• Nenhum resultado encontrado

Dever do Conselho Tutelar de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, conforme o artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Dever do Conselho Tutelar de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, conforme o artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente"

Copied!
60
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA LUCIANA MENDONÇA

DEVER DO CONSELHO TUTELAR DE ZELAR PELO CUMPRIMENTO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, CONFORME O ARTIGO 131 DO

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Tubarão 2019

(2)

LUCIANA MENDONÇA

DEVER DO CONSELHO TUTELAR DE ZELAR PELO CUMPRIMENTO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, CONFORME O ARTIGO 131 DO

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profa. Terezinha Damian Antonio, MSc

Tubarão 2019

(3)
(4)

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades.

Aos meus pais Rainério (in memorian) e Noeli, que me ensinaram a nunca desistir dos meus sonhos, e que nunca é tarde para recomeçar.

Ao meu esposo Clodoaldo, pelo amor, apoio e muita paciência ao longo de todo esse meu percurso, por segurar a minha mão nos momentos de desespero na construção deste trabalho e que não mediu esforços para que eu chegasse até esta etapa da minha vida.

Aos meus filhos Bruno e Beatriz, por compreenderem a minha ausência pelo tempo dedicado aos estudos, pela força e amor incondicional. Sem vocês a realização deste sonho não seria possível.

A minha orientadora Profa. Terezinha Damian Antonio, pelo empenho, dedicação e paciência ao longo da elaboração desta monografia.

Agradeço também aos professores do curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, que com todo o seu esforço e dedicação constroem um curso de excelência.

(5)

“Na vida real não lidamos com deuses, mas com humanos tão comuns quanto nós mesmos. São homens e mulheres cheios de contradições, que são instáveis e inconstantes, fortes e fracos, famosos e infames”. Nelson Mandela (In “Conversas que tive comigo”).

(6)

RESUMO

OBJETIVO: Analisar o artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente segundo o qual cabe ao Conselho Tutelar o dever de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente. MÉTODO: Quanto ao nível, a pesquisa é exploratória, pois o principal objetivo é proporcionar afinidade com o objeto de estudo. Quanto à abordagem, o presente estudo tem caráter qualitativo, trabalha com o universo de significados, motivos, valores e atitudes, o que corresponde ao estudo mais profundo das relações. O procedimento de coletas de dados ocorreu por meio da pesquisa bibliográfica, em que busca responder a situação problema utilizando-se fontes já publicadas sobre o tema, como doutrinas e artigos científicos, e da pesquisa documental, baseada na legislação. RESULTADOS: Os direitos da criança e do adolescente passaram a ser valorizados e respeitados a partir das conquistas sociais de movimentos internacionais que buscavam a proteção e a efetivação dos direitos humanos. No Brasil, as crianças abandonadas ficavam sob a responsabilidade dos municípios, até meados do século XIX, quando surgiu o Código de Menores do Brasil. A partir da Constituição Federal/1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente/1990 passou-se a garantir os direitos da criança e do adolescente. Criança é a pessoa que tem até 12 anos incompletos e adolescente é o que tem entre 12 anos e 18 anos de idade, completos. CONCLUSÃO: Pode-se verificar que são muitas as atribuições do Conselho Tutelar, o que exige uma capacitação continuada, além de conhecimento profundo das demandas e necessidades da comunidade específica à qual está vinculado. O dever do Conselho tutelar de zelar pelo cumprimento dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, estabelecido pelo artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente, consiste em proteger os interesses da Criança e do Adolescente, sempre que os Direitos reconhecidos em Lei forem ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade, do Estado, abuso dos pais ou responsável.

(7)

ABSTRACT

OBJECTIVE: To analyze article 131 of the Statute of the Child and Adolescent, according to which it is the responsibility of the Guardianship Council to ensure the fulfillment of the rights of children and adolescents provided for in the Statute of the Child and Adolescent. METHOD: Regarding the level, the research is exploratory, since the main objective is to provide affinity with the object of study. As for the approach, the present study has a qualitative character, it works with the universe of meanings, motives, values and attitudes, which corresponds to the deeper study of the relations. The data collection procedure was carried out through bibliographic research, in which it seeks to respond to the problem situation using already published sources on the subject, such as doctrines and scientific articles, and documenetal research, based on legislation. RESULTS: The rights of children and adolescents began to be valued and respected based on the social achievements of international movements that sought to protect and fulfill human rights. In Brazil, abandoned children were under the responsibility of municipalities until the mid-nineteenth century, when the Children's Code of Brazil. From the Federal Constitution/1988 and the Statute of the Child and Adolescent/1990, the rights of children and adolescents were guaranteed. Child is the person who is 12 years old incomplete and teenager is the one who is between 12 years and 18 years of age, complete. CONCLUSION: It can be verified that there are many responsibilities of the Tutelary Council, which requires continuous training, as well as a deep knowledge of the demands and needs of the specific community to which it is linked. The duty of the Board of Trustees to ensure the fulfillment of the fundamental rights of the child and the adolescent, established by article 131 of the Statute of the Child and Adolescent, is to protect the interests of the Child and Adolescent, whenever the Rights recognized in Law are threatened or violated by action or omission of society, the State, abuse of parents or responsible.

(8)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 9

1.1DESCRIÇÃO DO TEMA ... 9

1.2FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 12

1.3HIPÓTESE ... 12

1.4DEFINIÇÃO DO CONCEITO OPERACIONAL ... 12

1.5JUSTIFICATIVA ... 12

1.6OBJETIVOS ... 13

1.6.1 Objetivo geral ... 13

1.6.2 Objetivos específicos ... 13

1.7DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 14

1.8ESTRUTURA DO RELATÓRIO FINAL ... 15

2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 16

2.1EVOLUÇÃO INTERNACIONAL DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 16

2.2EVOLUÇÃO DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL ... 18

2.3DOUTRINAS DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 21

2.4PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... ... 23

3 PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) ... 28

3.1CONCEITO JURÍDICO DE CRIANÇA E DE ADOLESCENTE ... 28

3.2DIREITOS FUNDAMENTAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES ... 29

3.2.1 Do direito à vida e à saúde ... 29

3.2.2 Do direito à liberdade, ao respeito e à dignidade ... 30

3.2.3 Direito à convivência familiar e comunitária ... 32

3.2.4 Do direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer ... 33

3.2.5 Do direito à profissionalização e à proteção no trabalho ... 34

3.3DA PREVENÇÃO DE OCORRÊNCIA DE AMEAÇA OU VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 34

3.4DEMAIS PREVISÕES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADELESCENTE ... 36

(9)

3.4.2 Da prática de ato infracional ... 37

3.4.3 Das medidas de proteção ... 37

3.4.4 Das medidas socioeducativas...39

3.4.5 Das medidas em relação aos pais ou responsáveis ... 42

3.4.6 Do acesso à justiça ... 43

4 O CONSELHO TUTELAR E O DEVER DE ZELAR PELO CUMPRIMENTO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE PREVISTOS NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 44

4.1NOÇÕES GERAIS SOBRE A ATUAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR ... 44

4.1.1 Conceito e características do Conselho Tutelar ... 44

4.1.2 Atribuições do Conselho Tutelar ... 45

4.1.3 Competências do Conselho Tutelar ... 46

4.1.4 Requisitos e impedimentos para escolha dos Conselheiros ... 48

4.2PAPEL DO CONSELHO TUTELAR NA GARANTIA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 50

5 CONCLUSÃO ... 54

(10)

1 INTRODUÇÃO

Essa monografia trata do dever do Conselho Tutelar de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, conforme o artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente, como se passa a expor.

1.1 DESCRIÇÃO DO TEMA

É dever do Estado, da família e da sociedade livrar a criança e o adolescente de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Crianças e adolescentes possuem primazia em receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias, precedência no atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública, destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e juventude, programas de prevenção e atendimento especializado aos jovens dependentes de entorpecentes e drogas afins.

Por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/1990) definiu que o Conselho Tutelar, órgão permanente, autônomo e não jurisdicional é encarregado pela sociedade do dever de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, conforme disposição do artigo 131 de referido diploma legal. Dessa forma, esse órgão, deve atuar dentro dos objetivos de citado diploma legal, visando alcançar a proteção integral dos infantes (BRASIL, 1990).

Destaca-se que o Conselho Tutelar, conforme Liberati e Cyrino (2003, p. 125) é “um espaço que protege e garante os direitos da criança e do adolescente no âmbito Municipal. É a ferramenta e o instrumento de trabalho nas mãos da comunidade, que fiscalizará e tomará providências para tanto”. Entretanto, esse importante órgão não foi devidamente disciplinado pelo legislador, de forma que questões relativas à estruturação, condições de funcionamento e, principalmente, aquelas que tratam das relações com os demais órgãos do Sistema de Garantia, muitas vezes, acabam presas a lacunas jurídicas.

Cabe ressaltar que a problemática enfrentada quando se trata deste assunto, é, primeiramente, de responsabilidade dos pais e responsáveis por buscar no seu núcleo essa ajuda, esgotando todas as possibilidades internas para resolução do problema. Os pais e responsáveis pelas crianças e adolescentes possuem como dever garantir os direitos que lhe foram delegados, não ferindo o direito alheio. No entanto, ocorrendo descaso ao zelo da criança e ao adolescente caberá ao Conselho Tutelar agir de modo interventivo imputando a responsabilidade a quem a

(11)

detém, impondo as medidas estabelecidas no Estatuto da Criança e do Adolescente, conforme art. 136 (BRASIL, 1990).

As restrições existentes ao direito de liberdade da criança e do adolescente objetivam garantir a esses uma proteção integral, observando aspectos importantes para o desenvolvimento da personalidade da criança e do adolescente, como o direito à liberdade de brincar, fazer esportes, divertir-se, participar da vida comunitária e familiar. Compete ao Estado, ao Município, à comunidade e à família propiciarem assistência das mais variadas maneiras às esses não deixando de cumprir com as suas obrigações, conforme estabelece o artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente: “Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor” (BRASIL, 1990).

Desse modo, outorga-se a todos a legitimidade ativa para que se empenhem na defesa dos direitos que garantam à criança e ao adolescente a proteção integral, contudo, atribui-se ao Conatribui-selho Tutelar o dever de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, conforme disposição do artigo 131 de referido diploma legal, devendo referido órgão se comprometer em maior grau, por ter sob sua autoridade, a guarda ou a vigilância da criança e do adolescente, não podendo, em nenhuma hipótese, expô-los a vexame ou constrangimento, sob pena de ser responsabilizado.

Segundo Elias (1994, p. 18), o direito ao respeito consiste na obrigação de garantir a integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente. No que se refere à integridade física, explicita que, além dos maus tratos e lesões, deve-se ter cuidado com a privação de tudo o que é necessário para a preservação e o desenvolvimento do corpo. Uma criança ou adolescente vivendo uma situação de ameaça ou violação de direitos será, sempre, um caso de configuração única, com identidade própria, mesmo que as ameaças ou violações observadas sejam comuns na sociedade. Por isso, vale reafirmar, cada caso é um caso e requer um atendimento personalizado, sem os vícios das padronizações e dos automatismos.

Vale repetir as palavras de Digiácomo (2018, p. 73):

[...] o Conselho Tutelar não é e não pode funcionar como “programa de atendimento” (mesmo quando do exercício da atribuição prevista no art. 136, inciso VI, do ECA, não quis o legislador que o Conselho Tutelar “executasse” a medida de proteção aplicada pela autoridade judiciária, mas sim providenciasse sua execução, através do encaminhamento do adolescente ao programa de atendimento correspondente), o que além de representar num desvirtuamento de suas atribuições, acaba sendo altamente prejudicial aos próprios adolescentes, seja por não ter o órgão a estrutura e mesmo o preparo adequados para prestar tal atendimento (que demanda, antes de mais nada, a intervenção de profissionais de diversas áreas, como psicologia, pedagogia, assistência social), resultando assim na ineficácia da intervenção realizada, seja por,

(12)

com sua atuação indevida, contribuir para que uma verdadeira política socioeducativa jamais seja implementada.

Muitas vezes os conselheiros tutelares são surpreendidos por determinações judiciais ou requisições ministeriais que solicitam a realização de visitas periódicas, transporte de crianças e adolescentes e outras deliberações estranhas às atribuições do Conselho Tutelar, como a produção de relatórios sobre vínculos afetivos entre crianças e adolescentes e seus genitores. Contudo, as atribuições do Conselho Tutelar estão elencadas no artigo 136 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que regulamenta o atendimento direcionado às crianças e adolescentes e as penalidades impostas àqueles que deixarem de observá-las, conforme artigo 101, incisos I a VII de mencionado normativo legal.

Ainda, referido Estatuto, em seu artigo 136, prevê a possibilidade de o Conselho Tutelar requisitar serviços, na área da educação, saúde, trabalho e segurança, podendo exigir vaga em escolas infantis ou de ensino fundamental; consultas, exames e tratamento médico; fiscalização das empresas onde os adolescentes prestam serviços, por parte do Ministério Público que, por sua vez, poderá requerer diligências, instauração de inquérito policial ou oferecer denúncia (BRASIL, 1990). O Conselho Tutelar poderá notificar pais, adolescentes, servidores públicos, e, também, responsáveis por entidades, como também adotar providências para fazer-se cumprir os direitos da criança e do adolescente, ou para fazer cessar a violação a tais direitos, podendo atuar, para tanto, em parceria com o Ministério Público na apuração de abusos de pais contra seus filhos e aplicação das adequadas medidas protetivas.

Nessa linha de pensamento, Martins (2017, p. 01) define que “zelar pressupõe vigiar; proteger; tomar conta de alguém ou de algo com toda atenção, cuidado e interesse; velar, interessar-se por defender; administrar; defender ou tratar algo com empenho, diligência, precisão; ter especial empenho na execução de alguma tarefa”, buscando-se uma sociedade mais justa. No mesmo sentido, considerando a relevância constitucional sobre o assunto e a necessidade em se regulamentar e por em prática a execução da lei, o Estatuto da Criança e do Adolescente tem a nobre e difícil tarefa de materializar o preceito constitucional (VERONESE, 1999).

Desse modo, as atribuições desempenhadas pelo Conselho Tutelar devem corresponder ao dever de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, como está estabelecido no artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Por isso, é importante definir em que consiste referido dever tão importante na garantia dos direitos da criança e do adolescente.

(13)

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Em que consiste o dever do Conselho Tutelar de zelar pelo cumprimento dos direitos da Criança e do Adolescente?

1.3 HIPÓTESE

O dever de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente atribuído pelo artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente consiste em desempenhar um papel decisivo na defesa dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes, sendo que para o exercício dessa função, o Conselho Tutelar é dotado de parcela da soberania do Estado, traduzida em poderes e atribuições próprias, que coloca referido órgão na condição de autoridade pública que desenvolve serviço público relevante, dada absoluta autonomia e independência funcional do órgão face à Administração Pública municipal, da qual não faz parte (DIGIÁCOMO, 2018).

1.4 DEFINIÇÃO DO CONCEITO OPERACIONAL

Visando aclarar o tema, apresenta-se a definição do seguinte conceito operacional:

Dever do Conselho Tutelar de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente: Trata-se da obrigação de órgão autônomo da administração pública

municipal brasileira, destituído de função jurisdicional, que possui a atribuição de proteger os direitos da criança, para os efeitos legais, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e do adolescente, aquela entre doze e dezoito anos de idade.

1.5 JUSTIFICATIVA

O interesse pelo tema abordado na pesquisa surgiu dos estudos relacionados a grandes e oportunas inovações estabelecidas pela Lei n. 8.069/90 para a sistemática de atendimento à criança e ao adolescente, que prevê a criação, em todos os municípios brasileiros, de, ao menos, um Conselho Tutelar definido pela legislação em comento, como o órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente.

Este estudo também se mostra importante para a sociedade, tendo em vista que se trata de assunto que interessa às famílias porque o Conselho Tutelar é o órgão que deve

(14)

participar ativa e diretamente na garantia dos direitos e na solução dos problemas envolvendo suas crianças e adolescentes.

Por se tratar de uma Universidade comunitária, este trabalho é relevante para as famílias, pois pode constituir fonte de pesquisa e conhecimento aos leitores, e, nesse caso, tendo a oportunidade de saber e entender a função do Conselho Tutelar na sociedade, como também, conhecer o papel do conselheiro tutelar, enquanto ocupante de cargo público e dotado de autonomia e independência funcional em face da Administração Pública municipal, da qual não faz parte.

Também é relevante para o meio profissional porque esta monografia destaca as atribuições do Conselho Tutelar e demonstra que se retiram, na perspectiva da sistemática então vigente, determinadas responsabilidades da pessoa do Juiz competente para demandas na área, descentralizando decisões e desafogando o judiciário. Este estudo se justifica para o meio acadêmico, porque o tema tem sido pouco debatido e são poucos os trabalhos realizados nessa área. Pretende-se, com o presente estudo, destacar a atualidade do tema proposto, bem como sua relevância social, por se tratar de um tema eminentemente de interesse público, e assim evidenciar as benesses trazidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

1.6 OBJETIVOS

1.6.1 Objetivo geral

Analisar o artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente segundo o qual cabe ao Conselho Tutelar o dever de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente.

1.6.2 Objetivos específicos

Destacar a evolução, as doutrinas e as normas do Direito da Criança e do Adolescente.

Apresentar os princípios norteadores do Direito da criança e do adolescente. Conceituar juridicamente criança e adolescente.

Apresentar as principais disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente. Destacar os direitos fundamentais da criança e do adolescente.

(15)

Discutir sobre o papel do conselho tutelar na garantia dos direitos da criança e do adolescente, previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, conforme o artigo 131 de referido diploma legal.

1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Quanto ao nível, trata-se de pesquisa exploratória, pois o principal objetivo, segundo Motta e Leonel (2011, p. 101), é proporcionar afinidade com o objeto do estudo, fundamentando-se na ausência de conhecimento suficiente para formular, de forma adequada, um problema ou elaborar mais precisamente uma hipótese. Citando Köche (1997, p. 126), o referido autor afirma que, na pesquisa exploratória, é necessário “desencadear um processo de investigação que identifique a natureza do fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se quer estudar”.

Em relação à abordagem, o presente estudo tem caráter qualitativo, sendo que, segundo Motta e Leonel (2011, p. 111), o pesquisador “apresenta as questões de pesquisa, procura estabelecer estratégias, no âmbito da pesquisa exploratória para poder sistematizar as ideias e, assim, construir suas categorias de análise”.

Por outro lado, quanto ao procedimento utilizado para coleta de dados, trata-se de pesquisa bibliográfica, porquanto busca responder a situação problema utilizando-se de fontes já publicadas sobre o tema, como doutrinas e artigos científicos. Nesse sentido, nas palavras de Leonel e Motta (2011, p. 112), a pesquisa bibliográfica “(...) se desenvolve tentando explicar um problema a partir das teorias publicadas em diversos tipos de fontes: livros, artigos, manuais, enciclopédias, anais, meios eletrônicos etc.”. As fontes de pesquisa usadas para coleta de dados consistiram essencialmente na legislação brasileira, em livros publicados por respeitáveis autores e doutrinadores, bem como artigos científicos correlatos à temática.

Também, efetuou-se uma pesquisa documental que é aquela baseada em dados primários, ainda não publicados, como as que foram empregadas neste trabalho monográfico, coletadas na legislação sobre o assunto.

Por se tratar de pesquisa qualitativa, o processo de análise de dados consistiu na análise de conteúdo, uma vez que se buscou coletar informações em materiais e documentos já publicados, interpretando-as a fim de construir o conhecimento teórico e formular um raciocínio, buscando trazer respostas à problemática que envolve a pesquisa.

(16)

1.8 ESTRUTURA DO RELATÓRIO FINAL

Esta monografia está estruturada em cinco capítulos. No primeiro capítulo, têm-se a introdução, na qual se contextualiza o tema e apresentam-se os objetivos deste trabalho.

O segundo capítulo traz as considerações iniciais sobre os direitos da criança e do adolescente no Direito brasileiro, com a evolução do Direito da criança e do adolescente no exterior e no Brasil, assim como as doutrinas e os princípios norteadores dos direitos das crianças e adolescente.

O terceiro capítulo tem como foco as principais disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei n. 8069/1990). Nele contém a definição dos termos criança e adolescente; os deveres da família, da sociedade e do Poder Público; os direitos das crianças e adolescentes, e, também, outras previsões relacionadas à política de atendimento de crianças e de adolescentes.

No capítulo quarto, descreve-se o Conselho Tutelar, ou seja, a sua forma de composição, as suas características, as suas atribuições e a sua competência, bem como os critérios de escolha dos conselheiros e os impedimentos à função. Enfatiza-se o papel do Conselho Tutelar na garantia dos direitos da criança e do adolescente.

(17)

2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ACERCA DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Neste capítulo abordam-se a evolução histórica, as normas, os princípios e as doutrinas que formaram o conteúdo do Direito da criança e do adolescente no Direito brasileiro. Durante muito tempo, a criança e o adolescente permaneceram bem mais distantes dos interesses sociais, e, consequentemente, das expectativas para a realização concreta de seus direitos. Nem sempre tiveram suas imagens tão divulgadas na sociedade como nos últimos anos. A esse respeito, é preciso considerar que:

Levados ao esquecimento social e dos escopos político-econômicos, perdem prioridade para minoria privilegiada que direciona o desenvolvimento do país. Nesse contexto são induzidos a, em nome da fome, deixarem se explorar, violentar...sem quaisquer restrições (VERONESE, 2001, p. 9).

Dessa forma, somente após as conquistas socias de movimentos de caráter internacional comprometidos com a proteção e a efetivação dos direitos humanos na sua luta pelo exercício da cidadania e as frequentes denúncias de violência infanto-juvenil, as crianças e adolescentes alcançaram a singela posição que ocupam hoje. Mesmo assim, ainda travam a difícil tarefa de conquistarem um patamar político, jurídico e social mais justo (VERONESE, 1994).

2.1 EVOLUÇÃO INTERNACIONAL DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O sistema internacional de direitos de proteção aos direitos humanos de crianças e adolescentes é firmado por dois tipos: homogêneo e heterogêneo. O sistema homogêneo é a universalidade, pois há documentos internacionais que tratam dos direitos de todos os seres humanos, mas que também se referem à criança, como, por exemplo, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) que trata de todos os seres humanos e não somente de um grupo. O sistema heterogêneo é paralelo ao sistema homogêneo, nele há documentos internacionais que têm como objetivo um grupo específico, como, por exemplos, a Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência e a Convenção sobre os direitos da criança, da ONU/1989 (LIMA, 2015).

No sistema internacional heterogêneo o estudo é realizado por meio de grupos que tutelam interesses das minorias (grupos que merecem atenção especial) como o grupo da infância, sendo que esse tratamento desigual (heterogeneidade) se justifica pela situação de

(18)

hipossuficiência, é um grupo que necessita de cuidados especiais. Representam documentos do sistema internacional heterogêneo na evolução internacional dos direitos da criança e do adolescente, segundo Lima (2015):

Convenções da OIT, de 1919. Nas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT)/1919 foram aprovadas seis convenções e duas delas tratavam de direitos da criança: Convenção sobre idade mínima para o trabalho na indústria; e a Convenção sobre a proibição do trabalho de crianças em certas atividades. Nos anos de 1917 e 1918, houve várias greves na Europa, inclusive com a participação de crianças que eram utilizadas como mão-de-obra e trabalhavam quase à exaustão, além de receberem salários menores quando comparados aos pagos aos adultos.

Declaração de Genebra, de 1924 ou Carta da Liga sobre a criança. Em 1919, foi criada a primeira associação para a tutela dos interesses das crianças, existente até hoje: Associação Salve as Crianças, a qual surgiu na Inglaterra devido ao trabalho de duas irmãs, após os horrores sofridos na 1ª Guerra Mundial, sendo que no pós-guerra, várias crianças ficaram órfãs. A declaração foi encampada pela Liga das Nações (atual Organização das Nações Unidas - ONU). Essa declaração foi o primeiro documento de caráter genérico voltado ao tratamento da infância, e não apenas ao trabalho infantil.

Declaração dos direitos da criança, de 1959: Essa declaração contém regras específicas, reforçando a ideia da vulnerabilidade da criança, adotando, em âmbito internacional, a doutrina da proteção integral, passando a referir-se às crianças como sujeitos de direitos. O Brasil estava quase 20 anos atrasado em relação ao tratamento internacional sobre o tema por pura opção legislativa, pois em 1979 instituiu o Código de Menores (direito do menor), muito embora o legislador já pudesse ter adotado a doutrina da proteção integral. Essa declaração encampou dez princípios, mas se verificou o mesmo problema ocorrido com a Declaração Univeral dos Direito Humanos que exigiu a elaboração de pactos para lhe conferir efetividade. A edição de um documento internacional que conferisse força jurídica obrigatória era imprescindível, pois até então os já existentes careciam de coercibilidade.

Convenção sobre os direitos da criança. Os debates sobre a Convenção dos direitos das criança teve início no ano de 1979, mas só foi aprovada dez anos depois. Essa convenção, aprovada em 1989, possui várias características, como: acolhe a concepção do desenvolvimento integral da criança; reconhece a absoluta prioridade e o superior interesse da criança, os quais passam a ser a regra de ouro do direito da criança e do adolescente. Todas as decisões a serem tomadas devem respeitá-los, têm reflexos nas políticas públicas, relações familiares, decisões judiciais, trata-se de regra que relativiza todas as demais previstas no Estatuto da Criança e do

(19)

Adolescente. Todavia, com o passar do tempo, percebeu-se a necessidade da implementação de outros documentos relativos aos direitos da criança e do adolescente, pois somente a Convenção era insuficiente. Verificou-se a importância de aprofundamento em relação a alguns temas específicos, como os relacionados à exploração infantil; envolvimento de crianças e adolescentes em confrontos armados; e autores de ilícitos penais; prevenção da delinquência juvenil; administração da justiça da infância e da juventude e privação da liberdade de crianças e adolescentes.

2.2 EVOLUÇÃO DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL

Os direitos da criança e do adolescente no Brasil, ao longo dos tempos, vêm avançando, embora se tenham poucos registros e referências até o início do século XX. Destacam-se as seguintes fases do direito da criança e do adolescente, no Brasil, segundo Andrade (2018):

Abandono das crianças no Brasil Colônia. No Brasil Colônia, as crianças abandonadas eram de responsabilidade dos municípios, que não tinham nenhuma ação efetiva para assumirem responsabilidades, pois alegavam a falta de recursos econômicos e logísticos, sendo que, na realidade, o que ocorria era um verdadeiro descaso para com esse serviço. Diante dessa situação, surgiu no Brasil, a roda dos expostos.

Roda dos expostos. Baseada em uma instituição originária da Europa medieval, a Roda dos expostos permaneceu no Brasil durante os três grandes regimes do período colonial, e, somente no período republicano, por volta da década de 1950, teve fim. Essa roda era uma tábua cilíndrica dividida ao meio, que ficava fixa em um muro ou janela das instituições (mosteiros e hospitais), no qual o expositor colocava a criança que pretendia abandonar, e impulsionava a forma cilíndrica que girava, consequentemente, colocando o infante para dentro da instituição, e posteriormente, acionando um sino que alertava o responsável pela vigia que ali chegara uma criança, dando, nesse meio tempo, oportunidade de fuga e de garantia do anonimato do expositor que abandonava o infante na instituição. Esse sitema, conforme define Marcílio (2001 apud ANDRADE, 2018, p. 01):

[...] Seria um meio encontrado para garantir o anonimato do expositor e assim estimulá-lo a levar o bebê que não desejava para a roda, em lugar de abandoná-lo pelos caminhos, bosques, lixo, portas de igreja ou de casas de família, como era o costume, na falta de outra opção. Assim procedendo, a maioria das criancinhas morria de fome, de frio, ou era comida por animais, antes de serem encontradas e recolhidas por almas caridosas.

(20)

Essas rodas multiplicaram-se, e acolheram as crianças até meados do século XIX, quando os médicos passaram a revelar os inúmeros casos de mortalidade nessas instituições de acolhimentos ao infante abandonado, quando, então, iniciou-se uma campanha para a extinção de tais rodas, as quais foram abolidas formalmente em 1927. Todavia, em São Paulo, funcionou até 1948; no Rio de Janeiro, até 1935; e em Santa Catarina, de 1828 a 1950.

Código de Menores do Brasil de 1927. Apesar das crianças da época não receberem pela legislação nenhuma forma de direito, garantia ou proteção, já havia preocupação, mesmo que de uma forma não tão impactante, como nos dias atuais, de se protegê-las, a começar pela liberdade dos infantes que eram tratados, na lógica de que, quanto mais pobres, mais delinquentes, tendo então que receber tratamento do controle policial, de forma a serem recolhidas e utilizadas para o trabalho, para acarretar riqueza para o país. Neste sentido, afirma Custódio (2009 apud Andrade, 2018, p. 01) que “a consequência disso ficou a cargo do direito penal, para solucionar essa problemática sobreposta, pelo discurso de que se as crianças eram o futuro do país, elas deveriam ser corrigidas a fim de se tornarem adultos bons e honestos”.

Assim começa a criminalização e o Código Penal da República surgiu para reprimir a infância pobre brasileira, tornando a legislação penal uma verdadeira forma de controle das classes sociais, sendo promulgado o Decreto n. 16.272, de 20 de dezembro de 1923, a primeira norma de proteção aos menores e delinquentes, vítimas da pobreza; em 1º de dezembro de 1926, criou-se o primeiro Código de Menores do Brasil, aprovado e instituído em 12 de outubro de 1927, sendo o primeiro da América Latina, e a primeira lei de forma oficial no Brasil que tratava da criança e do adolescente, arbitrado pelo Juiz de menores, instituindo-se a doutrina da situação irregular e estabelecendo critérios para a identificação de menores em situação irregular.

Para Oliveira (2013 apud ANDRADE, 2018), essa mudança de entendimento quanto à culpa, responsabilidade e a capacidade de entendimento das crianças e adolescentes, modificou o termo menor, não de forma expressiva, mas utilizado para designar crianças e adolescentes em situação de carência moral e material, e os infratores. Diante dessa perspectiva, pode-se dizer que o Estado falhou diversas vezes ao tentar dar as crianças e aos adolescentes uma política de assistência, apenas estimulou a inserção dos infantes nas atividades trabalhistas. Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM). Trata-se de instituição criada para solucionar o problema do menor, modificando a idéia de que as crianças e os adolescentes abandonados, afetiva e economicamente, eram uma ameaça social, tendo como prerrogativa a maneira autônoma de elaborar e introduzir uma política nacional.

Código de menores de 1968. Trata-se de normativo que apesar de trazer poucas inovações em relação ao Código anterior de 1927, mantém a repressão, mas passa a tratar o

(21)

menor como infrator e não mais como delinquente. Todavia, apesar de ter sido criado com promessas de melhor proteção ao menor carente, abandonado e infrator, provocou muitas discussões entre os especialistas e a situação das crianças e dos adolescentes não teve especial atenção dos governantes e da sociedade. Assim, esse código, em 1979, foi substituído hoje pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Constituição Federal/1988. A legislação pátria resguarda o direito da criança e do adolescente, dispondo o dever de todos em assegurar a esses os seus direitos fundamentais, confome o art. 227, pelo qual:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

A Carta Magna também garante a defesa do direitos da criança e do adolescente, determinando que: “Art. 228: São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial (BRASIL, 1988).

Estatuto da Criança e do Adolescente. A Lei n. 8069, de 13 de julho de1990, instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente, que nasceu dos momentos democráticos de elaboração do artigo 227 da Constituição Federal/1988, os quais propuseram novos paradigmas para a proteção desses, que hoje são sujeitos de direitos, pessoas em fase peculiar de desenvolvimento, destinatários de prioridade absoluta. Os dispositivos de referido Estatuto visam tutelar os direitos das crianças e dos adolescentes, de forma exclusiva, e de forma mais ampla, definindo ações e procedimentos para manutenção e aprimoramento dos seus direitos, conforme dispõe o art. 3° do citado Estatuto, como segue:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem (BRASIL, 1990).

(22)

Lei 13.431/2017. Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Esta lei, assegura mecanismos de prevenção à violência contra as criança e os adolescentes, bem como, cria medidas que protegem e estabelecem procedimentos para a tomada de depoimentos dos menores nas esferas policial e judiciária. Referida lei, como forma de resguardar o menor das mais constrangedoras situações, determina que em caso de prestar depoimentos, seja aos órgãos de proteção, nas delegacias, ou ainda nos fóruns judiciais, a criança deve ser ouvida/inquirida por escuta especializada, a fim de minimizar as consequências do ato, como segue:

Art. 7º Escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre situação de violência com criança ou adolescente perante órgão da rede de proteção, limitado o relato estritamente ao necessário para o cumprimento de sua finalidade.

Art. 8º Depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária.

Art. 9º A criança ou o adolescente será resguardado de qualquer contato, ainda que visual, com o suposto autor ou acusado, ou com outra pessoa que represente ameaça, coação ou constrangimento.

Art. 10 A escuta especializada e o depoimento especial serão realizados em local apropriado e acolhedor, com infraestrutura e espaço físico que garantam a privacidade da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência (BRASIL, 2017).

Assim, tem-se que, atualmente, o ordenamento jurídico brasileiro está devidamente amparado por normas que garantem e asseguram os direitos da criança e do adolescente.

2.3 DOUTRINAS DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

As três doutrinas básicas da criança e do adolescente correspondem a três etapas históricas: etapa de caráter penal indiferenciado, etapa de cautela tutelar e etapa de caráter penal juvenil. São elas, a doutrina do direito penal do menor; a doutrina da situação irregular; e a doutrina da proteção integral, como se passa a expor.

A doutrina do direito penal do menor teve início no Brasil, no começo do século XIX. Nesse caso, a imputabilidade penal iniciava aos sete anos de idade, a doutrina de direito penal justificava a imposição das mesmas penas a todos, sem distinção de idade, apenas com sanções atenuadas para os menores de idade; havia apenas uma lei penal, que servia tanto para o adulto como para a criança e ao adolescente. Os menores eram tratados como adultos, recebiam as mesmas penas pelos mesmos delitos e eram recolhidos nos mesmos estabelecimentos (LIBERATI, 1991). Em 1830, com o primeiro Código Penal do Brasil independente, adotou-se o critério biopsicológico, baseado no discernimento, entre sete e quatorze anos. O Código Republicano de 1890 continuou com o mesmo critério, assim com

(23)

quatorze anos o adolescente estava sujeito aos rigores da lei penal geral, aplicada aos adultos, a qual podia retroagir até aos nove anos. Nesta etapa os menores era tratados praticamente da mesma maneira que os adultos (CURY, 2005).

A doutrina da situação irregular do menor, de caráter tutelar, fundada no binômio carência e delinquência, iniciou-se a partir do primeiro juizado de menores realizado em 1923; as crianças e os adolescentes deixaram de ser tratados como adultos, pelo rigor da lei penal; entretanto, começou a se admitir a criminalização da pobreza e a forte tendência a sua institucionalização (ISHIDA, 2011). Com o Código de Menores de 1979, mesmo indo contra as diretrizes internacionais, a doutrina da situação irregular foi definitivamente implantada no Brasil, esta lei tratava o menor infrator como se fosse um portador de certa patologia social, deixando de lado suas necessidades de proteção e segurança. São apresentados, principalmente, mecanismos de defesa contra os jovens, dificultando sua reinserção social. Depois de muitas críticas a esse tipo de tratamento às crianças e aos adolescentes, essa doutrina foi totalmente superada pela doutrina da proteção integral (SPOSATO, 2006 apud HOLANDA, 2012).

A doutrina na proteção integral e o direito da criança e do adolescente decorreu de longo processo histórico, com vários documentos internacionais que trataram da matéria, que demonstravam a preocupação da comunidade internacional com os direitos da criança e do adolescente. Desse modo, a Lei n. 8.069/90 instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil, revolucionando o direito infanto-juvenil ao implantar a doutrina da proteção integral. É integral, porque segue o preceito da Constituição Federal/1988, em seu artigo 227 que determina e assegura os direitos fundamentais de todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de qualquer tipo (LIBERATI, 1991), elevando a criança e o adolescente à condição de cidadãos, como sujeitos de direitos e deveres. No âmbito mundial, essa etapa iniciou-se em 1959, com a Declaração Universal dos Direitos da Criança. Essa doutrina está prevista no art. 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente, quando determina que se deve assegurar, por lei, ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim facultar à criança e ao adolescente o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade, sendo esta uma ordem sequencial de prioridades (BRASIL, 1990).

Para Vasconcellos [s/d] no âmbito do poder familiar que tem como finalidade proteger a criança e o adolescente, o direito dos pais não mais se sobrepõe aos dos filhos, pois a prioridade é a proteção dos interesses da criança, considerando sua pouca idade e a incapacidade de discernir. A lei estabelece como os pais devem desempenhar suas funções; desse modo, o direito traça limites de conduta na relação entre pais e filhos. O afeto é

(24)

fundamental no contexto familiar, mas a formalidade do vínculo jurídico é ineficaz. Não cabe ao direito decidir de que forma os pais devem agir em relação a seus filhos, mas as relações familiares devem se limitar ao controle dos princípios orientadores, porém sem dificultar a autonomia dos pais.

2.4 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente é formada por um conjunto de princípios e regras que regem diversos aspectos da vida infanto-juvenil, desde o nascimento da criança até a maioridade, num sistema aberto que traz a segurança necessária para delimitação das condutas. Esses princípios, são essenciais para as relações jurídicas por estabelecerem equilíbrio e justiça entre as partes; têm por finalidade assegurar os direitos fundamentais da criança e do adolescente com normas protetivas diferentes das aplicadas aos adultos, embasadas na Constituição Federal/1988 e consignados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (CANOTILHO, 1998).

Dentre os princípios que norteam o direito da criança e do adolescente, destacam-se: princípio do melhor interesse da criança e do adolescente; princípio da prioridade absoluta; princípio da municipalização; princípio da brevidade e princípio da convivência familiar, como se apresenta a seguir.

O princípio do melhor interesse da criança e do adolescente é originário do instituto protetivo do direito anglo-saxônico, pelo qual o Estado outorgava para si a guarda dos indivíduos juridicamente limitados (menores e loucos). No século XVIII, o instituto foi desmembrado para que se separasse a proteção infantil da do louco, oficializando-se pelo sistema jurídico inglês, em 1836, o princípio do melhor interesse. A aplicação desse princípio limitava-se à criança e aos adolescentes, mas esse paradigma mudou quando a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança adotou a doutrina da proteção integral e reconheceu os direitos fundamentais para a infância e a adolescência, incorporada pelo artigo 227 da Constituição Federal/1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Trata-se de princípio orientador que tem como objetivo determinar a primazia das necessidades da criança e do adolescente como critério de interpretação da lei, para solução de conflitos o u elaboração de futuras normas; esse princípio assegura que, em qualquer situação ou problema que envolva crianças e adolescentes, seja sempre buscada a alternativa mais apta a satisfazer seus direitos, para que seus interesses estejam sempre em primeiro lugar (PEREIRA, 1999).

(25)

Entretanto, nem sempre o objetivo do melhor interesse prevalece na prática. É comum que os profissionais que atuam na área da infância e da juventude se esqueçam de que os destinatários finais da doutrina protetiva são a criança e o adolescente e não o pai, a mãe, os avós ou outros parentes. Dessa forma, o melhor interesse da criança e do adolescente nem sempre é atingido, uma vez que as equipes técnicas insistem em buscar vínculo jurídico em vez de afeto, algo essencial para o crescimento na infância e na juventude. Privar a criança e o adolescente do direito fundamental à convivência familiar é desrespeitar o princípio do melhor interesse. Para que haja a aplicação do princípio é imprescindível que o direito goze de proteção constitucional em primazia, ainda que colidam com o direito dos próprios familiares (NOGUEIRA, 1991).

O princípio da prioridade absoluta, conforme Ishida (2011), é um marco na mudança ao tratamento da criança e dos adolescentes e se trata de uma conquista da sociedade brasileira. Isso só ocorreu devido a mobilização da sociedade civil que levou à assembleia constituinte de 1987 duas propostas de iniciativa popular: Criança e Constituinte e Criança: Prioridade Nacional – que deram origem ao texto do artigo 227, da Constituição Federal/1988, pelo qual:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, grifo nosso).

O termo absoluta, presente no artigo 227, da Constituição Federal/1988, confere uma necessidade de aplicação invariável e incondicionada dessa norma em todos os casos que envolvam crianças e adolescentes, redigida de forma compatível com as peculiaridades da infância; é bastante abrangente e impõe ao Estado, à sociedade e à família o dever de assegurar, com prioridade absoluta, todos seus direitos e garantias. Referido artigo constitucional está repetido no artigo 4º do ECA, detalhando a norma da prioridade absoluta para facilitar sua aplicação, como segue:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

(26)

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude (ISHIDA, 2011, p. 9; BRASIL, 1990).

Não poderia ser diferente, uma vez que a condição de desenvolvimento da criança impõe a necessidade de coordenação dos diferentes atores para garantia plena dos direitos das crianças. Em diversos casos, como no direito de receber o aleitamento materno, apenas a mãe (família) é capaz de amamentar; no entanto, sem uma tutela estatal que garanta à mãe licença maternidade remunerada, tal direito estaria prejudicado. O mesmo ocorre em casos de extrema vulnerabilidade social, em que o apoio do Estado e da sociedade é necessário para que a família tenha condição de garantir a convivência familiar saudável, essencial ao desenvolvimento da criança. Da mesma forma como a prioridade absoluta consta no texto constitucional porque a sociedade se organizou e pleiteou essa transformação, é pela ação da sociedade, juntamente à família e o Estado, que esta prioridade vem ganhando maior relevância e efetividade com o passar do tempo (NOGUEIRA, 1991).

O princípio da municipalização se aplica na política assistêncial e descentralizada das ações governamentais; tem como objetivo facilitar o atendimento dos programas assistenciais às crianças e aos adolescentes, uma vez que o município tem papel fundamental na percepção das necessidades infanto-juvenis e na aplicação da doutrina da proteção integral, sem prejuízo da responsabilidade solidária dos Estados e da União (ISHIDA, 2011). Nesse sentido, o ECA, em seu artigo 88, inciso I, prevê a municipalização do atendimento à criança e ao adolescente, conforme previsão do artigo 227, parágrafo 7º, da Constituição Federal (BRASIL,1988). Esse princípio foi adotado a fim de melhor atender as necessidades das crianças e adolescentes, uma vez que cada região apresenta características específicas. Para que seja assegurada a prioridade das crianças e dos adolescentes nos programas sociais e para que a destinação de recursos para programações culturais, esportivas e de lazer seja voltada para a infância e a juventude, mostra-se indispensável que a municipalização se torne real, devendo ser exigido dos municípios que criem seus conselhos (inclusive com a atuação do Ministério Público) e que fiscalizem a elaboração da lei orçamentária. Destaca-se que é importante que os Estados e a União sejam solidários aos Municípios, para que os direitos fundamentais infantojuvenis sejam tutelados e resguardados de fato, e que todos os membros da sociedade, especialmente o Poder Público, disponibilizem os meios necessários para tanto (LIBERATI, 1991).

O princípio da brevidade, para Veronese (2001), é um dos basilares na aplicação da medida socioeducativa privativa de liberdade; consiste no limite de tempo da manutenção

(27)

da medida aplicada que deverá ser o mais breve possível, ou seja, apenas o necessário para reintegrar na sociedade o adolescente em conflito com a lei, uma vez que esta deverá ser cumprida em estabelecimento fechado com duração mínima de seis meses e máxima de três anos conforme art. 121, §§ 2º e 3º do ECA (BRASIL, 1990).

A privação de liberdade deverá ser cumprida numa entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo (art 123, caput, 1ª parte), já o brigo este previsto no art 101,VII, é a medida específica de proteção. A ideia é não por juntos o adolescente que precisa ser internado e o que precisou abrigar-se; o primeiro, responsabilizado por ato infracional grave, e o segundo, carecedor de cuidados, apenas. A separação entre internados, tendo por critério a gravidade dos atos infracionais, corpo físico e idade, busca afastar dos mais violentos os mais pacatos, e dos mais fortes os mais fracos. Pelos objetivos que visa o Estatuto, essa medida deve resultar em proteção ao reeducando, possibilitando-lhe a realização de atividades educacionais institucionalizadas que lhe forneça novos paradigmas para o convício social, uma vez que o ideal é a permanência destes no seu lar, junto com seus familiares, por força do preceito constitucional, conforme o art. 227 da CF (ELIAS, 1994).

Segundo o princípio da convivência familiar, é um direito fundamental da criança e do adolescente viver junto à sua família natural ou subsidiariamente à sua família extensa. A garantia da convivência familiar se perfaz por meio de dois princípios basilares:o da proteção integral e o da prioridade absoluta, segundo Cury (2005). Esse direito é reconhecido constitucionalmente no art. 227 da CF (BRASIL, 1988) que impõe à família, à sociedade e ao Estado o dever de assegurar à criança e ao adolescente o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, inclusive à convivência familiar e comunitária, colocando-os a salvo de toda forma de negligência, violência e crueldade; é assegurado no plano infraconstitucional assim como pelo art. 19, do ECA, pelo qual a criança ou o adolescente tem o direito de ser criado pela sua própria família, como regra geral, e excepcionalmente, por família substituta (BRASIL, 1990).

Para Cury (2005), a família é o lugar normal e natural de se efetuar a educação, de se aprender o uso adequado da liberdade, e onde há a iniciação gradativa no mundo do trabalho. É o local em que o ser humano em desenvolvimento se sente protegido e de onde é lançado para a sociedade e para o universo. É fundamental que o Estado coopere nesse papel, que embora, entregue à família, é função de toda a sociedade. Por isso, a criança ou o adolescente que estiver, por qualquer motivo, retirado do convívio da família, em razão de programa de acolhimento familiar ou institucional, deverá ter sua situação reavaliada, no máximo a cada seis meses, cabendo ao juiz decidir pela sua reintegração familiar, ou colocação em família

(28)

substituta. Essa decisão deve ser fundamentada, com base nos laudos e relatórios de uma equipe multidisciplinar.

(29)

3 PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)

Este capítulo apresenta as principais disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (Lei 8069/1990), que trata, preliminarmente, da definição de criança e de adolescente; dos deveres da família, da sociedade e do Poder Público; e da forma como os cidadãos e as entidades que trabalham por essa matéria exigirão que em qualquer circunstância crianças e adolescentes sejam corretamente tratados. Referido Estatuto dá poderes aos cidadãos, às entidades governamentais e não-governamentais e às autoridades, para se fazer valer os direitos fundamentais da criança e do adolescentes e impedir que sejam violados.

3.1 CONCEITO JURÍDICO DE CRIANÇA E DE ADOLESCENTE

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu art. 2º, distingue o atendimento sócio-educativo com base no conceito de criança e de adolescente, que é baseado na idade não considerando os aspectos psicológico e social. Desse modo, criança é aquela pessoa que tem até 12 anos incompletos; já adolescente é o que tem entre 12 anos e 18 anos de idade, completos. Assim, estabelece referida legislação: “Art. 2º Considera-se criança, [...] a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade” (BRASIL, 1990).

Alguns autores fazem restrições à colocação do limite de 12 anos para o início da adolescência, pelo fato de a distinção pretendida pelo legislador não coincidir com a evolução biológica de uma fase para outra (LIBERATI, 1991). Entretanto, essa distinção é importante porque “a infância é o período decisivo em que se desenvolve a pessoa humana. A socialização que se inicia na infância prossegue na adolescência para a aquisição da consciência moral” (ALBERGARIA, 1991, p. 24).

No entendimento de Nogueira (1991, p. 9) “a fixação do início da adolescência pelo Estatuto, aos 12 anos completos, principalmente para responder por ato infracional, pelo processo contraditório com ampla defesa, não deixa, salvo melhor juízo, de ser uma temeridade, pois aos 12 anos a pessoa ainda é criança”. Já para Ishida (2011, p. 4) “a doutrina da proteção integral e o princípio do melhor interesse da criança e do adolescednte acabam necessariamente incluindo também o nascituro dentro dessa proteção”. Nesse caso, é certo que a interpretação do ECA leva à inclusão do nascituro na expressão criança, pois quis caracterizar aqueles seres humanos em peculiares condições de desenvolvimento, devendo ser em todas as hipóteses

(30)

respeitadas. Excepcionalmente, de acordo com o disposto no ECA (art. 2º § único), nos casos expressos em lei, aplicam-se as disposições de citado Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade (BRASIL, 1990).

No entanto, a legislação brasileira prevê a responsabilidade penal a partir dos 18 anos, conforme o art. 228 da Constituição Federal/1988, pois a intenção do legislador era preservar a criança até os 12 anos de idade; já o adolescente (de 12 aos 18 anos completos) também necessita de amparo legal, mas essa diferença na lei entre criança e adolescente é importante quando se trata da aplicação das medidas pela prática de uma ato infracional, que, se for o caso, aplicam-se as medidas sócioeducativas previstas no art. 112, I a VII do ECA (BRASIL/1990).

3.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais garantidos por lei ou por outros meios à pessoa humana, assim como todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (NOGUEIRA, 1991). Esses direitos estão garantidos no artigo 5º da Constituição Federal/1988 e consignados no Estatuto, tais como: o direito à vida, à saúde, à educação, à liberdade, ao respeito, à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à cultura, ao lazer, ao esporte, à profissionalização e à proteção no trabalho (LIBERATI, 1991). Tais direitos devem ser assegurados com absoluta prioridade, justamente em se tratando da criança e do adolescente, pela família, pela comunidade, pela sociedade e pelo Poder Público, devendo todos contribuírem com sua parcela para o desenvolvimento e proteção integral da criança e do adolescente (NOGUEIRA, 1991).

Destacam-se a seguir, os principais direitos constitucionais assegurados à criança e ao adolescente: direito à vida e à saúde; direito à liberdade, ao respeito e à dignidade; direito à convivência familiar e comunitária; direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer; direito à profissionalização e à proteção no trabalho, como se explana na sequência.

3.2.1 Do direito à vida e à saúde

Dentre os direitos fundamentais protegidos e assegurados pela Lei, o direito à vida e à saúde destaca-se por sua importância. Para assegurar o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, é dever do Estado efetivar políticas públicas voltadas ao atendimento e cuidado

(31)

desses. Nesse contexto, dispõe o artigo 7º do ECA, como segue: “Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (BRASIL, 1990).

Corroborando, Liberati (1991) esclarece que a criança e o adolescente, que estão em fase de desenvolvimento merecem a proteção especial da família, da sociedade e do Poder Público, devendo este criar condições e programas específicos que permitam seu nascimento e desenvolvimento de forma sadia e harmoniosa. Ainda, de acordo com os ensinamentos do autor:

O respeito que se deve dar a manutenção da vida constitui-se a pilastra central de toda a formação física e emocional da criança, O simples fato de ter sua mãe ao seu lado, no leito de um hospital, a criança mostrará rápida recuperação de sua enfermidade, pois além da ciência, o amor desempanha importante papel terapêutico (LIBERATI, 1991, p. 7).

Para Liberati, (1991), as condições dignas de atendimento à saúde são também asseguradas à gestante e à parturiente, com o acompanhamento de profissional competente e pelo Sistema Único de Saúde, como prevê o artigo 8º do ECA:

Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL 1990).

Referido artigo remete à ampla proteção ao nascituro, pois a tutela do direito à saúde começa com uma saudável gestação (BRASIL, 1990).

3.2.2 Do direito à liberdade, ao respeito e à dignidade

O Estatuto da Criança e do Adolescente garante o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade das crianças e adolescentes. Compreender o significado destas previsões legais exige entender a base ideológica sobre a qual o ECA foi edificado, pois os artigos representam as ideias que embasaram a elaboração desta Lei.

Nesse sentido, para Maçura, Cury e Garrido de Paula (199l) apud Ishida (2011), o direito à liberdade é uma faculdade que uma pessoa possui de fazer ou não fazer alguma coisa. No caso da criança e do adolescente há uma compatibilização com a doutrina da proteção integral, abrangendo o direito de estar nos logradouros públicos como espaços ao ar livre, como as praças; o direito à opinião e à expressão; o direito de crença e culto; o direito de lazer; o

(32)

direito de participação da vida familiar e da comunidade; o direito de participar da vida política; o direito de refúgio, de auxílio e de orientação. Ademais, a criança e o adolescente gozam da liberdade de locomoção, ainda que limitada, pois necessitam de autorização dos pais ou responsáveis para se locomoverem nos logradouros públicos, e dos critérios de conveniência e de educação por eles definidos. Assim, de acordo com o art. 106 do ECA, a criança não pode ser privada de sua liberdade, conforme dispõe: “Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente” (BRASIL, 1990; ISHIDA, 2011).

Para Cury (2005, p. 88), a lei protege a criança e o adolescente contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física ou moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais, tendo em vista a condição peculiar da pessoa em desenvolvimento. O direito ao respeito abrange a “preservação da imagem e da identidade pessoal”; tal particularização decorre de a lei reconhecer que a criança e o adolescente “gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana”; assim, estão protegidos por um direito de personalidade peculiar.

Ademais, o art. 18 do ECA, repetindo o disposto no art. 227 da Constituição Federal/1988, reconhece o direito à dignidade da criança e do adolescente, protengendo-os de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor, sendo, por isso, um grande avanço, pois demonstra claramente a preocupação do legislador quanto à necessidade de se defender o status dignatitis do menor. Assim, dispõe referido Estatuto: “Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor” (BRASIL, 1990).

O desrespeito ao direito à dignidade da criança e do adolescente poderá dar margem às ações civis públicas que serão propostas pelo Ministério Público, órgão que tem a incumbência de zelar por esses direitos e aos crimes previstos no Estatuto. Destaca-se que é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente. Esta função não se limita aos pais e aos responsáveis legais, entendendo-se a qualquer pessoa que tenha conhecimento de algum abuso ou desrespeito à dignidade da criança e ao adolescente, devendo comunicá-lo ao Ministério Público, que tem a obrigação legal de propor as medidas judiciais e extrajudiciais necessárias. Na verdade, a intenção foi de co-responsabilizar toda a sociedade pela garantia do direito da criança e do adolescente quando usou a expressão “é dever de todos [...]”. Desse modo, a norma legal existe e sua aplicação depende da mobilização de toda a sociedade, da

(33)

vontade política do governo e da atuação do Ministério Público, incumbido de zelar pelo efetivo cumprimento da mesma junto a Justiça da Infância e da Juventude (MARQUES, 2005 apud CURY, 2005).

3.2.3 Direito à convivência familiar e comunitária

Trata-se de direito fundamental para a criança e para o adolescente viver junto à sua família natural ou subsidiariamente à sua família extensa. Para Ishida (2011) a garantia da convivência familiar se perfaz por intermédio de dois princípios basilares: o da proteção integral e o da prioridade absoluta. A família natural é considerada prioritária, pois é a entidade na qual a criança e o adolescente devem permanecer, ressalvada a absoluta impossibilidade, devendo existir decisão judicialmente fundamentada. Para Nogueira (1991, p. 33) o ideal é que sejam criados no seio de sua família natural ainda que a família seja pobre, carente de recursos materiais. A família, quer de direito, quer de fato, não deixa de ser realmente o lugar ideal para a criação e educação da criança ou adolescente, pois será justamente em companhia de seus pais e demais membros que eles terão condições de um melhor desenvolvimento. A educação na família, desperta valores para enfrentar os desafios do cotidiano, é nela que está a base do pátrio poder. Só em casos excepcionais, mormente de abandono, é que devem ser colocados em família substituta, assegurando-lhes, no entanto, um ambiente sadio, ainda que modesto desenvolvimento (NOGUEIRA, 1991).

Nessa linha, Maçura, Cury e Garrido de Paula (199l) apud Ishida (2011) afirmam que somente na hipótese de direitos fundamentais ameaçados ou violados, permite-se a colocação da criança e do adolescente em família substituta. Ademais esses têm o direito de serem criados em ambientes saudáveis, livres de entorpecentes, podendo, no caso, serem afastados do genitor ou do responsável legal, conforme disposto no art. 130 do ECA: “Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum” (BRASIL, 1990).

Destaca-se que as atividades de prevenção do uso indevido de drogas relativas a criança e ao adolescente estabelecidas na Lei n. 11.343 (art. 19 e § único) devem ser

Referências

Documentos relacionados

Direção: Shawn Levy Gênero: Comédia Duração: 122 min.. CM:

O Cupom Fiscal ou a Nota Fiscal de Venda ao Consumidor, modelo 2, são documentos hábeis para acobertar o transporte de mercadorias, para entrega em domicílio de pessoa natural

Ou seja, o conceito dialético entre urbe, corpo e “eus” se tornam infinitos à medida que a linguagem e o discurso se tornam visuais, (i)materiais: “Quer se trate do corpo do

O handebol é um esporte coletivo que envolve passes de bola com as mãos, praticado entre duas

A sonoridade dos livros do Lobato foi conseguida através do uso de onomatopeias, maiúsculas, sinais de exclamação, interrogação e reticências (Novaes Coelho,

Os espaldares encurvados para trás eram mais raros que os retos,.. sendo os assentos

A publicação “Elementos para a avaliação do impacto da racionalização e da Coordenação Modu- lar na indústria de materiais de construção”, de ju- lho de 1978,

No caso da maçã ‘Fuji’, minimamente processada, a melhor coloração da polpa foi obtida com frutos processados a partir dos lotes de frutos inteiros armazenados até 78 dias