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Macroalgas marinhas: conhecimentos tradicionais e serviços ecossistêmicos

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA. MACROALGAS MARINHAS: CONHECIMENTOS TRADICIONAIS E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS. ANA BEATRIZ GOMES FERREIRA. 2020 Natal – RN Brasil.

(2) Ana Beatriz Gomes Ferreira. Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.. Orientadora: Profa. Dra. Eliane Marinho Soriano. 2020 Natal – RN Brasil.

(3) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB. Ferreira, Ana Beatriz Gomes. Macroalgas marinhas: conhecimentos tradicionais e serviços ecossistêmicos / Ana Beatriz Gomes Ferreira. - Natal, 2020. 66 f.: il. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA. Orientadora: Profa. Dra. Eliane Marinho Soriano. 1. Macroalgas - Dissertação. 2. Atividades tradicionais Dissertação. 3. Bens e serviços - Dissertação. 4. Cultivo de algas - Dissertação. I. Soriano, Eliane Marinho. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSCB. CDU 582.26/.27. Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351.

(4) ANA BEATRIZ GOMES FERREIRA. Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente .. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA:. _______________________________________________ Profa. Dra. Eliane Marinho Soriano Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN) ______________________________________________ Profa. Dra. Marcella Araújo do Amaral Carneiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN). _______________________________________________ Prof. Dr. José Garcia Júnior Instituto Federal do Rio Grande do Norte.

(5) AGRADECIMENTOS Acima de tudo, agradeço ao altíssimo Senhor Deus pelo dom da vida, por me guiar e me ajudar a superar as situações mais difíceis. Ele que tem me sustentado em todos os momentos. Agradeço à minha família, em especial à minha mãe, Celita, que sempre me incentivou e nunca mediu esforços para que eu chegasse até essa etapa da minha vida. As minhas irmãs Rafaela, Daniele e Gisele. A minha orientadora Dra. Eliane Marinho Soriano.. Muito obrigada por toda a. paciência, valiosos ensinamentos, conversas motivadoras e pelo tempo dedicado que tornaram possível a conclusão desse trabalho. Agradeço a todos os meus amigos do laboratório de macroalgas bentônicas e algocultura DOL/UFRN, Marcella do Amaral, Julia Resende, Marcelle Barbosa, Felipe de Oliveira e Henrique Borburema. Obrigada por sempre estarem dispostos a contribuir uns com os outros e por me acompanharem de perto nesse caminho e compartilharem comigo as aflições e alegrias vividas. Esta conquista também é de vocês! A todos os Funcionários do Departamento de Oceanografia e Limnologia DOL/UFRN que atenciosamente, me acolheram ao longo desses dois anos. Agradeço aos professores do PRODEMA-UFRN pelas contribuições necessárias ocorridas no cumprimento das disciplinas do curso de mestrado. Aos meus colegas de mestrado e doutorado, pelos momentos de descontração, risadas, alegrias e dificuldades enfrentadas. Certamente crescemos juntos nesta trajetória. Agradeço aos professores da UFRN em especial à Profa. Dra. Sueli Aparecida Moreira por ter despertado em mim o interesse pela pesquisa científica e ter me iniciado nela. A todos da comunidade de Rio do Fogo, em especial os extrativistas e os cultivadores de algas marinhas da Associação de Maricultoras de algas de Rio do Fogo (AMAR) pela participação, apoio e amizade durante toda a pesquisa. A todos os meus amigos pelo apoio incondicional e incentivo nos momentos necessários, em especial quando as energias estavam se esgotando frente aos desafios que iam além do curso de mestrado, aqui fica o meu singelo agradecimento! À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES que financiou o desenvolvimento desta dissertação de mestrado deixando contribuições à sociedade brasileira, principalmente aos cidadãos do município de Rio do Fogo. A todos que fizeram deste momento uma vitória..

(6) RESUMO Macroalgas marinhas: conhecimentos tradicionais e serviços ecossistêmicos As macroalgas marinhas têm desempenhado um papel importante nas comunidades costeiras durante séculos devido às suas diversas aplicabilidades. Atualmente, uma grande parte da biomassa algal comercializada no mundo é proveniente de atividades extrativistas e de cultivos familiares realizados pelas populações tradicionais ao redor do mundo, valorizando o conhecimento tradicional. Além disso, as macroalgas marinhas são consideradas uma fonte valiosa de uma série de serviços ecossistêmicos, que abrangem as esferas ambientais, sociais e econômicas. Este estudo teve como objetivo investigar os saberes e práticas tradicionais, presentes nas atividades de extrativismo (colheita e cultivo) de macroalgas marinhas da praia de Rio do Fogo, RN, assim como identificar os serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas e sua importância para as comunidades costeiras. A pesquisa foi dividida em dois capítulos. O primeiro capítulo identificou as técnicas e habilidades tradicionais aplicadas nas atividades extrativistas de colheita e cultivo da macroalga Gracilaria birdiae. Nesse capítulo, foi demonstrado como os saberes tradicionais da atividade extrativista abrange o conhecimento sobre a ecologia da macroalga coletada e seu ciclo de vida. Foi possível verificar que os saberes e práticas tradicionais, presentes nas atividades de extrativismo e cultivo, influenciam de forma positiva na conservação dos recursos naturais, e que o seu uso de forma racional possui grande importância para a perpetuação dos saberes dessas populações tradicionais. No segundo capítulo, dada a importância das esferas ambientais, sociais e econômicas das macroalgas marinhas, o estudo teve como enfoque a análise dos serviços ecossistêmicos, proporcionando uma avaliação qualitativa dos registros encontrados na literatura sobre serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas, além da identificação dos serviços ofertados pelo cultivo da macroalga G. birdiae, localizado no munícipio de Rio do Fogo. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica que abordavam serviços ecossistêmicos associados às macroalgas marinhas. De um total de 1.428 artigos analisados, 163 relatavam claramente algum tipo de serviço ecossistêmico. A maioria dos trabalhos examinados foi classificada como serviços de regulação (30,1%), seguido pelos serviços de provisão (28,4), suporte (28,0%) e cultural (13,5%). No cultivo de macroalgas na praia de Rio do Fogo, doze serviços ecossistêmicos foram identificados, dos quais a população local se beneficia direta e indiretamente. Com base nessa análise, ficou evidenciado que os bancos naturais, assim como, os sistemas de cultivo oferecem inúmeros serviços ecossistêmicos, contribuindo dessa forma para a valorização ambiental e influenciando de forma positiva na preservação e conservação ambiental e no bem-estar humano. PALAVRAS-CHAVE: Macroalgas; Atividades tradicionais; Bens e serviços; Cultivo de algas..

(7) ABSTRACT Seaweeds: traditional knowledge and ecosystem services Seaweeds have played an important role in coastal communities for centuries owing to their wide applicability. Currently most of the commercialized seaweed biomass in the world comes from extractive activities and family farms carried out by traditional peoples around the world, valuing traditional knowledge. Besides that, seaweeds are considered as a valuable source of ecosystem services, encompassing environmental, social and economic aspects. This study aimed to investigate traditional knowledge and practices in extractive activities (harvest and farming) of seaweeds at Rio do Fogo beach, Rio Grande do Norte State, and to identify ecosystem services provided by seaweeds and their importance for the coastal communities. This work is divided into two chapters. The first one identified the traditional techniques and abilities applied in extractive activities of harvest and farming of seaweed Gracilaria birdiae. In this chapter, it was shown how traditional knowledge on extractive activities covers knowledge about the ecology of the harvested seaweed and its life cycle. Besides that, traditional knowledge and practices in extractive activities and farming influence positively on conserving natural resources, and its rational use is of great relevance for perpetuating knowledge of these traditional peoples. In the second chapter, this study analyzed ecosystem services due to significance of seaweeds in the environmental, social and economic spheres, supplying a qualitative evaluation of observations found in the literature about ecosystem services provided by seaweeds. The services provided by seaweed farming of G. birdiae in Rio do Fogo were also identified. To achieve that, a bibliographical survey on ecosystem services linked to seaweeds was carried out. A total of 1.428 papers were selected for analysis, but only 163 reported some type of ecosystem service. Of all the papers analyzed, regulating services was the most mentioned in the literature (30.1%), followed by provisioning (28.4%), supporting (28.0%) and cultural services (13.5%). In the seaweed farming at Rio do Fogo beach, twelve ecosystem services were identified, which the local community directly and indirectly benefits from. Hence, both seaweed beds and seaweed farming supply several ecosystem services, contributing to environmental valuation and positively impacting on environmental preservation and conservation, and human wellbeing.. KEYWORDS: Seaweeds; Traditional activities; Goods and services; Seaweed farming..

(8) LISTA DE FIGURAS INTRODUÇÃO GERAL Figura 1. Localização da Praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil................... 17 Figura 2A. Colheita comercial da macroalga marinha G. birdiae dos bancos naturais realizada na zona intertidal................................................................................................... 18 Figura 2B. Estrutura de cultivo comercial da macroalga marinha G. birdiae instalada na praia de em Rio do Fogo...................................................................................................... 18 CAPÍTULO 1 Figura 1. Localização geográfica da praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil. Figura 2A. Primeiro contato com a colheita de alga dos bancos naturais........................... Figura 2B. Forma de aprendizado da atividade extrativista................................................ Figura 3A. Colheita manual da macroalga G. birdiae realizada na zona intertidal............ Figura 3B. Estrutura de cultivo instalada no mar................................................................ Figura 3C. Preparação do sistema de cultivo e preparação das mudas............................... Figura 3D. Mousse, cocada e gelatina à base de algas produzidas pela associação AMAR, praia de Rio do Fogo, RN, Brasil............................................................................ 28 30 30 33 33 33 33. CAPÍTULO 2 Figura 1. Localização da Praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil................... 41 Figura 2. Distribuição geográfica das pesquisas desenvolvidas a respeito dos serviços ecossistêmicos associados às macroalgas marinhas............................................................. 42 Figura 3: Nuvem de palavras gerada a partir dos principais serviços ecossistêmicos associados as macroalgas marinhas mencioandos na literatura........................................... 46.

(9) LISTA DE TABELAS. CAPÍTULO 2 Tabela 1. Serviços ecossistêmicos associados às macroalgas marinhas identificados nos trabalhos da revisão da literatura.......................................................................................... 43 Tabela 2 - Identificação e classificação dos serviços ecossistêmicos identificados no cultivo da macroalga marinha Gracilaria birdiae na praia de Rio do Fogo, RN, Brasil..... 47.

(10) SUMÁRIO 1. Introdução Geral............................................................................................................ 1.1 Saberes e práticas tradicionais..................................................................................... 1.2 Breve histórico sobre colheita e cultivo de macroalgas marinhas............................... 1.3 Serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas................................. 1.3.1 Regulação............................................................................................................... 1.3.2 Provisão.................................................................................................................. 1.3.3 Suporte.................................................................................................................... 1.3.4 Cultural................................................................................................................... 2. Caracterização da área de estudo................................................................................. 2.1 Localização da área de estudo...................................................................................... 3. Metodologia Geral.......................................................................................................... 3.1 Coleta e análise de dados / Saberes e práticas tradicionais.......................................... 3.2 Serviços ecossistêmicos................................................................................................ Referências........................................................................................................................... Capítulo 1 - Saberes e práticas tradicionais da colheita e cultivo de macroalgas marinhas............................................................................................................................... Resumo................................................................................................................................. Abstract…………………………………………………………………………………… 1. Introdução........................................................................................................................ 2. Material e Método........................................................................................................... 2.1 Local do estudo............................................................................................................. 2.2 Coleta e análise de dados.............................................................................................. 3. Resultados........................................................................................................................ 3.1 Perfil dos participantes da pesquisa.............................................................................. 3.2 Conhecimentos tradicionais.......................................................................................... 3.3 Técnicas de colheitas.................................................................................................... 3.4 Técnicas aplicadas ao sistema de cultivo...................................................................... 3.5 Comercialização........................................................................................................... 4. Discussão.......................................................................................................................... 5. Conclusão......................................................................................................................... 6. Agradecimentos............................................................................................................... Referências........................................................................................................................... Capítulo 2 – Serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas: um estudo de caso em Rio do Fogo, RN, Brasil....................................................................... Resumo................................................................................................................................. 1. Introdução........................................................................................................................ 2. Material e Método........................................................................................................... 2.1 Procedimentos metodológicos e localização da área de estudo.................................... 3. Resultados e Discussão.................................................................................................... 3.1 Serviços ecossistêmicos associados à macroalgas marinhas........................................ 3.2 Serviços ecossistêmicos fornecidos pelo cultivo da macroalga marinha Gracilaria birdiae na Praia de Rio do Fogo......................................................................................... 4. Conclusão......................................................................................................................... 5. Agradecimentos............................................................................................................... Referências........................................................................................................................... Considerações finais............................................................................................................ Apêndices............................................................................................................................. Anexos................................................................................................................................... 10 10 11 13 14 15 15 16 17 17 18 18 19 21 25 25 25 26 27 27 28 29 29 30 31 31 32 33 35 36 36 38 38 39 40 40 41 41 46 49 50 50 56 58 65.

(11) 10. 1.. INTRODUÇÃO GERAL. 1.1 Saberes e práticas tradicionais Historicamente, o ser humano interage com a natureza, mantendo com o meio ambiente relações profundas e complexas. Assim, os recursos naturais têm sido essenciais para a sobrevivência do homem, sendo imprescindíveis para seu conforto e desenvolvimento de diversas atividades. No início das civilizações, os recursos (renováveis e não renováveis) eram manejados de forma equilibrada. No entanto, com o surgimento das tecnologias modernas, o homem passou a exercer uma forte pressão sobre esses recursos, o que tem contribuído para o esgotamento das reservas naturais do planeta (BERGANDI, 2012). Com efeito, a sociedade moderna tem praticado ao longo dos anos, um modelo predatório em relação ao meio ambiente que degrada e esgota recursos indispensáveis à sobrevivência do homem e dos demais seres vivos (SILLANPÃÃ; NCIBI, 2017). A crise ambiental contemporânea é, portanto, o resultado da utilização indiscriminada dos recursos naturais pelo homem, sem os devidos cuidados com a conservação do meio ambiente e com a preservação destes recursos para as futuras gerações. De maneira oposta a tais práticas destrutivas, destaca-se o valor das populações tradicionais na conservação dos recursos naturais. Estes grupos possuem formas próprias de organização social, e usam os recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica (LÉVI-STRAUSS, 1989; CALEGARE et al., 2014). Nesse sentido, o resgate dos saberes e práticas tradicionais das comunidades, que exploram a natureza, pode auxiliar na identificação e construção de novos parâmetros que favoreçam o desenvolvimento econômico e social aliado ao uso racional dos recursos ambientais. Umas das características marcantes das populações tradicionais são o uso e o manejo dos recursos naturais e o desenvolvimento de atividades produtivas, em um processo de dependência da natureza a partir do qual se constrói um modo de vida (PEREIRA; DIEGUES, 2010). Durante esse processo, o conhecimento empírico, relacionado aos recursos naturais, são adquiridos através das experiências vividas e produzem o saber tradicional (GEERTZ, 1997). Tais saberes podem ser compreendidos como um conjunto de conhecimentos sobre a vida e o meio ambiente, podendo ser externados a partir das próprias experiências, das trocas de conhecimentos entre comunidades, das práticas religiosas e da necessidade de se adaptarem ao ambiente onde vivem (LÉVI-STRAUSS, 1989; ARRUDA; DIEGUES, 2001; DIEGUES, 2002; REYES-GARCÍA, 2009; CALEGARE et al., 2014; FERNANDES;.

(12) 11. FERNANDES 2015). Deste modo, o conceito de saber tradicional é um saber que emana do povo, que envolve: [...] grupos humanos culturalmente diferenciados que historicamente reproduzem seu modo de vida, de forma mais ou menos isolada, com base em modos de cooperação social e formas específicas de relações com a natureza, caracterizados tradicionalmente pelo manejo sustentado do meio ambiente (DIEGUES et al., 1999, p. 22).. Esses saberes são transmitidos, de geração em geração, através de observações práticas do cotidiano e das relações de aprendizado por meio da educação informal, contribuindo para uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza (DIEGUES, 2002; DA MOTA; PEREIRA 2008; REYES-GARCÍA, 2009; SILVA; FRAXE, 2013; HORA et al., 2015). A relação sociedade-natureza vivenciada pelas comunidades tradicionais é considerada de baixo impacto ambiental e dessa forma pode contribuir para a conservação da biodiversidade (PEREIRA; DIEGUES, 2010; SILVA; FRAXE, 2013; HORA et al., 2015). De acordo com Diegues e colaboradores (1999), os saberes tradicionais são fundamentais para a conservação da biodiversidade, uma vez que ela não é só um produto da natureza, mas também um resultado da cultura e ação do homem. Dessa forma, o uso racional dos recursos naturais configura-se como um requisito importante para a perpetuação das populações tradicionais nos ambientes nos quais estão inseridas. Ao redor do mundo, muitas são as comunidades tradicionais que vivem na área costeira e que retiram o seu sustento do mar. As atividades extrativistas são, em sua maioria, exercidas por pescadores artesanais, marisqueiras, catadores de caranguejos, recursos esses ligados principalmente a alimentação. Dentre esses grupos culturais, encontram-se também os coletores e cultivadores de macroalgas marinhas que desenvolvem esta atividade nas áreas rasas do litoral em diversas regiões do mundo (REBOURS et al., 2014; O’CONNELLMILNE; HEPBURN, 2015; MARINHO-SORIANO, 2017). 1.2 Breve histórico sobre colheita e cultivo de macroalgas marinhas As macroalgas marinhas têm desempenhado um papel importante nas comunidades costeiras durante séculos devido às suas diversas aplicabilidades. O uso das algas pelo homem remonta ao período neolítico (14.600 a.C.), como evidenciado em investigações arqueológicas (DILLEHAY et al., 2008). No entanto, o primeiro registro escrito da sua utilização foi encontrado no herbário chinês em 2.700 a.C. (ARASAKI & ARASAKI, 1983). Desde então, elas são coletadas nas praias de várias regiões do mundo para usos tradicionais, além de serem.

(13) 12. usadas em uma infinidade de aplicações devido à expansão global das indústrias baseadas em hidrocoloides, cosméticos e suplementos alimentares (FORSTER; RADULOVICH, 2015; FAO, 2018). Atualmente, a biomassa algal comercializada no mundo é proveniente de cultivos e atividades extrativistas familiares realizados pelas populações tradicionais ao redor do mundo. (BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010; REBOURS et al., 2014;. O’CONNELL-MILNE; HEPBURN, 2015; MARINHO-SORIANO, 2017). No Brasil a ocorrência de algas marinhas é bastante frequente ao longo de toda a costa. No entanto, ela é mais diversificada e abundante na região Nordeste, onde a colheita e comercialização têm sido realizadas ao longo de décadas e tem contribuído com a renda de diversas famílias de pescadores (BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010). Nessa região as principais espécies exploradas comercialmente pertencem ao gênero Gracilaria (G. birdiae, G. caudata, G. domingensis, G. cervicornis). Essas espécies são encontradas principalmente fixadas em rochas que são expostas na maré baixa. A colheita é executada manualmente no periodo de maré baixa (sizigia e quadratura) durante todo o ano (MARINHO-SORIANO, 2017). Historicamente a indústria de algas no Brasil baseia-se na colheita de algas dos bancos naturais. Desde a década de 1960, diversas espécies de macroalgas vem sendo coletadas na zona intertidal do litoral do Rio Grande do Norte para extração de ágar e carragenana. A produção máxima foi alcançada em 1973-1974, um período em que o país exportou em torno de 2000t anualmente (peso seco) (MARINHO-SORIANO, 2017). No entanto, devido a exploração excessiva e a ameaça ao esgotamento dos bancos naturais em meados da década de 1990, a extração de macroalgas diminuiu drasticamente e em algumas áreas a atividade foi abandonada devido à destruição completa desses recursos (MARINHO-SORIANO, 2017). Diante dessa situação, projetos pilotos de cultivo de algas foram implantados em alguns Estados do Nordeste (CE-RN-PB) (REBOURS et al., 2014). Em 2006, o governo brasileiro e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – sigla em inglês Food and Agriculture Organization), implantaram o projeto “Desenvolvimento das Comunidades Costeiras” (UTF/BRA/066/BRA), destinado a consolidar e expandir o cultivo da macroalga Gracilaria birdiae (FREDDI; AGUILAR, 2003; MARINHO-SORIANO, 2017), uma espécie produtora de ágar, polissacarídeo usado em diversas indústrias (alimentícia, cosmética, farmacêutica) o qual é amplamente explorada devido à sua grande importância econômica (TORRES et al., 2019). O conhecimento adquirido durante a execução desse projeto possibilitou a formação de uma associação (Associação das Maricultoras de Algas de Rio do Fogo - AMAR), a qual.

(14) 13. desenvolve suas atividades de cultivo no mar até os dias de hoje. No Rio Grande do Norte, essas mulheres “maricultoras” têm contribuído para a consolidação do cultivo de algas, através de sua dedicação e tenacidade face aos problemas da atividade. O papel das mulheres nessa atividade é complexo. Ele inclui a prática de atividades de colheita das algas, a preparação das estruturas de cultivo, bem como, em menor escala, a elaboração de produtos de valor agregado (alimento, sobremesas, yogurtes, saladas, etc) com base no processamento da biomassa das algas cultivadas. Atualmente o cultivo de macroalgas tem mostrado um grande potencial em relação ao desenvolvimento da comunidade e passou a ser considerado uma alternativa viável para garantir a sustentabilidade da atividade na região. Além disso, as macroalgas marinhas são consideradas uma fonte valiosa, de importante valor ecológico e econômico, e em função disso, promotora de múltiplos serviços ecossistêmicos (CHOPIN, 2012; BARBIER, 2013; CABRAL et al., 2016; HASSELSTRÖM et al., 2018).. 1.3 Serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas O conceito de serviços ecossistêmicos foi elaborado no início da década de 1970, mais ganhou força na literatura cientifica na década de 1990, com as publicações de Costanza e colaboradores (1997) e Groot, Wilson e Boumans (2002). Atualmente existem diversas definições de serviços ecossistêmicos apresentadas na literatura. No entanto, todas as definições convergem na ideia de utilidade que os ecossistemas proporcionam aos seres humanos. A definição pode ser ampliada como sendo as contribuições diretas e indiretas do ecossistema para o bem-estar humano, ou seja, os bens e serviços que obtemos do ecossistema (TEEB, 2010), e que equilibram os setores econômicos, ecológicos e sociais (RAYMOND et at., 2013; HASSELSTRÖM et al., 2018). Ainda sobre esse conceito, podemos compilar as informações disponíveis na literatura e definirmos serviços ecossistêmicos como sendo a interação entre os ecossistemas e as ações do homem, onde se baseiam em informações ecológicas para mapear, quantificar e valorizar os serviços disponibilizados pelos ecossistemas (GROOT et al., 2002; BOUMANS et al., 2002; DALY; FARLEY, 2004; TEEB, 2010; GROOT et al., 2010; BRYHN et al., 2015; CABRAL et al., 2016; HASSELSTÕM et al., 2018). O conceito também tem sido utilizado para discutir as causas subjacentes da degradação ambiental devido à ação antropogênica. Assim, as técnicas de avaliação dos serviços ecossistêmicos podem ser a base para a tomada de decisões ambientais, vinculando as escolhas políticas aos benefícios humanos (ARKEMA et al., 2017). Com efeito, a.

(15) 14. avaliação dos serviços ecossistêmicos pode atender a múltiplos propósitos, desde a conscientização da população até a tomada de decisões sobre questões específicas, como o desenvolvimento costeiro. Essa nova abordagem para a gestão ambiental complementa a conservação da biodiversidade e as políticas de desenvolvimento sustentável. Ao destacar os benefícios que os seres humanos obtêm dos ecossistemas, ela visa aumentar as informações sobre as pressões exercidas pelo homem ao meio ambiente, a fim de limitá-los. Tradicionalmente os serviços ecossistêmicos são divididos em quatro categorias (regulação, provisão, suporte e cultural), que dependendo do objetivo de análise podem se sobrepor (MEA, 2005). 1.3.1 Regulação Os serviços de regulação referem-se à capacidade que os ecossistemas naturais e seminaturais têm de regular os processos e sistemas de apoio à vida, através dos ciclos biogeoquímicos e outros processos biológicos. Além de manter a saúde do ecossistema e da biosfera, os serviços de regulação fornecem benefícios diretos e indiretos para os seres humanos, desempenhando um papel essencial na regulação e manutenção dos processos ecológicos (GROOT et al., 2002; ALCAMO et al., 2003; BRYHN et al., 2015; HASSELSTRÖM et al., 2018). As macroalgas marinhas geram diversos serviços de regulação, os quais incluem, ciclagem de nutrientes, biorremediação, sequestro de carbono, retenção de sedimento, regulação do clima, além de proteger a costa da erosão (HASSELSTRÖM et al., 2018). Como biorremediadoras, as macroalgas têm um grande potencial como filtro biológico. Elas agem como verdadeiras esponjas, removendo nutrientes e contaminantes da água, prevenindo processos de eutrofização e poluição (MARINHO-SORIANO 2006; NARDELLI et al., 2019). As macroalgas também desempenham um papel essencial na remoção da atmosfera de um dos principais gases do efeito estufa, o dióxido de carbono (CO2). O sequestro de carbono fornece importante serviço econômico em termos de regulação do clima e ao mesmo tempo, contribui para o bem-estar humano, evitando riscos com a saúde humana, perda da biodiversidade, entre outros (HASSELSTRÖM et al., 2018). A implantação de cultivos de macroalgas em larga escala pode servir como um potencial sumidouro de carbono dos oceanos, evitando assim a acidificação dos oceanos (CHUNG et al., 2011). Diversos estudos demonstraram que as macroalgas cultivadas, em mar aberto (Laminaria) e em cultivos multitróficos (Gracilaria), possuem habilidade para absorver CO2. Nesses casos, o cultivo de macroalgas pode ser considerado estoques naturais.

(16) 15. de carbono (KRAUSE-JENSEN e DUARTE, 2016). Esse potencial apresenta clara implicação no sequestro de carbono e na regulação da acidificação dos oceanos em nível local e, consequentemente, gera benefícios na regulação climática e no controle e qualidade do ar (CHUNG et al., 2013; HAN et al., 2013, MONGIN et al., 2016).. 1.3.2 Provisão Os serviços de provisão, são aqueles serviços relacionados com a capacidade dos ecossistemas em prover bens para o consumo humano, seja a produção material ou energética (TEEB, 2010). Os serviços de provisão fornecidos pelas macroalgas (bancos naturais e cultivo) incluem bens e serviços para o consumo humano. Esses serviços incluem: matériaprima para extração de ficocoloides, alimentos, fertilizantes, ração para animais e compostos bioativos para a indústria farmacêutica (FORSTER, RADULOVICH, 2015; FAO, 2018). Mais recentemente, as macroalgas têm sido vistas também como uma fonte potencial de biocombustíveis (FASAHATI et al., 2015).. 1.3.3 Suporte Serviços de suporte são processos ecológicos básicos que sustentam a funcionalidade dos ecossistemas e, portanto, necessários para que os demais serviços possam existir. Nessa categoria estão incluídos a dinâmica da cadeia trófica, habitat, resiliência e biodiversidade. Os serviços de suporte contribuem para a conservação e manutenção da diversidade biológica, diversidade genética e processos evolutivos, além de sustentar a produção dos demais serviços (GROOT et al., 2002; ALCAMO et al., 2003; TEEB, 2010; BRYHN et al., 2015). Em geral, as macroalgas consideradas como engenheiras do ecossistema acrescentam estrutura física ao ambiente, resultando em habitat biogênico para diferentes espécies (HASSELSTRÖM et al., 2018). Esses organismos contribuem de forma importante para o aumento da biodiversidade nos ecossistemas costeiros. Elas fornecem abrigo e alimentação, além de servirem de berçário e local de reprodução e desova para uma grande variedade de organismos da fauna associada, tais como, crustáceos, moluscos, equinodermos e diversas espécies de peixes incluindo algumas com potencial econômico (CABRAL et al., 2016 MARINHO-SORIANO, 2013). Os bancos algais podem ser hotspots de atividade biológica que suportam o resto da cadeia trófica através do fornecimento de habitat e através do bottom-up fornecendo nutrientes e energia. A elevada produtividade primária das macroalgas fornece uma fonte de.

(17) 16. energia importante para sustentar cadeias tróficas, locais e transitórias, sendo a principal ligação nas cadeias alimentares, onde participam naturalmente na reciclagem de nutrientes (CHOPIN, 2012). As macroalgas também podem ser usadas como importantes sentinelas ou biomonitores das mudanças ambientais, revelando as condições do passado e monitorando as mudanças futuras. Por serem organismos sésseis, elas bioacumulam substâncias, permitindo a determinação de compostos nocivos em seus tecidos e, por isso, tem se tornado um importante bioindicador em estudos de impacto ambiental (MARINHO-SORIANO et al., 2009). As macroalgas cultivadas (fazendas), tem função semelhante aos bancos naturais, pois servem como atratores para uma miríade de espécies que utilizam as estruturas de cultivo como habitat (KIM et al., 2017; HASSELSTRÖM et al., 2018). Essas características permitem que as macroalgas funcionem como áreas de forrageamento para inúmeras espécies, muitas das quais importantes comercialmente (SMALE et al. 2013). Assim, os cultivos de macroalgas contribuem para a biodiversidade em ambientes costeiros, fornecendo áreas de abrigo para uma variedade de organismos associados, além de influenciar a estrutura e função do ecossistema, em uma escala regional (HASSELSTRÖM et al., 2018; GENTRY et al., 2019). 1.3.4 Cultural Os serviços culturais representam os benefícios não materiais que o ecossistema nos oferece e que são essenciais para a manutenção da vida humana (ALCAMO et al., 2003; TEEB, 2010; BRYHN et al., 2015). Os bancos de macroalgas fornecem inúmeros benefícios culturais para as comunidades costeiras (SMALE et al., 2013). Incluídos nessa categoria, estão a beleza cênica dos bancos algais, ciência e educação, a herança cultural das comunidades, o valor simbólico da atividade extrativista de algas e a geração de renda. Nas regiões costeiras a colheita de macroalgas dos bancos naturais e em sistemas de cultivo está fortemente ligado à identidade cultural da população. Algumas famílias ainda realizam essas atividades, repassando esse conhecimento às novas gerações, através de uma relação de aprendizado pai-filho, garantindo a tradição e cultura local (REBOUS et al., 2014, O’CONNELL-MILNE; HEPBURN 2015, KITOLELEI; SATO, 2016, MARINHOSORIANO 2017, THURSTAN et al. 2018). Em relação à geração de renda proveniente dos cultivos de macroalgas, estudos realizados em vários países comprovam a sua viabilidade econômica além de representar um papel social importante na comunidade local. Em algumas regiões costeiras o cultivo de algas.

(18) 17. passou a ser uma alternativa interessante para reverter o quadro de pobreza da região, promovendo melhores condições de vida (BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010; ZUNIGA-JARA; MARIN-RIFFO, 2016). Diante desse contexto, o presente trabalho teve como objetivo (1) analisar e compreender os saberes e práticas dos extrativistas e maricultoras de algas marinhas da praia de Rio do Fogo e (2) identificar os serviços ecossistêmicos fornecidos pelos macroalgas dos bancos naturais e em sistemas de cultivos no mar. 2.. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO. 2.1 Localização da área de estudo O município de Rio de Fogo (05°16′ 22”S-35°22′57”W) localiza-se na mesorregião do leste Potiguar e na microrregião do litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte (Figura 1). O município possui um total de 151,10 km2 de área territorial, com uma população estimada de 10.789 habitantes (IBGE, 2018). A praia de Rio do Fogo, localizada nesse município, é uma típica vila de pescadores, caracterizada por uma grande diversidade ambiental e de atividades, sobretudo extrativistas. Grande parte da comunidade vive exclusivamente da exploração de organismos aquáticos, seja para o consumo próprio ou para sua comercialização. Figura 1: Localização da Praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil..

(19) 18. Fonte: Google Earth, 2019. A colheita de algas na praia de Rio do Fogo é uma atividade tradicional realizada pela comunidade local. Essa atividade é realizada manualmente durante todo o ano, nas zonas do mesolitoral e infralitoral raso (Figura 2a). Durante muitos anos, essa atividade foi uma importante fonte de renda para inúmeras famílias de pescadores que obtinham desses organismos sua principal renda. Nas últimas décadas, a biomassa algal diminuiu consideravelmente, levando diversos extrativistas a retornar à atividade de pesca artesanal (Marinho-Soriano, 2017). Nos últimos anos, nessa praia foi implantado o cultivo da macroalga (Gracilaria birdiae), utilizando a técnica da propagação vegetativa. O cultivo é realizado em balsas flutuantes que se encontram situadas a 150 metros da praia. As balsas são compostas por canos de PVC, cordas de nylon e redes tubulares (semelhante às utilizadas no cultivo de mexilhões). As estruturas de cultivo medem aproximadamente 50 metros de comprimento e são subdivididas em 10 módulos de 5m x 5m cada (Figura 2b). A atividade de cultivo é realizada essencialmente por mulheres (BEZERRA, 2008). Figura 2: A. Colheita da macroalga marinha G. birdiae dos bancos naturais realizada na zona intertidal; B. Estrutura de cultivo da macroalga marinha G. birdiae instalada na praia de em Rio do Fogo.. Fonte: Autores, 2019.. 3.. METODOLOGIA GERAL. 3.1 Coleta e análise de dados / Saberes e práticas tradicionais Os dados foram obtidos através de entrevistas semiestruturadas baseadas na metodologia de Meksenas (2002) e Viertler (2006), na qual se reverte como uma técnica.

(20) 19. flexível e informal. Esta abordagem utiliza tópicos fixos, que ao decorrer das entrevistas, foram redefinidos, possibilitando o direcionamento do diálogo para as questões investigadas. O público alvo da pesquisa foram os extrativistas e maricultores (cultivadores) de algas marinhas da localidade, totalizando quatorze participantes (100% do público alvo). A coleta de dados ocorreu nas residências dos entrevistados, entre o período de dezembro de 2018 a março de 2019, a partir da abordagem direta e seguindo como roteiro um questionário. Esse material foi composto por indagações, relacionadas às questões sociais, história de vida, tópicos sobre as práticas produtivas, manejo da espécie G. birdiae e conhecimentos empíricos da comunidade local referente os ecossistemas costeiros. Além das entrevistas, foram feitas observações durante o acompanhamento das atividades práticas da coleta de algas dos bancos naturais e do cultivo no mar. Todo o material etnográfico (gravações, transcrições, questionários e fotografias), foi analisado qualitativamente, considerando-se todas as informações citadas pelos entrevistados. Os dados obtidos foram tabulados em uma planilha eletrônica para uma melhor visualização dos resultados. Ressalta-se que a presente pesquisa está em consonância com os preceitos éticos. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e aprovado por meio do parecer de nº 2.825.025. Antes de cada entrevista lia-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde eram explicados os objetivos do estudo e os benefícios proporcionados, além da garantia de privacidade e sigilo quanto aos nomes e informações por eles prestadas. Em observância a isto, os entrevistados receberam códigos de identificação (Rio 01 a 14). 3.2 Serviços ecossistêmicos Para identificar os serviços ecossistêmicos, foi usado o esquema de classificação elaborado pelo The Economics of Ecosystems and Biodiversity working group (TEEB, 2010), que disponibiliza ferramentas qualitativas e descreve a relação entre serviços ecossistêmicos e o bem-estar humano. Também foi utilizada uma lista de classificação de serviços ecossistêmicos proposta por Groot e colaboradores (2002). As pesquisas bibliográficas foram realizadas usando os termos “ecosystem services” e “seaweeds”. Essas palavras foram intencionalmente selecionadas de maneira a agrupar o maior número de artigos relacionados às macroalgas, acessíveis nas plataformas Scielo, Portal de Periódicos da CAPES e Google Acadêmico. Somente artigos publicados entre os anos de 2009 a 2019 foram incluídos na busca literária, abrangendo um período de dez anos..

(21) 20. Em uma segunda etapa, foram analisados os textos sobre serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas para criar uma nuvem de palavras, com o objetivo de destacar os principais serviços ecossistêmicos de cada função. Os textos originais foram analizados e separados para posteriormente serem compilados em um texto contínuo e inseridos no gerador de nuvem de palavras on-line (http://www.wordclouds.com). Em seguida foi elaborada uma listagem de serviços ecossistêmicos identificados no cultivo da macroalga G. birdiae realizado na praia de Rio do Fogo. Foram analisados qualitativamente os serviços ecossistêmicos, utilizando as informações sobre: a) quais serviços ecossistêmicos são oferecidos pelas macroalgas marinhas? e b) como as macroalgas afetam os serviços ecossistêmicos e o bem-estar humano..

(22) 21. REFERÊNCIAS ALCAMO J. et al. Ecossistemas e o Bem-estar Humano: Estrutura para uma avaliação. World Resources Institute. 2003. ARKEMA, K. K. et al. Linking social, ecological, and physical science to advance natural and nature-based protection for coastal communities. Ann. NY Acad. Sci, v. 1399, n. 1, p. 526, 2017. ARRUDA, R. S. V.; DIEGUES, A. C. Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente: São Paulo: Universidade de São Paulo-USP. 2001. BARBIER, E. Valuing ecosystem services for coastal wetland protection and restoration: Progress and challenges. Resources, v. 2, n. 3, p. 213-230, 2013. BERGANDI, D. Epilogue: the epistemic and practical circle in an evolutionary, ecologically sustainable society. In:The Structural Links between Ecology, Evolution and Ethics. Springer, Dordrecht, cap.11, p. 151-158, 2012. BEZERRA, A. D. F. Cultivo de algas marinhas como desenvolvimento de comunidades. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio ambiente), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2008. BEZERRA A. F.; MARINHO-SORIANO E. Cultivation of the red seaweed Gracilaria birdiae (Gracilariales, Rhodophyta) in tropical waters of northeast Brazil. Biomass and Bioenergy, v. 34, n. 12, p. 1813-1817, 2010. BOUMANS, R. et al. Modeling the dynamics of the integrated earth system and the value of global ecosystem services using the GUMBO model. Ecological economics, v. 41, n. 3, p. 529-560, 2002. BRYHN, A. et al. Ekosystemtjänster från svenska hav. Havs- och vattenmyndighetens rapport, v. 12, 2015. CABRAL, P. et al. Ecosystem services assessment and compensation costs for installing seaweed farms. Marine Policy, v. 71, p. 157-165, 2016. CALEGARE, M.; HIGUCHI, M. BRUNO, A. Traditional peoples and communities: from protected areas to the political visibility of social groups having ethnical and and collective identity. Ambiente & Sociedade, v. XVII, n. 3. p. 115- 134, 2014. CHOPIN, T. Seaweed Aquaculture Provides Diversified Products, Key Ecosystem Functions Part I. Lesser-Known Species Group Tops Mariculture Output. Global Aquacult Adv. v. 14, p. 42-43, 2012. CHUNG, I. K.; BEARDALL, J.; MEHTA, S.; SAHOO, D.; STOJKOVIC, S. Using marine macroalgae for carbon sequestration: a critical appraisal. Journal of applied phycology, 23, 5, 877-886, 2011. CHUNG, I. K.; OAK, J. H.; LEE, J. A.; SHIN, J. A.; KIM, J. G.; PARK, K. S. Installing kelp forests/seaweed beds for mitigation and adaptation against global warming: Korean Project Overview. ICES Journal of Marine Science, v. 70, n. 5, p. 1038-1044. 2013. COSTANZA, R. et al. The value of the world's ecosystem services and natural capital. Nature, v. 387, n. 6630, p. 253 - 2060, 1997. DA MOTA, D. M.; PEREIRA, E. O. Extrativismo em Sergipe: a vulnerabilidade de um modo de vida. Campina Grande, Raízes, v. 27, n. 1, p. 71-79, 2008..

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(25) 24. SILVA, F. J. P.; FRAXE, T.J. Saberes De Populações Tradicionais: Etnociência Em Processos De Bioconservação. Contribuciones a las Ciencias Sociales, n. 01-14, 2013. SMALE, D. A.; BURROWS, M. T.; MOORE, P.; O’ CONNOR, N.; HAWKINS. S. J. Threats and knowledge gaps for ecosystem services provided by kelp forests: a northeast Atlantic perspective. Ecology and evolution, v. 3, n. 11, p. 4016-4038. 2013. TEEB. THE ECONOMICS OF ECOSYSTEMS AND BIODIVERSITY: Mainstreaming the Economics of Nature: Ecological and Economic Foundations. In: Pushpam Kumar. Earthscan, Londres, 2010. THURSTAN R. H et al. 2018. Aboriginal uses of seaweeds in temperate Australia: an archival Assessment. Journal of Applied Phycology, v. 30, n. 3, p. 1821-1832. 2018. TORRES, P. et al. A comprehensive review of traditional uses, bioactivity potential, and chemical diversity of the genus Gracilaria (Gracilariales, Rhodophyta). Algal research, v. 37, p. 288-306, 2019. VIERTLER, R. B. Contribuições da antropologia para a pesquisa em etnobiologia. Atualidades em Etnobiologia e Etnoecologia, v. 3, p. 213-222, 2006. ZUNIGA-JARA, S.; MARIN-RIFFO, M. Bioeconomic analysis of small-scale cultures of Kappaphycus alvarezii (Doty) Doty in India. Journal of applied phycology, v. 28, n. 2, p. 1133-1143, 2016..

(26) 25. CAPÍTULO 1 SABERES E PRÁTICAS TRADICIONAIS DA COLHEITA E CULTIVO DE MACROALGAS MARINHAS Ferreira A. B. G, Carneiro M. A. A, Marinho-Soriano E. ESTE ARTIGO FOI ACEITO PARA PUBLICAÇÃO NO PERIÓDICO REVISTA IBERO-AMERICANA DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS, PORTANTO ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA (http://www.sustenere.co/journals/normas.pdf). Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Via costeira, Mãe Luiza, S/N Natal-RN, 59014-002, Brasil. e-mail: beatriz_biologia@hotmail.com Resumo – Esse estudo teve como objetivo investigar os saberes e práticas tradicionais presentes nas atividades de extrativismo dos bancos naturais e cultivo de macroalgas marinhas no Rio Grande do Norte. O estudo foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas utilizando questionário composto por assuntos que abordavam questões relacionadas as práticas produtivas, aspectos sociais, manejo das macroalgas e conhecimentos referentes aos ecossistemas costeiros. Além das entrevistas, foi realizado o acompanhamento das atividades produtivas desenvolvidas pelos participantes envolvidos na pesquisa. Dentre os registros obtidos, podemos destacar os saberes tradicionais da atividade extrativista, os conhecimentos empíricos relacionados à ecologia e ciclo de vida das macroalgas. No que se refere a produção das algas cultivadas, ficou constatada que essas práticas contribuem para a diminuição da pressão exercida sobre os bancos naturais, possibilitando a manutenção e a recuperação das populações naturais de macroalgas na área estudada. Além disso, ficou evidenciado que as atividades desenvolvidas pela comunidade têm contribuído para o desenvolvimento econômico, social e ambiental da região. Em conclusão, foi possível verificar que os saberes e práticas tradicionais do extrativismo e cultivo de algas, influenciam de forma positiva na conservação dos recursos naturais, e o seu uso de forma racional é extremamente importante para a perpetuação dos saberes dessas populações tradicionais. Palavras chaves: Colheita; Atividades extrativistas; Gracilaria birdiae; maricultura.. TRADITIONAL KNOWLEDGE AND PRACTICES IN SEAWEED HARVESTING AND FARMING Abstract – This study aimed to investigate the traditional knowledge and practices present in the extractive activities of natural beds and seaweed farming in Rio Grande do Norte. The study was carried out through semistructured interviews using a questionnaire composed of subjects that addressed issues related to productive practices, social aspects, management of seaweed and knowledge related to coastal ecosystems. In addition to the interviews, the productive activities developed by the participants involved in the research were monitored. Among the records obtained, we can highlight the traditional knowledge of the harvest activity, the empirical knowledge related to the ecology and life cycle of seaweed. Regarding the production of seaweed farmed, it was found that these practices contribute to the reduction of pressure on natural beds, enabling the maintenance and recovery of natural populations of seaweed in the studied area. In addition, it was evident that the activities developed by the community have contributed to the economic, social and environmental development of the region. In conclusion, it was possible to verify that the traditional knowledge and practices of seaweed farming and harvesting, positively influence the conservation of natural resources, and their use in a rational way is extremely important for the perpetuation of the knowledge of these traditional populations. Keywords: Harvesting; Extractive activities; Gracilaria birdiae; Seaweed farming.

(27) 26. INTRODUÇÃO As macroalgas marinhas assim como as plantas terrestres, tem sido usadas por séculos como fonte de alimento. Existem registros do uso de algas como alimento a partir do século IV e VI no Japão e China respectivamente (YANG et al. 2015). No entanto, escavações arqueológicas datando de 14.000 mil anos no Chile têm sugerido seu uso como alimento e medicamento (DILLEHAY et al. 2008). O uso de macroalgas para consumo humano, ração para animal e adubo também foi usado em várias partes da Europa, Ásia e América do Sul, entretanto, o seu uso esteve principalmente restrito ao consumo local nas áreas costeiras (CRAIGIE, 2011). Hoje, as algas são usadas em uma infinidade de aplicações devido à expansão global das indústrias baseadas em hidrocoloides, cosméticos e suplementos alimentares (FORSTER et al. 2015; FAO, 2017). Atualmente, uma grande parte da biomassa algal comercializada no mundo é proveniente de cultivos familiares e de atividades extrativistas realizadas pelas populações tradicionais que vivem nas áreas costeiras (BEZERRA & MARINHO-SORIANO, 2010; REBOURS et al., 2014; MARINHO-SORIANO, 2017). Uma das características marcantes das populações tradicionais, concerne o uso e o manejo dos recursos naturais e o desenvolvimento de atividades produtivas, em um processo de dependência da natureza a partir do qual se constrói um modo de vida (PEREIRA et al. 2010). Durante esse processo, o conhecimento empírico, relacionado aos recursos naturais é adquirido através das experiências vividas e produzem o saber tradicional (GEERTZ, 1997). Tais saberes podem ser compreendidos como um conjunto de conhecimentos sobre a vida e o meio ambiente, podendo ser externados por meio de crenças, rituais, mitos, usos e práticas de um grupo social (LÉVI-STRAUSS, 1989; ARRUDA et. Al. 2001; DIEGUES, 2002; REYES-GARCÍA, 2009, CALEGARE et al. 2014; FERNANDES et al. 2015). Esses saberes são transmitidos, de geração em geração, através de observações práticas do cotidiano e das relações de aprendizado por meio da educação informal, contribuindo para uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza (DIEGUES, 2002; DA MOTA et al. 2008; SILVA et al. 2013; HORA et al. 2015). Historicamente as atividades de colheita manual dos bancos naturais apoiam-se no trabalho comunitário, na tradição familiar e no contato direto com o meio ambiente (BEZERRA et al. 2010; MARINHO-SORIANO, 2017). Até hoje, diversas comunidades ao redor do mundo ainda praticam essa atividade, valorizando o conhecimento tradicional em torno da colheita (O’CONNELL-MILNE et al. 2015). No entanto, com a ameaça ao esgotamento dos bancos naturais, diversas comunidades tem gerenciado seus recursos costeiros através da introdução de novas culturas (KITOLELEI et al. 2016). Como exemplo, podemos citar o cultivo no mar de macroalgas marinhas, que tem sido tradicionamente cultivada por decádas em vários paises (BEZERRA, 2008). Essa nova forma de adquirir os recursos marinhos são respostas adaptativas da comunidade, que tem como base a tradição cultural e seus conhecimentos tradicionais (KITOLELEI et al. 2016)..

(28) 27. Na praia de Rio do Fogo (RN) acontece a atividade extrativista de colheita e cultivo comercial da macroalga marinha Gracilaria birdiae, uma espécie amplamente explorada devido à sua grande importância econômica (TORRES et al. 2019). Essas atividades envolvem saberes que são adquiridos através de tradições locais, no contato direto com o ecossistema marinho e na obtenção direta de conhecimentos transmitidos por seus antepassados. Esse conhecimento tem sido repassado através de uma relação de aprendizado entre os membros da família, na tentativa de transmitir seu saber para as gerações futuras, desempenhado um papel importante na identidade das comunidades costeiras (BEZERRA et al. 2010; MARINHO-SORIANO, 2017). Existe uma necessidade crescente de pesquisas sobre os conhecimentos das comunidades tradicionais, para promover ações coletivas que garantam uma sustentabilidade no uso de recursos naturais (KITOLELEI et al. 2016). Diante desse contexto, o resgate dos saberes e práticas tradicionais das comunidades que exploram a natureza pode auxiliar na identificação e construção de novos parâmetros que favoreçam o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo identificar os saberes e práticas dos extrativistas e dos cultivadores de macroalgas marinhas da praia de Rio do Fogo (RN) e de que forma esses saberes interferem em suas práticas sociais cotidianas. METODOLOGIA Local do estudo O município de Rio de Fogo (05°16′22”S-35°22′57”W) localiza-se na mesorregião do Leste Potiguar e na microrregião do litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte (Figura 1). O município possui um total de 151,10 km2 de área territorial, com uma população estimada de 10.789 habitantes (IBGE, 2018). A praia de Rio do Fogo, localizada nesse município, é uma típica vila de pescadores, caracterizada por uma grande diversidade ambiental e de atividades, sobretudo extrativistas. Grande parte da comunidade vive exclusivamente da exploração de organismos aquáticos, seja para o consumo próprio ou para sua comercialização. Os principais organismos explorados na região são lagostas, polvo, peixes e algas marinhas extraídas dos bancos naturais. Em 2006, foi implantado um projeto de cultivo da macroalga Gracilaria birdae na região. O projeto foi financiado pelo governo brasileiro (UTF/BRA/066/BRA) e teve como objetivo consolidar e expandir o cultivo de algas. A partir desse projeto foi formada a Associação das Maricultoras de algas de Rio do Fogo (AMAR), que passaram a comercializar algas produzidas em sistemas de cultivos flutuantes..

(29) 28. Figura 1: Localização geográfica da praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil.. Coleta e análise de dados Os dados foram obtidos através de entrevistas semiestruturadas baseadas na metodologia de Meksenas (2002) e Viertler (2006), na qual se reverte como uma técnica flexível e informal. Esta abordagem utiliza tópicos fixos, que ao decorrer das entrevistas, podem ser redefinidos, possibilitando o direcionamento do diálogo para as questões investigadas. O público alvo da pesquisa foram os extrativistas e maricultores (cultivadores) de algas marinhas da localidade, totalizando quatorze participantes (100% do público alvo). A coleta de dados ocorreu nas residências dos entrevistados, entre o período de dezembro de 2018 a março de 2019, a partir da abordagem direta e seguindo como roteiro um questionário. Esse material foi composto por 40 indagações, relacionadas às questões sociais, história de vida, tópicos sobre as práticas produtivas, manejo da espécie G. birdiae e conhecimentos empíricos da comunidade local referente os ecossistemas costeiros. Além das entrevistas, foram feitas observações durante o acompanhamento das atividades práticas da coleta de algas dos bancos naturais e do cultivo no mar. Todo o material etnográfico (gravações, transcrições, questionários e fotografias), foi analisado qualitativamente, considerando-se todas as informações citadas pelos entrevistados. Os.

(30) 29. dados obtidos foram tabulados em uma planilha eletrônica para uma melhor visualização dos resultados. Ressalta-se que a presente pesquisa está em consonância com os preceitos éticos. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e aprovado por meio do parecer de nº 2.825.025. Antes de cada entrevista lia-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde eram explicados os objetivos do estudo e os benefícios proporcionados, além da garantia de privacidade e sigilo quanto aos nomes e informações por eles prestadas. Em observância a isto, os entrevistados receberam códigos de identificação (Rio 01 a 14). RESULTADOS Perfil dos participantes da pesquisa Do total de entrevistados, 71,4% eram mulheres e 25,6% homens. A idade média variou entre 21 e 57 anos, com uma maior participação na faixa etária entre 51 e 57 anos (50% do total entrevistado). A maioria dos entrevistados (85,7%) é natural do município de Rio do Fogo e reside na comunidade desde seu nascimento. Quanto aos aspectos habitacionais, 100% dos entrevistados possuem residência própria e apresentam condições básicas de moradia. Em relação à prestação de serviços públicos, foi observada carência no saneamento básico e coleta de lixo do munícipio. Os dados sobre a formação escolar demonstraram que 14,2% não possui instrução, 14,2% são alfabetizados, 43,0% possuem o ensino fundamental e 28,6% o ensino médio completo. Nenhum dos entrevistados possui nível técnico ou superior. No entanto, cerca de 54,1% expressam o desejo de dar continuidade aos estudos, seja para concluir o ensino médio, iniciar um curso técnico ou superior. Quando questionados sobre a participação em algum curso relacionado às macroalgas marinhas e/ou ecologia de ambientes costeiros, 64,3% dos entrevistados afirmaram que já fizeram minicursos ou oficinas relacionadas a algum desses temas. Em relação à atividade produtiva relacionada as macroalgas marinhas, 14,3% disseram exercer apenas a atividade de extrativismo nos bancos naturais, 7,1% têm como atividade produtiva, a extração das algas exclusivamente através do cultivo desses organismos, enquanto 78,6% realizam as duas atividades. Atualmente todos os entrevistados fazem parte da associação cooperativista de beneficiamento de macroalgas marinhas (AMAR) a qual desenvolve a colheita de macroalgas nos bancos naturais, além de atividades de cultivo no mar. Os entrevistados afirmaram que os principais benefícios em participar desse grupo é a geração de renda, acesso à serviços, além do prazer/diversão durante as atividades produtivas..

(31) 30. Conhecimentos tradicionais Na praia de Rio do Fogo, a mão de obra familiar é à base da atividade extrativista. Quando questionados, 69,2% dos entrevistados mencionaram que tiveram seu primeiro contato com a atividade de extração de macroalgas marinhas dos bancos naturais ainda na infância, entre 8 e 15 anos de idade, quando viam essa atividade sendo realizada por algum membro da família. Cerca de 15,4% dos entrevistados iniciaram a atividade quando jovens, entre 16 e 29 anos, enquanto os demais participantes (15,4%) aprenderam a atividade após a fase adulta, motivados pela necessidade, frente às dificuldades em encontrar emprego em outras áreas (Figura 2ª). Cerca de 84,6% dos entrevistados mencionaram ter aprendido a atividade extrativista de colheita das macroalgas marinhas nos bancos naturais, através da tradição familiar (Figura 2B). Os entrevistados citaram a figura da mãe e da avó como a principal transmissora desse conhecimento: “Aprendi com minha mãe, era uma tradição familiar (Rio 03, 47 anos). Aprendi com meus pais, que já realizavam a atividade (Rio 14, 50 anos)”. Os outros 15,4%, afirmaram ter aprendido a atividade através de um minicurso contemplado no projeto Desenvolvimento de Comunidades Costeiras (DCC), realizada pela Secretária de Aquicultura e Pesca do Governo Federal. O referido projeto foi desenvolvido na comunidade no ano de 2009 e tinha como objetivo consolidar e expandir o cultivo de algas de forma sustentável (BEZERRA, 2008).. Figura 2. A. Primeiro contato com a atividade de colheita de alga dos bancos naturais; B. Forma de aprendizado da atividade extrativista em Rio do Fogo-RN/Brasil. Quando indagados sobre o manejo e a ecologia da macroalga coletada (G. birdiae), cerca de 64,2% dos entrevistados responderam que possuem conhecimentos sobre a biologia das espécies locais, nomeclatura, o processo de crescimento, habitat, formas de manejo e comportamentos de predadores. Quando questionados se algum fenômeno natural influenciava na atividade de colheita, 20,7% dos entrevistados desconhece essa informação, 36,4% afirmaram que nenhum fenômeno natural influencia na atividade e 42,9% argumentaram que a lua influencia o nível da maré e os.

Referências

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