Repara-se nesta argumentação que, além da situação privilegiada como monumento a ser erigido no acesso da cidade, o terreno ainda responderia a uma questão que se tornava relevante para o espaço urbano: nesse momento consolidava-se a importância de se permitir o acesso à escola para alunos dos mais variados pontos do município. A partir disso, houve a preocupação de se explorar as conexões viárias a fim de permitir o acesso e socializar a cidade para seus habitantes.

O terreno atendia às expectativas dos idealizadores do projeto, porém essa visão não era consensual. A escolha também foi alvo de críticas, como se pode verificar na seção de leitores do Jornal Diário Mercantil em 11 de agosto de 1928.

[...] na esquina das ruas Espírito Santo e 15 de novembro, facil-mente se verifica, não deve funccionar um estabelecimento de en-sino para moças e meninas. Naquele local, além do alarido cons-tante e ensurdecedor, provocado das sete horas da manhã às cinco da tarde pelas grandes officinas da Companhia Pantaleone Arcuri, da Fábrica Meurer, da Distribuidora da Mineira de Eletricidade e da Fábrica Mascarenhas, há o grande trânsito de carroças e auto-caminhões que se destinam ao serviço de cargas da Central, além do cruzamento , à esquina, das linhas de bondes da Mineira. Mais ainda. Das 10 às 11, de 1 a ½ e de 4 a 5 horas, naquele trecho, centenas de operários se agglomeram, aguardando os intervalos das refeições para o trabalho, daí advindo o grave inconveniente da promiscuidade entre as alunas e os operários, quando bem se sabe que a pedagogia e a hygiene escolar aconselham devam os estabelecimentos de ensino ser localizados em pontos tanto quan-to possível afastados do movimenquan-to urbano [...] [sic].(ESCOLA..., 1928)

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O autor do artigo ainda sugere outros terrenos para a construção da Escola Normal, como o do antigo teatro da Rua Espírito Santo e alguns da Ave-nida Rio Branco, onde já funcionavam algumas repartições administrativas do Estado.

Temas como os levantados não foram respondidos oficialmente. Parece que a implantação no acesso da cidade, de fácil conexão viária, suplantava problemas considerados de menor escala. Mas parece, também, que temas como esses já haviam sido debatidos pelos idealizadores da escola. Afinal, eles já compreendiam as dificuldades da implantação em um local de antigos aterros alagadiços e inconsistentes.

As deficiencias sanitarias que se pudessem encontrar nesse terre-no, pela proximidade do ribeirão que vem de São Matheus, pelos fundos dos quintais da rua do Espirito Santo, seriam totalmente re-moviveis com o trato aconselhável para esse curso, nos estudos do saneamento geral da cidade, que, em 1915, fiz com o engenheiro

Saturnino de Brito3 [sic]. (ESCOLA..., 1927).

4 REPRESENTATIVIDADE

Para uma análise mais completa do desenvolvimento formal do edifício serão utilizados trechos do texto justificativo do projeto da Escola Normal, feito pelo engenheiro Lourenço Baeta Neves em 1927.

No documento, o autor esclarece que a volumetria do projeto procura favorecer um melhor aproveitamento do terreno disponível. A configuração feita pelo engenheiro, então, foi o resultado da própria forma triangular do terreno. Por outro lado percebe-se uma ênfase na escala do edifício e a importância das relações entre ele e seu entorno urbano. E assim, segundo ele, estar “[...] em conveniente harmonia com o conjunto dos bons prédios da vizinhança”. (ESCOLA..., 1926)

Noutro sentido, para o engenheiro, a forma do edifício deveria representar valores desatrelados à tradição arquitetônica configurando uma arquitetura em

estilo moderno. O discurso de modernidade presente no texto do projetista é

3 Francisco Saturnino Rodrigues de Brito foi engenheiro sanitarista que fez os principais estudos urbanísticos e de saneamento de cidades como Vitória (ES), Campinas, Ribeirão Preto, Limeira, Sorocaba, Amparo, Petrópolis, Paraíba do Sul, Itacocara e até de Campos sua terra natal. Disponível em: http://www. novomilenio.inf.br/santos/fotos096.htm. Acesso em: 10 set. 2008.

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um sintoma do que estava sendo desenvolvido em empreendimentos escolares no Brasil. No Rio de Janeiro, então capital da República, a partir do ano de 1928, foram se consolidando diversas posturas administrativas e projetuais que reforçavam a necessidade de todo o país se engajar em um novo momento dos espaços educacionais, a partir de então representativos de um novo projeto de modernização mais amplo da sociedade.

Assim, foram criados diversos edifícios escolares que procuravam se distanciar do viés eclético das primeiras escolas republicanas que referendavam o gosto, comum na época, pelas idéias européias do século XIX. (OLIVEIRA, 1991).

Na Escola Normal, a modernidade arquitetônica teria outros motivos pois também servia “[...] para attender principalmente a sua utilidade e à leveza de ornatos que melhor convem ao processo de construcção escolhido em cimento armado [sic]”. (ESCOLA..., 1927). Nesse sentido, suas fachadas sustentam linhas verticais dominantes, criadas por jogos de colunas superpostos, sem muitos ornamentos, adaptando a estética do prédio ao processo construtivo estrutural de concreto armado que, na época, era considerado como uma inovadora técnica de construção. Esta tecnologia permitiria o uso reduzido de alvenarias, conquistando espaço útil para o ensino e deixando vãos mais livres e, conseqüentemente, mais iluminados e ventilados. Além disso, permitiria reduzir o tempo de construção da obra.

Outro tema importante que a leitura do objeto arquitetônico apresenta é a preocupação com os aspectos sanitários da construção. Baeta Neves afirma que a implantação do edifício teria um afastamento em relação ao terreno vizinho para garantir larga abertura que proporcionaria circulação de ar em todo o prédio. O afastamento das faces do edifício em relação às edificações vizinhas seria de pelo menos dez metros. Nas fachadas foram projetadas amplas janelas, reforçando a questão do aproveitamento máximo da iluminação natural e promovendo a ventilação adequada. Segundo Neves “As salas de aula têm largura maxima na direção da iluminação preponderante de sete metros e de oito a cêrca de nove e meio metros em direção normal à primeira [sic]” (ESCOLA..., 1927).

Cabe ainda frisar que a planta da escola tinha o plano arquitetônico em V, o que resguardava o pátio interno, dando-lhe privacidade em relação ao exterior do edifício. Essa configuração gera um limite físico e visual, uma linha divisória entre o exterior e o interior do edifício.

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As obras da Escola Normal tiveram início em 23 de julho de 1928, (ILUSTRAÇÃO 7) e sua execução ficou a cargo da Companhia Pantaleone Arcuri, uma importante construtora da época que já havia realizado relevantes obras no município, como os edifícios das Repartições Municipais, o Clube Juiz de Fora, o Banco do Brasil, a Associação Comercial, o colégio Granbery e o Cine Teatro Central entre tantas outras. A iluminação do edifício ficou sob responsabilidade da firma Sangiorgi & Oliveira. A pintura ficou sob encargo do artista Ângelo Bigi. A cor predominante na fachada era o cinza e internamente o verde claro e o bege.

ILUSTRAÇÃO 7 - Início das obras da Escola Normal Oficial de Juiz de Fora Fonte: Foto consultada na Divisão de Patrimônio Cultural de Juiz de Fora (DIPAC).

O prédio foi inaugurado em 14 de agosto de 1930 (ILUSTRAÇÃO 8), sendo um dos primeiros edifícios de Juiz de Fora a se beneficiar de elevador. Segundo Baeta Neves, “[...] haverá também um grupo de elevadores de serviço e, para ocasiões especiais, estabelecido na mesma caixa da escada principal e das que lhe ficam superpostas”. (ESCOLA..., 1927).

Após a inauguração ainda foram realizadas as obras do pátio, Jardim de Infância e classes anexas.

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ILUSTRAÇÃO 8 -Escola Normal Oficial de Juiz de Fora Fonte: Acervo Histórico da UFJF.

Em 1968, novamente, as questões urbanas interferiram diretamente na dinâmica do espaço educacional. Nesse ano, iniciou-se a abertura da Avenida Independência que, em 1970, levou a demolição de uma das alas da Escola, deixando uma marca indelével do desenvolvimento urbano no patrimônio educacional da cidade. (ILUSTRAÇÃO 9).

Vinte e seis anos depois, a escola foi tombada como patrimônio municipal, consolidando sua importância histórica para a configuração da cidade.

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ILUSTRAÇÃO 9 -Escola Normal antes e depois da demolição e uma das torres

Fonte: ESCOLA normal. Revista Juiz de Fora em 2 Tempos, Juiz de Fora, 1997, p. 99.

5 CONCLUSÃO

Todo o processo que envolveu a construção do prédio para a nova Escola Normal Oficial de Juiz de Fora demonstra a importância desse equipamento para a cidade. Sua implantação em um terreno de destaque na cena urbana afirma o significado do projeto, no sentido de refletir o interesse do município na educação, que simbolizava o próprio ideal Republicano.

Na década de 20, Juiz de Fora teve um crescimento urbanístico considerável com o surgimento de escolas, teatros, jornais e instituições culturais. A Escola Normal Oficial de Juiz de Fora fez parte desse crescimento, uma vez que o governo tinha a preocupação de inserir a educação na cidade, proporcionando Klaus Chaves Alberto, Luciane Tasca, Ana Paula de Souza Teixeira...

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alfabetização a toda população e, ao mesmo tempo, reforçando seu caráter de modernidade.

No projeto arquitetônico do edifício foram levados em conta questões de higiene, circulação, ventilação, implantação, iluminação, disposição e o dimensionamento dos espaços, proporcionando um ambiente mais adequado à tarefa de educar.

São necessários ainda estudos mais focados no campo da Arquitetura e do Urbanismo referentes a esse e a tantos outros espaços educacionais da cidade, pois a análise histórica da educação de uma sociedade e o espaço físico que o fato envolve ajuda-nos a compreender, não somente as transformações que essas instituições sofreram por força de seu próprio campo disciplinar, mas também a relação do espaço estudantil com a complexidade urbana de uma cidade.

Artigo recebido em: 10/09/2008 Aceito para publicação: 23/10/2008

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28 REFERÊNCIAS

PENNA, José Menezes Procópio de Rezende. As obras da Escola Normal. Diário Mercantil, Juiz de Fora, 11 ago. 1928.

BENCOSTA, Marcus Levy Albino; SOUZA, Rosa Fátima de; VIÑAO, Antônio; COEUR, Marc Le; SCHIMMELPFENG, Regina Maria; IWAYA, Marilda; CHORNOBAI, GISELE Quadros Ladeira; CORREIA, Ana Paula Pupo; COLOMBO, Irineu. História da Educação, Arquitetura e Espaço Escolar. São Paulo: Cortez, 2005.

ESTEVES, Albino. Álbum do município de Juiz de Fora. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1915.

ESCOLA Normal de Juiz de Fora. Jornal Gazeta Comercial, Juiz de Fora, 22 out. 1926.

ESCOLA Normal de Juiz de Fora. Jornal Gazeta Comercial, Juiz de Fora, 18 dez. 1927.

ESCOLA Normal de Juiz de Fora: as obras de adaptação do prédio à rua do Espírito Santo ficarão concluídas até 20 do corrente. Jornal Diário Mercantil, Juiz de Fora, 13 mar. 1928.

OLIVEIRA, Beatriz Santos de. A modernidade oficial: a arquitetura das Escolas Públicas do Distrito Federal (1928-1940). 1991. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP, São Paulo, 1991. OLIVEIRA, Delaine Gomes de. Memórias e representações acerca da Escola Normal Oficial de Juiz de Fora (1928-1968). 2000. 131 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2000. PASSAGLIA, Luiz Alberto do Prado. A preservação do patrimônio histórico de Juiz de Fora: medidas iniciais. Juiz de Fora: Esdeva/IPPLAN, [198-].

REIS FILHO, Casemiro dos. A Educação e a Ilusão Liberal. São Paulo: Cortez, 1981.

Referências

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