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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO. VITOR GUSTAVO DA SILVA. A GESTÃO DO TELETRABALHO. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2014.

(2) 2. VITOR GUSTAVO DA SILVA. A GESTÃO DO TELETRABALHO. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, da Universidade Metodista de São Paulo, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Organizações.. Gestão. de. Orientador: Prof. Dr. Almir Martins Vieira. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2014.

(3) 3. FICHA CATALOGRÁFICA Si38g. Silva, Vitor Gustavo da A gestão do teletrabalho / Vitor Gustavo da Silva. 2014. 111 p. Dissertação (mestrado em Administração) - Faculdade de Administração e Economia da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2014. Orientação: Almir Martins Vieira 1. Teletrabalho 2. Gestão de pessoas 3. Inovações tecnológicas (Administração) 4. Organização virtual (Empresas) 5. Telegerente I.Título. CDD 658.

(4) 4. A dissertação de mestrado sob o título “A GESTÃO DO TELETRABALHO”, elaborada por Vitor Gustavo da Silva foi apresentada e aprovada em 26 de Março de 2014, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Almir Martins Vieira (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Luciano Sathler Rosa Guimarães (Titular/UMESP) e Profa. Dra. Raquel da Silva Pereira (Titular/USCS).. __________________________________________ Prof. Dr. ALMIR MARTINS VIEIRA Orientador e Presidente da Banca Examinadora. __________________________________________ Prof. Dr. ALMIR MARTINS VIEIRA Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-graduação em Administração Área de Concentração: Gestão de Organizações Linha de Pesquisa: Gestão de Pessoas e Organizações.

(5) 5. DEDICATÓRIA. Ao autor e consumador da vida, que idealizou um ser tão complexo e indecifrável como o homem, que somente Ele pode discernir seu coração em sua linguagem mais profunda, mais íntima e que nenhum outro homem pode imitar..

(6) 6. AGRADECIMENTOS. Com alegria concluo esta etapa graças ao apoio de minha preciosa esposa Bruna, que suportou esta longa jornada ininterrupta de estudos, leituras e pouco tempo para dormir.. A torcida e compreensão de familiares e amigos aos momentos de isolamento certamente contribuiu para chegar até aqui.. A inspiração e incentivo dos professores e do orientador Almir Vieira foram determinantes nesta etapa acadêmica.. A estes ficam meu respeito e gratidão!.

(7) 7. RESUMO. A aplicação do teletrabalho no Brasil tem progredido e tem sido foco de estudos organizacionais no contexto da flexibilização do trabalho, por despertar novas inquietações quanto às suas vantagens e desafios para a gestão de pessoas. Esta dissertação é o resultado de uma pesquisa que teve por objetivo identificar quais os aspectos que caracterizam o trabalho do telegerente na gestão de teletrabalhadores. Como referencial teórico, foram adotados os trabalhos de Antunes (2009), para apresentação dos sentidos e significados do trabalho nos tempos atuais, e de Nilles (1999), no tocante ao teletrabalho e ao papel do telegerente. Trata-se de um estudo exploratório de cunho qualitativo, que se valeu de entrevista semiestruturada com cinco telegerentes de empresas de diferentes segmentos de mercado. Por meio dos dados dos entrevistados, pode-se caracterizar a atuação do telegerente a partir das seguintes categorias: gestão flexibilizada, modelo de gestão, catalisação de resultados e perfil da telegerência. Os resultados demonstraram que o teletrabalho surge como uma alternativa muitas vezes informal, acordado entre gestores e subordinados assim, não se observou na amostra pesquisada um preparo específico para o exercício da telegerência, estando sujeitos a problemas inerentes ao novo regime de trabalho. Para os entrevistados, a telegerência surge de forma natural e sua atuação é intuitiva, quando o teletrabalho parte de uma decisão organizacional há ocorrência de treinamentos para capacitação da telegerência, por compreender ser essa decisão alinhada com seus objetivos estratégicos. Palavras-chave: Teletrabalho. Telegerência. Gestão do teletrabalho..

(8) 8. ABSTRACT. The application of telework in Brazil has progressed and has been the focus of organizational studies in the context of work flexibility, to create new concerns about its advantages and challenges for people management. This dissertation is the result of a research that aimed to identify what aspects characterize the work of telemanager in teleworkers management. The theoretical were adopted work of Antunes (2009) to present the meanings of work in the current times, and Nilles (1999), with regard to teleworking and the role of telemanager were adopted. This is an exploratory study with qualitative approach that drew upon semi-structured interviews with telemanagers of different market segments. Through the data of interviewees, we can characterize the performance of the telemanager from the following categories: relaxed management, management model, results catalyst and telemanager profile. The results showed that teleworking emerges as an often informal alternative agreed between managers and subordinates, so not observed in the sample there is no specific preparation for the exercise of telemanagement and are subject to problems inherent in the new working procedures. For the interviewees, telemanagement arises naturally and its performance is intuitive, when teleworking is an organizational decision, a skill building training of telegemanagement occurs, once it is understood as a decision aligned with its strategic objectives. Keywords: Teleworking. Telemanagement. Teleworking Management..

(9) 9. LISTA DE QUADROS. Quadro 1: Motivos para minimizar as idas ao trabalho ...................................................... 38 Quadro 2: Vantagens e desafios organizacionais do teletrabalho ..................................... 42 Quadro 3: Aspectos positivos e negativos do teletrabalho para a empresa ...................... 49 Quadro 4: Características do Teletrabalhador ................................................................... 51 Quadro 5: Aspectos positivos e negativos do teletrabalho para o teletrabalhador ........... 55 Quadro 6: Atividades e competências do telegerente ........................................................ 66 Quadro 7: Contrapontos do teletrabalho ............................................................................ 70 Quadro 8: Perfil dos telegerentes ....................................................................................... 78 Quadro 9: Roteiro de entrevista .......................................................................................... 80.

(10) 10. LISTA DE TABELAS. Tabela 1: Estoque de Empregos Formais por Setor de Atividade (2010/2011)................. 29 Tabela 2: Estoque de Empregos Formais por Setor de Atividade (2011/2012)................. 30.

(11) 11. SUMÁRIO. RESUMO..................................................................................................................... 7 ABSTRACT................................................................................................................. 8 LISTA DE QUADROS ................................................................................................. 9 LISTA DE TABELAS ................................................................................................ 10 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 15 2.1 TRABALHO E COTIDIANO .............................................................................. 15 2.1.1 Sentidos e Significados do Trabalho ......................................................... 18 2.1.2 Precarização e Flexibilização do Trabalho ................................................ 25 2.1.3 Conjuntura Nacional .................................................................................. 27 2.1.4 Impactos da Tecnologia no Trabalho ........................................................ 33 2.2 TELETRABALHO ............................................................................................. 35 2.2.1 Definições para Teletrabalho .................................................................... 37 2.2.2 O Teletrabalhador ..................................................................................... 50 2.2.3 A Gestão do Teletrabalho: O Telegerente................................................. 57 2.2.4 Fragilidades do Teletrabalho ..................................................................... 67 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 75 3.1 O INSTRUMENTO ........................................................................................... 76 3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES .................................................. 77 3.3 ROTEIRO DE ENTREVISTA............................................................................ 79 4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ................................ 82 4.1 GESTÃO FLEXIBILIZADA ............................................................................... 82 4.2 MODELO DE GESTÃO .................................................................................... 86 4.3 CATALISAÇÃO DE RESULTADOS ................................................................. 90 4.4 PERFIL DA TELEGERÊNCIA .......................................................................... 94 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 98 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 103.

(12) 11. 1 INTRODUÇÃO. O mundo do trabalho tem sofrido transformações com o advento das novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs), impactando diretamente na dinâmica do mercado, elevando a competitividade entre as empresas, que disputam clientes não só com empresas nacionais pela intensificação da globalização. A globalização está intimamente relacionada à transformação da cultura do trabalho, na qual se fortalece o sentido de busca por maior eficiência e produtividade (PYÖRIÄ, 2011). As metamorfoses que o mundo do trabalho tem sofrido ao longo das últimas cinco décadas pelo acúmulo de tecnologia, exigiu das organizações uma gestão flexibilizada da produção, configurando novos tipos de organização do trabalho, dentre elas, o teletrabalho (TOSE et al., 2009; SOUZA NETO, 2004). O. avanço. tecnológico. influenciou. os. processos. informacionais,. automatizando processos e expandindo sua capacidade de processamento e armazenamento,. e. também,. os. processos. organizacionais,. viabilizando. a. conectividade entre computadores, sistemas e redes (SANTOS, 2011). O desenvolvimento das tecnologias de informações móveis, isto é, que permitem o deslocamento mantendo sua funcionalidade e conectividade, ampliou o acesso ao trabalho, sendo possível a mobilidade de diversas tarefas corriqueiras para além do local tradicional de trabalho. Ainda segundo a autora (SANTOS, 2011, p. 16), o crescente uso destas tecnologias no contexto brasileiro “apoiam e agilizam a tomada de decisão e também oferecem novas oportunidades de negócio juntos a seus clientes, fornecedores e parceiros”. Cada vez mais as empresas brasileiras têm feito uso de diferentes aplicações das TIMS, tais como e-mail móvel, mensagens instantâneas e videomensagens; navegação na internet; meio de pagamento de compras; localização de pessoas e veículos por meio do Global Positioning System ou Sistema de Geoposicionamento Global (GPS); consulta a transações financeiras; informações on-line sobre trânsito [...] (SANTOS, 2011, p. 15). O elevado custo dos imóveis comerciais, instalações e manutenção, também impactam diretamente na decisão favorável por adotar regimes de teletrabalho, visto.

(13) 12. que, no teletrabalho, há uma considerável redução da necessidade de dispor de infraestrutura predial e tecnológica para alocar os funcionários. Neste contexto, estas tecnologias têm-se tornado acessíveis pelo barateamento e menor dificuldade de aquisição, levando as empresas a considerar a flexibilização do trabalho como uma alternativa coerente com sua capacidade de investimento e gestão (GREEN et al., 2012). Tais custos são eliminados ou divididos com os trabalhadores que se beneficiam das vantagens provenientes do teletrabalho. Além dos custos, o indivíduo permanece como um tema importante na política de mercado de trabalho (PYÖRIÄ, 2011). As mudanças na forma de se trabalhar influenciam diretamente as relações de trabalho. As estratégias de gestão de pessoas devem desenvolver-se juntamente com os novos regimes de trabalho. Novos acordos de trabalho devem ser formulados, contemplando as garantias legais para ambas as partes e, estabelecendo processos de gestão, num contexto em que a presença física do empregado não é mais exigida como condição sine qua non. Segundo Bernardino (2010), o teletrabalho é utilizado principalmente por empresas que visam reduzir custos e suprir a demanda por mão-de-obra qualificada, para o alcance de seus objetivos estratégicos. O Brasil já é apontado com o terceiro país que mais utiliza o teletrabalho (NOGUEIRA; PATINI, 2012), e uma série de argumentações favoráveis, cautelosas ou pessimistas, permeiam as discussões nos meios empresarial, acadêmico e dos noticiários. A administração pública também caminha nesta direção, ao buscar maior eficácia no que tange à sua razão de ser, isto é, atender as demandas sociais em seus diferentes setores de atuação. Manifestam-se novos desafios à gestão de pessoas, principalmente em relação à gerência exercida via teletrabalho. Os paradigmas da supervisão, do controle, da presença, da descentralização, da autonomia no trabalho, da confiança no trabalhador, tomam a pauta de uma discussão ainda incipiente no cenário brasileiro.. PROBLEMA DE PESQUISA. As transformações do mundo do trabalho, impulsionadas pelo implemento de novas tecnologias de informação e comunicação, demandam novas formas de.

(14) 13. organização do trabalho e estratégias de gestão de pessoas. Adotar o teletrabalho, que se manifesta de forma crescente em diversas organizações, requer novas formas de gestão. Esta pesquisa buscou responder o seguinte questionamento: como. se. caracteriza. o. trabalho. de. gestores. responsáveis. por. gerir. teletrabalhadores?. OBJETIVO GERAL. Identificar quais são os aspectos que caracterizam o trabalho do telegerente na gestão de teletrabalhadores.. OBJETIVOS ESPECÍFICOS. Descrever como telegerentes gerem teletrabalhadores. Descrever de que forma os gestores se preparam para a telegerência.. JUSTIFICATIVA. Os constantes avanços tecnológicos acessíveis às grandes massas da população e às pequenas e médias empresas transformaram as relações sociais, principalmente sobre as relações de trabalho e sua organização, configurando novas formas de organização do trabalho, dentre elas, o teletrabalho. Em. tempos. nos. quais. os. discursos. da. redução. de. custos,. da. sustentabilidade, da qualidade de vida e mobilidade urbana ganham forças em nossa. sociedade,. o. teletrabalho. demonstra. potencialidades. de. aplicação. convergentes com este discurso. O teletrabalho se apresenta como uma alternativa ao trabalho presencial regularmente vinculado as dependências físicas do empregador (GASPAR et al., 2012). Para Nilles (1997), a adoção do teletrabalho gera impactos no modelo de.

(15) 14. negócio das organizações e, segundo Costa, Borges e Freitas (2011, p. 366) “o teletrabalho envolve a transformação do sentido do trabalho, a construção de novas subjetividades e um novo relacionamento com o trabalho”. Com esta pesquisa, busca-se contribuir para a discussão do teletrabalho como uma alternativa que complementa os recursos estratégicos de gestão de pessoas, convergente com os interesses organizacionais e individuais. Para tanto esta dissertação está organizada em quatro seções. Na primeira seção, o presente estudo buscou compreender a relevância do trabalho no contexto social, dos tempos remotos aos dias contemporâneos, os sentidos e significados do trabalho para o homem, bem como os aspectos próprios da flexibilização e precarização do trabalho. Ainda buscou-se caracterizar a questão do emprego na conjuntura nacional brasileira e o impacto da tecnologia no trabalho. Na segunda seção, apoiado em recentes publicações, fundamentou-se os conceitos. do. teletrabalho,. investigando. o. teletrabalho. na. perspectiva. do. teletrabalhador e os desafios da gestão para os telegerente responsáveis por teletrabalhadores. Apresentam-se também as fragilidades do teletrabalho na concepção dos teóricos. Na terceira seção, os procedimentos metodológicos da pesquisa qualitativa, o perfil dos entrevistados e o roteiro de entrevistas com base no aporte teórico levantado na seção anterior. Na quarta seção, apresenta-se a análise dos resultados e discussões com base nos dados coletados a partir das entrevistas com telegerentes responsáveis por teletrabalhadores. Por fim, as considerações finais, limitações desta pesquisa e indicações de estudos futuros..

(16) 15. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. 2.1 TRABALHO E COTIDIANO. O trabalho está presente em toda a história da humanidade e está associado desde sua natureza para subsistência até o mercantilismo. Até mesmo no relato bíblico do livro de Gênesis encontra-se a narrativa de Adão sendo incumbido de cultivar e guardar o jardim do Éden, além de ter de nomear cada ser vivente que Deus havia criado (BÍBLIA, 1999). Algumas desprezavam,. civilizações. por. enalteciam. considerá-lo. simplório. o. trabalho, diante. de. enquanto tarefas. outras,. o. reflexivas. e. contemplativas. Trabalhar significaria não dispor de tempo “ocioso” para o exercício da reflexão. Para estas civilizações que o desprezavam, o trabalho era feito por escravos ou por “homens livres”. Contudo estes “homens livres” não compunham os altos extratos sociais e não eram considerados cidadãos (KUBO; GOUVÊA, 2012). Já os ociosos, nobres e religiosos, se ocupavam com a guerra, a política, a cultura e o sacerdócio (CARMO,1992). Segundo Vieira e Filenga (2010), o termo “trabalho” está associado ao longo da história à ideia de tortura, de sofrimento. Sua origem remete ao substantivo “tripalium” que se tratava de um instrumento utilizado na antiguidade para atar condenados ou animais para serem ferroados. O trabalho também foi fator de segregação, distinguindo nas sociedades prémodernas os trabalhadores como inferiores, pertencentes ao reino natural, não ao reino humano, por estarem presos às atividades de subsistência (GORZ, 2003). Entre a Idade Média e o Renascimento, lentamente ocorreram mudanças transformando a percepção do trabalho com o desenvolvimento das cidades e do trabalho livre, tornando-se admirável e fonte de crescimento das riquezas. No século XVI, a reforma protestante também contribuiu para mudança de sentido em relação ao trabalho como motivo de orgulho (CARMO, 1992). Em sua análise, o termo “trabalho” ganhou tanta amplitude ao ponto de aplicá-lo a qualquer ação que realizamos, assim, até mesmo a atitude intelectual, contemplativa, reflexiva, recebe a conotação de “trabalho intelectual”. Sua exaltação se tornou condição civilizatória.

(17) 16. e aqueles que não trabalham são considerados, e se consideram, vadios e improdutivos, marginalizados, à margem da sociedade, excluídos e não participantes do sistema social. O autor ainda destaca que, parte da sociedade crê no trabalho como capaz de atenuar a criminalidade, sendo ela motivada pela ociosidade, vinculando o “homem de bem” como aquele que trabalha (CARMO, 1992). Os autores Vieira e Filenga (2010) afirmam que o homem não é um ser passivo, mas, ativo, que age e modifica seu meio ambiente para a conquista de bens materiais e progresso, garantindo sua sobrevivência. O trabalho é uma necessidade básica, natural e constante dos seres humanos, sem a qual o homem não poderia evoluir, progredir ou muito menos adaptar o meio onde vive às suas vontades. O trabalho é, além de ação transformadora sobre a natureza, um modificador da maneira com que os homens pensam, agem e sentem, impossibilitando que os seres humanos permaneçam imutáveis ao fim de uma atividade qualquer (VIEIRA; FILENGA, 2010, p. 3).. Carmo (1992, p. 15), define trabalho como “toda atividade realizada pelo homem civilizado que transforma a natureza pela inteligência”. Trabalho é a ação racional e intencional que provisiona a realização das necessidades materiais e espirituais do indivíduo. Na concepção capitalista, o trabalho possui tanto valor que se torna “um símbolo de liberdade e da possibilidade do homem transformar a natureza, as coisas e a sociedade” (MELLO; MARÇAL; FONSÊCA, 2009, p. 311), mudando e moldando seu próprio destino. O trabalho acabaria por ser uma das principais fontes integradoras da sociedade (GORZ, 2003). Foi a partir do capitalismo industrial que o trabalho passou a ter atrelado a si o sentido econômico. Outrora, o trabalho não se confundia com o sentido contemporâneo da atualidade, vinculado a uma atividade econômica, que remunera ao trabalhador e este, por sua vez, vende seu trabalho. Gorz (2003, p. 211), elucida que “os primeiros industriais, nos séculos XVIII e XIX, tinham grandes dificuldades para obrigar sua mão-de-obra a trabalhar o dia inteiro, dia após dia”, ao ponto destes industriais falirem. Assim, as sociedades pré-modernas, trabalhavam bem menos do que nos dias contemporâneos..

(18) 17. Apoiado no tripé acúmulo de capital, matéria-prima e trabalho, o capitalismo trouxe considerável aumento de produção e rendimento oriundo do trabalho. Marcava-se o surgimento do emprego e dos salários (VIEIRA; FILENGA, 2010). Sistemas. de. produção. como. o. taylorista/fordista. e. toyotista. trouxeram. transformações radicais para a indústria com a racionalização do trabalho e o aumento de produtividade (ONO; BINDER, 2010). Souza Neto (2004) acrescenta que estas teorias e outras mais foram constantemente utilizadas para compreender e reorganizar a dinâmica do trabalho. Ao longo da história, teorias administrativas, como o empowerment, se preocuparam em descobrir e aplicar mecanismos que possibilitassem extrair maior proveito e produtividade dos recursos materiais e humanos. De acordo com Gorz (2003, p. 211), a “sociedade do trabalho”, isto é, a sociedade. contemporânea. que. vive. do. trabalho,. considera. o. trabalho. simultaneamente como “um dever moral, uma obrigação social e também a via para o sucesso profissional”. Carrega em si a ideologia de que: . quanto mais cada um trabalha, melhor todos vivem;. . aqueles que trabalham pouco, ou aqueles que não trabalham, prejudicam a coletividade e não merecem serem seus membros;. . quem trabalha como deve é socialmente um vencedor e quem não obtém sucesso é responsável por seu insucesso.. Antunes (2009; 2010) discorre sobre o que vem a ser a “classe-que-vive-dotrabalho”, termo contemporâneo para classe trabalhadora do conceito marxista que abarcava o proletariado industrial. O autor apresenta uma visão ampliada para a classe trabalhadora carregada de complexidade, fragmentação e heterogeneidade, que inclui todos aqueles que vendem sua força de trabalho em troca de salário, isto é, além dos trabalhadores da indústria, inclui o proletariado rural e os assalariados prestadores de serviços, também incorporando trabalhadores de regime não integral, tidos como trabalhadores precarizados. Se tivesse dinheiro suficiente para ter uma vida confortável sem a necessidade de trabalhar, o que você faria com relação ao seu trabalho? Este tipo de pergunta, feita por diversos pesquisadores, apontou que cerca de 80% das.

(19) 18. pessoas continuariam trabalhando de alguma forma e as principais razões são: para manter vínculos sociais, para ter uma ocupação e evitar o tédio, pelo sentimento de vinculação, para ter um objetivo na vida (MORIN, 2001). Nota-se, a partir deste resultado, o quanto o trabalho está engendrado ao cotidiano do homem contemporâneo, e justifica inúmeras pesquisas sobre sua relevância e impactos no convívio social, familiar e político, sendo apropriado compreender os sentidos e significados do trabalho para o homem.. 2.1.1 Sentidos e Significados do Trabalho. É notória a exploração da força de trabalho pelo capital em prol da maximização dos lucros. Então, por que esta relação dita o ritmo das sociedades? Qual é a importância do trabalho na vida de um indivíduo? O quanto este indivíduo é dependente do trabalho? Qual é o sentido de se subjugar as condições da relação de trabalho, certo que nem sempre há uma relação equitativa, justa e que degrada o indivíduo frente ao poder exercido pelo empregador? Qual é o sentido do trabalho para o indivíduo? Se há uma ambiguidade nesta relação, é preciso entendê-la para aprofundar esta reflexão, para isso, pode-se valer das concepções de sentidos e significados do trabalho dos pesquisadores a seguir. Em sua definição de trabalho, Carmo (1992), afirma ser: [...] toda atividade realizada pelo homem civilizado que transforma a natureza pela inteligência. Há mediação entre o homem e a natureza: domando-a ele a seu desejo, visa a extrair dela sua subsistência. Realizando essa atividade, o homem se transforma, se autoproduz e, ao se relacionar com outros homens, na realização da atividade, estabelece a base das relações sociais (CARMO, 1992, p. 15). Podem-se destacar as palavras de Carmo (1992) quando se refere ao homem como capaz de transformar a si pelo trabalho, de se autoproduzir. Santos Neto (2004) afirma que a “concepção do ser humano vai sendo construída ao longo da vida do sujeito: desde a gestação na barriga materna, passando pela família, pelos meios de comunicação, pela escola, pela religião [...]”. Como camadas, estas múltiplas experiências resultarão em diferentes formas de leitura e compreensões de.

(20) 19. mundo, somadas a características singulares do indivíduo, formando-o ser humano. Morin (2001), também corrobora com este conceito dizendo que o trabalho ajuda o indivíduo a descobrir e formar sua identidade. Para Vieira e Filenga (2010, p. 2) “o trabalho é caracterizado como atividade humana por excelência, pela qual o ser humano modifica tanto a si mesmo quanto ao mundo”. Ao refletir sobre as concepções do trabalho, Kubo e Gouvêa (2012) discorrem sobre três atividades humanas fundamentais, sendo: labor, trabalho e ação. . O labor compreende toda ação metabólica do desenvolvimento humano, de seu nascimento a sua morte.. . O trabalho distingue-se por ser a parte artificial da existência humana, na qual ele transforma o mundo natural para sua sobrevivência que transcende a vida individual.. . A ação contempla as relações de convívio entre os indivíduos.. Segundo Morin (2001, p. 12) “o trabalho pode ser agradável ou desagradável; ele pode ser associado ou não a trocas de natureza econômica. Ele pode ser executado ou não dentro de um emprego formal tradicional”. Sendo assim, o trabalho possui relevância para a subsistência do homem e perpetuação de sua prole de modo que, para grande parte dos indivíduos trabalho e emprego tornaramse a mesma coisa (ANDRADE; TOLFO; DELLAGNELO, 2012). Kubo e Gouvêa (2012) destacam que o trabalho possui principal papel na família na visão protestante germânica, por prover a subsistência e padrão de vida familiar. Os autores também ajudam a compreender o conceito de trabalho com as seguintes citam definições: . Trabalho pago: aquele baseado numa relação de empregado e empregador;. . Vida fora do trabalho: sendo as atividades domésticas, com familiares, amigos e comunidades.. Vale destacar que neste contexto também apresenta-se o trabalho voluntário, embora não seja foco desta pesquisa..

(21) 20. O trabalho exerce considerável influência sobre a motivação para o trabalho e representa valor de importância ao trabalhador (MORIN, 2001). Assim, se tivermos clareza quanto ao sentido do trabalho para a relação do indivíduo versus trabalho, será possível orientar as decisões e intervenções daqueles que atuam diretamente na organização do trabalho. Goulart P. (2009a) apresenta a seguinte definição para o significado do trabalho: Pode ser definido como um conjunto de crenças, valores e atitudes em relação ao ato de trabalhar, construídos antes e durante o processo de socialização do labor, com variações dependendo das experiências subjetivas e situacionais que ocorrem no âmbito do emprego e da organização (GOULART P., 2009a, p. 48).. Diante desta definição de Goulart P. (2009a) entende-se a complexidade do trabalho ao considerar um “conjunto de crenças, valores e atitudes” que nortearão a compreensão subjetiva do indivíduo ao trabalho, não permitindo uma simples resposta quanto sua importância e significado para o indivíduo. Cabe destacar que na abordagem do significado do trabalho não há total concordância quanto a sua formação no indivíduo entre os pesquisadores. Uma linha de pesquisadores sustenta que a formação do significado do trabalho parte da infância, absorvendo crenças e valores transmitidos pela família e dificilmente se modificam ao longo da vida. A outra linha prescreve a formação do significado do trabalho a partir das experiências que se têm relacionado ao trabalho e à interpretação da experiência, assumindo uma característica cognitiva que permite a alteração dos valores ao longo da vida (ANDRADE; TOLFO; DELLAGNELO, 2012). Ao pesquisar os motivos que levam o indivíduo a trabalhar, de acordo com Andrade, Tolfo e Dellagnelo (2012), são definidas duas orientações: . Função expressiva - é aquela que considera o trabalho com fonte de satisfação e realização pessoal e social, mostra-se relevante para construção de relacionamentos, alcance de prestígio.. . Função utilitária - tem cunho econômico, de forma que o indivíduo, por meio de sua ocupação, conquista o sustento próprio ou de sua família..

(22) 21. Destaca que a primeira função, a expressiva, é constantemente mais valorizada pelos trabalhadores, desvalorizando a segunda função em relação relacionada a ganhos materiais (ANDRADE; TOLFO; DELLAGNELO, 2012). Os estudos sobre os sentidos e significados do trabalho ganharam notoriedade nos anos 1970. Nas pesquisas de Hackman e Oldham (1976), pioneiros nos estudos sobre o sentido do trabalho, um trabalho tem sentido para uma pessoa quando ela o acha importante, útil e legítimo. De acordo com os autores Hackman e Oldham (1976), três aspectos são fundamentais para dar sentido ao trabalho:  A variedade de tarefas: múltiplas tarefas tendem a aumentar a complexidade de execução e exige múltiplas competências;  A identidade do trabalho: clara compreensão do resultado tangível do trabalho;  O significado do trabalho: a noção de relevância para o seu bem-estar ou de outro, na organização ou na sociedade.. Segundo Morin (2001), os pesquisadores Hackman e Oldham (1976) atribuíram a autonomia e o feedback como capazes de gerar no trabalhador o sentido de responsabilidade pela realização da tarefa e alcance dos resultados (parcial ou final). Os autores definiram autonomia como a margem de liberdade e independência para a realização do trabalho ou a percepção de sua liberdade e independência, e, o feedback como a capacidade do desenvolvimento das tarefas com a consciência dos resultados do seu trabalho. Morin (2001) baseada nos estudos de Emery (1964; 1976) e Trist (1978), sugere que o trabalho deve apresentar seis propriedades capazes de estimular o comportamento do trabalhador:. 1. A variedade e desafio: permite ao trabalhador utilizar diferentes competências para superação de desafios e resolução de problemas. Executar múltiplas tarefas permite ao trabalhador demonstrar, explorar e desenvolver seus talentos e competências..

(23) 22. 2. A aprendizagem contínua: o trabalho deve possibilitar a aprendizagem contínua como forma de promoção ao crescimento do trabalhador deve estimulá-lo a progredir. 3. Uma margem de manobra e autonomia: o trabalho deve contemplar a capacidade de reflexão e decisão do trabalhador. A maneira como o indivíduo trabalha e os resultados que alcança impactam diretamente na percepção de liberdade e independência, lhe acrescenta prazer e realização por fazer algo que lhe faz sentido. 4. O reconhecimento e o apoio: o reconhecimento e apoio dos esforços do trabalhador pela organização estimulam seu vínculo com a organização. Sua necessidade de manter vínculos sociais com diversos grupos sociais também é um fator motivador para o trabalho. 5. Uma contribuição social que faz sentido: compreende o sentido de contribuir de alguma forma para o bem social comum, atrelar a identidade social e dignidade pessoal. Expressa que o trabalho deve ser feito de maneira. socialmente. responsável.. A. autora. afirma. que. vários. administradores alegam sentir mal-estar por trabalharem em empresas com as quais não compartilha dos mesmos valores éticos e tolerarem práticas incorretas. 6. Um futuro desejável: o trabalho deve proporcionar o crescimento e alcance dos objetivos pessoais. O trabalho pode ser compreendido como um meio de emancipação para os jovens e um porto seguro para os trabalhadores com mais anos de mercado, garantindo não só sua subsistência, mas também subsidiar a realização de projetos pessoais.. O grupo de pesquisadores intitulados “Meaning of work international research team [MOW]”, de 1981 a 1983, conduziu uma das principais pesquisas desenvolvidas sobre os sentidos do trabalho. Esta pesquisa envolveu oito países e mais de 14 mil profissionais, sendo a maior do setor privado (MORIN, 2001; ANDRADE; TOLFO; DELLAGNELO, 2012). Segundo Goulart P. (2009b, p. 124) os pesquisadores do grupo MOW tiveram os seguintes objetivos: . Compreender a variedade de significados que os indivíduos e os grupos atribuem ao trabalho nas sociedades industriais;.

(24) 23. . Identificar padrões de significados que os indivíduos e grupos atribuem ao trabalho;. . Compreender as consequências dos padrões de significados do trabalho para os indivíduos, organizações e sociedades;. . Comparar os respectivos significados do trabalho em cada país investigado.. Não há unanimidade quanto aos termos “sentido” e “significado”, ora tratados como sinônimos, ora tratados como diferentes, porém complementares. Em suma “significado é a generalização e a fixação da prática social humana representada por instrumentos, técnicas, linguagem e relações sociais; e sentido é a razão, o motivo que incita a pessoa a realizar seu trabalho” (ANDRADE; TOLFO; DELLAGNELO, 2012). Para os pesquisadores do grupo MOW o termo significado do trabalho que compreende: . O significado individual, coletivo e social atribuído a ele;. . Sua utilidade pelas organizações;. . A autorrealização e satisfação oriunda da realização do trabalho;. . O sentimento de desenvolvimento pessoal/profissional;. . A liberdade e autonomia pertinentes à execução do trabalho.. Os pesquisadores estruturaram os dados da pesquisa em 12 fatores e os agruparam em três constructos, definindo as principais variáveis de análise sobre o sentido. do. trabalho. sendo. (GOULART. P.,. 2009b;. ANDRADE;. TOLFO;. DELLAGNELO, 2012;): a) Centralidade do trabalho: representa o grau de importância do trabalho para o indivíduo, dividido em centralidade absoluta e relativa: . Centralidade Absoluta: compreende ao grau de importância que o trabalho exerce sobre a vida do indivíduo como um todo, sendo mais ou menos importante..

(25) 24. . Centralidade relativa: corresponde ao grau de importância que o indivíduo atribui ao trabalho comparado a outras esferas da vida, configurando uma hierarquia de prioridades.. b) Normas. sociais. sobre. o. trabalho:. abrange. a. percepção. das. recompensas, dos direitos e dos deveres arrolados ao trabalho. c) Resultados valorizados do trabalho: revela os motivos que levam o indivíduo a trabalhar, dividindo-se em duas formas de orientação: instrumental e expressiva, que se sobrepõem de acordo com o momento em que o indivíduo vive: . Orientação instrumental: caracteriza-se pela busca de objetivos econômicos, como remuneração e segurança no trabalho, que garantam a vida do indivíduo por meio de uma ocupação rotineira e programada.. . Orientação expressiva: caracteriza-se pela autonomia e a realização de um trabalho interessante e que aplique suas competências, que lhe traga satisfação e prestígio.. Estes dois modelos de organização do trabalho, propostos pelos pesquisadores do grupo MOW (1987) e por Hackman e Oldham, no entendimento de Morin (2001), são convergentes por orientar as organizações de um método de organização do trabalho que produza no trabalhador não só a possibilidade de realizar um trabalho que tenha sentido, mas, também que promova o desenvolvimento de suas competências, exercer seu livre-arbítrio, de conhecer e alinhar a evolução de seus resultados. Mourão e Andrade (2001), destacam que há lacunas metodológicas nas pesquisas sobre o significado do trabalho. Mesmo existindo instrumentos de pesquisa validados, os autores não têm consenso sobre o método mais adequado de pesquisa, com frequência sugerem a utilização de métodos quantitativos e qualitativos que possam se completar, isso porque o significado do trabalho é um tema de natureza cognitiva, sendo preciso investigar atributos descritivos e valorativos. Os autores destacam a complexidade de estudo do tema pelas muitas variáveis que se abrem a cada estudo. Ainda que complexa, a reflexão sobre o tema é de suma importância para a compreensão das relações humanas e os valores.

(26) 25. sociais que balizam a vida humana, em especial, no que tange às relações de trabalho, as quais têm sido precarizadas e flexibilizadas em busca de melhores resultados organizacionais.. 2.1.2 Precarização e Flexibilização do Trabalho. Entende-se por precarização toda forma de trabalho diferente de regime integral formal direto, onde “estabelecem-se contratos de trabalho precários, subcontratação em cascata configurada por uma externalização de riscos e responsabilidades, com redução de salários e de empregos” (GOMES; THEDIMCOSTA, 1999, p. 413). Portanto, ao subcontratar ou terceirizar o trabalho, a empresa dilui custos, riscos e responsabilidades do negócio para com o trabalhador explorando sua força de trabalho. Diante dos entraves aos rígidos modelos de produção que favorecem o trabalhado e a condição de busca por aumento da capacidade produtiva, sem investimentos substanciais em tecnologia, tem-se como alternativa a precarização do trabalho (GOMES; THEDIM-COSTA, 1999). Nogueira e Patini (2012) e Costa (2013), legitimam que a pressão exercida pelo mercado conduz a novas formas de organização do trabalho, numa era de flexibilização do trabalho, não só da jornada de trabalho, mas também dos contratos de trabalho, mudando as relações de trabalho e até mesmo reduzindo direitos trabalhistas conquistados no século XX. Em tom irônico Thole, Ahmed e Höblich (2007, p. 130), nomeiam “San Precario” como o anjo guardião dos trabalhadores desprotegidos, protetor de “todos trabalhadores cujo contrato de trabalho está por um fio”. Este é o “santo” que olha por todos aqueles que estão em condições precárias de trabalho. Na análise de Mello, Marçal e Fonsêca (2009, p. 103) “o trabalhador se vê imerso em uma “nova” realidade em que o capital reina absoluto, tornando o trabalho cada vez mais abstrato, fato que o precariza”. O sistema de regulação de mercado baseado nos preceitos neoliberais, que defende a autorregulação do mercado com mínima interferência dos Estados, contribui para a desregulamentação e precarização das relações de trabalho (GOULART P., 2009a)..

(27) 26. Antunes (2009, p. 103) nomeia a noção de trabalho precarizado como “subproletariado moderno” e o “novo proletariado dos McDonald’s”. Incluí-se os trabalhadores assalariados na economia informal e solidária por estarem subordinados direta ou indiretamente ao sistema capitalista, e, também os trabalhadores desempregados, excluídos do processo produtivo pela crise do desemprego estrutural, isto é, trabalhos/profissões extintos/substituídos graças às transformações dos bens de produção e das inovações tecnológicas que permitiram não só automatizar processos, mas também, mudar os processos agregando melhores resultados. O desemprego estrutural é um fenômeno oriundo da crise estrutural do capital, após a década de 60, cujas motivações fundamentam-se na queda da taxa de lucro, esgotamento do padrão de produção taylorista/fordista, privatizações e tendências às desregulamentações e à flexibilização do processo produtivo, dos mercados e da força de trabalho (ANTUNES, 2009). Avançando na história, em publicação posterior, Antunes (2010), diz que o toyotismo desencadeou o processo de desespecialização que provocando severas mudanças nas relações de trabalho em decorrência da criação de trabalhadores multifuncionais (ou polivalentes), não especialistas em um processo, mas capazes de realizar múltiplas tarefas. Resultou, também, na perda de poder sobre a produção dos operários qualificados e no aumento da intensidade do trabalho. Nas palavras do autor percebe-se as transformações advindas sobre o trabalho ao longo da história: Novos processos de trabalho emergem, onde o cronômetro e a produção em série e de massa são “substituídos” pela flexibilização da produção, pela “especialização flexível”, por novos padrões de busca por produtividade, por novas formas de adequação da produção à lógica do mercado (ANTUNES, 2010, p. 24).. A. “classe-que-vive-do-trabalho”. vivencia. um. estado. de. diversidade,. heterogeneidade e complexidade (ANTUNES, 2009). As condições de trabalho sofreram modificações e incrementos com a reestruturação produtiva do capital que resultou na diversidade de regimes de trabalho, não mais prevalecendo o modelo de trabalho industrial estável e especializado taylorista/fordista. O autor destaca ainda a “telemática” que permite não só relações diretas entre empresas distantes.

(28) 27. geograficamente pelo uso de informática, como a introdução de novas formas de trabalho doméstico que tornam complexas as relações de trabalho. Outro aspecto é a divisão sexual do trabalho, embora não seja foco desta pesquisa. A participação feminina é crescente ao ponto de, em alguns países, o contingente feminino ter superado o masculino. Contudo, as vagas de trabalho preenchidas por mulheres ainda concentram em atividades “dotadas de menor qualificação, mais elementares e muitas vezes fundadas em trabalho intensivo” (ANTUNES, 2009, p. 105). O capital tem sabido explorar as potencialidades do trabalho feminino por suas características de polivalência e múlti atividades (desenvolvidas no exercício das atividades domésticas). Antunes (2009, p. 109), destaca que “homens e mulheres que trabalham são, desde família até a escola, diferentemente qualificados e capacitados para o ingresso no mercado de trabalho”. A veneração ao trabalho se estende aos currículos escolares, com o propósito de formar pessoas aptas para o mercado de trabalho, adestrando uma mão-de-obra dócil formada para o trabalho. Não são raras as famílias que consideram que um rapaz atingiu a maturidade quando este começa a trabalhar, mesmo que para isso tenha que abandonar os estudos. Tais alterações curriculares deveriam ter como finalidade a formação de cidadãos ou dotá-los de um pensamento crítico (CARMO, 1992). À medida que as novas alternativas flexíveis surgem para baratear o trabalho, reduzir seus custos e para isso ter que sacrificar o trabalhador como única fonte “abundante” de exploração, as relações de trabalho tenderão para precarização e desregulamentação, talvez em busca de ainda maior exploração ou em prol de condições de trabalho mais favoráveis aos indivíduos.. 2.1.3 Conjuntura Nacional. No dia 23 de dezembro de 2012, a presidente Dilma Rulssef, em pronunciamento em rede nacional, enalteceu a situação atual de emprego no Brasil, que apresentava, à época, o índice mais baixo de desemprego da história do país,.

(29) 28. próximo ao nível de pleno emprego (condição de empregabilidade proporcional à quantidade de cidadãos em idade ativa ao trabalho) - na ocasião, o indicador era de 4,9% (Nov/2012). Dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), de outubro de 2013, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstram uma taxa de desocupação de 4,3% considerando pessoas em idade ativa (superior a 10 anos de idade) nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. O gráfico 1 mostra a evolução, da taxa de desocupação nos meses de Dezembro, de 2002 a 2013, para o conjunto das seis regiões metropolitanas abarcadas pela pesquisa.. Gráfico 1: Evolução da taxa de desocupação nos meses de Dezembro, de 2002 a 2013. Fonte: IBGE (2013). Indicadores como este, do IBGE, permitem compreender as flutuações e tendências, a médio e longo prazos, do mercado de trabalho nas regiões investigadas, apontando os efeitos sobre a conjuntura econômica nesse mercado, além de dar suporte na orientação do planejamento socioeconômico nacional. Observa-se, na tabela 1, nos relatórios da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2011, do Ministério do Trabalho e Emprego, um crescimento de 5,09% dos estoques de empregos formais em comparação ao ano de 2010. Os.

(30) 29. setores de atividade com melhor desempenho em termos absolutos foram serviços, comércio e construção civil.. Tabela 1: Estoque de Empregos Formais por Setor de Atividade (2010/2011). Fonte: RAIS (2011). No ano de 2012, os dados da RAIS, também avaliando o estoque de empregos formais por setor de atividade, apontam o crescimento de 2,48%. Os setores de atividade com melhor desempenho em termos absolutos são os de serviços e comércio. No setor de serviços encontram-se os serviços ligados à comunicação e informação, trabalhos intangíveis que lidam e geram informações para um determinado fim, que pode ser de apoio ao trabalho industrial. Comparando ambos, o setor de serviços absorve quase que o dobro da mão-de-obra que a indústria de transformação necessita, sobrepondo-se o setor de serviços em relação à indústria. Mesmo não sendo foco desta pesquisa, cabe destacar que há quantidades significativas de trabalhadores informais que atenuam o problema do desemprego..

(31) 30. Tabela 2: Estoque de Empregos Formais por Setor de Atividade (2011/2012). Fonte: RAIS (2012). Mesmo em tempos difíceis de retração na corrente de comércio internacional por uma série de crises, o Brasil tem conseguido gerar empregos formais e obter crescimento, mesmo que discreto. Outra explicação para o aumento dos estoques formais é a própria formalização de empresas, que outrora mantinham-se irregulares, por falta de condições ou por falta de fiscalização. Em situação de pleno emprego, a captação de trabalhadores se torna um desafio para as organizações não só obviamente pelo chamado “apagão da mão-de-obra”, isto é, a escassez de mão-de-obra disponível para contratação, mas também pela falta de qualificação para o preenchimento das vagas em aberto. Vale destacar que estes indicadores não contempla a economia informal, ainda fortemente presente no contexto brasileiro empregando, mesmo que precariamente, inúmeros trabalhadores. A qualificação desta mão-de-obra também pesa na hora da captação. O baixo nível de especialização e formação técnica e acadêmica força as empresas a optarem pelo treinamento interno de trabalhadores para o desempenho de suas funções, contudo, isso demanda tempo e investimentos. Normalmente se espera que a nova contratação possa produzir resultados o mais breve possível atendendo a expectativa da empresa na reposição de trabalhadores, mantendo as metas de produção ou atingir novos patamares produtivos. Monteiro (2013) apresenta dados de uma projeção econômica, que analisa a demanda e oferta de trabalhadores no Brasil, a qual indica que se a média do.

(32) 31. produto interno bruto (PIB) for 2,5%, em 2015, a demanda por trabalhadores ainda será maior do que sua oferta, forçando as empresas a contratarem trabalhadores não qualificados, e, elevar seus custos. Neste cenário as empresas lidam com o desafio da retenção dos trabalhadores. Diante da necessidade de elevação da produtividade com maior qualidade para garantir market share, trabalhadores qualificados passaram a ser mais demandados e valorizados (FIORAVANTE, 2011, p. 105), esta mão-de-obra se torna valiosa e mais disputada no momento em que este profissional está disponível para contratação. Os dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), que analisou a rotatividade e flexibilidade do mercado de trabalho nacional, mostram que, entre os anos 2008 e 2010, a taxa de rotatividade atingiu o patamar de 53,8%. Isso demonstra que, para cada 100 empregos formais, em metade das vagas houve substituição de trabalhadores, demissão seguida de nova contratação (DIEESE, 2011). Este movimento de demissão seguida de admissão é motivado em partes pela intenção de rebaixamento salarial reduzindo custos com mão-de-obra em tempos de recessão e pela necessidade de incorporar mão-de-obra profissional mais qualificada. A rotatividade aumenta o risco de insucesso no retorno ao investimento de qualificação da mão-de-obra contratada. Elevados índices de rotatividade afetam a dinâmica organizacional,. comprometendo. seu. desempenho. no. mercado.. Para. os. trabalhadores, esta rotatividade representa insegurança na manutenção de seu emprego. De acordo com Monteiro (2013), a elevação da qualificação tem relação proporcional com a produtividade, contudo resultados do investimento em educação demandam tempo. Um profissional mais qualificado também possui um grau de exigência maior na contrapartida desta contratação, não se sujeitando a qualquer remuneração e falta de benefícios que o atenda. Por compreender minimamente o valor de seu trabalho e a dependência que a organização possui dele, o trabalhador se vê em situação de barganha e se mostra mais seguro em negociar as condições deste contrato de trabalho. Para Fioravante (2011, p.104), uma organização com uso intensivo de mãode-obra qualificada, “tem maior facilidade em produzir a custos mais baixos e em.

(33) 32. diferenciar seus produtos diante das firmas que não inovam e são intensivas em mão-de-obra menos qualificada”. Assim, no entendimento da autora, novas tecnologias são complementares a mão-de-obra qualificada. Segundo Antunes (2010) pode-se constatar um efetivo processo de intelectualização do trabalho incrementado pelo avanço tecnológico e este ser comumente encontrado nos diversos níveis de trabalho. Contudo, Carmo (1992) destaca que a história registra que a abundância de mão-de-obra por vezes inibiu os avanços tecnológicos para o alívio do trabalho braçal por disporem de quem o fizesse. Neste sentido, à medida que a mão-de-obra se torna escassa as inovações tendem a proliferar-se. O investimento em trabalhadores mais qualificados deve refletir no aumento da capacidade produtividade, ou até mesmo na manutenção da atual capacidade produtividade que a organização possui. Entretanto, o investimento na qualificação da mão-de-obra não é sinônimo de aumento imediato da capacidade produtiva, demanda tempo que as empresas não querem esperar, pois precisam resolver os problemas presentes (MONTEIRO, 2013). Organizações com mão-de-obra mais qualificada reconhecem o valor de um novo conhecimento e são mais articuladas para transformar com eficiência o conhecimento em produtos (FIORAVANTE, 2011). Os investimentos podem objetivar o preparo da mão-de-obra para futuros projetos e novas demandas que surjam no mercado, assim, o investimento em qualificação prepara a organização para as mudanças num ambiente de alta competitividade. O paradoxo desta situação mostra, por um lado, oferta de emprego e vagas não preenchidas, por outro, não se consegue preencher as vagas pela incompatibilidade entre os pré-requisitos da vaga e a qualificação profissional do trabalhador desocupado. É a falta de trabalhadores qualificados versus a alta exigência para o preenchimento das vagas. É fato que diversos trabalhos desapareceram ao longo deste processo de mutação com o implemento de novas tecnologias e formas inovadoras de organização do trabalho, mas, “ao mesmo tempo em que milhares de pessoas sofrem pela falta de uma vaga, outras sofrem pelo fato de terem que trabalhar excessivamente”, em jornadas duplas na mesma ou em outra empresa (MORIN, 2001, p. 9)..

(34) 33. Uma variável que permite analisar este paradoxo é que Antunes (2010, p. 58) evidencia diante da tendência de qualificação do trabalho, onde, inversamente há um nítido processo de desqualificação, e explica se configurar um “processo contraditório que superqualifica em vários ramos produtivos e desqualifica em outros”, ao ponto que, o que aumenta o cortejo do mercado pelo profissional é a polivalência que o mesmo possui, não especialista numa tarefa, e sim, sua capacidade de adaptação frente a variadas situações de trabalho. As proporções contemporâneas de valorização (ou desvalorização) e mudanças do trabalho, cooperam para o aumento do desemprego à medida que expulsam trabalhadores sobrantes e deprimem a remuneração da força de trabalho restante (ANTUNES, 2011). A economia brasileira é vista com desconfiança, ainda que alguns indicadores apontem para uma situação de pleno emprego com estoques de emprego positivos. Diante do dilema do pleno emprego versus a falta de mão-deobra qualificada e o crescimento do país pouco expressivo, confirmam a necessidade de mudança de atitude política e de investimentos pontuais para o progresso do país que se sustente a longo prazo.. 2.1.4 Impactos da Tecnologia no Trabalho. O tempo de produção e distribuição de bens foi abreviado a partir da revolução tecnológica. Não foram apenas as empresas que cresceram ao longo da história, suas necessidades também evoluíram diante das exigências do mercado. Novos ritmos e visões do mundo do trabalho se desenvolveram conduzindo para uma organização flexibilizada do trabalho, menos rígida, como alternativa de sobrevivência (BOONEN, 2002). A tecnologia impulsiona as mudanças de acordo com o ambiente ou até mesmo causa mudanças no próprio ambiente. A tecnologia permite uma nova organização do trabalho, sendo uma ferramenta ou um método de realização de dada tarefa. (TROPE, 1999). Pilla e Silva (2010), corroboram com esta visão ao afirmarem que o ambiente de trabalho vem se tornando compatível com a cultura das máquinas e da utilização da internet..

(35) 34. A sociedade assistiu muitos ofícios deixarem de existir e muitas pessoas perdendo seus empregos simplesmente porque eles deixaram de existir. Com a inserção. dos. computadores. pessoais,. mais. mudanças. foram. vistas. nas. organizações (GASPAR, 2010), e, tão rápido quanto os antigos ofícios se extinguiram, outros novos ofícios surgiram. Grande parte das transformações no mundo do trabalho sobreveio no fim do segundo milênio, impulsionadas pelas máquinas inteligentes (SOUZA NETO, 2004, p. 23). Antunes (2010) classifica os anos de 1980 com uma década de grandes saltos tecnológicos, permeada de automação, robotização e microeletrônica que invadiram o universo fabril. O processo produtivo foi reconfigurado desenvolvendo novas formas de produção e relações de trabalho. O autor (2009) destaca ainda a “telemática” que permite não só relações diretas entre empresas distantes geograficamente pelo uso de informática, como a introdução de novas formas de trabalho doméstico, que tornam complexas as relações de trabalho. A partir da abertura do comércio brasileiro para o mundo na década de 90, os níveis de competitividade, especialização e qualificação de produtos e serviços aumentaram a largos passos forçando o desenvolvimento tecnológico no país. Semelhantes a outros países que passaram por forte onda de inovação na indústria, trabalhos repetitivos foram desvalorizados em relação aos trabalhos mais abstratos e que exigiam maior qualificação e aplicação de aparatos tecnológicos. Pela crescente. inovação,. trabalhadores. mais. qualificados. passam. a. ser. mais. demandados (FIORAVANTE, 2011). Segundo Souza Neto (2004), com a Revolução Digital em 1990, marcada pela popularização da internet, a sociedade da informação chegou para muitas sociedades, outrora isoladas ou pouco conectadas do resto do mundo, agora com acesso em tempo real. Ainda de acordo com o mesmo autor, a cada nova descoberta tecnológica surge uma nova divisão do trabalho e, à medida que as lógicas tradicionais fordista e taylorista são superadas pela lógica de trabalho flexível, tende-se a desaparecer funções tradicionais e migrar para novas atividades. A internet permitiu, como nenhuma outra ferramenta antes, a comunicação de muitos com muitos, em escala global. Mais do que uma ferramenta de entretenimento, cada vez mais estão sendo estruturadas em torno da internet as atividades cotidianas da sociedade (CASTELLS, 2003)..

(36) 35. Atividades econômicas, sociais, políticas e culturais essenciais por todo o planeta estão sendo estruturadas pela Internet e em torno dela, como por outras redes de computadores. De fato, ser excluído dessas redes é sofrer uma das formas mais danosas de exclusão em nossa economia e em nossa cultura (CASTELLS, 2003, p. 8).. Segundo Castells (2006), a sociedade contemporânea se configura no que o autor chama de “sociedade em rede”, conectada pela pulverização das novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs), transforma a sociedade como um todo e mais ainda nas áreas em que a tecnologia está mais acessível pelo desenvolvimento econômico da região e considera a Internet de igual importância assim como a eletricidade foi na Era Industrial, sendo a base tecnológica para a Era da Informação (CASTELLS, 2003). É neste cenário, de um modo de produção capitalista flexível, que se torna possível redesenhar o modo de se trabalhar (NOGUEIRA; PATINI, 2012). As autoras também destacam que a partir da década de 90, com a intensificação da globalização e dos processos de reestruturação produtiva, a flexibilização do modelo de trabalho passou a ser possível no contexto brasileiro. Bernardino, Roglio e Del Corso (2012) destacam que o setor de tecnologia da informação no mundo cresceu 5% em 2007, enquanto no Brasil o crescimento foi de 11%. Percebe-se forte aderência ao uso de tecnologias, mesmo num cenário de tanta desigualdade na distribuição de riquezas como no Brasil. Ainda que precária e com lento desenvolvimento, a infraestrutura brasileira tem conseguido suportar e implementar mudanças tecnológicas que otimizem e reduzam custos de produção, elevando a qualidade e competitividade produtiva no país.. 2.2 TELETRABALHO. O tema do teletrabalho tem sido abordado por diversos pesquisadores nacionais nos últimos quatro anos (COSTA, 2013; NASCIMENTO, 2012; NOGUEIRA; PATINI, 2012; ALEMÃO; BARROSO, 2012; GASPAR et al., 2012; ROTHERMEL; LONGHI, 2012; SILVA, 2012; BERNARDINO; ROGLIO; DEL CORSO, 2012; ROSENFIELD; ALVES, 2011; COSTA; BORGES; FREITAS, 2011;.

(37) 36. ALEMÃO; BARROSO, 2011; RODRIGUES, 2011; SANTOS, 2011; MELLO, 2011; BARROSO, 2010; BARROS; SILVA, 2010; NOHARA et al., 2010; MELLO; SANTOS, 2010; PILLA; SILVA, 2010; BERNARDINO, 2010; GRANADO, 2010; GASPAR, 2010) o que aponta não só a relevância do tema, mas também para o fato de que possui diversas possibilidades de investigação a serem discutidas no ambiente organizacional, político, social e acadêmico. Historicamente constata-se o que vinha a ser um esboço do trabalho a distância nos Estados Unidos em 1857, quando a companhia Estrada de Ferro Penn utilizava o telégrafos para gerenciar trabalhadores que estavam distantes de seu escritório em Chicago, assim descentralizavam as operações delegando aos empregados o controle do uso de equipamentos e da mão-de-obra (GOULART J., 2009; NOGUEIRA; PATINI, 2012). Não há como negar que as mudanças tecnológicas das últimas décadas resultaram em transformações de vários processos produtivos, reestruturações organizacionais e, com isso, uma intensa reconfiguração do trabalho (BARROS; SILVA, 2010), principalmente no que diz respeito ao encurtamento do espaço e do tempo no recebimento e manuseio das informações para a veloz tomada de decisão (ALEMÃO; BARROSO, 2012). O cenário de crises turbulentas e alta competitividade legitimam a adoção de novas práticas na gestão flexibilizada do trabalho (COSTA, 2013). O trabalho na indústria começou a declinar nos países desenvolvidos em meados da década de 1950. Concomitantemente, trabalhos intangíveis, ligado às áreas de comunicação e informação se desenvolveram, ganhando significativa representatividade no mercado (NILLES, 1997). À medida que as novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs) se desenvolviam e se tornavam acessíveis, tornou-se possível ter acesso a dados e informações necessárias para realizar determinadas tarefas profissionais cotidianas fora do escritório, o espaço tradicional e habitual de trabalho. Pelo uso intensivo das tecnologias o universo do trabalho foi alterado, sendo possível trabalhar remotamente. Esta modalidade de trabalho passou a ser chamada de teletrabalho (MELLO, 2011)..

(38) 37. Trope (1999) afirma que as limitações territoriais e físicas das empresas deixam de existir, estas passam a ser um ambiente, não mais um lugar específico. Há um novo paradigma para a organização do trabalho, onde a organização deve ser compreendida como um conceito, como uma atividade, não como um prédio. Estas transformações no espaço produtivo, segundo Tose et al. (2007, p. 2), passaram a exigir uma nova postura dos administradores, principalmente quanto ao aspecto cultural, uma vez que a “forma de apropriação das novas tecnologias transforma e recoloca, conceitualmente, as premissas da organização do trabalho e suas interações com a sociedade”. Neste contexto, o teletrabalho ganha evidência no mundo dos negócios e na sociedade, como também no campo acadêmico.. 2.2.1 Definições para Teletrabalho. O termo teletrabalho origina-se do inglês telecommuting ou telework, sendo Jack M. Nilles considerado seu criador (BERNARDINI, 2010; MELLO, 2011; NOGUEIRA; PATINI, 2012). “Tele” vem do grego e significa distância, “commuting” corresponde ao termo que indica a viagem de ida e volta da residência do trabalhador para o trabalho (SAKUDA; VASCONCELOS, 2005). Para Nilles (1997, p. 15), teletrabalho é “levar o trabalho aos trabalhadores, em vez de levar estes ao trabalho; atividade periódica fora do escritório central, um ou mais dias por semana, seja em casa ou em um centro de telesserviço”. O que envolve “qualquer alternativa para substituir as viagens ao trabalho por tecnologias de informação”. Sua ênfase está em reduzir ou eliminar viagens diárias ao trabalho, seja ele, empregado ou proprietário do negócio, utilizando a tecnologia de informação como meio de substituição. O autor aponta para um movimento inverso ao que tivemos no período da Revolução Industrial, no século XIX, onde toda cadeia de suprimentos de uma indústria, trabalhadores, fornecedores, matéria-prima, e até mesmo cidades e estradas, se formavam ao entorno da indústria e todo contexto da região crescia para ela. Costa (2013), diz que a indústria caseira se deslocou para os sistemas fabris, local mais adequado para produção e seu controle. Ao ponto de ser natural conceber que para trabalhar devamos ir ao trabalho. Agora o trabalho retorna para dentro da casa do trabalhador contemporâneo..

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