• Nenhum resultado encontrado

Jovens, raça e renda: o alcance limitado das politicas de inclusão e a permanência das desigualdades educacionais

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Jovens, raça e renda: o alcance limitado das politicas de inclusão e a permanência das desigualdades educacionais"

Copied!
18
0
0

Texto

(1)

Jovens, raça e renda: o alcance limitado das politicas de inclusão e a permanência das desigualdades educacionais

Introdução

O desejo de um sistema educacional justo é indiscutível, mas a forma, ou as formas, de torna-lo justo é umas das questões mais complexas das atuais democracias. Não existe solução perfeita, mas uma combinação de escolhas e respostas necessariamente limitadas. (Dubet 2004).

No Brasil, desde o final da década de 1980, o sistema educacional vem se alterando significativamente – a Constituição da Republica Federativa do Brasil, de 88, determina a obrigatoriedade e gratuidade da educação básica, em 2009, a Emenda Constitucional no 59, estabeleceu a universalização também da educação infantil e do ensino médio o que garantiu o acesso no sistema educação básica a todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos. Essas duas determinações legais constituem um marco no sistema educacional brasileiro. A quase universalização do ensino fundamental contribuiu para ampliar o numero de jovens no ensino médio e, em decorrência, para o aumento do contingente apto a ingressar no ensino superior. Em 2002, o Plano Nacional da Educação1 estabeleceu para o país incluir 30% da coorte de 18 a 24 anos no ensino superior2.

1 Projeto de Lei n° 8.035/2010, denominado Plano Nacional da Educação (PNE), estabelece

metas para o setor da educacional correspondente ao decênio 2011-2020.

2 De acordo com o modelo proposto por Martin Throw (2006) o sistema de ensino superior cobre até 15% da população na faixa etária de 18 a 24 anos é considerado como de elite, de 16% a 50% do mesmo grupo etário é considerado como de massa e universal a partir desse percentual

(2)

Nesse contexto foram também implementadas iniciativas voltadas para ampliar e tornar mais equitativo o acesso ao ensino superior de estudantes oriundos das camadas menos favorecidas da população. O governo federal encampou três iniciativas visando responder ao problema da inclusão no ensino superior: o Programa Universidade Para Todos – ProUni3, criado em 2005, prevê a concessão de bolsas para os estudantes de baixa renda, egressos da escola publica e matriculados em instituições privadas de ensino superior; a “Lei das cotas”4, como ficou conhecida a Lei no 12.711, de 2012, determina que as universidades federais adotem cotas para egressos de escola publica combinando critérios de cor/etnia (pretos, pardos e indígenas) e sociais (renda familiar); e o Fundo de Financiamento Estudantil - FIES5, criado em 1999 e significativamente ampliado em 2010, tem como objetivo subsidiar as mensalidades em cursos de graduação para estudantes matriculados em instituições privadas de educação superior, segundo critérios de renda.

Frente ao amplo crescimento do ensino superior e às politicas de ampliação do acesso podemos nos perguntar, em que medida o acesso ao ensino superior no Brasil tornou-se, de fato, mais democrático e inclusivo.

3 O ProUni, criado em 2015 (Lei no 11.096), opera mediante a concessão de bolsas de estudos

para estudantes de baixa renda em cursos de graduação e sequenciais de formação específica nas instituições de ensino superior privadas. Para ser beneficiado o estudante deve preencher os seguintes requisitos: a) não possuir diploma de ensino superior; b) ter obtido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), nota mínima de 500 pontos na Redação e de 450 pontos nas demais provas; c) possuir renda familiar mensal per capita de até um salário mínimo e meio para obtenção de bolsa integral e de até três salários mínimos para bolsa parcial, e d) ter estudado no ensino médio em escolas públicas ou em escolas privadas na condição de bolsista.

4 A Lei de Cotas (Lei no 12.711, de 29 de agosto de 2012 e Decreto no 7.824 de 11/10/2012), destina 50% das vagas das universidades federais para estudantes provenientes de escolas públicas e dentre estas vagas reservadas, uma porcentagem caberá a estudantes de acordo com a renda familiar e a outra a estudantes pretos, pardos e indígenas.

5 Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), criado pelo governo federal em 1999 para substituir o Programa de Crédito Educativo e ampliado em 2010 quando passou a ser operado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), oferece financiamento estudantil para estudantes com renda familiar percapita máxima de três salários mínimos. O financiamento é oferecido para cursos presenciais em instituições de ensino superior

(3)

A análise das desigualdades sociais decorrentes do acesso ao sistema educacional no Brasil, com base em dados populacionais é extensa (Osorio, 2004; Fernandes, 2004; Zuchi, 2004). Por outro lado tanto a situação econômica do grupo familiar como a raça/cor dos indivíduos se refletem na evolução dos mesmos no sistema escolar. O número de estudos sobre a influência de cor/raça também é numeroso (Guimarães, 2003; Jaccoud e Beghin, 2002; Oliveira, 2005). Menos numerosos são os trabalhos que estudam as transições escolares desde as séries iniciais do ensino fundamental, para identificar a seletividade que se observa no transcorrer do sistema educacional até o acesso ao ensino superior no Brasil (nesse contexto ver ainda Andrade e Dacks, 2007 e Andrade, 2015).

No presente trabalho examinamos os dados demográficos de evolução da escolaridade dos jovens de 18 a 24 anos nas duas ultimas décadas - entre os anos de 1995-2014, destacando a condição de renda e raça/cor das famílias6. Trata-se da população que iniciou a sua trajetória educacional no período pós democrático e sob a determinação da nova Constituição da Republica de universalizar a educação básica7. Vários estudos quantitativos atestam que existem diferenças quando se observam algumas clivagens sociais selecionadas, tais como: sexo; cor da pele; condição socioeconômica das famílias, etc. Entre eles, citamos Barros (2001); Beltrão (2003); Ferraro e Machado (2002); Hasenbalg (1999); Soares e Alves (2003) Soares et al. (2003). Pretende-se contribuir, com o presente trabalho, para a análise das clivagens sócio econômicas apresentadas pela população jovem nas transições entre as principais etapas da escolaridade até o acesso ao ensino superior no período de 1995 a 20148.

6 As variáveis nível de renda e cor da pele apresentam sinergismo perverso em todas as etapas da evolução no sistema escolar. Ver Andrade e Dacks, 2007.

7 A Constituição da Republica Federativa do Brasil, de 1988, estabece no artigo 205 que a

educação é um direito de todos e dever do Estado e da família. O artigo 208 determina que o acesso a educação básica é obrigatório e gratuito.

8 Nesse trabalho levamos em conta a qualificação formal para o acesso ao ensino superior em que pese o fato de que, do ponto de vista substantivo, há que se discutir o conteúdo de aprendizado dominado por estes jovens, sobre aspecto ver Andrade, 2016 onde se apresenta o desempenho dos jovens no Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, segundo as clivagens socioeconômicas dos participantes

(4)

As questões que propomos responder a partir da analise desses dados são: - Como cocrreu a evolução do acesso dos jovens de 18 a 24 anos no

sistema educacional brasileiro considerando os diferentes níveis de ensino? Quantos lograram concluir o ensino fundamental e o médio? Quantos tiveram acesso no ensino superior?

- Qual o efeito da raça/cor da população jovem no avanço educacional? As desigualdades diminuíram no período?

- Qual o efeito da renda familiar dos jovens no avanço educacional. Esse efeito diminuiu ao longo do período analisado?

Metodologia

Os dados analisados são provenientes dos mico dados das pesquisas domiciliares amostrais – PNADs/IBGE, entre os anos de 1995 a 2014. A partir do recorte da população de 18 a 24 anos, foram selecionadas para este estudo as seguintes variáveis: nível de escolaridade; raça/cor autodeclarada pelo informante e renda familiar per capta.

Os dados sobre raça/cor no questionário do IBGE/PNAD são baseados na auto declaração do informante a partir das seguintes alternativas: “branco”, “preto”, “pardo” e “amarelo”, além da categoria “indígena”. Para a finalidade deste estudo, agregamos a população em apenas dois grupos: “Brancos” e “Não Brancos”. O grupo dos “Não Brancos” é constituído pelas pessoas que se autodeclararam como pardos somados aos negros e aos índios. O grupo dos Brancos é composto pelas pessoas que se auto declararam como brancas somadas aos que se auto declararam como amarelos. O grupo dos amarelos, apesar de ser proporcionalmente pequeno e, desta forma, não alterar os resultados do grupo dos Brancos, apresenta condições de escolaridade superiores em todos os quesitos levantados nesta pesquisa.

Para a classificação de rendimentos da população analisada foi utilizada a renda familiar per capita (soma das rendas de todos os membros do domicílio

(5)

dividida pelo número de membros deste domicílio), segundo frações do salário mínimo, nas seguintes faixas: 0 a menos de ½ SM; ½ a menos de 1 SM; 1 SM a menos de 2 s.m.; 2 a menos de 5 SM, e, mais de 5 SM.

As categorias utilizadas para a classificação da situação de escolaridade da população de 18 a 24 anos são baseadas nas informações sobre série/ano e nível educacional em que a pessoa está matriculada ou o nível mais elevado que alcançou conforme alternativas apresentadas no questionário das Pnads (ver Quadro 1). A categoria Acesso ao Ensino Superior aqui significa estritamente acesso e não conclusão, ou seja, o grupo de pessoas considerado nessa condição está ou esteve matriculado em algum momento em curso de ensino superior, mas podem ou não ter concluído esse nível de ensino. As taxas de evasão do ensino superior são altas, podendo atingir até 50% de uma coorte de ingressantes, mas trata-se de um outro fenômeno não considerado no momento desse artigo.

Quadro 1

Classificação da situação de escolaridade da população de 18 a 24 anos

Classificação da situação de

escolaridade Situação de escolaridade segundo a PNAD

Não concluiu o Ensino Fundamental

Nunca frequentou a escola

Evadiu sem concluir o Ensino Fundamental Cursa o Supletivo de Ensino Fundamental Cursa o Regular do Ensino Fundamental Cursa Alfabetização de Adultos

Concluiu o Ensino Fundamental, mas não concluiu o Ensino Médio

Não frequenta, mas concluiu Ensino Fundamental.

Evadiu sem concluir o Ensino Médio Cursa o Supletivo do Ensino Médio Cursa o Regular do Ensino Médio

(6)

Concluiu o Ensino Médio

“Qualificado para o Ensino Superior”

Frequenta curso Pré-vestibular

Não frequenta atualmente, mas concluiu o Ensino Médio

Teve acesso ao Ensino Superior (Frequenta ou não)

Frequenta o Ensino Superior Evadiu sem concluir o Superior Frequenta a Pós Graduação Frequentou a Pós Graduação

A evolução da escolaridade dos jovens no Brasil

Constata-se na Figura 1 uma diminuição expressiva da quantidade de jovens que não concluíram o ensino fundamental.

Em 1995, 58% da coorte de 18 a 24 anos não havia concluído esse nível de ensino. Em 2014 o percentual caiu para 16%. Trata-se todavia de um índice ainda preocupante considerando-se que é o nível mais elementar de escolaridade e é obrigatório por lei.

A mesma tabela mostra o contingente de jovens que concluiu o ensino fundamental, mas não prosseguiu os estudos no ensino médio. Esse contingente, manteve-se praticamente inalterado, a variação foi de 23% para 27%.

Figura 1: Evolução da escolaridade da população de 18 a 24 anos, segundo

os níveis. Brasil,1995 e 2014.

Ano 1995 2014 Variaçã

o no período

Nível de ensino abs % abs %

Não concluíram

(7)

Concluíram apenas ensino fundamental 4.198.864 23% 6.090.671 27% 45% Concluiu o ensino médio 2.192.191 12% 7.494.822 33% 242% Teve acesso ao ensino superior 1.320.357 7% 5.276.069 23% 300% Total 18.255.315 100% 22.498.724 100%

Fonte: Tabela elaborada pelo autor, a partir da Pnad/IBGE, 1995 - 2014.

O percentual de jovens que concluiu o ensino médio9 apresentou intenso crescimento, superior a 200%. Deve ser notado que esse crescimento ocorreu a partir de uma base pequena: em 1995, apenas 12% dos jovens, tinham concluído o ensino médio; em 2014 esse percentual chegou a 33%. Percentual esse ainda muito distante do encontrado em países mais desenvolvidos onde o acesso ao ensino médio é praticamente universal10.

Em relação ao acesso no ensino superior constatou-se também um crescimento notável de 300%, no período 1995-2014. Contudo como ocorreu no ensino médio, o crescimento do acesso dos jovens no ensino superior se deu a partir de uma base pequena: de 7%, em 1995, passou para 23% em 2014.

Embora os jovens brasileiros venham avançando na escolaridade, conforme se constatou, ainda é significativa a proporção dos que ainda não lograram concluir a educação básica (43%), sendo que 16% não concluíram sequer o

9 Estamos considerando apenas os jovens que concluíram o ensino médio e não prosseguiram no ensino superior.

10 No Brasil, em 2013, 54% dos adultos com idade entre 25 e 64 anos não tinham completado

(8)

ensino fundamental, o que se torna um dos principais entraves para a ampliação do acesso no ensino superior.

A série histórica da evolução da escolaridade dos jovens de 18 a 24 anos, no Brasil são é apresentada na Figura 2.

Figura 2: Evolução anual da escolaridade da população de 18 a 24 anos,

segundo os níveis. Brasil,1995 a 2014.

Fonte: Tabela elaborada pelo autor, a partir da Pnad/IBGE, 1995 – 2014.

O efeito da raça/cor na escolaridade dos jovens

A cor/raça tem um peso grande no avanço da escolaridade dos jovens brasileiros. A proporção de brancos e não brancos representam proporções

(9)

semelhantes na população brasileira11. Essa paridade demográfica não se traduz em situações de equidade social e econômica.

Embora os dados para o período de 1995-2014 indiquem diminuição da diferença no avanço da escolaridade dos jovens brancos e dos jovens não brancos, os últimos ainda permanecem em maior desvantagem em relação aos primeiros em todos os níveis de escolaridade.

A taxa de crescimento do acesso dos jovens não brancos no ensino superior superou 600% enquanto a do acesso dos jovens brancos foi de 151% (ver Figura 3).

Figura 3: Taxa de crescimento do acesso no ensino superior dos jovens brancos e

não brancos. Brasil, 1995 e 2014

Cor da Pele/Ano 1995 2014 Taxa de crescimento Branco 1.112.065 3.050.804 174% Não branco 208.292 1.929.926 826% Total 1.320.357 4.980.730 277%

Fonte: Tabela elaborada pelo autor, a partir da Pnad/IBGE, 1995 - 2014.

Esses dados devem ser lidos com cautela. Em 1995, do total de jovens autodeclarados não brancos apenas cerca de 200.000 tiveram acesso no ensino superior enquanto o numero de jovens brancos nesse nível de ensino, já ultrapassava 1 milhão. Quase vinte anos depois, em 2014, o numero de jovens autodeclarados não brancos aumentou para 1,5 milhão e os de jovens autodeclarados brancos para 2,7 milhões (ver Figura 4).

11 Segundo o Censo de 2010 os autodeclarados brancos foram 45,9% que somados aos

amarelos (3,1%) totalizam 49% da população no país enquanto os pardos (43,1%), negros (7,6%) e índios (0,3%) somados representam 51%.

(10)

Figura 4: Ampliação do acesso de jovens no ensino superior, segundo a cor

da pele. Brasil, 1995 a 2014.

Fonte: Tabela elaborada pelo autor, a partir da Pnad/IBGE, 1995 - 2014. Em termos proporcionais, apenas 2% dos jovens autodeclarados não brancos tiveram acesso no ensino superior, em 1995. No mesmo ano, a proporção de jovens autodeclarados brancos era de 11%. Em 2014, essas proporções passam a ser, respectivamente, 15% e 33% (ver Figura 5).

Apesar da diferença entre os dois grupos ter se reduzido a quase a metade no final do período analisado ela ainda se mantém em percentuais relevantes.

Figura 5: Evolução do percentual de jovens brancos e não brancos no ensino

(11)

Fonte: Elaborada pelo autor a partir da Pnad/IBGE, 1995 e 2014.

Dito de outro modo, em 1995, os jovens brancos tinham 5 vezes mais chances de ingressarem no ensino superior do que os autodeclarados não brancos. Em 2014, os jovens brancos ainda tem o dobro de chance de ingressar no ensino superior.

A diferença no acesso do jovens brancos e não brancos no ensino superior pode ser atribuída à desigualdade histórica que marca a trajetória educacional de ambos os grupos de jovens no Brasil. Ainda hoje metade dos jovens auto declarados não brancos (51%) não completaram a escolaridade básica e, dentre esses, 21% não chegaram sequer a concluir o ensino fundamental. No grupo de jovens brancos, o percentual dos que não completaram a educação básica é menor mas, ainda assim, bastante expressivo, é de 33% (ver Figura 6).

Figura 6: Escolaridade dos jovens brancos e não brancos, segundo os níveis.

Brasil,1995 e 2014.

Ano 1995 2014

Nível de ensino Branco

Não

Branco Branco Não Branco 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 1995 2014 Não Branco Nao Branco

(12)

Não concluíram ensino

fundamental 48% 69% 10% 21%

Concluíram apenas

ensino fundamental 26% 20% 23% 30%

Concluiu o ensino médio 15% 8% 33% 33%

Teve acesso ao ensino

superior 11% 2% 33% 15%

Fonte: Elaborada pela autora, a partir da Pnad/IBGE, 1995 e 2014.

A Figura 7 traz a série histórica da evolução da escolaridade dos jovens autodeclarados brancos e não brancos.

Figura 7: Evolução anual da escolaridade dos jovens brancos e não brancos,

(13)

Fonte: Elaborada pela autora, a partir da Pnad/IBGE, 1995 - 2014.

O efeito da renda familiar na escolaridade dos jovens

A renda familiar tem forte impacto na trajetória educacional dos jovens brasileiros. Embora, nos últimos anos, se constate avanço na escolaridade dos jovens em todas as faixas de renda, ainda persistem diferenças relevantes entre jovens oriundos de famílias de maior e de menor renda.

Em 1995, ano de inicio do período analisado, o quadro da educação no país, em geral, era muito grave e, em particular, para os jovens de famílias de menor renda. Nesse ano, 87% dos jovens pertencente ao 1o quintil de renda, não tinham concluído o ensino fundamental. Mesmo no quintil superior de renda (5o quintil), 24% de jovens também nao tinham completado o ensino fundamental, conforme mostra a Figura 8.

(14)

Figura 8: Escolaridade dos jovens segundo os quintis da renda familiar per

capta. Brasil, 1995.

1995 Níveis de

escolaridade Quintil 1 Quintil 2 Quintil 3 Quintil 4 Quintil 5

Não EF 87% 78% 66% 51% 24% EF 10% 17% 23% 30% 30% EM 2% 5% 9% 16% 23% ES 0% 1% 2% 4% 23% TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 2014 Não EF 32% 19% 11% 6% 2% EF 36% 33% 27% 20% 10% EM 26% 35% 40% 40% 25% ES 6% 14% 21% 33% 63% TOTAL 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: Tabela elaborada pelo autor, a partir da Pnad/IBGE, 1995.

O percentual de jovens que havia completado o ensino médio era baixo mesmo nos quintis mais altos de renda respectivamente no 4o e 5o quintil (respectivamente 16% e 23%).

(15)

mais baixos de renda, conforme constata-se na Figura 8, o acesso dos jovens no ensino superior era quase inexistente.

Na mesma Figura 8, acima, verifica-se, em 2014, substancial avanço na escolaridade dos jovens em todos os quintis de renda.

Três aspectos chamam a atenção: a significativa redução do numero de jovens do 1o, 2o e 3o quintis de renda que não concluíram o ensino fundamental; a existência de percentuais bastante próximos entre os jovens dos 2o, 3o e 4o quintis que concluíram o ensino médio e o aumento expressivo de jovens especialmente do 3o, 4o e 5o quintis, que ingressaram no ensino superior. Os dados mostram que, embora tenha ocorrido um grande avanço nas ultimas décadas em relação a escolaridade dos jovens, a diferença entre os três primeiros quintis e o 5o quintil ainda permanece grande. O quadro torna-se mais grave quando consideramos que o percentual de jovens dos quintis inferiores que ainda não completou o ensino fundamental ou que completou apenas esse nível de ensino continua alto (esses percentuais somados resultam em mais de 60% no 1o quintil e mais de 50% no 2o quintil).

A Figura 9, a seguir, apresenta a serie histórica da evolução da escolaridade dos jovens, segundo os quintis de renda.

Figura 9: Evolução anula da escolaridade dos jovens segundo os quintis da

(16)

Fonte: Elaborada pela autora, a partir da Pnad/IBGE, 1995 - 2014.

Considerações finais

Desde o inicio do período democrático, o Brasil vem passando por grandes transformações no seu sistema educacional que efetivamente expandiu e passou a absorver um numero cada vez maior de estudantes.

Conforme mostram os dados analisados, ao lado do significativo avanço ocorrido na escolaridade, permanece ainda uma grande desigualdade entre as trajetórias educacionais dos jovens. Constatamos que os jovens autodeclarados não brancos e os provenientes de famílias situadas nos quintis mais baixos de renda ainda estão longe de atingir o nível médio de escolaridade.

Em 2014, dos jovens autodeclarados não brancos, 6% e 14% dos jovens situados respectivamente no 1o e no 2o quintil ingressaram no ensino superior; nesse mesmo ano, 63% dos jovens mais ricos e 33% dos que se auto declararam brancos também o fizeram.

A desigualdade educacional não está localizada apenas nos níveis mais avançados de escolaridade, mas se faz presente desde o início da trajetória escolar dos jovens, excluindo do sistema as crianças e os jovens oriundos de famílias de menor renda e, de forma mais acentuada, os pertencentes aos

(17)

Embora necessárias e imprescindíveis, as politicas voltadas para a ampliação do acesso e equidade no ensino superior no Brasil têm alcance limitado em um quadro de desigualdades persistentes nos níveis iniciais de escolaridade. O alcance da meta do Plano Nacional de Educação de 2001 de incluir no ensino superior 30% da coorte entre 18 e 24 anos depende, a médio e a curto prazos, de politicas voltadas sobretudo para a valorização da educação básica e para a progressão das crianças e jovens nos níveis que antecedem o superior.

Bibliografia

Andrade, Cibele Y e Dacks Norberto W. Acesso à educação por faixas etárias segundo renda e raça/cor. Cadernos de Pesquisa maio/agosto v.37 no 131, 2007. Fundação Carlos Chagas. Autores Associados, São Paulo, 2007

Andrade, Cibele Yahn. Acess to Higher Education in Brazil: The evolution of the last 15 years. In Robert T. Teranishi , Loni Bordoloi Pazich , Marcelo Knobel , Walter R. Allen (ed.) Mitigating Inequality: Higher Education Research, Policy, and Practice in an Era of Massification and Stratification (Advances in Education in Diverse Communities: Research, Policy and Praxis, Volume 11) Emerald Group Publishing Limited, p.53-81. (DOI: 10.1108/S1479-358X20150000011005) – 2015, USA

Andrade, Cibele Yahn. Acesso ao ensino superior no Brasil: o impacto das ações afirmativas, trabalho apresentado no 18º Congresso Brasileiro de Sociologia. Brasília, 26 a 29 de julho de 2017

Barros, Ricardo P. de. et al. Determinantes do desempenho educacional no Brasil. Texto para Discussão - IPEA, Rio de Janeiro, no. 834, 2001.

Beltrão, Kaizô I. Alfabetização por sexo e raça no Brasil: um modelo linear generalizado para explicar a evolução no período 1940-2000. Texto para Discussão - IPEA, Rio de Janeiro, no. 1003, 2003.

Beltrão, Kaizô Iwakami Beltrão; Maria Ligia de Oliveira Barbosa e Maria Eugênia Ferrão (organizadores). Os mecanismos de discriminação racial nas escolas brasileiras. Rio de Janeiro: IPEA, 2005.

Dubet, François. O que é uma escola justa?. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 34, n.123, p.539-555, Set/Dez, 2004.

(18)

Fernandes, Danielle C. Estratificação educacional, origem socioeconômica e raça no Brasil: as barreiras da cor. Concurso de Monografia - Prêmio Ipea 40 anos - IPEA-CAIXA, 2004.

Ferraro, Alceu R.e Machado, Nadie C. F. Da universalização do acesso à escola no Brasil. Educação & Sociedade, Ano 23, no. 79, 2002.

Guimarães, Antonio S. A. Acesso de negros às universidades públicas. Cadernos de Pesquisas, no. 118, 2003.

Hasenbalg, Carlos e Silva, Nelson do Valle. Familia, cor e acesso à escola no Brasil. Em: Hasenbalg, Carlos, Silva, Nelson do Valle e Lima, Márcia. Cor e estratificação social no Brasil. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1999.

Henriques, Ricardo. Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições de vida na década de 90. Texto para Discussão - IPEA, Rio de Janeiro, no. 807, 2001.

Jaccoud, Luciana e Beghin, Nathalie. Desigualdades raciais no Brasil: um balanço da intervenção governamental. Brasília, DF.: IPEA, 2002.

Oliveira, Fátima. Ser negro no Brasil: alcances e limites. Estudos Avançados, v. 18, no.50, 2005.

Osorio, Rafael G. A mobilidade social dos negros brasileiros. Texto para Discussão - IPEA. Rio de Janeiro, no. 1033, 2004.

Soares, José F.; Alves, Teresa G. Desigualdades raciais no sistema brasileiro de educação básica. Educ. Pesqui., São Paulo, v.29, n.1. 2003.

Soares, Sergei; Carvalho, Luiza; Kipnis, Bernardo. Os jovens de 18 a 25 anos: retrato de uma dívida da política educacional. Texto para Discussão - IPEA, Rio de Janeiro, no 954, 2003

Trow, Martin A. Reflections on the Transition from Elite to Mass to Universal Access: Forms and Phases of Higher Education in Modern Societies. Springer International Handbooks of Education, vol 18, edited by James J.F. Forest and Philip G. Altbach. Springer, 2006.

Zuchi, Juliana. Desigualdade de renda no Brasil em 2001: a influência da cor e da educação. ( Concurso de Monografias - Prêmio IPEA 40 anos - IPEA-CAIXA, 2004 – Tema: A superação das Desigualdades no Brasil).

Referências

Documentos relacionados

Assim, cabe às Ciências Sociais e Humanas trabalhar esta problemática pois além de pobreza, o desemprego gera consequências negativas a nível pessoal e social (Gonçalves, et

de professores, contudo, os resultados encontrados dão conta de que este aspecto constitui-se em preocupação para gestores de escola e da sede da SEduc/AM, em

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

Desse modo, tomando como base a estrutura organizacional implantada nas SREs do Estado de Minas Gerais, com a criação da Diretoria de Pessoal, esta pesquisa permitirá

utilizada, pois no trabalho de Diacenco (2010) foi utilizada a Teoria da Deformação Cisalhante de Alta Order (HSDT) e, neste trabalho utilizou-se a Teoria da

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

Portanto, conclui-se que o princípio do centro da gravidade deve ser interpretado com cautela nas relações de trabalho marítimo, considerando a regra basilar de

Consequentemente, baseando-se nas posições dos ranks resultantes das combinações das diferenças de acurácia com os testes estatísticos aplicados nos gráficos ilustrados, quando