RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 759.360 SÃO PAULO RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA
RECTE.(S) :EMIRATES AIRLINE
ADV.(A/S) :VALÉRIA CURI DE AGUIAR E SILVA STARLING E
OUTRO(A/S)
RECDO.(A/S) :MAURO CESAR ACHIAMÉ
ADV.(A/S) :LUCIANE CHAVES DA SILVA FRATELLI E
OUTRO(A/S) DECISÃO
AGRAVO EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. DIREITO DO CONSUMIDOR. RESERVA DE VOO: DANO
MORAL. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO E REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULAS N. 279, 282 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.
Relatório
1. Agravo nos autos principais contra decisão que inadmitiu recurso
extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III, alínea a, da Constituição da República.
O recurso extraordinário foi interposto contra o seguinte julgado da Turma Recursal dos Juizados Especiais de São Paulo:
“Trata-se de ação de indenização por dano moral em que a parte
autora afirma que por erro de reserva foi obrigado a retornar em assento diverso daquele em que estava previsto originalmente, com
ARE 759360 / SP
63/65). Recurso do Réu.
A sentença bem analisou a pretensão.
O documento de fls. 17 confirma a reserva na poltrona 17C e os documentos de fls. 11/14 comprovam o retorno no assento 35B, o que, segundo o depoimento da testemunha ouvida em audiência, implicou em prejuízo direto para o seu conforto, na medida em que o assento em que viajou possui menor espeço do que aquele que constava da reserva, mais ainda quando se trata de viagem de longa duração.
De qualquer sorte, uma vez aceita a reserva pela empresa, era sua obrigação respeitá-la, não havendo prova nos autos de que o autor foi informado de que a reserva somente seria mantida caso houvesse um check-in com três horas de antecedência.
Dano moral bem fixado em 11 salários mínimos.
Voto pela manutenção da sentença nos termos do artigo 46, da Lei 9099/95. Sucumbência em 15% pela Recorrente” (fl. 96).
2. A Agravante afirma que a Turma Recursal teria contrariado os
arts. 5º, inc. XXXVI e LXXVIII, § 2º, e 178 da Constituição da República. Sustenta que, “ao processo em discussão devem ser aplicadas as
disposições contidas na Convenção para Unificação de Certas Regras Relativas ao Transporte Aéreo Internacional, conhecida como Conversão de Varsóvia, com as modificações estabelecidas pela Convenção de Haia, Protocolos de Montreal e ainda pelo Código Brasileiro de Aeronáutica” (fl. 115)
3. O recurso extraordinário foi inadmitido sob os fundamentos de
incidência da Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal e a circunstância de que a ofensa à Constituição, se tivesse ocorrido, seria indireta (fl. 109).
Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO.
4. O art. 544 do Código de Processo Civil, com as alterações da Lei n.
12.322/2010, estabeleceu que o agravo contra decisão que inadmite
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necessidade de formação de instrumento, sendo este o caso.
Analisam-se, portanto, os argumentos postos no agravo, de cuja decisão se terá, na sequência, se for o caso, exame do recurso extraordinário.
5. Razão jurídica não assiste à Agravante.
6. Os dispositivos constitucionais suscitados no recurso
extraordinário, não foram objeto de debate e decisão prévios na Turma Recursal, tampouco foram opostos embargos de declaração com a finalidade de comprovar ter havido, no momento processual próprio, o prequestionamento. Incidem na espécie vertente as Súmulas n. 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal. Confira-se:
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 282 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. A matéria constitucional contida no recurso extraordinário não foi objeto de debate e exame prévios no Tribunal a quo. Tampouco foram opostos embargos de declaração, o que não viabiliza o extraordinário, por ausência do necessário prequestionamento” (AI 631.961-ED, de
minha relatoria, Primeira Turma, DJe 15.5.2009).
7. Ademais, a Turma Recursal assentou que “o documento de fls. 17 confirma a reserva na poltrona 17C e os documentos de fls. 11/14 comprovam o retorno no assento 35B, o que, segundo o depoimento da testemunha ouvida em audiência, implicou em prejuízo direto para o seu conforto, na medida em que o assento em que viajou possui menor espeço do que aquele que constava da reserva, mais ainda quando se trata de viagem de longa duração” (fl. 96).
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Concluir de forma diversa do que decidido pelas instâncias originárias demandaria o reexame do conjunto probatório constante dos autos, procedimento incabível de ser adotado validamente no recurso extraordinário, conforme dispõe a Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal.
Nesse sentido:
“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. PERDA DE CONEXÃO DE VÔO INTERNACIONAL. IMPOSSIBILIDADE DA ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E DO REEXAME DE PROVAS (SÚMULA 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL). OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO” (AI
762.095-AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe 5.2.2010). “DIREITO DO CONSUMIDOR. DANOS MORAIS.
ATRASO DE VOO INTERNACIONAL QUE ENSEJOU PERDA DA CONEXÃO. REACOMODAÇÃO EM NOVO VOO EM CLASSE ECONÔMICA APESAR DE CONTRATADA CLASSE EXECUTIVA. MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. CARACTERIZAÇÃO DE DANO MORAL. INDENIZAÇÃO PROPORCIONAL. ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE EVENTUAL AFRONTA AOS PRECEITOS CONSTITUCIONAIS INVOCADOS NO APELO EXTREMO DEPENDENTE DA REELABORAÇÃO DA MOLDURA FÁTICA CONSTANTE NO ACÓRDÃO REGIONAL. SÚMULA 279/STF. ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL DO DEBATE. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 15.10.2010. As razões do agravo regimental não são aptas a
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mormente no que se refere ao óbice da Súmula 279 do STF, a inviabilizar o trânsito do recurso extraordinário. Além de a pretensão da recorrente de obter decisão em sentido diverso demandar reelaboração da moldura fática delineada no acórdão de origem, a suposta afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais dependeria da análise de legislação infraconstitucional, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário, considerada a disposição do art. 102, III, ‘a’, da Lei Maior. No AI 762.184 RG/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 18.12.2009-, atualmente autuado como RE 636.331-, reconheceu-se a repercussão geral da questão constitucional relativa à ‘subsistência das normas do Código Brasileiro de Aeronáutica e da Convenção de Varsóvia - que impõem limites pré-fixados para indenizações por dano material - perante a regra constitucional da indenizabilidade irrestrita’ – paradigma que não viabiliza a aplicação da sistemática do art. 543-B do CPC aos casos de indenização por dano moral. Consoante destacado em recente precedente desta Turma, ‘a Carta da República previu o direito a indenização por dano moral, não cabendo, em detrimento dela, potencializar a circunstância de a convenção de Varsóvia apenas dispor sobre a responsabilidade, considerado o prejuízo material’ (RE 391.032 AgR/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 22.3.2012). Agravo conhecido e não provido” (ARE 691.437-AgR, Relatora a Ministra
Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 5.3.2013).
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. INDENIZAÇÃO. 1. Reexame de fatos e provas: Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal. 2. Análise de normas infraconstitucionais. Ofensa constitucional indireta. 3. Agravo regimental ao qual se nega provimento” (ARE 735.333-AgR,
de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 7.6.2013).
Nada há, pois, a prover quanto às alegações da Agravante.
8. Pelo exposto, nego seguimento ao agravo (art. 544, § 4º, inc. I, do
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Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).
Publique-se.
Brasília, 1º de agosto de 2013.
Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora