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A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral em contexto pré-escolar

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral em

contexto pré-escolar

Relatório Final de Estágio de 2.º Ciclo em Educação Pré-Escolar e Ensino

do 1.º Ciclo do Ensino Básico

Sandra Margarida Ribeiro da Silva

Orientadora: Prof.ª Doutora Susana de Fátima Póvoa Alves Fontes

Vila Real, 2017

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral em

contexto pré-escolar

Relatório Final de Estágio de 2.º Ciclo em Educação Pré-Escolar e

Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico

Sandra Margarida Ribeiro da Silva

Orientadora: Prof.ª Doutora Susana de Fátima Póvoa Alves Fontes

Composição do júri:

Prof.ª Doutora Ana Maria de Matos Ferreira Bastos

Prof.ª Doutora Ana Paula Simões do Vale

Prof.ª Doutora Susana de Fátima Póvoa Alves Fontes

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A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral em contexto pré-escolar

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Agradecimentos

Agradeço do fundo do coração a todos aqueles que seguiram os meus passos, ajudaram-me a lutar pelos meus sonhos e me acompanharam até ao fim deste percurso.

O meu agradecimento especial vai para os meus pais, irmãos e namorado, pelo amor, companheirismo e paciência.

Às minhas amigas agradeço todo o carinho, amizade e apoio.

À minha orientadora, Professora Susana Fontes que sempre me apoiou e nunca me deixou desistir graças à sua disponibilidade e ajuda.

Aos que acompanharam e enriqueceram a minha prática de ensino supervisionada, nomeadamente a Prof. Margarida Assunção (1.º ciclo), a Educadora Maria Helena Macieirinha (Pré-escolar) e a todas as crianças, obrigada pela motivação e empenho no meu trabalho desenvolvido.

Sem esquecer os orientadores da universidade, e restantes professores.

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A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral em contexto pré-escolar

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Resumo

O presente relatório de estágio é elaborado no âmbito do Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico, com o objetivo de analisar a aquisição e o desenvolvimento da linguagem nas crianças com idades compreendidas entre os 0 e os 5/6 anos.

A linguagem oral possibilita o contacto do indivíduo com a sociedade, através da transmissão e receção de mensagens orais, permitindo que a criança esteja relacionada com a mesma, em diversas situações, como por exemplo quando formula pedidos, narra histórias, canta canções, quer no jardim de infância, quer em casa ou até mesmo na rua.

A criança não nasce a falar nem inventa a linguagem, daí a necessidade de se perceber a forma como a criança adquire e desenvolve a linguagem.

As pessoas que estão em contacto com a criança, nomeadamente o educador, desempenham um papel importantíssimo na aquisição e desenvolvimento oral da criança. O educador deve estabelecer momentos de comunicação com as crianças, prestar atenção à linguagem de cada criança, corrigir os “erros” com reforços positivos e aceitar o seu ritmo.

Neste sentido, durante o meu estágio no pré-escolar, preocupei-me em realizar atividades relacionadas com o desenvolvimento da linguagem oral.

Palavras-chave: Linguagem oral; Aquisição da linguagem; Desenvolvimento da

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A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral em contexto pré-escolar

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Abstract

This internship report is elaborated within the scope of the Master’s Degree in Pre-School Education and 1st Cycle of Basic Eduction, with the aim of analyzing language acquisition and development in children aged from 0 to 5/6 years old.

The oral language enables the individual to communicate with society, through the transmission and reception of oral messages, allowing the child to be related to it, in various situations, such as when placing orders, telling stories, singing songs, whether in kindergarten, at home or even on the street.

The child does not born speaking neither invents language, therefore the need to perceive the way the child acquires and develops the language.

People who are in contact with the child, particularly the educator, play a very important role in the acquisition and oral development of the child. The kindergarden teacher should establish moments of communication with the children, pay attention to each child’s speech, correct their “mistakes” with positive reinforcements and accept the rhythm of each child.

Therefore, during my pre-school internship, i was focused in performing activities to the development of oral language.

Key-words: Oral language; Language acquisition; Language development;

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Índice

Agradecimentos ... i Resumo ... ii Abstract ... iii Índice de imagens ... vi Introdução ... 1

Parte I- Enquadramento Teórico... 3

Capítulo I- A linguagem oral ... 4

1- A linguagem oral e a sua importância ... 4

2- Fatores que influenciam o desenvolvimento da linguagem oral ... 6

Capítulo II- Aquisição e desenvolvimento da linguagem oral ... 9

1- Aquisição da linguagem oral ... 9

1.1- Perspetivas explicativas ... 10

1.1.1- Teoria behaviorista ... 10

1.1.2- Teoria Gerativa ... 12

1.1.3- Teoria da epistemologia Genética ... 13

2- Desenvolvimento da linguagem oral ... 14

2.1- Domínios linguísticos ... 15

2.1.1- Desenvolvimento Fonológico ... 15

2.1.2- Desenvolvimento lexical e semântico ... 16

2.1.3 Desenvolvimento sintático e morfossintático ... 17

2.1.4- Desenvolvimento pragmático ... 18

3- A aquisição e desenvolvimento da linguagem dos 0/ 6 anos de acordo com os domínios ... 19

3.1- Grupo dos 0 meses a 1 ano ... 19

3.2- Grupo de 1 aos 2 anos ... 21

3.3.- Grupo dos 2 aos 3 anos ... 22

3.4- Grupo dos 3 aos 4 anos ... 24

3.5- Grupo dos 4 aos 5 anos ... 25

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4- O papel do educador de Infância na aquisição e no desenvolvimento da linguagem oral 28

Parte II- A prática educativa no contexto pré-escolar ... 31

1- Caracterização do contexto educativo ... 32

1.1- O meio sociogeográfico da instituição ... 32

1.2- O meio institucional ... 33

1.2.1- Espaço exterior do jardim de infância ... 33

1.2.2- Espaço interior do Jardim de Infância ... 36

1.2- A sala ... 38

1.3- A turma ... 46

1.4- A Família ... 47

2- Atividades... 49

2.1- Atividade 1- As profissões ... 49

2.2- Atividade 2 - A casa da minha família ... 52

2.3- Atividade 3- Reconto de histórias ... 54

2.4- Atividade 4- Descrição de uma imagem ... 56

3- Apreciação crítica ... 58

Conclusão ... 60

Referências Bibliográficas ... 62

Webgrafia ... 63

Apêndices ... 65

Apêndice A- Planificação da atividade 1 ... 65

Apêndice B- Planificação da atividade 2 ... 67

Apêndice C- Planificação da atividade 3 ... 70

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A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral em contexto pré-escolar

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Índice de imagens

Figura 1- Localização do distrito de Vila Real ... 32

Figura 2- Parte coberta do recreio ... 34

Figura 3- Horta ... 35

Figura 4- Edifício ... 36

Figura 5- Planta do J.I ... 36

Figura 6- Casa de banho ... 37

Figura 7- Refeitório ... 38

Figura 8- Sala polivalente ... 38

Figura 9- Entrada da sala ... 39

Figura 10- Área de recorte, colagem e pintura ... 40

Figura 11- Área da casinha e mercearia ... 41

Figura 12- Área da Garagem e construção ... 42

Figura 13- Área da biblioteca ... 43

Figura 14- Área do computador... 43

Figura 15- Área do acolhimento ... 44

Figura 16- Mobile dos meios de transporte ... 45

Figura 17- Mapa das presenças ... 45

Figura 18- Idade das crianças ... 46

Figura 19- Habilitações literárias ... 47

Figura 20- Pintura da imagem da profissão ... 51

Figura 21- Colagem da imagem da profissão ... 51

Figura 22- As casas ... 53

Figura 23- Reconto da história ... 55

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A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral em contexto pré-escolar

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Introdução

O presente relatório de estágio consiste na reflexão acerca da prática de ensino supervisionada em contexto da educação pré-escolar, fundamentada com uma parte teórica, elaborada no âmbito do mestrado em ensino de educação pré-escolar e ensino do 1.º ciclo do ensino básico, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

A minha prática de ensino supervisionada foi realizada numa escola situada no distrito de Vila Real denominada de Jardim de Infância do Bairro de S. Vicente de Paula, pertencente à rede pública do Ministério da Educação e inserida no Agrupamento de Escolas da Diogo Cão.

Conforme estabelecido na Lei n.º 5/97, de 10 de fevereiro, da Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar, “a educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo complementar da acção educativa da família, com a qual deve estabelecer estreita cooperação, favorecendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário”.

O presente documento é composto por duas partes: a primeira, alusiva ao enquadramento teórico e a segunda, referente à minha prática educativa no contexto da educação pré-escolar.

A primeira parte, o enquadramento teórico, encontra-se dividida em dois capítulos. No primeiro capítulo, será abordado o conceito de linguagem oral e a sua importância na vida da criança. Serão, também, abordados os fatores que mais influenciam o desenvolvimento da linguagem oral, entre eles, a família, o nível socioeconómico, a etnia e a cultura.

No capítulo seguinte, a aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral, irei falar em primeiro lugar da aquisição da linguagem oral, podendo assim afirmar que “a aquisição da linguagem é, provavelmente o mais impressionante empreendimento que o ser humano realiza durante a infância” (Sim-Sim, Duarte  Ferraz 1997: 44).

Serão apresentadas três perspetivas explicativas: a teoria behaviorista, também conhecida como comportamentalista, orientada por Skinner, em que o mesmo defende ser através do meio envolvente que a criança adquire a linguagem oral; a teoria gerativa ou inatista, em que Chomsky defende que a criança adquire a linguagem através de um

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dispositivo de aquisição da linguagem e, por último, a teoria da epistemologia genética, em que Piaget acredita que a aquisição da linguagem não depende só do meio envolvente, mas sobretudo da evolução cognitiva da criança.

Ainda neste capítulo, está presente o desenvolvimento da criança, com a abordagem dos principais domínios linguísticos, como o desenvolvimento fonológico, o lexical e semântico; sintático e morfossintático e, por último, o pragmático. De acordo com os domínios referidos anteriormente, serão destacadas algumas das características das crianças dos 0 aos 6 anos.

Uma vez que o desenvolvimento da linguagem oral tem uma importância fundamental na educação pré-escolar, cabe ao educador promover uma série de atividades, onde as crianças deverão ter acesso a materiais diversificados com o objetivo de estimular a linguagem oral das mesmas.

Na segunda parte deste documento, focar-me-ei sobre a minha prática educativa no contexto pré-escolar, iniciando com a caracterização do contexto educativo, nomeadamente o meio sociogeográfico da instituição e o meio institucional, fazendo uma breve descrição da cidade de Vila Real, da instituição, incluindo o espaço interior e exterior da mesma. Ainda na caracterização, mais aprofundadamente irei descrever a sala, a sua organização relativamente à distribuição dos espaços e materiais, a composição da turma e respetiva família, mais precisamente o agregado familiar.

Seguem-se algumas das atividades realizadas durante o percurso da minha prática de ensino supervisionada, com o objetivo de analisar as características da linguagem das crianças e uma apreciação crítica da prática executada.

Por fim, temos a conclusão decorrente do trabalho aqui desenvolvido, as referências bibliográficas e os apêndices.

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Capítulo I- A linguagem oral

1- A linguagem oral e a sua importância

A linguagem oral distingue a espécie humana da espécie animal. Em algumas religiões, a linguagem constitui a origem da vida humana e do poder, por exemplo, para alguns africanos, quando a criança nasce, é considerada um “kuntu”, uma coisa e só passa a ser um “muntu”, uma pessoa depois de adquirir a linguagem (Fronkim Rodman 1993: 3).

Sim-Sim (1998: 21) salienta que, “embora a função primordial da linguagem seja a comunicação, linguagem e comunicação não são sinónimos”. Aimard (1998: 171) possui a mesma opinião, realçando que “a comunicação e a linguagem não são sinônimos, mas tampouco são setores diferentes de atividades escolares, como se pudéssemos dedicar um momento ao ensino da linguagem e outro à comunicação. Os dois estão unidos; são complementares.”

É através da linguagem oral que o ser humano consegue estabelecer comunicação com a sociedade, compreender e transmitir as mensagens. Esta ideia é reforçada por Lentin (1981: 69), quando refere que “para viver em sociedade, mesmo numa sociedade restrita, a criança tem necessidade de uma linguagem que lhe permita transmitir e receber informações e mensagens. É-lhe, portanto necessário dominar não apenas a produção, mas também a compreensão dessa linguagem”.

Para conhecer a língua, é necessário dominar o sistema que associa os sons e os respetivos significados, uma vez que a ligação entre ambos é na maior parte dos casos arbitrária (Fromkin  Rodman 1993: 6).

Para além da arbitrariedade, que está ligada à mensagem através da representação simbólica, está também presente a criatividade, que ocorre quando novos enunciados são produzidos e entendidos por outros falantes. A compreensão e a produção constituem ainda duas componentes da linguagem oral. A primeira está relacionada com a receção de uma cadeia de sons e a sua devida interpretação conforme as regras do sistema linguístico. A segunda “[...] diz respeito à estruturação da mensagem, formatada de acordo com as regras de um determinado sistema e materializada na articulação de cadeias fónicas, na linguagem oral[...]”(Sim-Sim 1998: 24).

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Quando produzimos uma frase, há uma grande diferença entre aquilo que sabemos (competência ou capacidade) e a forma como utilizamos esse conhecimento (realização linguística) (Fromkin e Rodman 1993: 11).

A linguagem, como comunicação verbal, é utilizada por todos os seres humanos para comunicarem entre si, através de um sistema de símbolos e regras de organização que fazem com que o pensamento e a informação sejam organizados e armazenados, respetivamente (Sim-Sim 1998: 38). A mesma autora afirma ainda que, na produção da linguagem oral, a mensagem segue as regras de um determinado sistema e concretiza a articulação de certas cadeias fónicas (Sim-Sim 1998: 24).

Luria (2001: 25) entende a linguagem humana como “[...] um complexo sistema de códigos que designam objetos, características, acções ou relações [...]”.

Através da linguagem, as crianças formulam pedidos, respondem a perguntas, narram histórias, cantam canções, fornecem informações, ou seja,

tal como os adultos, as crianças usam a linguagem oral com propósitos e finalidades diversas, partindo delas a iniciativa da interacção, ou tomando a vez nas interacções iniciadas por outrem, não só em contexto de jogo e brincadeira, mas, também, para resolver problemas decorrentes da sua participação em actividades do dia-a-dia, em casa, na rua ou no jardim-de-infância (Sim-Sim et al. 2008:30).

A linguagem desempenha um papel importantíssimo na sociedade. “Através da linguagem recebemos, transportamos e armazenamos informação; usamo-la para comunicar, organizar e reorganizar o pensamento” (Sim-Sim 1998: 19).

Como referido anteriormente, a linguagem permite que o ser humano desenvolva uma troca de mensagens orais. Neste contexto, “[...] deparamo-nos com o facto da criança poder ser receptor de uma mensagem verbal[...] ou pode ser o emissor [...]” (Enciclopédia de Educação Infantil 1997: 613), daí a grande importância da linguagem oral, uma vez que a criança, enquanto recetora, consegue perceber o essencial da mensagem, quer por parte dos pais, da educadora ou dos colegas, mas também consegue transmitir o que sente e o que pensa num dado momento ou até mesmo em relação a situações já vividas.

Para Sim-Sim, (1998: 19) a linguagem não requer justificação, está de certa forma ligada à vida do ser humano, que não pode viver sem ela, pois através dela é possível conhecer a realidade, partilhar experiências e emoções, por outras palavras, a linguagem oral está presente em todas as situações do dia a dia da criança, quer em casa, na rua e na educação pré-escolar, desde as rotinas, atividades e refeições.

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Nos primeiros meses de vida, a utilização da linguagem é um elemento crucial no desenvolvimento cognitivo do bebé (Papalia et al. 2001: 215). Ao conhecer as palavras e poder utilizá-las, a criança é capaz de nomear pessoas, animais, objetos. Para além disso, Luria  Yudovich (1985: 11) consideram que, através da palavra, a criança cria e/ou desenvolve a memória, a imaginação, a atenção, o pensamento e a ação, ou seja, a linguagem representa um papel determinante na formação dos processos mentais.

As crianças que não adquiriram a linguagem ou fazem um uso restrito da mesma não são capazes ainda de resolver certos problemas, o contrário acontece com as crianças que já tenham adquirido a linguagem, desta forma, podemos considerar que “[...] é a aquisição da linguagem ou o progresso na sua utilização que permitiram avançar; é à linguagem que se deve atribuir essa superioridade, esta vitória no desenvolvimento” (Oléron 1978: 10). Outra vantagem da aquisição da linguagem é “[...] que a criança não somente aprende a lidar com os seus pares, mas também com a assimetria das relações humanas, os diferentes papéis sociais e as regras implicadas nessas relações” (Limongi 2003: 6).

A linguagem oral, para além da abordagem à escrita, é um dos domínios mais relevantes nas OCEPE pois “sabe-se que a linguagem oral é central na comunicação com os outros, na aprendizagem e na exploração e desenvolvimento do pensamento, permitindo avanços cognitivos importantes” (Silva et al. 2016: 60).

2- Fatores que influenciam o desenvolvimento da linguagem oral

A aquisição e desenvolvimento da linguagem na criança é um processo que ocorre de forma involuntária e natural, no entanto é importante ter em conta que cada criança possui as suas características e o seu próprio ritmo. O educador e a escola desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da criança, como comprova a autora:

O jardim-de-infância pode ser determinante no desenvolvimento das capacidades comunicativas da criança, quer através da interacção dual com o educador, enquanto conversa com a criança, quer na execução deliberada e sistemática de actividades específicas destinadas a promover aspectos centrais da comunicação verbal. (Sim-Sim et al. 2008: 35).

Existem, porém, outros fatores que estão presentes neste momento tão importante da vida do ser humano, como refere Sim-Sim (1998: 263), a língua “[...] está sujeita a

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variações que dependem de diversos factores, nomeadamente, a posição sociocultural dos que a usam, a localização geográfica da comunidade onde é falada e as condições de isolamento dos falantes.” Papalia et al. (2001: 9) acrescentam ainda algumas condicionantes que podem afetar o desenvolvimento da criança, como a hereditariedade, o ambiente externo, a maturação do corpo e do cérebro e ainda fatores ambientais, como a família, o nível socioeconómico, a etnia e a cultura. Atualmente, existem muitas famílias que não seguem os padrões mais tradicionais (pai, mãe e filho (os), existindo famílias monoparentais, com padrastos ou pais homossexuais, pais adotivos ou crianças criadas em instituições. Em relação ao nível socioeconómico, este fator está relacionado com os rendimentos, a educação e a profissão. Cada cultura possui as suas tradições, crenças e valores e algumas delas podem influenciar o desenvolvimento da criança, por exemplo na falta de oportunidade educacional (Papalia et al. 2001: 11).

Falando ainda sobre o ambiente social, Sim-Sim (1998: 265) considera importantes ter em conta três fatores: o primeiro, as características do discurso ouvido, diz respeito à variação que resulta do discurso da criança com os primeiros interlocutores, por exemplo, pais e irmãos mais velhos. Tendo como base a teoria de B. Bernstein, que aponta para a existência de diferentes formas de transmitir a informação, dependendo do grupo social a que pertence, distingue entre «código elaborado» e «código restrito», que é mais utilizado no estrato social mais baixo (Sim-Sim 1998: 265).

Em termos linguísticos, o chamado «código restrito», em contraste com o «código elaborado», contempla uma menor amplitude de vocabulário, uma estrutura gramatical mais simplificada e, por isso, um uso inferior da subordinação, um maior número de frases incompletas, a preferência por formas verbais e adverbiais não complexas, um uso desmedido de pronomes (o que requer uma maior vinculação ao contexto) e uma grande utilização de chaves paralinguísticas (gestos e expressões faciais) para ajudar a transmitir o significado do que é dito (Sim-Sim 1998: 266).

O segundo fator, os padrões de interação adulto e criança, como o próprio nome indica, diz respeito aos padrões de interação a que a criança é apresentada, tendo estes características que se revelam no desempenho linguístico. Por último, as especificidades do contexto não linguístico referem-se ao papel da criança na família, a posição e as aprendizagens que lhe são possibilitadas. A linguagem e a forma como é comunicada difere de grupo para grupo, mas é através da comunicação que a criança aprende a viver socialmente e consegue perceber qual o seu papel na sociedade.

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O contexto familiar é, sem dúvida, fundamental e pode condicionar o desenvolvimento da linguagem. Neste sentido, percebe-se que, se algum familiar possuir algum problema na linguagem, a criança poderá vir a ter dificuldades a esse nível, tal como, por outro lado, pais que são mais brincalhões e faladores acabam por estimular mais os seus filhos a comunicar (Rombert 2013: 128).

Um outro fator é o género, na medida em que as raparigas tendem a ser mais faladoras, mais preocupadas em conversar, utilizam frases mais compridas e vocabulário mais diversificado (Rombert 2013: 128).

Por outro lado, os aspetos que fazem parte do desenvolvimento físico podem também influenciar a aquisição e o desenvolvimento da linguagem, como explica Papalia et al. (2001: 8), “[...] uma criança com frequentes infeções do ouvido poderá apresentar um desenvolvimento mais lento da linguagem do que uma criança sem esse problema”.

Desta forma, em jeito de conclusão, podemos afirmar que quando as crianças crescem num ambiente linguisticamente estimulante e facilitador e não têm qualquer problema físico adquirem naturalmente a linguagem. Caso isto não ocorra, é fundamental que o educador esteja em alerta, pois pode tratar-se de um simples atraso no desenvolvimento da linguagem, mas também podemos estar perante um caso de uma perturbação específica da linguagem, que necessita de ser diagnosticada e tratada por um especialista.

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Capítulo II- Aquisição e desenvolvimento da linguagem oral

1- Aquisição da linguagem oral

Embora tenha havido muitos linguistas a trabalhar sobre a aquisição da linguagem, esta continua a ser uma área muito complexa que é necessário estudar.

A linguagem não é construída isoladamente, mas sim pela criança, de forma cognitiva, cultural e educativa (Aimard 1998: 146). Assim, o mesmo autor salienta que “a criança não inventa a linguagem” (Aimard 1998: 92).

Então como é que a criança aprende a falar? Segundo Castro e Gomes (2000: 39), “a resposta à pergunta de como se aprende a falar é tão (enganosamente) simples como a própria pergunta: aprende-se a falar nascendo humano e vivendo entre pessoas que falam entre si e com a criança que nasce”. Para Sim-Sim et al. (2008: 9), “a aquisição tem lugar durante o período da infância e ocorre de forma natural e espontânea, bastando apenas que a criança esteja exposta e conviva com falantes dessa língua.”

Luria (2001: 30) considera a palavra como elemento fundamental da linguagem, considerando que o início da linguagem da criança está diretamente ligado ao adulto. “As primeiras palavras não nascem dos primeiros sons que emite o lactente, mas sim daqueles que sons da linguagem que a criança assimila da fala do adulto quando ouve.”

Para Aimard (1998: 92), “[...] mesmo se admitirmos que ela possui aptidões inatas, uma espécie de pré-programação das estruturas de linguagem, não constrói nada se não tomar um banho de linguagem”. Os pais, a família e os adultos são os principais responsáveis pelo banho da linguagem que afeta as crianças.

Embora a aquisição da linguagem surja na mesma ordem, a velocidade pode variar, assim, é importante que seja respeitado o ritmo de cada criança. “A construção da linguagem resulta de uma mistura pessoal entre imitação e criatividade: cada um constrói ou reconstrói sua língua a partir de modelos que recebe, porém faz à sua maneira” (Aimard 1998: 35) e, independentemente da raça e da cultura de cada grupo social, todo o ser humano tem direito a adquiri-la (Sim-Sim 1998: 23).

A aquisição da linguagem leva à apropriação subconsciente da linguagem, sem que haja um sistema formal de ensino subjacente.Neste sentido, aquisição não pode ser confundida com aprendizagem, “[...] embora ambos conduzam à apropriação da linguagem, a aprendizagem envolve consciencialização do conhecimento a aprender e

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um certo nível de explicitação e análise de quem ensina” (Sim-Sim 1998: 28). Neste sentido, falamos em aquisição da linguagem e em aprendizagem da leitura e da escrita, por exemplo.

Para alguns linguistas, a aquisição da linguagem é dividida em duas fases, a pré-linguística e a pré-linguística.

Fromkin e Rodman (1993: 352) declaram que, na aquisição da linguagem oral, a criança não adquire apenas regras da gramática (competência linguística), mas também regras mais complexas de uso social (competência comunicativa).

1.1- Perspetivas explicativas

A relação entre o pensamento e a linguagem tem sido alvo de pesquisa (Sim-Sim 1998: 297). Neste sentido, abordaremos as principais orientações teóricas presentes na aquisição da linguagem oral na criança.

De acordo com Papalia et al. (2001: 18), “uma teoria é um conjunto de conceitos relacionados, que procura organizar e explicar dados, a informação recolhida através da investigação”, ajudando a descrever, explicar, predizer e modificar o comportamento.

1.1.1- Teoria behaviorista

A teoria behaviorista, também conhecida na literatura como comportamentalista, foi orientada pelo teórico Burrhs Frederic Skinner. Para o mesmo e para todos os que partilham o mesmo ponto de vista, a experiência é fundamental para a aquisição e desenvolvimento da linguagem, isto é, “a linguagem é um comportamento aprendido, um hábito, e emerge -é construída- a partir da interação do ser com o input fornecido pelo meio” (Finger 2007: 14).

Papalia et al. (2001:26) possuem a mesma opinião, afirmando que “os teóricos da aprendizagem sustentam que o desenvolvimento resulta da aprendizagem, como mudança de longa duração no comportamento baseada na experiência ou adaptação ao meio ambiente.”

Na teoria behaviorista, a linguagem é designada por «comportamento verbal». “A aprendizagem do comportamento verbal, insere-se na perspetiva geral da

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aprendizagem humana, não havendo, portanto, processos ou mecanismos específicos para tal mestria” (Sim-Sim 1998: 298).

Sim-Sim (1998: 299) apresenta três processos de aprendizagem que estão na origem do crescimento linguístico: condicionamento clássico, o condicionamento operante e a modelação por imitação. Por condicionamento, entende-se a associação de um estímulo à resposta, então, ambos os condicionamentos acima mencionados possuem a mesma associação, diferenciando-se pelo facto de, no primeiro, o estímulo ser condicionado e, no segundo, a resposta ser a um reforço que tinha como objetivo gratificar ou punir. A modelação é também uma aprendizagem, mas através da observação dos atos de alguém e dos resultados alcançados.

Assim, Papalia et al. (2001: 220) afirmam que:

Skinner (1957) defendia que a aprendizagem da linguagem, assim como qualquer outra aprendizagem é baseada na experiência. Segundo a teoria da aprendizagem, as crianças aprendem a linguagem do mesmo modo como aprendem outros tipos de comportamento, através do condicionamento operante e da aprendizagem por observação. De início, as crianças produzem sons ao acaso. As figuras parentais reforçam os sons que se assemelham ao discurso do adulto, sorrindo, prestando atenção e falando com as crianças. Então, as crianças repetem esses sons que foram reforçados. As crianças também imitam os sons que ouviram os adultos produzir e, uma vez mais, são reforçados por isso.

De acordo com esta teoria, a criança nasce uma tabula rasa, isto é, só é capaz de aprender uma determinada língua se esta se lhe for ensinada. Finger (2007: 21) realçam esta ideia, afirmando que “[...] o ambiente é o único responsável pelo provimento do conhecimento que ela porventura virá a adquirir, através das leis de condicionamento.” Desta maneira, formará hábitos através da imitação de padrões e sons, que devem ser assistidos por reforços negativos e/ou positivos.

De forma a que a criança consiga ter sucesso a nível linguístico, é importante que as trocas verbais sejam realizadas com quantidade e qualidade, como mostra Finger (2007: 21) ao afirmar que a

[... ] aquisição da linguagem se dá, segundo os behavioristas, mediante a experiência que a criança desenvolve com a língua utilizada pelas pessoas que com ela convivem e é determinada, em última instância, tanto pela qualidade e quantidade da língua que a criança ouve como pela consistência do reforço oferecido a ela pelas outras pessoas em seu meio, fatores esses que determinam o grau de sucesso que ela pode vir a atingir no seu desenvolvimento.

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12 1.1.2- Teoria Gerativa

A teoria gerativa, também designada de inatismo, foi defendida por Chomsky em 1957. Este “[...] propôs que o cérebro humano tem uma capacidade inata para adquirir linguagem; [...] quase todas as crianças dominam a sua língua materna segundo uma mesma sequência etária, sem ensino formal” (Papalia et al. 2001: 221).

Para Chomsky, a criança adquire a linguagem muito cedo, através de uma capacidade que ele designou por LAD - Language Acquisition Devise, em português, DAL - dispositivo de aquisição de linguagem (Sim-Sim 1998: 301). Para Quadros (2007:37), o LAD “[...] concebe que as crianças nascem com tal dispositivo e são expostas a uma ou mais línguas até atingirem a gramática estável”.

Assim, um LAD inato “[...] programa o cérebro da criança para analisar a linguagem que ouve e para extrair, a partir disso, as regras da gramática e da sintaxe” (Papalia et al.2001: 221).

Para a perspetiva inatista, todos os indivíduos nascem com competência para adquirir uma língua, tendo os fatores ambientais e biológicos um papel importante, pois permitem-nos explicar a forma como a criança usa a linguagem. Desta forma, são apresentados três fatores essenciais para a aquisição da linguagem:

a) os princípios geneticamente determinados que limitam a faculdade da linguagem; b) os mecanismos de aprendizagem que também são geneticamente estabelecidos; e c) a experiência lingüística à qual a criança está exposta em uma determinada comunidade de fala (ou de sinais)” (Quadros 2007: 33-34).

Segundo a perspetiva gerativista, a criança adquire facilmente a língua, sem correções e em pouco tempo. Um outro fator importante é a aprendizagem da gramática universal (GU), da qual a criança constrói a sua própria gramática, isto é, “ela ouve ou vê a língua que está sendo usada no seu ambiente e, a partir dela, com base nos princípios e parâmetros da GU, forma sua gramática estável” (Quadros 2007: 34).

Sim- Sim (1998: 302) conclui que:

ao contrário dos behavioristas que defendem que o desenvolvimento da linguagem consiste na aprendizagem de respostas, através da imitação e do reforço, para os defensores do inatismo linguístico o desenvolvimento da linguagem materializa-se na aquisição da gramática da língua e é justificado pela capacidade inata e pela existência de mecanismos específicos da mente para a aquisição da linguagem, os quais explicam a universalidade do processo de desenvolvimento.

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A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral em contexto pré-escolar

13 1.1.3- Teoria da epistemologia Genética

A presente teoria, desenvolvida por Jean Piaget, considera a teoria de Chomsky incompleta, afirmando que a aquisição e o desenvolvimento da linguagem dependem não só do meio, mas também da evolução cognitiva da criança, isto é, a cognição, que na terminologia de Piaget significa inteligência, e surge “como uma forma (mental) da adaptação biológica indispensável às trocas entre um organismo complexo (o sujeito) e o meio” (Sim-Sim 1998: 304). Esta ideia é realçada por Quadros (2007: 50) quando conclui que “[...] Piaget acredita ser o conhecimento e também a linguagem, frutos de uma troca entre organismo e meio; portanto, não é nem empirista, nem inatista. Para ele, há sempre um fator endógeno, orgânico, que precede cada passo da construção do conhecimento e da linguagem.”

Piaget e os seus defensores partilham algumas ideias com os autores das outras perspetivas, porém existe uma grande diferença, a «independência» do desenvolvimento linguístico, pois, para os defensores cognitivistas, a linguagem da criança desenvolve consoante o referente nível de desenvolvimento geral (Sim-Sim 1998: 304).

Piaget apresenta ainda a ideia de que a linguagem depende da função semiótica ou simbólica, designada como a capacidade adquirida, em média, por volta dos 24 meses, que permite à criança distinguir o significado do significante.

de fato, sem esta capacidade, o ser humano não teria os símbolos nem os signos lingüísticos e, portanto, não poderia construir uma linguagem verbal porque distinguir o significado do significante nada mais é do que ser capaz de representar algo por algo, por exemplo, no “fazer de conta” do início da vida como preparação para todo um futuro universo representado e simbolizado, quando uma pedra com várias pedrinhas representa uma galinha com seus pintainhos (Quadros  Finger 2007: 50).

Ainda através desta função, a criança é capaz de fantasiar, imaginar, antecipar, falar sobre o ontem, o amanhã e permite ainda completar os aspetos figurativos do processo cognitivo.

Há três tipos de conhecimento figurativo: a percepção, que funciona em presença do objeto e por intermédio de um campo sensorial; a imitação, no sentido amplo (gestual, fônica, imitação gráfica, ou desenho, etc.), funcionando na presença ou na ausência do objeto, mas pela reprodução motora manifesta; e a imagem mental, que, por definição, só existe na ausência do objeto e pela reprodução interiorizada. [...] (Quadros 2007:51)

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Desta forma, para este teorizador, o desenvolvimento cognitivo processa-se em estádios diferentes, evoluindo com a idade, desde a infância até à adolescência: o período sensório-motor (do nascimento aos 2 anos), o período pré-operatório (dos 2 aos 6/7 anos), o período das operações concretas (dos 7 aos 11 anos) e o período das operações formais (a partir dos 11/12 anos) (Sim-Sim 1998: 27).

Em síntese, podemos considerar que, segundo a perspetiva dos behavioristas, o desenvolvimento da linguagem resulta da imitação e do reforço, para os inatistas a linguagem provém de uma capacidade inata que permite à criança adquirir a linguagem tão cedo, que ficou conhecida pela designação de Language Acquisition Device, por último, segundo a perspetiva dos cognitivistas, a aquisição da linguagem está diretamente relacionada com o desenvolvimento cognitivo da criança.

2- Desenvolvimento da linguagem oral

O desenvolvimento da linguagem está relacionado com as alterações linguísticas que ocorrem durante a aquisição da linguagem, podendo essas alterações ser quantitativas e qualitativas (Sim-Sim et al. 2008: 13) A mudança quantitativa refere-se ao número ou à quantidade, como a altura, o peso, o vocabulário ou a regularidade da comunicação, no entanto, a mudança qualitativa está relacionada com o tipo, estrutura ou organização de algo diferente que ocorre na criança (Papalia et al. 2001: 8).

Além de a criança iniciar a linguagem num contexto restrito, os níveis de competências vão aumentando. Para tal, são necessárias condições que facilitem e favoreçam o desenvolvimento da linguagem, a escola, o meio e a família podem e devem enriquecer e estimular o vocabulário da criança (Sim-Sim 1998: 30). Assim, considera-se que o primeiro ponto a estimular no desenvolvimento linguístico é a relação adulto-criança, criança-adulto e criança-criança (Enciclopédia de Educação Infantil 1997: 616).

No processo de desenvolvimento da linguagem, há três componentes da linguagem que são apreendidas em simultâneo, a função, a forma e o significado, ou seja, “à medida que pretende expressar significados mais complexos, a criança adquire formas mais elaboradas e usa funções da língua mais adequadas ao contexto e aos propósitos pretendidos.” (Sim-Sim et al. 2008:13)

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Durante o período pré-escolar, a criança começa a entender a língua como um objeto de reflexão, tomando consciência da forma como esta é constituída e organizada, ou seja, adquire a consciência linguística que, possui, três dimensões: a consciência fonológica, a consciência da palavra e a consciência sintática.

A consciência fonológica refere-se à capacidade para identificar e manipular elementos sonoros de tamanho diferenciado, que integram as palavras (silabas, unidades intrassilábicas e fonemas) [...] a consciência da palavra refere-se à capacidade de compreensão da palavra enquanto elemento constitutivo de uma frase [...] a consciência sintática pretende-se como a compreensão de regras da organização gramatical das frases, conduzindo à utilização e controlo dessas regras. (Silva et al. 2016: 27).

2.1- Domínios linguísticos

Durante o desenvolvimento da linguagem, é possível identificar diferentes domínios, mas cada um com as suas próprias características.

Desses domínios, salientamos o desenvolvimento fonológico que diz respeito à capacidade para discriminar e articular todos os sons da língua, o desenvolvimento semântico que contempla o conhecimento e o uso do significado dos enunciados linguísticos (palavras, frases, discurso), o desenvolvimento sintáctico, respeitante ao domínio das regras de organização das palavras em frases e o desenvolvimento pragmático sobre a aquisição das regras de uso da língua (Sim-Sim et al. 2008:24).

2.1.1- Desenvolvimento Fonológico

Segundo Sim-Sim (1998: 79), a criança nasce preparada geneticamente para ouvir e produzir a fala humana, no entanto, isto não quer dizer que ela nasça a falar. Para isso, é necessário passar por um processo gradual de aquisição dos sons da fala, que se designa de desenvolvimento fonológico, “[...] que contempla a capacidade para discriminar (distinguir) e para articular inteligivelmente todos os sons da língua.” (Sim-Sim et al. 2008: 14).

Para Rombert (2013: 60), “a fonologia refere-se aos sons da língua (fonemas) que formam as palavras” e para Limongi (2003: 12), “o desenvolvimento fonológico pode ser observado desde o nascimento até por volta dos 12 anos”.

A compreensão da linguagem oral é entendida através do “ouvido”, isto é, a criança recebe a mensagem e posteriormente realiza a descodificação e a interpretação da mesma. Tal processo designa-se de perceção auditiva que “[...] pode ser definida

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como a capacidade de reconhecer, discriminar e interpretar estímulos sonoros, associando-as a experiências anteriores” (Enciclopédia de Educação Infantil 1997: 621).

O desenvolvimento fonológico divide-se em dois períodos, nomeados por pré-linguístico e pré-linguístico que serão aprofundados numa fase posterior deste trabalho.

É de salientar “ [...] que para conhecer o desenvolvimento fonológico é preciso tanto verificar o inventário fonético que a criança produz numa determinada idade, como analisar o tipo de erro que ela faz quando comparado com o sistema fonológico do adulto” (Limongi 2003: 13).

2.1.2- Desenvolvimento lexical e semântico

A aprendizagem do léxico é um dos aspetos mais relevantes e simples na aquisição da linguagem (Limongi 2003:7).

Para Sim-Sim et al. (2008: 18), “O desenvolvimento lexical começa muito cedo, quando a criança é capaz de atribuir significado a uma palavra que ouve frequentemente associada a uma pessoa, uma acção ou um objecto, mas prolonga-se por toda a vida.”

A palavra é a ferramenta básica da linguagem e conhecer determinada palavra significa conhecer o seu significado através do contexto em que esta é utilizada (Sim-Sim 1998: 121). Papalia et al. (2001: 322) fortalece esta ideia afirmando que, “tendo como base o contexto, as crianças parecem elaborar uma hipótese rápida acerca do significado da palavra e armazená-la na memória”.

Quando falamos no domínio do léxico, não podemos ter em conta só o aumento do número de palavras, mas também um aumento e a utilização de relações semânticas, associações e categorizações desses vocábulos, como exemplo, os sinónimos e antónimos. (Enciclopédia de Educação Infantil 1997: 668), isto é, a criação de redes entre eles.

Para Limongi (2003:7), “o vocabulário varia conforme as diferenças individuais, entretanto, tem que ser aprendido, e, quando obtido, faz parte de uma grande tarefa associativa”.

Papalia et al. (2001:322) designam por mapeamento rápido o processo que capacita a criança para aprender o significado de palavras novas quando escutadas uma ou duas vezes.

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Mas o léxico da criança não só depende das suas experiências sobre os objectos (domínio do mundo físico) como o domínio sociolinguístico do meio em que vive. É necessário, também, o intercâmbio, a interacção com o meio social para que esse léxico aumente e não fique estancado (ou até se perca). [...] A criança enrique o seu vocabulário no intercâmbio linguístico com os que a rodeiam: exprimindo sentimentos e afectos, perguntando, descrevendo, comentando os factos, incidindo sobre os objectos ou factos através de pedido ou desejos manifestados verbalmente. (Enciclopédia de Educação Infantil 1997: 667).

O vocabulário que a criança aprende é diferente daquele que ela utiliza (Enciclopédia de Educação Infantil 1997: 668). Sim-Sim (1998: 124) comprova esta ideia afirmando que “o nosso léxico receptivo, também chamado passivo, é sempre mais vasto do que o léxico activo, ou expressivo [...]”.

2.1.3 Desenvolvimento sintático e morfossintático

Para dominar a língua, é necessário ter em conta regras que permitam a sua organização, ou seja, “as regras de organização das palavras em frases fazem parte do conhecimento sintáctico que é apreendido pela criança durante toda a infância” (Sim-Sim et al. 2008: 19). Para a autora, outra questão importante são as regras morfológicas, pois permitem aperfeiçoar a concordância entre palavras na frase (Sim-Sim et al. 2008: 21).

Ao falarmos de desenvolvimento sintáctico queremos significar o percurso percorrido pela criança na identificação e extracção de regras de organização frásica da sua língua materna, e que se materializa na crescente sofisticação das estratégias usadas na identificação de estímulos verbais, na detecção de regularidades na informação linguística ouvida e na generalização (Sim-Sim 1998: 154).

Fromkin e Rodman (1993: 221) consideram que as regras sintáticas de uma gramática devem esclarecer alguns aspetos importantes, como a “gramaticalidade” das frases, a ordem das palavras e morfemas, o conhecimento de ambiguidade estrutural, perceber que algumas frases podem ser paráfrases de outras, o conhecimento das relações gramaticais e a capacidade de produção e compreensão de um conjunto infinito de frases.

Como veremos mais à frente, a criança começa por produzir palavras isoladas, que podem ter mais que um significado, como por exemplo: “dá”. “Uma palavra como esta que exprime uma ideia completa denomina-se de holofrase” (Papalia et al. 2001:

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218) e “este período, que decorre, aproximadamente, entre os 9 e os 15 meses, é chamado período holofrásico” (Sim-Sim et al. 2008: 19).

Estes autores designam ainda outro período presente no desenvolvimento sintático, o período telegráfico, que ocorre normalmente entre os 15 meses e os 2 anos, e se caracteriza pela ausência de ”[...] artigos, preposições, verbos auxiliares, mas onde impera a ordem sequencial das palavras na frase” (Sim-Sim et al. 2008: 20).

Papalia et al. (2001: 219) corroboram esta ideia, afirmando que, no discurso telegráfico, “[...] como na maioria dos telegramas, inclui apenas algumas palavras essenciais”.

Um aspeto importante na estrutura básica da frase é o domínio das principais regras de concordância. Para Sim-Sim (1998: 161), a concordância é “o processo através do qual uma palavra toma uma forma particular em virtude da relação gramatical entre ela e um outro elemento da frase”.

É ainda neste domínio que se analisam as classes de palavras e os tipos de frases.

2.1.4- Desenvolvimento pragmático

A pragmática diz respeito ao estudo da influência do contexto no modo como interpretamos as frases (Fromkin e Rodman 1993: 206), ou seja, a criança vai adquirindo as regras de uso da sua língua e começa a adaptá-la a diversos contextos e à forma como nos relacionamos com os outros.

Assim, “o desenvolvimento pragmático diz respeito à apropriação das regras conversacionais e inicia-se quando a criança, ainda bebé, se envolve em trocas comunicativas sonoras, através de um processo de tomada de turno, ou de tomar a vez” (Sim-Sim et al. 2008: 23).

De acordo com um quadro apresentado pela mesma autora, dos 0 aos 6 meses, ocorre uma tomada de vez em processos de vocalização; aos 12 meses, produções vocálicas para fazer pedidos, dar ordens, perguntar, negar e exclamar; aos 18 meses, o uso de palavras e embriões de frase para fazer pedidos, dar ordens, perguntar, negar e exclamar; dos dois aos três anos, o uso de frases para realizar muitos atos de fala (pedidos, ordens, perguntas, chantagens, mentiras) e aos 4/5 anos, uma melhoria na eficácia das interações conversacionais (formas de delicadeza e de subtileza) (Sim et al. 2008: 26)

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Através da conversa, a linguagem transforma-se num instrumento social, isto é, podemos expressar pedidos e ordens, formular perguntas, afirmar, negar e agradecer, mais precisamente “saber o que dizer, a quem dizer e como dizer”, conhecendo as regras pragmáticas da sua língua (Sim-Sim et al. 2008: 23).

Para Papalia et al. (2001:323), a “pragmática é o conhecimento prático necessário para o uso da linguagem com objectivos comunicativos”.

Quando o discurso é efetuado com o propósito de ser entendido por um ouvinte, é designado por discurso social.

À medida que a criança se torna mais hábil na arte da conversa, consegue captar a atenção do adulto, exprimir afectos, competir, convencer e obedecer de forma socialmente mais adequada, servindo-se apropriadamente de formas de delicadeza e de tratamento usuais no seu meio de pertença. Pelas características do desenvolvimento pragmático, este aspecto do crescimento linguístico é aquele que mais reflecte as diferenças sociais das crianças. O jardim-de-infância pode ser um espaço privilegiado para muitas crianças de meios socialmente carenciados tomarem contacto e adquirirem regras pragmáticas de que irão necessitar para interacções conversacionais diversificadas (Sim-Sim et al. 2008: 23).

3- A aquisição e desenvolvimento da linguagem dos 0/ 6 anos de

acordo com os domínios

Adquirir e desenvolver a linguagem implica muito mais do que aprender palavras novas, ser capaz de produzir todos os sons da língua ou de compreender e de fazer uso das regras gramaticais. É um processo complexo e fascinante em que a criança, através da interacção com os outros, (re)constrói, natural e intuitivamente, o sistema linguístico da comunidade onde está inserida [...] (Sim-Sim et al. 2008:11)

3.1- Grupo dos 0 meses a 1 ano

No primeiro ano de vida, ocorre o desenvolvimento socio afetivo do bebé. Assim, é considerado um período importante para o mesmo, pois “ele deverá criar autoconfiança nas suas competências comunicativas e fornecer-lhe bases sólidas para o seu desenvolvimento linguístico harmonioso” (Rigolet 2006: 34).

No que diz respeito ao desenvolvimento linguístico nesta faixa etária, temos presente maioritariamente o domínio fonológico.

Existem, assim, duas fases importantes no primeiro ano de vida: a expressão vocal, dos 0 aos 8/9 meses, onde está presente o sorriso, o choro, os arrulhos e risos, a

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brincadeira vocal e o balbucio reduplicado. A segunda fase é a da expressão verbal, que ocorre dos 9 aos 12 meses, onde já existe a descodificação por parte do adulto, pois os fonemas são produzidos com algum significado (Rigolet 2006: 34).

Para Sim-Sim et al. (2008: 14), “pelos seis meses, identifica padrões de entoação e ritmo, reagindo a perguntas, ordens ou manifestações entoacionais de carinho ou zanga”, mas, por volta dos 12 meses, já é capaz de compreender frases e palavras, isto é, sequências fónicas.

Segundo Paule Aimard (1998: 58), ocorre “durante o primeiro ano: riqueza de comunicação pré-verbal com os próximos; a partir do segundo ou terceiro mês, o bebé modula a sua voz, produz diversos sons, começa a balbuciar; com oito ou dez meses aparece a duplicação das silabas: babada”. Sim-Sim et al. (2008: 18) possuem a mesma opinião, designando o momento de repetição de silabas como “período de lalação”, que se caracteriza normalmente pela repetição de CVCV (consoante-vogal-consoante-vogal).

Assim, Papalia et al. (2001: 215) consideram que “antes de os bebés pronunciarem as suas primeiras palavras, produzem sons denominados como discurso pré-linguístico [...] começando com o choro e depois contendo o arrulhar e o tagarelar [...]”. Sim-Sim et al. (2008: 15) possuem a mesma opinião quando afirmam que “antes da articulação de palavras, a criança interage vocalmente através de um conjunto de produções sonoras, tais como o choro, o riso, o palreio e a lalação, que integram o chamado período pré-linguístico”.

Já no período linguístico, a criança reduz a reduplicação silábica e passa a atribuir um significado às palavras e frases, ou seja, “com o aparecimento das primeiras palavras, de acordo com as regras fonológicas da língua da criança, inicia-se o chamado período linguístico” (Sim-Sim et al. 2008: 15-16). Para Papalia et al. (2001:218), o discurso linguístico inicia-se entre os 10 e os 14 meses, sendo nesta etapa que o bebé pronuncia a primeira palavra.

Para Rombert (2013: 60), dos 8 aos 12 meses, a criança é capaz de imitar e pronunciar palavras como “papá” e “mamã”.

Resumindo, no primeiro ano de vida, o bebé produz um balbucio bastante rico; produz sons com os lábios e com a língua e imita sons; realiza brincadeiras com a voz, fonemas e sons que aprendeu; reproduz entoações do adulto; usa gestos apropriados,

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como por exemplo, agradecer algo ou despedir-se de alguém, compreende as entoações do adulto, como ordens “não, não, não ” (Aimard 1998).

3.2- Grupo de 1 aos 2 anos

Nesta faixa etária, a partir dos 19 meses, nota-se uma grande evolução. Novas palavras são adquiridas diariamente, enriquecendo o seu vocabulário e começando a utilizar duas palavras para expressar a sua ideia.

De acordo com Rombert (2013: 65), aos 14/15 meses, a criança é capaz de compreender por volta de 50 palavras e exprimir 10, ocorrendo um aumento aos 17/19 meses, passando para a compreensão de 100 palavras e para a expressão de 50.

Para Sim-Sim et al. (2008: 18), a criança, nesta fase, produz em média 50 palavras, mas compreende cerca de 100.

Nos últimos 6 meses do segundo ano de vida, a criança manifesta diversos tipos de relações semânticas entre as palavras, diversificando-as. “Assim, a criança poderá exprimir uma relação de posse: “popó papá”; de lugar: “popó ali”; de acção: “popó caiu”; de presença/ausência: “popó está”/ “popó não está”; de qualificação: “popó gande...ete pequenininho”; etc.” (Rigolet 2006: 76).

Por volta dos 12/ 18 meses, estamos no chamado período da holofrase, isto é, de uma única palavra, geralmente constituída por palavras bissilábicas (mamã, papá, vóvó). Paule Aimard (1998: 66) fala na primeira “frase”. “Chamamos de holófrase (De Laguna, 1927), ou de palavra-frase, os enunciados que, no decorrer no segundo ano de vida, constituem-se por uma palavra, mas querem dizer muito mais.” Sim-Sim et al. (2008: 19) possuem a mesma opinião, referindo que o “período holofrásico” ocorre quando, “no processo de desenvolvimento sintáctico, as crianças começam por produzir palavras isoladas que representam frases.”

Sim-Sim nomeia ainda outro período ocorrido normalmente entre os 15 e os 24 meses, o “período telegráfico” em que os verbos auxiliares, artigos e preposições não se encontram presentes na frase.

Dos 18 aos 24 meses, ocorre a produção de pequenos enunciados, regularmente constituídos por substantivos, alguns verbos, poucos advérbios e adjetivos, estando normalmente ausentes, nesta altura, os artigos, conjunções, pronomes e preposições.

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Aos 18 meses, a criança vive uma fase profundamente importante, a fase da função simbólica, ou seja, o jogo simbólico onde a criança observa o que adulto faz e começa a entender a função dos objetos, por exemplo, a cadeira serve para sentar e o copo para beber.

3.3.- Grupo dos 2 aos 3 anos

No domínio fonológico, Sim-Sim et al. (2008: 15) afirmam que a criança “pelos três anos de idade atingiu a capacidade adulta para discriminar os sons da fala, i.e., identifica todos os sons da sua língua materna.”

No que diz respeito ao comprimento dos enunciados das crianças, para Rigolet (2006: 91), “ela atinge, em média, três palavras”. Já Aimard (1998: 68) considera que até aos 20 meses é possível contar o número de palavras, “contudo, nos meses seguintes, isso se torna difícil ou mesmo impossível, pois as aquisições são muito rápidas”. Para Rombert (2013: 65), a criança com 2 anos já possui a capacidade de compreender até mais ou menos 200-300 palavras e exprimir 100, aos 3 anos aumenta a compreensão para 1000 e a expressão para 500.

Rigolet (2006: 91) considera “a articulação das crianças dos 2 aos 3 anos já bastante clara; no entanto, manifesta alguma dificuldade na produção de certos fonemas e na articulação de palavras mais compridas ou cujos sons são mais complexos”.

A mesma autora (Rigolet 2006: 92) considera que, quando confrontadas com alguma dificuldade, as crianças cometem alguns “processos de simplificação”, nomeadamente:

• Supressão ou omissão; Ex.: fifico- frigorífico

• Substituição; Ex.: tapato- sapato

• Inversão; Ex.: corcodilo- crocodilo

• Assimilação. Ex.: piquininho~

Para Aimard (1998: 73), o facto de a criança não pronunciar o [r] e dizer “mu” em vez de “mur” é perfeitamente normal nesta idade, sendo que o mesmo acontece com a omissão da sílaba final e a substituição de duas palavras. Assim, para o autor

Estas omissões, estas substituições, não mudam nada na estrutura geral: tais enunciados são frases construídas, típicas das primeiras produções da criança. Ao

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descrevê-las, percebemos tudo aquilo que “falta” nesses enunciados. Seria preferível falar dos mesmos em termos positivos: eis tudo o que a criança já construiu, o resto virá depois.

É nesta faixa etária que as crianças deveriam deixar os “infantilismos” como “nanar”, “papar”. Outro aspeto interessante nesta idade é a manifestação de uma “aparente gaguez”.

No final desta etapa da vida da criança, surge uma aquisição linguística relevante, o “porquê”. Rigolet (2006: 93) afirma que “aparece como um marco importante de um progresso decisivo ao nível cognitivo: a descoberta da causalidade finalmente expressa linguisticamente na sua forma interrogativa”.

Para Aimard (1998: 77), as perguntas aos 3 anos “explodem”, consideradas “decorrências de extraordinários progressos”, uma vez que o vocabulário e o uso de termos interrogativos aumentam e “também aquilo que podemos chamar de curiosidade intelectual, avidez de saber, descoberta do mundo”.

Nesta faixa etária, a linguagem da criança torna-se cada vez mais fluente. Para Aimard (1998: 67), “três anos é a idade de ouro da linguagem infantil”, mas o uso de advérbios e adjetivos ainda é muito restrito, a criança utiliza alguns verbos e maioritariamente substantivos.

Dos 2 aos 3 anos de idade, surge a aquisição de “palavras funcionais”, como o artigo definido, especialmente no singular, os pronomes pessoais e possessivos e as preposições.

Para Rigolet (2006: 91), “em média, o pronome «eu» surge, em Portugal, por volta dos 34 meses, qualquer que seja o meio socioeconómico da criança”. Aimard (1998: 75) possui a mesma opinião, “por volta dos três anos, quase sempre as crianças aprendem a dizer “eu” a falar na primeira pessoa do singular.”

Nesta fase, a criança utiliza maioritariamente os verbos no presente e no pretérito e só por vezes no futuro do indicativo. Surgem também alguns “erros”, chamados de “generalizações abusivas”, como por exemplo “fazi” em vez de “fiz”.

Os fundamentos da sintaxe, ou seja, as regras para juntar frases iniciam-se entre os 30 e 36 meses. Surgem, nesta fase, “[...] artigos (0/a/um/uma), preposições (no/na/em), conjunções (e/mas), plurais, terminações de verbos, tempo passado dos verbos e a forma do verbo ser” (Papalia et al. 2001: 219).

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3.4- Grupo dos 3 aos 4 anos

Nesta faixa etária, o número de palavras por frase aumenta para 4,71, mas aos 48 meses pode passar para 5 palavras.

A criança é também capaz de relatar acontecimentos que não vivenciou, isto é, que lhe foram contados. É nesta fase que abandona os infantilismos e começa a utilizar de forma correta os vocábulos aprendidos até ao momento embora.

Um ouvido mais atento poderá notar falhas gramaticais, particularmente ao nível da morfologia: isto é, no uso de certas palavras gramaticais/funcionais (pronomes- conjunções-preposições-artigos-contracções), nas concordâncias (em género, número e pessoa) e ainda nas formas verbais (Rigolet 2006: 109).

É nesta idade que algumas crianças começam a demonstrar regionalismos e dialetos, podendo até apresentar diferenças na utilização de certas palavras, como exemplo: “foice”, termo utilizado nos meios rurais, que pode não ser entendido por uma criança da cidade.

Segundo Rigolet (2006: 111), nesta idade, os substantivos são utilizados maioritariamente em relação aos verbos. O mesmo ocorre com o uso de advérbios comparativamente com os adjetivos.

Segundo Aimard (1998: 82), nesta fase, “...alguns advérbios são comuns: “agora”, “em seguida” ...”

Nesta fase, a criança consegue construir frases, ainda que curtas. Para Rigolet (2006: 110), “estas frases pertencem à PARATAXE, isto é, são simples, e principalmente justapostas e/ou coordenadas.”. O autor explica que as frases justapostas são independentes, colocadas uma ao lado da outra e as coordenadas estão relacionadas com conjunções coordenativas como “e” e “mas”.

No que diz respeito às conjunções, a criança utiliza ainda poucas, acabando por usar maioritariamente o “e”, mas é nesta fase que surgem as conjunções subordinativas que, segundo Rigolet (2006: 112), são “...as que introduzem um discurso mais complexo, feito de frases subordinadas e, por isso, pertencem à HIPOTAXE”.

Em relação aos artigos, aos 36 meses começa a surgir o artigo indefinido, mas sempre com tendência para utilizá-lo no singular. É nesta idade que começam a ser também usadas as preposições. Segundo Aimard (1998: 82), “as preposições de lugar aparecem durante o terceiro ano: “a”, “sobre”, “sob”, “para”, “perto de”, “em” ”.

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Ainda nesta idade, “a criança usa apenas os pronomes “eu”, “tu”, “ele/ela” ” (Rigolet 2006: 113).

3.5- Grupo dos 4 aos 5 anos

Nesta fase, as frases das crianças começam a ser mais compridas, verificando-se um aumento de palavras por enunciado para 5, 39 (CME- comprimento médio por enunciado), número muito aproximado ao das crianças de 5-6 anos.

Por outro lado, tendem a usar palavras mais longas, com mais de três sílabas, apresentando, também, nesta altura um discurso totalmente percetível para estranhos (Rombert 2013: 61).

Aos 5 anos, a criança utiliza um vocabulário mais enriquecedor e tem tendência a usar vocábulos mais adultos, ou seja, procura utilizar sinónimos, descreve melhor objetos/seres, passando a utilizar termos mais específicos. Embora, por vezes, as palavras surjam mal articuladas, o significado é adaptado à mensagem que pretende transmitir.

Ainda que as crianças usem ainda formas como “eu ontem vou passear”, têm propensão para corrigir-se. Assim, pode dizer-se que nesta idade a criança melhora a utilização da morfologia do verbo e apenas existe um engano no advérbio, isto é, em vez de “ontem”, queria dizer “amanhã”.

Nesta fase, surge a motivação para falar sobre outros assuntos ou até mesmo enriquecer assuntos antigos, levantando mais questões. A criança é ainda capaz de recontar histórias que lhe foram contadas ou através de um suporte visual.

A vontade de exprimir as suas ideias é de tal forma que, por vezes, a criança acaba por falar de forma “confusa”, isto é, “a sua forma de expressão aparece entrecortada por dúvidas, arranques, falsas partidas e, frequentemente, acontece sobre o ar de inspiração, o que provoca ainda mais dificuldades na produção do discurso oral” (Rigolet 2006: 125).

Ainda nesta idade, existe uma grande propensão para contar factos vividos ou até mesmo inventar histórias, vivendo momentos no “mundo de fantasia”.

As crianças desta faixa etária eliminam por completo a forma “abebezada” e exprimem-se de forma clara. Mas, segundo Aimard (1998: 88), “as crianças de quatro

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Figura 1- Localização do distrito de Vila Real
Figura 3- Horta
Figura 4- Edifício
Figura 6- Casa de banho
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Referências

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