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Imagens que contam: Ilustrações da lenda Trilha do Pagão

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

JOSIVALDO AVELINO RIBEIRO

IMAGENS QUE CONTAM

Ilustrações da lenda Trilha do Pagão

Natal/RN 2018

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2 JOSIVALDO AVELINO RIBEIRO

IMAGENS QUE CONTAM

Ilustrações da lenda Trilha do Pagão

Memorial de pesquisa apresentado como requisito para integralização da atividade de Trabalho de Conclusão de Curso II do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador: Prof. Dr. Everardo Araújo Ramos.

Natal/RN 2018

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3 JOSIVALDO AVELINO RIBEIRO

IMAGENS QUE CONTAM

Ilustrações da lenda Trilha do Pagão

Memorial de pesquisa apresentado como requisito para integralização da atividade de Trabalho de Conclusão de Curso II do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador: Prof. Dr. Everardo Araújo Ramos.

Natal, 05 de julho de 2018

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Prof. Dr. Everardo Araújo Ramos

___________________________________________ Prof. Drª. Regina Helena Pereira Johas

___________________________________________ Prof. Mestre Artur Luiz de Souza Maciel

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4 AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, aos meus pais Josenildo Avelino e Iruvane Bernardino e aos meus irmãos Jefferson e Clara que sempre estiveram do meu lado me apoiando. Minha caríssima Tia Eva Lúcia e sua família: seus filhos Bruno Marcelo e Gustavo Erick que agem e que considero irmãos, e suas esposas e filhos com quem passei 6 anos de convivência durante esta jornada acadêmica, me dando suporte de várias naturezas e com os quais guardo profundos laços.

Ao meu caro orientador Prof. Dr. Everardo Araújo Ramos, que com certeza teve uma enorme paciência comigo, com minhas procrastinações e a quem devo muito. Aos meus professores e mestres da instituição que com certeza cumpriram seu trabalho, nos ensinando a pensar e refletir sobre a arte e sua importância.

Aos meus colegas de curso, que mais que colegas hoje são amigos inestimáveis: Samyla Santos que mais me acompanhou nestes últimos momentos de jornada, a Jo Bomfim, Pollyane Figueiredo, Anylan Bezerra, Ingrid Montenegro, Pedro Souza, José Valter, Amarilis Melo, Andreza Maria, Gilmara Catarina, Cristiane Carrera e a todos que partilharam comigo esta experiência que é a vida acadêmica, passamos por muitos momentos de dificuldades, de crescimento pessoal, crises existenciais partilhadas dentro dos corredores da UFRN, mas principalmente ficam as lembranças dos abraços e risadas que vivemos juntos.

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5 RESUMO

O presente trabalho consiste em um memorial de pesquisa que registra o processo criativo e reflexões iniciado no segundo semestre de 2016 e finalizado em dezembro de 2017. O seu principal intuito é de registrar o processo de criação e reflexões a cerca de uma série de ilustrações baseadas na lenda da Trilha do Pagão, coletada no município potiguar de Baia Formosa. Estão aqui registradas as etapas de escolha da temática, início do processo criativo com as primeiras experimentações de técnicas artísticas e materiais, o processo da escolha da lenda a ser ilustrada, a caracterização dos personagens e escolha de cores, além do processo de criação das ilustrações propriamente ditas da Trilha do Pagão e ao final as ilustrações finalizadas.

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6 LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Capa do livro Os Quatro Mitos Brasileiros, de Mônica Stahel. Disponível

em: < https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-876875412-quatro-mitos-brasileiros-monica-stahel-ed-martins-fontes-_JM >. Acesso em junho de 2018. Página 14.

Figura 2: Imagem usada como referência para experimentação. Disponível em: < https://br.pinterest.com/pin/461407924317450961/ > Acesso em junho de 2018. Página 19.

Figura 3: início da experimentação com caneta esferográfica. 2017. Foto do autor. Página 19.

Figura 4: Processo de desenho com caneta esferográfica. 2017. Foto do autor. Página 20.

Figura 5: Experimentação finalizada. 2017. Foto do autor. Página 20. Figura 6: Detalhe das texturas das penas. 2017. Página 20.

Figura 7: Pintura em tinta acrílica para disciplina de Pintura II da Praia do Pontal de Baia Formosa - RN. 2015. Foto do autor. Página 21.

Figura 8: Rascunho sobre a lenda O Salto da Onça. 2017. Foto do autor. Página 23. Figura 9: Rascunho sobre a lenda O Pescador que viu a Alma do Outro. 2017. Foto do autor. Página 24.

Figura 10: Rascunho sobre a lenda O Torreão Cachimbando. 2017. Foto do autor. Página 25.

Figura 11: Fotografia do pôr do sol de Baia Formosa-RN. 2015. Foto de Clara Avelino. Página 26.

Figura 12: Brasão presente na bandeira de Baia Formosa-RN. Disponível em: < https://www.mbi.com.br/mbi/biblioteca/simbolo/municipio-baia-formosa-rn-br/ >. Acesso em novembro de 2017. Página 30.

Figura 13: Desenho na agenda que serviu de fonte para as estilizações. 2014. Página 31.

Figura 14: Rascunhos sobre a criação da personagem Mulher Grávida. 2017. Foto do autor. Página 32.

Figura 15: Rascunhos sobre a criação do personagem O Caçador. 2017. Foto do autor. Página 33.

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7 Figura 16: Experimentação com coloração com lápis de cor e caneta esferográfica. 2017. Foto do autor. Página 35.

Figura 17: Experimentação com coloração em giz de cera e caneta esferográfica 1. 2017. Foto do autor. Página 35.

Figura 18: Experimentação com coloração em giz de cera e caneta esferográfica 2. 2017. Foto do autor. Página 35.

Figura 19: Rascunho do roteiro sobre a lenda da Trilha do Pagão 1. 2017. Página 37.

Figura 20: Rascunho do roteiro sobre a lenda da Trilha do Pagão 2. 2017. Página 36.

Figura 21: Sem título. 2017. Foto de Clara Avelino. Página 39.

Figura 22: Desenvolvimento do fundo da 1ª ilustração. 2017. Foto do autor. Página 40.

Figura 23 Entrada da Mata da Estrela. 2011. Página 41.

Figura 24: Foto para referência de vegetação 1. 2011. Página 41. Figura 25: Foto para referência de vegetação 2. 2011. Página 42. Figura 26: Foto para referência de vegetação 3. 2011. Página 42.

Figura 27: Desenvolvimento do fundo da 2ª ilustração. 2017. Foto do autor. Página 43.

Figura 28: Desenvolvimento do fundo da 3ª ilustração. 2017. Foto do autor. Página 43.

Figura 29: Detalhe da 3ª ilustração. 2017. Página 44.

Figura 30: Imagem de fruta do murici. Disponível em: < http://poderdasfrutas.com/categoria/murici/ >. Acesso em novembro de 2017. Página 44.

Figura 31: Ilustração de Gustave Doré, Le Chat Botté. Disponível em: < https://br.pinterest.com/pin/318840848596134483/ > Acesso em: junho de 2018. Página 45.

Figura 32: Ilustração de Albrecht Dürer, Adão e Eva. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1171361-mostra-de-gravuras-reune-obras-primas-de-durer-e-do-renascimento-alemao.shtml > Acesso em: Junho de 2018. Página 45.

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8 Figura 33: Desenvolvimento do fundo da 4ª ilustração. 2017. Foto do autor. Página 46.

Figura 34: 4ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor. Página 46.

Figura 35: Desenvolvimento do fundo da 5ª ilustração. 2017. Foto do autor. Página 47.

Figura 36: 5ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor. Página 47.

Figura 37: Figura 35 – Cena do filme Bastardos Inglórios. Exemplo de uso de contra ploongé no cinema. Disponível em: < https://www.agambiarra.com/plongee-contra-plongee/ > Acesso em Junho de 2018. Página 48.

Figura 38: Cena da animação Saint Seiya. Exemplo de uso de contra ploongé em animação. Disponível em: < http://pt-br.saintseiya.wikia.com/wiki/Shaka_de_Virgem > Acesso em junho de 2018. Página 48.

Figura 39: Desenvolvimento do fundo da 6ª ilustração. 2017. Foto do autor. Página 50.

Figura 40: 6ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor. Página 50. Figura 41: 7ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor. Página 51. Figura 42: 8ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor. Página 52. Figura 43: 9ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor. Página 52. Figura 44: 10ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor. Página 53.

Figura 45: Ilustração 1. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017. Página 55.

Figura 46: Ilustração 2. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017. Página 56.

Figura 47: Ilustração 3. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017. Página 57.

Figura 48: Ilustração 4. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017. Página 58.

Figura 49: Ilustração 5. Técnica mista sobre papel offset, 29,7x 10,5 cm, 2017. Página 59.

Figura 50: Ilustração 6. Técnica mista sobre papel offset, 29,7x 10,5 cm, 2017. Página 60.

Figura 51: Ilustração 7. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017. Página 61.

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9 Figura 52: Ilustração 8. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017. Página 62.

Figura 53: Ilustração 9. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 10,5 cm, 2017. Página 63.

Figura 54: Ilustração 10. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 10,5 cm, 2017. Página 64.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...11

A TEMÁTICA DAS ILUSTRAÇÕES...14

INÍCIO DO PROCESSO CRIATIVO...18

A ESCOLHA DA LENDA...26

TRILHA DO PAGÃO...28

CORES E CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS...30

PRODUÇÃO...36

ILUSTRAÇÕES FINALIZADAS...54

CONSIDERAÇÕES FINAIS...65

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS...67

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INTRODUÇÃO

O presente memorial registra as reflexões e o processo criativo desenvolvidos durante um trabalho teórico/prático em Artes Visuais, as pesquisas e experimentações foram iniciados no segundo semestre de 2016 e as ilustrações finalizadas em dezembro de 2017. A ideia se moldou devagar, em um processo de tentativas para a escolha do recorte. O centro desta ideia sempre foi relacionar as lendas do Estado brasileiro do Rio Grande do Norte com as práticas artísticas, o interesse foi despertado em particular durante as disciplinas de Antropologia da Imagem, Cultura Popular, Cultura Brasileira, com os estudos e desenvolvimento da prática da pintura nas disciplinas de Pintura II, Teoria da Cor e interesse pessoal sobre a temática de mitos e lendas. Foram durante as orientações de TCC que se chegou ao presente recorte, com o intuito de criar ilustrações com base na lenda A

Trilha do Pagão, coletada no município potiguar de Baia Formosa.

Os primeiros passos da pesquisa se focaram principalmente nas buscas do que é ilustração, história da ilustração, cultura e cultura popular, conceitos primordiais para a construção das obras e reflexões presentes neste memorial. Em início a ideia era fazer ilustrações de diversas lendas do estado do Rio Grande do Norte para um público infanto-juvenil, foram separadas inicialmente 08 lendas, mas ao longo do processo decidimos pela elaboração de apenas uma, também decidimos não nos focar em um público específico, além de pensar essa produção em cima do conceito de livros ilustrados, sendo ele:

LIVROS ILUSTRADOS Obras em que a imagem é especialmente preponderante em relação ao texto, que aliás pode estar ausente [é então chamado, no Brasil, de livro-imagem]. A narrativa se faz de maneira articulada entre texto e imagens (LINDEN, 2011, p.24).

Houve também durante o processo de criação mudanças, mescla e experimentações de técnicas, em primeira instancia pensava-se em usar tinta acrílica para colorir os personagens, mas foram experimentados giz de cera e lápis de cor, foi este último o escolhido para a coloração, com o cenário criado predominantemente com caneta esferográfica azul de diferentes tons e espessuras.

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12 As produções e suas etapas foram registradas através de fotografias, anotações e esboços das ilustrações.

O processo foi focado pensando a imagem como linguagem, afinal a arte é uma forma de comunicação e nos livros com ilustrações temos bons resultados proporcionados pelos vários compositores visuais. Isto vem de encontro ao que dizem os especialistas, segundo os quais “qualquer fenômeno artístico seja ilustração, seja pintura, é um fenômeno de comunicação. A arte não é uma esfinge, um mito indecifrável de acesso restrito a uma elite de exegetas” (OLIVEIRA, 2009, p. 31).

O real marco para a produção de livros foi a criação por Gutenberg, em 1450, de uma nova máquina para impressão, a prensa tipográfica. Com esta invenção, o compartilhamento de todo tipo de conhecimento e informação de textos ganhou uma aceleração sem proporções. No decorrer do tempo, com os avanços da tecnologia, ilustrações foram incorporadas no processo de impressão, com o uso da xilogravura para a produção de imagens em série, em espaços reservados nas páginas para o processo manual. Depois, outros métodos foram sendo incorporados, como a litografia e a gravura em metal.

Os livros ilustrados encantam crianças, jovens e adultos há séculos, com suas diversificações de formas e configurações estruturais variadas. Os livros são ferramentas de transmissão e preservação de conhecimento, passando a mensagem no processo de leitura, tanto textual quanto visual.

Para os especialistas contemporâneos, no caso de livros ilustrados, as ilustrações não devem se apresentar ao leitor em redundância com o texto, as ilustrações devem ser abertas, permitir ao leitor a criação de um novo texto visual:

De imediato, o livro ilustrado evoca duas linguagens: o texto e a imagem. Quando as imagens propõem uma significação articulada com o texto, ou seja, não são redundantes à narrativa, a leitura do livro ilustrado solicita apreensão conjunta daquilo que é mostrado (LINDEN, 2011, p. 09).

Para o professor de Artes, o uso das ilustrações e das imagens como geradoras de novos significados em abordagens inter e transdisciplinar abre um enorme leque de possibilidades, permitindo tratar diversos temas de forma lúdica,

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13 didática e com uma linguagem acessível, atiçando a imaginação e o diálogo entre os conteúdos de artes, a prática artística e os diferentes temas atuais.

A identificação e análise de conhecimentos nos permitem, ao trabalhar como ilustradores e como artistas visuais, saber melhor usar as técnicas de composição visual para a construção de sentidos. Na ilustração de livros, graças aos vários avanços na área gráfica, que permitem ao ilustrador utilizar diferentes técnicas para suas criações, o leque de possibilidades é grande, incluindo desenho, pintura, fotografia, montagens fotográficas, pintura digital, gravura, entre outras, além da possibilidade de mesclar diferentes técnicas. Isso traz um enorme campo de análise, instigando artistas a experimentação, a estudos e reflexões sobre os vários processos de aplicação durante o fazer artístico que dará vida às ilustrações.

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A TEMÁTICA DAS ILUSTRAÇÕES

A temática do livro carrega grande importância para o projeto, dirigindo o ilustrador sobre suas escolhas, por conta disso o tema precisa ser profundamente estudado. A escolha do tema das ilustrações foi a primeira coisa definida, as lendas

potiguares. O início do interesse nesta temática surgiu quando li durante a 5ª série

do ensino fundamental o livro Os Quatro Mitos Brasileiros (Figura 1), de Mônica Stahel, da coleção de livros “Literatura em Minha Casa”, do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC), que desde 2001 distribui uma coleção com 5 livros para alunos da 4ª série de escolas públicas.

Através desta e outras leituras, além do ouvir causos de “malassombro” de parentes e pessoas próximas, comecei a pesquisar e a criar o interesse de ilustrar estas histórias, e vi uma boa oportunidade de agir no trabalho de conclusão de curso duas coisas que gosto: as lendas e a arte, então se vê como algo que me chamou a atenção quando criança foi tão forte e importante ao ponto de querer trabalha-lo

Figura 1 – Capa do livro Os Quatro Mitos Brasileiros, de Mônica Stahel.Disponível em: < https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-876875412-quatro-mitos-brasileiros-monica-stahel-ed-martins-fontes-_JM >. Acesso em junho de 2018.

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15 agora no final da graduação, e como uma leitura na infância ainda continua viva, um dos objetivos das ilustrações criadas é evidenciar esse material da cultura popular que são as lendas, usando as ilustrações como meio para a comunicação, como colocam os especialistas, a ilustração “é um gênero das artes visuais narrativas” (OLIVEIRA, 2009, p.80), e o que realmente descreve este gênero é o narrar e descrever histórias através de imagens.

A Cultura Popular é objeto de intenso estudo das ciências sociais atualmente, e aparece com inúmeras definições. Sobre o uso do termo cultura, o historiador inglês Peter Burke diz:

Hoje, contudo, seguindo os exemplos dos antropólogos, os historiadores e outros usam o termo ‘cultura’ muito mais amplamente, para referir-se a quase tudo que pode ser aprendido em uma dada sociedade – como comer, beber, andar, falar, silenciar e assim por diante. Em outras palavras, a história da cultura inclui agora a história das ações e noções subjacentes à vida cotidiana. O que se costumava considerar garantido, obvio, normal ou senso ‘comum’ agora é visto como algo que varia de sociedade a sociedade e muda de um século a outo, que é ‘construído’ socialmente e portanto requer explicação e interpretação social e histórica (BURKE, 2010, p. 22-23).

Os estudos sobre Cultura popular não são novidade, os intelectuais românticos, do final do século XVIII e início do século XIX, voltaram seus olhares a esse objeto de estudo, diferente dos iluministas que consideravam os camponeses e homens comuns como carentes de tudo e incultos.

Os românticos se interessavam ao que consideravam bizarro, e também, despertaram atenção as tradições populares. Entre esses intelectuais, estão os alemães Jacob e Wilhelm Grimm, que iniciaram uma coleta de contos com os camponeses de forma direta, indicando até o local onde haviam ouvido as histórias. A cientista social Vivian Catenacci coloca que “Esses estudiosos alemães e o método utilizado por eles na coleta das tradições populares tiveram grande influência sobre os primeiros folcloristas brasileiros” (CATENACCI, 2001, p. 28). Também coloca a professora Martha Abreu que “Herder, na futura Alemanha, no final do século XVIII, foi quem pela primeira teria utilizado o conceito de cultura

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16 popular (Kultur des Volkes) sem o sentido valorativo dos iluministas e com o sentido de alteridade (ABREU, 2003, p. 04)”. A criação do termo “Kultur” é oposta ao conceito de “Civilização” dos iluministas franceses, então, esses primeiros movimentos feitos por Heder e os Irmãos Grimm estavam ligados a construção das bases da identidade da cultura alemã.

O movimento protagonizado por Herder e pelos irmãos Grimm buscou entre os costumes dos camponeses - seus poemas, músicas, festas, saberes, histórias e rituais - encontrar as marcas de uma essência diferenciadora e autêntica, o espírito coletivo de um “povo” em particular, base para a construção da futura nação alemã. Os camponeses pareciam, aos olhos destes intelectuais, ter guardado, desde tempos muito remotos, a tradição que precisava ser resgatada frente às ameaças da modernidade, da sociedade industrial e da civilização exteriores (ABREU, 2003, p. 04). Para alguns teóricos, a Cultura popular equivale ao folclore. O termo folklore –

folk (povo), lore (saber) – foi criado pelo inglês Willian John Thoms em 22 de agosto

de 1846 e publicado na revista “The Athenaeum”. Esse termo designa o saber tradicional, passado e preservado através da oralidade.

Aqui a inspiração vem da cultura popular potiguar, mais especificamente das lendas de vários municípios a partir de diversas leituras dos textos das lendas nos livros Lendas do Brasil de Gumercindo Saraiva, o Lendas Brasileiras para Jovens de Câmara Cascudo e o documentário MATA ESTRELA: Lendas e Mitos do Departamento de Educação da UFRN e Probásica Baía Formosa. O folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo, em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, apresenta um verbete onde apresenta uma definição do que seriam lendas:

LENDA. Episódio heroico ou sentimental com elemento maravilhoso ou

sobre-humano, transmitido e conservado na tradição oral popular, localizável no espaço e no tempo. De origem letrada, lenda, legenda,

legere, possui características de fixação geográfica e pequena deformação.

Liga-se a um local, como processo etiológico de informação, ou a vida de um herói, sendo parte e não todo biográfico ou temático. Conserva as quatro características do conto popular: antiguidade, persistência, anonimato, oralidade. Os processos de transmissão, circulação, convergência são os mesmos que presidem a dinâmica da literatura oral. É

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independente da psicologia coletiva ambiental, acompanhado, numa fórmula de adaptação, seus movimentos ascensionais, estáticos ou modificadores. Muito confundida com o mito, a lenda dele se distancia pela função e confronto. O mito é o duende, o objeto ao redor do qual a lenda se cria (CASCUDO, 2001, p.328).

Foram selecionadas inicialmente oito lendas para serem ilustradas: a lenda do

Torreão Cachimbando (coletada no município de João Câmara-RN), O Sino de Extremoz (coletada no município de Extremoz-RN), A Lenda da Anta Esfolada

(coletada no município de Nova Cruz-RN), O salto da onça (coletada no município de Santo Antônio do Salto da Onça-RN), O Morro dos Amores (coletada no município de Pipa-RN), O pescador que viu a alma do outro (coletada no município do Natal-RN), O cavaleiro Fantasma (coletada no município do Natal-RN) e a Trilha

do Pagão (coletada no município de Baía Formosa-RN). Como critérios buscamos

incluir lendas de diferentes municípios, a não ser as lendas O pescador que viu a

alma do outro e O cavaleiro Fantasma, ambas da cidade do Natal, porque julgamos

ambas interessantes e estão ligadas a diferentes locais da cidade que é a capital do estado. Procurou-se também como critério, diferenciar não colocando lendas apenas de municípios do litoral, incluímos lendas que contam origens de nomes de municípios ou locais dos mesmos.

As lendas carregam juntas a si as particularidades de seu povo, de sua comunidade, sendo elemento importante da cultura popular, o escritor e folclorista Gumercindo Saraiva diz que “O termo ‘lenda’ serve para designar todas as ocorrências, narrações (orais ou escritas), acerca de santos, heróis e figuras imaginárias, de acordo com a fantasia popular, sem autenticidade, mas baseando-se na realidade dos fatos” (SARAIVA, 1984, p. 19).

Esses causos despertam interesses e curiosidades, muitas vezes estão presentes na história de origem dos municípios e de personagens populares, ou ao contrário, de seres que nem existem. Sempre em mutação, aí entra o ditado: Quem

conta um conto aumenta um ponto, que fala de modo simples as mudanças que

passam ao longo dos tempos e pelo modo mais comum que são transmitidas: pela oralidade.

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INÍCIO DO PROCESSO CRIATIVO

As primeiras ideias surgem primeiro como turbilhão, e como qualquer ideia precisam de organização para serem colocadas em prática. Mas antes de iniciar o processo, uma coisa deveria estar clara: o que é ilustração. O ilustrador e pesquisador Rui de Oliveira fala de maneira bem simplificada o que seria a ilustração: “Adotando um conceito bem genérico, ilustrar é informar, persuadir ou narrar através de imagens. Classificando melhor esse enfoque abrangente, constatamos que existem três gêneros fundamentais de ilustração: informativo,

persuasivo e narrativo” (OLIVEIRA, 2009, p. 43). A partir deste ponto, e tendo como

um dos objetivos de narrar as histórias, entramos mais no conceito de ilustração narrativa, onde:

A ilustração narrativa está sempre associada a um texto, que pode ser literário ou musical, como o caso das ilustrações de capas de CDs e DVDs. No entanto, o que fundamentalmente caracteriza esse gênero são o narrar e o descrever histórias através de imagens, o que não significa em hipótese alguma uma tradução visual do texto. A ilustração começa no ponto em que o alcance literário do texto termina, e vice-versa (OLIVEIRA, 2009, p.44).

A primeira experimentação, pensando em que técnicas usar na produção foi com caneta esferográfica. Sempre gostei em minhas anotações particulares, como em minha agenda, de rabiscar e fazer pequenos desenhos. Já havia produzido antes em disciplinas como Desenho I e em Introdução a História em Quadrinhos, mas nunca foi a primeira opção em se tratando de utilização mais frequente.

As figuras de 3 a 5 mostram as etapas dessa experimentação com caneta esferográfica azul Compactor Ecomonic, em papel offset em tamanho A5. Usei uma imagem de corvo (Figura 2) que salvei de um site de compartilhamento de fotos, o Pinterest. Escolhi trabalhar com a imagem do corvo por conta dos seus detalhes, e com isso busquei um maior detalhamento na imagem que criei, neste desenho existe diferentes texturas utilizando o preto com efeitos de luz nas penas. Sinceramente não esperava um resultado tão satisfatório, pois consegui produzir uma imagem mais próxima ao naturalismo mesmo não tendo tanta prática com a caneta esferográfica, criando diferentes texturas nas penas (Figura 6). A partir

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19 destas experimentações, como primeira decisão opto por usar as canetas esferográficas na produção dos cenários os deixando monocromático e buscando reproduzir as imagens dos fundos com naturalismo, e na criação dos personagens trazer cor, os destacando ainda mais.

Figura 3 – início da experimentação com caneta esferográfica. 2017. Foto do autor. Figura 2 – Imagem usada como referência

para experimentação. Disponível em: < https://br.pinterest.com/pin/461407924317 450961/ >Acesso em junho de 2018.

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Figura 4 – Processo de desenho com caneta esferográfica. 2017. Foto do autor.

Figura 5 – Experimentação finalizada. 2017. Foto do autor.

Figura 6 – Detalhe das texturas das penas. 2017.

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21 Outra ideia para a produção que surgiu foi utilizar a técnica da pintura em tinta acrílica, que conheci e desenvolvi nas disciplinas de Pintura II e Teoria da Cor, mas ao observar as características da tinta, como a sua plasticidade e forte brilho, vi que para o contexto ficaria destoante com o fundo em caneta esferográfica, que mesmo naturalista, ainda fica fortemente bidimensional. Se usasse a acrílica, certamente as figuras ganhariam um grande volume, se aproximando mais ainda de efeitos de tridimensionalidade muito fortes que não temos a intenção de utilizar.

Figura 7 – Pintura em tinta acrílica para disciplina de Pintura II da Praia do Pontal de Baia Formosa - RN. 2015. Foto do autor.

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22 Para uma melhor visualização do projeto, pensando numa possível paginação, então rascunho com esferográfica em folhas de sulfite, tamanho A4 as primeiras ideias sobre as ilustrações, já pensando nos personagens e possíveis cenários.

Sobre a paginação, é optado por usar a orientação à italiana, mais conhecida como orientação em paisagem, esse formato de página permite um melhor aproveitamento do espaço para as ilustrações, “O formato horizontal (dito à italiana), mais largo que alto, permite uma organização plana das imagens, favorecendo a expressão do movimento e do tempo, e a realização de imagens sequenciais” (LINDEN, 2011, p. 53).

E lembrando que em muitas das lendas se tratam de locais amplos com paisagens importantes para a narrativa, aproveitando melhor os elementos das cenas, e mesmo o vazio pode ser potencializado através do formato das páginas que interferem diretamente no livro e em seu conteúdo:

Nesse caso, o livro não só se torna um receptáculo para informações, mas uma expressão artística significativa em si mesmo. Com a sintonia fina do artista, a forma começa a gerar significados e a história se aviva. O formato do livro se torna o conteúdo potencial (LEE, 2012, p. 103).

Nas figuras 8, 9 e 10 utilizou-se respectivamente as lendas do Torreão

Cachimbando, O Pescador que viu a Alma do Outro e O Salto da Onça para

começar a visualizar um possível futuro resultado (As lendas estão contadas no anexo).

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Figura 8 – Rascunho sobre a lenda O Salto da Onça. 2017. Foto do autor.

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Figura 9 - Rascunho sobre a lenda O Pescador que viu a Alma do Outro. 2017. Foto do autor.

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Figura 10 – Rascunho sobre a lenda O Torreão Cachimbando. 2017. Foto do autor.

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A ESCOLHA DA LENDA

Após deliberações da banca examinadora ao término da apresentação do projeto de Trabalho de Conclusão de Curso 1, em junho de 2017, onde conversamos sobre a produção das ilustrações de 08 lendas e vimos que dificilmente teríamos tempo para a finalização, acatando os conselhos e sugestões, decidimos focar em apenas uma das lendas, a da Trilha do Pagão. A escolha foi feita com base na minha proximidade com o local da lenda, o município de Baia Formosa, localizada no litoral sul do estado do Rio Grande do Norte, onde grande parte da minha família por parte paterna, e também meus pais e irmãos moram.

A cidade de Baia Formosa, antes chamada pelos indígenas de Arepiticaba (que significa “Bebedouro dos Papagaios”) é uma cidade turística e bastante visitada, que se povoou a partir de um núcleo de pescadores que primeiro se estabeleceram no local com suas famílias.

Dona da única baía do estado e com aproximadamente 26 km de praias semi-desertas, ela fica a 94 km da capital potiguar Natal. Também é detentora da maior reserva de mata atlântica sobre dunas do estado, a Mata da Estrela (que tem este nome pelo seu formato ao ser vista de cima), com aproximadamente 2,000 hectares

Figura 11 – Fotografia do pôr do sol de Baia Formosa-RN. 2015. Foto de Clara Avelino.

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27 de mata, que em 03 de março de 2000 foi transformada em Reserva Particular do Patrimônio Natural.

É exatamente neste cenário, na Mata da Estrela que se passa a Lenda da Trilha do Pagão, mas esta mata é conhecida também por outras lendas, como a da Lagoa do João Linho, onde dizem aparecer de seu fundo um barco completamente dourado em noites de luar e a bastante corriqueira de várias regiões do nordeste a lenda da Comadre Fulozinha, que muitas vezes se apresenta como uma cabocla juvenil de cabelos lisos e muito longos que tem o habito de dar nós nos cabelos de mulheres, com papel muito parecido a seres mitológicos como a caipora e o curupira, protegendo a mata e animais de agressores.

Eu próprio conheço a trilha, que já visitei em excursão quando estudei no ensino médio, mas antes mesmo da visita já ouvira falar do trecho da trilha do Pagão em minha infância e de sua assombração através de histórias contadas pela minha avó e tias já residentes na cidade antes da mudança de minha família em 2005 para a cidade, então posso afirmar que muito da escolha em ilustrar esta lenda está ligada a lembranças afetivas. Sobre a diferenciação de lendas e mitos, Gumercindo Saraiva (1984, p. 17) fala que “Muitos folcloristas confundem lendas com mitos, quando estes são apenas tradições lendárias, explicando os acontecimentos da vida pela temática do sobrenatural”, então o mito é uma história com a função de explicar algo pela temática do sobrenatural, como exemplo, os vários mitos da criação do homem que existem nas diferentes culturas visando revelar a origem da raça humana, enquanto as lendas tratam geralmente de episódios com aspectos fantásticos e com local e tempo determinados, conservando as características do conto popular como a oralidade e a persistência ao tempo.

Não é difícil encontrarmos lendas e mitos ligados a trilhas e trechos de matas, atrelando espíritos e visagens a esses locais, logo a temos como palco de muitas histórias fantásticas, a própria mata tem seu ar de mistério e a aura de respeito necessário que as pessoas mais simples reconhecem.

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TRILHA DO PAGÃO

A seguinte transcrição foi feita do documentário Mata Estrela: Lendas e Mitos. (MATA ESTRELA: Lendas e Mitos. Direção de Danilo Guanabara e Sandra Mara. Departamento de Educação da UFRN e Probásica Baía Formosa. Brasil, 2007, 13 min, cor.), sendo uma lenda coletada no Município de Baia Formosa-RN.

Na primeira parte da transcrição temos a narrativa de Sr. Nestor Primo, apresentado no documentário como guia e contador de causos, que traz a história de como ocorreu o fato que deu origem a lenda, e na segunda parte da transcrição Nivaldo Melo, apresentado no vídeo como pesquisador e empresário, que traz a história como é comumente contada pelos locais de Baia Formosa:

Sr. Nestor: - Só nós três. Eu e minha mãe, e essa dona gestante. Fomos embora.

Quando eu cheguei ali eu disse: “Minha mãe, daqui pra lá essa mulher vai dar trabalho a gente.”

“Tá meu filho, não é de tempo”, eu disse: “Não é de tempo... A senhora vai ver...” Eu apanhei umas mangabas. Quando foi a tarde, retornemos... aí quando chegou ali numa lagoa que tem por de nome de Capitão, ela começou a se “trucer”, eu catuquei a veia e disse “Ói... a senhora vai ver o que é que vai dar...”

Aí chegou bem aqui ela arriou. O menino morto, o menino morto arriou aqui. Agora o que deu pra mim: ir buscar uma cadeira em casa e trazer um bocado de gente pra levar ela na cadeira, já que não corria carro... ai levaram ela pra lá.

Nivaldo Melo: - A lenda do pagão... ér... teve origem com um casal, foi a mulher

grávida com o marido, né? Ele caçar e ela colher frutos na Mata Estrela. Então teve um dado momento que ele se distanciou-se dela... e ela como estava nos últimos dias, esperando o bebê, ela entrou em trabalho de parto. Nesse momento ficou só, né? E teve o filho ali... e ao reencontrá-la, o esposo, a criança nasceu morta no trabalho de parto ou então veio a falecer momentos depois, mas o fato é que a criança faleceu.

Então ele ali, olhando aquele quadro, resolveram enterrar a criança em uma encruzilhada. A verdade é que hoje, cada nativo quando passa por essa trilha, ele

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29 tira uma folha de árvore ou um pequeno galho de árvore, e coloca ali próximo ao local onde o pagão foi enterrado, né?

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CORES E CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS

As cores carregam fortes significados e estão repletas de informação. Os povos desde a antiguidade as utilizam para uma infinidade de aplicações, que vão desde rituais na utilização em símbolos até para fins de gosto puramente estéticos. Elas agem na psique humana e cada cor causa variadas sensações e interferem nas emoções.

Na criação de ilustrações e de sua narrativa não seria diferente, “A cor também é um sustentáculo importante na criação da história. Seu uso limitado prende a atenção e faz o leitor meditar sobre o seu significado. ” (LEE, 2012, p. 117), assim, a cor tem um importante papel, que traz ao leitor informações importantes como por exemplo, sobre a ambientação em que se passa a história, as emoções dos personagens ou significados e atribuições dados a eles.

Na idealização e criação dos personagens, chegou-se a questão sobre as cores que eles usarão em suas roupas, aqui foi trazida referencias da bandeira da cidade, e seu brasão (figura 12) foi vista como uma fonte interessante.

Os personagens da lenda são três: a mulher grávida, o seu marido e o pagão (são considerados pagãos aqueles que não são batizados nas diretrizes da Igreja Católica). Os primeiros desenhos dos personagens foram feitos em lápis grafite buscando os biótipos dos corpos, criados de forma naturalista, nestas primeiras

Figura 12 – Brasão presente na bandeira de Baia Formosa-RN. Disponível em: < https://www.mbi.com.br/mbi/biblioteca/simbolo/municipio-baia-formosa-rn-br/ >. Acesso em novembro de 2017.

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31 buscas pelos modelos dos corpos não utilizei modelos, foram todos de minha imaginação. Já com a certeza que o fundo seria trabalhado com desenhos naturalistas, quis trazer mais contraste entre os personagens e o fundo, então estilizo as figuras humanas tendo como inspiração a figura 13, o desenho de uma mulher que desenhei com esferográfica em minha agenda, é visível a utilização desta imagem como inspiração principalmente pelos cotovelos e narizes dos personagens (figuras 14 e 15).

Além das cores, também se buscou a caracterização destes personagens através das roupas, para passar a impressão de ar interiorano, sendo isso o mais natural. Nas figuras 14 e 15 vemos à esquerda das imagens os primeiros desenhos de biótipos em lápis grafite, no centro estudos de estilizações e anotações, e à direita os personagens coloridos e com algumas estilizações nos corpos.

Figura 13 – Desenho na agenda que serviu de fonte para as estilizações. 2014.

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Figura 14 – Rascunhos sobre a criação da personagem Mulher Grávida. 2017. Foto do autor.

Mulher Grávida: Nas roupas femininas (figura 14), procurou-se ser bastante

básico quanto aos modelos, sendo uma blusa, um lenço e uma longa saia. O amarelo, a mais clara das cores e também mais próxima do branco aparece no brasão na areia da praia, e está presente na saia e no lenço que a personagem carrega na cabeça, a cor amarela carrega força e também sentimento de expansão, “é a mais desconcertante das cores, transbordando dos limites onde se deseja encerrá-lo, parecendo sempre maior do que é na realidade, devido a sua característica expansiva” (PEDROSA, 2009, p.123).

Na saia foi utilizada a cor azul, a mais escura das três primarias e presente no brasão na representação do mar. Aqui se buscou um equilíbrio nas cores entre quente e frio, mas ainda assim trazendo vivacidade a personagem.

Esses modelos de roupas se baseiam em lembranças de quando eu ia na mata acompanhando minha avó e tia, quando era mais novo, principalmente na época de frutas como o caju e o murici, era assim que elas iam, roupas simples e confortáveis e soltas com longas saias.

Uma coisa que eu nunca havia desenhado fora uma mulher grávida. Foi uma primeira vez e deu um certo trabalho a elaboração desse tipo de corpo feminino, em como representar a gravidez de uma forma natural sem que ela parecesse gorda, então foi através de tentativas que consegui chegar ao biótipo final.

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Homem-caçador: Nas roupas masculinas (figura 15), quanto aos modelos de

roupas também a caracterização se deu em cima da simplicidade, ele aparece vestido com camisa, calça, boné e botas, roupas típicas de alguém de origem simples que está para ir a mata.

No boné está a cor azul. Na cor verde, ligada a esperança e a natureza está na camisa, aparece no brasão na representação da vegetação e nas duas varas de cana-de-açúcar. A calça é marrom, e está no brasão nas representações das falésias, a cor marrom “significa penitência, sofrimento, aflição e humildade” (PEDROSA, 2009, p.130).

O biótipo masculino foi mais simples de trabalhar, mas aqui ficou um questionamento: ele na lenda aparece como um caçador, e pensei em que arma representar. Reflito sobre isso e em como as imagens podem influenciar, hoje em dia existe muito do “politicamente correto”, o que as vezes acaba podando ideias e ações, porque podem aparecer pessoas com discursos que “desenhos e ilustrações com armas influenciam crianças” e coisas do gênero, mas opto por manter a arma, aparecendo em algumas ilustrações para ser mais fiel a lenda e as imagens mentais

Figura 15 – Rascunhos sobre a criação do personagem O Caçador. 2017. Foto do autor.

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34 que me aparecem quando imagino a cena, outra coisa que me fez mantê-la é que essas ilustrações não são direcionadas exclusivamente a um público infantil.

Muitas das coisas relacionadas a assuntos mais “adultos” e “polêmicos” como violência, drogas, o sexo e a conceitos como a morte são veiculadas a um público infantil e juvenil em animações e na internet, mas tudo depende da abordagem utilizada pelos criadores, a forma como introduzem e trabalham tais assuntos para que esses jovens tenham lições positivas e as compreendam.

A indústria cultural de massa, principalmente a audiovisual e as mídias digitais, mais em alta com os avanços da internet produzem muitas vezes conteúdos de cunho extremamente comerciais, atacando os desejos de jovens, os youtubers (donos de canais no site de vídeo YouTube) que hoje tem milhões de seguidores influenciam uma geração inteira em crescimento, a imagem na atualidade tem um poder imenso, e a internet é um mar de informações que parece sem fim. Para um público infantil precisa se ter um controle sobre o que é consumido na rede e abrir espaços para conversas. A sala de aula certamente é um ótimo lugar e o professor de artes, que trabalha para compreender as imagens e todo o complexo por traz de seus sentidos, as vezes vários, deve dialogar com seus alunos quando possível sobre tais temas.

Com o uso da acrílica descartado, penso em duas opções: o uso de lápis de cor e de giz de cera, ambos da Faber-Castell da linha escolar. A teste, com lápis de cor aplico no desenho do bebê (figura 16), para ver o contraste com elementos feitos em esferográfica, também crio uma cena utilizando a mulher grávida e outra focando no detalhe da mão também com elementos em esferográfica, mas colorindo com giz de cera (figuras 17 e 18).

Percebe-se que o giz de cera tem uma forte camada de pigmento no papel, que atrapalhou na hora do acabamento com nanquim que procurei corrigir algumas borradas nas figuras 17 e 18, pela pouca prática que tenho com o material. Em comparação com o lápis de cor, o giz parece mais grosseiro, e com o lápis de cor consigo trabalhar melhor principalmente sombreamentos leves, por conta disso, opto por não utilizar o giz de cera.

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Figura 17 – Experimentação com coloração em giz de cera e caneta esferográfica 1. 2017. Foto do autor.

Figura 18 – Experimentação com coloração em giz de cera e caneta esferográfica 2. 2017. Foto do autor. Figura 16 – Experimentação de coloração

com lápis de cor e caneta esferográfica. 2017. Foto do autor.

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PRODUÇÃO

Para as ilustrações da Lenda do Pagão, criou-se um roteiro (figuras 19 e 20) para usar como base da visão geral das cenas das ilustrações e de uma possível paginação. Compreendemos que as escolhas como suporte e técnica vão pelo viés do que podemos considerar tradicional, mesmo que nas orientações surgiram soluções interessantes como a fotografia em conjunto com o desenho, mesmo trabalhando assim, buscamos contrastes fortes entre fundo e personagens, onde a paisagem aparece monocromática e construída de forma naturalista e os personagens são policromáticos e estilizados, essas escolhas foram feitas em cima da minha preferência e o que eu já tinha praticado como técnica artística, me dando mais segurança nas execuções.

É mantida a ideia da orientação à italiana, e também na utilização de folhas duplas, é a partir desses primeiros rascunhos que se deu início a parte prática desse projeto. Com isso, começo a visualizar a paginação e a ordenação, também são nestas primeiras folhas que aparecem as ideias de como estarão os personagens posicionados, questões de enquadramento e de observar o desenrolar da narrativa.

Neste trabalho uso bastante termos como “enquadramento”, “cenário”, “cena”, que remetem por exemplo ao cinema, esses termos foram usados de forma inconsciente muitas vezes e acredito que isso aconteça porque as artes se comunicam entre si, que os artistas procuram em obras de diferentes fazeres artísticos inspirações e referências para incorporarem ao seu repertório, mesmo que o suporte e técnicas sejam diferentes, aos artistas visuais as imagens são seu principal objeto de trabalho e pesquisa.

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Figura 19 – Rascunho do roteiro sobre a lenda da Trilha do Pagão 1. 2017.

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Figura 20 – Rascunho do roteiro sobre a lenda da Trilha do Pagão 2. 2017.

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39 Após observar cada experimentação e como os pigmentos se comportavam junto a composição com elementos em caneta esferográfica, os materiais que são escolhidos para a criação das ilustrações são os lápis de cor da Faber-Castell da linha escolar, por conta da facilidade da mistura dos pigmentos para obtenção dos efeitos de sombreamento nos personagens; papel offset de gramatura 300 como suporte; canetas esferográficas: Compactor Ecomonic, caneta Bic Cristal e Bic ponta fina, sendo as 3 de cor azul com variações de tons. No acabamento dos personagens, nos contornos utilizo a caneta descartável nanquim Uni Pin line fine, de espessura de 0,3 mm.

Figura 21 – Sem título. 2017. Foto de Clara Avelino.

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40 No suporte, os personagens foram desenhados primeiro com lápis grafite, os posicionando no espaço em branco do papel, os enquadrando a partir dos exemplos nos esboços do roteiro. Então se passou a desenhar os fundos com as canetas esferográficas, nestes fundos o que domina é a representação da vegetação da mata atlântica.

A característica que mais considero importante das canetas esferográficas é a facilidade com que sua ponta passeia pelas superfícies, diferentes das suas antecessoras, as canetas bico de pena. Isso ajuda bastante na criação dos fundos onde as plantas com seus troncos e folhas seguem em várias direções. Isso se deve pela sua ponta que carrega uma pequena esfera que espalha uniformemente a tinta que fica contida na bomba.

Na primeira ilustração (Figura 22) temos o casal, no fundo desta cena buscou-se uma variação de vegetação. Como referências busco em fotografias que tenho da época de ensino médio, onde estudei na Escola Estadual Prof. Paulo Freire na cidade de Baia Formosa, de uma aula de campo que minha turma do 3° ano fez pela

Figura 22 – Desenvolvimento do fundo da 1ª ilustração. 2017. Foto do autor.

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41 Mata da Estrela. Nesta aula fizemos uma caminhada de mais de 2 horas pela mata acompanhados pelo professor de biologia José Carlos e uma professora convidada, onde analisamos aspectos como flora, fauna e as características do bioma da mata atlântica.

Figura 23 – Entrada da Mata da Estrela. 2011.

Figura 24 – Foto para referência de vegetação 1. 2011.

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Figura 25 – Foto para referência de vegetação 2. 2011.

Figura 26 – Foto para referência de vegetação 3. 2011.

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Figura 28 – Desenvolvimento do fundo da 3ª ilustração. 2017. Foto do autor.

Figura 27 – Desenvolvimento do fundo da 2ª ilustração. 2017. Foto do autor.

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44 Na primeira ilustração o casal aparece junto, o foco da 2ª (Figura 27) e 3ª (Figura 28) é na separação do casal, nela vemos a ocupação de cada um, o homem aparece como se estivesse caçando, a procura de algo, se esgueirando e a mulher se apresenta com as mãos nos frutos de uma árvore, como se coletando frutos.

Na cena em particular da mulher, na 3ª e 4ª ilustrações ela aparece coletando frutinhas, me baseei no murici para referências, por ser uma planta frutífera que é facilmente encontrada na mata da cidade, desenhá-las me trouxe aquela sensação de nostalgia. Neste detalhe (figura 29), utilizou-se as canetas Bic cristal nas folhas e galhos, nas frutas que são miúdas a caneta Bic de ponta fina.

Em uma das últimas orientações, o Professor Everardo me chamou a atenção deste detalhe (figura 29), que notou semelhanças com gravuras do artista e ilustrador francês Gustave Doré (Estrasburgo,1832 - Paris, 1883), do século XIX, pelo trato com o naturalismo no detalhe do desenho, também acredito que os

Figura 29 – Detalhe da 3ª ilustração. 2017.

Figura 30 – Imagem de fruta do murici. Disponível em: < http://poderdasfrutas.com/categoria/murici/ >. Acesso em novembro de 2017.

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45 desenhos que criei se assemelham um pouco com gravuras por conta dos traços estarem visíveis, lembrando riscos e a monocromia.

Esta observação me chamou a atenção porque no início das pesquisas procurei fotos de ilustrações, e algumas que me chamaram a atenção eram de gravuras, como a de Doré, uma que me marcou bastante é a Le Chat Botté (figura 31), pelo naturalismo que trata a figura do gato e da vegetação, e como conseguimos distinguir as figuras mesmo em uma imagem monocromática, outro gravurista que pesquisei bem no início foi o alemão Albrecht Dürer (Nuremberg, 1471 — Nuremberg, 1528), do século XV. Após este episódio, tenho certeza que existe influencia destes artistas nesta produção, que nem eu mesmo havia percebido.

Sobre a 4ª ilustração (Figuras 33 e 34), foi a que mais caprichei nas expressões faciais, neste momento, a mulher aparece sentindo as primeiras dores do parto, interrompendo a atividade de coleta, na personagem as linhas de contorno e as linhas de expressão no rosto ficam mais fortes, a também uma diminuição do

Figura 31 – Ilustração de Gustave Doré, Le

Chat Botté. Disponível em: < https://br.pinterest.com/pin/318840848596134 483/ > Acesso em: junho de 2018.

Figura 32 – Ilustração de Albrecht Dürer, Adão e

Eva. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1171361- mostra-de-gravuras-reune-obras-primas-de-durer-e-do-renascimento-alemao.shtml > Acesso em: junho de 2018.

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46 fundo, dando espaço maior para o branco, concentrando a cena quase que inteiramente na personagem.

Existe também uma aura azul sobre a mulher, que contrasta com sua blusa de um amarelo vivo, além de destacar a personagem ainda mais, o uso do recurso desta aura é em tentar aumentar a tensão sobre a cena.

Figura 33 – Desenvolvimento do fundo da 4ª ilustração. 2017. Foto do autor.

Figura 34 – 4ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor.

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47 Na 5ª ilustração (Figuras 35 e 36), mudei o formato do suporte usado para tentar visualizar as ilustrações em uma paginação dupla. Cortando um papel offset de formato A4, ficando nas dimensões de 29.7 x 10,5 cm. A área do papel ficou menor, mas com o uso das canetas esferográfica e nanquim de pontas finas não houveram grandes dificuldades para fazer os desenhos mesmo em papéis reduzidos.

Figura 35 – Desenvolvimento do fundo da 5ª ilustração. 2017. Foto do autor.

Figura 36 – 5ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor.

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48 Aqui temos uma cena que difere das demais ilustrações por conta do ângulo que a personagem aparece. Na maioria das cenas temos uma visão frontal dos personagens, mas nesta aqui, para toque dramático ela aparece em contra ploongé, ou tomada em ângulo baixo, é um ângulo de cena de baixo para cima, bastante usado no mundo cinematográfico, “angulos baixos devem ser usados quando se deseja utilizar assombro ou entusiasmo...” (MASCELLI, 2010, p. 50). Nas figuras 35 e 36 temos exemplos do uso dessa técnica de ângulo em diferentes tipos de mídias.

Essa mudança de ângulo com relação a personagem foi utilizada para tentar passar mais drama, junto com a utilização maior do lápis de cor preto na região da barriga, cor muitas vezes associada no ocidente ao luto, “o preto não é cor. Seu aparecimento indica a privação ou a ausência de luz. Em condições normais, o preto absoluto não existe na natureza” (PEDROSA, 2009, p.132). Uma expressão comum dada ao parto é a “dar à luz”, que contrasta com o preto utilizado na região do ventre, tudo isso já busca preparar para algo que não seja bom no decorrer da história. Outro recurso usado é a acentuação das linhas de contorno, que estão mais carregados e grossas.

Outra particularidade são as copas das árvores que aparecem, esta foi a parte mais trabalhosa de toda a produção, pelo fato de ter de acertar o ângulo para dar a sensação de altura, outra grande dificuldade foi a profusão de folhas que foram

Figura 37 – Cena do filme Bastardos Inglórios. Exemplo de uso de contra ploongé no cinema.

Disponível em: <

https://www.agambiarra.com/plongee-contra-plongee/ > Acesso em junho de 2018.

Figura 38 – Cena da animação Saint Seiya. Exemplo de uso de contra ploongé em animação. Disponível em: < http://pt-br.saintseiya.wikia.com/wiki/Shaka_de_Virgem > Acesso em junho de 2018.

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49 muitas, além da procura de efeito de sombreamento, sendo a parte central das árvores mais escura e as mais externas claras. Com todo o trabalho, o efeito foi satisfatório e considerei bastante visível.

Nas demais ilustrações os caules das árvores e algumas folhagens aparecem, sugerindo uma grande verticalidade e até mesmo rigidez, também um grande recurso é o branco do próprio suporte, que traz bastante a sensação de vazio. É uma boa quebra essa aparição das copas, mostrando bastante movimento pelas várias direções e nas mudanças de tons das folhas.

A partir da sexta ilustração acontece uma redução dos fundos dos cenários, para que se tenha um foco maior no que os personagens estão sentindo, as ilustrações focam nas emoções do casal. A partir daqui, com o uso do branco do papel, tento deixar um espaço para os leitores das imagens tanto se foquem nas sensações que os personagens sentem quanto para imaginarem seus próprios cenários, diz Pedrosa (2009, p.131) que “Nas especulações estéticas, o branco sempre figurou como o reino das possibilidades infinitas.” A abertura para que o leitor de imagens possa viajar e imaginar é um dos grandes desafios para os ilustradores:

O mais desafiador na criação dos livro-imagem é ser capaz de conduzir, com delicadeza, os leitores e, ao mesmo tempo, abrir todas as possibilidades de diversas experiências de leitura. Um livro ilustrado bem-sucedido deixa espaço para o leitor imaginar; um livro ilustrado frustrante não deixa espaço nenhum e está inteiramente cheio de imagens de um artista sem imaginação (LEE, 2012, p. 146).

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50 Com esses espaços, a narrativa não segue só em linha reta e fica fechada em si, mas abre espaço para interpretações diversas sobre a história e seus elementos, participando de forma mais ativa do processo. Também fala Oliveira (2009, p. 50) que “Justamente pelo poder cristalizador da imagem, o ilustrador deve ser o mais aberto possível em seu trabalho. ”

Figura 40 – 6ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor.

Figura 39 – Desenvolvimento do fundo da 6ª ilustração. 2017. Foto do autor.

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51 Durante o processo de produção da 7ª ilustração (Figura 41), o casal aparece junto novamente, o homem se aproximou de sua esposa e compreende o que aconteceu, quero passar a sensação de comoção aqui, afinal nesta cena aparece o bebê, nele do azul foi utilizado na cor da pele, uma cor fria, que além de diferenciar dos pais que tem a cor da pele em tons terrosos e quentes, para também trazer à tona que tem algo de errado com a criança. O quero trazer choque, usando o naturalismo com que a criança foi retratada e a tristeza no olhar de seus pais que a observam, nos faz saber que a criança não está bem, até mesmo já sem vida. Outro elemento interessante aqui é essa aura azul, que traz frieza e tristeza a cena.

Ao observar a 7ª ilustração, o homem parece menor, com os ombros caídos, passando a mão na cabeça da criança, estando visivelmente abalado, diferente da ilustração seguinte, a 8ª (Figura 42), em que parece maior em relação a mulher, a tocando. Isto foi feito propositalmente para passar a sensação de apoio e de compreensão. A aura azul já não cerca o casal.

Figura 41 – 7ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor.

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52 Também aqui nesta ilustração temos uma mudança, de frente ao casal, um novo elemento colorido, que é um monte de terra, não vemos mais a criança e a mulher parece ainda mais cabisbaixa. Assim, pretendo mostrar que a criança não está mais viva e seu corpo foi enterrado. É este fato que dá nome a lenda da Trilha do Pagão.

Outro elemento importante está na mão da mulher, ela quebra um graveto, este é um costume dos locais, que sempre que passam pela trilha colocam no local onde a criança foi supostamente enterrada um graveto como respeito, e ainda na lenda se diz que se não colocar a pessoa é perturbada dentro da mata pelo choro do

Figura 42 – 8ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor.

Figura 43 – 9ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor.

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53 pagão. Esta parte da lenda que fala sobre o choro do Pagão e o costume dos locais, está retratado na última ilustração, onde o mesmo monte de areia está cheio de pequenos gravetos em cima.

Nas duas últimas ilustrações, a 9ª e a 10ª, vemos o casal se retirando, aqui novamente observamos o apoio que o homem dá a mulher, mesmo assim definitivamente não é fácil imaginar tudo que aconteceu, e ambos, na 9ª ilustração, estão cercados pela aura azul novamente. Na 10ª, onde está representado onde o Pagão está sepultado, vemos vários galhinhos em cima do lugar, que se deixa lugar a interpretação, que pode ser um tempo mais a frente, que para mim é a retratação do costume da população Baia formosense.

Figura 44 – 10ª ilustração finalizada. 2017. Foto do autor.

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Figura 45 - Ilustração 1. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017.

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Figura 46 - Ilustração 2. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017.

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Figura 47 - Ilustração 3. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017.

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Figura 48 - Ilustração 4. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017.

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Figura 49 - Ilustração 5. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 10,5 cm, 2017.

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Figura 50 - Ilustração 6. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 10,5 cm, 2017.

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Figura 51 - Ilustração 7. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017.

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Figura 52 - Ilustração 8. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 21 cm, 2017.

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Figura 53 - Ilustração 9. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 10,5 cm, 2017.

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Figura 54 - Ilustração 10. Técnica mista sobre papel offset, 29,7 x 10,5 cm, 2017.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos que a pesquisa feita nos moveu em busca de resolver os desafios que tanto a procura de fundamentação teórica quanto a produção causaram, enriquecendo e contribuindo para este trabalho. O principal interesse deste memorial foi a de registrar as reflexões e o processo criativo, onde ficaram descritos as etapas e discussões durante o seu desenvolvimento.

Todas as escolhas e mudanças durante o processo de produção tentaram criar uma boa comunicação visual, para que as imagens possam alcançar seu objetivo que é a de contar a lenda da Trilha do Pagão, de forma que tenham uma sequência e sigam uma narrativa. A ideia para o uso dessas imagens é que elas ou não acompanhem textos ou que o texto ocupe um pequeno espaço em página, dando espaço maior para as ilustrações, por conta disso as imagens seguem bastante o que a lenda narra, mas este modo de ilustrar é com base no que considerei melhor para o sentido da narrativa. Espero que essas ilustrações possam prender a atenção dos que as verem e que instiguem a curiosidade para conhecerem melhor as lendas do nosso estado, esse material riquíssimo da cultura e esperamos que abra portas para uma procura deste material cultural.

A maior dificuldade encontrada foi a de me organizar para a pesquisa, dentro do mundo acadêmico é fundamental a organização e planejamento para se chegar a bons resultados e não perder o fio da meada. Na produção, a escolha das técnicas foram algo que precisou ser questionado, quando pensei a prática, quis usar a tinta acrílica que utilizava bastante na época do início das primeiras pesquisas teóricas em 2016, mas com as experimentações houveram mudanças e também a vontade de mudar, por conta disso foi decidido usar uma mescla de técnicas, no caso o lápis de cor e a caneta esferográfica na criação das ilustrações, indo em um caminho diferente do que havia planejado, mas ainda assim uma experiência válida e satisfatória.

Assimilei que a ilustração tem um importante papel no processo de aprendizagem, evidente principalmente no aprendizado infantil. As imagens instigam e atraem as crianças para a leitura, e tem o poder de até mesmo ultrapassar as limitações dos textos. Seu uso pelos professores proporciona uma ampliação e até

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66 consegue provocar uma nova significação do texto escrito, ajudando no desenvolvimento da cognição, da análise e da capacidade imaginativa.

A ilustração abre amplamente espaço para produção e reflexão dentro de sala de aula, indo de frente a propostas de ensino artístico como o de Ana Mae Barbosa com a Abordagem Triangular. As imagens são objetos de análise científica e estão à disposição para interpretação, sendo meios para discursões de temáticas de várias naturezas, até mesmo os mais difíceis.

Após esta pesquisa, meus conhecimentos sobre ilustração deram um salto, mas não somente, inclusive sobre os conceitos de cultura popular e lendas, entendo melhor agora sobre os campos de tais temáticas e como em nosso estado existem várias histórias que fazem parte da vida e do imaginário dos norte-rio-grandenses. Também vejo a importância da bagagem de conhecimento que carregamos, refletindo nas nossas escolhas e preferências na hora da criação artística. Observei como as diferentes artes servem de referência umas para as outras, independente que sejam de técnicas e suportes diferentes. Tendo produzido como ilustrador, compreendo melhor a questão do planejamento e pesquisa para o artista e como essa organização das ideias é importante para o compositor visual.

Referências

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