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Contrato de seguro e tecnologias de informação

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Academic year: 2021

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Contrato de seguro e tecnologias de informação

José Caramelo Gomes

1. Introdução

O tema que me foi proposto tratar é, ao mesmo tempo, simples e complexo. Simples porque pela sua actualidade e vastidão é razoavelmente fácil encontrar informação disponível em quantidades avassaladoras. Complexo preciamente pela mesma razão. Com efeito, uma tal amplitude propicia a dispersão e esta gera a banalidade.

Devemos entãocircunscrever ou limitar o âmbito desta comunicação, para que dela possam os congressistas em particular e a indústria seguradora em geral retirar algum benefício.

As tecnologias de informação (TIC) fazem hoje parte integrante das nossas vidas a todos os níveis: profissional, pessoal, entretenimento, manifestando-se e integrando-se nas mais reconditas e insuspeitas actividades. Algum tempo atrás, desabafava um especialista na matéria, que se porventura houvesse uma greve concertada dos processadores de informação, ou seja dos microchips, seguramente estariamos perante uma catástrofe de proporções inimagináveis. O mundo, como nós o conhecemos, desde o computador pessoal até à máquina de café e ao fogão, passando pelos automóveis, pelas máquinas de lavar, pelo relógio de pulso, o fornecimento de telecomunicações, água, gáz, electricidade, tudo ficaria paralizado. Um cenário de apocalipse, em que nada funcionaria, em que nos veríamos isolados, sem nos podermos deslocar senão andando, em que não poderíamos comunicar senão oralmente e à distância que a nossa voz e capacidade pulmonar permite.

Uma tal greve teria naturalmente consequências devastadoras para a indústria seguradora, a qualquer nivel que se queira discutir. Seria naturalmente um desastre em termos administrativos. Mas esse desastre seria bem insignificante quando comparado com a reparação da sinistralidade que ocorreria em consequência de uma tal greve. Felizmente, para todos nós e para o mundo, que este cenário não passa de uma história de ficção de ocorrência menos que improvável.

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Mas em todo o caso, desde já ressaltam duas áreas em que as tecnologias de informação têm implicações vitais na indústria seguradora: a área administrativa e a área de sinistralidade.

Não são no entanto estas as áreas em que me proponho analisar a problemática do seguro e das tecnologias de informação. Em qualquer delas haverá concerteza profissionais muito mais qualificados e habilitados para o fazer. Jurista que sou, devo cingir-me ao que os juristas fazem, analisando os problemas sobre uma perspectiva jurídica. E, neste caso, isso significa escolher uma vertente da prática contratual seguradora em que as tecnologias de informação desempenhem ou se perspective venham a desempenhar um papel importante.

Sempre se dirá que na antecipação da greve dos processadores e consequente sinistralidade a vertente contratual seria importantissima. Seria sem duvída mas o impacto da tecnologia de informação neste tema particular é matéria do foro da análise de risco muito mais do que do foro jurídico.

Mais importante, ou talvez mais fácil, por deformação profissional e economia intelectual, será encaminhar a minha análise do tema para as implicações que as tecnologias de informação terão sobre a territorialidade e jurisdicionalidade do contrato de seguro, ou seja, a problemática do contrato celebrado pela via eletrónica, a lei aplicável e a jurisdicção. O que significa que terei que começar por falar em globalização.

2. Globalização e Tecnologias de informação

Globalização é antes de mais um conjunto de duas realidades ou princípios bem distintos: o princípio da especialização e a liberalização do comércio. Saber qual delas é causa e qual consequência é tentar resolver o problema do ovo e da galinha e, nesta fase, pura perda de tempo. Retenhamos que o princípio da especialização, que os economistas bem conhecem, significa a concentração do esforço, individual, empresarial e nacional, num determinado conjunto de tarefas, assim se realizando uma divisão do trabalho, que por sua vez gera ou requere uma complexa rede comercial a montante por forma a integrar eficazmente o produto acabado.

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Ora, para que o sistema funcione ao nível dos países, é necessário a liberalização do comércio e uma rede de transportes eficaz. O segundo requisito encontra-se há muito preenchido.

2.1 A liberalização do comércio mundial

A liberalização do comércio mundial tem vindo lentamente a realizar-se desde o final da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos lançaram a ideia de três organizações internacionais tendo em vista a constituição de um sistema económico internacional.

Dessas três organizações foram criadas duas na sequência da Conferência de Bretton Woods: o FMI - Fundo Monetário Internacional (IMF - Internacional Monetary Fund) e o BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (IBRD – International Bank for the Reconstruction and Development). A terceira, a Organização do Comércio Internacional, (ITO – International Trade Organization) nunca chegou a ser criada.

No seu lugar conseguiu-se estabelecer em 1947 o GATT – General Agreement on Tax and Trade, que se tornou o instrumento por excelência para a regulamentação do comércio mundial durante meio século.

O GATT assentava em três princípios fundamentais: o da cláusula da nação mais favorecida, a preferência pelo sistema de direitos aduaneiros como método de proteccionismo e a cláusula do tratamento nacional. Sobre os auspícios do GATT desenvolveram-se oito rondas negociais. As primeiras cinco em Geneva 1947, Annecy 1949, Torquay 1951, Geneva 1956 e 1962, tiveram como objectivo fundamental a redução dos direitos aduaneiros. A sexta ronda, Geneva 1964-67, chamada “the Kennedy Round” teve como objectivo principal o anti-dumping e a redução dos direitos sobre produtos industriais. A sétima ronda negocial, “the Tokyo round”, voltou ao problema da redução dos direitos aduaneiros e, finalmente, a oitava e mais importante, “the Uruguay round” incluiu três novas áreas: os serviços, que deu origem ao GATS, a propriedade intelectual e as concessões de serviços públicos, abrindo caminho para a constituição da OMC – Organização Mundial de Comércio (WTO – World Trade Organization).

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O GATS, General Agrement on Trade in Services foi o resultado possivel de obter no termo do Uruguay round. Trata-se do primeiro esforço para estabelecer uma regulamentação internacional para o comércio de serviços e inclui um quadro de negociação e compromisso relativo aos serviços financeiros, que se dividem, para efeitos da sua aplicação e execução, em banca e seguros. Voltaremos a este tema mais adiante.

Entretanto, continuando a nossa breve história da globalização através da liberalização do comércio mundial, é tempo de falarmos um pouco sobre a OMC, Organização Mundial de Comércio (WTO – World Trade Organization). Fundada em 1995, a OMC sucedeu ao GATT 1947 na regulamentação do comércio mundial. O seu objectivo principal é o de assegurar que o comércio mundial flui de uma forma livre, justa e pevisivel. Para tal, a OMC está dotada de um conjunto de competências que incluem a administração de acordos comerciais, a hospedagem de negociações comerciais, um sistema de resolução de conflitos, a análise da politicas comerciais dos estados membros, a assistência aos países em vias de desenvolvimento, através de programas de assistência técnica e de formação, bem como a cooperação com outras organizações internacionais.

O principal instrumento de regulamentação do comércio mundial de mercadorias é hoje o GATT 1994, ou seja, uma versão revista, actualizada e aumentada do GATT original de 1947. O mesmo papel é desempenhado pelo GATS no que respeita ao comércio de serviços.

2.2 A liberalização dos serviços

É pacificamente aceite que os serviços desempenham um papel fundamental na economia moderna. Os sectores dos transportes, das telecomunicações, da banca e dos seguros são essenciais para a performance da economia e, assim sendo, é crucial que neles se manifeste também, ou até mesmo principalmente, a principal consequência da liberalização: a livre concorrência.

Liberalização de serviços significa desenvolvimento: o acesso a melhores serviços auxilia os exportadores dos países em vias de desenvolvimento a exponenciar as suas vantagens competitivas, tal como significa também vantagens para os consumidores, principalmente nos países desenvolvidos, beneficiando por isso o conjunto da

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economia. Acresce ainda que a liberalização dos serviços, principalmente no sector das telecomunicações é um factor importante de inovação tecnológica.

A liberalização do comércio dos serviços é o objectivo do GATS que foi aprovado em 1993. Este acordo segue pelo essencial os mesmos principios fundamentais do GATT: cláusula da nação mais favorecida, tratamento nacional e transparência. Em termos estruturais o GATS abrange vários sectores de serviços: profissionais, distribuição, transportes, telecomunicações, financeiros, transporte aéreo, transporte marítimo, etc. Cada um destes sectores é objecto de acordos de liberalização especificos.

Para cada um dos sectores de serviços a liberalizar o GATS prevê quatro formas de entrega ou prestação do serviço: “cross-border supply”, ou seja, o serviço é prestado do território de um estado para o território de outro, “foreign purchase”, ou seja, o serviço é adquirido num estado em benefício de um residente noutro estado, “commercial presence”, ou seja, estabelecimento de escritório de representação sob qualquer forma e “movement of natural persons”, ou seja, através da deslocação de pessoas singulares para o território de outro estado.

A metodologia prevista no GATS para a liberalização determina que cada estado produza um calendário especifico para cada um dos sectores e cada uma das formas de prestação de serviços previstos no acordo. Cada estado deverá, além disso, incluir informação para cada calendário de quais as excepções à cláusula da nação mais favorecida e ao princípio do tratamento nacional que pretende manter.

2.3 A sociedade da informação

As tecnologias de informação e comunicação conheceram um desenvolvimento e uma evolução ilimitada nos últimos anos. Esta realidade, de tão próxima e integrada no nosso quotidiano, é frequentes vezes esquecida, negligenciada e até negada. Hoje em dia é fácil esquecermos como eram as nossas práticas e metodologias profissionais e laborais há apenas 20 anos atrás: não havia telefones móveis, os computadores pessoais, para aqueles previlegiados que lhes tinham acesso pouco mais eram que máquinas de escrever que permitiam corrigir os erros de ortografia sem inutilizar toda uma página ou documento e tinha acabado de surgir uma tecnologia que permitia enviar um documento escrito em segundos ou minutos a que se chamava facsimile.

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Este equipamento exótico era a evolução do telégrafo pessoal que se chamava telex. E assim se vivia e trabalhava nos anos oitenta do século passado, curiosamente apenas à distância de 20 anos. A comunicação oral efectuava-se quer pessoalmente quer utilizando o telefone, essa na altura quase centenária invenção, marcando o número do destinatário naqueles divertidos marcadores rotativos e utilizando um auscultador que, nos dias de hoje mais nos parece uma arma de arremesso, simbolo de anti-modernidade. E claro, nas empresas e escritórios existia sempre aquela simpática senhora do PBX que parecia viver a sua vida num emaranhado de fios, inserindo fichas e retirando fichas, qual policia sinaleiro das nossas conversas.

Em vinte anos tudo mudou. Os telefones evoluiram e passamos a falar em rede fixa e rede móvel. A simpática senhora do PBX substituiu a grande bancada cheia de fios e fichas por um pequeno equipamento terminal quando não foi ela própria substituída por uma caixa albergando um circuito impresso. E quando isso não aconteceu, a função da senhora do PBX passou a ser principalmente de relações públicas, a voz, único símbolo conhecido da empresa ainda não o rosto da empresa. Excepção feita para a Marta, claro. A comunicação escrita seguia um percurso mais sinuoso. Se era urgente enviava-se uma primeira comunicação por telegrama ou telex. Rascunhavamos uma carta, normalmente manuscrita, que depois era batida à máquina pela secretária ou dactilógrafa, quando essas profissionais existiam, ou lutavamos nós próprios com aquele instrumento de tortura medieval em azert ou hcesar. E claro, faziamos isso com todo o cuidado, de forma a que as diversas vias de papel lá inserido, entreamadas com as velhas folhas de papel quimico não se desalinhassem inutilizando o esforço hercúleo da escrita. Depois, era tempo de rever o texto, assinalar os erros, corrigi-los, envelopar, selar e mandar o paquete entregar na estação de correios.

Tão longinquo e arcaico que este processo nos parece hoje. Devo dizer que de todo ele o que mais sinto a falta é do papel quimico, objecto e pretexto para a tradicional praxe de boas vindas aos aprendizes, que eram enviados para a casa de banho com algumas folhas já usadas com o encargo de as lavar, reciclando-as para posterior reutilização. A comunicação oral hoje é feita através de equipamentos ligados a uma rede fixa de cabos ou através de pequenas máquinas, do tamanho de maços de cigarros, os maiores, ou carteiras de fósforos, os mais pequenos, que nos põem em contacto com o mundo,

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onde quer que nos encontremos. E estas pequenas maravilhas da técnica permitem ainda enviar pequenos textos, imagens e até sabem como comunicar com o notebook, aquela peça de equipamento que substituiu o velho livro de notas de capa dura que transportavamos no bolso ou na pasta e onde apontavamos as coisas mais diversas, desde o compromisso para almoçar (sentados à mesa) até à necessidade de passar pelo banco antes das três da tarde de sexta-feira para levantar dinheiro para o fim-de-semana. A tecnologia actual, redes digitais, fibra óptica, ADSL, DSL, RDIS, telefones GSM, UMTS e GPRS e as suas funcionalidades, comunicação de voz, dados, fax, reencaminhamento, voice mail, mail multimédia, email, web, hosting, work, e-business, b2b, b2c, video conferencing, conference call fazem com que tudo o resto nos pareça, até para aqueles que vivenciaram essa experiência, algo que pertence a um museu. Na realidade, pertence ao século passado. Mais precisamente ao milénio passado.

2.4 Globalização na sociedade de informação

Com estas funcionalidades é possivel um sem número de soluções e novas metodologias de trabalho e negócio. Uma empresa pode ter uma equipa a trabalhar num determinado projecto 24 horas por dia sem se preocupar com turnos e trabalho nocturno. Basta que tenha a equipe dispersa em diversos fusos horários. Tal como pode também ter um serviço de helpdesk ou telemarketing de 24 horas. Mais uma vez, basta-lhe dispersar a equipa por diversos fusos horários e programar os necessários reencaminhamentos de chamadas.

Uma empresa pode até parecer que se encontra num determinado local, em Lisboa, por exemplo, e os seus departamentos estarem na realidade espalhados pelo mundo, em escritórios diversos ou até ter os seus funcionários a trabalhar directamente a partir das suas casas. Em última análise, uma empresa com sede em Lisboa pode ter um departamento de suporte técnico online ou telefónico e os seus técnicos calmamente refastelados numa praia tropical, munidos de um telefone móvel, eventualmente com um PC, recebendo chamadas e pedidos através de um número de telefone que os clientes pensam ser (e é na realidade) um número de telefone de Lisboa.

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O que tudo isto significa é que hoje trabalhamos e fazemos negócio sem constrangimentos de tempo ou localização geográfica. E esta realidade tem seguramente implicações empresariais.

Desde logo pode influenciar a escolha para a localização das diversas instalações e departamentos das empresas. Um pequeno escritório num local de prestígio no território onde se encontram os clientes potenciais, para a sede, locais de baixo custo dispersos em diversos territórios ou concentrados no mesmo, noutro ou em outros territórios para os restantes departamentos.

Os factores a considerar para a localização das empresas no futuro próximo serão variados e a decisão será, como sempre foi, tomada após uma análise de custo benefício. A diferença é que o tempo e a distância se desvalorizam como factores a considerar nessa análise, valorizando-se o desempenho e a amplitude da tecnologia aplicada, o know-how dos colaboradores, o marketing de como angariar clientes.

Esta é uma verdade que as empresas industriais aprenderam há já muito tempo, deslocalizando as suas unidades productivas em busca de mão de obra mais económica. Há muito que fica mais barato produzir na China e suportar o transporte das mercadorias para a Europa do que produzir na Europa. A tecnologia permite agora que uma parte da produção no sector terciário siga esta mesma filosofia, quer à escala mundial quer à escala regional ou até mesmo nacional.

O custo do trabalho não é o unico factor a considerar nesta equação. As leis laborais poderão ser outro, tal como a tributação, quer sobre o rendimento individual quer sobre o rendimento da empresa, o é seguramente. E, naturalmente, também o custo do imobiliário e a sua tributação será um factor a considerar, tal como será também o custo das comunicações.

Todas estas questões e possibilidades de transformação dos métodos de trabalho têm origem em dois conceitos relativamente novos: o e-commerce e o e-business. O primeiro é entendido pela OMC como “electronic commerce is understood to mean the production, distribution, marketing, sale or delivery of goods and services by electronic means.”1, enquanto o segundo pode ser definido como um método de estruturação empresarial em que o elemento de ligação conector entre os funcionários da empresa

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deixa de ser o espaço fisíco passando a ser um espaço virtual. Este conceito de e_business pode ser mais ou menos abrangente e incluir ou não áreas de actuação para o exterior da empresa: esta pode estruturar-se de uma forma que internamente se caracterize pelo conceito de e_business, aparecendo aos seus clientes segundo as metodologias tradicionais, pode optar por fazê-lo de uma forma electrónica, utilizando as tecnologias de informação como veículo de marketing e até de distribuição e pode ainda fazê-lo de uma forma mista. Quando a componente da exteriorização está presente reune-se na mesma empresa o conceito de e_business e o conceito de e_commerce. Levando ao extremo a reunião destes conceitos, é concebivel a existência de uma empresa completamente virtual: uma empresa com sede nominal num endereço postal tradicional numa empresa prestadora desse tipo de serviços, com um servidor de comunicações instalado num prestador de serviços de Internet, em que os seus colaboradores trabalham a partir de suas casas ou em espaços partilhados pertencentes a terceiros, com equipamentos próprios ou fornecidos pela empresa, realizando o seu trabalho por via electrónica e, finalmente, relacionando-se com os seus clientes, quer no marketing e vendas quer na distribuição através ainda da via electrónica.

Esta situação extrema acrescenta aos dois conceitos anteriores um terceiro: o e_work. A única limitação que surge neste cenário é a natureza dos produtos produzidos e fornecidos pela empresa: têm que ser susceptíveis de entrega por via digital, ou seja, têm que ser informação. Este é o caso clássico das empresas produtoras de software mas não será seguramente o único. Em termos hipotéticos, também as empresas financeiras, ou pelo menos algumas delas, dependendo da sua actividade, se poderão estruturar desta forma.

Alargando um pouco esta visão, no sentido de admitir algum relacionamento corpóreo, as empresas de trading e brokering são outro exemplo a incluir neste conceito abrangente de “empresa virtual”. Em todo o caso, esta realidade é reconhecida pela própria Comunidade Europeia quando inscreve no preâmbulo da 2002/65 que “Devido à sua natureza desmaterializada, os serviços financeiros prestam-se particularmente à venda à distância”.

Estas alterações terão implicações jurídicas de fundo. Desde logo, haverá consequências ao nível da lei aplicável aos contratos celebrados pelas empresas, quer com os seus fornecedores e funcionários quer com os seus clientes, à forma e substância dos

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contratos, à fiscalidade, à garantia patrimonial, à protecção dos consumidores, enfim, todo um mundo novo que carece de regulamentação jurídica.

3. Globalização e indústria seguradora

Como vimos, ao criar um mundo novo, as tecnologias de informação e comunicação permitem a introdução de conceitos empresariais, métodos de comercialização, trabalho e distribuição radicalmente novos. Este mundo novo é o instrumento por excelência da globalização e, naturalmente, os serviços financeiros deverão estar, e estarão concerteza na linha da frente. Desde logo como utilizadores da ferramenta, mas principalmente como seus habitantes.

A eficiência dos serviços financeiros é vital para o funcionamento da economia. É através deles que o capital circula e que surgem os meios técnicos necessários para o funcionamento do comércio, nacional e internacional. Este segundo aspecto, de fornecimento dos meios técnicos necessários para o funcionamento do comércio internacional é determinante na necessidade que se fez sentir nas últimas décadas no sentido da liberalização dos serviços financeiros e da integração internacional dos operadores financeiros. Esta é uma verdade insofismável também, ou talvez ainda mais, na Sociedade da Informação.

Na economia e sociedade tradicionais a globalização requer a liberalização. Este não é um objectivo fácil de atingir e a prova disso é a dificuldade verificada na negociação de acordos internacionais tendo em vista a sua realização. É um esforço que tem já mais de 50 anos e estamos ainda longe da plena liberalização ao nivel das trocas de mercadorias. No que respeita aos serviços, apesar do enormissimo avanço que foi o GATS, com os seus protocolos anexos e acordos subsequentes, estamos ainda numa fase embrionária, o que nos leva a pensar que provavelmente nem sequer daqui a 50 anos teremos a liberalização dos serviços realizada a nível mundial. Pior, os serviços financeiros, que deveriam estar na linha da frente pelas necessidades da economia global, serão talvez dos últimos a atingir essa meta dada a atenção que genericamente os estados lhes dedicam em nome da confiança do utente no sistema financeiro: regimes de acesso, condições de exercício, supervisão prudencial, defesa do consumidor, transparência, concorrência, enfim, toda uma panóplia legislativa que semeia abundantemente obstáculos à liberalização.

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A tecnologia permite ultrapassar os limites existentes à globalização, principalmente no que respeita aos serviços em geral e aos financeiros em particular. Não é possivel controlar a localização dos diferentes domínios da Internet. Não é possível a um estado impedir um residente no seu território de celebrar um contrato de seguro através da página de uma seguradora que disponibilize esse serviço online. O mais que esse estado poderá fazer, em última análise, será controlar e porventura impedir as transferências de capitais necessárias para a concretização do contrato. Mas esse obstáculo, que porventura será inultrapassável em alguns casos, não será um problema em muitas outras situações. E assim, queiram os governos ou não, a globalização dos serviços que lidam com informação depende apenas da vontade dos prestadores e dos seus clientes. O que é um dado novo na história: na economia tradicional, mesmo quando em democracia, o maior ou menor proteccionismo era uma opção colectiva. Na economia deste século, o maior ou menor proteccionismo é uma escolha individual.

Esta realidade é claramente admitida pela Comissão Europeia: “As novas tecnologias estão já a afectar profundamente o sector dos serviços financeiros. Estão a revolucionar o funcionamento e o acesso aos mercados das grandes operações, estão a transformar a prestação dos serviços transfronteiriços e actuam como um catalisador para a criação de novos serviços financeiros e novos modelos empresariais, estimulando frequentemente a criação de novas alianças que envolvem prestadores de serviços de telecomunicações e de tecnologia da informação, o sector retalhista e prestadores de serviços financeiros.”2

Por isso mesmo a Comissão Europeia tem preconizado a realização de um plano que inclui desenvolvimento legislativo em diversas vertentes: protecção dos consumidores, pagamentos e vias de recurso e cooperação em termos de supervisão.

4. E-insurance

Mas entretanto, vamos vivendo em Portugal e na União Europeia e é com esses ordenamentos jurídicos que vamos tendo que nos haver. A base da intervenção legislativa comunitária nesta matéria é a Directiva quadro do comércio electrónico, cuja análise apresentei na última comunicação que dirigi a este Congresso. Relembremos, no entanto, os seus aspectos ou caraterísticas fundamentais: trata-se de uma Directiva

2 Comunicação da Comissão ao Conselho e ao Parlamento Europeu “Comércio Electrónico e

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quadro aplicável horizontalmente em todos os sectores da sociedade da informação; tem em vista produzir efeitos apenas relativamente aos prestadores de serviços estabelecido nalgum estado-membro; não afecta nem prejudica o nível de protecção dos consumidores criado nos termos gerais de Direito Comunitário; deverá ser completada por directivas sectoriais; e, finalmente, o ponto chave para o seu entendimento é a chamada clásula relativa ao mercado interno, que estabelece o controlo do estado-membro de origem.

Mas uma vez que de globalização temos vindo a falar, é momento de começar a ver em concreto o que é que o legislador comunitário tem vindo a fazer e que pode ter implicações no tema que aqui nos traz. O mesmo é dizer, vamos averiguar o que se passa em termos de Direito Internacional Privado, pois que as tecnologias de informação são um instrumento por excelência para a internacionalização dos contratos e da actividade e, depois disso, vamos também dar uma vista de olhos pelas realidades possiveis de constatar relativamente aos contratos celebrados por via electrónica.

4.1 Competência jurisdicional

As novidades, no primeiro aspecto têm que ver com o Regulamento (CE) N.o 44/2001 do Conselho de 22 de Dezembro de 2000, relativo à competência judiciària, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial. Como é sabido, este regulamento, também conhecido como regulamento de Bruxelas substituiu a Convenção de Bruxelas nestas matérias e é por ele que se determina a competência judiciária nos Estados-membros da Comunidade quando exista, no litigio, um elemento de estraneidade dentro da União. Saliente-se, no entanto, que isso não impede a permanência em vigor da Convenção de Bruxelas. Com efeito, nem todos os Estados-membros da Comunidade aceitaram vincular-se ao Regulamento 44. A Dinamarca optou por se manter vinculada à Convenção. Assim, entre todos os outros Estados-membros vigora o regulamento e nas relações entre cada um deles e a Dinamarca vigora a Convenção, tal como nas matérias excluídas do âmbito de aplicação do regulamento esta se continua a aplicar e, de igual modo, em nada fica prejudicada a Convenção de Lugano.

Os seguros são objecto de uma secção especial do Regulamento, que prossegue, nesta matéria o objectivo confesso de proteger a parte mais fraca: “No respeitante aos contratos de seguro, de consumo e de trabalho, é conveniente proteger a parte mais fraca

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por meio de regras de competência mais favoráveis aos seus interesses do que a regra geral.” – considerando 13.

A secção em causa é a terceira do capítulo I, artigo 8º e seguintes. O princípio geral estabelecido pelo regulamento no que respeita à competência territorial é que quem deve deslocar-se, se tal for necessário, é a seguradora. A consequência é que a regra geral da competência jurisdicional é a do domicilio do tomador, segurado, beneficiário, do local onde ocorreu o facto danoso, da localização do imóvel objecto do contrato de seguro ou ainda do lesado. As regras do regulamento nesta matéria têm natureza quase imperativa: apenas são admitidas derrogações, por acordo das partes, em momento posterior ao surgimento do litigio, ou seja, não é admissivel a convenção de foro ab initio.

4.2 Os serviços financeiros à distância

A regulamentação comunitário do comércio electrónico teve o seu início há já algum tempo. Sobre esta matéria tive a oportunidade de apresentar uma comunicação na primeira edição deste Congresso e incluí nesse momento referências e alguns comentários ao que estava já legislado: a directiva comércio electrónico, a primeira directiva da comercialização dos serviços financeiros à distância, a directiva assinatura electrónica, a directiva sobre a factura electrónica. Não voltarei, por agora, à análise desses temas, remetendo para a comunicação então apresentada e que consta da respectiva acta.

Importa agora referir a segunda directiva sobre a comercialização de serviços financeiros à distância, a Directiva 2002/65/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Setembro de 2002, relativa à comercialização à distância de serviços financeiros prestados a consumidores e que altera as Directivas 90/619/CEE do Conselho, 97/7/CE e 98/27/CE.

Esta Directiva, cujo prazo de transposição termina em 2004, dedica especial atenção à protecção do consumidor. Inclui para esse efeito, um conjunto de definições que apresentam um interesse que ultrapassa, no entanto, essa preocupação.

É o caso do conceito de Contrato à distância, definido como “qualquer contrato relativo a serviços financeiros, celebrado entre um prestador e um consumidor, ao abrigo de um sistema de venda ou prestação de serviços à distância organizado pelo prestador que,

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para esse contrato, utilize exclusivamente um ou mais meios de comunicação à distância, até ao momento da celebração do contrato, inclusive”; de Serviço financeiro como “qualquer serviço bancário, de crédito, de seguros, de pensão individual, de investimento ou de pagamento”; a definição de prestador de serviço em moldes tais que inclui também entidades de natureza pública, e a definição de meio de comunicação à distância como “qualquer meio que possa ser utilizado, sem a presença física e simultânea do prestador e do consumidor, para a comercialização à distância de um serviço entre essas partes”.

Uma das definições incluídas é a de suporte duradouro: “qualquer instrumento que permita ao consumidor armazenar informações que lhe sejam pessoalmente dirigidas, de um modo que, no futuro, lhe permita um acesso fácil às mesmas durante um período de tempo adequado aos fins a que as informações se destinam e que permita a reprodução inalterada das informações armazenadas.”

Este conceito de suporte duradouro reveste uma importância sifnificativa, principalmente quando relacionado com algumas disposições da Directiva: parece intuir-se que este suporte duradouro virá, num prazo mais ou menos curto, a substituir a forma escrita exigida por algumas jurisdições para a celebração de alguns contratos de prestação de serviços financeiros, com todas as consequências que daí advêm.

5. Conclusões

Estamos numa fase de grande mudança ao nível dos métodos de trabalho e de fazer negócio. Para as empresas e para os consumidores é um momento de grandes oportunidades e para o legislador um momento de grandes desafios. Talvez este último seja o aspecto mais decisivo de todo este processo. A habilidade e discernimento do legislador estão, neste momento, à prova: será ele capaz de legislar adequando-se à realidade ou tentará mais uma vez alterar a realidade por decreto?

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Anexo I

REGULAMENTO (CE) N.o 44/2001 DO CONSELHO de 22 de Dezembro de 2000 relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial

O CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA,

Tendo em conta o Tratado que institui a Comunidade Europeia

e, nomeadamente, a alínea c) do seu artigo 61º e o n. 1 do seu artigo 67º, Tendo em conta a proposta da Comissão,

Tendo em conta o parecer do Parlamento Europeu,

Tendo em conta o parecer do Comité Económico e Social, Considerando o seguinte:

(1) A Comunidade atribuiu-se como objectivo a manutenção o e o desenvolvimento de um espaço de liberdade, de segurança e de justiça em que seja assegurada a livre circulação das pessoas. Para criar progressivamente tal espaço, a Comunidade deve adoptar, entre outras, as medidas no domínio da cooperação judiciária em matéria civil que sejam necessárias para o bom funcionamento do mercado interno.

(2) Certas disparidades das regras nacionais em matéria de competência judicial e de reconhecimento de decisões judiciais dificultam o bom funcionamento do mercado interno. São indispensáveis disposições que permitam unificar as regras de conflito de jurisdição em matéria civil e comercial, bem como simplificar as formalidades com vista ao reconhecimento e à execução rápidos e simples das decisões proferidas nos Estados-Membros abrangidos pelo presente regulamento.

(3) Esta matéria insere-se no domínio da cooperação judiciária em matéria civil, nos termos do artigo 65º do Tratado.

(4) Em conformidade com os princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade enunciados no artigo 5º do Tratado, os fins do presente regulamento não podem ser suficientemente alcançados pelos Estados-Membros, e podem ser melhor conseguidos pela Comunidade. O presente regulamento limita-se ao mínimo necessário para atingir os seus fins e não excede o que é indispensável para esse efeito.

(5) Os Estados-Membros celebraram, em 27 de Setembro de 1968, no âmbito do quarto travessão do artigo 293º do Tratado, a Convenção de Bruxelas relativa à competência judiciária e à execução de decisões em matéria civil e comercial (a seguir designada por “Convenção de Bruxelas”), que foi alterada pelas convenções de adesão dos novos Estados-Membros a esta convenção. Em 16 de Setembro de 1988, os Estados-Membros e os Estados da EFTA celebraram a Convenção de Lugano relativa à competência judiciária e à execução de decisões em matéria civil e comercial, que é paralela à Convenção de Bruxelas de 1968. Estas convenções foram objecto de trabalhos de revisão, tendo o Conselho aprovado o conteúdo do texto revisto. Há que assegurar a continuidade dos resultados obtidos no quadro dessa revisão.

(6) Para alcançar o objectivo da livre circulação das decisõesem matéria civil e comercial, é necessário e adequado que as regras relativas à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução das decisões sejam determinadas por um instrumento jurídico comunitário vinculativo e directamente aplicável.

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(7) O âmbito de aplicação material do presente regulamento deverá incluir o essencial da matéria civil e comercial com excepção de certas matérias bem definidas.

(8) Os litígios abrangidos pelo presente regulamento devem ter conexão com o território dos Estados-Membros que este vincula. Devem, portanto, aplicar-se, em princípio, as regras comuns em matéria de competência sempre que o requerido esteja domiciliado num desses Estados-Membros.

(9) Os requeridos não domiciliados num Estado-Membroestão de uma forma geral sujeitos às regras nacionais de jurisdição aplicáveis no território do Estado do órgão jurisdicional que conhece do processo e os requeridos domiciliados num Estado-Membro não vinculado pelo presente regulamento devem continuar sujeitos à Convenção de Bruxelas.

(10) Para efeitos da livre circulação das decisões judiciais, as decisões proferidas num Estado-Membro vinculado pelo presente regulamento devem ser reconhecidas e executadas num outro Estado-Membro vinculado pelo presente regulamento, mesmo se o devedor condenado estiver domiciliado num Estado terceiro.

(11) As regras de competência devem apresentar um elevado grau de certeza jurídica e devem articular-se em torno do princípio de que em geral a competência tem por base o domicílio do requerido e que tal competência deve estar sempre disponível, excepto em alguns casos bem determinados em que a matéria em litígio ou a autonomia das partes justificam outro critério de conexão. No respeitante às pessoas colectivas, o domicílio deve ser definido de forma autónoma, de modo a aumentar a transparência das regras comuns e evitar os conflitos de jurisdição.

(12) O foro do domicílio do requerido deve ser completado pelos foros alternativos permitidos em razão do vínculo estreito entre a jurisdição e o litígio ou com vista a facilitar uma boa administração da justiça.

(13) No respeitante aos contratos de seguro, de consumo e de trabalho, é conveniente proteger a parte mais fraca por meio de regras de competência mais favoráveis aos seus interesses do que a regra geral.

(14) A autonomia das partes num contrato que não seja de seguro, de consumo ou de trabalho quanto à escolha do tribunal competente, no caso de apenas ser permitida uma autonomia mais limitada, deve ser respeitada sob reserva das competências exclusivas definidas pelo presente regulamento.

(15) O funcionamento harmonioso da justiça a nível comunitário obriga a minimizar a possibilidade de instaurar processos concorrentes e a evitar que sejam proferidas decisões inconciliáveis em dois Estados-Membros competentes. Importa prever um mecanismo claro e eficaz para resolver os casos de litispendência e de conexão e para obviar aos problemas resultantes das divergências nacionais quanto à data a partir da qual um processo é considerado pendente. Para efeitos do presente regulamento, é conveniente fixar esta data de forma autónoma.

(16) A confiança recíproca na administração da justiça no seio da Comunidade justifica que as decisões judiciais proferidas num Estado-Membro sejam automaticamente reconhecidas, sem necessidade de recorrer a qualquer procedimento, excepto em caso de impugnação.

(17) A mesma confiança recíproca implica a eficácia e a rapidez do procedimento para tornar executória num Estado-Membro uma decisão proferida noutro Estado-Membro. Para este fim, a declaração de executoriedade de uma decisão deve ser dada de forma

(17)

quase automática, após um simples controlo formal dos documentos fornecidos, sem a possibilidade de o tribunal invocar por sua própria iniciativa qualquer dos fundamentos previstos pelo presente regulamento para uma decisão não ser executada.

(18) O respeito pelos direitos de defesa impõe, todavia, que o requerido possa interpor recurso, examinado de forma contraditória, contra a declaração de executoriedade, se entender que é aplicável qualquer fundamento para a não execução. Também deve ser dada ao requerente a possibilidade de recorrer, se lhe for recusada a declaração o de executoriedade.

(19) Para assegurar a continuidade entre a Convenção de Bruxelas e o presente regulamento, há que prever disposições transitórias. A mesma continuidade deve ser assegurada no que diz respeito à interpretação das disposições da Convenção de Bruxelas pelo Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias e o protocolo de 1971 também deve continuar a aplicar-se aos processos já pendentes à data em que o regulamento entra em vigor.

(20) Nos termos do artigo 3º do Protocolo sobre a posição do Reino Unido e da Irlanda, anexo ao Tratado da União Europeia e ao Tratado que institui a Comunidade Europeia, estes Estados declararam que desejam participar na aprovação e aplicação do presente regulamento.

(21) Em conformidade com os artigos 1º e 2º do Protocolo sobre a posição da Dinamarca, anexo ao Tratado da União Europeia e ao Tratado que institui a Comunidade Europeia, este Estado não participa na aprovação do presente regulamento e, por conseguinte, não está vinculado pelo mesmo nem sujeito à sua aplicação.

(22) Dado que a Convenção de Bruxelas se mantém em vigor nas relações entre a Dinamarca e os Estados-Membros vinculados pelo presente regulamento, esta convenção e o protocolo de 1971 continuarão a ser aplicáveis entre a Dinamarca e os Estados-Membros vinculados pelo presente regulamento.

(23) A Convenção de Bruxelas deverá também continuar a aplicar-se aos territórios dos Estados-Membros que são abrangidos pela aplicação territorial da convenção e que ficam excluídos do presente regulamento por força do artigo 299º do Tratado.

(24) A mesma preocupação de coerência determina que o presente regulamento não afecte as regras sobre a competência e o reconhecimento de decisões definidas em instrumentos comunitários específicos.

(25) O respeito dos compromissos internacionais subscritos pelos Estados-Membros implica que o presente regulamento não afecte as convenções em que são parte os Estados-Membros e que incidam sobre matérias especiais.

(26) É conveniente flexibilizar as regras de princípio previstas pelo presente regulamento para ter em conta as particularidades processuais de certos Estados-Membros. Devem, por conseguinte, ser introduzidas no presente regulamento certas disposições do protocolo anexo à Convenção de Bruxelas.

(27) A fim de assegurar uma transição harmoniosa em certos domínios que são objecto de disposições especiais no protocolo anexo à Convenção de Bruxelas, o presente regulamento prevê, por um período transitório, disposições que atendem à situação específica em certos Estados-Membros.

(18)

(28) O mais tardar cinco anos após a entrada em vigor do presente regulamento, a Comissão apresentará um relatório sobre a sua aplicação e, se necessário, fará eventualmente propostas de adaptação.

(29) A Comissão deverá modificar os anexos I a IV relativos às regras de competência nacionais, aos tribunais ou autoridades competentes e às vias de recurso com base nas alterações transmitidas pelo Estado-Membro em causa. As modificações aos anexos V e VI devem ser aprovadas de acordo com o disposto na Decisão 1999/468/CE do Conselho, de 28 de Junho de 1999, que fixa as regras de exercício das competências de execução atribuídas à Comissão,

ADOPTOU O PRESENTE REGULAMENTO: CAPÍTULO I

ÂMBITO DE APLICAÇÃO Artigo 1º

1. O presente regulamento aplica-se em matéria civil e comercial e independentemente da natureza da jurisdição. O presente regulamento não abrange, nomeadamente, as matérias fiscais, aduaneiras e administrativas.

2. São excluídos da sua aplicação:

a) O estado e a capacidade das pessoas singulares, os regimes matrimoniais, os testamentos e as sucessões;

b) As falências, as concordatas e os processos análogos; c) A segurança social;

d) A arbitragem.

3. Para efeitos do presente regulamento, entende-se por “Estado-Membro”, qualquer Estado-Membro excepto a Dinamarca.

CAPÍTULO II COMPETÊNCIA

S e c ç ã o 1 Disposições gerais

Artigo 2º

1. Sem prejuízo do disposto no presente regulamento, as pessoas domiciliadas no território de um Estado-Membro devem ser demandadas, independentemente da sua nacionalidade, perante os tribunais desse Estado.

2. As pessoas que não possuam a nacionalidade do Estado-Membro em que estão domiciliadas ficam sujeitas nesse Estado-Membro às regras de competência aplicáveis aos nacionais.

Artigo 3º

1. As pessoas domiciliadas no território de um Estado-Membro s-podem ser demandadas perante os tribunais de um outro Estado-Membro por força das regras enunciadas nas secções 2 a 7 do presente capítulo.

2. Contra elas não podem ser invocadas, nomeadamente, as regras de competência nacionais constantes do anexo I.

(19)

1. Se o requerido não tiver domicílio no território de um Estado-Membro, a competência será regulada em cada Estado-Membro pela lei desse Estado-Membro, sem prejuízo da aplicação o do disposto nos artigos 22º e 23º

2. Qualquer pessoa, independentemente da sua nacionalidade, com domicílio no território de um Estado-Membro, pode, tal como os nacionais, invocar contra esse requerido as regras de competência que estejam em vigor nesse Estado-Membro e, nomeadamente, as previstas no anexo I.

S e c ç ã o 2 Competências especiais

Artigo 5º

Uma pessoa com domicílio no território de um Estado-Membro pode ser demandada noutro Estado-Membro:

1. a) Em matéria contratual, perante o tribunal do lugar onde foi ou deva ser cumprida a obrigação em questão;

b) Para efeitos da presente disposição e salvo convenção em contrário, o lugar de cumprimento da obrigação em questão será:

- no caso da venda de bens, o lugar num Estado-Membro onde, nos termos do contrato, os bens foram ou devam ser entregues,

- no caso da prestação de serviços, o lugar num Estado-Membro onde, nos termos do contrato, os serviços foram ou devam ser prestados;

c) Se não se aplicar a alínea b), será aplicável a alínea a);

2. Em matéria de obrigação alimentar, perante o tribunal do lugar em que o credor de alimentos tem o seu domicílio ou a sua residência habitual ou, tratando-se de pedido acessório de acção sobre o estado de pessoas, perante o tribunal competente segundo a lei do foro, salvo se esta competência for unicamente fundada na nacionalidade de uma das partes;

3. Em matéria extracontratual, perante o tribunal do lugar onde ocorreu ou poderá ocorrer o facto danoso;

4. Se se tratar de acção de indemnização ou de acção de restituição o fundadas numa infracção, perante o tribunal onde foi intentada a acção pública, na medida em que, de acordo com a sua lei, esse tribunal possa conhecer da acção cível;

5. Se se tratar de um litígio relativo à exploração de uma sucursal, de uma agência ou de qualquer outro estabelecimento, perante o tribunal do lugar da sua situação;

6. Na qualidade de fundador, de “trustee” ou de beneficiário de um “trust” constituído, quer nos termos da lei quer por escrito ou por acordo verbal confirmado por escrito, perante os tribunais do Estado-Membro em cujo território o “trust” tem o seu domicílio; 7. Se se tratar de um litígio relativo a reclamação sobre remuneração o devida por assistência ou salvamento de que tenha beneficiado uma carga ou um frete, perante o tribunal em cuja jurisdição essa carga ou o respectivo frete:

a) Tenha sido arrestado para garantir esse pagamento; ou

b) Poderia ter sido arrestado, para esse efeito, se não tivesse sido prestada caução ou outra garantia, a presente disposição s-se aplica quando se alegue que o requerido tem

(20)

direito sobre a carga ou sobre o frete ou que tinha tal direito no momento daquela assistência ou daquele salvamento.

Artigo 6º

Uma pessoa com domicílio no território de um Estado-Membro pode também ser demandada:

1. Se houver vários requeridos, perante o tribunal do domicílio de qualquer um deles, desde que os pedidos estejam ligados entre si por um nexo tão estreito que haja interesse em que sejam instruídos e julgados simultaneamente para evitar soluções que poderiam ser inconciliáveis se as causas fossem julgadas separadamente;

2. Se se tratar de chamamento de um garante à acção ou de qualquer incidente de intervenção de terceiros, perante o tribunal onde foi instaurada a acção principal, salvo se esta tiver sido proposta apenas com o intuito de subtrair o terceiro à jurisdição do tribunal que seria competente nesse caso;

3. Se se tratar de um pedido reconvencional que derive do contrato ou do facto em que se fundamenta a acção principal, perante o tribunal onde esta última foi instaurada; 4. Em matéria contratual, se a acção puder ser apensada a uma acção em matéria de direitos reais sobre imóveis dirigida contra o mesmo requerido, perante o tribunal do Estado-Membro em cujo território está situado o imóvel.

Artigo 7º

Sempre que, por força do presente regulamento, um tribunal de um Estado-Membro for competente para conhecer das acções de responsabilidade emergente da utilização ou da exploração de um navio, esse tribunal, ou qualquer outro que, segundo a lei interna do mesmo Estado-Membro, se lhe substitua, será também competente para conhecer dos pedidos relativos à limitação daquela responsabilidade.

S e c ç ã o 3

Competência em matéria de seguros Artigo 8º

Em matéria de seguros, a competência é determinada pela presente secção, sem prejuízo do disposto no artigo 4º e no ponto 5 do artigo 5º

Artigo 9º

1. O segurador domiciliado no território de um Estado-Membro pode ser demandado: a) Perante os tribunais do Estado-Membro em que tiver domicílio; ou

b) Noutro Estado-Membro, em caso de acções intentadas pelo tomador de seguro, o segurado ou um beneficiário, perante o tribunal do lugar em que o requerente tiver o seu domicílio; ou

c) Tratando-se de um co-segurador, perante o tribunal de um Estado-Membro onde tiver sido instaurada acção contra o segurador principal.

2. O segurador que, não tendo domicílio no território de um Estado-Membro, possua sucursal, agência ou qualquer outro estabelecimento num Estado-Membro, será considerado, quanto aos litígios relativos à exploração daqueles, como tendo domicílio no território desse Estado-Membro.

Artigo 10º

O segurador pode também ser demandado perante o tribunal do lugar onde o facto danoso ocorreu quando se trate de um seguro de responsabilidade civil ou de um seguro

(21)

que tenha por objecto bens imóveis. Aplica-se a mesma regra quando se trata de um seguro que incida simultaneamente sobre bens imóveis e móveis cobertos pela mesma apólice e atingidos pelo mesmo sinistro.

Artigo 11º

1. Em matéria de seguros de responsabilidade civil, o segurador pode também ser chamado perante o tribunal onde for proposta a acção do lesado contra o segurado, desde que a lei desse tribunal assim o permita.

2. O disposto nos artigos 8º, 9º e 10º aplica-se no caso de acção intentada pelo lesado directamente contra o segurador, sempre que tal acção directa seja possível.

3. Se o direito aplicável a essa acção directa previr o incidente do chamamento do tomador do seguro ou do segurado, o mesmo tribunal será igualmente competente quanto a eles.

Artigo 12º

1. Sem prejuízo do disposto no n. 3 do artigo 11º, o segurador só pode intentar uma acção perante os tribunais do Estado-Membro em cujo território estiver domiciliado o requerido, quer este seja tomador do seguro, segurado ou beneficiário.

2. O disposto na presente secção não prejudica o direito de formular um pedido reconvencional perante o tribunal em que tiver sido instaurada a acção principal nos termos da presente secção.

Artigo 13º

As partes só podem convencionar derrogações ao disposto na presente secção desde que tais convenções:

1. Sejam posteriores ao surgimento do litígio; ou

2. Permitam ao tomador do seguro, ao segurado ou ao beneficiário recorrer a tribunais que não sejam os indicados na presente secção; ou

3. Sejam concluídas entre um tomador do seguro e um segurador, ambos com domicílio num mesmo Estado-Membro, e tenham por efeito atribuir competência aos tribunais desse Estado, mesmo que o facto danoso ocorra no estrangeiro, salvo se a lei desse Estado não permitir tais convenções; ou

4. Sejam concluídas por um tomador do seguro que não tenha domicílio num Estado-Membro, salvo se se tratar de um seguro obrigatório ou relativo a imóvel sito num Estado-Membro; ou

5. Digam respeito a um contrato de seguro que cubra um ou mais dos riscos enumerados no artigo 14º

Artigo 14º

Os riscos a que se refere o ponto 5 do artigo 13º são os seguintes: 1. Qualquer dano:

a) Em navios de mar, nas instalações ao largo da costa e no alto mar ou em aeronaves, causado por eventos relacionados com a sua utilização para fins comerciais;

b) Nas mercadorias que não sejam bagagens dos passageiros, durante um transporte realizado por aqueles navios ou aeronaves, quer na totalidade quer em combinação com outros meios de transporte;

(22)

2. Qualquer responsabilidade, com excepção da relativa aos danos corporais dos passageiros ou à perda ou aos danos nas suas bagagens:

a) Resultante da utilização ou da exploração dos navios, instalações ou aeronaves, em conformidade com a alínea

a) do ponto 1, desde que, no que respeita a estas últimas, a lei do Estado-Membro de matrícula da aeronave não proíba as cláusulas atributivas de jurisdição no seguro de tais riscos;

b) Pela perda ou pelos danos causados em mercadorias durante um transporte, nos termos da alínea b) do ponto 1;

3. Qualquer perda pecuniária relacionada com a utilização ou a exploração dos navios, instalações ou aeronaves, em conformidade com a alínea a) do ponto 1, nomeadamente a perda do frete ou do benefício do afretamento;

4. Qualquer risco ligado acessoriamente a um dos indicados nos pontos 1 a 3;

5. Independentemente dos pontos 1 a 4 acima, todos os grandes riscos tal como definidos na Directiva 73/239/CEE do Conselho, alterada pelas Directivas 88/357/CEE e 90/618/CEE, com as respectivas alterações em vigor.

S e c ç ã o 4

Competência em matéria de contratos celebrados por consumidores Artigo 15º

1. Em matéria de contrato celebrado por uma pessoa para finalidade que possa ser considerada estranha à sua actividade comercial ou profissional, a seguir denominada o consumidor, a competência será determinada pela presente secção, sem prejuízo do disposto no artigo 4º e no ponto 5 do artigo 5º:

a) Quando se trate de venda, a prestações, de bens móveis corpóreos; ou

b) Quando se trate de empréstimo a prestações ou de outra operação de crédito relacionados com o financiamento da venda de tais bens; ou

c) Em todos os outros casos, quando o contrato tenha sido concluído com uma pessoa que tem actividade comercial ou profissional no Estado-Membro do domicílio do consumidor ou dirige essa actividade, por quaisquer meios, a esse Estado-Membro ou a vários Estados incluindo esse Estado-Membro, e o dito contrato seja abrangido por essa actividade.

2. O co-contratante do consumidor que, não tendo domicílio no território de um Membro, possua sucursal, agência ou qualquer outro estabelecimento num Estado-Membro será considerado, quanto aos litígios relativos à exploração daqueles, como tendo domicílio no território desse Estado.

3. O disposto na presente secção não se aplica ao contrato de transporte, com excepção do contrato de fornecimento de uma combinação de viagem e alojamento por um preço global.

Artigo 16º

1. O consumidor pode intentar uma acção contra a outra parte no contrato, quer perante os tribunais do Estado-Membro em cujo território estiver domiciliada essa parte, quer perante o tribunal do lugar onde o consumidor tiver domicílio.

(23)

2. A outra parte no contrato s-pode intentar uma acção contra o consumidor perante os tribunais do Estado-Membro em cujo território estiver domiciliado o consumidor. 3. O disposto no presente artigo não prejudica o direito de formular um pedido reconvencional perante o tribunal em que tiver sido instaurada a acção principal, nos termos da presente secção.

Artigo 17º

As partes só podem convencionar derrogações ao disposto na presente secção desde que tais convenções:

1. Sejam posteriores ao nascimento do litígio; ou

2. Permitam ao consumidor recorrer a tribunais que não sejam os indicados na presente secção; ou

3. Sejam concluídas entre o consumidor e o seu co-contratante, ambos com domicílio ou residência habitual, no momento da celebração do contrato, num mesmo Estado-Membro, e atribuam competência aos tribunais desse Estado-Estado-Membro, salvo se a lei desse Estado-Membro não permitir tais convenções.

S e c ç ã o 5

Competência em matéria de contratos individuais de trabalho Artigo 18º

1. Em matéria de contrato individual de trabalho, a competência será determinada pela presente secção, sem prejuízo do disposto no artigo 4º e no ponto 5 do artigo 5º

2. Se um trabalhador celebrar um contrato individual de trabalho com uma entidade patronal que não tenha domicílio no território de um Estado-Membro mas tenha uma filial, agência ou outro estabelecimento num dos Estados-Membros, considera- se para efeitos de litígios resultantes do funcionamento dessa filial, agência ou estabelecimento, que a entidade patronal tem o seu domicílio nesse Estado-Membro.

Artigo 19º

Uma entidade patronal que tenha domicílio no território de um Estado-Membro pode ser demandada:

1. Perante os tribunais do Estado-Membro em cujo território tiver domicílio; ou 2. Noutro Estado-Membro:

a) Perante o tribunal do lugar onde o trabalhador efectua habitualmente o seu trabalho ou perante o tribunal do lugar onde efectuou mais recentemente o seu trabalho; ou b) Se o trabalhador não efectua ou não efectuou habitualmente o seu trabalho no mesmo país, perante o tribunal do lugar onde se situa ou se situava o estabelecimento que contratou o trabalhador.

Artigo 20º

1. Uma entidade patronal s-pode intentar uma acção perante os tribunais do Estado-Membro em cujo território o trabalhador tiver domicílio.

2. O disposto na presente secção não prejudica o direito de formular um pedido reconvencional perante o tribunal em que tiver sido instaurada a acção principal, nos termos da presente secção.

(24)

As partes só podem convencionar derrogações ao disposto na presente secção, desde que tais convenções:

1. Sejam posteriores ao surgimento do litígio; ou

2. Permitam ao trabalhador recorrer a tribunais que não sejam os indicados na presente secção.

S e c ç ã o 6 Competências exclusivas

Artigo 22º

Têm competência exclusiva, qualquer que seja o domicílio:

1. Em matéria de direitos reais sobre imóveis e de arrendamento de imóveis, os tribunais do Estado-Membro onde o imóvel se encontre situado. Todavia, em matéria de contratos de arrendamento de imóveis celebrados para uso pessoal temporário por um período máximo de seis meses consecutivos, são igualmente competentes os tribunais do Estado-Membro onde o requerido tiver domicílio, desde que o arrendatário seja uma pessoa singular e o proprietário e o arrendatário tenham domicílio no mesmo Estado-Membro;

2. Em matéria de validade, de nulidade ou de dissolução das sociedades ou outras pessoas colectivas que tenham a sua sede no território de um Estado-Membro, ou de validade ou nulidade das decisões dos seus órgãos, os tribunais desse Estado-Membro. Para determinar essa sede, o tribunal aplicará as regras do seu direito internacional privado;

3. Em matéria de validade de inscrições em registos públicos, os tribunais do Estado-Membro em cujo território esses registos estejam conservados;

4. Em matéria de inscrição ou de validade de patentes, marcas, desenhos e modelos, e outros direitos análogos sujeitos a depósito ou a registo, os tribunais do Estado-Membro em cujo território o depósito ou o registo tiver sido requerido, efectuado ou considerado efectuado nos termos de um instrumento comunitário ou de uma convenção internacional.

Sem prejuízo da competência do Instituto Europeu de Patentes, nos termos da convenção relativa à emissão de patentes europeias, assinada em Munique em 5 de Outubro de 1973, os tribunais de cada Estado-Membro são os únicos competentes, sem consideração de domicílio, em matéria de inscrição ou de validade de uma patente europeia emitida para esse Estado;

5. Em matéria de execução de decisões, os tribunais do Estado-Membro do lugar da execução.

S e c ç ã o 7 Extensão de competência

Artigo 23º

1. Se as partes, das quais pelo menos uma se encontre domiciliada no território de um Membro, tiverem convencionado que um tribunal ou os tribunais de um Estado-Membro têm competência para decidir quaisquer litígios que tenham surgido ou que possam surgir de uma determinada relação jurídica, esse tribunal ou esses tribunais terão competência. Essa competência será exclusiva a menos que as partes convencionem em contrário. Este pacto atributivo de jurisdição deve ser celebrado:

(25)

a) Por escrito ou verbalmente com confirmação escrita; ou

b) Em conformidade com os usos que as partes estabeleceram entre si; ou

c) No comércio internacional, em conformidade com os usos que as partes conheçam ou devam conhecer e que, em tal comércio, sejam amplamente conhecidos e regularmente observados pelas partes em contratos do mesmo tipo, no ramo comercial considerado. 2. Qualquer comunicação por via electrónica que permita um registo duradouro do pacto equivale à forma escrita.

3. Sempre que tal pacto atributivo de jurisdição for celebrado por partes das quais nenhuma tenha domicílio num Estado-Membro, os tribunais dos outros Estados-Membros não podem conhecer do litígio, a menos que o tribunal ou os tribunais escolhidos se tenham declarado incompetentes.

4. O tribunal ou os tribunais de um Estado-Membro, a que o acto constitutivo de um “trust” atribuir competência, têm competência exclusiva para conhecer da acção contra um fundador, um truste ou um beneficiário de um trust, se se tratar de relações entre essas pessoas ou dos seus direitos ou obrigações no âmbito do trust.

5. Os pactos atributivos de jurisdição bem como as estipulações similares de actos constitutivos de trust não produzirão efeitos se forem contrários ao disposto nos artigos 13º, 17º e 21º, ou se os tribunais cuja competência pretendam afastar tiverem competência exclusiva por força do artigo 22º

Artigo 24º

Para além dos casos em que a competência resulte de outras disposições do presente regulamento, é competente o tribunal de um Estado-Membro perante o qual o requerido compareça.

Esta regra não é aplicável se a comparência tiver como único objectivo arguir a incompetência ou se existir outro tribunal com competência exclusiva por força do artigo 22º.

S e c ç ã o 8

Verificação da competência e da admissibilidade Artigo 25º

O juiz de um Estado-Membro, perante o qual tiver sido proposta, a título principal, uma acção relativamente à qual tenha competência exclusiva um tribunal de outro Estado-Membro por força do artigo 22º, declarar-se-á oficiosamente incompetente.

Artigo 26º

1. Quando o requerido domiciliado no território de um Estado-Membro for demandado perante um tribunal de outro Estado-Membro e não compareça, o juiz declarar-se-á oficiosamente incompetente se a sua competência não resultar das disposições do presente regulamento.

2. O juiz deve suspender a inst‚ncia, enquanto não se verificar que a esse requerido foi dada a oportunidade de receber o acto que iniciou a inst‚ncia, ou acto equivalente, em tempo útil para apresentar a sua defesa, ou enquanto não se verificar que para o efeito foram efectuadas todas as diligências.

3. Será aplicável, em vez do disposto no n. 2, o artigo 19º do Regulamento (CE) n. 1348/2000 do Conselho, de 29 de Maio de 2000, relativo à citação e à notificação dos actos judiciais e extrajudiciais em matéria civil e comercial nos Estados-Membros, se o

(26)

acto que iniciou a instância tiver sido transmitido por um Estado-Membro a outro em execução desse regulamento.

4. Nos casos em que não sejam aplicáveis as disposições do Regulamento (CE) n. 1348/2000, será aplicável o artigo 15º da Convenção da Haia, de 15 de Novembro de 1965, relativa à citação e à notificação no estrangeiro dos actos judiciais e extrajudiciais em matérias civil e comercial, se o acto que iniciou a instância tiver sido transmitido em aplicação dessa convenção

S e c ç ã o 9 Litispendência e conexão

Artigo 27.º

1. Quando acções com o mesmo pedido e a mesma causa de pedir e entre as mesmas partes forem submetidas à apreciação o de tribunais de diferentes Estados-Membros, o tribunal a que a acção foi submetida em segundo lugar suspende oficiosamente a instância, até que seja estabelecida a competência do tribunal a que a acção foi submetida em primeiro lugar.

2. Quando estiver estabelecida a competência do tribunal a que a acção foi submetida em primeiro lugar, o segundo tribunal declara-se incompetente em favor daquele.

Artigo 28º

1. Quando acções conexas estiverem pendentes em tribunais de diferentes Estados-Membros, o tribunal a que a acção foi submetida em segundo lugar pode suspender a instância.

2. Se essas acções estiverem pendentes em primeira instância, o tribunal a que a acção foi submetida em segundo lugar pode igualmente declarar-se incompetente, a pedido de uma das partes, se o tribunal a que a acção foi submetida em primeiro lugar for competente e a sua lei permitir a apensação das acções em questão.

3. Para efeitos do presente artigo, consideram-se conexas as acções ligadas entre si por um nexo tão estreito que haja interesse em que sejam instruídas e julgadas simultaneamente para evitar soluções que poderiam ser inconciliáveis se as causas fossem julgadas separadamente.

Artigo 29º

Sempre que as acções forem da competência exclusiva de vários tribunais, qualquer tribunal a que a acção tenha sido submetida posteriormente deve declarar-se incompetente em favor daquele a que a acção tenha sido submetida em primeiro lugar.

Artigo 30º

Para efeitos da presente secção, considera-se que a acção está submetida à apreciação do tribunal:

1. Na data em que é apresentado ao tribunal o acto que determina o início da instância ou um acto equivalente, desde que o requerente não tenha posteriormente deixado de tomar as medidas que lhe incumbem para que seja feita a citação ao requerido; ou 2. Se o acto tiver de ser citado antes de ser apresentado ao tribunal, na data em que é recebido pela autoridade responsável pela citação, desde que o requerente não tenha posteriormente deixado de tomar as medidas que lhe incumbem para que o acto seja apresentado ao tribunal.

Referências

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