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Captando Informações da População Indígena nos Censos Demográficos: o Caso da Aldeia de Santa Rosa do Ocoy

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Captando Informações da População Indígena nos Censos Demográficos:

o Caso da Aldeia de Santa Rosa do Ocoy

Andréa da Silva Borges

Andréa Machado Barbosa

Ana Paula Moura Reis MiceliNilza de Oliveira Martins PereiraRodrigo Aires LemesRosângela Filhote Ferreira

Palavras-chave: Populações Indígenas; Prova Piloto; Metodologia; Censo Demográfico.

Resumo

Como parte da preparação para o Censo Demográfico 2010, o IBGE realizou, em conjunto com os países do Mercosul, uma série de Provas Piloto. Em 2008, foi realizada uma Prova Piloto Conjunta do Brasil com o Paraguai, em que foi analisado o tema população indígena, sob abordagens semelhantes e com base nos quesitos harmonizados entre os questionários dos dois países. Os objetivos dessa Prova Piloto foram verificar a adequação do conjunto das perguntas do questionário estendido à realidade da população indígena, além de avaliar informações de saúde, educação e trabalho na comunidade indígena, através da aplicação de um questionário dirigido à sua liderança. No Brasil, a comunidade escolhida foi a Aldeia de Santa Rosa do Ocoy, da tribo Avá-Guarani, situada no estado do Paraná. Como resultado, verificou-se que a aplicação dos questionários da liderança da aldeia e individual evidenciou as dificuldades na adequação das perguntas para captar informações acerca da realidade das comunidades indígenas. Observou-se ainda que o maior envolvimento da população indígena na Prova Piloto permitiu melhor captação dos dados, especialmente no que concerne às informações de trabalho e rendimento. Essa participação aconteceu por haver um representante da comunidade para acompanhar a entrevista, fazendo o papel de intérprete, quando necessário.

Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu - MG – Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010.

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Captando Informações da População Indígena nos Censos Demográficos:

o Caso da Aldeia de Santa Rosa do Ocoy

Andréa da Silva Borges

Andréa Machado Barbosa

Ana Paula Moura Reis MiceliNilza de Oliveira Martins PereiraRodrigo Aires LemesRosângela Filhote Ferreira

1. Introdução

Como parte da preparação para a rodada dos Censos Demográficos de 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou uma Prova Piloto Conjunta para testar a adequação da primeira versão do questionário amostra do Censo Demográfico 2010 às populações indígenas, bem como a aplicação de um questionário específico para a liderança indígena Esta operação foi realizada em conjunto com a Dirección General de

Estadística, Encuestas y Censos (DGEEC) do Paraguai, como parte da cooperação técnica

horizontal entre os países do Projeto Censo Comum do Mercosul, Bolívia, Chile, México, Equador e Venezuela e teve como objetivo dar prosseguimento ao conjunto de testes e provas piloto necessários para o planejamento do Censo de População 2010. A Prova Piloto Conjunta sobre Populações Indígenas foi a terceira Prova Piloto realizada nesse sentido.

Destacam-se entre os principais objetivos do Censo de População a coleta de informações que permitam conhecer a realidade do País sobre o tamanho e a composição da população; características gerais; estrutura familiar; movimentos migratórios; escolaridade; nível de instrução; trabalho e rendimento; situação habitacional; entre outros temas, como insumo para ajudar na formulação de políticas públicas. Neste sentido, a Prova Piloto Conjunta proporcionou elementos conceituais e metodológicos para o estudo de fenômenos que são difíceis de mensurar em operações censitárias, e complementou a experiência adquirida pelos países em seus censos da rodada de 2000, tendo em vista a incorporação das variáveis propostas com a finalidade de permitir uma melhor visualização do perfil socioeconômico da população brasileira.

Os municípios selecionados para a aplicação dessa Prova Piloto Conjunta, com questionários harmonizados entre os países, foram Puerto Kue, Puerto Jimenes e Puerto

Bertoni no Paraguai; e, no Brasil, o município escolhido foi o de São Miguel do Iguaçu, no

Paraná.

Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu - MG – Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010.

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2. Metodologia

A operação teve como objetivo dar prosseguimento ao conjunto de testes e provas piloto necessários para o planejamento do Censo de População 2010. A Prova Piloto Conjunta incluiu algumas das variáveis já harmonizadas entre os países participantes e visou testar tanto um questionário específico para a população indígena, no caso do Paraguai, quanto a aplicação do questionário estendido para a população indígena do Brasil, verificando a adequação do conjunto de perguntas a serem aplicadas no próximo Censo de População à realidade das comunidades indígenas e fornecendo subsídios para a elaboração definitiva das perguntas e o modo de formulá-las. Outro objetivo foi avaliar informações de saúde, educação e trabalho na comunidade indígena, através da aplicação de um questionário dirigido à liderança indígena.

O treinamento foi realizado na Cidade de Foz de Iguaçu, no Paraná, e teve duração de três dias (05, 06 e 07 de novembro), com o objetivo de capacitar os técnicos na aplicação dos conceitos e procedimentos estabelecidos, com ênfase nos conceitos mais novos. Participaram dez técnicos, pertencentes ao quadro efetivo do IBGE e com grande experiência em pesquisas domiciliares, à exceção de 2 técnicos, que têm menos de 3 anos na instituição. Foram capacitados também 4 servidores (1 da Gerência Técnica do Censo Demográfico e 3 do Comitê do Censo Demográfico) para atuarem como observadores em campo.

Dois tipos de questionário foram aplicados na Prova Piloto Conjunta: um questionário para a liderança da aldeia e outro para os domicílios e seus moradores. O questionário destinado à liderança da aldeia teve como finalidade o conhecimento da situação de desenvolvimento socioeconômico da aldeia. Esse questionário não só captou informações referentes à identificação (nome da aldeia e da liderança indígena) e à etnia, como coletou informações sobre serviços de saúde e de educação, atividades econômicas tradicionalmente realizadas na aldeia, e os problemas causados por não-indígenas que afetam a utilização dos recursos naturais da aldeia. No bloco referente à saúde, investigou-se a existência de uma estrutura física (posto de saúde instalado), de atendimento de médico ou outro profissional de saúde, além de obter informações sobre esse profissional e da prática da medicina tradicional indígena. Para o bloco de educação, também se investigou a existência de uma estrutura física (escola instalada e funcionando) e do professor, além de informações sobre a etnia do mesmo e da língua ou idioma ensinado, dentre outras. No bloco de trabalho, os quesitos captaram dados sobre atividades coletivas praticadas pelos indígenas, para troca entre moradores da própria aldeia ou entre aldeias, ou ainda para o próprio consumo, portanto não sendo revertidas em remuneração.

A data de referência da Prova Piloto Conjunta foi a noite de 31 de julho para 01 de agosto de 2008. Isso significa que várias perguntas que constam dos instrumentos de coleta tiveram que ser respondidas considerando-se este corte no tempo. Em relação à população a ser pesquisada, foram selecionados todos os domicílios da Aldeia Indígena de Santa Rosa do Ocoy, por ser este um setor especial indígena.

O instrumento de coleta usado para o registro das características do domicílio e dos seus moradores, na data de referência e em cada unidade domiciliar ocupada, foi a versão do questionário da amostra utilizado na Primeira Prova Piloto do Censo Demográfico 2010. Enquanto o questionário da liderança da aldeia foi em meio impresso, o questionário dos domicílios e moradores foi aplicado em meio eletrônico, sendo digitalizado em um microcomputador portátil, chamado Personal Digital Assistant ou Assistente Pessoal Digital (PDA).

O questionário individual digitalizado no PDA foi composto de 33 perguntas no bloco de características do domicílio; 7 perguntas no bloco de emigração internacional; 5 perguntas no bloco de mortalidade; 4 perguntas da lista de moradores; 10 perguntas no bloco de

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características gerais da pessoa; 5 perguntas no bloco de deficiência; 3 perguntas no bloco de saúde; 15 perguntas no bloco de migração; 15 perguntas no bloco de escolaridade; 4 perguntas no bloco de deslocamento para estudo; 3 perguntas no bloco de nupcialidade; 27 perguntas no bloco de trabalho e rendimento; 4 perguntas no bloco de deslocamento para o trabalho; e 7 perguntas no bloco de fecundidade, perfazendo um total de 142 perguntas.

Quanto à preparação dos dados, a coleta feita através de PDAs não só eliminou os erros passíveis de ocorrer na fase de digitação como também disponibilizou com maior rapidez o acesso aos dados para análise. A coleta teve início em 10 de novembro de 2008 e término no dia 13 de novembro de 2008. Nesse mesmo dia, foi possível obter o resumo das unidades domiciliares e pessoas recenseadas e, no dia 14 de novembro, foi feita uma tabulação da população recenseada por idade e sexo. O acesso aos dados da coleta e a geração da base de dados no software REDATAM foi disponibilizado para análise no dia 17 de novembro de 2008.

Sabe-se que o tempo de execução das fases de coleta, digitação e preparação das bases de dados deve ser levado em conta na elaboração do cronograma de quaisquer pesquisas, a fim de otimizar o tempo de execução de cada fase. Portanto, cabe ressaltar que a utilização do PDA reduziu consideravelmente o lapso de tempo entre a coleta e a preparação das bases de dados, eliminando a fase de digitação; e a disponibilidade imediata dos dados permitiu dar início à etapa seguinte de análise da base de dados REDATAM.

3. Principais Pontos Observados nas Entrevistas

Esta seção apresenta comentários sobre o desempenho dos instrumentos de coleta da Prova Piloto Conjunta. Os comentários apresentados foram baseados no trabalho de observação de campo feito pelos observadores e entrevistadores brasileiros no período de coleta dos dados, em São Miguel do Iguaçu.

De modo geral, a maior dificuldade na coleta de dados na aldeia foi em função da língua falada pelos índios, o que dificultou a compreensão das perguntas. Nas entrevistas, houve necessidade de repetir vários quesitos e de formular perguntas de cobertura. Esse problema, aliado ao tamanho do questionário, alongou a entrevista e causou desconforto e cansaço tanto para o entrevistado quanto para o entrevistador

No bloco de características do domicílio, destacaram-se as seguintes observações: nos quesitos referentes ao número de cômodos, seja total ou aqueles que servem de dormitório para os moradores, os entrevistados não entenderam o termo “cômodo” e houve necessidade de o entrevistador usar o termo “peça”. No quesito referente ao abastecimento de água, os entrevistadores assinalaram que a maioria dos domicílios era atendida pela rede geral; porém, verificou-se em campo que na aldeia pesquisada havia uma nascente cuja água era direcionada para um reservatório e distribuída para toda a comunidade. Tal fato demonstrou a necessidade de melhores esclarecimentos do conceito de “rede geral” descrito no manual. E observou-se constrangimento na investigação dos quesitos referentes à existência de bens como geladeira ou freezer, DVD ou videocassete, máquina de lavar roupa, forno de microondas, e televisores, quando não existia energia elétrica no domicílio.

Já no bloco de características do morador, nos quesitos que investigam a idade, os entrevistados souberam informar a idade e o mês de nascimento; entretanto, não souberam informar o ano de nascimento, principalmente quando se trata dos filhos. Mesmo quando eles informaram o ano, apareceu uma mensagem de inconsistência.

Em relação ao quesito sobre cor ou raça, alguns índios declararam a cor e não a raça. O próprio cacique se declarou preto e, por esse motivo, o PDA não abriu os quesitos específicos para a população indígena (etnia e língua falada). Já no quesito sobre religião, o

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próprio termo “religião” não foi bem compreendido, tendo que ser feita a pergunta de cobertura. Por fim, nas perguntas com data de referência, como as de migração e trabalho, as datas aumentaram as dificuldades de entendimento dos quesitos, visto que os indígenas têm outra noção de temporalidade.

4. Perfil da Aldeia de Santa Rosa do Ocoy

Os dados obtidos permitiram avaliar a adequação do questionário da amostra do Censo Demográfico 2010 às comunidades indígenas, cumprindo o que havia sido proposto inicialmente para a prova. Além disso, permitiram traçar um perfil sócio-demográfico da população da Aldeia de Santa Rosa do Ocoy. Foram entrevistadas todas as pessoas que, na data de referência, residiam na Aldeia de Santa Rosa do Ocoy do município de São Miguel do Iguaçu, no Paraná, totalizando 469 pessoas em 106 domicílios.

Para um melhor entendimento de algumas características da população indígena, foi feita uma comparação entre os dados da Prova Piloto Conjunta e aqueles obtidos pelo Censo Demográfico 2000. Cabe mencionar que em 2000 foram aplicados os questionários básicos e da amostra (em 10% dos domicílios) nessa Aldeia, enquanto que nessa Prova Piloto foi aplicado o questionário da amostra para todos os domicílios. Em 2000, os questionários da amostra foram aplicados em 11 domicílios, com informações de 63 pessoas (32 homens e 31 mulheres); nos demais domicílios, foi aplicado o questionário básico. Estas informações quando expandidas correspondem a 76 domicílios e 431 pessoas (221 homens e 210 mulheres).

4.1 Estrutura Etária

A distribuição etária da população indígena da Aldeia de Santa Rosa do Ocoy segundo os grupos qüinqüenais (gráfico 1) mostrou uma concentração da população nas idades mais jovens, na qual cerca de 50% da população tanto masculina quanto feminina tem idade inferior a 14 anos, que é uma característica dos povos indígenas do Brasil. O índice de envelhecimento dessa população foi de 8,0% e sua razão de dependência foi de aproximadamente 122%, ou seja, houve um predomínio de população economicamente dependente, especialmente nas idades mais jovens, o que já era esperado uma vez que a Aldeia Santa Rosa do Ocoy é um setor especial daquele Município e apresenta características diferenciadas em relação aos demais setores. Quanto à forma de declaração de idade, 4,05% da população indígena não sabia informar o mês e o ano de nascimento, declarando a idade presumida.

Segundo o Censo Demográfico 2000, havia 76 domicílios e 431 pessoas na Aldeia de Santa Rosa do Ocoy, onde a maior parte da população (54,1%) apresentava idade inferior a 14 anos. Uma comparação entre as estruturas etárias de 2000 e 2008 pode ser vista no gráfico 2 a seguir, com destaque para o grupo de homens de 5 a 9 anos de idade, com uma redução de cerca de 4 pontos percentuais de 2008 em relação a 2000. Notou-se ainda uma redução na população feminina de 10 a 24 anos de 2008 em relação a 2000.

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Gráfico 1

Comparação entre as Distribuições Etárias da População Indígena Santa Rosa do Ocoy, PR – 2000 e 2008

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000; III Prova Piloto Conjunta – Populações Indígenas, 2008.

4.2 Cor ou Raça

Dentre as 469 pessoas entrevistadas em 2008, 449 se declararam indígenas, enquanto que 3 pessoas declararam ser de cor branca, sendo 2 pessoas de 0 a 4 anos de idade; 1 pessoa com idade entre 35 e 39 anos se declarou como preta; e 13 pessoas com idades inferiores a 45 anos se declararam como pardas, ou seja, algumas pessoas entrevistadas declararam a sua cor (branca, preta ou parda) e não a sua raça (indígena). Apesar da utilização de perguntas de cobertura na tentativa de captar a declaração da categoria indígena, os resultados mostraram que 4,3% da população pesquisada nessa localidade não se declarou indígena. Considerando-se que a população que Considerando-se declara indígena no Brasil é pequena (de 0,4%, Considerando-segundo o Censo Demográfico 2000), qualquer perda de informação no que tange à mensuração desta população tem relevância; portanto, é importante que outros critérios de identificação da população indígena sejam incorporados. Desta feita, a investigação do pertencimento étnico e da língua falada no questionário do Censo Demográfico 2010 permitirá ter uma melhor captação desse segmento populacional.

A Tabela 1 apresenta as distribuições da população investigada por cor ou raça segundo a Prova Piloto Conjunta. No Censo Demográfico 2000, todas as declarações foram na categoria indígena, diferentemente dos resultados encontrados nessa Prova. Para as pessoas que se autodeclararam indígenas no quesito da Cor ou Raça, foram investigadas também a etnia e a língua falada.

60 40 20 0 20 40 60 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 39 anos 40 a 44 anos 45 a 49 anos 50 a 54 anos 55 a 59 anos 60 a 64 anos 65 a 69 anos 70 a 74 anos 75 a 79 anos 80 a 84 anos 85 a 89 anos 90 anos ou m ais

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Tabela 1

Distribuição da População Indígena por Cor ou Raça Santa Rosa do Ocoy, PR – 2008

Fonte: IBGE, III Prova Piloto Conjunta – Populações Indígenas, 2008.

4.3 Etnia

Na investigação da etnia, os recenseadores não dispunham do Banco Descritor das Etnias como referência dentro do PDA e, além de erros de grafia, outros termos inválidos foram declarados, tais como: letra isolada, indicando o não conhecimento da grafia da etnia declarada; o termo “casa de reza”, que foi associado com religião; o termo genérico indígena e o próprio nome da aldeia, Ocoy. Dentre as 19 denominações declaradas no quesito, 78,9% foram consideradas válidas, representando 92,8% da população residente na aldeia, conforme observado na tabela 2.

Tabela 2

Distribuição das denominações e população residente, segundo as etnias. Santa Rosa do Ocoy, PR – 2008

Fonte: IBGE, III Prova Piloto Conjunta – Populações Indígenas, 2008.

absoluto relativo (%) Total 469 100,0 Branca 3 0,6 Preta 1 0,2 Parda 13 2,8 Indígena 449 95,7 Sem declaração 3 0,6 Cor ou Raça População residente Total 19 469 Válidas 15 435 Ava Guarani 3 237 Guarani 7 178 Guarani iandeva 1 1 Guarani xiripa 2 9 Tupi guarani 1 8

Ava guarani e xiripa 1 2

Inválidas 4 17

Termos não identificados 4 17

Não sabe 0 0

Não tem 0 0

Sem declaração - 17

Denominações População

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4.4 Língua Falada

Em relação à língua falada em 2008, o Guarani foi o principal idioma utilizado dentre as 469 pessoas investigadas na área da pesquisa, sendo que a maioria (90,41%) afirmou falar somente Guarani em casa; 5,97% declararam falar Guarani como uma segunda língua, além do Português, e apenas 1,28% declarou falar somente Português. Esses resultados ratificam a importância da presença de um intérprete no momento da entrevista, a fim de minimizar os problemas de entendimento dos quesitos investigados no Censo 2010.

Por ocasião da Prova Piloto Conjunta, como o Banco Descritor das Línguas Indígenas ainda não estava disponível para inclusão no PDA, eram esperados erros de grafia, já que o recenseador era obrigado a escrever toda a declaração. Portanto, foram consideradas como denominações inválidas alguns termos não identificados como, por exemplo, somente a letra G, além das declarações “não sabe falar” e “fala pouco”. Verificou-se que, dentre aqueles que declararam não saber falar, existiam crianças, pessoas com deficiência e pessoas com doenças que afetaram a fala.

Tabela 3

Distribuição das denominações e população residente, segundo a língua. Santa Rosa do Ocoy, PR – 2008

Fonte: IBGE, III Prova Piloto Conjunta – Populações Indígenas, 2008.

4.5 Religião

Os resultados da Prova Piloto Conjunta mostram que cerca de 68% das pessoas entrevistadas declararam ter alguma religião, apesar da dificuldade na captação da opção religiosa dos entrevistados, sendo necessária a utilização de perguntas de cobertura. Essa dificuldade pode ser atribuída tanto à ausência de um intérprete no momento da entrevista quanto ao próprio conceito do que seria “religião” para os povos indígenas, em que as respostas esperadas pelos recenseadores foram enquadradas dentro dos conceitos ocidentais, isto é, de religiões institucionalizadas. Esses fatos podem ainda explicar a razão de todos os respondentes terem se declarado como católicos no Censo Demográfico 2000. A maioria das

Total 12 469 Válidas 8 432 Ava Guarani 2 5 Guarani 5 426 Guarani xiripa 1 1 Inválidas 4 20

Termos não identificados 1 1

Não sabe 3 19 Fala pouco 0 0 Sem declaração - 17 População total Denominações População Línguas

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pessoas investigadas em 2008 declarou ter uma prática religiosa relacionada à própria cultura indígena, apesar da diversidade das respostas encontradas, cuja distribuição se encontra na Tabela 4 a seguir.

Tabela 4

Distribuição da População Indígena, segundo Religião Santa Rosa do Ocoy, PR – 2008

Fonte: IBGE, III Prova Piloto Conjunta – Populações Indígenas, 2008.

4.6 Pessoas com Deficiência

A investigação do tema foi feita através de cinco perguntas, relacionadas às seguintes deficiências: visual, auditiva, motora, mental/intelectual; e também à dificuldade na realização de atividades da vida diária. Houve um bom entendimento das perguntas sobre o tema, exceto pela pergunta relacionada à deficiência mental/intelectual, onde houve necessidade de utilizar perguntas de cobertura; porém, uma vez entendido seu significado, não se observaram maiores dificuldades na captação das respostas. No Censo Demográfico 2000, houve problemas na captação das informações sobre pessoas com deficiência pelo não entendimento das perguntas, que eram mais extensas. Com a realização de um teste cognitivo e uma prova piloto específica sobre o tema, ao longo da década, as perguntas foram reestruturadas para um melhor entendimento.

Nessa Prova Piloto Conjunta, observou-se que 19,4% da população indígena apresentava pelo menos uma das deficiências investigadas, um percentual maior do que aquele encontrado no Censo Demográfico 2000 para a área rural do Brasil (15,2%) e da Região Sul (16,5%).

4.7 Migração

Os quesitos que investigaram o lugar de nascimento do indivíduo permitiram derivar informações sobre os movimentos migratórios internos e internacionais. Uma análise do quesito “Mora neste município desde que nasceu?” mostra que 322 pessoas (68,7%) responderam sim e 144 pessoas responderam não (30,7%). Dessas 144 pessoas, 90,3% não nasceram no município investigado enquanto que 9,7% eram migrantes de retorno em relação

absoluto relativo (%)

Total 317 100,0

Casa de oração 23 7,3

Católica 36 11,4

Culto, cultura, dança, reza ou religião indígena 246 77,6

Evangélica 4 1,3

Povo de Deus 7 2,2

Não sabe 1 0,3

População residente Qual é a religião de

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ao município. Sobre a imigração em relação à Unidade da Federação pesquisada, observou-se que 40 pessoas eram não-naturais, sendo assim distribuídas: 1 pessoa natural do Mato Grosso do Sul, 4 pessoas de origem Argentina e 35 pessoas com origem no Paraguai.

Em relação ao tempo de moradia sem interrupção no município, 65 pessoas declararam residir em São Miguel do Iguaçu há menos de 10 anos. Para essas pessoas, 18 residiam em outro município do Paraná, 4 tinham residência anterior em São Paulo, 5 na Argentina, 36 no Paraguai; encontrou-se 2 registros de residência anterior no Paquistão, porém, uma vez que na lista de países do PDA o Paquistão se encontra em posição anterior ao Paraguai, acredita-se que tenha sido um erro de registro.

Comparando-se o lugar de residência cinco anos antes (31 de agosto de 2003) com o lugar de residência por ocasião da Prova Piloto Conjunta para as pessoas residentes em outros municípios (1,1%), observou-se que esses municípios eram pertencentes ao Paraná e, para aqueles que estavam residindo em outro país (6,0%), observou-se que a maioria era procedente do Paraguai ou da Argentina. A análise dos dados mostra ainda que 79,1% das pessoas entrevistadas estavam residindo no próprio município de São Miguel do Iguaçu, na zona rural, e 13,2% não eram nascidas.

Já para a residência um ano atrás (31 de agosto de 2007), observou-se que a maioria se encontrava no mesmo município, na zona rural, e 5,5% eram menores de um ano. Já 2,1% estavam residindo em local diferente do município de São Miguel do Iguaçu, sendo que 2 pessoas estavam no Paraguai, 7 em São Paulo e 1 em outro município do Paraná.

A relação entre os locais de residência em 2003 e em 2007 mostrou que a maioria das pessoas (78,9%) residia neste município há 5 anos e reside neste município há 1 ano. Dentre as pessoas que residiam neste município em 2007, um total de 5,6% pessoas estavam residindo em outro local em 2003, sendo que a maioria das pessoas desse grupo morava em outro país. Dentre os indígenas que realizaram movimentos migratórios, uma comparação entre a residência de 5 anos atrás com a de 1 ano atrás mostrou que 8,1% moravam em outro município do Estado de São Paulo em 2007 e em outro país (Argentina) em 2003, sendo que todos pertenciam à mesma família, apontando para uma migração em etapas.

4.8 Escolaridade

Os dados mostram que 78,2% da população com 10 anos ou mais de idade na Prova Piloto Conjunta eram alfabetizadas, percentual este maior que o observado em 2000. A Tabela 5 traz as taxas de alfabetização por grupos de idade, na qual se verifica que, nessa Prova, a alfabetização é praticamente total para aqueles com idade entre 10 e 14 anos e supera uma taxa de 77% em todos os grupos etários, exceto para aqueles com 40 anos ou mais de idade. Em 2000, a alfabetização também era universal entre os mais jovens, entretanto, ainda era inferior a 50% para aqueles com idade entre 25 e 29 anos e encontrava-se no patamar de 19,3% para aqueles com 35 a 39 anos de idade; o que reflete uma melhora nesta taxa no período observado.

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Tabela 5

Taxa de alfabetização das pessoas de 10 anos ou mais de idade, segundo os grupos de idade - Santa Rosa do Ocoy, PR - 2000 e 2008

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 e III Prova Piloto Conjunta – Populações Indígenas, 2008.

A taxa de escolarização na Aldeia de Santa Rosa do Ocoy, segundo os dados da Prova Piloto Conjunta, era de 71,2% para aqueles com idade entre 5 a 24 anos, sendo maior nos dois grupos de idade mais jovens, conforme pode ser observado na Tabela 6, que também fornece os resultados de 2000. A grande variância deste indicador em 2000 deve-se a que foi calculado a partir das declarações de somente 63 pessoas, já que foi utilizada, como citado anteriormente, uma fração amostral de 10% para a aldeia, que tinha 431 habitantes.

Tabela 6

Taxa de escolarização das pessoas de 5 a 24 anos de idade Santa Rosa do Ocoy, PR – 2000 e 2008

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 e III Prova Piloto Conjunta – Populações Indígenas, 2008.

4.9 Nupcialidade

O bloco de nupcialidade é aplicado apenas para a população de 10 anos ou mais de idade e se compõe de três quesitos que investigam o estado conjugal (“... vive em companhia de cônjuge ou companheiro(a)?”), a natureza da última união (Qual é(era) a natureza da última união de...?”) e o estado civil (“Qual é o estado civil de...?”).

Censo 2000 III Prova Piloto 2008

Total 57,2 78,2 10 a 14 anos 100,0 98,4 15 a 19 anos 65,8 93,3 20 a 24 anos 83,9 88,9 25 a 29 anos 41,9 78,1 30 a 34 anos - 77,8 35 a 39 anos 19,4 93,8 40 anos ou mais - 41,1

Grupos de idade Taxa de alfabetização das pessoas de 10 anos ou mais de idade

Censo 2000 III Prova Piloto 2008

Total 44,2 71,2 5 a 9 anos 13,7 82,3 10 a 14 anos 100,0 92,2 15 a 19 anos 34,4 53,3 20 a 24 anos 17,7 40,0 Grupos de idade

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Uma análise das respostas ao quesito referente ao estado conjugal mostrou que 57,7% da população de 10 anos ou mais vivia em companhia de cônjuge ou companheiro(a); 9,6% não vivia atualmente com cônjuge ou companheiro(a), mas já viveu; e 32,4% nunca viveu em companhia de cônjuge ou companheiro(a). Em 2000, esses percentuais eram de 62%, 3,2% e 34,8%, respectivamente.

Já em relação ao quesito da natureza da última união, notou-se uma diferença entre as distribuições das respostas da Prova Piloto Conjunta e do Censo Demográfico 2000. Em 2000, 69,3% responderam que a natureza da última união era “só casamento religioso”; já em 2008, o maior percentual de respostas (75,1%) se encontra na categoria “união consensual”. Tal fato mostra que as declarações da natureza da união das pessoas observadas em 2000 levaram em consideração que as uniões realizadas possuíam um caráter religioso, o que não aconteceu nas declarações de 2008.

Em relação ao estado civil da população indígena nessa Prova, observou-se que a maioria da população se declarou solteira no quesito “Qual é o estado civil de...?”, com um percentual de 86,0%. As distribuições das respostas referentes ao quesito de natureza da última união para 2000 e 2008 se encontram na Tabela 7 a seguir.

Tabela 7

Distribuição da População Indígena segundo a Natureza da Última União Santa Rosa do Ocoy, PR – 2000 e 2008.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 e III Prova Piloto Conjunta– Populações Indígenas, 2008

4.10 Fecundidade

O indicador demográfico de momento que mede o nível ou a intensidade da fecundidade, representando o número médio de filhos por mulher, é denominado Taxa de Fecundidade Total (TFT). Para as mulheres da Aldeia de Santa Rosa do Ocoy, a TFT encontrada para o ano de 2008 foi de 8,4 filhos por mulher, um pouco inferior à taxa de 9,1 filhos por mulher auferida em 2000. Note-se que essa taxa foi dada a partir das fecundidades correntes das mulheres com idade entre 15 e 49 anos de idade, sem aplicar nenhum tipo de correção. Entretanto, como os dados de fecundidade dessa aldeia são rarefeitos, também foram calculadas as parturições (medidas de fecundidade acumulada até a data do levantamento) para os anos de 2000 e 2008, conforme pode ser observado no Gráfico 2. Esse indicador foi calculado por entender-se que a fecundidade acumulada ou retrospectiva fornece um bom nível de fecundidade até os 30 ou 35 anos de idade. Esse gráfico mostra uma curva de parturição irregular em 2000 e o uso da fração amostral de 10%, em uma aldeia com

absoluto relativo (%) absoluto relativo (%)

Total 160 100,0 197 100,0

Só casamento civil 30 18,8 1 0,5

Só casamento religioso 111 69,3 48 24,4

União consensual 19 11,8 148 75,1

Natureza da união

Pessoas de 10 anos ou mais de idade Censo 2000

Amostra com expansão

III Prova Piloto - População Indígena 2008

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431 habitantes, pode ter contribuído para esse resultado. Nota-se que para 2008, quando o universo pesquisado foi bem maior, essa mesma curva apresenta um padrão consistente.

Gráfico 2

Parturição das Mulheres de 15 a 49 anos de idade Santa Rosa do Ocoy, PR – 2000 e 2008

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000; III Prova Piloto Conjunta – Populações Indígenas, 2008.

A média de idade das mães é de 25,2 anos no ano de 2008, enquanto que em 2000 era de 29,9 anos. Em 2008, de um total de 135 mulheres de 10 anos ou mais de idade, 98 tiveram filhos (72,6%). O número médio de filhos nascidos vivos das mulheres de 20 a 24 anos foi de 2,4 filhos por mulher e, no grupo de 45 a 49 anos, de 7,7 filhos por mulher, conforme pode ser visto na Tabela 8, a seguir.

Tabela 8

Características da Vida Reprodutiva das Mulheres Indígenas de 10 anos ou mais de idade Santa Rosa do Ocoy, PR - 2008

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 e III Prova Piloto Conjunta – Populações Indígenas, 2008.

0 2 4 6 8 10 12 grupos de idade 2000 2008 2000 1,369 3,593 3,519 0,000 10,138 2,934 0,751 2008 1,160 2,421 3,625 4,429 7,000 6,273 7,667 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49

Grupos de Idade Total de Mulheres Mulheres que tiveram filhos Mulheres que tiveram filhos nascidos vivos Nascidos Vivos Nascidos Vivos no Último Ano Filhos Sobreviventes Filhos Mortos Natimortos Média de Nascimentos Vivos por Mulheres Média de Filhos sobreviventes por Filhos Nascidos Vivos Total 135 98 97 432 24 381 51 21 3,2 0,882 10 a 14 anos 28 1 1 1 1 0 1 0 0,0 0,000 15 a 19 anos 25 17 17 29 13 29 0 0 1,2 1,000 20 a 24 anos 19 17 17 46 4 45 1 0 2,4 0,978 25 a 29 anos 16 16 15 58 3 58 0 3 3,6 1,000 30 a 34 anos 7 7 7 31 0 31 0 1 4,4 1,000 35 a 39 anos 5 5 5 35 2 32 3 1 7,0 0,914 40 a 44 anos 11 11 11 69 0 64 5 2 6,3 0,928 45 a 49 anos 3 3 3 23 1 17 6 0 7,7 0,739 50 anos ou mais 21 21 21 140 0 105 35 14 6,7 0,750

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4.11 Trabalho e Rendimento

Um dos grandes desafios na captação das informações dos censos demográficos se refere à mão-de-obra indígena, que compreende analisar a inserção do indígena no mercado de trabalho, segundo a ótica ocidental. Os indígenas residentes nas terras possuem uma configuração distinta, porque não desassociam o trabalho do lazer e existem atividades que são desenvolvidas coletivamente, nas quais o resultado é distribuído entre as famílias da mesma aldeia ou na troca entre aldeias. Na Aldeia de Santa Rosa do Ocoy, com a informação da liderança, foi observado que também existiam trabalhos coletivos, como por exemplo tanques para criação de peixe e na produção de peças artesanais em espaço próprio na aldeia, sendo que nesta última a venda revertia em remuneração para as famílias indígenas que estavam envolvidas na elaboração do artesanato. Portanto, existe dificuldade em captar informações sobre esse tipo de trabalho, considerando que somente são informados os trabalhos exercidos pelas pessoas de 10 anos ou mais de idade individualmente. O percentual de pessoas de 10 anos ou mais que trabalharam na semana de referência foi 81,2%, enquanto que em 2000 esse percentual era somente de 8,6%. Observando os dados de 2000 sem expansão, notou-se que esse percentual corresponde a 3 casos em atividade remunerada, sendo que um caso se referia a uma mulher com 18 anos de idade na ocupação de arrumadeira, sem carteira de trabalho assinada e na atividade de serviço doméstico. Os outros dois casos correspondiam a homens com idades de 20 e 29 anos, na ocupação de professor de primeiro grau, com carteira de trabalho assinada, na atividade de educação.

Tabela 10

Distribuição da População Indígena segundo a Condição de Atividade Santa Rosa do Ocoy, PR – 2000 e 2008

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 e III Prova Piloto Conjunta– Populações Indígenas, 2008.

Destaca-se que, antes que os entrevistadores começassem as entrevistas, foi realizada uma entrevista com o cacique. Como o questionário da liderança indígena continha informações referente à saúde, educação e trabalho da comunidade, ajudou muito ao entrevistador conhecer como funcionava a Aldeia, principalmente nos trabalhos desenvolvidos pelas famílias e moradores individualmente. Logo, acredita-se que esse conhecimento prévio tenha contribuído para a realização das entrevistas, reforçando a importância da aplicação do questionário da liderança da aldeia. Na Aldeia de Santa Rosa do Ocoy, todas as famílias plantam roças e além disso existiam 40 tanques, com 8 mil peixes, cuja produção coletiva é para o auto-consumo. Quanto ao artesanato, existia uma casa de “Nutrição e Artesanato”, onde somente 12 famílias que produziam recebiam renda,

2000 2008 2000 2008

Total 245 292 100,0 100,0

Economicamente ativa 22 240 8,8 82,2

Trabalhou 22 237 8,8 81,2

Procurou trabalho 0 3 0,0 1,0

Não economicamente ativa 224 52 91,2 17,8

Condição de atividade

Proporção de pessoas de 10 anos ou mais de idade Valores absolutos Valores relativos

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independentemente do sexo e da idade. Portanto, a captação das informações relativas à Aldeia de Santa Rosa do Ocoy na Prova Piloto Conjunta foi melhor interpretada conceitualmente, identificando as reais características do trabalho indígena. Diante deste panorama, recomenda-se que no treinamento dos recenseadores seja dada ênfase à importância do trabalho indígena desenvolvido nas comunidades de forma coletiva e comercializado pela liderança indígena visando o recebimento de remuneração para as famílias.

Dentre as pessoas que trabalharam na semana de referência, a ocupação que mais se destacou foi a de trabalhadores rurais na agricultura, em um percentual de aproximadamente 70%, principalmente na ocupação de capinador (55,3%), da qual as mulheres representavam 19,8%. Na ocupação de tratador de aves (13 pessoas - 5,5%), as mulheres eram maioria. A ocupação de artesão correspondia a 20 pessoas (8,4%), em que 16 eram mulheres. Existiam 6 professores (2,5%) de escola publica (4 homens e 2 mulheres) e dois agentes de saúde (0,8%).

A distribuição das pessoas que estavam ocupadas na semana de referência, segundo a posição na ocupação revelou que praticamente metade eram trabalhadores na produção para o próprio consumo (49,2%); 28,6% empregados sem carteira de trabalho assinada e somente 6,3% com carteira de trabalho assinada. Os jovens de 10 a 19 anos, que representam 1/3 dos ocupados, estão em 56,3% como trabalhadores na produção para o próprio consumo e 25,4% são empregados sem carteira de trabalho assinada. Dentre os adultos de 20 a 64 anos, além dos 42,7% que são trabalhadores na produção para o próprio consumo, 32,0% eram trabalhadores sem carteira assinada e 10,0% possuíam carteira assinada. Para os idosos de 65 anos ou mais que estavam ocupados, a maioria (83,3%) 75,0% eram trabalhadores na produção para o próprio consumo. A supremacia é masculina dentre os ocupados com um excedente de 41,8%. Existe um predomínio masculino para os trabalhadores com e sem carteira assinada; porém, nas demais categorias, a mulheres estão em maior número.

Além dos rendimentos ligados à atividade do trabalho principal, foram detectados rendimentos de aposentadoria ou pensão (18 pessoas); do Bolsa Família (49 pessoas); de Benefício Assistencial de Prestação Continuada (1 pessoa); de Seguro Desemprego ou Programa Social (5 pessoas) e de Pensão Alimentícia, Mesada, Doação (3 pessoas).

4.12 Domicílios

A observação das moradias da Aldeia de Santa Rosa do Ocoy nessa Prova Piloto foi extremamente importante porque se constatou um processo de transformação do tipo de habitação indígena para uma nova forma de residência dirigida aos indígenas por iniciativa do governo, com casas projetadas para acompanhar os traços arquitetônicos da cultura indígena, porém, adaptados à realidade das características do meio ambiente. Isto faz com que estas moradias sejam diferentes das moradias tipicamente indígenas (malocas, ocas, entre outros) como aquelas que são encontradas nas regiões Norte e Centro-Oeste do país.

As moradias tinham como características formas diversas: algumas eram compostas predominantemente de paredes de alvenaria e igual proporção para madeira apropriada (32,1%); já outras eram de madeira aproveitada (15,1%). A maioria dos domicílios possuía telha de barro (71,7%) ou eram cobertas com palha (19,8%). Já o piso era de cimento (36,8%) para aquelas moradias cujas paredes eram de alvenaria, sendo que, para as de madeira, o piso era de terra (58,5%).

A média de moradores foi 4,5 moradores por domicílio, considerada baixa tanto para os padrões de domicílios indígenas quanto em relação àquela do Censo 2000 (5,7 moradores por domicílio).

(16)

O abastecimento de água era feito exclusivamente através do armazenamento da água proveniente de uma nascente em uma caixa de água, sendo distribuída para os domicílios a partir de uma rede de canos. Esse sistema de abastecimento gerou distintas interpretações por parte dos entrevistadores, de maneira que a maioria dos domicílios (73,6%) foi classificada como sendo atendida pela rede geral, conforme pode ser observado na Tabela 11. Entretanto, o quesito que investigava a outra forma de abastecimento de água porventura existente, trouxe como resultado que a maioria dos domicílios (51,9%) também era abastecida por poço na aldeia, sendo que esta informação não reflete a realidade observada.

Tabela 11

Distribuição dos domicílios, segundo o atendimento pela rede geral, a forma de abastecimento de água e o tipo de canalização.

Santa Rosa do Ocoy, PR – 2008

Fonte: IBGE, III Prova Piloto Conjunta – Populações Indígenas, 2008.

A maioria dos domicílios (70,8%) possuía apenas 1 banheiro, sendo que 3,8% possuíam 2 banheiros e 21,7% não tinham banheiro. Dentre os 23 domicílios que não possuíam banheiro, em 56,5% existiam sanitário no domicílio, terreno ou propriedade utilizado. Quanto ao tipo de escoadouro, 82,6% dos domicílios tinham fossa rudimentar. A coleta do lixo era feita diretamente por serviço de limpeza em 56,6% dos domicílios, sendo que o percentual de domicílios cujo lixo era queimado foi de 34,0%. Quanto à forma de energia utilizada, em 61,3% dos domicílios a energia era proveniente de companhia distribuidora, e 32,1% dos domicílios não possuíam energia elétrica.

Em relação aos bens duráveis existentes nos domicílios da Aldeia de Santa Rosa do Ocoy, observou-se que em 64,2% dos domicílios havia rádio; em 36,8%, havia pelo menos

Absoluto Relativo (%)

Atendimento pela rede geral 106 100,0

Sim 78 73,6

Não 24 22,6

Sem declaração 4 3,8

Forma de abastecimento de água 106 100,0

Poço ou nascente na propriedade 1 0,9

Poço ou nascente fora da propriedade 10 9,4

Rios, lagos e igarapés 4 3,8

Outra forma 6 5,7

Só utiliza rede geral 25 23,6

Poço na aldeia 55 51,9

Poço fora da aldeia 1 0,9

Sem declaração 4 3,8

Tipo de canalização 106 100,0

Canalizada em pelo menos um cômodo 66 62,3

Canalizada só na propriedade ou terreno 25 23,6

Não canalizada 11 10,4

Sem declaração 4 3,8

Atendimento pela rede geral, forma de abastecimento de água e tipo de canalização

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um televisor; em 22,6%, havia geladeira ou freezer; e em apenas 17,0% havia DVD ou videocassete. Fazendo um paralelo com os resultados provenientes do Censo 2000, notou-se uma redução nos domicílios que possuíam rádio (100% em 2000); um aumento de cerca de 14 pontos percentuais tanto no número de domicílios com pelo menos um televisor quanto nos domicílios com geladeira ou freezer. Em 2000, não se registrou nenhum domicilio com aparelho de videocassete.

5. Considerações Finais

A Prova Piloto Conjunta sobre Populações Indígenas cumpriu o objetivo geral de dar continuidade ao conjunto de testes e provas para o planejamento do Censo 2010. A aplicação dos questionários da liderança da aldeia e individual evidenciou as dificuldades na adequação das perguntas para captar informações acerca da realidade das comunidades indígenas.

Observou-se que o maior envolvimento da população indígena nessa Prova Piloto permitiu uma melhor captação dos dados. Essa participação aconteceu por haver um representante da comunidade para acompanhar a entrevista, fazendo o papel de intérprete, quando necessário. Recomenda-se, portanto, manter essa prática em pesquisas posteriores. Em caso de não haver nenhum indígena para exercer a função de recenseador, é sugerida a colaboração de uma pessoa da comunidade para servir de intérprete.

A maior dificuldade na coleta de dados na Aldeia de Santa Rosa do Ocoy se deu em função da língua falada pelos índios, que dificultou a compreensão das perguntas; havendo necessidade freqüente de formular perguntas de cobertura.

Em acréscimo aos novos quesitos (etnia e língua falada), para evitar a subenumeração dos indígenas, sugeriu-se a inclusão do quesito “você se considera indígena?” para aqueles que não se declararam indígenas no quesito cor ou raça dentro das terras indígenas, a fim de que aqueles que assim se considerem, também respondam essas perguntas específicas.

A captação das informações sobre trabalho e rendimento foi melhor nessa Prova Piloto do que no Censo 2000, sendo possível identificar as características reais do trabalho indígena. Recomendou-se, portanto, que no treinamento dos recenseadores seja ressaltada a importância do trabalho indígena desenvolvido coletivamente nas comunidades e que seus produtos são comercializados pela liderança indígena, visando o recebimento de remuneração para as famílias.

Para evitar um viés na informação referente à religião, sugeriu-se que, nas instruções do manual, seja enfatizado que a referida pergunta abrange, de uma forma mais ampla, os cultos, as práticas, os rituais e as rezas indígenas, além das religiões já propriamente institucionalizadas.

Na comparação entre as análises por blocos dos dados da amostra de Censo 2000 e da Prova Piloto Conjunta, observou-se que a aplicação do questionário da amostra a toda população permitiu obter curvas de dados mais consistentes, como foi mostrado no bloco de fecundidade. Devido ao fato da população ser pequena, concluiu-se que seria importante aplicar esse questionário a toda a população indígena residente em terras indígenas, a fim de captar um conjunto de informações mais representativo dessa população.

Por fim, cabe reconhecer a colaboração da FUNASA e da FUNAI como parceiros no processo de coleta de informações da população indígena, que foi fundamental para a realização dessa Prova Piloto Conjunta, e será também na concretização do Censo Demográfico 2010.

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6. Referências Bibliográficas

BRASIL. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Relatório da III Prova Piloto Conjunta Brasil e Paraguai sobre Populações Indígenas. Rio de Janeiro:

Referências

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