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Análise das aptidões dos técnicos responsáveis pela segurança na construção no Distrito de Vila Real

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ANÁLISE DAS APTIDÕES DOS TÉCNICOS

RESPONSÁVEIS PELA SEGURANÇA NA

CONSTRUÇÃO NO DISTRITO DE VILA REAL

Domingos Jorge Rodrigues de Carvalho

Orientadora

Professora Doutora Cristina Madureira dos Reis

Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para

a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil

(2)

AGRADECIMENTOS

À minha Orientadora Professora Doutora Cristina Madureira dos Reis, pela paciência e tempo que me dedicou ao longo desta Tese.

À Delegação da A.C.T. de Vila Real, pela sua disponibilidade de recolha de dados e utilização de instalações.

À Dona Madalena, pela sua disponibilidade e boa disposição, nas instalações da A.C.T. de Vila Real.

À Daniela Correia, por todo o tempo que não me foi possível dedicar-lhe.

Aos meus pais, por todo o apoio e compreensão demonstrada ao longo de todo este percurso académico.

(3)

SIGLAS E ABREVIATURAS

A.C.T. – Autoridade para as Condições do Trabalho;

C.S.O. – Coordenados de Segurança em Obra;

C.S.P. – Coordenador de Segurança em Projecto;

C.E.E. – Comunidade Económica Europeia;

C.A.P. – Certificado de Aptidão Profissional;

Lda – Sociedade Limitada;

S.N.C.P. – Sistema Nacional de Certificação Profissional;

S.A. – Sociedade Anónima;

T.S.H.S.T. – Técnico Superior de Higiene e Segurança no Trabalho;

T.H.S.T – Técnico de Higiene e Segurança no Trabalho;

H.S.S.T – Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho;

A.E.P – Associação Empresarial de Portugal;

I.G.T. – Inspecção Geral do Trabalho;

P.M.E. – Pequena e Média Empresa;

C.C.O.P.: Construção Civil e Obras Públicas;

E.P.I.- Equipamento de Protecção Individual;

E.P.C. – Equipamento de Protecção Colectiva;

S.I.F. – Sensibilização, Informação e Formação;

(4)

RESUMO

Com a entrada em vigor da Directiva estaleiros de 92/57/CEE de 24 de Junho para o direito interno através do Decreto-Lei n.º 155/95 de 1 Julho, actualmente revogada pelo Decreto-Lei n.º 273/2003 de 29 Outubro surgem novos actores e obrigações em matéria de segurança nos estaleiros móveis ou temporários da construção. É por isso de extrema importância averiguar as respectivas obrigações e requisitos que um técnico de Segurança e Coordenador de Segurança devem ter, bem como a sua aptidão profissional.

Este trabalho consiste na análise de várias comunicações prévias entregues na ACT de Vila Real, centralizando-se essencialmente nas aptidões dos Técnicos de Segurança e Coordenadores.

Pela análise deste trabalho de investigação, pretende-se concluir qual o perfil tipo de cada um dos intervenientes da segurança na construção no Distrito de Vila Real. Desta análise concluiu-se que: os Coordenadores de Segurança em fase de projecto e fase de Obra, são na sua maioria Engenheiros Civis; metade dos Coordenadores, quer em fase de projecto, quer em fase de obra, não têm qualquer tipo de formação complementar; de uma forma geral, verificou-se que os elementos com formação principal na área da construção civil e que têm formação complementar na área da higiene e segurança no trabalho, encontram-se mais aptos para deencontram-sempenharem as suas funções na área da encontram-segurança na construção civil.

(5)

ABSTRACT

With the entry into force of the yards 92/57/CEE on June 24 into national law by Decree-Law No. 155/1995 of July 1, now repealed by Decree-Decree-Law No. 273/2003 of 29 October arise new actors and obligations regarding safety on construction sites or temporary mobile building. It is therefore of extreme importance to ascertain the respective obligations and requisites that a technical safety and safety coordinator should have, as well as their professional competences.

This work consists in analyzing several previous communications delivered to the ACT of Vila Real, centering primarily on the skills of technicians and their Safety Coordinators. By analysis of this research, we intend to conclude what the profile of each type of safety actors are involved in the construction in the district of Vila Real. This analysis concluded that: Safety Coordinators in project phase and construction phase, are mostly civil engineers; half of the coordinators, whether in project or in construction phase, do not have any additional competences in general; it was found that the main elements with competences in the area of construction and who have additional competences in the area of health and safety at work, are better able to perform their functions in the area of construction safety.

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CAPÍTULO I ... 1 1 – Introdução ... 1 1.1 – Enquadramento ... 2 1.2 – Objectivos ... 2 1.3 – Organização do Trabalho... 2 CAPÍTULO II ... 4

2- A Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho ... 4

2.1- Enquadramento Histórico e Legal da H.S.S.T. ... 4

2.1.1- Definição de Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho. ... 8

2.1.2 – Os riscos nos postos de trabalho. ... 11

2.1.2.1 - Riscos Físicos. ... 12 2.1.2.1.1 – Ruído. ... 12 2.1.2.1.2 – Vibrações. ... 14 2.1.2.1.3 – Ambiente Térmico. ... 15 2.1.2.1.4 – Radiações. ... 17 2.1.2.2- Riscos Químicos. ... 20

2.1.2.2.1 - Acção fisiopatológica dos riscos químicos. ... 21

2.1.2.3 – Riscos biológicos. ... 22

2.1.2.4 – Riscos Ergonómicos ... 23

2.2 – Estatísticas da actividade do serviço de HSST. ... 26

2.2.1 – Entidades Empregadoras, Estabelecimentos e Trabalhadores. ... 26

2.2.2 – Organização e Pessoal dos Serviços de Segurança e Saúde no Trabalho ... 27

2.3 – Breve análise ao sector da Construção Civil. ... 28

2.3.1 – Acidentes de trabalho na construção civil. ... 29

2.3.2 – Avaliação, Prevenção e Controlo de riscos na Construção Civil. ... 37

2.3.3 – Formação e qualificação dos trabalhadores de todos os sectores de actividade. ... 52

CAPITULO III ... 56

3 – Análise da legislação relativa à Segurança e Saúde do Trabalho em Portugal. ... 56

3.1 – Breve análise ao Decreto-Lei 273/2003 de 29 de Outubro. ... 57

3.2 – Conceitos importantes segundo o Decreto-Lei n.º 273/2003 de 29 de Outubro. ... 62

3.2.1 – Plano de Segurança em fase de Projecto e fase de Obra. ... 62

3.2.1.1 – Plano de Segurança em fase de Projecto. ... 62

(7)

3.2.2 – Comunicação Previa da abertura do estaleiro. ... 66

3.3 – O processo de certificação dos técnicos de Segurança e Saúde em Portugal. ... 68

3.3.1 – O papel do Técnico e Técnico Superior de Segurança e Higiene no Trabalho. ... 73

3.3.2 – Os Coordenadores de Segurança em Projecto e Obra. ... 75

3.3.2.1 – Coordenador de Segurança em Projecto. ... 77

3.3.2.2 – Coordenador de Segurança em obra. ... 78

3.3.3– Distinção de papeis: Coordenador de Segurança e Saúde versus Técnico de Segurança e Higiene do Trabalho. ... 79

CAPÍTULO IV ... 81

4 – Caso de Estudo ... 81

4.1 – Recolha de Dados e Metodologia... 81

4.2 – Análise de dados dos questionários ... 83

4.2.1 – Tipo de Obra ... 84

4.2.2 – Duração das Empreitadas. ... 85

4.2.3 – Nº de Trabalhadores ... 85

4.2.4 – Nº de Empresas envolvidas na empreitada. ... 87

4.2.5 – Dono de Obra ... 88

4.2.6 – Entidade Executante ... 88

4.2.7 – Coordenadores de Segurança em fase de Projecto e fase de Obra ... 89

4.2.8 – Formação Complementar ... 91

4.3 – Análise de dados dos inquéritos aos Técnicos Superiores de Higiene e Segurança ... 92

CAPÍTULO V ... 101

5 – Conclusões e trabalhos futuros. ... 101

5.1 – Conclusões gerais. ... 101

5.2 – Desenvolvimento de trabalhos futuros. ... 102

6- Bibliografia ... 104

6.1 – Referências Bibliográficas... 104

(8)

ÍNDICE DE TABELAS

Quadro 2.1 - Critérios dos efeitos 19

Quadro 2.2 - Volume de respostas 26

Quadro 2.3 - Modalidade de organização dos serviços de S.S.T 27

Quadro 2.4 - Acidentes de trabalho, por sexo, segundo escalão etário 36

Quadro 2.5 - Categorias da probabilidade de ocorrência de danos 45

Quadro 2.6 - Categorias de gravidade em função dos danos 46

Quadro 2.7 - Forma simplificada para estimar o risco 46

Quadro 2.8 - Estimativa da probabilidade e gravidade 47

Quadro 2.9 - Estimativa do risco 47

Quadro 2.10 - Mapa de avaliação de riscos 48

Quadro 2.11 - Enquadramento dos riscos 50

Quadro 2.12 - Empresas com cursos de formação profissional no triénio 2005-2007 53

Quadro 2.13 - Acções de informação, consulto e formação 54

Quadro 3.1 - Descritores do níveis do Quadro Nacional de Qualificações 71

Quadro 3.2 - Quadro Nacional de Qualificações 73

ÍNDICE DE IMAGENS

Imagem 2.1 - Relação entre custos directos e indirectos 34

Imagem 2.2 - As bases da competência 76

(9)

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 2.1 - Estabelecimentos segundo a natureza da organização dos serviços de SST 27

Gráfico 2.2 - Pessoal técnico dos serviços de SST 27

Gráfico 2.3 - Acidentes de trabalhos mortais por sector de actividade - Ano 2012 31

Gráfico 2.4 - Acidentes de trabalho segundo escalão de tamanho de empresa 31

Gráfico 2.5 - Causas de acidentes de trabalho mortais no sector da construção civil – Ano 2010.

32 Gráfico 2.6 - Dias de trabalho perdidos com acidentes de trabalhos não mortais em todos os

sectores de actividade 35

Gráfico 2.7 - Distribuição percentual dos acidentes de trabalho, segundo a natureza da lesão e a parte do corpo atingida, em todos os sectores de actividade. 35

Gráfico 4.1 - Tipo de obra 84

Gráfico 4.2 - Duração da empreitada 85

Gráfico 4.3 - N.º de Trabalhadores 86

Gráfico 4.4 - N.º de empresas envolvidas nas empreitadas 87

Gráfico 4.5 - Dono de obra 88

Gráfico 4.6 - Entidade Executante 88

Gráfico 4.7 - Coordenadores de segurança em projecto 89

Gráfico 4.8 - Coordenador de segurança em obra 90

Gráfico 4.9 - Formação complementar 91

(10)

Gráfico 4.11 - Resposta à pergunta n.º 2 94

Gráfico 4.12 - Resposta à pergunta n.º 3 94

Gráfico 4.13 - Resposta à pergunta n.º 4 95

Gráfico 4.14 - Resposta à pergunta n.º 5 95

Gráfico 4.15 - Resposta à pergunta n.º 6 96

Gráfico 4.16 - Resposta à pergunta n.º 7 97

Gráfico 4.17 - Resposta à pergunta n.º 8 97

Gráfico 4.18 - Resposta à pergunta n.º 9 98

Gráfico 4.19 - Resposta à pergunta n.º 10 99

(11)

CAPÍTULO I

1 – Introdução

Citando o Decreto-Lei 273/2003 de 29 de Outubro: “As condições de segurança no trabalho que é desenvolvido em estaleiros temporários ou móveis são frequentemente deficientes e estão na origem de um número muito elevado de acidentes de trabalho”.

Este Decreto-Lei vem assim fazer uma revisão e aperfeiçoamento do Decreto-Lei n.º 155/95 de 1 de Junho, específico sobre segurança no trabalho, no sector da construção civil e obras públicas, prevendo alterações relativamente ao plano de segurança e saúde, respeitando em primeiro lugar o processo da sua elaboração, tanto na fase de projecto, como em obra. O desenvolvimento em obra será efectuado através da entidade executante e caberá, em seguida, ao coordenador de segurança em obra validar tecnicamente o desenvolvimento e eventuais alterações do plano, por outras palavras, a entidade executante é responsável pela execução da obra e o planeamento da segurança no trabalho, enquanto o coordenador de segurança em obra tem como obrigação a verificação do seu cumprimento.

Uma vez que este Decreto-Lei vem definir mais pormenorizadamente os direitos e deveres dos vários intervenientes, no que diz respeito à higiene segurança e saúde no trabalho e sendo o técnico superior de higiene segurança e saúde no trabalho um dos intervenientes, vai ser a partir deste mesmo Decreto-Lei, que vão ser analisadas as aptidões dos técnicos superiores de higiene, segurança e saúde no trabalho, no que diz respeito às comunicações prévias efectuadas por parte da entidade executante à A.C.T. (Autoridade das Condições do Trabalho), com o objectivo de fazer um levantamento da realidade existente a nível das aptidões dos técnicos superiores de higiene segurança e saúde no trabalho e dos Coordenadores de Segurança.

É de se salientar ainda que está análise, será feita apenas a empresas a actuarem no Distrito/Concelho de Vila Real.

(12)

1.1 – Enquadramento

Este trabalho visa essencialmente fazer um levantamento das aptidões dos Técnicos de Segurança e Coordenadores de Segurança a actuarem no Distrito de Vila Real, sendo também abordados alguns conceitos básicos, não só referentes aos próprios Técnicos, mas como também de uma forma muito geral à própria área de Segurança e Saúde na Construção.

Depois de feito o levantamento das aptidões, irá ser feita uma análise global dos Técnicos de Segurança que intervêm na Construção no Distrito de Vila Real.

1.2 – Objectivos

O objectivo primordial deste trabalho de investigação, consiste no levantamento das aptidões dos técnicos de segurança a actuarem na construção civil, recorrendo à análise das comunicações prévias fornecidas pelos donos de obra à ACT de Vila Real.

1.3 – Organização do Trabalho

Este trabalho encontra-se dividido em 6 capítulos.

No capítulo I, é feita uma breve abordagem ao tema e apresenta-se o enquadramento, a metodologia e a organização.

No Capítulo II, apresentam-se a revisão bibliográfica referente à Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho, onde se podem encontrar definições, informações e explicações referentes a este tema. Este será o maior capítulo desta dissertação e será subdividido em três partes, sendo a primeira, “Enquadramento histórico de H.S.S.T.”, a segunda parte, “Estatísticas da actividade do serviço de H.S.S.T.” e por último, “Breve análise ao sector da construção civil”.

(13)

No Capítulo III, é realizada uma análise à legislação relativa à Higiene, Segurança e Saúde em Portugal, bem como aos Planos de Segurança e Saúde.

No capítulo IV, apresentam-se os dados recolhidos através das comunicações prévias e é feita uma análise aos mesmos. Serão apresentados também os valores correspondentes aos inquéritos e apresentados os resultados.

No capítulo V, serão apresentadas as conclusões desta dissertação.

(14)

CAPÍTULO II

2- A Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho

2.1- Enquadramento Histórico e Legal da H.S.S.T.

Em 1867 é publicado o primeiro Código Civil Português (o chamado Código de Seabra), de inspiração napoleónica: além de consagrar a desaparição jurídica da propriedade pré-capitalista, vem fazer, pela primeira vez, a abordagem legislativa dos problemas do trabalho subordinado ou assalariado.[1]

Todavia, não se pode falar ainda em reconhecimento e reparação de eventuais danos para a saúde do trabalhador, provocados pelo trabalho.

Em 1885, realiza-se o 1º congresso operário, no qual é reivindicada legislação sobre o trabalho infantil e feminino, sobre as condições de trabalho, etc., mas só na década seguinte, com a progressiva desagregação da monarquia constitucional e o avanço das ideias socialistas e republicanas (nomeadamente depois do ultimato inglês de 1890), é que se pode falar verdadeiramente do início de uma produção legislativa específica no campo do direito do trabalho, em geral, e da SHST, em particular.

Em 1891, no 2º congresso operário (ou Congresso das Associações de Classe, realizado em Fevereiro) reivindica-se:

A redução do horário de trabalho para 9 horas (a média, na época, andaria por volta das 12 ou mais horas!);

A regulamentação do trabalho feminino e infantil;

A fiscalização da higiene e segurança nos estabelecimentos industriais;

A criação de tribunais de trabalho;

A responsabilização patronal pela reparação dos acidentes de trabalho;

Para além da adopção de tarifas aduaneiras proteccionistas com vista a defender a

indústria nacional (e, consequentemente, o emprego).

Em 1895 é promulgada a primeira lei específica sobre higiene e segurança do

(15)

garantir protecção aos operários ocupados nos trabalhos, públicos ou privados, de construção e reparação de estradas, caminhos de ferros, aquedutos, terraplanagens, novas edificações, ampliações, transformações ou grandes reparações e, em quaisquer obras de demolição;

Por sua vez, os mestres-de-obras deviam passar a estar habilitados com exame sobre processos de construção e sobre as condições a observar para a segurança nos locais de trabalho; por fim, a responsabilidade em caso de acidente recaía sobre a pessoa encarregada da direcção da obra.

Os efeitos práticos desta legislação, cuja produção tem de ser situada no quadro da crise dos primeiros anos da década de 1890 (mas também das tendências internacionais: por ex, a Conferência Internacional do Trabalho, em Berlim, 1890) terão sido reduzidos ou mesmo nulos, não só por falta de fiscalização do seu cumprimento (embora ela tivesse prevista) como por manifesta falta de vontade em cumpri-la, por parte dos empregadores. No entanto, este novo quadro legal veio dar ao operariado uma maior força reivindicativa.

Legislou-se em Portugal cerca de, pelo menos, quinze importantes problemas do trabalho". A maior parte desta legislação vai ficar, porém, "letra morta", uma pecha nacional que infelizmente chegará até aos nossos dias.

Resta a consolação, aos nossos tratadistas do direito do trabalho, de que o nosso país foi pioneiro nalgumas matérias. Por exemplo, de acordo com o nº 2 do preâmbulo do Decreto-Lei nº 41 820, de 11 de Agosto de 1958, "Portugal conta-se precisamente entre os países que mais cedo se preocuparam com a regulamentação das condições de segurança da construção civil" (com o Decreto de 6 de Junho de 1895), [1].

Entretanto, de todas as questões do trabalho, a da reparação dos acidentes continuava a ser a mais premente e para a qual os sucessivos governos monárquicos se mostraram totalmente incapazes de encontrar soluções (não só políticas e legislativas como financeiras, técnicas e organizacionais). Não foi seguramente por falta de propostas legislativas:

 Em 1906, é apresentado no Parlamento, por deputados dissidentes do Partido Progressista, um projecto de lei acerca de indemnizações a operários por desastres

(16)

 Em 1908 é o republicano J. Estêvão Vasconcelos que apresenta o seu projecto de lei;

Outro decreto que regulamenta a higiene e segurança no trabalho no sector da

construção civil (28 de Outubro de 1909) ficou suspenso, face à ameaça de lock-out

dos empreiteiros do Porto.

Neste domínio, há um parlamentar que se destaca pelo seu empenho e persistência, o médico e deputado republicano J. Estêvão Vasconcelos (1869-1917):

 Em 9 de Maio de 1908 apresentou à Câmara dos Deputados o seu primeiro projecto de Indemnizações a operários por desastres no trabalho;

 Em 16 de Março do ano seguinte, volta a defender o seu projecto de lei, sem lograr mais uma vez que a respectiva comissão parlamentar emitisse qualquer parecer sobre o assunto;

 Finalmente, e já depois da proclamação da República, e como deputado à Assembleia Constituinte, torna a apresentar novo projecto, em Junho de 1911;

 Esse projecto estará na origem da Lei nº 83, de 24 de Julho de 1913 (o primeiro diploma legal português que regulou especificamente a responsabilidade pelo risco de acidentes de trabalho.

Instituída a República em 1910, cedo são goradas as expectativas alimentadas pelo movimento operário e sindical em relação a uma melhoria das terríveis condições de trabalho na época, caracterizadas por:

 Ausência de contrato individual de trabalho;

 Inexistência de negociação colectiva e fraco poder reivindicativo dos trabalhadores e seus representantes;

 Pagamento à jorna ou empreitada;

 Exploração do trabalho feminino e infantil;

 Duração do trabalho entre as dez e as doze horas;

 Descanso para almoço de meia hora no Inverno;

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Elevada mortalidade e morbilidade devido aos desastres de trabalho e à tuberculose;

 Total ausência de protecção social, incipiente desenvolvimento do mutualismo, recurso à solidariedade operária em caso de morte ou incapacidade temporária ou permanente, etc.

Embora Portugal tenha sido membro-fundador da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1919, a República não chegou a ratificar nenhuma das convenções adoptadas, relativas à protecção dos trabalhadores, o que pode ser imputado à grande instabilidade política dos anos 20. As coisas não vão melhorar com o triunfo do corporativismo do Estado Novo. Até ao 25 de Abril de 1974 apenas serão ratificadas, pelo governo português, 30 das 138 convenções adoptadas pela Conferência Internacional do Trabalho (até 1973, ano em que se realizou a sua 58ª Sessão),[1].

Em 1991, através da transposição para o direito interno de directivas comunitárias, mais concretamente a directiva nº 89/391/CEE, do conselho de 12 de Junho, foi criado um diploma, o Decreto-Lei nº 441/91 de 14 de Novembro, que estabelece os princípios gerais de promoção de segurança, higiene e saúde no trabalho e que mais tarde viria a ser alterado pelo Decreto-Lei nº 133/99 de 21 Abril.

Com este diploma e através da Directiva 92/57/CEE, criou-se um novo diploma, o Decreto-Lei nº155/95 de 1 Julho, tendo como âmbito de aplicação, o artigo nº 2, da Lei 441/91 de 14 de Novembro, que actualmente se encontra revogado pelo Decreto-Lei n.º 273/2003 de 29 de Outubro.

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2.1.1- Definição de Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho.

A higiene e segurança são duas actividades que estão intimamente relacionadas com o objectivo de garantir condições de trabalho capazes de manter um nível de saúde dos colaboradores e trabalhadores de uma empresa.

Segundo a O.I.T. (Organização Internacional do Trabalho), a verificação de condições de higiene e segurança consiste, “num estado de bem-estar físico, mental e

social e não somente a ausência de doença e enfermidade”.

A higiene do trabalho propõe-se combater, de um ponto de vista não médico, as doenças profissionais, identificando os factores que podem afectar o ambiente de trabalho e o trabalhador, visando eliminar ou reduzir os riscos profissionais (condições inseguras de trabalho que podem afectar a saúde, segurança e bem-estar do trabalhador), [2].

A segurança no trabalho propõe-se combater, com um conjunto de ciências e tecnologias que procuram a protecção do trabalhador no seu local de trabalho, no que se refere à questão da consciência e da higiene do trabalho, com o objectivo básico de prevenir acidentes de trabalho, [2]. Pode ser entendida então pelo conjunto de medidas adoptadas visando minimizar os acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade e a capacidade do trabalhador.

A saúde no trabalho, traduz o completo bem-estar, físico, mental e social e não meramente a ausência de doença.

Com base nestas definições, pode-se afirmar que as condições de higiene, segurança e saúde no trabalho constituem o fundamento material de qualquer programa de prevenção de riscos profissionais e contribuem, na empresa, para o aumento da competitividade com a diminuição da sinistralidade, [2].

Um qualquer posto de trabalho representa o ponto onde se juntam os diversos meios de produção (máquinas, matérias-primas, o trabalhador, energia, etc.), que irão dar origem a uma operação de transformação, daí resultando um produto ou serviço, [2].

(19)

Segundo o manual de formação da AEP, para a devida avaliação das condições de segurança de um posto de trabalho é necessário considerar um conjunto de factores de produção e ambientais, em que se insere esse mesmo posto de trabalho. Para que a actividade de um trabalhador decorra com o mínimo de risco, têm de se criar diferentes condições passivas ou activas de prevenção da sua segurança.

Ao ser feito um diagnóstico das condições de segurança (ou de risco) deve-se ter em atenção determinados perigos/ riscos. No diagnóstico devem-se levantar informações sobre:

 O posto de trabalho:

- Tem acesso fácil e rápido? - É bem iluminado?

- O piso é aderente e sem irregularidades?

- É suficientemente afastado dos outros postos de trabalho? - As escadas têm corrimão ou protecção lateral?

 Movimentação de cargas:

- As cargas a movimentar são grandes ou pesadas?

- Existem e estão disponíveis equipamentos de transporte auxiliar? - A cadência de transporte é elevada?

- Existem passagens e corredores com dimensões adequadas?

- Existem marcações nos solos delimitando zonas de movimentação? - Existe carga exclusivamente manual?

 Posições de trabalho:

- O operador trabalha de pé muito tempo? - O operador gira ou baixa-se frequentemente?

- O operador tem que se afastar para dar passagem às máquinas ou outros operadores?

- A altura e a posição da máquina são adequadas?

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 Condições psicológicas no trabalho: - O trabalho é em turnos ou é normal? - O trabalhador realiza muitas horas extra? - A tarefa é de alta cadência de produção?

- É exigida muita concentração, dados os riscos da operação?

 Máquinas:

- As engrenagens e as partes móveis estão protegidas?

- Estão devidamente identificados os dispositivos de segurança? - A formação do operador é suficiente?

- A operação é rotineira e repetitiva?

 Ruídos e vibrações:

- No posto de trabalho sentem-se vibrações e ruído excessivo? - A máquina a operar oferece trepidação?

- Existem dispositivos que minimizem ruído e vibrações?

 Iluminação:

- A iluminação é natural?

- Está bem orientada relativamente ao posto de trabalho?

- Existe alguma iluminação intermitente perto do posto de trabalho?

 Riscos químicos:

- O ar circundante tem poeiras ou fumos? - Existe algum cheiro persistente?

- Existe algum tipo de ventilação ou exaustão do ar no local de trabalho? - Os produtos químicos estão bem embalados?

- Os produtos químicos estão bem identificados? - Existem resíduos no chão ou no posto de trabalho?

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 Riscos biológicos:

- Há contacto directo com animais?

- Há contacto directo com sangue ou resíduos de animais? - Existem meios de desinfecção no posto de trabalho?

 Pessoal de socorro:

- Existe alguém com formação em primeiros socorros?

- Os números de alerta estão bem identificados, visíveis e actualizados? - Existem caixas de primeiros socorros e macas?

Estas são apenas algumas das perguntas que se podem fazer quando se faz uma análise geral de um posto de trabalho, mas consoante o posto de trabalho em causa, podem-se fazer outras perguntas e podem-se analisar outros parâmetros.

2.1.2 – Os riscos nos postos de trabalho.

Antes de mais deve-se definir ou distinguir os perigos de riscos profissionais.

O perigo é a propriedade ou capacidade própria de um componente de trabalho (material, equipamento, método, etc.), que pode provocar danos.

O risco é uma situação que é capaz de gerar lesões ou um atentado contra a saúde.

Existem vários factores de riscos que afectam o trabalhador no desenvolvimento das suas tarefas diárias. Alguns destes riscos atingem grupos específicos de profissionais, como é o caso dos mergulhadores, que trabalham sujeitos a altas pressões e baixas temperaturas. Por esse facto são obrigados a usar roupas especiais, para conservar a temperatura do corpo e passam por cabines de descompressão e compressão, cada vez que mergulham ou sobem à superfície.

Existem no entanto riscos que não escolhem profissões, se assim se pode dizer, ou seja, agridem trabalhadores de diferentes áreas e níveis ocupacionais, de maneira subtil e quase imperceptível, sendo estes últimos os mais perigosos, pois são os mais ignorados.

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Os principais riscos ambientais que afectam os trabalhadores, de um modo geral, estão separados em:

 Riscos Físicos;  Riscos Químicos;  Riscos Biológicos;  Riscos Ergonómicos;

2.1.2.1 - Riscos Físicos.

Ao se executar uma determinada tarefa no desenvolvimento do trabalho, gasta-se uma certa quantidade de energia para produzir um determinado resultado. Em geral, quando dispomos de boas condições físicas do ambiente, como por exemplo, o nível de ruído e a temperatura são aceitáveis, produz-se mais com menos esforço. Mas, quando estas condições ultrapassam a nossa tolerância, atinge-se muito facilmente o incómodo e a irritação determinando muita das vezes o aparecimento do cansaço, a queda de produção, a desmotivação e desconcentração, [2].

Por outras palavras, os factores físicos do ambiente de trabalho interferem directamente no desempenho de cada trabalhador e na produção obtida, pelo que se justifica a sua análise com o maior cuidado, [2].

2.1.2.1.1 – Ruído.

Segundo o Manual de formação de Técnico Superior de Higiene e Segurança no Trabalho, o ruído é um dos riscos físicos que é impossível de se eliminar por completo. Quando um trabalhador se encontra num determinado ambiente de trabalho e não consegue ouvir perfeitamente a fala de outros trabalhadores no mesmo recinto, isso é uma primeira indicação de que o local é demasiado ruidoso. Especialistas definem ruído como todo o som que causa desconforto ou sensação desagradável ao homem.

As perdas de audição são derivadas da intensidade e frequência do ruído. A fadiga evidencia-se por uma menor acuidade auditiva. As ondas sonoras transmitem-se tanto pelo

(23)

ar como por materiais sólidos e quanto maior for a densidade do meio condutor, menor será a propagação do ruído. Este torna-se assim um agente físico que pode afectar de modo significativamente a qualidade de vida. Sem medidas de controlo e/ou prevenção, o excesso de intensidade de ruído pode afectar o cérebro e o sistema nervoso. Em condições de exposição prolongada ao ruído por parte do aparelho auditivo, os efeitos podem resultar na surdez profissional cuja cura é impossível, deixando o trabalhador com problemas de relacionamento com colegas e família, assim como com dificuldades acrescidas em se aperceber da movimentação de máquinas ou veículos, agravando as suas condições de risco por acidente físico. O ruído pode ainda provocar lesões em outras partes do corpo, tais como no sistema endócrino, no aparelho digestivo, no aparelho cardiovascular e também pode afectar o campo de visão, havendo um estreitamento e problemas de acomodação.

Os factores que influenciam as lesões auditivas são a intensidade do ruído, em que o limiar de nocividade do ruído ronda os 85 e 87 dB(A), e qualquer ruído superior a 87 dB(A), apresenta já um risco considerável de lesão para o trabalhador.

Outro factor que influencia a lesão auditiva é a frequência. Os sons mais perigosos são os de alta frequência, superiores a 1000 Hz.

O tempo de exposição será sem dúvida um dos factores que mais ocorre, pois é quase impossível não estar constantemente em contacto com ruído, seja ele, no trabalho, na rua, num hipermercado, etc., e o seu efeito adverso é proporcional à duração de exposição e está relacionado com a quantidade total de energia sonora que chega ao aparelho auditivo.

Estes serão os factores mais importantes e dos quais se deve demonstrar um maior cuidado, mas existem mais factores, tais como a idade, a sensibilidade individual e a própria natureza do ruído, que está também ela ligada à frequência de um som.

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2.1.2.1.2 – Vibrações.

As vibrações pertencem também elas ao grupo de riscos físicos. Na realidade, está-se diariamente em contacto com vibrações, e muitas das vezes nem está-se apercebe, como por exemplo, o telemóvel, a tocar e vibra, a própria deslocação de casa para o trabalho, seja ela de carro, metro, comboio ou autocarro. Nos postos de trabalho muitas vezes estão máquinas que também elas vibram, ou seja, as vibrações são efeitos físicos produzidos por certas máquinas, equipamentos e ferramentas vibrantes, que actuam por transmissão de energia, emitindo oscilações com amplitudes perceptíveis pelo ser humano. Consoante a posição do corpo humano, esteja ele de pé, sentado ou deitado, a sua resposta às vibrações será diferente, sendo igualmente importante o ponto de aplicação da força vibratória.

Em termos profissionais, podem-se considerar dois tipos de vibrações existentes e as quais devem ser estudadas com cuidado para o posto de trabalho. A primeira será as vibrações mão-braço, ou seja, utilização de máquinas cujas vibrações estejam apenas a influenciar os membros superiores; a segunda será as vibrações de corpo-inteiro, que se traduzem nas vibrações, como o próprio nome indica, que influenciam o corpo inteiro.

Segundo o Decreto-Lei nº46/2006 de 24 de Fevereiro, artigo 3º, 1) e 2), os valores limite e valores de acção de exposição, para o sistema mão-braço são respectivamente de, 5 m/s2 e 2,5 m/s2, enquanto para o sistema de corpo inteiro esses valores passam respectivamente, para 1,15 m/s2 e 0,5 m/s2.

As lesões causadas por vibrações podem ser bastante graves. No sistema mão-braço, encontram-se lesões tais como, afecções osteo-articulares, artrose dos membros superiores, Lunatomalácia ou doença de Kienbock (necrose de um dos ossos do punho), pseudartrose do dedo álgido. Já no sistema de corpo inteiro encontram-se problemas dorso-lombares, fadiga e desconforto, náuseas e vómitos, problemas gástricos, acentuação dos efeitos do ruído, aumento da pressão sanguínea e frequência cardíaca, distúrbios de visão, entre outros.

De acordo com algumas normas europeias, o trabalhador exposto a vibrações diárias de 2,5 m/s2 por um período igual ou superior a 12 anos, tem 10% de probabilidade de desenvolver uma síndrome de vibrações, [4].

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2.1.2.1.3 – Ambiente Térmico.

O ambiente térmico laboral pode ser definido como o conjunto das variáveis térmicas do posto de trabalho que influenciam o organismo do trabalhador, sendo assim um factor que intervém de forma directa ou indirecta na saúde e bem-estar do mesmo e na realização das tarefas que lhe estão atribuídas. O ambiente térmico é ainda mais importante quando associado ao facto de poder potenciar maior emanação dos contaminantes químicos, situações de auto-inflamabilidade, lesões músculo esqueléticas, etc.

O Homem é um animal hómiotérmico, de sangue quente, que para sobreviver, necessita de manter a temperatura interna do corpo, dentro de limites muito estreitos, a uma temperatura constante de aproximadamente 37º C, obrigando a uma procura constante de equilíbrio térmico com o meio envolvente, que tem influência nessa temperatura interna, podendo um pequeno desvio em relação a este valor provocar determinados danos e em certos casos até a morte.

A ISO 7730 classifica o conforto térmico como: “Um estado de espírito que

expressa satisfação com o ambiente que envolve a pessoa, nem quente, nem frio”

É portanto, uma sensação subjectiva que depende de aspectos biológicos, físicos e emocionais dos ocupantes, não sendo desta forma, satisfazer todos os indivíduos que ocupam um recinto, com uma determinada condição térmica.

O estudo do conforto térmico tem como objectivo a determinação das condições ambientais que proporcionem o conforto térmico ao maior número de pessoas possível. Fora desta situação de equilíbrio, podem existir situações adversas em que a troca de energia calorífica constitui um risco para a saúde da pessoa, pois mesmo tendo em conta os mecanismos de termo-regulação do organismo, não conseguem manter a temperatura interna constante e adequada. Nestas situações pode-se falar de desconforto e de stress térmico, por calor ou frio, [4].

No Homem, o calor é uma sensação que o corpo experimenta quando a sua temperatura é mais baixa que a do outro corpo ou meio envolvente. Quando estes dois corpos estão na presença um do outro a temperaturas diferentes há transferências de calor do corpo mais quente para o mais frio até se estabelecer a igualdade de temperaturas.

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Entre o Homem e o meio envolvente esta transferência pode dar-se através de um ou mais dos seguintes modos, [4]:

Condução: Quando a transferência de calor se realiza através do contacto entre

sólidos ou líquidos que não estão em movimento, por exemplo, mão/ plano de trabalho.

Convecção: Quando a transferência de calor se realiza através dos fluidos em

movimento e por isso só ocorre em líquidos e gases (ex: movimento do ar). Em relação ao Homem verifica-se este efeito entre a pele e o ambiente e vice-versa.

Radiação: Todas as substâncias irradiam energia sob a forma de ondas

electromagnéticas. Quando esta radiação incide sobre outro corpo, pode ser parcialmente reflectida, transmitida ou absorvida. Apenas a fracção que é absorvida surge como calor no corpo.

Evaporação: Em fisiologia, a evaporação é uma via de grande importância,

constituindo uma perda de calor. Esta evaporação, através da sudação, dá-se a nível da pele e arrefece a superfície.

A sensação de conforto térmico depende essencialmente do equilíbrio térmico entre a produção de calor gerada pelo calor somado dos ganhos de calor do meio e as perdas para o mesmo, com o objectivo de manter a temperatura interna do corpo nos 37º C.

Pode-se então falar da equação do balanço térmico, ou seja, o calor acumulado (Q) é igual ao produzido pelo metabolismo (M) mais/menos o calor ganho/perdido por condução (K), a radiação (R) e convenção (C) e perdido por evaporação (E).

A equação do balanço térmico fica igual a:

Q= M ± K ± R ± C – E Sendo:

Q – Calor acumulado pelo corpo; M – Calor produzido pelo metabolismo; K – Calor ganho ou perdido pela condução; R – Calor ganho ou perdido pela radiação;

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C – Calor ganho ou perdido pela convecção; E – Calor perdido por evaporação;

Para se atingir o equilíbrio térmico Q deve ser igual a zero, ou seja:

M ± K ± R ± C – E = 0

Considerando K=0, porque é desprezável a troca de calor por condução com as superfícies sólidas à volta, a equação simplificada é:

M = R ± C +E

De uma forma muito simples se pode concluir que a quantidade de calor ganho é igual à quantidade de calor perdido.

Quando o corpo humano está submetido a ambientes térmicos que o obrigam a receber calor, actuam os mecanismos que tendem a dissipar o calor.

Em termos de reacções que podem acontecer no corpo humano devido a temperaturas elevadas, tem-se a vasodilatação sanguínea, que aumenta o fluxo de sangue cutâneo e consequente uma maior troca de calor. A abertura das glândulas sudoríparas, que provoca o aumento das trocas de calor pela passagem do estado de suor de líquido a vapor (conforme as condições ambientais).

Quando o corpo humano está submetido a ambientes térmicos que o obrigam a ceder calor, actuam os mecanismos que tendem a gerar e conservar calor e a evitar perdas, nomeadamente, a vasoconstrição sanguínea, que diminui o fluxo sanguíneo e a consequente menor troca de calor, a desactivação das glândulas sudoríparas, tremuras, transformando a energia mecânica em energia térmica e o encolhimento, em que o corpo tenta expor a menor superfície possível em contacto com o ambiente exterior, para minimizar assim as perdas de calor, [4].

2.1.2.1.4 – Radiações.

Segundo o Manual de formação de Técnico Superior de Higiene e Segurança no Trabalho, [4], a radiação é também um risco físico nocivo. A palavra radiação provém do

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latim radiato, - tionis, que significa acção e efeito de radiar. Este vocábulo refere-se a um conjunto de fenómenos físicos aos quais está associado um estado de propagação: luz, raios-x, infravermelhos e emissões corpusculares devida à emissão de partículas de átomos.

A radiação encontra-se em toda a parte da nossa vida. Ocorre naturalmente na terra e pode atingir todos os indivíduos vindo do espaço exterior – os designados raios cósmicos. Pode também ocorrer na água que se bebe ou no solo do quintal. Pode igualmente existir, nos alimentos que se comem, nos materiais de construção e também nos corpos humanos.

Assim, é importante tomar-se consciência de como todas as pessoas se encontram imersas por ondas electromagnéticas, iniciando pelas do sol, a maior e mais importante fonte para os seres terrestres, cuja vida depende dessas ondas que dão calor e luz. Na vida quotidiana, está-se em permanente contacto com radiações, sejam elas através de ondas de rádio, telemóvel, electrodomésticos, radares, calor, aparelhos de raio-X etc.

Na radiação pode-se diferenciar dois tipos diferentes de radiação: a radiação não ionizante e a radiação ionizante.

O processo de ionização é um processo químico no qual se produzem iões, pela perda ou ganho de electrões a partir de átomos ou moléculas neutras. Nas radiações ionizantes, estas transferem muita energia ao átomo atingido, deixando-o muito instável, podendo gerar uma fissão nuclear. Este tipo de ionização é muito perigosa para os seres vivos, pois são causadores de cancro e mutações genéticas.

A radiação não ionizante é toda a radiação do espectro electromagnético com comprimentos de onda superiores a 100 nm. Estão incluídas neste grupo as radiações ultra violeta, a luz visível, a radiação infravermelha, os microondas e as ondas de rádio. As radiações não ionizantes, na interacção com a matéria biológica, não provocam a sua ionização.

Já a radiação ionizante distingue-se em dois tipos de radiações, ondas electromagnéticas, raios gama e raios-X, com comprimentos de onda muito baixos, e radiações corpusculares, com emissões de partículas α e β, de electrões e de neutrões.

As radiações ionizantes interagem com a matéria produzindo partículas carregadas electricamente, os iões. A ionização altera quimicamente os átomos ou moléculas, no caso de tecidos vivos, provocando alterações a nível celular. Estas características de interacção

(29)

com o material com que contacta, faz com que, as radiações ionizantes constituam um importante factor físico do ambiente, no que diz respeito à relação Ambiente/Saúde.

Os principais efeitos das radiações ionizantes:

Os efeitos biológicos podem ser classificados por dois critérios:

 Quanto à relação com a dose de radiação recebida;  Quanto à sua transmissão;

Efeitos estocásticos:

Resultam de modificações induzidas numa ou mais células que são depois transmitidas a outras células, podendo causar doenças graves como a leucemia, o cancro do pulmão, o cancro de pele, etc. A severidade do efeito não depende da dose absorvida, mas a probabilidade da ocorrência do efeito aumenta com o tempo total de exposição à radiação, não sendo possível definir limites mínimos para que se verifiquem efeitos que, frequentemente, são apenas observáveis vários anos após a causa. Não é geralmente possível distinguir entre um caso induzido pela radiação e um caso devido a outras causas.

CRITÉRIO EFEITO

BIOLÓGICO CARACTERÍSTICAS

Dose

Estocásticos A probabilidade de não ocorrência não depende da dose recebida

Deterministas

(Não estocásticos) Dependem da dose recebida Hereditários Afectam os descendentes Transmissão Somáticos Afectam o indivíduo irradiado

Quadro 2.1 : Critérios dos efeitos biológicos

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Efeitos deterministas:

São apenas observados quando a dose excede um certo valor limite. A importância do efeito depende da dose absorvida e o intervalo de tempo entre a exposição e o aparecimento dos sintomas é reduzido. Como exemplos, podem referir-se cataratas, queimaduras cutâneas e infertilidade.

2.1.2.2- Riscos Químicos.

Certas substâncias químicas, utilizadas nos processos de produção industrial, são lançadas no ambiente de trabalho através de processos de pulverização, fragmentação ou emanações gasosas. Essas substâncias podem apresentar-se nos estados sólido, líquido e gasoso.

No estado sólido, tem-se as poeiras de origem animal, mineral e vegetal, como a poeira mineral de sílica encontrada nas areias para moldes de fundição.

No estado gasoso, como exemplo, tem-se o GLP (gás liquefeito de petróleo), usado como combustível, ou gases libertados nas queimas ou nos processos de transformação das matérias-primas.

Quanto aos agentes líquidos, eles apresentam-se sob a forma de solventes, tintas, vernizes ou esmaltes.

Os agentes químicos ficam em suspensão no ar e podem entrar no organismo do trabalhador de várias maneiras. Podem entrar pelas vias respiratórias e esta é a principal porta de entrada dos agentes químicos, porque se respira continuadamente e tudo o que está no ar acaba por passar nos pulmões. Pela via digestiva, se o trabalhador comer ou beber algo com as mãos sujas, ou que ficaram muito tempo expostas a produtos químicos, parte das substâncias químicas são ingeridas com o alimento, atingindo o estômago e podendo provocar sérios riscos à saúde. A penetração de elementos químicos através da epiderme é a via mais difícil, mas se o trabalhador estiver desprotegido e tiver contacto com substâncias químicas, havendo deposição no corpo, serão absorvidas pela pele.

Através da via ocular, também alguns produtos químicos que permanecem no ar podem causar irritação nos olhos (conjuntivite), o que podendo também por esta via dar-se a penetração dos agentes químicos.

(31)

Os limites máximos de concentração de cada um dos produtos diferem de acordo com o seu grau de perigo para a saúde. As medidas ou avaliações dos agentes químicos em suspensão no ar são obtidas por meio de aparelhos especiais que medem a concentração, ou seja, percentagem existente em relação ao ar atmosférico. Assim nasce o conceito de

valor limite de exposição, “NP-1796”, a que um trabalhador pode estar e não é mais do

que a concentração, para a qual a quase da totalidade dos trabalhadores pode estar exposta, dia após dia, sem efeitos prejudiciais para a saúde. No entanto, existem dois conceitos de valores limites de exposição, o valor limite de exposição de média ponderada, que se traduz, na concentração média durante um dia de trabalho de oito horas ou quarenta horas de trabalho semanais, ponderada em função do tempo de exposição, que nunca deve ser excedida, e o valor limite de exposição de concentração máxima, que se traduz na concentração que nunca deverá ser excedida, mesmo instantaneamente. Nos cálculos para o valor limite de exposição, deve-se ter em conta quando duas ou mais substâncias agem simultaneamente a um mesmo nível de organismo humano, ou seja, deve ser estudado o seu efeito combinado e não o efeito de cada um tomado separadamente, [4].

2.1.2.2.1 - Acção fisiopatológica dos riscos químicos.

Irritantes:

Compostos químicos que produzem uma inflamação devido a uma acção química nas áreas anatómicas com as quais entra em contacto, principalmente a pele e mucosas do sistema respiratório.

Pneumoconióticos:

Substâncias químicas sólidas que se depositam nos pulmões e se acumulam, podendo desencadear reacções químicas ao nível dos alvéolos pulmonares dando origem a pneumoconióses, (ex. celulose, amianto, sílica livre ou cristalina, caulino)

Tóxicos:

Compostos químicos que se distribuem por todo o organismo actuando apenas sobre um órgão ou sobre todo um sistema, (ex. hidrocarbonetos halogenados).

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Narcóticos:

Composto químico que actua sobre o sistema nervoso central produzindo um efeito anestésico após serem absorvidos pelo sangue, (ex. acetona, éter etílico).

Cancerígenos:

Substâncias que poderão gerar potencial de desenvolver um crescimento desordenado de células, (ex. amianto, cloreto de vinilo, formaldeído).

Alergénios:

Substâncias cuja acção se caracteriza por:

 Não afectar a totalidade dos indivíduos;

 Apresentar-se em indivíduos previamente sensibilizados; (ex. resinas, crómio)

Asfixiantes:

Substâncias que limitam a chegada de oxigénio aos tecidos. (ex. Asfixiante simples: CO2; asfixiante químicos: Nitratos)

Produtores de dermatoses:

Substâncias que independentemente de outros efeitos tóxicos que possam exercer em contacto com a pele, originam alterações da mesma.

2.1.2.3 – Riscos biológicos.

Os riscos biológicos estão directamente ligados aos agentes biológicos. Estes são os micro-organismos, incluindo os geneticamente modificados, as culturas de células e os endoparasitas humanos, susceptíveis de provocar infecções, alergias ou intoxicações. A classificação dos agentes biológicos relaciona-se com a sua perigosidade e/ou com o índice de risco de infecção e são dispostos em quatro grupos.

Grupo 1: Agente biológico cuja probabilidade de causar doenças no ser humano é

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Grupo 2: Agente biológico que pode causar doenças no ser humano e constituir um

perigo para os trabalhadores, sendo escassa a probabilidade de se propagar na colectividade e para o qual existem, em regra, meios eficazes de profilaxia ou tratamento.

Grupo 3: Agente biológico que pode causar doenças graves no ser humano e

constituir um risco grave para os trabalhadores, sendo susceptível de se propagar na colectividade, mesmo que existam meios eficazes de profilaxia ou de tratamento.

Grupo 4: Agente biológico que causa doenças graves no ser humano e constitui um

risco grave para os trabalhadores, sendo susceptível de apresentar um elevado nível de propagação na colectividade e para o qual não existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.

Um agente biológico que não puder ser rigorosamente classificado num dos grupos deve ser classificado no grupo mais elevado. Em termos de condições de contaminação, podem ocorrer por inoculação acidental, ingestão acidental, dispersão de material infectado para os olhos e face, contacto directo, formação de aerossóis e dispersão do mesmo no laboratório, experimentação com animais em laboratório, etc., [4].

2.1.2.4 – Riscos Ergonómicos

Verifica-se que algumas vezes, os postos de trabalho não estão bem adaptados às características do operador, quer quanto à posição da máquina com que trabalha, quer no espaço disponível ou na posição das ferramentas e materiais que utiliza nas suas funções, [2].

A ergonomia é o estudo da relação entre o Homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia de forma a obter a humanização do trabalho.

Alain Wisner definiu o conceito de ergonomia em 1972, como sendo, “o conjunto

de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto e eficácia”.

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A acção da ergonomia é assim de carácter multidisciplinar e o seu principal objectivo é adaptar as condições de trabalho às características do homem, isto é, projectar trabalhos, locais de trabalho, máquinas e ferramentas adaptadas às pessoas.

Toda a actividade profissional necessita de um trabalho muscular, mais ou menos importante, segundo as tarefas a serem realizadas. Este trabalho muscular é necessário tanto para a manutenção de uma simples postura, quanto para a execução de gestos e movimentos de trabalho.

Para se poder prevenir as doenças e lesões músculo-esqueléticas tem que se conhecer o nosso corpo, saber o seu funcionamento, e como se vai desgastando progressivamente, produto do que de bom ou mau com ele se realiza.

A nível de movimentações, pode-se dividir o corpo em três partes, o esqueleto, mais propriamente os ossos, as articulações e os músculos.

Os ossos têm como principais funções:  Forma e suporte do corpo;  Protege certos órgãos;

 Armazenamento de minerais;  Base mecânica para o movimento;

As articulações vão permitir a conexão ou união entre dois ou mais ossos.

No que diz respeito aos músculos, estes dividem-se em três grupos, os músculos esquelético (ex. estriado) e que funciona de forma voluntária, o músculo cardíaco, (ex. miocárdio), que funciona de forma involuntária, e o músculo liso, (ex. forma parte das vísceras), que também ele funciona de forma involuntária, [4].

Os músculos têm como funções:

 Produção de movimentos corporais;  Estabilização e postura;

 Regulação do volume dos órgãos;  Movimento de substâncias no corpo;  Produção de calor;

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Na realidade, a ergonomia está directamente associada a uma outra ciência que permite que os seus objectivos de adaptar o trabalho ao homem sejam atingidos, a antropometria. Sem esta ciência ainda hoje se estaria a fazer cadeiras com alturas diferentes, teclados de computador com tamanhos absurdamente diferentes, mas apesar de todos os seres humanos serem diferentes fisicamente, a realidade é que o homem conseguiu responder a esses problemas de forma sábia, como por exemplo, os bancos dos automóveis, eles têm uma dimensão standard, mas na realidade podem ser adaptados na maior parte dos casos às necessidades da pessoa que o vai conduzir. A antropometria é o estudo dos atributos físicos do corpo humano, [4].

É impossível desenhar um posto de trabalho ergonómicamente aceitável, sem considerar as características físicas do ser humano, assim como as suas limitações. As posturas penosas, derivam frequentemente de uma má adequação entre o posto de trabalho e as pessoas que o utilizam. Na maioria dos casos os problemas podem ser evitados com a melhoria dos postos de trabalho e dos equipamentos utilizados. Estes devem ser adequados à população utilizadora. No desenvolvimento de postos de trabalho, ferramentas, entre outros, é importante considerar todas as diferenças corporais dos vários potenciais utilizadores.

Assim, a antropometria adquire particular importância no sentido em que determina aspectos fundamentais associados ao conforto e bem-estar, nas actividades profissionais, [4].

(36)

2.2 – Estatísticas da actividade do serviço de HSST.

2.2.1 – Entidades Empregadoras, Estabelecimentos e Trabalhadores.

O relatório anual da actividade do serviço de Segurança e Saúde no Trabalho é uma obrigação definida desde 2001, que descreve as actividades desses serviços para efeitos de gestão e controlo, [5].

Assim sendo, das 312 722 unidades locais (UL’S), e entenda-se por UL’S, empresas ou parte dela (fábrica, armazém, loja, oficina, mina, entreposto, etc. situada num local topograficamente identificado), cerca de 241 154 correspondem a entidades empregadoras. Nesse local ou a partir dele exercem-se actividades económicas para as quais, regra geral, uma ou várias pessoas trabalham (eventualmente a tempo parcial), ou por conta de uma mesma empresa e o número de estabelecimentos inclui sempre a sede da empresa, que entregaram relatórios de SST, correspondiam a 241 154 entidades empregadoras. Dado que apenas as UL’S que tiveram trabalhadores em algum período de 2009 são contempladas neste estudo, é de referir que nessa situação estavam 265 829. Dessas, 187 874 organizaram os serviços de Segurança e Saúde no Trabalho (ambos ou pelo menos um), o que correspondeu a 70,7%, [5].

Os trabalhadores abrangidos na organização das actividades de segurança no trabalho eram 2 430 779 e nas actividades de saúde, 2 368 632. A diferença entre ambos os números resulta do facto dos estabelecimentos serem responsáveis, para efeitos de segurança, pelos trabalhadores que efectivamente estão no estabelecimento e, para efeitos de saúde, por todos os trabalhadores vinculados, [5]. (ver quadro 2.2).

(37)

2.2.2 – Organização e Pessoal dos Serviços de Segurança e Saúde no Trabalho

Do total de estabelecimentos que organizaram serviços de SST em 2009, cerca de 80% optaram por organizar estes serviços em conjunto (gráfico 2.1), [5].

Relativamente ao pessoal técnico, o número de técnicos de segurança e higiene no trabalho é superior a quatro vezes o número de médicos do trabalho (gráfico).

Na modalidade de organização dos serviços de SST (Tabela 2.3), quer na Segurança, quer na Saúde predominou o recurso a serviços externos (mais de 85%). A modalidade menos frequente foi o recurso a trabalhador designado (para Segurança) e ao

Serviço Nacional/Regional de Saúde, (para Saúde), [5].

Gráfico 2.1: Estabelecimentos segundo a natureza da organização dos serviços de SST.

Fonte: mgep/MTSS, 2009

Fonte: mgep/MTSS, 2009

Fonte: mgep/MTSS, 2009

Gráfico 2.2: Pessoal Técnico dos Serviços de SST

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2.3 – Breve análise ao sector da Construção Civil.

A indústria da construção em Portugal, à semelhança do que acontece em outros países, tem importância significativa no conjunto da economia nacional. O sector da Construção Civil e Obras Públicas (CCOP) é um sector muito diferenciado dos outros sectores de actividade, quer em termos produtivos, quer em termos de mercado de trabalho. Trata-se de um sector que apresenta uma cadeia de valor muito extensa, porque recorre a uma ampla rede de inputs, proporciona o aparecimento de externalidades positivas às restantes actividades e gera efeitos multiplicadores significativos a montante e a jusante [6].

Em termos de emprego a conjuntura da década de 90 é ainda utilizada nos nossos dias e implicou dois tipos de desenvolvimentos. Por um lado, a necessidade de uma maior competitividade empresarial levou a que a estratégia empresarial preferencial passasse por um downsizing e por uma externalização das funções produtivas consideradas não essenciais ou outsourcing, isto é, diminuíram os seus quadros de pessoal e adoptaram uma política que implicou passar a subempreitar as diversas fases de realização das obras, reservando para o empreiteiro geral e para o dono da obra uma função de coordenação geral. Em termos da distribuição da mão-de-obra disponível no sector, este facto implicou um redimensionamento dos quadros das grandes e médias empresas, que reduziram o seu quadro de pessoal, e um aumento do número de pequenas empresas que passaram a funcionar como subempreiteiras (ou subcontratadas) das primeiras. Por outro lado, as necessidades de mão-de-obra implicaram um processo de novos recrutamentos de pessoal não qualificado ou semi-qualificado, sobretudo por parte de pequenas e médias empresas (PME). Perante condições remuneratórias pouco atraentes no mercado formal, este recrutamento fez-se, sobretudo, no mercado informal com condições salariais mais atractivas (mas menores remunerações sociais) que seduziram um conjunto diversificado de trabalhadores, designadamente nacionais e imigrantes, quer dos tradicionais países fornecedores de mão-de-obra para o mercado de trabalho português (e.g. Palop), quer de países recém chegados ao mercado internacional de mão-de-obra (e.g. países do leste europeu), [6].

Segundo Maria Baganha em “O sector da Construção Civil e Obras Públicas em

Portugal: 1990-2000”, a mão-de-obra a laborar nestas empresas tem características

(39)

tipo de actividade a maioria das empresas ainda é mão-de-obra intensiva e caracteriza-se pelos seguintes aspectos principais:

• peso elevado de mão-de-obra masculina, jovem, em alguns casos ilegal, clandestina ou sem contrato;

• mais de metade dos trabalhadores com uma qualificação nula ou incipiente (qualificação quer escolar, quer profissionalizante);

• elevada precariedade de emprego;

• elevada rotatividade (mais de 70% dos trabalhadores têm menos de 4 anos de antiguidade na empresa);

• remunerações inferiores à média nacional;

• elevada sinistralidade, motivada por deficientes condições de segurança no trabalho.

Outra das condicionantes deste sector tem a ver com o facto de exercer a sua actividade num quadro estrutural de trabalhos cíclicos, o que proporciona a existência de múltiplas empresas mas, na sua maioria, com um número reduzido de pessoas no quadro de pessoal e com grande rotatividade de trabalhadores. Esta abundância de mão-de-obra é uma das razões principais do fraco investimento em formação realizado pelas empresas de CCOP. Para as empresas, não é economicamente vantajoso formar pessoas que rapidamente se transferem para outra empresa. Os trabalhadores deste sector também não se sentem motivados para trocarem os benefícios imediatos que advêm do exercício da sua actividade pelos potenciais benefícios que poderão advir do investimento em formação não remunerada, [6].

2.3.1 – Acidentes de trabalho na construção civil.

As alterações na organização do trabalho e, consequentemente, as mudanças ocorridas ao nível de organização da estrutura empresarial aumentam os riscos para os trabalhadores. Com efeito, a percepção das incapacidades e limitações para terminar uma tarefa dentro de um determinado prazo gera um ambiente de stress e conduz a um fraco desempenho profissional, aumentando a probabilidade de erro e consequentemente de ocorrência de acidentes, [7].

(40)

É do conhecimento geral que o sector da Construção Civil e Obras Públicas assume uma elevada importância económica, tanto pelo peso bastante expressivo ao nível do produto como ao nível de emprego. Este sector tem características e especificidades muito próprias que o demarcam dos restantes sectores de actividade. Essas especificidades têm a ver não só com aspectos técnicos inerentes à actividade, mas também com aspectos sociais e tradições muito fortes. Somente a título de exemplo, é de salientar que este sector se caracteriza por uma forte deslocação/movimentação de mão-de-obra; diversidade de actividades e profissões e o local de trabalho está sujeito a constantes alterações. Um outro aspecto relevante é o facto de este sector possuir o mais antigo dos sistemas de formação, que se traduz na transmissão de saberes e técnicas baseada numa relação pedagógica e autoritária de mestre para aprendiz, contudo, com a introdução de novas tecnologias, este sistema de aprendizagem tem vindo a alterar-se, sendo particularmente difícil a formação neste sector, dada a grande mobilidade de trabalhadores, [7].

As profundas mudanças observadas na organização dos processos de trabalho, visando o aumento de produtividade e redução dos custos – que em muito contribuiu para a transnacionalização das relações económicas e sociais -, geralmente não vêm acompanhadas de melhorias das condições de trabalho. Sendo que uma das consequências mais flagrantes da flexibilidade dos mercados e do próprio trabalho, imposta pela globalização, é o aparecimento de formas atípicas de trabalho, que as empresas utilizam para ajustarem a quantidade e disponibilidade de mão-de-obra aos imperativos do mercado, que, de certa forma, acentuam as inseguranças e conduzem à perda de expectativas, uma vez que os trabalhadores enfrentam um conjunto de incertezas no desempenho das suas funções, ficando a sua capacidade para lidar com o inesperado, diminuída.

Perante todas estas situações resulta um numeroso conjunto de riscos objectivos e bastante elevados, que transformam este sector num dos sectores de actividade com maiores probabilidades de ocorrência de acidentes de trabalho, associados à forte precariedade, rotatividade e prática de subcontratação, [7].

No gráfico seguinte, relativo a acidentes de trabalho mortais por Sector de Actividade registados em 2010, o sector da Construção Civil revela cerca de 40% destes acidentes, seguindo-se a Industria Transformadora com um peso de 29,44%.

(41)

Como o sector da construção civil é maioritariamente constituído por pequenas e médias empresas a probabilidade de acontecer um acidente de trabalho mortal também é maior neste subsector, como é indicado pelo gráfico 2.4, relativo a acidentes de trabalho mortais e não mortais segundo o escalão de dimensão da empresa, mas torna-se importante salientar que as grandes empresas recorrem-se às mais pequenas para a realização de trabalhos de construção civil.

Gráfico 2.4: Acidentes de trabalho, segundo o escalão de dimensão da empresa no sector da construção

Fonte: A.C.T.

1 a 9 pessoas 10 a 49 pessoas 50 a 249 pessoas 250 a mais pessoas

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No sector da construção civil existe uma panóplia de perigos que são susceptíveis de se converterem em riscos e consequentemente converterem-se em acidentes e incidentes de trabalho, sejam não mortais ou no pior dos cenários mortais.

Sendo os acidentes mortais os que mais preocupam e se tentam evitar, por variadas razões, tais como, a perda humana e toda a desagregação familiar que vai existir como consequência, bem como o prejuízo existente por parte da empresa ao ter de ficar sem um elemento produtor e todo o tempo que o novo elemento gastará até estar inserido na nova empresa e conseguir ter o mesmo nível de produção que o antigo trabalhador tinha, já para não falar em causas psicossociais daí adjacentes, que podem levar em último caso ao despedimento do novo trabalhador e ter que começar o ciclo todo outra vez; bem como o prejuízo por parte das seguradoras ao terem que pagar as indemnizações à família bem como os prejuízos que a empresa teve com os acidentes.

Os acidentes mortais devem assim ser tratados com particular e especial atenção de modo a ser possível reduzir ou na melhor das hipóteses eliminar os acidentes mortais, mas devendo ter sempre o cuidado para que com a prevenção e novas metodologias aplicadas não se criem também assim novos perigos.

Entre todos os perigos/ riscos existentes na construção civil que provocam acidentes mortais, existem uns que ocorrem com maior frequência, tais como a queda em altura.

O gráfico seguinte, (gráfico 2.5), diz respeito às causas de acidentes de trabalho mortais ocorridos no ano de 2010.

Imagem

Gráfico 2.1: Estabelecimentos segundo a natureza  da organização dos serviços de SST.
Gráfico 2.4: Acidentes de trabalho, segundo o escalão de dimensão da empresa no sector da construção Fonte: A.C.T
Gráfico 2.6: Dias de trabalho perdidos com acidentes de trabalho não mortais, em  todos os sectores de actividade
Gráfico 4.1 – Tipo de Obra
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Referências

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