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População, trabalho, renda e previdência na janela de oportunidade demográfica brasileira

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População, trabalho, renda e previdência na janela de

oportunidade demográfica brasileira

Álvaro Frota

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Resumo

A janela de oportunidade demográfica aberta no Brasil em decorrência das modificações da estrutura etária de sua população ao longo da transição demográfica se caracteriza pelo contingente populacional entre 15 e 64 anos (faixa de idade chamada de ativa pois composta de pessoas mais produtoras que consumidoras) ser relativamente maior do que a soma dos contingentes entre 0 e 14 anos e com mais de 65 anos (faixas de idade chamadas de dependentes pois compostas por pessoas mais consumidoras que produtoras). Tal configuração demográfica é potencialmente vantajosa em termos econômicos, dado que a transferência de recursos da população em idade ativa para as populações em idades dependentes encontra-se em um ponto de mínimo, o qual pode ser visualizado nas curvas ao longo do tempo das razões

de dependência. A médio e longo prazo, contudo, esse potencial se esgotará em função do

envelhecimento populacional. Neste artigo, partindo das razões de dependência definidas de forma estritamente demográfica, ou das razões entre contingentes populacionais de determinadas faixas etárias, propomos outras definições, com base em variáveis socioeconômicas relativas ao trabalho e à previdência social, visando estabelecer uma caracterização mais precisa da janela de oportunidade demográfica em sua relação com o processo de envelhecimento populacional. Para tal foram utilizados microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - PNAD.

Palavras chave

Janela de oportunidade demográfica, Razão de dependência, Trabalho, Renda, Produtividade, Previdência Social 1

Álvaro Frota é mestrando no Programa de Pós-Graduação em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

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1. Introdução

A evolução temporal da estrutura etária da população brasileira que ocorre em decorrência da transição demográfica de taxas de mortalidade e natalidade altas para baixas pode ser relacionada com a evolução da distribuição dos produtos do trabalho

social. Essa relação fica clara se dividimos a população em três grandes grupos etários.

O primeiro grupo contém as crianças e jovens de 0 até 14 anos, que ainda estão em formação e são em geral dependentes do trabalho de outras pessoas, sendo por isso chamado de população dependente jovem. O segundo grupo contém a população de 15 até 64 anos, em geral capaz de produzir seu sustento e prover o de outras pessoas, sendo por isso chamado de população em idade ativa (PIA). E o terceiro grupo contém os idosos de 65 anos em diante, cuja capacidade de trabalho vai em geral se reduzindo e que se tornam mais e mais dependentes do trabalho de outras pessoas, sendo por isso chamado de população dependente idosa.

Como, em linhas gerais, os recursos produzidos pelo trabalho social da popula-ção em idade ativa são transferidos tanto para os jovens como para os idosos, uma mensuração puramente demográfica da evolução temporal dessas transferências pode ser obtida através do cômputo das razões de dependência:

Razão de dependência de jovens:

Razão de dependência de idosos:

Razão de dependência total:

No Gráfico 1 vê-se a evolução temporal das razões de dependência desde 1950 até suas projeções para 2100. Em 1950, a razão de dependência devido aos jovens aumentava, pois a queda da taxa de mortalidade infantil era mais rápida que a da taxa bruta de natalidade e a razão de dependência devido aos idosos era praticamente constante. Essa situação perdurou até 1964, causando o aumento da razão de depen-dência total até um máximo de 87%. A partir de 1965, a razão de dependepen-dência devido aos jovens começou a cair, pois a taxa bruta de natalidade passou a se reduzir mais aceleradamente que a taxa da mortalidade infantil, o que puxou para baixo a razão de dependência total. Em 1990, quando a razão de dependência total em queda atingiu os 65%, a razão de dependência devido aos idosos começou a aumentar lentamente,

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contrabalançando a tendência declinante da razão dos jovens, resultando que a razão de dependência total projeta um mínimo por volta de 2019, quando a cada 100 pes-soas em idade ativa corresponderão cerca de 43 pespes-soas em idades dependentes. A médio e longo prazo, a razão de dependência total aumentará em função do contínuo aumento da razão de dependência devido aos idosos, projetando-se ao final do século a ultrapassagem do máximo de 87% que foi atingido em 1964.

Tomando por base tal evolução temporal, a

janela de oportunidade demográfica pode ser

de-finida de forma mais ou menos arbitrária como o período de tempo no qual a razão de dependência total é menor que certo percentual estabelecido. Essa definição é arbitrária

no sentido de não haver uma padronização internacional a respeito, uma vez que os valores das razões de dependência variam de país a país. Se, a guisa de ilustração, de-finimos esse percentual como 65%, percebemos que durante a vigência da janela de oportunidade cada 100 pessoas em idade economicamente ativa irão transferir recur-sos para no máximo 65 pessoas que mais consomem do que produzem, o que confi-gura uma situação demográfica potencialmente vantajosa em termos econômicos. Como pode ser observado no Gráfico 1, a janela de oportunidade demográfica teria se aberto em 1990 e seu fechamento seria projetado para 2055.

Qualquer que seja a definição adotada, o mais importante é perceber que as razões de quantitativos populacionais entre os quais se dão as transferências de recur-sos do trabalho social indicam apenas um potencial econômico que se aproxima de um máximo na situação demográfica brasileira atual mas que se esgotará paulatinamente como consequência do processo de envelhecimento populacional em curso.

Gráfico 1 - Evolução das Razões de Dependência devido aos Jovens, Idosos e Total no Brasil, 1950 a 2100

Fonte: UN, World Population Prospects: The 2017 Revision (estimativas de 1950 a 2000 e projeções de 2020 a 2100) 43% 65% 1990 1964 2019 2055 87% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 1950 1965 1980 1995 2010 2025 2040 2055 2070 2085 2100 Ano

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De fato, as relações entre demografia e economia não são diretamente causais, de forma que não se pode afirmar que esse potencial será automaticamente aprovei-tado. Tampouco se pode afirmar que o processo de envelhecimento de per si acarre-tará inexoravelmente uma inviabilização do sistema de previdência social. Isso porque o volume de recursos produzido pelo trabalho social da população em idade ativa, que é transferido para as populações em idades dependentes, não é função apenas do ta-manho desse agrupamento populacional mas também do nível da produtividade do trabalho, o qual por sua vez depende do nível educacional da população, da produção de ciência e tecnologia e da industrialização do país.

Independentemente da produtividade, o volume total de trabalho social é fun-ção da taxa de atividade, ou do percentual da populafun-ção economicamente ativa em relação à população em geral, e da taxa de ocupação, o percentual da população eco-nomicamente ativa que se encontra trabalhando. Da mesma forma, tanto a taxa de atividade como a de ocupação não são homogêneas nas grandes regiões do país, vari-ando também com a cor ou raça, o sexo e escolaridade da população.

Em último mas não menos importante, o volume de recursos destinados ao fi-nanciamento direto do sistema de previdência social depende do percentual da po-pulação que contribui e da renda percebida por essa fração populacional, assim como o volume de recursos que financiam indiretamente a previdência, através dos impos-tos destinados à seguridade social, dependem da massa total da renda do trabalho.

Todos esses fatores dependem de políticas públicas e da política econômica que esteja em execução. Isso significa que um Governo compromissado com os inte-resses da Nação e do Povo Brasileiro pode perfeitamente atuar visando o aumento da produtividade, da taxa de atividade, da taxa de ocupação e da renda, criando condi-ções para que a população em idade ativa seja capaz de gerar um produto social sufi-ciente para garantir boas condições de vida para si e para as populações dependentes, mesmo em uma situação onde a razão de dependência total esteja aumentando, tal como deverá acontecer a médio e longo prazo.

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2. Objetivos de pesquisa

Tendo em vista essas possibilidades, o objetivo geral deste trabalho é contribuir para o conhecimento mais preciso da situação da população brasileira em relação ao trabalho, renda, financiamento e usufruto da previdência social, na fase atual da janela de oportunidade demográfica. Os objetivos específicos são levantar e estudar as séries históricas das variáveis seguintes:

1) A taxa de atividade, definida como o percentual da população economicamente ativa em relação à população em idade ativa;

2) A taxa de ocupação, ou o percentual da população ocupada em relação à econo-micamente ativa;

3) A razão econômica de dependência ou a razão entre a população não economica-mente ativa e a população economicaeconomica-mente ativa;

4) O percentual de contribuição à Previdência, ou a porcentagem da população que contribui diretamente, de alguma forma, para a previdência social;

5) O percentual de utilização da Previdência, ou a porcentagem da população que recebe direitos previdenciários (aposentados e pensionistas);

6) A razão previdenciária de dependência ou a razão entre a população que recebe direitos previdenciários e a população contribuinte à previdência;

7) A renda média da população ocupada e a renda média previdenciária; e

8) A razão monetária de dependência, ou a razão entre a massa total de renda previdenciária e a massa total de renda da população economicamente ativa.

O aprofundamento do estudo poderá ser feito através da desagregação das variáveis por sexo, idade, grandes regiões, cor ou raça e escolaridade.

3. Metodologia analítica

Na busca dos objetivos de pesquisa foram utilizadas as bases de dados anuais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD - desde 2004, ano em que essa pesquisa passou a abranger toda a população urbana e rural brasileira, até 2015. Como é claro, a exceção foi 2010, quando não houve PNAD devido à realização do Censo Demográfico.

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Tais bases foram manipuladas com o software livre R (2017). Os dados foram baixados do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017) em for-mato utilizável pelo software R através do pacote “lodown” (DAMICO, 2017) e proces-sados utilizando-se a biblioteca “survey” (LUNLEY, 2010). O processamento com essa biblioteca leva em conta as características de amostragem complexa da PNAD para produzir estimativas de frequências, totais, médias e razões das variáveis em estudo, bem como dos respectivos erros padrões de cada estimativa.

Para cada ano da pesquisa foi realizada a calibração dos microdados por sexo e idade, em paralelo com a calibração padrão que utiliza os pesos calculados pelo IBGE (a assim chamada pós estratificação), no sentido de corrigir os efeitos de não resposta e simultaneamente fazer com que a expansão da amostra iguale a projeção oficial do IBGE para a distribuição por sexo e idade da população brasileira na data de referência da pesquisa.

Todas as rendas foram corrigidas para valores de novembro de 2017 utilizando-se o índice de preços ao consumidor ampliado, o IPCA.

4. O Brasil na transição demográfica

Para compreender a situação demográfica brasileira atual, iniciamos revendo um artigo publicado há 9 anos, cujas conclusões, com as devidas atualizações de da-dos, são perfeitamente válidas (ALVES, 2008a). Nele se explica a inserção de nosso país na assim chamada transição demográfica, um processo populacional planetário que se iniciou no século 19, marcou positivamente o século 20 e continua a ocorrer no século 21. Embora com ritmos diferentes em cada país, a transição demográfica se inicia com a queda das taxas de mortalidade, especialmente a infantil, ao que se segue, após certo tempo, uma queda nas taxas de natalidade, com a conjugação temporal de tais quedas provocando uma forte mudança na estrutura etária da população.

A redução das taxas de mortalidade foi uma das grandes conquistas da humani-dade, afirma Alves (2008a), citando que no início do século 20 a média da esperança de vida da população mundial se situava em torno de 30 anos, praticamente dobrando ao final do século, fato que não teve equivalente no passado e muito provavelmente não voltará a se repetir, sendo a redução da mortalidade decorrente da conjugação de

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dois fatores, a constante melhoria das condições gerais de vida da população em con-sequência do desenvolvimento econômico e da urbanização e, de outro lado, as inova-ções tecnológicas da medicina, da saúde pública e as melhorias na higiene pessoal associadas à extensão do saneamento básico.

A queda das taxas de natalidade, ocorrida em cada país que ingressou na transi-ção demográfica certo tempo após a queda da mortalidade, explica Alves (2008a), foi o elemento fundamental para o avanço do processo civilizatório, tendo essa redução ocorrido de forma basicamente voluntária, através de mudanças no comportamento reprodutivo decorrentes da retração da influência do fanatismo religioso, com os seg-mentos mais escolarizados tomando a frente de um processo de decisões racionais que foi se alastrando gradual mas firmemente para todos os estratos populacionais.

Todos os países foram afetados pela transição demográfica, ainda que com rit-mos e extensões distintas, ensina Alves (2008a). Nas regiões economicamente mais desenvolvidas, a transição de altas para baixas taxas de mortalidade e natalidade já se completou e em vários países as taxas de natalidade são mais baixas que as de morta-lidade, com a população começando a diminuir. Nas regiões em desenvolvimento, as transição da mortalidade se completou e esta já se encontra em patamares baixos, mas a natalidade ainda está se reduzindo. Nas regiões mais pobres, em países africa-nos ao sul do Saara e em alguns países asiáticos, a transição da mortalidade ainda está avançando e a da natalidade se iniciando.

Focando a análise no Brasil, Alves (2008a) afirma que nosso país pode ser to-mado como um exemplo clássico da transição demográfica, estando hoje na metade do processo, o que lhe propicia vantagens tanto em relação aos países mais desenvolvidos, que já a terminaram, como em relação aos mais atrasados, que ainda estão em seu início. Em um gráfico que atualizamos como Gráfico 2, mostra a evolução da taxa bruta de natalidade (TBN), mortalidade (TBM) e a diferença entre elas, a taxa de crescimento natural da população (TCN) desde pouco antes do primeiro censo em nosso país até as projeções de 2017 da ONU para 2100.

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Observa-se que a taxa bruta de mortalidade era bastante alta ao final do século 19, cerca de 30 óbitos para mil habitantes, e só começou a cair acele-radamente em 1928. Du-rante a queda da mortali-dade, a taxa bruta de na-talidade manteve-se alta, em torno dos 45 nascimentos por mil

habi-tantes, a taxa de crescimento natural aumentou até 1962 e a população brasileira apresentou grande crescimento, gerando o medo da explosão populacional. Entre-tanto, as transformações econômicas, sociais e culturais da sociedade brasileira resul-taram em uma crescente regulação voluntária da fecundidade e em menor padrão familiar, de forma que a partir de 1962 também a taxa bruta de natalidade iniciou seu processo de queda e as duas deverão se igualar em 2048, quando a população brasi-leira deixará de crescer.

Brito (2007) também apresenta conclusões demográficas válidas para a dade e seus dados sobre as consequências da queda da fecundidade merecem atuali-zação até porque esta se intensificou em relação ao previsto na época. Em um gráfico que atualizamos como o Gráfico 3, vê-se que o máximo populacional brasileiro proje-tado é de 233 milhões de pessoas para 2048, ano em que a taxa de crescimento anual da população terá se reduzido para zero a partir dos 3% do início dos anos 2050.

Embora a taxa de fecundidade total tenha atingido em 2004 o limite de reposi-ção de 2,1 filhos por mulher, a populareposi-ção só cessará de crescer cerca de quatro déca-das após, devido ao efeito de inércia da natalidade, advindo do grande percentual de mulheres em idade reprodutiva na estrutura etária (WONG & CARVALHO apud BRITO, 2007, p.6). Embora cada mulher tenha em média um número de filhos menor que o necessário para a reprodução da população, esta continua crescendo devido ao alto

Gráfico 2 - Transição demográfica no Brasil, 1850 a 2050

TBN = Taxa bruta de natalidade; TBM = Taxa bruta de mortalidade; TCN = TBN - TBM = Taxa de crescimento natural; TLM = Taxa líquida de Migração; Fontes: De 1850 a 1940: MERRICK & GRAHAM (1979); De 1950 em diante: UN, World Population Prospects: The 2017 Revision (estimativas de 1950 a 2000 e projeções de 2020 a 2100)

1928 1962 2048 -10 0 10 20 30 40 50 1850 1900 1950 2000 2050 2100 Ta xa s ( 1 / 1 0 0 0 ) Ano TBN TBM TCN TLM

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percentual de mulheres em idade fértil. A taxa média anual de cresci-mento populacional se reduzirá até se tornar nula em 2048, quando a população atingirá seu máximo e começará a se reduzir.

4.1. A janela de oportunidade demográfica

Voltando a Alves (2008a), este afirma que o efeito da transição demográfica de maior incidência sobre a sociedade e a economia é a transformação da estrutura etária da população decorrente da queda contínua da taxa bruta de natalidade em uma situ-ação onde a taxa de mortalidade já está em um patamar baixo, transformsitu-ação essa que pode ser observado na evolução das pirâmides populacionais do Brasil, as quais atualizamos e reunimos no Gráfico 4.

Nesse gráfico, as faixas de 5 anos idade foram divididas nos três grandes grupos da população em relação ao trabalho social. Assim, o primeiro grupo contém as três primeiras faixas de 5 anos ou os jovens de 0 até 14 anos. A dez faixas intermediárias de 5 anos contém a População em Idade Ativa (PIA), de 15 anos a 64 anos. E o terceiro grupo contém as nove faixas finais de 5 anos, a população de 65 anos em diante. Uma vez definido esses três grandes grupos populacionais, o aspecto mais importante a ser observado é como as pirâmides populacionais evoluem ao longo do tempo

Gráfico 3 - População e Taxa de média de crescimento populacional anual, Brasil - 1950 a 2100

Fonte: UN, World Population Prospects: The 2017 Revision (estimativas de 1950 a 2000 e projeções de 2020 a 2100) 2048 233 0 50 100 150 200 250 -1% 0% 1% 2% 3% 4% 1950 1965 1980 1995 2010 2025 2040 2055 2070 2085 2100 M il h õ e s d e p e ss o as P o rc e n ta ge m (% ) Ano

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As curvas de 1950 e 1980 possuem forma de pirâmide propriamente dita e mostram que no decorrer desses 30 anos a base da pirâmide aumen-tou, ou seja, os estratos da população aumentaram tão mais rapidamente quanto mais jovens eram. As três faixas etárias de

jovens foram as que mais aumentaram em termos relativos, embora as dez faixas etá-rias somadas de população em idade ativa tenham representado o maior aumento absoluto. A população idosa aumentou, mas muito pouco em relação ao total.

Comparando-se as curvas de 1980 e 2000, vemos que a forma da pirâmide ini-ciou uma mudança e sua base tornou-se vertical. As três frações populacionais de jo-vens aumentaram muito menos que nas três décadas anteriores mas as dez frações populacionais em idade ativa aumentaram acentuadamente em termos absolutos e relativos, além de envelhecerem. As frações idosas aumentaram apenas um pouco mais que nas três décadas anteriores.

Comparando-se a curva de 2000 com a projeção para 2020, observa-se que nessas duas décadas a forma da pirâmide mudou novamente. A base da pirâmide di-minuiu, inclinando-se para dentro. As três frações etárias de jovens se reduziram em termos absolutos e relativos. As dez frações populacionais em idade ativa aumenta-ram, ainda que não tão expressivamente como no período anterior mas se tornaram mais velhas, fato que pode ser percebido pois a base da pirâmide populacional acima dos 15 anos modificou-se, tornando-se vertical. As frações idosas, por seu lado, tive-ram um primeiro aumento razoável.

Comparando-se as curvas projetadas para 2020 e 2040, avalia-se que haverá nova redução das três frações de jovens, que o volume das dez frações populacionais

Gráfico 4 - Pirâmides populacionais do Brasil, 1950 a 2100

Fonte: UN, World Population Prospects: The 2017 Revision (estimativas de 1950 a 2000 e projeções de 2020 a 2100) 65 15 0 15 30 45 60 75 90 10 8 6 4 2 0 2 4 6 8 10 Id ad e (a n o s) Milhões 1950 1980 2000 2020 2040 2060 2100 Homens Mulheres

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em idade ativa se manterá praticamente constante, que a idade desse grupo aumen-tará e que as frações idosas aumentarão mais do que no período anterior.

Comparando-se as curva de 2040 com a de 2060 projeta-se que as frações de jovens se reduzirão uma vez mais, que pela primeira vez o volume da população em idade ativa irá diminuir, que seu processo de envelhecimento irá diminuir de ritmo e que as frações idosas iniciarão, elas próprias, um processo de envelhecimento, com o formato de pirâmide da curva acima dos 65 anos se modificando e sua base come-çando a se tornar vertical.

Finalmente, comparando-se a curva de 2060 com a de 2100, projeta-se que tanto as frações mais jovens como as em idade ativa se reduzirão, que o processo de envelhecimento das frações em idade ativa irá praticamente cessar e que as frações mais idosas continuarão envelhecendo, reduzindo-se aquelas com até 79 anos e au-mentando-se as de 80 anos ou mais.

4.2. A duração da janela de oportunidade demográfica

Brito (2007) chama a atenção para as mudanças qualitativas que ocorreram na sociedade brasileira em menos de um século. Uma sociedade rural, predominante-mente jovem, com mortalidade relativapredominante-mente alta, ainda que em queda, alta fecundi-dade, concretizada em grandes famílias, idade mediana de cerca de 20 anos e espe-rança de vida ao nascer menor que 60 anos é muito diferente da sociedade urbana atual, resultante de um acelerado declínio da fecundidade. As famílias ficam cada vez menores, seus arranjos sociais se diversificam, a população jovem e dependente reduz seu peso, contrabalançando o peso da população idosa, apesar do aumento da longe-vidade e a população em idade ativa cresce em termos absolutos. As bases demográfi-cas da sociedade se transformam rapidamente, exigindo a intervenção do Estado para o aproveitamento da situação favorável pois esta não irá durar eternamente. De onde se coloca a questão da duração da janela de oportunidade demográfica.

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Para essa questão, Alves (2008b) propõe um critério baseado na com-paração entre a razão de dependência total (RDT) e o percentual populacional ocupado pela População em Idade Ativa (%PIA). Segundo esse critério, a

janela de oportunidade demográfica se abriria no

momento em que a

por-centagem de população em idade ativa ultrapassasse a razão de dependência total e se fecharia no momento em que o contrário ocorresse. No Gráfico 5 pode ser visto que o período de tempo correspondente iria de 1993 até 2051, ou seja, 58 anos no quais o percentual da População em Idade Ativa seria maior do que 62%, enquanto que a Razão de Dependência Total seria menor do que esse valor.

Na atualidade, vivenciamos o ponto de mínimo da curva da razão de depen-dência total, ou a situação mais favorável da janela de oportunidade demográfica. Como afirmam os dois autores (Alves, 2008a e 2008b; Brito, 2007), esta é uma poten-cialidade cujo aproveitamento econômico não é automático mas necessita da defini-ção de políticas públicas voltadas para a educadefini-ção da juventude, visando aumentar sua produtividade e capacidade de adaptação às inovações tecnológicas no trabalho e de uma política econômica que aumente a oferta de empregos e a taxa de atividade, o que inclui a participação feminina.

4.3. As consequência do processo de envelhecimento da população

Tendo sido economicamente aproveitada ou não, a janela de oportunidade demográfica irá se fechar nas décadas futuras em função do envelhecimento popula-cional que aumenta a razão de dependência devido aos idosos, colocando em debate a questão de como enfrentar as consequências econômicas desse processo.

Gráfico 5 - Definição da janela de oportunidade demográfica no Brasil como %PIA  RDT resultando no período de 1993 a 2051

Fonte: UN, World Population Prospects: The 2017 Revision (estimativas de 1950 a 2000 e projeções de 2020 a 2100) 62% 2019 1993 2051 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 1950 1965 1980 1995 2010 2025 2040 2055 2070 2085 2100 Ano

RD Crianças RD Idosos RD Total % PIA

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Lee & Mason (2006) defendem que durante a janela de oportunidade demográ-fica a força de trabalho cresce mais rapidamente do que a população dependente, li-berando recursos para investimentos no desenvolvimento econômico e no bem estar das famílias de forma que, tudo o mais sendo igual, a renda per capita cresce mais ra-pidamente. Os autores chamam esse processo de primeiro dividendo demográfico e acrescentam que este dura décadas mas chega ao final quando a redução da fecundi-dade faz diminuir o crescimento da força de trabalho e o aumento da longevifecundi-dade faz aumentar a população idosa, ocasião em que, tudo o mais sendo igual, a renda per capita cresce mais lentamente.

Lee & Mason (2006) propõem um segundo dividendo demográfico, alegando que o processo de envelhecimento leva a população em idade ativa a se concentrar nas faixas de idades mais altas e, tendo diante de si um maior período de aposentado-ria decorrente do aumento de sua própaposentado-ria longevidade, possui forte incentivo para acumular ativos e investimentos que levarão a um aumento da renda nacional - a não ser que tenha confiança de que suas necessidades serão providas por suas famílias ou pela previdência social pública. Nessa visão, o primeiro dividendo demográfico tem um caráter transitório mas, se o segundo dividendo demográfico se configurar, será transformado pela população das faixas etárias mais altas da idade ativa em investi-mentos e ativos que garantirão um desenvolvimento sustentável.

Após apresentar um levantamento dos quantitativos do primeiro e segundo dividendo demográficos em todo o mundo, afirmando que o segundo representa pra-ticamente o dobro do acúmulo de riquezas do primeiro, Lee & Mason (2006) concluem que a realização do segundo dividendo demográfico depende de como as sociedades suportam seus idosos. Se tal suporte recair sobre a previdência pública, o segundo di-videndo demográfico não se concretizará e os gastos relativos ao PIB serão objeto de grandes preocupações, de forma que as políticas públicas devem ser orientadas a obri-gar que a força de trabalho nas idades mais altas faça individualmente poupanças e investimentos suficientes para se manter na velhice, coisa que irá fazer o segundo di-videndo demográfico florescer sustentadamente para toda a sociedade.

Já Gragnolati (GRAGNOLATTI et all, 2011) afirma que o bônus demográfico pode levar a um primeiro dividendo demográfico, referindo-se aos retornos econômicos que

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dependerão de como a economia aproveitará a oportunidade oferecidas pela particu-lar estrutura etária da população. Um caso de sucesso do aproveitamento econômico da janela de oportunidade demográfica teria ocorrido nos assim chamados "Tigres Asi-áticos" (Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan) e, com base em diversas pes-quisas, Gragnolati (2011) afirma que o primeiro dividendo demográfico contribuiu con-sideravelmente para o sucesso econômico dessa região, tendo sido responsável por cerca de um quarto de seu crescimento econômico e um terço do crescimento de sua renda per capita.

Se o primeiro dividendo demográfico acontece, as riquezas por ele geradas

po-dem gerar um segundo dividendo po-demográfico, afirma Gragnolati (2011). Graças à

me-nor mortalidade, mais as pessoas terão mais tempo de acumularem ativos e poupan-ças que irão consumir em idades avançadas. Quanto maior a proporção de idosos com ativos e poupança acumulada, maior será a fração deles que, embora formalmente contabilizada como parcela da razão de dependência, não representará um peso extra sobre a população em idade ativa mas, ao despender o que acumulou ao longo da vida, irá garantir que esta tenha mais oportunidades de trabalho e possa igualmente acumular sua porção de poupança e de ativos.

Segundo a autora, a riqueza per capita acumulada no primeiro dividendo

demo-gráfico, um fenômeno econômico transitório, poderá se traduzir no segundo dividendo demográfico, um fenômeno econômico permanente. Mas para que esse segundo

divi-dendo se realize, não só o primeiro dividivi-dendo deve se configurar, permitindo a acu-mulação de poupança e ativos ao longo de uma vida como também os idosos não

po-derão depender de transferências familiares ou de aposentadorias públicas pois isso

significaria que estariam contribuindo para o aumento da razão de dependência. Ou seja, um sistema público de aposentadoria é visto como um desincentivo à poupança ao longo da vida visando a garantia da velhice, com consequências negativas quanto ao segundo dividendo demográfico.

4.4. O conceito de Razão de Dependência Efetiva

Em direção contrária aos autores acima citados, Palley (1998) combate a noção de que o envelhecimento populacional iria necessariamente gerar uma crise de

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mentos na previdência social, afirmando que os mesmos fatores econômicos e sociais que levam ao aumento da longevidade e do percentual de população idosas se tradu-zem na elevação da produtividade do trabalho humano, propondo o conceito de Razão

de Dependência Efetiva:

Nessa expressão,  é um fator de produtividade que faz aumentar o peso da fração populacional entre 15 e 64 anos na razão de dependência. Ou seja, havendo um adequado aumento da produtividade do trabalho, a População em Idade Ativa (PIA) , mesmo sem aumentar, poderá suprir as necessidades da população jovem e da popu-lação idosa.

5. Análise exploratória dos dados da PNAD de 2004 a 2015

Iniciaremos a análise pela evolução no período da população total (Pop), população em idade ativa (PIA), população economicamente ativa (PEA), população ocupada (PO) e população contribuinte à Previdência (PoCP), o que pode ser visuali-zado no Gráfico 6. Já vimos a definição da população em idade ativa (PIA). A população economicamente ativa (PEA) é definida como a população ocupada (PO) ou desocu-pada (PoDes), ou seja, a população que está trabalhando ou está em busca de traba-lho. A PEA se diferencia, dessa forma, da população não economicamente ativa (PNEA), a qual não está empregada nem tampouco está procurando emprego.

De 2004 a 2015, a população brasileira au-mentou 21,4 milhões de pessoas chegando a 205 milhões, um crescimento de 12%. A população em idade ativa, por seu lado, aumentou 20,5 milhões ou 17%, totalizando 141 milhões. A população

Gráfico 6 - População (Pop), População em Idade Ativa (PIA), População Economicamente Ativa (PEA), População Ocupada (PO) e

População Contribuinte à Previdência (PCP) - Brasil, 2004 a 2015

Fonte: IBGE - PNADs 2004 a 2009 e 2011 a 2015 recalibradas por sexo e idade

0 50 100 150 200 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 P o p u la çã o (m il h õ e s) Ano

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economicamente ativa aumentou bem menos que isso, 12 milhões ou 13%, alcan-çando 106 milhões, enquanto que a população ocupada aumentou 10 milhões ou 12%, totalizando 95 milhões e a população contribuinte à Previdência aumentou 20 milhões ou 49%, somando 61 milhões.

Os dados deixam claro que se existe uma crise de financiamento da Previdência Social, esta não pode ser atribuída à falta de contribuição por parte do povo. De todas as populações, a que mais cresceu (49%) foi a de contribuintes à Previdência. Por outro lado, a diferença de 34 milhões entre a população ocupada e a população contribuinte à Previdência mostra que o problema do trabalho informal merece uma atenção muito maior do que o poder público lhe dedicou. O Gráfico 6 mostra também que a crise econômica fez refluir o crescimento das populações economicamente ativa, ocupada e contribuinte à Previdência.

No Gráfico 7 temos a evolução da população não economicamente ativa (PNEA), da popula-ção dependente jovem (PoDeJo), aquela com me-nos que 15 ame-nos, da po-pulação dependente idosa (PoDeId), com 65 anos ou mais, da população apo-sentada e pensionista (PAPe) e da população

desocupada (PoDes). De 2004 a 2015, a população não economicamente ativa cresceu 12% e chegou a 99 milhões de pessoas. A população desocupada cresceu principal-mente com a crise econômica recente, 25% ou 2,1 milhões de pessoas, chegando a 10,5 milhões. Em consequência da queda da fecundidade, a população dependente jovem se reduziu de 4,3 milhões ou 8,3%, baixando para 47,5 milhões. Mostrando que o processo de envelhecimento é um fato, a população dependente idosa cresceu 47% ou 5,2 milhões, somando 16 milhões de pessoas. Igual percentual cresceu a população

Gráfico 7 - População não Economicamente Ativa (PNEA), População Dependente Jovem (PoDeJo), População Dependente

Idosa (PoDeId), População Aposentada e Pensionista (PAPe) e População Desocupada (PoDes) - Brasil, 2004 a 2015

Fonte: IBGE - PNADs 2004 a 2009 e 2011 a 2015 recalibradas por sexo e idade

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 P o p u la çã o (m il h õ e s) Ano

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aposentada ou pensionista, que aumentou em 9 milhões de pessoas e chegou ao total de 27 milhões. É de se notar o salto que essa população deu para cima no ano de 2007, quando 3,2 milhões de trabalhadores buscaram a aposentadoria como reação à re-forma da Previdência realizada na ocasião. Praticamente a metade dessa população possui menos do que 65 anos e que cerca de meio milhão tem menos do que 15 anos.

No Gráfico 8 temos a evolução da Taxa de Ati-vidade, definida como a razão entre a população economicamente ativa e a população em idade ativa (PEA/PIA). Vê-se que no período de 2004 a 2015 a população masculina en-gajada no mercado de

trabalho correspondeu a 89% da população masculina em idade ativa. Para as mulhe-res, esse percentual foi de 64%. Como resultado, a população economicamente ativa total ficou em 77% da população brasileira em idade ativa. Nota-se o grande subapro-veitamento das mulheres na força de trabalho. Nota-se também que a taxa de ativi-dade vem decaindo ao longo do tempo, ainda que de forma lenta.

Um detalhe impor-tante: visando a compara-bilidade internacional, a população em idade ativa foi definida neste trabalho como aquela entre 15 e 64 anos, mas a PNAD não se limita a essa faixa etária. De fato, nas PNADs de 2004, 2005 e 2006, a idade mínima para se

fa-Gráfico 8 - Taxa de Atividade por Sexo - Brasil, 2004 a 2015

Fonte: IBGE - PNADs 2004 a 2009 e 2011 a 2015 recalibradas por sexo e idade

Gráfico 9 - Distribuição da População Economicamente Ativa pelas Idades - Brasil, 2004 a 2009 e 2011 a 2015

Fonte: IBGE - PNADs 2004 a 2009 e 2011 a 2015 recalibradas por sexo e idade

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Ta xa (% ) Ano

Brasil Homens Mulheres

15 65 0 2 4 6 8 10 12 14 16 0 20 40 60 80 100 P EA ( m il h õ e s) Idade (anos) 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015

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zer parte da população economicamente ativa era de 5 anos. A partir de 2007 até 2015 essa idade mínima passou a ser de 10 anos. Em todos os casos, não há um limite superior de idade. Entretanto, como pode ser visto no Gráfico 9, a grande maioria da população economicamente ativa (95,6%) possui entre 15 e 64 anos, apenas 1,6% possui de 5 a 14 anos e somente 2,8% possui 65 anos ou mais. O cômputo da taxa PEA/PIA, dessa forma, varia muito pouco.

O Gráfico 10, que mostra a distribuição da PEA pelas escolaridades, ilustra a evolução da força de trabalho no Brasil. Nota-se que de 2004 a 2015 a participação de pessoas sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto caiu conside-ravelmente, aumentando

a participação de pessoas com ensino superior completo e com ensino médio completo ou superior incompleto, ficando o ensino fundamental completo ou médio incompleto mais ou menos constante.

No Gráfico 1, como também no Gráfico 5, vimos a evolução e o significado das razões de dependência devido às idades, ou as razões de dependência demográficas. No Gráfico 11, vemos a evolução de 2004 a 2015 de uma nova razão de dependência proposta. A definição da razão econômica de dependência como sendo a razão entre a população não economicamente ativa e a população economicamente ativa (PNEA/PEA) se baseia na mesma ideia de comparar o tamanho da população que irá receber os frutos do trabalho social com o tamanho da população que se encontra apta a realizar esse trabalho mesmo social. Vê-se que a PNEA e a PEA se equivalem em tamanho e crescimento, com a razão econômica de dependência oscilando em torno dos 93%. É de se notar que na população masculina essa razão oscila em torno de 66%

Gráfico 10 - População Economicamente Ativa por Escolaridade - Brasil, 2004 a 2015

Fonte: IBGE - PNADs 2004 a 2009 e 2011 a 2015 recalibradas por sexo e idade

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 P o p u la çã o (m il h õ e s) Ano

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e na feminina em torno de 130%, o que mostra mais

uma vez o subaproveitamento da mulher na força de trabalho. No Gráfico 12 vemos a evolução de 2004 a 2015 de uma segunda proposta de razão de dependência, a razão previdenciária de dependência, definida como a razão entre a população aposentada e pensionista e a população contribuinte à previdência (PAPe/PoCP). A população aposentada e pensionista

cresceu 47% no período enquanto que a população contribuinte à Previdência cresceu 49%, resultando em uma razão previdenciária de dependência oscilante em torno dos 44% que se reduziu em 1,2%. É de se observar que para os homens essa razão é de 31% e para as mulheres de 63%, mas uma indicação da necessidade do poder público levar a sério as desigualdades de gênero.

Gráfico 11 - População Economicamente Ativa (PEA), População Não Economicamente Ativa (PNEA) e Razão Econômica de

Dependência (RED = PNEA/PEA) - Brasil, 2004 a 2015

Fonte: IBGE - PNADs 2004 a 2009 e 2011 a 2015 recalibradas por sexo e idade

Gráfico 12 - População Contribuinte à Previdência (PoCP), População Aposentada e Pensionista (PAPe) e Razão Previdenciária

de Dependência (RPD = PAPe/PoCP) - Brasil, 2004 a 2015

Fonte: IBGE - PNADs 2004 a 2009 e 2011 a 2015 recalibradas por sexo e idade

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 R az ão (% ) P o p u la çã o (m il h õ e s) Ano

PEA PNEA RED

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 R az ão (% ) P o p u la çã o (m il h õ e s) Ano PoCP PAPe RPD

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No Gráfico 13 vemos a evolução de 2004 a 2015 da renda média da população ocupada (RMePO) e da renda previdenciária média (RPrMe) ambas em reais de no-vembro de 2017, ou seja, os valores originais de renda em cada ano foram corrigidos pela variação do IPCA de

cada período. Nota-se que mesmo com a notável re-tração de renda devido à crise econômica houve um considerável aumento real (34%) da renda média da população ocupada, assim como um razoável (15%) aumento real da renda previdenciária média. Ob-serva-se também a

evolu-ção da terceira proposta de razão de dependência, a razão monetária de dependência (RMD) entre a massa total de renda previdenciária e a massa total de renda da popula-ção economicamente ativa, a qual flutuou em torno dos 20%.

6. A guisa de conclusão

No Gráfico 14 ve-mos a evolução de 2004 a 2015 das três propostas de razão de dependência, econômica, previdenciária e monetária e das três razões de dependência demográfica, devido aos jovens, aos idosos e total. Pode-se concluir que os três novos

Gráfico 13 - Renda Média da População Ocupada (RMePO), Renda Previdenciária Média (RPrMe) e Razão Monetária de Dependência

(RMD) - Brasil, 2004 a 2015

Fonte: IBGE - PNADs 2004 a 2009 e 2011 a 2015 recalibradas por sexo e idade Observação: Valores de renda corrigidos pelo IPCA

Gráfico 14 - Razões de Dependência Demográfica (Total, Jovem e Idosa), Econômica (PNEA/PEA), Previdenciária (PAPe/PoCP) e Monetária (Massa de renda PO/Massa de renda PAPe)

- Brasil, 2004 a 2015

Fonte: IBGE - PNADs 2004 a 2009 e 2011 a 2015 recalibradas por sexo e idade

0% 20% 40% 60% 80% 100% 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 R az ão (% ) R e n d a ($ d e n o ve m b ro d e 2 0 1 7 ) Ano RMePO RPrMe RMD 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 R az ão Ano

Econômica Previdenciária Monetária

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indicadores propostos possuem boa capacidade de representar as condições de utilização e financiamento da previdência social, tornando mais concretas as relações entre as populações dependentes e as que produzem os recursos socialmente distri-buídos.

Por outro lado, a análise exploratória de dados das PNADs de 2004 a 2015 mos-trou a importância de uma política de combate ao subaproveitamento da força de tra-balho feminina e de valorização da educação no sentido de minimizar as três novas razões de dependência definidas neste trabalho.

Acreditamos que temos pela frente uma boa linha de pesquisa pois apenas uma pequena parcela da massa de dados gerada pela análise exploratória das PNADs foi utilizada neste trabalho, havendo um grande potencial de detalhamento e aprofunda-mento dos estudos.

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Referências

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