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PRIVACIDADE EM OBRAS MODERNAS: A CASA DE VIDRO DE LINA BO BARDI

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PRIVACIDADE EM OBRAS MODERNAS: A CASA DE VIDRO DE LINA BO BARDI

BASSO, Bruna Scanagatta.1 CUSIN, Camila Garcia.2 MARANGONI, Camila.3 PEREIRA, Thiago.4 ANJOS, Marcelo França dos. 5

RESUMO

O presente trabalho aborda a privacidade, fazendo uma análise na obra modernista de Lina Bo Bardi, A Casa de Vidro. Relata-se também nesse trabalho, uma breve explicação dos Cinco Pontos da Arquitetura Moderna, de Le Corbusier, sendo eles Pilotis, Planta-Livre, Terraço Jardim, Fachada Livre e Janela em Fita. Conclui-se então que é de suma importância a preocupação da arquiteta, ao projetar, pensar na privacidade do usuário da edificação, levando em consideração que a obra é uma moradia residencial e deve, portanto, ter sua privacidade considerada.

PALAVRAS-CHAVE: Casa de Vidro, Lina Bo Bardi, Modernismo, Privacidade.

1. INTRODUÇÃO

A obra Casa de Vidro engloba o fator da privacidade nas obras modernistas, partindo dos 5 pontos da arquitetura, impostos por Le Corbusier, sendo um dos principais elementos na arquitetura moderna, pois é através dela que se consegue interpretar uma obra, propondo uma reflexão sobre a percepção do espaço.

Propôs-se como problema de pesquisa: descobrir qual é sua relação com a falta de privacidade e a utilização de fachadas em vidro. Visando responder ao problema proposto estabeleceu-se como objetivo geral: descobrir se há ou não falta de privacidade na obra Casa de Vidro de Lina Bo Bardi. Como objetivos específicos este trabalho buscou: apresentar o modernismo brasileiro; apresentar a arquiteta: Lina Bo Bardi; apresentar a obra: Casa de Vidro; apresentar o estudo da privacidade da obra; apresentar as análises e discussões; apresentar as considerações finais.

1Acadêmica Bruna Scanagatta Basso, estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo – FAG. E-mail: brusbasso@gmail.com

2Acadêmica Camila Garcia Cusin, estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo – FAG. E-mail: arqcamilagarcia@outlook.com

3Acadêmica Camila Marangoni, estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo – FAG. E-mail: camilamarangoni.arqeurb@outlook.com

4Acadêmico Thiago Pereira, estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo FAG. E-mail: thiagopereira.arq@outlook.com

5 Professor orientador, docente do curso de Arquitetura e Urbanismo - FAG. Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela UEM/UEL. E-mail: anjos@fag.edu.br

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Anais do 15º Encontro Científico Cultural Interinstitucional e 1º Encontro Internacional - 2017 2. MODERNISMO BRASILEIRO

No Brasil o movimento neocolonial tomou fôlego no Rio de Janeiro, na década de 20, através do médico José Mariano Filho que, como presidente da Sociedade Brasileira de Belas Artes, patrocinou viagens de arquitetos a Minas Gerais – Lúcio Costa foi enviado a Diamantina – na busca de elementos para compor o repertório do movimento neocolonial. Por outro lado, Mariano Filho patrocinou concursos de arquitetura – sempre selecionando exemplares neocoloniais, como em 1925 e 1929 com os projetos escolhidos para os pavilhões do Brasil nas exposições da Filadélfia e de Sevilha, respectivamente; e elaborou os dez mandamentos do estilo neocolonial, no qual definiu as características básicas desse estilo (LEMOS, 1994).

Para alcançar tal objetivo faz-se necessário retroceder ao período entre os anos 1910 e 1920, quando o engenheiro português Ricardo Severo, convidado a fazer uma palestra na Sociedade de Cultura Artística, em São Paulo, em 1914, lançou as primeiras ideias sobre a valorização da arte genuína brasileira (SEGAWA, 1997).

A Semana de Arte Moderna tinha como objetivo romper com o academicismo, valorizar a cultura popular e introduzir no Brasil os movimentos político-artísticos surgidos na Europa após a Primeira Guerra Mundial. Foi liderado por escritores como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia e Graça Aranha, artistas plásticos como Di Cavalcanti e Anita Malfatti, e músicos como Villa-Lobos e Guiomar Novaes. Seus resultados se estenderam a outras áreas, como a arquitetura e o cinema, e às décadas seguintes, tornando o evento um marco na história cultural brasileira. (SILVA, 2009)

Segundo Santos (2006), apesar das críticas iniciais à vanguarda artística brasileira, em 1922, na Semana de Arte Moderna, foram apresentadas inúmeras inovações em diversos campos da expressão artística, tais como a literatura, a música, as artes visuais – cuja postura questionadora frente ao academicismo já havia se iniciado bem anteriormente, com acontecimentos isolados como a exposição de 1913, de Lasar Segall, a exposição de Anita Malfatti, em 1917 e a “descoberta” do escultor Vítor Brecheret, em 1920.

Para Luccas (2005), a gestação da arquitetura moderna brasileira ocorreria nesse ambiente, perseguindo a consolidação de uma ambicionada identidade cultural nacional que montava da década anterior, daquele período de efervescência intelectual no qual os paulistanos tomavam a vanguarda através da Semana de Arte Moderna de 1922, de Manifestos como o Pau-Brasil e Antropofágico, da produção pioneira de uma arte moderna e um modernismo literário tipicamente

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brasileiro; em que se discutia na Capital da República a adoção do neocolonial como estilo representativo do País. Contagiado pelo clima nacionalista, Lucio Costa associava-se ao pensamento intelectual e político presente, propondo uma arquitetura moderna brasileira sob a unidade da teoria de uma expressão nativa, a qual logo se mostrou mais ampla e complexa do que ele supunha; estabelecendo gradualmente um constructo teórico que buscava dar sustentação à produção, exótica aos olhos estrangeiros, da escola carioca rumo ao êxito internacional.

A escola paulista surgia como alternativa a essa convergência “internacionalizada”. Um segundo momento importante da arquitetura moderna brasileira seria reconhecido no chamado brutalismo paulista, que germinou ao longo dos anos 50 e floresceu à entrada da década de 60. Nessa ocasião, João Batista Vilanova Artigas seria o mentor de uma nova cruzada nacionalista, a partir de seu engajamento ideológico ao comunismo. (LUCCAS, 2005)

Figura 1: Museu de Arte Moderna - MAM

Le Corbusier foi quem mais teve influência na formação do pensamento Modernista nos arquitetos locais, suas ideias inovadoras tiveram uma vasta influencia no movimento em território brasileiro, sendo fonte inspiradora para Lúcio Costa, Niemeyer e outros pioneiros da arquitetura Moderna brasileira. (REIS FILHO, 1987).

Segundo Maciel (2002), em 1927, Le Corbusier apresenta os cinco pontos que orientaram de modo parcial a concepção das suas primeiras casas, especialmente na definição de um repertório

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formal que se adequasse às novas possibilidades tecnológicas recém-surgidas, especialmente a impermeabilização e as estruturas em concreto armado. Le Corbusier se apropria daquele repertório tecnológico e o repropõe como um novo repertório arquitetônico, potencializando utilizações diversas através dos seguintes pontos: Pilotis; Planta livre; Terraço jardim; Fachada livre; Janela em fita.

A arquitetura moderna brasileira que se materializou na década de 1930, mais especificamente em 1937, com o projeto do Ministério da Educação e Saúde - MES, compõe-se de elementos que buscam expressar o caráter peculiar da cultura brasileira.

Construído em um quarteirão central do Rio de Janeiro, de 71X91 m, o edifício é constituído de um prisma retangular alto, com empenas laterais cegas, que abriga, de forma modular, as funções de trabalho e os serviços, e circulação horizontal e vertical. (MARQUARTD, 2005).

Figura 2: Ministério da Educação e Saúde - MES

Conforme Cabral (2016) em 1943, na edição nº 191 da revista Domus, no texto Architettura e Natura – la casa nel paesaggio, Lina Bo Bardi começa a expressar seu pensamento moderno, ao criticar o ornamento e a não-funcionalidade da arquitetura neoclássica.

Para Coelho e Odebrecht (2007), na Arquitetura Moderna, as edificações passaram a apresentar espaços mais abstratos e geométricos, visando uma organização racional e funcional. A

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morfologia adotada nestas obras vai de encontro com a arquitetura Moderna Brasileira, que introduz elementos nacionais aos preceitos internacionais, como as leves inclinações de telhado, que de certo modo quebravam a caixa rígida induzida pelos arquitetos europeus de vanguarda.

3. A ARQUITETA: LINA BO BARDI

Nascida na Itália em 1914, Lina Bo Bardi estudou arquitetura na Faculdade de Arquitetura de Roma. Após ter seu escritório bombardeado na Segunda Guerra Mundial, Lina se juntou com Bruno Zevi para fundar a publicação “A Cultura dela Vita”. Tornou-se membro do Partido Comunista Italiano, conhecendo assim o crítico e historiador de arte Pietro Maria Bardi (figura 3), com quem se casou e se mudou para o Brasil, em 1946 (BARATTO, 2016).

Figura 3: Lina Bo e P.M. Bardi

Em 1951, Lina se naturaliza brasileira, ano que coincide com a inauguração da sua primeira obra construída, nada menos que a Casa de Vidro, localizada no bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo (FRACALOSSI, 2011).

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Segundo Baratto (2016) Lina Bo Bardi foi uma das arquitetas de maior importância e expressividade na arquitetura brasileira do século XX. Lina obteve destaque por assimilar a cultura brasileira a partir de uma perspectiva antropológica, reflete sobretudo à convergência entre vanguarda estética e tradição popular.

Segundo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi (2017) em 1955, Lina começa a atuar como docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde permanece até 1957, ano em que Lina inicia o projeto da segunda sede do MASP (Museu de Arte de São Paulo) (figura 4) para ocupar o seu terreno. A obra viria a ser inaugurada apenas em 1968.

Figura 4: Sede do MASP, na avenida Paulista, em São Paulo

De acordo com Baratto (2016), Lina não engloba apenas projetos de arquitetura, como também trabalhos de cenografia, artes plásticas, desenho de mobiliários (figura 5) e design gráfico. Conforme o Instituto Lina Bo e P.M. Bardi (2017), Lina realizou a arquitetura cênica do filme A

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Figura 5: Lina Bo Bardi experimenta o assento de balanço projetado por ela, para o Studio d'Arte Palma, em 1948.

Em 1982, é inaugurada a primeira fase do Centro de Lazer Sesc - Fábrica Pompéia, projeto que se iniciou em 1977. Neste mesmo ano, deu início ao projeto da segunda etapa dessa obra, destinada a abrigar o centro esportivo, inaugurada em 1986. Lina (figura 6) morre em 20 de março na Casa de Vidro (INSTITUTO LINA BO E P.M. BARDI, 2017).

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Anais do 15º Encontro Científico Cultural Interinstitucional e 1º Encontro Internacional - 2017 4. A OBRA: CASA DE VIDRO

Segundo o Instituto Lina Bo e P.M Bardi (2017), a Casa de Vidro foi considerado um ícone da arquitetura moderna no Brasil, foi a primeira obra construída da arquiteta Lina Bo Bardi. Ela está localizada em São Paulo no loteamento da antiga Fazenda de Chá Muller Carioba, no bairro Morumbi, sua obra foi iniciada entre 1950 e 1951.

Fracalossi (2011) afirma que uma das primeiras ideias de Lina era preservar o perfil natural inclinado do terreno, o que acabou influenciando para que sua fachada principal fosse composta por pilotis, fazendo referência dos cinco pontos da arquitetura de Le Corbusier. A parte de trás da casa ficou sustentada em muros de concreto sobre o terreno, criando uma relação entre transparência e opacidade na parte de trás da casa, construção e natureza.

Quando a casa foi projetada o local possuía apenas uma vegetação rasteira, mas assim como o crescimento das cidades em alta velocidade no Brasil, a vegetação também cresceu e a mata chegou até a frente da casa. A vegetação filtra toda luz e evita a vista dos prédios e edifícios da cidade, que cresceram na vizinhança (GAMEREN, 2000).

De acordo com o Instituto (2017), a obra da Lina Bo Bardi ganhou o nome de Casa de Vidro por causa da sua fachada faustosa de vidro, como pode observar na figura 7, que dá a impressão de flutuar sobre os pilotis. Segundo Gameren (2000), a obra escondida na mata virou uma "arca do tesouro" a casa se tornou testemunho de uma cultura de São Paulo e hoje são lembranças da vida dos moradores.

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Segundo Anelli (2014), desde 1990 a edificação projetada para Lina e seu marido se tornou o Instituto Bardi e seu acervo. A casa recebe visitante diariamente e guarda registros sobre a vida do casal, a casa é uma exposição permanente, onde é possível analisar todas as qualidades do espaço construído e seu jardim tropical. Ao visitar a obra, é possível sentir todos os sentidos, não só a visão, pois é possível sentir o odor, a textura e o som das coisas ao seu entorno.

As características construtivas que podem ser observadas na Casa de Vidro exigem constante manutenção. De acordo com Anelli (2013), no contexto nacional, a casa apresenta características semelhantes com as implantações das casas de Afonso Eduardo Reidy, de Oscar Niemeyer, ou com a transparência da casa de Artigas. A casa é composta por um volume horizontal, a acentuada declividade resulta no lançamento de parte da casa à altura da copa das árvores, sustentada por pilares de tubo de aço e vedada apenas com caixilhos de vidro de piso a teto em três das suas faces.

A casa está dividida em duas partes, a primeira representa a sala de estar e jantar, com grandes aberturas de vidro, ao centro desse salão se encontra um pátio, no qual foi mantida uma árvore derradeira da vegetação local. A árvore serve como elemento de amenização no clima e o pátio central (figura 8) possibilita a ventilação cruzada na residência. Segundo Fracalossi (2011), Lina usa a casa-pátio de Mies van der Rohe como referência para esse projeto.

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A segunda parte da casa é composta pela área íntima e de serviços, os quais ocupam os três módulos posteriores e configuram a parte maciça e opaca da casa. Os dormitórios são adjacentes ao salão de estar e a área de serviços forma o último módulo, a norte. O pátio é um elemento essencial para o conforto da casa, permitindo a ventilação de todos os dormitórios. No primeiro piso também se encontram as zonas de máquinas e a garagem (FRACALOSSI, 2011).

Conforme diz o Instituto (2017), o casal possui um grande amor pela flora natural brasileira, o jardim da residência ocupa uma área de 7.000 m², o jardim (figura 9) foi planejado e plantado pela Lina, e assim, a vegetação rasteira da época transformou-se em uma floresta particular, com trilhas decoradas com cacos de cerâmica e pedras.

Figura 9: A vegetação na residência

De acordo com Gameren (2000), a pele de vidro mostra o interior da casa para o exterior, de dentro da casa, os moradores olham a floresta, as plantações e as bordas da cidade de São Paulo. Para Anelli (2013), a transparência contrasta com a parte de trás da casa que está apoiada diretamente sobre o solo, vedada com alvenaria, onde se localizam os dormitórios e serviços. Nas duas laterais a vedação é feita com um sistema de painéis metálicos e janelas corridas e são essas vedações de caixilhos de vidro ou combinados com os painéis metálicos que apresentam as principais patologias da casa, exigindo constante manutenção.

Fracalossi (2011) afirma que a estrutura vertical é composta por tubos de aço, dispostos quatro módulos de largura por cinco de profundidade. Como pode-se observar na figura 10, essa estrutura forma o pilotis da residência e avançam pela laje do piso superior até alcançarem a laje de cobertura.

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Figura 10: O pilotis na obra de Lina Bo Bardi

Em 1969, a residência é tombada por Jorge da Cunha Lima, por causa da singularidade do projeto arquitetônico e também do paisagístico da obra, seu significado histórico, existência de um acervo de obras de arte e objetos que parte da residência e também pela importância de Lina na arquitetura brasileira (CONDEPHAAT, 1987).

Segundo Condephaat (1987), o Artigo 1º determina que a obra seja tombada, no Artigo 2º diz que o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado se torna autorizado a inscrever no Livro do Tombo para os devidos e legais efeitos.

Atualmente, segundo o Instituto (2017), a Casa de Vidro possui um espaço de pesquisa e troca de ideias entre pesquisadores, profissionais e estudantes do Brasil todo e exterior também. Após o tombamento em 1987, a residência passou a ser a sede do Instituto Lina Bo Bardi que tem o objetivo de promover a arquitetura, design, urbanismo e arte popular brasileira.

De acordo com Anelli (2013), o Instituto Lina Bo e P. M. Bardi foi fundado em 1990 e se encontra entre as maiores instituições sem fins lucrativos, a casa onde está o Instituto (figura 11), preserva um acervo que contem 6.633 desenhos, 5.000 documentos, 15.000 fotografias, 1045 cromos e negativos, 114 filmes, 2.800 livros, 195 obras de arte e 111 móveis.

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Figura 11: Interior e acervo do Instituto Lina Bo Bardi

A casa perdeu parte do seu acervo logo após a morte de Pietro Bardi em 1999, por reivindicação de partilha dos herdeiros do seu primeiro casamento. Foram removidos alguns móveis e obras de arte que ficam na grande sala de estar, resultando em alguns setores vazios. Por causa desse fato, o imóvel perdeu parte da sua integridade original mesmo sendo tombado (ANELLI, 2014).

Segundo Anelli (2014), a casa passou a receber exposições de arte (figura 12) e arquitetura somente em 2012. Sua sala serviu de ensaio para a museógrafa com fachadas e suportes de vidro, que seria implantada na segunda sede do Museu de Arte de São Paulo. O espaço moderno e transparente é capaz de reunir os diversos momentos representados pelos objetos em um contínuo de cultura e natureza.

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Figura 12: Exposições do Instituto Lina Bo Bardi

De acordo com Anelli (2013), a primeira fase da recuperação física da Casa de Vidro foi entre 2007 e 2010, houve uma recuperação da estrutura e do revestimento inferior da laje, dos caixilhos e do piso e pela desinfestação dos cupins. Os serviços foram arcados pelo fundo do próprio do Instituto. Até 2009, o Instituto funcionava no Estúdio, uma pequena construção de madeira junto à lateral do terreno e só após a conclusão da primeira etapa das obras em que passou a funcionar dentro da Casa de Vidro. A segunda fase foi realizada em 2012, com o intuito de renovar as instalações elétricas. A partir desse ano o Instituto passou a contar com apoios financeiros externos, através da Lei de Incentivo à Cultura, de um projeto de apoio à infraestrutura de acervos de pesquisa e de alguns aportes privados.

Ao propor a Casa de Vidro como espaço expositivo após a conclusão do seu restauro em 2011, coube ao curador Hans Ulrich Obrist promover a primeira exposição. “The insides are on the outside”, esse título está relacionado à continuidade espacial moderna transparências nas faces envidraçadas proporcionam. Sua exposição reuniu vários artistas por toda a propriedade. A exposição na Casa de Vidro busca sentidos diversos da tradição, as obras interpretam e contrastam a arquitetura. O conjunto de intervenções olha para a síntese entre moderno e popular, para seu entendimento da relação homem natureza, para suas escolhas artísticas. (ANELLI, 2014).

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Anais do 15º Encontro Científico Cultural Interinstitucional e 1º Encontro Internacional - 2017 5. METODOLOGIA

A metodologia adotada foi um estudo de caso que, segundo Gil (2002), por definição é o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo responder o problema proposto. As pesquisas foram realizadas em monografias publicadas e sites da internet, como por exemplo o site do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.

As principais etapas para serem seguidas em um estudo de casos são: a formulação do problema, a definição da unidade-caso, a elaboração do protocolo, a coleta de dados, a avaliação e a análise de dados, e, por último, a preparação do relatório (GIL, 2002).

Pode-se dizer que adotamos também o método comparativo, que se ocupa da explicação dos fenômenos e permite analisar o dado concreto, deduzindo desse “os elementos constantes, abstratos e gerais. ” (LAKATOS; MARCONI, 2007, p. 107).

6. ANÁLISE E DISCUSSÕES

Segundo Veiga (2005), a Casa de Vidro (figura 13) é a primeira obra caracterizada por Lina Bo Bardi. Nesta obra encontra-se presente o conceito modernista como os pilotis, que sustentam um bloco horizontal com fechamento de vidro.

Localizada em uma encosta no Morumbi, evidencia a beleza da Mata Atlântica e se preocupa com a integração desta à casa, através das transparências e da própria morfologia (VEIGA, 2005).

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De acordo com Veiga (2005), os vãos na obra, fazem a divisão dos ambientes e os tornam elementos centrais. Na área social, quem faz o papel das paredes é a vegetação. Já o jardim, localizado atrás dos dormitórios os separa da área de serviços. As variações de níveis acentuam a diferença entre os espaços marcando diferentes atividades.

Para Murtinho, (205), na Casa de Lina (figura 14), todas as superfícies de vidro foram desenhadas em um perfil horizontal que marcam claramente uma fronteira visível entre o espaço interior e o espaço exterior. Nesta obra existe a intenção de desmaterializar o plano de fachada, instigando uma harmonia visual entre os espaços.

Figura 14: Interior da Casa de Vidro.

A casa foi construída no século passado, como descreve Murtinho (2015), e continua a apresentar um fascínio sobre a arquitetura contemporânea. O conceito desse projeto é algo que diferentes arquitetos procuram, mas que raras vezes conseguem concretizar. O que motiva essa dificuldade é a transparência, que entra no domínio do privado e que interfere no modo como acondicionamos a nossa intimidade e no modo como aceitamos, ou não, essa exposição da nossa vida particular.

“Viver numa casa com paredes de vidro tem certamente implicações de nível psicológico que podem ser emocionalmente desestabilizadoras, para não dizer destrutivas. [...] rapidamente deixaram de ser meras construções para se tornarem templos modernos de arquitetura, espaços de interesse público, dedicados à contemplação e, sobretudo, ao sonho” (MURTINHO, 2015).

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envidraçadas, propôs a vegetação exterior para maior privacidade, mas também algo muito curioso no universo modernista: as cortinas (figura 15). Lina Bo Bardi elogia os projetos com fachadas envidraçadas de Vilanova Artigas e, para a sua casa utilizou cortinas em todos os ambientes.

Figura 15: Interior da Casa de Vidro.

A ideia de utilizar cortinas é concebida desde o início, aparecendo nos croquis de concepção do projeto. Lina recusa-se a utilizar uma solução modernista de isolamento térmico, famosa na época, o brise-soleil e envolve a sala envidraçada por cortinas plásticas (OLIVEIRA, 2006, p.41)

A intenção da arquiteta era trabalhar a partir do lugar, da paisagem, do clima e da dinâmica do programa proposto por ela. Como a obra se localiza a quilômetros de distância do traçado urbano da cidade, Lina Bo Bardi teve a oportunidade de trabalhar com linhas livres, fachadas envidraçadas, e outros pontos da arquitetura modernista. Isso fez com que ela pudesse dar muito mais dinâmica a sua obra, utilizando da paisagem externa, tornando os dois ambientes um só, sem afetar a privacidade necessária em uma obra residencial.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de Lina Bo Bardi, a Casa de Vidro se aproxima da leveza da casa de Farnsworth de Mies Van Der Rohe, os conceitos modernistas estão presentes através das questões funcionais e estéticas.

A arquiteta admirava as obras envidraçadas de Vilanova Artigas. O utilizando como essa referência, Lina desenvolveu um projeto que procura o equilíbrio entre o útil e o belo. Para as fachadas envidraçadas, a mesma criou formas de manter a privacidade em seu ambiente. Como Lina

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recusou-se a utilizar uma solução modernista, as fachadas são impostas por cortinas em seu interior e vegetação densa em seu exterior, assim mantendo a privacidade como era seu objetivo principal.

REFERÊNCIAS

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Referências

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