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A pré-iniciação científica e suas contribuições sob a ótica dos estudantes do programa Jovens Talentos para a ciência Faperj - Rio de Janeiro/Brasil

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A pré-iniciação científica e suas contribuições sob a ótica dos estudantes do

programa Jovens Talentos para a ciência Faperj - Rio de Janeiro/Brasil

Sandra Azevedo1,2, Tania Cremonini de Araújo-Jorge², Paulo Azevedo3 e Valéria da Silva Trajano2 1Colégio Estadual Deodato Linhares de Miracema, Rio de Janeiro, Brasil; sandraazevedocvt@gmail.com 2 Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos, Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de

Janeiro, Brasil. taniaaj@ioc.fiocruz.br; valeria.trajano@ioc.fiocruz.br 3 Universidade de Léon na Espanha. paulocesarcruzdeazevedo@gmail.com

Resumo. No Brasil, a pré-iniciação científica é desenvolvida em diferentes instituições de pesquisa e ensino, com apoio de agências de fomento, no intuito de diminuir o fosso entre o ensino médio e superior, contribuir para a divulgação da ciência e sua iniciação na Educação Básica. Neste estudo analisamos as contribuições do Programa Jovens Talentos (PJT) para a Ciência-Faperj sob a ótica dos estudantes do Programa (JT’S) de 2010 a 2017. Os JT’S responderam um questionário, e os resultados foram analisados qualitativamente pela Técnica de Análise de Conteúdo. Os JT’S (86,2%) adjetivaram a sua experiência no Programa com sentimentos de satisfação. Para os JT´S o programa contribuiu em suas vidas em várias categorias: intelectual (56%), pessoal (50%), profissional (48%), conhecimentos (31%), vida acadêmica (27,5%), mundo acadêmico (26%), apresentações (20,5%) e definição profissional (19%). Por meio da metodologia empregada percebemos que o PJT promoveu a construção de conhecimentos, transformou a realidade e a vida da maioria dos seus jovens participantes. Palavras-chave: Pré-iniciação científica; Ensino de Ciências; Metodologia de Projeto; Metodologia Ativa.

Scientific pre-initiation and its contributions under the optics of students of the young talent program for science Faperj - Rio de Janeiro / Brazil

Abstract. In Brazil, scientific pre-initiation is developed in different research and teaching institutions, with the support of development agencies, in order to reduce the gap between high school and higher education, to contribute to the dissemination of science and its initiation in Basic Education. In this study we analyzed the contributions of the Young Talent Program for Science-Faperj from the perspective of the students of the Program (JT'S) from 2010 to 2017. The JT'S answered a questionnaire, whose results were analyzed qualitatively by the Content Analysis Technique. JT'S (86.2%) adjectives their experience in the Program with words meaning satisfaction. For JT´S, the program contributed to their lives in several categories: intellectual (56%), personal (50%), professional (48%), knowledge (31%), academic life (27.5%), academic world %), presentations (20.5%) and professional definition (19%). Using this methodology, we detected that the program promoted the construction of knowledge, transformed the reality and life of the majority of their young participants.

Keywords: Scientific pre-initiation; Science teaching; Project methodology; Active Methodology.

1 Introdução

A Iniciação científica (IC) brasileira existe desde a década de 50 do século XX, quando estudantes de nível superior auxiliavam seus docentes em atividades de pesquisa (BARIANI,1998). Entretanto, a sua institucionalização ocorreu apenas em 1968, com o Art. 2° da Lei n° 5.540, de 28/11/1968, que a

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criou como uma norma disciplinadora do ensino superior, sendo impossível dissociar ensino de pesquisa. Nosso modelo de IC foi inspirado em países como USA e França e considerado por alguns como “um caminho da independência intelectual” (BAZIN, 1983). Nesse modelo o estudante de graduação recebe uma bolsa de estudos para elaborar e desenvolver um projeto de pesquisa, sob a orientação de um pesquisador. Contudo há outros programas de iniciação científica, cujas atividades se limitam a treinamento ou estão inseridos dentro de uma disciplina de metodologia, ou compreendem visitas a instituições de pesquisa.

Mediante o sucesso dos programas de IC no ensino superior, e tentando revitalizar o ensino médio da Educação Básica, em vários estados brasileiros surgiram alguns Programas de Pré-iniciação científica, para estudantes de ensino médio da rede pública. Tais Programas se estabeleceram como política pública educacional, institucionalizada e financiada por órgão do Estado, integrado nas políticas públicas de educação científica e inclusão social. A Pré-iniciação científica metodologicamente se fundamenta no estudo ativo por meio de projetos científicos. Cada programa apresenta os seus objetivos e suas peculiaridades, mas inicialmente todos são reconhecidos como um meio de inclusão social, na tentativa de resgatar jovens carentes e talentosos para as universidades, por meio de ações educativas (ZANCAM, 2000; AMÂNCIO, 2004; MEIS, 2006; MOREIRA, 2006; FERREIRA, 2013). Esses estudantes são selecionados por meio de análise documental, entrevista, dentre outros critérios, visando identificar habilidades, interesse e os objetivos dos candidatos (ARANTES & PERES, 2015).

No estado do Rio de Janeiro foram criados diversos programas de pré-iniciação científica como: (i) o PROVOC, desenvolvido na Fundação Oswaldo Cruz, (ii) Jovens Talentos para a Ciência Faperj, desenvolvido em parcerias com diversas universidades e centros de pesquisa do estado do Rio de Janeiro, (iii) Novos Talentos da Capes, presente na Universidade Federal do Rio de Janeiro, (iv) Jovem Cientista, em parceria com o Instituto Vital Brasil e Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói/RJ, entre outros. Inicialmente, nesses programas, os estudantes deveriam estar cursando o segundo ano do ensino médio. Atualmente, podem ser estudantes que estão iniciando o ensino médio e existem algumas iniciativas com estudantes na fase final do ensino fundamental da Educação Básica (MEDEIROS & LARA-JÚNIOR, 2018).

Os programas de pré-iniciação científica seguem os moldes da Iniciação Científica do ensino superior e almejam que o estudante desenvolva projetos com criatividade, inovação, metodologia científica, análise de dados, produção de protótipos e argumentação. A pré–iniciação científica valoriza o protagonismo do estudante, visto que estimula a autonomia e liberdade no seu processo de letramento científico. Os estudantes criam e desenvolvem seus projetos sob a orientação de um docente, mestre ou doutor. Dessa forma auxilia a escola no cumprimento de sua missão: oportunizar ações que envolvam a autonomia do estudante em assuntos nos quais a sociedade está diretamente envolvida, principalmente aqueles que exijam aplicação de conhecimentos científicos na tomada de decisões (CONRADO; ELHANI, 2010; MASSOLA et al, 2016).

Neste estudo temos como objetivo identificar as contribuições que o Programa Jovens Talentos para a Ciência Faperj, na cidade de Miracema, proporcionou aos jovens que participaram dessa iniciativa, de 2010 a 2017.

1.1 Programa Jovens Talentos para ciência da Faperj, em Miracema, RJ/Brasil

O Programa Jovens Talentos para a Ciência (PJTC) Faperj foi lançado em 1999, executado pelas instituições estaduais Fundação Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro – Cecierj – e Fundação de Amparo à Pesquisa Carlos Chagas Filho – Faperj. O programa firmou parcerias com instituições de pesquisa e universidades públicas e privadas do Estado do Rio de Janeiro de modo a

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inserir um público que praticamente está excluído de projetos complexos e expressivos; assim os estudantes da rede pública estadual de ensino médio da Educação Básica são inseridos na pré-iniciação científica. O PJTC abrange diferentes áreas do conhecimento e a partir de 18 de julho de 2003, passou a contar com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/MCT (CNPq), que disponibiliza bolsas de Iniciação Científica Júnior (FAPERJ, 2019). O PJTC tem por objetivos (i) selecionar estudantes com grande interesse pela ciência e potencial para atuar em pesquisa científica; (ii) estimular a formação de estudantes, identificando novos quadros para atuação profissional no campo do saber científico; (iii) contribuir para a difusão dos conhecimentos científicos, desmitificando a ciência e articulando pesquisa e ensino. Os estudantes devem ter entre 15 e 18 anos, estar cursando o primeiro ano do ensino médio, ter interesse e curiosidade científica, bom aproveitamento escolar, responsabilidade, criatividade, ousadia e autonomia. Selecionados, recebem bolsa de auxílio alimentação e deslocamento (FAPERJ, 2019). O estágio dos estudantes no programa é composto por duas fases: (i) Estágio Inicial, com duração de seis meses (julho-dezembro); ao final, o estudante apresenta um relatório das atividades realizadas e, havendo interesse do orientador e do estudante, poderá ser solicitada a renovação do estágio. (ii) Estágio Avançado, com duração de 12 meses (janeiro-dezembro), na qual o estudante irá aprofundar seu projeto. Finaliza com a apresentação do relatório final e com a oportunidade de apresentar seus resultados na Jornada Científica, que é realizada anualmente pela coordenação local do PJTC, em cooperação com a Faperj e com as instituições parceiras (CECIERJ, 2019). O programa é desenvolvido na cidade do Rio de Janeiro e em várias cidades do interior de norte a sul do Estado. Este estudo está relacionado com o Programa Jovens Talentos para a Ciência Faperj, desenvolvido na cidade de Miracema, no noroeste do estado do Rio de Janeiro/Brasil.

A estimativa populacional da cidade de Miracema é de 26.607 habitantes e sua área territorial é de 304,519 km2. Na cidade existem quatro unidades escolares públicas estaduais, que estão divididas em Jardim de Infância, Centros Integrados de Educação Pública (CIEP’S), Colégios e Instituto de Educação. As unidades escolares públicas municipais são divididas em creches comunitárias, escolas de educação infantil e ensino fundamental. Há ainda quatro instituições escolares privadas.

Inicialmente, o PJTC Faperj em Miracema foi implantado no Colégio Estadual Deodato Linhares (CEDL) em julho de 2010, pelo Coordenador Geral do Programa do Cederj/Cecierj. O CEDL é a maior escola da cidade e recebe estudantes de todo município, da zona rural, e até da zona da Mata do estado de Minas Gerais. O espaço físico comporta em média 1.000 estudantes anualmente, mas na sua história já possuiu 2.000 estudantes por ano. Para a realização de atividades práticas de pesquisa o CEDL dispõe de dois laboratórios, um de biologia e outro de química.

De 2010 a 2017 passaram pelo programa 137 estudantes, que desenvolveram um total de 93 projetos. Todos os projetos estavam relacionados com os problemas da realidade desses estudantes, sociais, ambientais, históricos, literários e de biociências e saúde. A metodologia ativa desenvolvida pelo Programa é de projetos, seguindo as etapas do método científico: observação, problematização, formulação de hipótese, experimentação e teoria, e é desenvolvida nos moldes das ciências naturais. No PJTC Faperj em Miracema as pesquisas, em sua maioria, são abordadas qualitativamente, ou seja , procuram entender o significado individual e coletivo de determinado fenômeno para a vida dos indivíduos, sendo que entre os indivíduos se encontra o educando, pois todos os projetos estavam relacionados com a realidade dos participantes, com as suas condições de vida e trabalho de seus responsáveis, parentes e amigos. Neste estudo que se caracteriza como uma pesquisa qualitativa procuramos identificar as contribuições que o Programa Jovens Talentos para a Ciência Faperj em Miracema proporcionou aos jovens que participaram dessa iniciativa, de 2010 a 2017.

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2 Desenvolvimento Metodológico do Estudo

Esta pesquisa é parte integrante de um estudo de caso qualitivo do Programa Jovens Talentos para a Ciência Faperj, em Miracema/Rio de Janeiro, Brasil. O estudo de caso qualitativo tem como premissa caracterizar determinado fenômeno, dentro do seu contexto, considerando as suas múltiplas dimensões, com uma análise aprofundada, sem perder o seu caráter descritivo e unitário (MENDONÇA, 2003; NAPP, 2008; ANDRE, 2013). Os dados para realização do presente estudo foram coletados por meio de técnicas diversas. Algumas estavam voltadas para captar as percepções dos participantes (estudantes, orientadores, comunidade escolar) sobre o PJTC Faperj Miracema. Realizamos questionários, alguns entregues pessoalmente e outros por e-mail, e posteriormente à aprovação do projeto pelo Comitê de Ética realizamos entrevistas com alguns participantes.

Nossa pergunta de partida foi: como o Programa Jovens Talentos para Ciência Faperj contribuiu para o desenvolvimento dos estudantes participantes em Miracema? O objetivo foi identificar as contribuições que o PJTC Faperj em Miracema proporcionou aos estudantes que participaram dessa iniciativa, de 2010 a 2017.Para tanto os sujeitos envolvidos voluntariamente nesta pesquisa foram os 137 estudantes do ensino médio da Educação Básica do CEDL que participaram do Programa, aqui chamados de JT´S.

Os dados coletados foram analisados segundo a Técnica de Análise de Conteúdo descrita por Bardin (2011), que compreende três fases: a) pré- análise, exploração do material e tratamento dos resultados, b) inferência e c) interpretação. Na pré análise, que consiste na definição dos dados a serem analisados, o material foi categorizado e as categorias obtidas foram expressas em nuvens de palavras. A nuvem de palavras é um recurso gráfico que permite mostrar a frequência dos termos mais utilizados nos textos por meio do tamanho das palavras. As palavras mais frequentes apresentam fontes maiores e as menos frequentes fontes menores. As palavras denominadas “stop

words”, como artigos, pronomes e preposições, são ignoradas no processo (MCNAUGHT; LAM,

2010). Em seguida foi realizada uma leitura dos comentários, a fim de identificar o núcleo de sentido das palavras mais frequentes. Há determinados requisitos que devem ser considerados nessa fase como a pertinência, a objetividade, a fidelidade e produtividade, segundo Bardin (2011). Os dados foram tratados de forma reflexiva e crítica, com interpretação e inferências. Neste estudo discutiremos apenas o conteúdo de duas questões respondida por 116 estudantes, pois até o presente momento não tivemos devolutiva de 21, dos 137 questionários aplicados. Por não termos realizado pré-teste do questionário, de modo a não perder nenhum participante, verificamos que a maioria dos estudantes antecipou na primeira questão a resposta da segunda, optando assim por fazer uma análise conjunta dessas duas questões, relativas à experiência de participação no PJTC e à contribuição do Programa para a formação do discente. No entanto, duas nuvens de palavras distintas expressam a análise.

3 Resultados/Discussão

Quando questionados sobre a experiência no Programa Jovens Talentos verificamos que em 86,2% (100/116) dos depoimentos dos JT’S adjetivaram sua experiência de participação no Programa expressando sentimentos de satisfação. Esses adjetivos foram bem diversificados, gerando categorias de adjetivos como: única 14,6% (17/116), muito boa 10,3% (12/116), ótima 9,5% (11/116) entre outros que podem ser visualizados na Figura 1.

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Figura 1. Nuvem de palavras de categorias das respostas dos JT’S sobre a experiência no Programa “Jovens Talentos para

a Ciência/Faperj”, em Miracema, Rio de Janeiro/Brasil.

As categorias expressas na nuvem da Figura 1 definem a experiência da maioria dos estudantes em relação ao Programa e consequentemente a Pré-Iniciação Científica. Como pode ser visualizado nesses depoimentos.

“ Foi uma experiência única, influenciou muito na minha entrada na faculdade e também me ajudou de várias formas, é uma experiência para a vida toda.” (JT 58 – Educação Física -FASAP)

“ A experiência foi muito boa, pois tive grandes ensinamentos tanto quanto aluno e como pessoa, o projeto modifica a vida de qualquer aluno que nele ingressa e foi de suma importância para mim, pois passei a pensar e me comportar de forma diferente, buscando sempre obter o conhecimento das coisas na qual sou leigo”. (JT 93 – Ciências da Natureza- UFF)

“ Foi uma ótima experiência abriu meus horizontes, minha visão de mundo ampliou, conheci novas pessoas, novos caminhos, novas áreas... Abrimos nossa mente pra uma interpretação diferente de mundo, de trabalho, de trabalho em equipe. Foi um ótimo período pra mim, tanto pra adquirir autoconfiança, paciência”. (JT 59 – Direito – Estácio/Campos)

A forma como a maioria dos JT’S relacionou ou descreveu as suas experiências com o Programa se justifica pela realidade em que vivem e ou viviam esses estudantes. O Município de Miracema, nos meados do século XX, apresentava uma economia predominantemente agrícola. O café foi o seu principal produto, passou pela produção de arroz e agropecuária; atualmente as atividades econômicas predominantes são o comércio e a prestação de serviço.

Com o declínio da economia agrícola, na década de 60, a população rural migrou para a cidade, devido à falta de trabalho nas fazendas. Essa população foi residir nos morros e em áreas periféricas da cidade, contribuindo, assim, com o processo de urbanização desordenada, resultando em problemas sociais, econômicos e ambientais, entre eles, os relacionados à poluição do principal corpo hídrico do município, o Ribeirão Santo Antônio e à produção em larga escala dos resíduos sólidos urbanos.

Além disso, a população é predominantemente idosa, pois os jovens por falta de perspectivas futuras tendem a sair da cidade em busca de melhores condições de vida, estudo e trabalho. Não existe no município nenhuma universidade ou polo universitário público ou privado. Os jovens que almejam trilhar uma vida acadêmica vão para outros municípios vizinhos ou mesmo para a cidade do Rio de Janeiro e cidades universitárias do estado de Minas Gerais, que faz divisa com a cidade de Miracema.

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Geralmente, esses jovens não voltam a residir na cidade por falta de emprego. A maioria dos estudantes que termina a Educação Básica vai trabalhar nas fazendas, comércio e ou empregos públicos e terceirizados ofertados pela prefeitura. Um dos JT’S por meio do seu depoimento deixa claro a falta de esclarecimentos que os jovens de Miracema tinham sobre a acadêmia, após finalizar a Educação Básica: “Através do projeto eu conheci um universo de possibilidades acadêmicas, que

antes eu não tinha noção de que eu poderia usufruir quando concluisse o ensino médio”. (JT – 27 –

Engenharia de Produção - UniRedentor).

Ao analisarmos as informações quanto às contribuições do Programa, com respostas contidas nas duas questões verificamos que as categorias que emergiram nos depoimentos dos JT’S foram: Intelectual 56% 65/116), pessoal 50% (58/116), profissional 48% (56/116), conhecimentos 31% (36/116), vida acadêmica 27,5% (32/116), mundo acadêmico 26% (30/116), apresentações 20,5% (24/116) e definição profissional 19% (22/116).

Figura 2. Nuvem de palavras dos depoimentos dos JT’S sobre as contribuições do Programa “Jovens Talentos para a

Ciência/Faperj”, em Miracema, Rio de Janeiro/Brasil.

As categorias formação profissional, intelectual e pessoal estavam na questão formulada aos estudantes. Acreditamos que esse fato favoreceu para que esses termos fossem os que mais se destacaram na nuvem de palavras, pois os JT’S, na maioria das vezes, se reportavam ao termo para responderem à pergunta, como pode ser constatado nos depoimentos apresentados a seguir:

“O projeto contribuiu na minha formação intelectual, porque a minha curiosidade foi desperta ali. Minha orientadora nunca deu respostas para minhas perguntas, me levava à curiosidade através de outras perguntas, ampliando assim um horizonte, antes restrito”. (JT 41- Engenharia Ambiental e Sanitária – UFJF)

“Contribuiu para minha formação pessoal, porque aprendi a trabalhar em grupo. Para que a pesquisa caminhasse, presisa que todos do grupo tenham interesse... Todos os trabalhos que faço não são tarefas árduas como para os demais da minha turma que não tiveram a oportunidade do projeto”. (JT 52 – Direito – FASAP)

“Contribuiu no aspecto profissional, apresentação de trabalhos foi possível obter mais desenvolvimento para falar em público devido as apresentações”. (JT 65 – Nutrição – UniRedentor)

“Gratificante, pois foi possível durante o tempo de convivência com outros bolsistas e orientadores poder transmitir e ganhar conhecimentos. Ademais, a gama de temas e projetos proporcionou a saída do considerado, senso comum. A cada novo slide

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apresentado era uma questão a ser comentada, favorecendo no ganho de repertório quando tratado o determinado assunto, seja em meio acadêmico ou social, e fazendo com que tivessemos uma bagagem maior de cultura e conhecimento” (JT 117 – Arquirtetura e Urbanismo – UFJF).

“ O projeto acrescentou muita coisa para minha vida acadêmica. Através da minha passagem pelo projeto pude perceber que o contato com diversos meios de pesquisa me tornou uma pessoa mais preparada para buscar soluções para os problemas que encontrei ao longo do caminho” (JT 82 – Enfermagem - UFV).

“Pela primeira vez tive contato com o mundo acadêmico e fui apresentada a uma outra forma de se fazer ciência e construir conhecimentos. O projeto foi de suma importância para minha carreira. Creio que, se não fosse minha entrada no Jovens Talentos, dificilmente teria ingressado na faculdade. Hoje sou graduado em História, estou concluindo minha pesquisa da pós-graduação, e a cada artigo que escrevo, ainda me lembro dos conselhos que aprendi nos tempos de bolsista ” (JT 3 – Professor de História- Fundação São José Itaperuna – Mestrando UFF).

“Contribuiu. Tirou um pouco a minha timidez nas minhas apresentações e fez com que eu aprimorasse meu senso crítico” (JT – 119 – Administração – FASAP).

“Foi uma experiência muito importante, pois foi através do JT que eu adquiri uma visão de mundo mais abrangente, eu comecei a me interessar cada vez mais pelo meio científico. Também não posso deixar de citar que um dos principais motivos pela escolha

do curso de graduação o qual estou fazendo, que é Ciências Biológicas” (JT 64 –

Cieências Biológicas – UENF).

Os termos “vida acadêmica” e “mundo acadêmico”, na maioria das vezes eram reportados com sentidos diferentes, e por isso os categorizamos separadamente. Quando os JT’S se referiam ao termo “vida acadêmica” eles estavam se referindo ao quanto o programa favoreceu a sua vida acadêmica futura, ou melhor, presente, pois a maioria desses JT’S se encontra numa instituição de nível superior, se graduando ou, os mais velhos, já numa pós-graduação. Quando eles usavam o termo “mundo acadêmico” eles estavam se referindo a instituições de pesquisas, pesquisadores, método científico, congressos, entre outros. Para esses jovens o “mundo acadêmico” se configurava como um outro mundo, algo por muitos até então inimaginável. Ao mesmo tempo que os depoimentos dos JT’S nos deixaram felizes em relação ao Programa, eles também nos levaram a questionar o papel da escola, ou do ensino de ciências nas nossas escolas públicas. Uma das tarefas da escola pública democrática é o de assegurar o desenvolvimento intelectual, levando em consideração os conhecimentos científicos, que possibilitam o desenvolvimento do pensamento crítico e associar a teoria à prática cotidiana (LIBANEO, 1994). Contudo, percebemos que há essa lacuna na escola, que atualmente está sendo preenchida pela pré-iniciação científica, quando o estudante tem a oportunidade de participar, como no caso dos JT’S, na cidade de Miracema. Nessa linha de pensamento, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional confere a todo cidadão direito à “formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Art. 22, Lei n0 9.394/96). Cabe a escola a responsabilidade dessa formação, por meio do processo ensino-aprendizagem, que tem como mediador o docente. Segundo Libâneo (1994), as capacidades cognoscitivas são desenvolvidas juntamente com a assimilação de conhecimentos, habilidades e hábitos. Esse processo compreende a formação pessoal, intelectual, moral, afetiva e física. Para ele, como resultado do trabalho escolar os estudantes deveriam ser capazes de observar, criticar fatos e fenômenos da natureza e das relações sociais. Assim como, desenvolver habilidades como: expressão verbal e escrita, senso de responsabilidade, firmeza de caráter, dedicação aos estudos, sentimento de solidariedade e do bem

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coletivo e vontade própria, dentre outras habilidades inerentes dos seres humanos. Entretanto, vários JT’S declararam que adquiriram essas competências por meio da Pré-iniciação científica. O PJTC Faperj Miracema permitiu aos educandos experimentarem a construção do conhecimento científico de maneiras diversificadas. Durante o desenvolvimento de seus projetos os JT’S entraram em contato com a realidade, com as implicações de “fazer ciência”, que não há neutralidade, que o conhecimento não é imutável, e que faz parte do contexto sócio histórico e cultural dos indivíduos. Ademais, na nuvem de palavras percebemos que os estudantes relacionaram termos referentes a atitudes ou capacidades que adquiriram durante o período que participaram do Programa, que vão ao encontro das ideias de Libâneo sobre o papel educativo da escola. Entretanto, a maioria das nossas escolas de Educação Básica, tanto públicas como privadas, desenvolve propostas pedagógicas que não atendem as demandas da sociedade atual, assim como não favorecem uma “formação para a cidadania” como preconiza a LDB no Art. 22, Lei n0 9.394/96. As aulas são expositivas, com pouca ou nenhuma interação entre o sujeito e o objeto de conhecimento, desvinculada da realidade do educando. Diferente da metodologia de projetos que enfatiza a formação de competências, onde processo ensino-aprendizagem se desenvolve de forma ativa e participativa no que tange ao envolvimento dos estudantes. Nessa pedagogia os estudantes são construtores e avaliadores de suas ações, com a supervisão atenta de seus docentes e/ou orientadores, como preconiza o PJTC-Faperj. Adicionalmente os estudantes aprendem a pensar, refletir e buscar soluções para os seus problemas por meio da criatividade. Diferente das metodologias tradicionais, onde os estudantes são meros acumuladores de saberes sem a sua aplicabilidade no cotidiano (OLIVEIRA, 2009).

Um outro destaque na nuvem de palavras foi sobre as apresentações. Para os JT’S as apresentações dos projetos, tanto entre eles, como nas Jornadas Científicas, os auxiliaram a trabalhar a timidez, melhorar a oratória, o vocabulário, compartilhar conhecimentos uns com os outros, despertar o senso crítico, ter outra visão sobre ciência, ganhos obtidos geralmente na graduação. Alguns (19%) declararam que a participação no Programa e consequentemente o desenvolvimento da metodologia de projetos, possibilitou a tomada de decisões e uma delas foi a definição de suas carreiras profissionais, outro item avaliado por nosso grupo. Verificamos que um grande número de estudantes está cursando graduações relacionadas com o projeto que desenvolveram, seja na área social ou literária, ambiental, entre outras. Entre as inúmeras vantagens da metodologia ativa podemos destacar também os laços de afetividade que são construídos com facilidade, pois essa metodologia favorece um envolvimento maior dos estudantes entre si e entre docente-discente. Segundo Arantes (2003) necessitamos construir um sistema educativo que supere a clássica dualidade entre razão e emoção, cognição e afetividade, que destacam como desenvolvimento intelectual os aspectos cognitivos e racionais, relegando para segundo plano os aspectos emocionais e afetivos dos indivíduos. A metodologia de projetos desenvolvida conseguiu conjugar a afetividade, o ensino e a aprendizagem, dando suporte ao trabalho de cooperação e descobertas, despertando a confiança na capacidade de aprender, tomar decisões, fazer escolhas, aprender a ouvir, refletir, defender questões e concretizar os objetivos. Na nuvem de palavras os termos amigos e equipe estão em um tamanho de fonte considerável em relações à várias competências e habilidades apontadas pelos estudantes como contribuição do Programa. Isto indica que o lado afetivo foi bem desenvolvido no decorrer do Programa. Adicionalmente, segundo nos dizia a saudosa pesquisadora Virgínia Schall, quanto mais aproveitamos a realidade local para inserir a ciência, melhor será a dinâmica do aprendizado. Todos os projetos desenvolvidos pelos JT´S foram sobre a realidade na qual eles estavam inseridos. De acordo com Dewey (1967), a aquisição isolada do saber intelectual, muita das vezes impede o sentido social que só a participação em uma atividade de interesse comum pode oferecer. O que é aprendido fora do contexto social pode perder o seu sentido e seu valor, diferente da aprendizagem por projetos, que enfatiza a formação de competências. Isso torna a aprendizagem participativa e ativa no que tange à construção e reconstrução de conhecimentos.

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4 Considerações Finais

Os Programas de pré-iniciação científica no Brasil selecionam nas escolas estudantes que se interessam pela ciência, a fim de estimular a formação de potenciais pesquisadores no campo do saber científico, tendo como meta também a difusão dos conhecimentos científicos, desmitificando a ciência e articulando pesquisa e ensino. Aplicar os critérios de senso de responsabilidade, criatividade, ousadia e autonomia era exigência na seleção dos participantes, mas nossos resultados mostraram que esses atributos são adquiridos durante o desenvolvimento da metodologia de projetos aplicada no PJTC-Faperj Miracema. A metodologia empregada permitiu que os jovens interagissem entre si e com os docentes constantemente e realizassem conexões com múltiplas visões, com diferentes abordagens que favoreceu uma visão crítica, reflexiva transformadora e formadora de opinião. Grande número de JT´S está cursando universidade, em áreas relacionadas com o projeto realizado como JT, confirmando Bazin (1983) que afirmava a IC como “um caminho da independência intelectual”. Além disso, os termos responsabilidade, pontualidade, comprometimento, organização, estudar e curiosidade foram apontados pelos estudantes como atributos adquiridos. Outro aspecto percebido, diferente dos outros programas, foi a possibilidade do estudante construir seu projeto em diferentes áreas do conhecimento, não ficando limitado a um laboratório de pesquisa. Essa particularidade pode ter sido a responsável por ampliar suas “visões de mundo”, possibilitar a transformação da realidade em que viviam, e ingressar no “mundo acadêmico”.

Confirmamos que estudos qualitativos são de suma importância para avaliar as contribuições, assim como as lacunas existentes no desenrolar desses programas de pré-iniciação científica, pois determinados resultados, principalmente os motivacionais, não podem ser expressos apenas em números.

Agradecemos. À Faperj pelo incentivo e implementação do Programa na cidade de Miracema. À Fiocruz e à CAPES pela sustentação do projeto no curso de Doutorado em Ensino de Biociências e Saúde.

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Referências

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