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Distúrbios do Sono e Sintomas Vestibulares

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Mônica Aidar Menon-Miyakea; Graziela Gaspar Santanaa; Marcel Menon-Miyakeb; Michelle Menon-Miyakeb

Resumo

Sintomas vestibulares (SV) e distúrbios de sono (DS) podem coexistir, comprometendo o desempenho funcional, as atividades sociais e a qualidade de vida do paciente. Analisamos na literatura médica as condições de intersecção e desdobramentos dessa correlação sintomática, contrapondo-a à experiência na prática clínica. A interação sintomática de SV e DS é frequente e deveria ser motivo de abordagem diagnóstica e terapêutica conjunta. Há indicações de que a recomendação de higiene do sono pode beneficiar pacientes com alterações do equilíbrio e sono, especialmente idosos, ansiosos e polimedicados.

Palavras-chave: Transtornos do Sono. Tontura. Apneia Obstrutiva do Sono. Abstract

Vestibular symptoms (VS) and sleeping disorders (SD) may coexist, endangering the functional performance, social activities and life quality. We have reviewed at the medical literature the intersection conditions and unfoldings of this symptomatic correlation, confronting it with clinical practice experience. VS and SD symptomatic interaction is frequent and it should be a reason for diagnostic and therapeutic approach. There are indications that sleeping hygiene recommendation may benefit patients with balance deficits and sleeping, especially the elderly, anxious and polymedicated.

Keywords: Sleeping Disorders. Dizziness. Sleeping Obstructive Apnea.

Distúrbios do Sono e Sintomas Vestibulares

Sleeping Disorders and Vestibular Symptoms

aHospital Sírio-Libanês, SP, Brasil

bSanta Casa de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas, Programa de Residência Médica em Otorrinolaringologia, SP, Brasil

1 Introdução

Pacientes com Distúrbios do Sono (DS) podem apresentar durante o dia tonturas, vertigem e outros Sintomas Vestibulares (SV), atribuíveis inespecificamente a diversas condições clínicas. Por sua vez, os pacientes com vestibulopatias frequentemente se queixam de distúrbios do sono juntamente à sintomatologia de alterações do equilíbrio. Ambas as condições, DS e SV, podem comprometer o desempenho funcional, as atividades sociais e a qualidade de vida do paciente.

Como demonstra a prática clínica, insônia, Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), medicamentos indutores ou reguladores do sono, alterações no ciclo e na higiene do sono podem desencadear ou piorar tonturas e zumbidos já existentes, aumentando a complexidade diagnóstica e terapêutica de cada caso. Pacientes com tontura podem ter início de sintomas à noite, desencadeados por componentes metabólicos, vasculares e cervicais, como a simples troca de colchão e travesseiro. A faixa etária, assim como os distúrbios de ansiedade e depressão, influem neste quadro e desencadeiam a sintomatologia conjunta. A associação dos sintomas tontura/distúrbios de sono também aumenta nos dias de hoje no mundo todo, pois os pacientes se utilizam em demasia de computadores e celulares, não atentando

ao excesso de estimulação visual e postura imprópria. É frequente que os executivos e outros profissionais façam viagens intercontinentais a trabalho e/ou lazer, resultando em alteração fisio-hormonal (jet lag).

Surpreendentemente, as referências bibliográficas sobre esta correlação sintomática frequente na prática são muito escassas. O objetivo desta revisão é analisar a literatura médica sobre a correlação de DS e SV, seus achados e considerações.

2 Desenvolvimento 2.1 Sintomas vestibulares

Tontura consiste na insegurança em relação à movimentação ou posição do corpo no espaço. Vertigem é a denominação dada à tontura rotatória, tanto com sensação do corpo estar girando no ambiente ou do ambiente estar girando ao redor do corpo. Tonturas estão dentre os sintomas mais referidos na prática clínica, presentes em 5% a 10% da população mundial. Mais frequente em adultos, atingem cerca de 47% dos homens e 61% das mulheres com mais de 70 anos1-3.

O equilíbrio corporal depende do somatório de informações geradas pelos sistemas vestibular, proprioceptivo e visual. Alterações em qualquer um desses sistemas pode provocar a sensação de tontura e vertigem. Existe integração dessas informações nos núcleos vestibulares e no cerebelo,

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propiciando a manutenção da postura ereta e a estabilização do campo visual4.

A vestibulopatia causada por distúrbios no sistema vestibular – labirinto e nervo vestibular – é denominada vestibulopatia periférica ou labirintopatia, que perfaz a maioria dos casos de alterações do equilíbrio. Quando a origem da vestibulopatia está em disfunções acima do nervo vestibular, ela é chamada de vestibulopatia central5,6.

As vestibulopatias de origem periférica costumam caracterizar-se pela vertigem associada a sintomas neurovegetativos, como náusea e vômito, e a alterações auditivas, como zumbido, diminuição da acuidade auditiva e plenitude aural, além de sudorese. Ao exame físico, rotineiramente encontra-se nistagmo horizontal ou horizontorrotatório, que melhora com a fixação ocular5. Nos

quadros de tontura por acometimento central, os sintomas tendem a ser mais brandos, normalmente com instabilidades e desequilíbrios em vez de vertigem, com início insidioso, sem sintomas neurovegetativos associados, porém com outros sintomas neurológicos como cefaleia, alterações visuais, motoras e sensitivas6. No exame físico, em geral, há presença

de nistagmo multidirecional, sem supressão com a fixação ocular, sem latência e não fatigável, e alterações em provas cerebelares, dos nervos pares cranianos, além do VIII par, da força, da sensibilidade e do estado mental6.

A VPPB é causada pelo deslocamento de otoconias utriculares de maneira desordenada para os canais semicirculares (CSC) ao movimento de cabeça no plano do CSC afetado. O acometimento do CSC posterior por ductolitíase é responsável por mais de 95% dos quadros de VPPB.

A VPPB é tipicamente desencadeada por mudanças bruscas na movimentação da cabeça, como virar para o lado, estender roupa, olhar para cima ou para baixo e ao levantar-se da cama. A vertigem pode estar acompanhada por instabilidade, desequilíbrio, náuseas ou vômitos e, classicamente, não apresenta sintomas auditivos associados7.

O quadro sintomático geralmente tem início súbito, com duração de segundos e melhora espontânea, e permanece por dias, semanas, meses e, em alguns casos, por anos.

O diagnóstico das vestibulopatias se baseia na história clínica do paciente, nos antecedentes pessoais, no uso de medicações e no exame físico detalhado, os quais direcionam para os exames subsidiários. Dentre esses, destacam-se o exame otoneurológico, que avalia o sistema vestibular e auditivo e suas conexões com o sistema nervoso central, o qual é feito por meio da ENG (eletronistagmografia) e da VENG (vectoeletronistagmografia) computadorizada4.

A VENG (videoeletronistagmografia) é baseada na captação do potencial elétrico córneo-retinal durante a movimentação ocular. São utilizados eletrodos ativos que permitem a captação dos movimentos oculares em todos os planos. Também são realizados estímulos rotatórios e térmicos. As provas realizadas têm como objetivo a avaliação da latência, precisão e velocidade dos movimentos sacádicos

fixos e randomizados, ganho do rastreio pendular e do nistagmo optocinético. Os resultados de cada paciente são automaticamente comparados com os valores de normalidade preestabelecidos nos diversos testes4.

A Vídeo Frenzel digital ou videonistagmoscopia permite registrar e visualizar com magnificação o aparecimento ou não dos nistagmos, principalmente nos casos de suspeita da VPPB, no diagnóstico do canal semicircular afetado e planejamento de tratamento. Também é possível o registro antes e depois do tratamento com manobras e reabilitação vestibular. Ao contrário da VENG, pode ser realizado durante a crise labiríntica. É possível registrar os nistagmos posicionais, rotatório e pós-calórico4.

2.2 Distúrbios do sono

O sono pode ser definido como um estado funcional, reversível e cíclico, com algumas manifestações comportamentais características, como imobilidade relativa e aumento do limiar de resposta aos estímulos externos. Em termos orgânicos ocorrem variações dos parâmetros biológicos, acompanhados por modificação da atividade mental, que correspondem ao comportamento de dormir8.

O sono é determinado por processos ativos e altamente organizados. Três processos estão relacionados para que ocorra a organização dos períodos de vigília e de sono, sendo eles:

• Processso circadiano, regulado pelo núcleo

supraquiasmático do hipotálamo anterior, resultando na alternância de alta e baixa propensão ao sono dentro do período de 24 horas do dia;

• Processos homeostáticos, determinados pela vigília

anterior, influenciando a intensidade e, em menor extensão, a quantidade de sono, sendo que em uma condição normal regulam a propensão circadiana ao sono;

• Processos ultradianos, que são a alternância entre o

sono NREM e o REM.

A interação dos processos circadianos e homeostáticos é o que determina a distribuição temporal do sono e vigília, portanto modificações do ciclo circadiano são acompanhadas por alterações do sono9-11.

Os distúrbios do sono são muito prevalentes e levam à morbidade. O mais comum é a insônia ou dificuldade de iniciar ou manter o sono, gerando sonolência diurna. É diagnosticada através da história clínica e tratada com terapia cognitivo-comportamental, com ou sem medicamentos hipnóticos. Os pacientes com ronco e apneia podem apresentar a síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS), que é diagnosticada através de polissonografia. Pressão positiva contínua nas vias é o tratamento mais comum e eficaz para tratar SAOS.

Já a síndrome das pernas inquietas é caracterizada por uma compulsão em mover as pernas que piora com o repouso, é aliviada pelo movimento e, muitas vezes, ocorre durante a noite. É tratada de acordo com a frequência dos sintomas. Ela é também diagnosticada por polissonografia.

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A narcolepsia é caracterizada por sonolência excessiva, cataplexia e alucinações hipnagógicas. A base do diagnóstico é a polissonografia seguida de um teste de latência múltipla do sono. A narcolepsia é tratada com estimulantes, tais como o modafinil; inibidores seletivos da recaptação da serotonina; ou ácido gama-hidroxibutírico.

O distúrbio comportamental do sono REM é caracterizado por tônus muscular aumentado durante o sono REM (quando ocorrem os sonhos), o que resulta no paciente agindo com possíveis consequências danosas. Esse diagnóstico é baseado na história clínica e em polissonografia, e o tratamento inclui medidas de segurança ambiental, além de melatonina ou clonazepam12.

A Escala de Sonolência de Epworth (Quadro 1) é um questionário que avalia a possibilidade de se adormecer em oito situações que envolvem atividades do dia a dia, sendo que algumas são conhecidas como soporíficas. É um instrumento confiável para a avaliação da sonolência diurna e equivale à sua versão original no inglês. Bertolazi et al.13 realizaram

a validação da Escala de Epworth para o português. Esta escala foi idealizada baseada nas observações relacionadas à natureza e à presença de sono diurno13,14. O escore varia de 0

a 24, sendo que de 0-9 o indivíduo é considerado normal, de 10-15 indica a possibilidade de leve a moderada de apneia do sono e acima de 16 indica a possibilidade de apneia do sono grave ou narcolepsia13,14.

Quadro 1: Escala de Sonolência de Epworth

0 - Nenhuma chance

de cochilar 1- Pequena chance de cochilar 2- Moderada chance de cochilar 3- Alta chance de cochilar Sentado e lendo

Assistindo televisão

Sentado, quieto em um lugar público, sem atividade (sala de espera,cinema, teatro, reunião) Como passageiro de um trem, carro ou ônibus, andando uma hora sem parar

Deitado para descansar a tarde,quando as circunstâncias permitem

Sentado conversando com alguém

Sentado calmamente após o almoço, sem ter bebido álcool

Dirigindo seu carro, enquanto para por alguns minutos no trânsito intenso

Pontuação total Fonte: Bertolazi et al.13.

A polissonografia é um exame não invasivo e o mais

adequado para a investigação de vários DS. O paciente deve dormir num laboratório de sono, hospital ou instituição equipada (polissonografia tipo I) ou, com alguns parâmetros de medição a menos, pode-se fazer o exame no domicílio (polissonografia tipo II).

Registram-se durante o exame completo a atividade cerebral através da Eletroencefalografia (EEG), os movimentos oculares através da Eletro-oculografia (EOG), a atividade muscular pela Eletromiografia (EMG) do queixo

e membros inferiores; os distúrbios respiratórios através do fluxo aéreo nasal e oral independentes; o esforço respiratório por cintas torácica e abdominal; além do Eletrocardiograma (ECG), oximetria, registro da intensidade do ronco por sensor e registro de decúbito.

A terapia dos DS deve ser individualizada e inclui o uso racional de medicamentos. A higiene do sono é uma variedade de diferentes práticas visando um sono noturno regular, qualidade de vida e estado de alerta durante o dia todo. Boas práticas de higiene do sono incluem orientações15 do Quadro 2.

Quadro 2: Orientação da higiene do sono

Higiene do Sono • Mantenha regularidade horário para dormir e acordar.

• Permaneça na cama somente o necessário. Evite ler, ligar computador ou celular, assistir TV no quarto. • Procure manter o quarto limpo, arejado, silencioso e sem luminosidade.

• Evite bebidas estimulantes, como café, chocolate, chá mate, chá preto, energéticos e bebidas alcoólicas em geral, principalmente após às 17h. • Não faça uso de medicamentos para dormir sem consentimento do seu médico.

• Procure relaxar a mente e o corpo após o jantar, que deverá ser leve. • Resolva problemas no decorrer do dia, nunca os leve para a cama com você. • Evite cochilar ou dormir durante o dia.

• Conheça e controle seu estado emocional. Fonte: Dados da pesquisa.

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2.3 Análise de literatura e contraponto na prática clínica

Na consulta ao livro-texto mais extenso sobre as bases da medicina do sono, Principles and Practice of Sleep Medicine16,

surpreende a ausência total da palavra “dizziness” no glossário. Feito levantamento na base Pubmed em 28/3/2015, no cruzamento dos termos “dizziness” e “sleep disorders”, obtivemos 609 trabalhos, nenhuma revisão.

Frente às breves descrições de SV e DS acima, é importante mencionar a complexidade individual da farmacologia de ambas as condições, havendo medicamentos utilizáveis nos dois quadros, como o clonazepan. Contudo, com eventos adversos descritos em bula dos medicamentos direcionados ao tratamento da SV, pode-se observar sonolência na grande maioria deles, assim como a tontura consta dentre as reações adversas dos medicamentos usados nos DS.

Um estudo de casos avaliou 12 pacientes adultos, 7 com queixa vestibular impactando no sono e 5 pacientes com queixa principal de DS apresentando SV concomitante. Foram submetidos ao diagnóstico clínico, propedêutica armada a cada caso e a orientação a todos os pacientes incluiu a higiene do sono. Como resultado, houve benefício aos pacientes com alterações do equilíbrio e DS, especialmente idosos, ansiosos e polimedicados. Ressalva-se a necessidade de mais tempo a ser despendido na aplicação de questionários do sono e orientação da higiene do sono, tanto nos pacientes com DS como nos de vestibulopatias15.

Em uma revisão recente, específica sobre a doença de Ménière, a higiene do sono também consta como um dos recursos terapêuticos, juntamente a outras medidas conservadoras como a dieta pobre em sal, supressão do estresse e cafeína17. As xantinas, aliás, são sabidamente

determinantes de sintomatologia das vestibulopatias e DS. Beta-histina, benzodiazepínicos e anti-eméticos são utilizados para o controle sintomático dos sintomas da doença de Menière. Coincidentemente, todos podem levar à sonolência como evento adverso17.

2.4 Sono

O sono é um estado funcional, reversível e cíclico, com algumas manifestações comportamentais características, como uma imobilidade relativa e o aumento do limiar de resposta aos estímulos externos18,19. O sono tem função

restauradora das funções fisiológicas e alterações deste padrão acarretarão em desequilíbrio homeostático com alterações nas funções do sistema imunológico, como também em humor, irritabilidade, habilidade de adaptação, desempenho, resposta comportamental, o que pode também levar a quadro de tontura e/ou vertigem9.

Estudo recente avaliou a função vestibular em pacientes com SAOS em dois grupos: SAOS leve e SAOS moderada-grave. Os autores chegaram a quatro principais resultados: 1) O índice de apneia-hipopneia foi significativamente correlacionado com a idade e o índice de massa corporal, ao

passo que não se correlacionou com a pontuação da Escala de Epworth. 2) Houve diferença significativa em grupos de estudo quanto aos escores no inquérito utilizado sobre sintomas vestibulares, e pacientes com SAOS de moderada a grave apresentaram escores mais altos.

3) As taxas de nistagmo e “paresia de canal” foram significativamente maiores nos pacientes com SAOS de moderada a grave, em comparação com o grupo de SAOS leve.

4) Os resultados do teste de Romberg, exames cerebelares e provas posicionais foram normais em ambos os grupos. Sendo assim, as conclusões foram: 1) respostas vestibulares anormais são comuns em indivíduos que sofrem de OSA (Obstructive Sleep Apnea) grave e 2) tonturas têm efeitos negativos sobre a qualidade de vida desses indivíduos20.

2.5 Equilíbrio

O equilíbrio corporal é dependente da integração dos sistemas vestibular, visual, somatossenssorial com a coordenação central e da musculatura tônica21 e as

perturbações do equilíbrio são resultado do conflito nas integrações destes sistemas. Sintomas neurovegetativos como náusea, vômito, suor, palidez, pré-síncope, zumbido, perda auditiva, dificuldade para entender sons, hipersensibilidade a sons, alterações da memória, dificuldade de concentração, além da fadiga física são frequentemente associados à tontura.

A tontura pode ser de origem primária (no sistema vestibular) ou secundária (correlacionadas com outras disfunções orgânicas), como na hipoglicemia, diabetes, hipersulinemia, insulinopenia, hiper ou hipotireoidismo, hiperlipidemia, climatério, disfunções das gônadas, hipertensão ou hipotensão arterial, arteriosclerose, anemia, afecções cervicais, traumatismos cefálicos, infecções bacterianas ou virais, uso ou abuso de fumo, café, álcool ou drogas ilícitas, erros alimentares, alergias, diversas doenças do sistema nervoso central, distúrbios psiquiátricos e envelhecimento7. O uso

de medicamentos (anticoncepcionais, anti-inflamatórios não hormonais, antibióticos, quimioterápicos, além de sedativos e tranquilizantes, dentre outros) ou também de multimedicação pode gerar tontura e, muitas vezes, sonolência como evento adverso ou sintomatologia paralela.

As medidas essenciais para o controle das doenças vestibulares consistem em evitar desencadeantes alimentares (chocolate, cafeína, álcool, refrigerantes), praticar atividade física, regularizar as condições hormonais femininas, reduzir o estresse, além de melhorar a qualidade de sono7,15.

2.6 Correlação entre Distúrbio do Sono e Sintomas Vestibulares

A correlação de DS e SV existe em muitas condições clínicas, porém para o médico há uma preocupação em definir qual o fator desencadeante e se existe interação sintomática entre eles. Quadros como a migrânea vestibular e a tontura crônica subjetiva têm precipitação ou severidade

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reconhecidamente relacionadas a alterações do sono.

Enxaqueca vestibular é considerada a segunda causa mais comum de vertigem e a causa mais comum de vertigem episódica espontânea. Este quadro muitas vezes se mescla à Doença de Menière, na qual a enxaqueca clássica parece ser mais prevalecente do que na população em geral17. A

duração das crises varia de segundos a dias, geralmente com duração de minutos a horas, e principalmente podem ocorrer independentemente de dores de cabeça. Alterações do ritmo de sono/vigília são determinantes das crises. Medicamentos contra a enxaqueca não são eficazes no manejo da crise, porque o manejo principal é com medicação profilática e medidas não farmacológicas, como alimentação, sono, higiene e prevenção de gatilhos. A reabilitação vestibular pode ser útil quando há complicações, como perda de confiança no equilíbrio ou dependência visual22. Já a Tontura Crônica Subjetiva tem

sido abordada na literatura por sua prevalência, contudo as comorbidades abrangidas pelos autores mais recentes não incluem os DS23.

2.7 SV/DS por Disfunção Temporomandibular e Cervicopatias

A Disfunção Temporomandibular (DTM) está

frequentemente associada a sintomas otológicos e odontológicos, zumbido, otalgia, plenitude auricular e, frequentemente, pode levar à tontura e vertigem. Estima-se que a prevalência de dor de ouvido, zumbido e tontura varia de 33% a 76% nos pacientes com DTM24. As DTM podem ser

originadas devido à pressão do deslocamento distal e posterior do côndilo mandibular sobre o nervo aurículo-temporal e sobre a tuba auditiva, sendo responsável pelos sinais e sintomas relatados. A contratura dos pacientes com bruxismo e nos pacientes com estresse é um dos desencadeantes da DTM25.

A íntima correlação das inserções musculares da face, crânio e pescoço promove contraturas em função da posição antálgica e de conforto, gerando piora da tontura e demais sintomas audiovestibulares por acometimento cervical, em caso da não abordagem terapêutica da DTM.

Durante o sono, muitos são os fatores que deflagram piora deste quadro: mudança de travesseiros de viajantes, desgaste dos travesseiros e colchões, altura inadequada dos travesseiros promovida por pacientes com refluxo gastroesofágico24,25. A

Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) também pode ser desencadeada ao se movimentar a cabeça na cama, sendo frequente seu aparecimento relacionado ao sono. Além da orientação medicamentosa no tratamento, são importantes as manobras e a reabilitação vestibular (RV).

O uso de computadores e celulares na cama e o hábito de assistir TV, além de repercutir na coluna cervical gerando tontura, interferem na produção da melatonina, liberada na deflagração dos eventos neurológicos do sono25. Pacientes

amblíopes ou com alterações na refração podem apresentar tontura frente ao mesmo estímulo. Daí a orientação de higiene do sono ser bastante útil também nestes casos.

Outros quadros de tontura de origem cervical ocorrem à noite. A vertigem por mudança de posição ocorre na segunda metade da noite ou logo antes de se levantar. Também ao acordar, muitos idosos passam a apresentar hipotensão postural.

2.8 Faixa etária

A tontura é um sintoma muito prevalente em idosos, que relatam dificuldades de concentração, perda de memória e fadiga, gerando insegurança psíquica, ansiedade, angústia, irritabilidade, perda de confiança, depressão ou pânico26,

havendo maior possibilidade de quedas e fraturas. Muito se deve à instabilidade postural27,28. Outras doenças que

aparecem nesta época e a “polifarmácia” podem levar a SV e DS. Nos idosos, é bem conhecido um padrão de sono diferenciado por motivos diversos.

A literatura internacional, referindo-se ao idoso, assume o termo “polifarmácia”, que designa o grande número de fármacos hoje disponíveis e largamente utilizados por um mesmo paciente. Muitos dos problemas do idoso podem ser decorrentes do uso inadequado da medicação, por efeitos adversos raros ou frequentes, por dosagem irregular (por esquecimento do paciente, falta de atenção do cuidador ou tentativa de retirada inadvertida), dificuldade com leitura das bulas. Além disso, na senescência o metabolismo hepático e renal se tornam menos eficientes, especialmente na utilização de quatro ou mais fármacos, predispondo a interações medicamentosas29.

Os problemas observados, além dos previstos em bula, decorrem da dificuldade em se ler as informações de bula, dificuldade em identificar o medicamento em caixas da mesma cor, possibilidade de usar a mesma droga em duplicidade, com diferentes nomes comerciais, indicada por fontes diferentes (um médico e um vizinho, por exemplo). Tais distorções são graves e podem gerar alterações do sono e do equilíbrio, e estes são os pacientes que mais se beneficiam de medidas simples como a orientação da higiene do sono.

Na pesquisa da interação SV e DS, há um relato da utilidade da aplicação da escala de Epworth em idosos disacúsicos com zumbido30.

Já foi descrito que mais de 80% dos jovens deprimidos

apresentam alterações do sono, como hipersonia, além de tontura, alterações de apetite, do peso, isolamento, dificuldade de concentração, prejuízo do desempenho escolar e baixa autoestima31. Em nossa prática diária, observamos nos

últimos anos aumento da incidência de SV e DS por jet

lag, por excesso de utilização de computadores e celulares,

através do estímulo visual contínuo de telas iluminadas e posição cervical inadequada. Ansiedade/depressão, estresse, imaturidade e insegurança, e até “bullying” geram estes sintomas.

Relacionado a adolescentes, jovens e pacientes notívagos, os Transtornos do Ciclo Circadiano podem ocorrer naqueles que trabalham à noite de forma intermitente, como por

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exemplo em eventos e plantões. A quebra de regularidade nos horários determina sintomas diurnos como tontura29.

Estudos relacionados a mulheres no climatério e mulheres na faixa etária laboral detectaram melhora na qualidade do sono após orientação da higiene do sono32.

2.9 Distúrbios psicoafetivos

Ansiedade e depressão causam e ajudam a manter alterações no SNC tanto para as vias reguladoras do sono como as do equilíbrio. Podem ser manejadas com psicoterapia e farmacoterapia23. Após uma crise vertiginosa, seja de

origem vestibular ou não, o indivíduo, mesmo com história psiquiátrica normal, pode desenvolver sinais de ansiedade, pânico e agorafobia.

A medicação utilizada pode ser também o fator causal de SV e DS, como muitos antidepressivos. Benzodiazepínicos são indutores e ajudam a manter o sono. O seu uso prolongado é responsável por eventos adversos, dependência química, sonolência diurna, tontura, síndrome de abstinência, hipotensão, distúrbios da memória, podendo provocar mudanças na produção de melatonina.

3 Conclusão

A interação sintomática de SV e DS é frequente e deveria ser motivo de abordagem diagnóstica e terapêutica conjunta. A recomendação da higiene do sono pode beneficiar pacientes com alterações do equilíbrio e sono, especialmente idosos, ansiosos e polimedicados.

Concluímos que, sendo um achado recorrente na prática, este tema deveria ser alvo de mais estudos e publicações.

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Referências

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