I
A
UNIVERSIDADE
FEDERAL DE sANTA CATARINA
1 »'
A
CENTRO DE
CIÊNCIAS
DA
EDUCAÇÃO
_~ ` '
j 9
PROGRAMA
DE Pós-GRADUAÇÃO
EM
EDUCAÇÃO
CURSO DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO;
EDUCAÇÃO
E
TRABALHO
Q_
~
PRODUÇÃO
AGRÍCOLA INTEGRADA
o
DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO,
SOCIAL
E
Ç A ' ~HUMANO
O ÍE
A
EDUCAÇÃO
~ROQUE
STRIEDER-
_FLORIANÓPOLIS, AGOSTO/1996
.
'Z '
~.'‹¡,` .__¿if'Í _ _ -"`.'¡ '-`
uN|vERs|DADE
FEDERAL
DE
SANTA
CATARINA
CENTRO DE
CIÊNCIAS
DA
EDUCAÇÃO
PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO
' -CURSO DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
~ V
“PROD
UÇAO
AGRIC OLA INTEGRADA
DESEN
VOL
VYMEN T
O
_ECONÓMICO,
SOCIAL
E
H
UMANO
E A
EDUCAÇÃO
Dissertação
submetida ao
Colegiadodo Curso
de Mestrado
em
Educação do
Centrode
Ciências
da
Educação
em
cumprimento
parcialpara a
obtenção
do
títulode Mestre
em
Educação.
‹ ~
APROVADO
PELA
COMISSAO
EXAMINADORA
em
09/08/96 -'C , f › /,
/wi
*'Ú~*“Â/
Prof. Dr. Norberto Jacob Etges-(O Irentador)
1 L '~
Prof. Dr. Pe. Iso
Schn
' er (Examinador)Prof... Dr. Lui aetsäšxaminador)
. Prof. Dr.
Lauro
CarlosWitt~te)
_.
R
UE STRIEDER
AGRADECIMENTOS:
III'
À
Tasi,companheira
e esposa, pelo incen-tivo carinhoso, pela força e compreensão.
Aos
filhos: Charlie,Diovana
eMagda,
por
terem
compreendido
asminhas
ausências epelo carinho
de
seus sorrisos.Ao
Prof. Dr.Norberto
J. Etges, pelo desa-fio, pela .exigência rigorosa,
na
aberturado
fantásticomundo
conceitual ede
desenvolvi-mento da
inteligênciahumana,
mas
e, princi-pahnente estima e pela grande amizade.
Aos
integrados produtores,em
especialao
meu
irmão Hilário e aosmeus
pais, pela belezae riqueza das nossas conversas, discussões e,
porque as vossas ações produtivas, altamente
qualificadas, são orgulho e
contém
o
gérrnenda
universalização eda
construção de sujeitoslivres e plenos.
Aos
amigos
e colegas, pelos debates e pe-IV
, .
“E
na diversidade das condições e dos objetosque
intervém, que se desenvolve a cultura teórica. Constitui ela não só
um
variado conjnmto de re-presentações e conhecimentos
mas
ainda mobili-dade, rapidez e encadeamento das representações
e conhecimentos
bem
como
a compreensão de re-lações complicadas e universais, etc...
No
entanto,o que há de universal e de objetivo no trabalho,
liga-se à abstração
que
é produzida pela especifi-cidade dos meios e das carências e de que resulta
também
a especificaçãoda
produção e a divisãodos trabalhos. Pela divisão, o trabalho do indiví-
duo
torna-se mais simples,aumentando
a sua ap-tidão para o trabalho abstrato
bem como
a quan-tidade de sua produção. Esta abstração das apti-
dões e dos meios completa, ao
mesmo
tempo, adependência
mútua
doshomens
para a satisfaçãodas outras carências, assim se estabelecendo
uma
necossidade total.Em
suma, a abstraçãoda
pro-dução leva a mecanizar cada vez mais o trabalho
e, por
fim,
é possívelque
ohomem
seja excluído ea
máquina
o substitua”.HEGEL,
G.W.F.
Filoso-ABSTRACT
This dissertation takes as its objetct the productive activites
of
the small farmer in theIntegrated Agribusiness Sistem. It tries to analyze the social, intellectual e ecnomie deve-
lopment
of
the Integrated farmer, as he manipulatesnew
modem
tecnologies, geneticengineering and develops
new
formsof
organizationby
connecting other sunilar agentsof
agricultural production to each other through networksof autonomus
associates or asassociates
of
anew
typeof
independent cooperative agribusinessAbstract
Human
Labor
is the all important explaining category, as the objective or-ganizing principle or force,
of
the intellectual, technologicaland
organizational revoluti-on
taking place in agricultural production as it is in other areasof
industrial and businessorganizations.
The
Integrated small farmer does notseem
to resist modernizationof
pro- ductive structures asmany
other subsistence peasantes do,and
hebecomes
thes aman
of
descentralized abilities, a
much
more
flexibleman, open
to establishnew
socialand
eco-nomic
relations, not only with his partners in the community, but with “Strangers” in thelarger world.
In his actual
dependency
to big agribusiness the small Integrated farmer certainly doesundergo
many
constraints whichobligehim
towork
inways
hewas
not used to, but atthe
same
time, there seems to lie- the infia-structure or the conditionof
hisnew
view of
economic
and social development.He
now
visualizesways
to industrialize his agro-produces in his
own
property, thus aggregatingmuch
more
value to his final products.This,
of
course,demands
new
formsof
organizational thinking,new
athical atitudesand
behavior,
new
ways of
tackling time/space relations,new
hygienie conditions of produc-tion, a
new
view of
quality production in the interestsof
the consumer, and of course, anew
view of
man
himself, not just as amere
consumer, but as a fullyhuman
being,fiee of
alienated work, deserving the best
of
his attention. In a word, the small farmermay
be-SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
... ..004
CAPITULO
I__ ... ..¿ ... ..010
A PRODUÇAO
PARA
A
INTEGRACAO
... ._ 011 1.1 _A
COLONIZAÇÃO
DO
OESTE
CATARINENSE
... .. 0111.2 _
A
FORMAÇÃO ECONÔMICA
DO
OESTE
CATARINENSE
... ..014
1.2.6 _
EM
BUSCA
DA
COMERCIALIZAÇÃO
... ..014
1.2.I›_
SURGEM
AS AGROINDÚSTRIAS
... ..018
1.3 _
NOVA
GENÉTICA;
NOVAS FORMAS
DE
PRODUZIR
... ..019
“ 1.4 _
PRODUÇÃO
AGRÍCOLA
EM
ESCALA
INDUSTRIAL;
A
NECESSI-
DADE
DA
AGROINDUSTRIA
... ..023
1.5 _
O SURGIMENTO DE TUNAS
... ..028
1.6 _
CONSTRUÇÃO
DA
SUBIETIVIDADE
... ..029
1.7 _
A
PEQUENA
PROPRIEDADE
... .. 0311.8 _
A
PEQUENA
PROPRIEDADE
INTEGRADA
... ..033
CAPÍTULO
II _ ... ..037
A
ESTRUTURAÇÃO PARA
UMA
PRODUÇÃO
CAPITALISTA
... ..038
11.1.a_MÃO
DE
OBRA
... ..038
11.1.15 _
O
TRABALHO
DA MULHER
E
INFANTIL
... ..039
111.6 _
UMA
FORMA
TERCEIRIZADA
DE
PRODUÇÃO
... _.040
111.6 _A
FORMA
DE
PAGAMENTO
... ..042
111.6 _
O COMPROMISSO
DO
AGRICULTOR INTEGRADO
... ..047
11.1 .f_
A
PROXIMIDADE
COM
TECNOLOGIAS PRODUTIVAS E
GE-
NETICAS
... ..048
1I.1.g _
UM
AGRICULTOR
COM
PODER DE
DECISÃO
... ..049
11.1.11 _
CRITÉRIOS
DE
SELEÇÃO
DOS INTEGRADOS
... ..050
I1.1.i _
A
INFLUENCIA RELIGIOSA E
ESCOLAR
... ..052
11.1.j. _
O
JOGO
DO
VAI E
VEM
DA
INTEGRAÇÃO
... ..053
11.2 _
PRODUÇÃO
CAPITALISTA;
UM
IMPASSE
OU
UMA1MPOSS1_
BIIDADE
AO
DESENVOLVIMENTO PLENO
... ..055
11.3 _
INTEGRAÇÃO
NOVAS
OPORTUNIDADES
... ..057
11.4 _
A
ESTRUTURA
DA
INTEGRAÇÃO
... ..058
114.6 _
AVES
... ..059
II.4.b _
SUÍNOS
... ..059
II.4.I›.1 _
UPL
_UNIDADE DE
PRODUÇÃO
DE
LEITÕES
.... _.059
11.4.62 _TERMINAÇÃO
... ... _. 061 1I.4.b.3 _INTEGRADO-
DE
CICLO
COMPLETO
... ..062
CAPÍTULO
III _ ... ... ..066
A
REORGANIZAÇÃO
ECONÓMICAz
DE AGRICULTOR PARA
PRODUTOR,
UMA
GLOBALIZAÇÃO
... ..067
111.1 _
DA
GLOBALIZAÇÃO
PARA
A
SUBMISSÃO,
PARA
A
GLOBAL1_
ZAÇÃO
... ..067
111.2 _
DE SUBALTERNO PARA
PRODUTOR
PLENO
... ..074
111.3 _
BUSCANDO
A
UNIVERSALIZAÇÃO
... ..084
1113.6 _
PRODUTOR
HISTÓRICO
... ..086
091
1
VII
CONSTRUÇÃO
DO
CONCEITO
DE
TRABALHO
HUMANO
ABSTRATO
... ..092
IV.1 -
A
OÊNESE
DO
TRABALHO
HUMANO
ABSTRATO
... ..092
IV.1.a -
A
PRODUÇÃO
ARTESANAL
... ... ..093
IV.1.1› -
MANUPATURAz
DIVISÃO
DO
TRABALHO
E PLANEJA-
MENTO
DO
PROCESSO
... ..094
IV.1.c -
A MERCADORIA FORÇA
DE
TRABALHO
... ..096
Ç IV.1.d
-
TRABALHO,
VALOR
DE
USO
E
VALOR
DE
TROCA
... ._09s
_ IV.1.e'-
MÁQUINAS
E
REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL
... ..
100
4
IV.1_.`f-
PRODUÇÃO
INPORMATIZADA
... ..103
IV.2 _
TRABALHO
HUMANO
ABSTRATO
... ..104
IV.2.a -
O
PRESSUPOSTO
DO
TRABALHO
HUMANO
ABS-
` ».TRATO
...106
IV.2.1› -
UMA
ABSTRAÇÃOz
VALOR DE TROCA
... ..108
IV.2.z -
A
OBJETIVIDADE
DO
TRABALHO
HUMANO
ABS-
TRATO
... _.110
IV.2.d -
TRABALHO
HUMANO
ABSTRATO,
UM
DEVIR
HUMA-
NO
... .; ... .. 111IV.3 -
ATIVIDADE
DE
NÍVEL
SUPERIOR;
UM
TRABALHADOR
PLE
NO
... ..113
CAPÍTULO
V
- ... ..11s
SISTEMA
DE
INTEGRAÇÃO:
DE
AORICULTOR
A
PRODUTOR
PLENO
... .. 119
V.1 -
REORGANIZAÇÃO DOS
PROCESSOS
PRODUTIVOS
... _.119
V.2
-CIÊNCIAS
E TECNOLOGIA:
NOVOS
CONCEITOS
DE
ESPAÇO
E
,DE
TEMPO
... .L ... ..120
› V.3 -
TEMPO
E
ESPAÇO
E As
NOVAS
NECESSIDADES
DE
UMA
EXISTÊNCIA
MAIS
PLENA
... ..- ... ..124
V.4
_A
NOVA
PONTE
DE
VALOR
.... ... ..; ... ..127
V.5
-SUPERANDO
IMPASSES
E
EOUIVOCOS
... ._132
V.ó
_PERSPECTIVAS
DE PRODUÇÃO
DE
NOVAS
ESTRUTURAS
DE
AÇÃO
... ..137
V.7
_DIALETICA
DAS ESTRUTURAS DE
AÇÃO
E,AUTONOMIA
... ..140
V.s
_O TRABALHO
HUMANO
ABSTRATO, PÕE
O
SUJEITO
COM
TEMPO
LIVRE
... ..144
CONCLUSÃO
... ..149
4
RESUMO
~
O
presente trabalho,toma
como
objeto de investigação a prática produtivano
Siste-ma
de
Integração,da
Regiãodo Extremo
Oeste de Santa Catarina e analisa o desenvol-vimento social, intelectual e
econômico do
agricultor integrado,ou
seja, produtorda
matéria prima
came-
frangos e suínos - junto à Agroindústrias.da
Região.É
uma
análisedas possibilidade de construção
do
homem
agricultor,uma
vez que, ao manipular atravésde suas novas atividades,
modernas
tecnologias produtivas, organizacionais eda
enge-nharia genética, encontra a perspectiva de estabelecer
uma
rede de relações entre estasnovas tecnologias e o desenvolvimento
da
inteligênciahumana.
Desde
a década de 60, a agriculturada
Região, objetodo
presente estudo, e certa-mente do
país,vem
sofrendouma
intervenção paraque
as- atividades- agrícolas ingressemem
outros ritmos de objetividade e racionalidade, agora proporcionados pelos avanços das conquistas tecnológicas e das pesquisasda
engenharia genética.A
urgênciaem
satis-fazer as crescentes e os cada vez mais exigentes carecimentos
humanos,
aponta para oslimites, tanto qualitativos. quanto quantitativos
da produção
alimentar obtida nas práticasda
agricultura tradicional. Assim, apósum
vagaroso e longo processo de implantação eintrodução das novas técnicas de produção,
com uma
engenharia genética que exigiu are-estruturação das concepções de tempo, de espaço, de organização
da
propriedade, supera-se a produção tradicional-. O»que
se presencia agoraem
grandenúmero
de pro- priedadesdo
Oeste Catarinense, é a presença deuma
racionalidade e objetividade mate- rial produtiva.A
anterior e tradicional produção, quaseque
exclusiva para a sobrevivên-cia,
assume
nestesnoyos
padrões, proporções gigantescas,tomando
o integrado produ-tor,
um
alguém
com
presença garantidano mercado
em
fase de globalização.u
Na
insistênciaem
conhecer e 'apreender os segredos das novas linhagens de frango ede suíno, o seu manuseio mais objetivo, mais sistemático, exigindo
uma
maior presença,o
usode
novos
equipamentos,o
integrado passa a convivercom
as profundas alteraçõesnas relações de produção e de trabalho inerentes à sociedade capitalista,
em
fase de re-enquadramento nas quase infinitas possibilidades
da
terceiraRevolução
Industrial.Todas
2,
do
integrado produtor,uma
maior capacidadeno
executarde
atividades mais intelectua- lizadas e detomar
um
maiornúmero
de decisões.Para
que
essa percepção se fizesse possível,tomou-se
como
base teóricao
conceitode Trabalho
Humano
Abstrato, cujo processo de desenvolvimento aqui se justifica eencontra aplicação.
A
lógicado
desenvolvimentodo
TrabalhoHumano
Abstrato, passa a ser o princípio organizador de toda a revolução tecnológica e intelectualem
ocorrênciae, causa das possibilidades
da
informatização eda
automação. Ele éum
princípiode
ação,
um
devirdo
trabalhosimples, cuja dinâmica. determina todas as- formas históricasdo
trabalho e das forças produtivas. Assim, as profiindas alterações emergentesna
soci-edade capitalista, são resultado de
um
longo processo de desenvolvimentoda
inteligênciahumana,
cujo fundamento encontra seu princípio ativo e primeiro,no
TrabalhoHumano
Abstrato.
O
integrado produtor encontra pois,na produção
integradaum
catalisador,que o força a,
num
espaço detempo
mais reduzido, absorver as alterações nas relaçõesprodutivas, e organizações
de
trabalho.Aparece
então intermediado pelas infinitas pos-sibilidades
do
TrabalhoHumano
Abstrato, a condição para o surgimento de novas estru- turas cognitivas que- possibilitam a saída das condições de vida confinadas â propriedade,lançando
o
integrado produtor dentro deum
novo
universo de relações sociais, econô-micas e intelectuais.
As
transformações tecnológicas, a produção de mais e melhores produtos, o estabe-lecimento de
um
novo
mundo
de relações, de interdependências, a necessidadede
estarinformado,
de
adaptar-se às constantes e incessantes inovaçõesna
genética,no consumo,
na
compressão do
binômio tempo/espaço, exigem-lhenova
escala de valores,novos
rit-mos, novas
normas
a serem construídas e seguidas e conseqüente novas estruturasde
pensamento. Suas ações já não se
resumem
à comunidade,mas
seestendem
a nível uni-versal.
O
integrado produtor toma-se mais flexível e certamente prepara-se para atoma-
da
de decisões muito mais particularizadas e detalhadas.Toda
esta suanova
conjuntura, transforma-onum
alguém
com
conhecimento de causa, encurtando a distância entre aescolha e a decisão de o
que
ecomo
produzir. Mobilizado por estanova
dinâmica, ointegrado produtor prepara-se para
não
apenas atuar deforma adequada
e ética dentrodas condições
que
a sociedade capitalista lhe oferece,mas
toma-o
capaz de produzir e3
de
pura dependência, enquanto o prepara para agir deforma
mais universalizada e dentrode
condições de vida mais humanizantes.Muito
maisdo
que o
agricultorque
resiste àmodernização
da
estrutura produtiva, o integrado produtor, torna-seum
homem com
capacidade descentralizadora,um ser mais aberto, superando suas angústias, dúvidas e
medos,
bases' necessárias para iniciarum
processo de relacionamentocomo
sujeitoque
conquistou autonomia e
que
é aomesmo
tempo
muito mais flexível, diante da grandediversidade de frentes de atuação
que
odesafiam
no
cotidiano.O
desenvolvimento» das forças e formas produtivas de trabalho, levados a` efeito» pelocapital,
tendofcomo
princípio ativo of TrabalhoHumano
Abstrato, hoje proporciona ascondições para o não trabalho
manual
e concreto,ou
seja está permitindoque
ohomem
se coloque
como
alguém
singular, sujeitodo
processo de sua própria construção.A
tec-nologia presente
na
informatização,na
automação,põe
as condições paraque
ohomem,
o integrado produtor, sinta-se diante das condições
que
tornam
concreto o seu ser pen- sante, pois é atravésdo
conceitual,do
abstrato,não do
esforço fisico,que
eleproduz
emelhora as suas condições de vida. Resta,
como
seafirma
na
conclusão, criar e materiali-zar concretamente as condições
que
viabilizam a industrializaçãoda
produçãoem
suapropriedade, o
que
exige o estabelecimento deum
novo
e diversomercado
deconsumo.
Este
no
entanto, está a exigirum
novo
código de ética, novasnormas
de organização, derelação
com
binômio tempo/espaço, de condições de higiene, de critérios e de qualidadesmais orgânicas dos produtos,
que superem
e extrapolem os interessesda
'racionalidadecapitalista.
São
pressupostos para se construir o novo, ohomem
livre dotrabalho aliena-9
INTRODUÇÃO
Desde
a década de sessentaque
a regiãodo Extremo
Oeste Catarinense está sofi'endotuna reestruturação
do
processo deprodução
agrícola, principalmenteno
setorde
fi'an-gos e suínos.
A
partir dessa décadatem
início a implantação gradativada
produção inte-grada.
Mais
conhecidocomo
Sistema de Integração, ela caracteriza-secomo
uma
articu-lação entre empresas industriais e
pequenos
proprietários produtores.Os
integrados são produtores, cujo processo de produção ,umavez
iniciado insere-sena
lógica racionalda
produção
industrial,onde
a aplicaçãodos
conhecimentos científicos, principahnente osda
engenharia genéticaassumem
papel preponderante. t». 1 _
Por
teracompanhado
o» processode
implantaçãodo
Sistema de Integração, experi-mentado
as grandes contradições.que
aacompanham,
por ser filho de produtor integra-do, por atuar
como
educadornuma
região essenciahnente dependenteda
produção agro-industrial e por considerar que a literatura referente era descontínua e
em
vários aspectosdescritiva e, pela oportunidade e necessidade acadêmica de elaborar
uma
dissertação deMestrado, decidi pelo presente estudo.
A
óticado
mesmo,
não objetivaem
seu eixocentral a análise
da
agroindústria e a estrutura de seusmecanismos
quepassam
a contro-lar
não
só aprodução
mas
todoo
processo» produtivo.A
temática central é o produtorintegrado.
Não
se pretende enxergartambém
este produtor pela simples fórmulado
ex- plorado e subjugado.O
interesse é oz de avançar paraalém de
conceitos e das práticasque
a eles são inerentes.A
integração cerca o produtor integrado demn
mundo
de aparências cuja decodifica-ção não é alcançada se
no
centroda
análise e se a direçãodo
olhar .tivercomo
'ponto departida a agroindústria estendendo-se sobre os integrados.
É
certamente a atitude maiscorreta
quando
se pretende ver o integradocomo
homem
sofrido e manietadopor
uma
relação contratual
com
a empresa. Vê-lo assim é confiná-,lo à passividadesem
amenor
preocupação e interesse
em
sabercomo
ele se sente, o conceitoque
eletem
de si, oquanto ele se reconhece útil e imprescindível dentro
do mercado
produtor de came.Neste sentido, as aparências são insuficientes para explicar e entender quais são de
5
que
comunga
padronização e qualidadecom
a tecnologiada
engenharia genética.,É
na
investigação concreta, objetiva e direta junto ao produtor integrado, de.
como
produz,que
meios materiais utiliza para produzir a matéria primacame,
enquanto eem
paralelovai produzindo a sua auto-confiança,
que
será possível desvelar o real conteúdo presentena
prática quotidiana desse tipo de produção.Ao
mesmo
tempo
as aparências mais tan- gíveis são incapazes de escamotear por completo, elementos essenciaisque
possam' in- duzirao
melhor e mais profundo conhecimento de si eda
materiali'da__d'e posta.São
essesingredientes
que
integram a investigação por terem a capacidade -del despertar a curiosi-z.
, \. _
'
. . dade, motivando o estudo. ` .
~ _
Í
..¢_ ' . l M5.. ;_.. ._ _ .- 1 .9- .-, 1 . . .. .¬ . .f , _O
produtor integrado ao ser analisado e,quando
esta análise semantém
atenta àsz . _ \`. '
1 ' -
I. I
condições materiais ultimamente emergentes
da
e_na sociedade, deduz-se facilmenteque
existe
uma
gradual revolução ein andamento:na
qual eletambém
está inserido. Estasmudanças
patrocinadas pelas conquistasda
ciência, afetam inteira e internamente o inte-grado. Profundas são as alterações que a tecnologia genética e organizacional
tem
pro-vocado
nas condições materiais de produção.As
conseqüências imediatas desse processotransformador são as. significativas alterações.
do
conceito de produzir,do
conceito detrabalho, das noções de
tempo
e de espaço,da
estrutura organizacional eque
por sua vezafetam a própria
forma de
vidado
integrado, o seu relacionamento consigo e~com
osnão
integrados, exigindo profundas
modificações na
sua forma de ser e de pensar.Não
há
como
negarque
a modernizaçãodo
processo produtivo implicana
também
reconstruçãodo
homem
- produtor integrado.O
seu novo. cotidiano é o ambiente propício para aocorrência de significativos avanços cognitivos.
Ou
seja, é viável enxergar anova
estru-tura produtiva
como
uma
perspectiva deque
amedida
queavançam
as sua relações, osseus contatos
com
novas
emodernas
tecnologias,como
oportunidades de desenvolvi-mento da
sua inteligência.A
inserçãonuma
nova
realidade produtiva, e o reconhecimento dessa realidade- nãosão segundo o- materialismo histórico suficientes para transformá-la.
Nem
o pesquisadore
nem
mesmo
o integradomodificam
a realidade objetivaem
funçãodaapreensão que
cada qual
tem da mesma.
Nem
sempre
a realidade pensada encontra simetriacom
a reali-dade
objetiva e material. Essa contradição é conflituosatambém
na
integração, cujossis-6
dade objetiva e material. Essa contradição é conflituosa
também
na
integração, cujoselementos interceptam-se entre ser tão somente
um
modelo
produtivoque
reforça o sis-tema
capitalista e,ou
tornar-seuma
prática revolucionária capaz deromper
com
a repro-dução das relações sociais de produção capitalista.
É
correto»afirmar
que a integraçãoreproduz o
modo
de produção capitalista,mas
como
aforma
de produção capitalista épor si só contraditória, a produção integrada
tem
a imanênciada
contradição.Uma
con-tradição
na
qual existe a possibilidade revolucionária, encontrando impulsona
necessida-de do' sistema de integração de construir e produzir
um
homem
mais confiante, mais au-tônomo
ecom
muito mais decisões a tomar.As
estratégias deuma
maior racionalidadena
organização materialdo
processo produtivo colocadas à disposição dos integradospara o de`senvolvimento de- suas novas atividades produtivas,
tomam-se
os responsáveispelo
rompimento
de suas tradicionais estruturas e verdades internasbem como
oportuni-zam
a criação das novas estruturasque
por certo o alavancam paraum
agir mais produ-tivo tanto nos aspectos
econômicos
quanto sociais, políticos e intelectuais._Sem
dúvidanenhuma
amediação do
Professor Dr. Norberto Jacob Etges, foi. extremamenteproficua
. , ‹
a ponto de a sua qualitativa ação- pedagógica ter propiciado a necessária sintonia entre as
bases teóricas
em
Marx,
Hegel, Giddenš* e, outros, o .enxergarda
possibilidade ide cons-trução de mais autonon1ia"iciognitiva e social apartir
da
integração.. Acreditarno
integra-do
ena
sua capacidade e- aomesmo
tempo
encontrar nele vigorosas marcas de autoesti-ma
são o pressuposto para o devirque
em
potencial nele existe.Também
à luz das discussões tantono
periodo de aulas quantona
fase de orientação,Etges proporcionou
uma
profunda apreensãodo
mundo
conceitual eda
fantástica pos-sibilidade de desenvolvimento conceitual e material
do
TrabalhoHumano
Abstrato.O
pressupostodo
devir a ele imanente, permite o enxergar-se apassagem do
trabalho ime-diato e concreto para o trabalho intelectual materializado
na
máquina.É
verno
desen-volvimento das relações sociais e cognoscitivas, proporcionados pela integração, a pos-
sibilidade
do
agricultor passar a sentir-se mais gentena caminhada
construtivada
auto-nomia.
O
estudo sepropõe
a analisar as reais e concretas possibilidadesda
integração, enxer-gando
o integradocomo
um
ser potencialmente capaz de superar-se ao invésde
sentir-seinepto e
sem
iniciativas,uma
tão somente vítimada
exploração capitalista.Na
medida
em
7
que
a práticada
integração alia-se à objetividade e racionalidade das conquistasda
pes- quisa científica e tecnológica, ela passa a favorecer a exteriorizaçãodo
potencial produ-tivo.
O
conteúdoque
impõe
um
processo mais racional, encontra-sena
sua base material,na forma
material de organizaçãodo novo
modo
de produção
ena
estrutura das relaçõessociais
que
oacompanham.
A
opção
é pois entendercomo
econcretamenteo
agricultorao integrar-se passa por um' processo de reconstrução de sua personalidade de seu
modo
de ser de sua
nova
escala de valores.Há
elementosque determinam
e constituem a inte-gração e cuja materialidade
podem
ser o» agente indispensávelda
busca de maior auto-nomia econômica
e cognitiva. 'Assim,
no
primeiro capítulo é feitauma
análisedo
processoda
implantação» da produ-ção para a integração. Configura-se
como
um
resgatedo
contexto histórico e formal dasformas materiais
que
se constituíram nos motivos emoldes da
implantaçãodo
sistemaintegrado de produção-.
Faz
referência aos aspectos históricosda
colonização, especifi-camente
da
regiãodo
PortoNovo
- hoje Itapiranga, Tunápolis eSão
Joãodo
Oeste -passa pela produção nos
moldes
artesanais, apontando os seus limites e, avança até aestrutura
da
integração. Analisatambém
os pressupostos materiaisque
orquestraram aviabilização
da
introdução dosmodernos
processos organizacionais e produtivos e a alta tecnologia genética. Portanto, o~ primeiro capítulotem
por objetivo, analisar o processoda
transformaçãodo
agricultor tradicional paraum
produtor muito mais racional emuito mais comprometido. j
z
'
No
segundo capítulo, ér analisado a implicação
da passagem do
agricultor para produ-'tor e
a
forma
gradualda
globalização não só de sua produçãomas
também
dele integra-do, enquanto
homem.
Iniciauma
análise das condições, conflitos de contradiçõesque
en-volvem
o setor agrícola e dentro das quaispodem
encontrar-seum
compromisso
com
orompimento da
condição de subalterno e de trabalhador desqualificado.A
matéria, asociedade, a lógica
do
progresso estãoimpondo
os lirnites para as ações decunho
arte- sanal.Mas
é importante constatar e reconhecerque
estas circunstâncias,na
qual os pe-quenos
agricultores “nãotêm
outra escolha” não são de per siuma
dissoluçãoou
nega-ção de suas ações.
O
poderda
agroindústria exercido sobre o produtor integrado,não
deve ser concebido
como
uma
estrutura dedominação
firmada
ecompromissada
com
alaboriosa produção de “corpos dóceis”
ou
sujeitos submissoscom
comportamentos
de8
autômatos.
O
“poder”do
agro-industrial está regulado por relações de autonomia e dede endência
P
eP
ortanto de interação.É
o ue ex flP
ressa Giddens:“Mas
todas as formas dedependência oferecem alguns recursos por meio dos quais aqueles que são subordinados
podem
influenciar as atividades de seus superiores” (Giddens, 1989:12). Assim, a condiçãodo
produtor integradoem
ser responsável pelas próprias atividades, habilitam-no a ar-gumentar
as razões dessamesma
responsabilidade.Uma
auto-responsabilidadeque
en-contra justificativa compartilhada
no
reconhecimento deque
todos ossereshumanos
sãodotados de potencialidades e capacidades intelectuais. e cognoscitivas..
No
terceiro capítulo, buscam-se as bases teóricas e materiais 'da gênesedo
TrabalhoHumano
Abstrato. Seguindo' a lógicado
desenvolvimento das formas materiais, o» ho-mem
estáem
condições de, pela apreensãodo
devir legado pelo TrabalhoHumano
Abs-
trato, transformar-se
num
ser conceitual, capaz de abstrair' a materialidadedo mundo,
tornando-a mais
humana
e mais solidária. E,no
eixo dessa possibilidade conceitual, oquarto capítulo analisa a reorganização dos processos produtivos, de
forma ampla
e geral e as contrações das grandezas tempo/espaço.A
medida que
o binômio tempo/espaçofica
submetido mais
amplamente
ao- domínioda
ciência,da
genética eada
informatização, exi-ge-se
uma
rápida e constante adequaçãodo
modo
de ser,do
modo
de agir edo
modo
depensar,
como
elementos necessários parauma
existência mais plena. Destaca-secomo
fator relevante
do
extremo sucessoda produção
agro-industrial sobre a produção famili-ar, domiciliar e tradicional ao triunfo
da
concentração tecnológica nas propriedades inte-gradas.
Coma
tecnologiaque
implicanum
domínio extremamente maior e mais racionaldo
binômio tempo/espaço, omercado
tradicional familiar perde a razão material de suaexistência dentro dos parâmetros de acumulação capitalista.
Nessa
racionalidade estápresente a necessidade de deixar de lado hábitos desordenados de trabalho eo a conse-
qüente
adoção
de açõescom
extrema regularidade, invariabilidade e sistematização.Também
este capítulo avança,embasado
em
Marx, Hegel
e Etges,na
perspectivada
superação radical
da
estrutura das relações sociais opressoras e simuladorascom
cunho
de perenidade.
À
luzdo
conceito de TrabalhoHumano
Abstrato e suas reais possibilida-des conceituais e materiais, postas hoje pelo avanço fantástico
da
tecnologia cientifica estádada
a possibilidadedo
declínioda
magnitude de trabalhoempregado
como
gerador de riqueza.Rapidamente
o valor passa a teruma
nova
fonte: ada
qualidade edo
volume
de satisfaçãoque
pode
proporcionar. Essa profunda transfomiação,expondo
mais inten-9
cotidiano contato
com
amoderna
engenharia genética emodernas
estruturas organizaci- onais e de equipamento,aproximam-no do tempo
livre.A
partir daí elenão
pretenderetomar à
produção
tradicional basicamente de exclusiva subsistência. Deseja sim,imensamente ver a quantidade e a qualidade de seu produto exposto nas vitrines e
na
mesa da
“Aldeia Global”.Renega
as formas tradicionais deprodução
agrícola, cuja obso-letização,
em
nada
podem
contribuir para resolver ot graveproblema da
alimentaçãodo
homem
planetário.Os
principais pressupostos teórico/metodológicos,encontram
sustento:a)
Nem
na
práticada
agricultura de quase exclusivaprodução
para a subsistência e.nem
como
produtor integrado, o agricultor exerciaou
exerce o controledo
preço de seu pro-duto.
No
entanto pela vastidão de abertura e de oportunidadesem
poder contatarcom
modernas
tecnologias produtivas, organizacionais eda
engenharia genética, esta resultacomo
grande perspectiva de saídado
arcaísmodo
seu limitado estado social político e cognoscivo.b)
Uma
vez inseridona
nova
racionalidade produtiva,o
integrado se apossa de elementosestruturais dessa
nova
prática produtiva,que
ampliam
as suas condições produtivas, tor-nando-se a alavanca de sua universalização ea autonomização.
c)
A
medida que
a magnitudedo
tempo
de trabalho imediato deixa de ser o fator único eimprescindível de geração
da
riqueza e “aprodução
passa a dependerdo
“estado geralda
ciência e
do
progressoda
tecnologia°_” (Etges, 1994:09 Sociedadedo
Trabalhosem
Tra-balho),
põem-se
efetivamente as condiçõesda
sociedadedo não-emprego
que terácomo
princípio organizador o TrabalhoHumano
Abstrato.Também
o TrabalhoHumano
Abs-
trato é o princípio organizador
do
trabalho produtivodo
integrado.É
ele o princípioque
ordena e' determina todas as formas
da produção do
integrado.O
TrabalhoHumano
Abstrato,
que
se transformaem
valorque
por sua vez se transformaem
capital,põem
asefetivas condições de liberação
do
homem
integrado das condiçõesdo
trabalho manual,W _
'r
A
PRODUÇÃO
PARA
A
INTEGRAÇÃO
I.1 -A COLONIZAÇÃO
DO
OESTE CATARINENSE
O
meio
ruraldo
Brasil, suaocupação
e transformaçãoem
áreas produtivas foipreocupação desde O período colonial.
A
forma
deocupação que
passou a emergir foiosistema latifundiário
com
sólida basena
relação» escravagista.. Já.no
Período» Imperial,devido amanifestações contrárias à escravidão, aliado ainda às- dificuldades de trazer
os escravos negros, pelo bloqueio imposto pelos. ingleses, tornam-se necessários a
elaboração de novas estratégias
que
garantam aocupação
e a produtividade dosterritórios nativos e improdutivos
em
termos agrícolas. Foi assimque
se estabelece-ram
asnormas
que viabilizaram a execução deuma
políticaque
permitisse a imi-gração de trabalhadores que
pudessem
atuar livremente,com
direito à posse e propri-edade de terras rurais. Foi neste sentido
que
divulgaçõesforam
feitas nos paísesda Eu-
ropa,
promulgando
as facilidades para a aquisição de terrasno
Brasil. Especificamente oGoverno
Brasileiro dirigiu sua atenção e divulgaçãona
Europa, visando a possibilidadeda
vinda de agricultores conhecedoresda
lidacom
a terra,bem
como
da
lidacom
ani-mais domésticos, dentro de
um
sistema maismodernizado
das técnicas produtivasalém
de estes grupos
humanos
apresentarem aspectos culturais e visões demundo
superioresaos escravos africanos e
mesmo
aos índios brasileiros.A
vinda dos irnigrantes europeus e o seu estabelecimentono
Brasil, principalmentenos Estados
do
RioGrande do
Sul, Santa Catarina e Paraná ,como
pequenos
proprie-tários,
não
significou a rupturado
sistema latifundiário jáamplamente
difundido ecom
nítidos traços de servidão e escravidão.Mesmo
assim a elite latifundiária passoua ver nos projetos de colonização
uma
ameaça
aos privilégios dos quaiseram
beneficiári-os.
Apesar da
colocação de vários obstáculos, dentre eles os sucessivos cortes desubsídios
_
que haviam
sido» assegurados, servindo de estímulo à imigração, várias regi-
ões
foram
sendo ocupadas pelos imigrantes europeus eno
caso específico imigrantesnão portugueses.
Nessa
ocupação a prática agrícola diversifica a produção, ao contrárioe
em
oposição às monoculturas dos latifúndios e firma-se,embora
com
bastante fragili-12
A
partir de 1820, o Valedo
Rio dos Sinos,no
RioGrande do
Sul e o Valedo
Itajaíem
Santa Catarina,começam
a receber imigrantes alemães.,Por
volta de 1870, é avez dos imigrantes italianos
ocuparem
terrasna
região serranado
RioGrande do
Sul, região Sul de Santa Catarina e,
em
menor
intensidade regiõesdo
Estadodo
Paraná .
A
vinda desses imigrantes permitiu a expansão deum
modelo
de produçãoagrícola de pequenas propriedades e de
produção
familiar.. Estes agricultores ao- aquichegarem, trataram de preservar a herança cultural,
em
cujabagagem
os traços típicosreferiam-se tanto a aspectos econômicos, políticos, religiosos, sociais e morais. Isto
permitiu a fomiação das peculiaridades de cada núcleo de igual origem.
Já a colonização
do
Oeste Catarinense,tem
iníciono
finaldo
século passado. Basi-camente
os agricultoresque
aquichegaram
são descendentes dos imigrantes europeusque viam
tornar-se impossível a reproduçãoda pequena
propriedade, devido a escasseze
mesmo
falta de terra, enem
mais possível a redivisãoda
propriedadeem
outrasme-
nores ainda.
Outro
aspectoque
induz à impossibilidadeda
reprodução, é a exploraçãoimposta pelo capital ao
pequeno
proprietário. Inicia-se assimuma
rota migratória,cujo vetor aponta para or Norte,
tomando-se
conhecido entre os agricultorescomo
o
“Caminho do
Norte”.As
propriedades aserem
adquiridas, representavampequenos
lotes,numa
média
aproximada de
25
hectares. Elaspodiam
ser adquiridas junto às empresas colonizado-ras, notadamente de
origem
gaúcha.A
forma
de obtenção das terras pelasem-
presas colonizadores, eranormahnente pagamento
por prestação de serviços, taiscomo:
aberturas de estradas e construção de ferrovias. Estas empresasficavam
com
ocompromisso
de dividi-lasem
lotes, vendê-las e fazercom
que fossem
ocupadas, tor-nando
assim a região produtiva.No
caso específicoda
região que abrange os hoje municípios de Itapiranga,Tuná-
polis eSão
Joãodo
Oeste, aempresa
colonizadora foi a Volksverein fiirDeutschen
Katholiken - Sociedade Popular para Católicos de Lingua Alemã.Essa
empresa
colonizadora adquiriuem
torno de 58.500 hectares de terrada Empresa
Peperi-13
também
conhecidacomo
SociedadeUnião
Popular -SUP,
foi criadaem
1912
pelo Pe.Theodor
Amstad.No
congresso dos católicos realizadoem
Novo
Hamburgo
nos- dias 14a 16 de
março
de 1925, decidiu-se pela organização de expedições para conhecimentodas terras a
serem
adquiridas. Neste congressotambém
marcaram
presença 53 caixeiros-Caixa Rural - para juntos decidirem os caminhos
da
colonização de PortoNovo
- hojeItapiranga.
Uma
das expedições foi organizada pelo Pe.Max
Von
Lassberg,que
aquichegou no
dia 10 de abril de 1926.Ao
atravessaremo
rio Uruguai, encontraram a hojesede de Itapiranga, desmatada e coberta. por capoeira, destacando-se
em
seu interior ber- gamoteiras, laranjeiras e limoeiros,bem como
pés de milho e de mandioca. Posterior-mente
constatou-se a presença dos “wald leuferes”- andarilhosdo
mato
:. caboclos e indi-genas,
como
autores das plantações.Como bem
frisa onome,
Volksverein fiírDeutschen
Katholiken, aCompanhia
Religiosa dos Padres Jesuítas, sobo
comando
do
Pe.
Max
von
Lassberg, funda a colônia PortoNovo.
No
dia 11 de abril de1926 o
Pe.Lassberg reza a primeira missa, local atuahnente identificado por
um
monumento-
em
homenagem
aos pioneiros.De
volta para as “Colônias Velhas” -RS,
iniciam-se ascampanhas
para a imigraçãocom
slogans,como:
“ das schönes land” - as lindas terras.Paralelamente instala-se o filtro de
ordem
étnica e religiosa,uma
vez que só se permitiaa entrada de imigrantes de
origem
alemã e católicos.Sendo de origem
alemã,mas
não
católico era lhe
dado
a oportunidade de ser batizado,tomando-se
católico, satisfazendoassim as condições- de permanência. Esse controle
da
religião eda
língua foi mantido atéo ano de 1965. Inicialmente o atendimento religioso era feito pelo Padres
da
SagradaFamília.
Em
01 de abrilde
1927, chega a Porto-Novo
o primeiro cura, Pe. HenriqueOfenhitzer
da SSJ
`-Ordem
da
Sagrada Família.
Em
19294é substituído pelo cura Pe.Pedro
Ver
Haelen, seguidodo
Pe.Miguel
Nan em
1930.Por
desentendimentps e pelanão
comunhão
de idéias entre a Diretoriada
Colonizadora e os padres, fez-se a trocapela congregação dos Pe. Jesuítas
em
1931,com
a vindado
Pe.. João Riek.No
entanto, é preciso salientarque
a primeira família de brancos,moradora
de PortoNovo
foi a de Johan e Margarida Düngersleber, vindada
Alemanha
com
10 filhos, en-trando via Porto Feliz - hoje
Mondaí
- efixando
residênciaem
LinhaPoná
- hoje LinhaChapéu. Esta farnília
chegou
em
1925.PortoNovo
passou a denominar-se Itapirangaem
O1 de
Maio
de 1938. Itapiranga éum
nome
deorigem
indígena - guarani -que
quer dizer14
suas atividades de ensino
em
19de
abril de 1927,com
20
alunos, tendocomo
Prof. o Pe.Henrique Ofenhitzer. Professores leigos só
eram
aceitos após terem passado pela apro-vação junto aos padres.
Em
14 de janeiro de 193 8,chegam
à Itapiranga aCongregação
das Irmãs
da
Divina Providência,ficando
responsáveis pelos setoresda
saúde eda
edu-cação. Já
em
dezembro
desse ano de 1938, inaugura-se o Hospital Sagrada Família, ain-da
hoje existente e administrado pelas irmãs. Destaca-sena
áreada
saúde a presença dasparteiras, sendo
que
a primeira, a senhora Elizabeta Rost, inicia suas atividadesem
1927.
A
partir de 1933, PortoNovo
contavacom
a presençado médico
Sr. Ulrich S. Neff,mas
que
por motivos políticos instalou-sena
comunidade
deSede
Capela, distanteda
sede 6,5 km(1).1.2-
A
FoRMAÇÃo
ECONÔMICA
no
oEsTE CATARINENSE
I.2.a -
EM
BUSCA
DA
CoMERCIAL1zAÇÃo
Como
nas “colônias velhas”do
RioGrande do
Sul, as práticas agrícolas jánão
eram
estritamente parauma
agricultura de subsistência, apresentando significativos índices comerciais, os imigrantesque
aquichegaram
deram
continuidade ao processo deprodução
em
escala comercial. Processava-se assim a continuidadeda
práticada
agricul-tura comercial
que
já não lhes era estranha.As
dificuldades iniciais, devido aprecariedade dos instrumentos para oi desmatamento, construção de casas, galpões,
galinheiros, chiqueiros e estrebarias,
bem como
da
obtenção de sementes para o culti- vo, aliado às dificuldades de transporte, obrigaram os agricultores à práticada
agri-cultura de subsistência nos primeiros anos.
Mas
tão logo esses entraves e obstruçõesforam
sendo superados iniciou-se aqui o processo de produçãoem
escala comercial.Produzir excedentes para o mercado,
além
de ser urna necessidade, paraque
pudessem
comprar
aquiloque
nãopodiam
ou
mesmo
não queriam produzirna
propriedade, ué tam-bém uma
necessidade de externarum
valor culturalque
era de praxe nas “colônias ve-lhas”
do
RioGrande do
Sul, já trazido pelos imigrantes alemães e italianos de seus paísesde origem. Caracteriza-se ainda
como
um
elo de ligação entre produtores agrícolas econsumidores urbanos.
Como
estímulo à produção de excedentes,temos
a própria de-15
Janeiro e principalmente
São
Paulo. Essademanda
nacional, exigia principalmentecame
de porco, banha, manteiga
e
galinha caipira.Tão
logo as condições permitiram e, possibilidades de transporte se ofereceram,começaram
a se constituirpequenos
estabelecimentoscomerciais.O
primeiro comerci-ante de Porto
Novo
foi o Sr.Serafim
Rech.A
ele seguem-se outros, sendoque
a iniciati-va normahnente
partia dealgum
dosnovos
imigrantes. Estes estabelecimentos»comer-
ciais,
fixavam-se
em
locais destinados aserem
os centros/sedes das localidades, proje-tando-se desde logo
também
os locais para a escola e a igreja,que
em
inúmerascomunidades
se anteciparam 'à instalação dos estabelecimentos comerciais. Essespequenos
comerciantes passaram a garantir e servir de intermediadores comerciaispassando via repasse a fornecer aquilo
que
os agricultores estavam impedidosou
não queriam produzir.
Os
comerciantes passaram a fornecer o tecidoem
metro - usadopara a confecção
da
roupa de trabalho e dedomingo
-, a querosene - para queimar naslamparinas
que
serviam de fonte de luz -, o sal, ferramentas agrícolascomo:
enxadas, pás, foices, facões, machados, serrotes, armas e munições, e outros produtos in-dustrializados.
Em
contrapartida os comerciantes recebiam -compravam
- os produ- tos agrícolas excedentes dospequenos
proprietários, possibilitando o seu escoamen-to para os centros industriais. Para fazer esse
escoamento
dos produtos agrícolas,considerados excedentes, os agricultores produtores não
dispunham
dos recursos finan-ceiros e materiais para realizar o deslocamento até o
mercado
consumidor.É
esse fatoque faz o comerciante entrar
em
cena,tomando-se
um
elemento quase que centralna
vida dos agricultores.
A
ligação dos comerciantes locaiscom
os setores industri-~ o~
ais, permitiu a constituiçao de
um
capital comercial emergentena
regiao.Esse capital comercial fortaleceu a figura
do
comerciante, deuma
fomia
peculiar ecaracterística.
O
comerciante passa a seruma
espécie de central de pedidos de coisas, fatos e até pessoas, tudoem
nome
da
“amizade” eda
“confiança” comercial e política.A
ele o agricultor leva as lamentaçõescomo:
falta de braços - filhos aindapequenos
-, faltade sementes, de reprodutores, ausência de assistência técnica e financeira, o não encon-
trar run preço justo para os produtos produzidos e, muitas vezes até de problemas fami- liares.
Acaba
o comerciantetomando-se
uma
espécie de conselheiro para tudo e paracomerci-16
ante
um
elemento importante.O
seu poder sobre os agricultores se expande gradativa-mente
e por outro lado forçao
aumento da
relaçãode
dependênciado
agricultorem
re-lação a ele.
O
comerciante passa a serum
alguém que
sabe mais,que
tem
mais, e estarde
seu lado significa “status”.
Daí
ele não faltarem
festas de casamento, ser o eleito paraintegrar diretorias, para representar a comunidade, ser o escolhido para padrinho
dos
filhos.
São
significativos- os casosem
que
o casal comerciante são padrinho emadrinha
de dois filhos deuma
mesma
família. Esta situação toda éuma
mostra,um
diagnósticoque
demonstracom
precisão o estado de fragilidadeem
que se debatiao
agricultor.Compreender
e desvelar a centralidadedo
comerciantena
vidado pequeno
produtoragrícola, é fundamental para entender e apreender a posterior relação
com
o agro- industrial,na
medida
em
que
ele passa a ser o comercializador de sua produção. Basica-mente
ocorreuuma
transferênciada
relaçãode
dependência:do
comerciante parao
agro-industrial. Significa
compreender que
a propalada dependênciado
produtor inte-grado
da
agroindústria não é exclusivamente produtoda
penetração destas empresasindustriais capitalistas.
'
-
Conforme
frisado acima, o papeldo
comerciante não se restringia ã aquisiçãodos
produtos excedentes produzidos pelos agricultores,
mas
também
fornecia tudoo que
elesprecisavam.
Na
maioria dos casos ascompras
eram
feitassem
dinheiro e o agricultormantinha
uma
espécie de “conta corrente” junto ao comerciante. Esta relação estabele-cida exigia
uma
troca de confiança.O
agricultor secomprometia
a lhe entregar todaa
produção
destinada à venda.Com
isso a “conta corrente” sofria constantes atualizaçõese variações entre crédito e débito. Pela supremacia econômica, conhecimento
do
atode
comercializar, por exercer
uma
espécie de dominio cultural e político,não
é dificil deentender
que
quem
fixava
os preços dos produtos aserem
vendidosou
comprados
peloagricultor, era o comerciante.
Dessa compreensão
e análise, deduz-seque
a existência de liberdade para comerciar emesmo
para estabelecer preço para seus produtos, não se constituiuma
prática históricano
seio dospequenos
agricultores. Contraditoriamente o produtor agrícolatem
quaseque
assírnilado a condição de espera pelo outro - comerciante, governo: preço mínimo,inte-17
gração
compareceu
para daruma
nova forma
euma
maior racionalidade a essa prática jáantiga e tradicional. Sabia o produtor agrícola e sabia- oz comerciante
o tamanho da
rela-ção de dependência
que haviam
estabelecido. Parao
agricultor, o nãofomecimento
dosprodutos excedentes,
quando
existiam e a conseqüente não quitação de parteou
da
“conta corrente”, implicava
num
possível não fornecimento por partedo
comerciante deoutras mercadorias necessárias.
Com
certeza isto significava a existência de poucas al- ternativas de sobrevivência até apróxima
safra. Para o comerciante o não recebimentodos excedentes agrícolas implicava
no
não pagamento
das dívidas o-que
significava difi-culdades para a continuidade de seus negócios. _
A
relação caracteriza-se entãocomo
um
compromisso mútuo. Apesar
de estecompromisso
ou
acordo ser apenas informal,o
agricultor dificilmente entregava a sua produção excedente a outro comerciante.
É uma
relaçãoque
seconfigura na
troca de bens distintos, portanto ela é assimétrica e persisteenquanto houver
um
saldo devedor.As
caracteristicas dessa relaçãomarcam
significativa presençana
atual relação inte-grado e agro-industrial.
É
a agroindústria que determina eimpõe
o preço, exige exclusi-vidade
na
entregada
produção, exerce significativa influência cultural,domina
mais emelhor o conhecimento técnico científico,
têm
maior representatividade política.Tudo
isto pela supremacia de seu poder econômico-.
É
importante salientarque
aqui, grandeOeste Catarinense, os produtores agrícolas estiveram historicamente, dependentes dos
comerciantes e
com
raríssimas exceções,em
nenhum
momento-
participaram dafixação
de preços, tanto de produtosque colocavam
à venda, quanto dosque
compravam
parao
consumo.
.Pela tradição dos
pequenos
agricultores descendentes tanto de alemães quanto deitalianos
na
criação de porcos, de gado, e consequentementedo
fabrico de queijos e embutidos,bem como
na
tradiçãodo
plantio de uva,fumo
e vários cereais, possibilitou-se a expansão desses setores.
O
desenvolvimentoda
oportunidade de expansãoda
produção de porcos esteve
também
aliada à associaçãodo
capital comercial local aocapital industrial das indústrias
do
setor de carnes, principahnente deSão
Paulo.Na
se-qüência desse processo de comerciar a carne de porco, a região
do
Oeste Catarinense18
Assim, a partir de 1940,
numa
associaçãodo
capital comercial e de fundos de reservados
pequenos
agricultores, iniciou-se a construção dos primeiros fiigoríficos,que passam
a partir de então a
comprar
e industrializar aprodução
de porcosda
região.No
iní- cio e ainda porum
razoável período detempo
esta comercialização é intermediada pelo comerciante, proprietário dos caminhões de coleta e de transporte até o frigorífico deabate.
Na
sua quase totalidade, o dinheiro investido pelos agricultores,que
deveria servircomo
forma
de aquisição de cotasou
ações, junto às empresas frigoríficasem
fasede formação,
na
realidadenão
passou de contribuiçõessem
retorno, negando-lhescom
o passar
do
tempo
o título de sócioou
acionista.Em
outras oportunidadesaschamadas
ações
ou
cotasperderam
totalmenteo
seu valorem
função de nãoserem
reajustadosou
atualizados dentro
do
grandefluxo
de trocas e cortesna
nossamoeda.
I.2.I› -
SURGEM
As
AGROINDÚSTRIAS
Amparado
nestanova
modalidade de exploração e intervenção, cria-seem
1940
ofiigorífico
PERDIGÃO
S/A
COMÉRCIO
E
INDÚSTRIA
em
Videira.Segue
em
1942,
na
município da Joaçabaaampfaaa
CoMERCIo
E
INDÚSTRIA SAÚLLE
PA-
GNONCELLI.
Em
1943 é a vez. ,daSOCIEDADE
ANÔNIMA
INDÚSTRIA
E
Co-
MÉRCIO
CONCORDIA, em
Concórdia. Estenome
muda
em
1944, passando a serSO-
A r
'
CIEDADE
AN
ONIMA
CONCORDIA
-SADIA.
Em
1952,no
rnunicípio de Chapecó,cria-se a
SOCIEDADE
ANÔNIMA
INDÚSTRIA
E
COMÉRCIO CHAPECÓ
-SAICC
-, atualrnente denorninada de
CHAPECÓ
INDUSTRIAL.
No- município de Seara, cria-se
em
1956 ó
FRIGORÍFICO SEARA,
cujadenominação
atual éSEARA
INDUS-
TRIAL.
Já-em
1962,no
município de Itapiranga, funda-se aSOCIEDADE
ANÔNIMA
FRIGORÍFICO
ITAPIRANGA
-SAFRITA.
No
município de Salto Veloso,em
1963 cria-se aUNIFRICO
_SQCIEDADE
ANÔNIMA
INDÚSTRIA
E
COMERCIO.
No
município de
Ouro
funda-se aINDÚSTRIAS
REUNIDAS
OURO
SOCIEDADE
ANÔNIMA
e,em
Chapecó
a.COOPERATIVA
CENTRAL
OESTE
CATARINENSE,
ambos
em
1969.FRIGORÍFICO
SÃO
CARLOS
no
município deSão
Carlosem
1975.Como
as décadas de setenta e oitenta são consideradas a nível nacional, mortaseconomicamente,