UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
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SÍNDROME DA CRIANÇA ESPANCADAPE
070
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0a.×$‹›~sAUTORES: FLÁVID BATISTA MDRGADD MARcEL DDMIT
DouToRANDos Do €uRso DE GRADUAQÂD DE
MEDICINA DA UFSC - ll5'FAsE.
FLORIANÓPOLIS, O7 DE JUNHD DE 1984
sÍNnRoME DA cR1ANçA EsPANcAnA
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Í3‹~wJ¿«M¿z:› ÍÍv:zm›.- Q«,3.,LN "M
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AGRADECIMENTOS
Nossos sinceros agradecimentos ã determinadas
pessoas, que sem as quais nao seria possível a realizaçao deste trabalho.
Dr. MARCOS MAY PHILIPPI, médico pediatra do
Hospital Universitário e do* Hospital Infantil Joana de
~
Gusmao de Florianópolis.
Dr. IRINEU MAY BROBDEK, neuro-cirurgião do Hos
pital de Caridade e do Hospital Infantil Joana de Gusmão de
Florianópolis.
Dr. PAULO MEDEIROS VIEIRA. curador de menores
1
RESUMO
WW
O nóssô trabalho versa sobre um fato muito en-
focado atualmente em nosso país, a criança espancada. Fize
nlos uma revisão bibliográfica do assunto, visto que em ter mos de Brasil, não sabe-se o porquê da literatura ser tão escassa, enquanto que no exterior ocorre exatamente o in -
verso.
Abordamos e relatamos também com o tema ilus -
trativo e principalmente alertatõrio, dois casos clínicos internados recentemente no Hospital Infantil Joana de Gus- não de Florianópolis, que sensibilizaram a opinião pública
e o meio médico local; tamanho a intensidade e cronicidade
dos maus tratos infligidos a estas crianças.
Enfim, tivemos por enfoque principal, não uma
~ ~
simples revisao que nao foi nosso único intuito, e sim um alerta a comunidade médica sobre esta síndrome.
I
INDICE
~ INTRODUÇAO . . . . _. HISTÓRICO ... CONCEITO . . . . ._ FREQUENCIA . . . . .. ETIOLOGIA . . . . . .. HISTÓRIA CLINICA TRATAMENTO . . . . .. PROGNÓSTICO ... RELATO DE 2 CASOS COMENTÁRIO ... . 27 BIBLIOGRAFIA . . . .INTRODUCAO
I
A síndrome da criança espancada ë uma entidade
mõrbidai associada a fatores sõcio-econômico-culturais
que vem tendo uma ocorrência cada vez mais frequente em
nosso meio atual.
As estatísticas encontradas não condizem com
a realidade, porque apenas uma pequena parte destes casos
chegam ao conhecimento de autoridades competentes.Isto ocor
re porque na maioria das vezes, mêdicäs e oútros profissio- nais de saüde objetivam apenas o tratamento clínico-cirür- gico destas crianças, não fazendo uma investigação minucio-
sa sobre a causa destas lesões. Agindo assim, permitirão‹que
a criança seja reintroduzida ã este meio agressor, ou seja, ao seu lar, experimentando novamente o mau trato que culmi- narã não poucas vezes, com sequelas irreversíveis e morte.
A
seguir passaremos a descrever algumas caracte rísticasconcernentes ã esta síndrome.I
HISTORICO
A atitude da populaçao com direito ao respeito
dos pais sobre seus filhos, tem se modificado muito no de-
correr dos tempos. Na Antiguidade e até hoje em dia entre
os povos Subdesenvolvidos, o pai possui um poder absoluto sobre os filhos, permitindo-se inclusive a abandonar ou
matar os recém-nascidos mais débeis que sofriam de malfor
maçoes. Consultando a literatura constatamos que o infanti cídio foi prática tolerada e realizada em ampla escQla,cons
.` ~
tituindo para Seneca, Platao e Aristõteles uma sábia medi
da, a morte provocada de crianças débeis.
Muito mais difundido, estava o direito dos pais
e em parte também dos educadores, de castigar corporalmente,
direito do qual vem sendo usado e abusado em épocas muito recentes e ao mesmo tempo sendo recomendado como beneficio
so por autoridades religiosas e pedagógicas. Inclusive as
crianças de camadas sociais mais altas nao se livraram 'de tais castigos corporais, levando como exemplo de que hã
~
muitas internadas que sao provenientes de colégios exclusi-
vos.
O limite gos corporais e maus
lidade no sentido de
que estes elos estão
entre um castigo permitido, tais casti tratos se tem desprezado muito na atua
uma limitação do permitido, se bem sujeitas a critérios muito subjetivas.
_7_
E indubitãvel que na maioria das famílias se procede ocasig nalmente ã aplicação de castigos corporais, e segundo estu-
dos de Hacvernilk, isto se dã em aproximadamente 85% das
crianças. Porém a opinião geral está claramente contra to-
dos castigos violentos aplicados ã lactentes e crianças na
primeira infância.
O reconhecimento desta entidade pela classe mê- dica data de meados do século passado, quando por volta de 1860, o Dr. Ambroise Tardieu alegou descobrir uma verdadei- ra síndrome de maltrato infantil e deu enfâse a importância
dos fatores ambientais pertinentes, que atuam como agentes condicionantes.
Porteriormente, chegou aos anais da ciência, a-
travês de estudos científicos realizados por John Caffey em
1946 que descreveu uma síndrome caracterizada por Hematoma subdural de causas desconhecidas e em 1953 por Fredericlhr
Silverman que evidenciou alterações radiolõgicas, mais espe
cificamente periõsticas, evidenciando assim a etiologia traumática desta síndrome.
Em estudos» mais recentes, datados de l96l e
realizados por Kempe e Denve, que permitiu a ambos consta- tar todo um quadro clínico exuberante, servindo de substra
to para que se agrupassem como uma síndrome única: Síndro-
CONCEITO
O termo "Síndrome da criança espancada" foi
criada para o Simpõsio da Academia Americana de Pediatria
de 1961, que focalizou a preocupação dos médicos pelas fraturas inexplicadas e outras formas de graves maus tra- tos físicos em crianças. Desde está época, a definição de
maus tratos infantis vem sendo modificada progressivamen
te, abrangendo em dias atuais todos os individuos menores
de 18 anos que tenham sofrido danos físicos ou psíquicos
abuso sexual e/ou privação de cuidados básicos por parte
de seus pais ou responsáveis.
Esta Síndrome, na Classificação Inü5fimcrmufl.de
Doenças (O.M., 99 revisão - 1975) ë assim classificado se
gundo autor dos maus tratos.
E - 967,0 - pelos pais
E - 967,1 - por outra pessoa especificada
FRÊeuENc1A
~
De pouco se dispoe de informações acerca da
frequência de maus tratos sofridos por crianças, sendo que estas, muitas vezes, foram trancadas entre as qua- tros paredes de uma casa; tornando-se difícil obter-seda
dos qualificativos e quantitativos que poderiam demons -
trar-nos de maneira um pouco mais clara e real a magnitu
de deste problema.
As crianças de poucos anos não são capazes
de falar sobre os tratos que recebem, e muitas vezes se
calam diante dos maus tratos recebidos, sendo que os ma iores omitem isto tudo seja por medo ou por uma depen -
dência intuitiva dificilmente compreensível. Há que se
frisar que incluive outras pessoas que tem conhecimen-
to sobre estes fatos, tais como médicos e outros profis- sionais da saúde se calam em parte por indiferença, em parte por temor ã complicações.
Lembra-se a estes que teriam duas principais responsabilidades frente a esta situação: detectar a prin
1' z 1' u 1 .
cipio a sindrome e posteriormente informar as autorida-
des competentes.
ex-- 10
traordinariamente alta destes maltratados não são relata-
dos e que somente 5% dos casos passam a justiça.
Se tem comparado, de um modo certo, estes de- litos com um iceberg, do qual se sobressai as ãguas ape
nas uma pequena parte, estando oculta a porção maior. A lamentável atitude que mostram muitos médicos quanto a
esta situação, se reflete num estudo realizado em Massa - chusetts acerca de 180 crianças, provenientes de ll5 fami
lias. De 30% dos casos de maus tratos que consultaram mé-
dico, tão somente 9% foram remetidos as autoridades compe tentes (Commentary, Bain). Os dados seguintes indicam que precisa-se chamar a atenção das autoridades para isto:
No ano de 1958, o número de denúncias por vig lação da lei em Berlim de 2,65: 100.000 habitantes e de - pois de uma intensa campanha, este nümero subiu a 10 em 1964. Neste mesmo ano, em outra grande cidade, em que se guramente não houve condições sociais menores, a cifra
correspondeu a 1,37. Lamentavelmente não se realizou cam-
panhas deste tipo em algumas grandes cidades, faltando em
consequência disto, uma invasão de conjunto.
Muitas estatísticas amplas tem sido realiza -
das nos Estados Unidos, donde, entre outras, Kempe e cole gas realizaram um levantamento em 71 hospitais, nos quais
se comprovaram que no término de um ano, haviam-se obser- vados 302 casos deste tipo, dos quais faleceram 33 e re-
sultando 85 lesões cerebrais permanente.
Também Ray Helfen realizou em l973 importante pesquisa na qual averiguou-se que a taxa de crianças a-
_ 11 _
tes implicando em 70.000 novos casos por ano nos Estados Unidos da Amërica.
Todavia, no Brasil, a situação no que tange
ã informação, coleta, averiguação e registro dos casosde
agressões impostos as crianças ê praticamente nula, pois em termos percentuais temos muito pouco material.
Por isto tudo, ê de se assombrar que pratica mente não se tenha prestado a devida atenção a esta sín-
drome nos tratados de pediatria brasileiras.
As vítimas dos maus tratos. Os dados acerca
da idade das crianças vítimas de maus tratos, diferem mui
to entre si. A medida que forem crescendo o número de
trabalhos neste campo, foi-se assinalando de modo quase unânime um maior número de casos relativos aos primeiros
anos de vida, como se comprova também na prática de dis-
tribuição por idade estabelecida por Mc Henry e colegas
_]_2_
F`“r\ C] Cl
Ú
Ell 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Segundo Waldo E. Nelson, em seu tratado de Pe-
~ ~
diatria de 1977, as vítimas de agressao física estao esti- mados em um terço abaixo dos seis meses de idade, um terço
de seis meses a tres anos e um terço acima de tres anossen
~
do que estao mais expostos a esta síndrome as crianças de
menor idade e ë justamente onde a letalidade ê mais eleva
da e são mais frequentes as internações.
Concluindo, não há diferenças marcantes no que se re fere ã distribuição por sexos e sim quanto a faixa etária.
ETIOLOGIA
V H ¡` 4»
Trata-se de um fenomeno de compreensao comple
xa, devendo ser analisado sob diversos prismas: clínico ,
. ø
social, psicolõgico, psiquiatrico, terapêutico, preventi-
vo, ético e jurídico. Embora os fatores sõcio-culturais contribuam como agentes causais ou desencandeantes da a-
gressividade dos pais contra seus filhos, Kempe (l97l)con cluiu que o nível sõcio-econômico-cultural da família não
~
esava de forma tao si nificativa como se ima inou em
P
princípio na ocorrência do fenômeno.
Fatores superficiais (ou manifestos) e motiva
~
oes latentes (ou inconscientes) levam o indivíduo a a 9re
_
dir o prõprio filho. Quadros de deficiência mental, alcog
lismo, P sicoses, P aranõias, sadismos desa`ustamentos I 3 con
_
jugais , filhos conscientemente indesejados são situaçõespatolõgicas que somente esclarecem o fenômeno da agressao
a grosso modo. Em outros casos, os pais se vingam do fi - lho por ciume do parceiro conjugal, ou por sentirem que
o filho foi responsável por alterações em seu corpo (que- da das mamas, obesidade, etc).
Temos que levar em conta, que pais que tive -
_l4_
revividos por um processo de identificação, sentem-se de-
na
sesperados por nao poderem agir diferentemente de seus prõprios pais: isto lhes causa culpa, e terminam por des-
pejar na criança o õdio que sentem de si mesmos. Ainda hã as crianças que são perseguidas pelos pais abusivos: hã
~
A -1 . Q , N
uma transferencia psicatica com a distorçao da percepçao
________
do agressor em relaçao ã criança.
~
Existem também os pais que nao adquiriram a
capacidade de abstrair, simbolizar e deslocar a cõlera de
rivada da frustação de seus desejos. Outros incapazes de
entender a agressão inata dascrianças, reagem com agres -
sões desproporcionadas.
Acreditamos ser impossível formular a agresi-
vidade dos pais em uma ünica teoria, cada caso precisará
ser estudado em todos os seus aspectos e sõ assim será possível proteger e acompanhar esta criança na situaçao
HISTÓRIA cLÍN1cA
A suspeita clínica de estarmos diante de uma criança espancada pode e deve ser comparado mediante a
realização criteriosa dos seguintes procedimentos: anam- nese, exame físico e exames complementares, ressaltando neste a importância de achados radiolõgicos.
Por intermédio do anamnese, devemos levantar
as suspeitas sempre que o pais oferecanuma histõria im
plausível para explicar a lesão da criança. Alguns pais ficam relutantes ao elaborar a causa da lesão, divagan-
do sobre esta ou até mesmo dizendo que não tem a menor idéia de como ocorreu o fato.
Muitas vezes ocorrem discrepâncias entre as
histõrias oferecidas pela mesma pessoa a dois entrevista
dores.
Hã geralmente uma demora em procurar ajuda médica para as crianças espancadas, provavelmente pelo temor dos pais de encararem uma possível punição, ou até
mesmo por não quererem enfrentar uma realidade tão õbvia: o estado lastimãvel do seu filho.
Juntando-se estes indícios com a pesquisa de
fatores etiolõgicos previamente citados, jã nos direciona
_l6._
Ao exame físico, em muitas crianças que tem
sido objeto de maus tratos, se encontram sinais de aban-
~ ~
dono em forma de desnutriçao, condiçoes precárias de hi-
giene e deficit estatural. Outros achados físicos mais significativos como o aparecimento de hematomas, queima-
~ _. na
duras, laceraçoes, lesoes cicatriciais, luxaçoes e fratu
ras õsseas podem ser encontrados. Ajüriaguerra, em seu Manual de Ppdiatria Infantil, assinala que nas crianças portadoras desta síndrome, além das lesões anteriormente
citadas, hã ainda lesões bucdgäíg e oculares, sendo es- tas caracterizadas por atrofias na periferia do campo re
tiniano temporal, como sequelas das pancadas.
Radiologicamente exploram-se lesões em ossos
longos, crânio, costelas e bacia. Os achados diagnõsti -
cos mais característicos além das fraturas e luxações,con sistem em várias lesões õsseas em diferentes fases de
cicatrização, indicando agressões repetidas.
Silverman, em sua abordagem radiolõgica sobre este assunto ressaltou a importância de alterações periõâ ticas unilaterais.
Obviamente, a síndrome da criança espancada, segundo sua intensidade, pode apresentar um espectro sin-
tomatolõgico; indo desde moderados transtornos de desen -
TRATAMENTO
Quando um médico Vê uma criança, suspeitando-
se que a mesma tenha possibilidade de ter sido espancada
deve seguir os seguintes passos:
. Hospitalizar o Caso Suspeito - Para que se
proteja a criança até que seja efetuada a
avaliação da família com respeito a seguran
ça do lar. Se os pais recusarem ã interna -
çao, pode-se obter o controle legal através
do juizado.
. Tratamento das lesões apresentadas pela
criança. Aí, os problemas médicos e cirürgi
cos devem receber o cuidado adequado.
. Examinar todos os irmaos dentro de 12 horas.
. Completar uma relação oficial escrita do in-
cidente do abuso físico dentro de 48 horas,
- 18
Solicitar dentro de 48 horas, uma entrevista como a Assistente Social do Hospital para
que se determine a natureza dos problemas fa
miliares.
Ofereça comprovações médicas para os casos que irão â justiça, pois geralmente os casos
de abusos da criança recebem audiência no
Tribunal Juvenil.
TRoeNósT1co
Segundo Nelson, em seu tratado de Pediatria,80
a 90 por cento dos lares comprometidos com abuso e maus
tratos ã criança podem ser reabilitados e proporcionar, a
partir daí, a assistência adequada ao filho.
E muito importante para que isto ocorra, que toda enfermeira, assistente social, médico ou outra pes-
soa que observe qualquer caso suspeito o denunciem de modo imediato, para que se possa trabalhar desde cedo em função da família como um todo. Agindo assim, estaremos evitando que mais tarde, esta criança maltratada se torne um espe -
RELATO DE 2 CASOS
_ 20 _
Apresentamos a seguir 2 casos de crianças in-
ternadas no Hospital Infantil Joana de Gusmão no dia 23/ 05/84, com o diagnóstico de síndrome de espancamento.
Pelo que podemos apurar, dentro das nossas pos
sibilidades, pois foi-nos impossível o acesso ao processo movido pelo juizado de menores, tratava-se de dois irmaos
~
submetidos ä maus tratos impostos pela mae das mesmas, que mantinha a tutela sobre os filhos, pois encontrava-se sepg rada maritalmente.
CASO I
LBÇ 22 meses de idade, sexo feminino, cor par-
da, admitido em 23/05/84, no Hospital Infantil Joana de Gusmão de Florianópolis.
Nao foi possível colher a história clínica,pois
~«
a criança chegou com a madrinha, que nao soube informar sobre os antecedentes.
* RESUMO DA ADMISSÃO E EXAME FÍSICO. REso = 6,600 kg TEMPERATURA = afebril FREQUENCIA CARDIACA = 128 FREQUENCIA RESPIRATORIA = 24 PERIMETROS CEFÁLICO = 44 _ 21 _
Criança com estado geral variando de regular a 1
ruim, apãtica e irritada ao manuseio.
/,_
Pele com lesões crostosas em face, hipercrõmi-
cas em abdomem e punctiformes e puriginosas também no abdg mem.
- Y
- Tecido celular sub-cutâneo presente - Mucosas úmidas e hipocoradas (+/4+) - Edema de face e membros inferiores.
a) CABEQA- presença de lêndeas e piolhos em cou
~
ro cabeludo, face com edema, lesoes crostosas arredondados
e equimose em região peri-orbital.
b) PESCOQO- gânglios palpãveis sub-mandibular.
c) TÕRAX
p
- simêtrico sem deformidades. I CaloAusculta cardio-pulmonar sp.
d) ABDOMEM- tumoraçao arredondada em flanco
esquerdo (Bolo de Ascarís?).
e) MEMBROS - tumoração arredondada em cotovg
lo esquerdo.
- aumento do diâmetro de coxa direi
ta.
DIAGNÓSTICO CLINICO:
~
_ 22 _
Desnutriçao de 39 grau (Kwashiorkor), pediculo-
se e escabiose; síndrome de espancamento.
Diagnóstico Radiolõgico
TÕRAX: - arcos costais íntegros
- fratura do l/3 médio da clavícula
esquerda em consolidação, com des-
ABDOMM:
Presença de novelo co esquerdo._23_
de Ascarís em flagMMBROS
INFERIORES Fratura em consolida ção do l/3 proximal do fêmur direito comreação periostal e
extenso hematoma cal cificado envolvendo
a diáfise.
Fratura do l/3 proxi mal da tíbia e fíbu-
la direita e da tí -
bia esquerda.
Fratura do l/3 distal da tíbia direita mem-
bros superiores.
MMBROS
SUPERIORES_ 24 _
- Fratura com desvio de l/3 distal do ümero bilate-
ralmente, com calo õsseo e reação periostal a di-
reita.
- Fratura ou l/3 distal do rádio e ulma bilateral -
mente, com calo ósseo a esquerda.(Fig. 3a e 3b).
_25_
CASO II
MRS, 38 mêses de idade, sexo masculino, cor par
da admitido na mesma hora do Caso I.
* RESUMO DA ADMISSÃO E EXAME FÍSICO.
Criança com estado geral regular, lúcida contag
tuando.
Pele com lesões hipocrõnicas e cicatriciais em
face.
Mucosas úmidas coradas e anictëricas.
Tecido celular sub-cutâneo presente, turgor man
tido.
Edema de membros inferior esquerdo.
a) CABEQA- Com lêndeas em couro cabeludo.
b) PESCOQO- sp
c) Eggêš - sp
d) ABDOMEM - Sp
e) MEMBROS - Edema de namo direito e coxa direita
DIAGNOSTIcO_cLINIcOz
~
Desnutriçao de 39 grau(3wa5hi¢rkOr ), síndrome de
DIAGNÓSTICO RADIOLÕGICO
_ 25 _
* MEMBROS SUPERIORES - Sinal de fratura antiga do 1/3 pro-
ximal da ulna esquerda.
MHBROS
INFERIORES: Sinal recente de fratura do lê médio do fê -
mur esquerdo e antigo
de l/3 médio do fêmur
direito.
Na presente data, da feitura deste trabalho, es tas duas crianças encontravam-se ainda internadas no Hospi
~
tal Infantil Joana de Gusmao sob cuidados médicos.
Quanto ao aspecto legal, no que diz respeito ã
tutela sobre os menores tramita no juizado de menores o
coMENTÁR1o
Como podemos ver através das duas situações clí
~
nicas anteriormente expostas e também da revisao bibliográ-
fica sobre o assunto, a síndrome da criança espancada é uma
patologia que envolve diversos fatores que culminarão, por
fim, com a agressao do menor.
Procuramos através da pesquisa científica e do
contato pessoal com pacientes, médicos, psicólogos e autori
dades judiciais, encontrar meios ou propósitos para que es-
tes casos e outros similares não sejam encarados e tratados
puramente.
Consultando o cõdigo da ética médica brasileira pudemos comprovar mediante o artigo 38 do Õapítulo V, o se- guinte:
~
- A revelaçao do segrêdo médico faz-se*necessã-
ria quando se tratando de menores, nos casos de serviços , castigos corporais, atentado ao
pudor e supressão intencional de alimentos. Portanto, não basta ao médico, quando de frente
a qualquer situação que se intitule de suspeita, se restrin
gir ao tratamento das lesoes apresentadas. E seu dever,como também de qualquer pessoa que entre em contato com a
víti-_ 23 _
ma, de comunicar as autoridades competentes, para que essa família sirva como objeto de estudo, visando diagnosticar desequilíbrios que tenham levado aos pais a cometer 'tal atitude.
Esperamos que este trabalho, dê oportunidade a
quem o leia, de ficar atento e preocupado no sentido de
esmiuçar os fatos, para que seja possível o diagnóstico des
ta síndrome e posterior encaminhamento as autoridades. Agin
do assim, estaremos contribuindo e muito, para que tai-
~ ~
situaçoes nao voltem a reincidir sobre determinada criança.
E õbvio, que é de relevada monta também, a adg
ção de medidas preventivas para que possamos evitar, que
cheguem as nossas mãos casos tão deprimentes como os de agora. Seria necessário a formação de programas sociais ,
que fossem de encontro ã população, explicando-lhes o di -
reito reservado a cada cidadão do seu prõprio lugar e li -
_.. ~
berdade. E certo, que apõs a implantaçao deste sistema,nao
se colhessem resultados de imediato, porém temos a certeza
de que apareceriam.
A perseverança na implantação de tais progra -
mas e a preocupação latente quanto ao bem-estar do menor ,
~
sao tópicos que devem estar sempre guardados em nossa men te, para que futuramente possamos olhar para trás e sentir-
~ ~
mos nossa participaçao na formaçao de uma juventude sadia e
sem traumas.
Sendo consciente da obrigação do relato de to
-~
dos os casos, os médicos terao a certeza de que sua parte estará cumprida, contribuindo, assim, para que esta síndro-
enor-_ 29 _
mes e geladas, do qual se sobressai das águas apenas uma pe quena parte, tornando-se oculta a porção maior.
BIBLIOGRAFIA
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972801401 Ac 253718 Exl UFSC BSCCSM