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Acesso 1 Inclusivo À Formação Profissional

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Academic year: 2021

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Acesso

Inclusivo À

Formação

Profissional

Stelio Ramos e Judith Baart

Co-financiado pela União Europeia

Guião prático, baseado nas experiências da

Young Africa Moçambique e da Light for the World Moçambique.

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Agradecimentos

Os últimos anos de trabalho em formação profissional de natureza inclusiva foram de muita aprendizagem. Estamos gratos pela oportunidade de o fazer e pelas pessoas com quem percorremos esta longa caminhada. Esta publicação foi redigida por Stélio Ramos e Judith Baart. Contudo, não teria sido possível sem a contribuição incomensurável de outras organizações e pessoas.

Gostaríamos de agradecer aos nossos parceiros, à equipa da Young Africa e aos franqueadores, bem como, em particular, a Aksana Varela, Rita Uane, Dorien Beurskens, Raj A. Joseph, Mahara Goteka e Christian Schäfer. Gostaríamos igualmente de agradecer aos nossos amigos e colegas da Light for the World, pelas suas sugestões e contribuições para esta publicação, especialmente a Iláuda Manala, Cristovão Hansine (em memória), Plácido Fernandes, Sander Schot, Svenja Schneider e Irmi Neuherz.

Por fim, gostaríamos de agradecer a Inês Vieira Ferraz, por ter dedicado o seu tempo à edição e revisão linguística.

Esta experiência, agora com mais de 4 anos, só foi possível com o apoio da União Europeia em Moçambique e da Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento, parceiros e financiadores deste investimento em inclusão, enquanto prioridade.

Um agradecimento especial vai para os estudantes, funcionários e empresários da Young Africa Moçambique, que fizeram parte desta viagem rumo à formação profissional de natureza inclusiva e que partilharam connosco as suas experiências e histórias.

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Introdução 6

Acessibilidade 10

Inscrição e acompanhamento dos alunos 18

Governação 26

Planificação curricular, execução e implementação 32

Relações externas 36

Recursos humanos 40

Conclusão 42

Anexo 1. Guião para auditoria de acessibilidade 46

Anexo 2. Cartão de pontuação em matéria de inclusão da deficiência nos

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Nos países em que o número de jovens é elevado e a taxa de desemprego é alta1, a formação técnico- profissional (FTP) é um método comprovado para mobilizar os jovens para o emprego ou o empreendedorismo. A FTP oferece aos jovens as competências necessárias para encontrar um estágio profissional, bem como a oportunidade de colocar em prática as competências adquiridas durante a sua formação. A formação profissional oferece aos jovens de um país como Moçambique aptidões práticas e, consequentemente, uma vantagem competitiva no mercado de trabalho.

No entanto, nem todos conseguem ter acesso a uma formação deste tipo. Até este momento, o acesso a uma educação e formação profissional adequadas a jovens com deficiência tem sido escassa em Moçambique. Os jovens com deficiência têm enfrentado dificuldades de acesso à formação em competências necessárias para ingressar no mundo do trabalho ou para criação do próprio emprego, por diversos motivos. Alguns deles são: falta de acessibilidade dos centros de formação; os professores não sabem como adaptar os seus métodos de ensino; os estudantes, pais e formandos não acreditam que os alunos com deficiência possam aprender, etc. No entanto, se os jovens com deficiência tiverem de gerar o seu próprio rendimento, é imperativo que aprendam as competências necessárias para o fazer!

Em 2015, a Young Africa Moçambique, através dos dois centros de formação profissional, especializada na formação técnico-profissional de jovens nos domínios agrícola, industrial e comercial, e a Light for the World, uma organização de desenvolvimento com experiência em inclusão de pessoas com deficiência, aliaram-se com um objectivo comum: tornar os centros de formação da Young Africa Beira e da Young Africa Agri-Tech Dondo nos primeiros centros de formação profissional acessíveis a jovens com deficiência em Moçambique.

Desde a sua fundação em 2008, a Young Africa Moçambique formou mais de 15 mil jovens. Durante o período de implementação de 2015 até 2018, foram formados 3,449 jovens, dos quais 285 eram jovens com deficiência. Importa referir que o projecto está a ser implementado com o financiamento da União Europeia e da Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento.

Introdução

1 Relatório da Organização dos

Trabalhadores Moçambicanos (2017) - A Dinâmica Actual do Mercado de Trabalho e Desafios do Movimento Sindical em Moçambique.

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Origem dos jovens

Dos 285 jovens com deficiência, 209 são oriundos da Beira, 25 do Búzi, 6 de Chibabava, 33 do Dondo, 5 da Gorongosa, 5 de outros distritos de Sofala (Caia, Inhaminga, Muxungue) e 2 de outras províncias (Manica e Zambézia).

Tipos de deficiência

A distribuição dos jovens e/ou alunos acima referidos por deficiência é a seguinte: deficiência visual/pessoa cega ou com visão reduzida 6, deficiência múltipla 4, familiar de uma pessoa com deficiência 5, mãe de criança com deficiência 5, deficiência intelectual 3, deficiência física 107, epilepsia 3, acidente vascular cerebral 2, deficiência auditiva 150. a c d g b f e g a Beira 209 33 25 6 5 5 2 Dondo Buzi Chibabava Gorongosa

Outros distritos de Sofala (Caia, Inhaminga, Muxungue) Outras províncias (Manica e Zambézia) b c d e f g deficiência auditiva familiar de uma pessoa com deficiência deficiência intelectual deficiência física mãe de criança com deficiência epilepsia deficiência visual/ pessoa cega ou com

visão reduzida deficiência múltipla acidente vascular cerebral 150 5 3 107 5 3 6 4 2

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Inclusão – por onde começar

Quer ter a certeza de que as pessoas com deficiência estão incluídas no seu centro de formação profissional? Se esse for o caso, por onde começar?

Existem muitos factores passíveis de impedir que as pessoas com deficiência tenham acesso às oportunidades de educação e trabalho oferecidas num centro de formação. Existem, por exemplo, razões físicas – estas pessoas simplesmente não conseguem, de forma autónoma, chegar ao edifício, entrar ou circular pelo centro. Por outro lado, podem existir motivos relacionados com a comunicação – estas pessoas não recebem as informações, porque elas são partilhadas num formato que não lhes é acessível. Por fim, podem existir motivos relacionados com as atitudes - as pessoas com deficiência podem ser alvo de tratamento desrespeitoso, ou elas próprias podem pensar que não são capazes de estudar ou participar.

A maneira mais fácil de começar é descobrir o que já está a ser feito bem e o que pode ser melhorado!

• Realizar uma auditoria de acessibilidade, a fim de determinar quais as áreas dos centros de formação técnico-profissional acessíveis para pessoas com deficiência e onde é necessário melhorar. Em seguida, elaborar um plano de acção realista, para decidir que tarefas abordar primeiro. Para mais informações sobre a auditoria de acessibilidade, consultar o Anexo I.

• Realizar uma avaliação da inclusão da deficiência, utilizando a ferramenta cartão de pontuação em matéria de inclusão da deficiência (Disability Inclusion Score Card - DISC). Esta é uma forma útil de obter um entendimento profundo sobre diversos problemas que afectam a inclusão na instituição. Os resultados podem ser inseridos num plano de acção, sendo também possível fornecer dados para demonstrar o progresso já alcançado. O cartão de pontuação em matéria de inclusão da deficiência encontra-se no Anexo II.

A avaliação da situação actual ajudá-lo-á a entender o que já está a correr bem e a desenvolver, subsequentemente,um plano de acção para decidir por onde começar a melhorar.

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O que é o acesso inclusivo à formação

profissional?

Esta publicação/este manual constitui um guião de apoio, destinado a todos os que ambicionam tornar o seu centro de formação profissional acessível para os jovens com deficiência em Moçambique.

Garantir que as pessoas com deficiência possam beneficiar integralmente da formação oferecida pelo seu centro significa reconsiderar vários aspectos. Este guião descreve as diferentes áreas onde poderá ser necessário implementar algumas mudanças no seu centro. Estas áreas são: administração, inscrições de estudantes, recursos humanos, planificação e implementação do currículo, acessibilidade e relações externas. Para cada uma dessas áreas, será explicado o que deve ser feito, descrito o que aconteceu na Young Africa, além de serem fornecidas algumas dicas e orientações.

A inclusão da deficiência significa que as pessoas com deficiência estão incluídas nas actividades diárias e desempenham papéis semelhantes aos das pessoas sem deficiência. Isso implica a remoção das barreiras físicas, de comunicação e de atitude que impedem a participação plena da pessoa na sociedade.

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A acessibilidade é a possibilidade de ter acesso ou de beneficiar de qualquer produto, dispositivo, serviço ou ambiente. Se algo é acessível, isso significa que todas as pessoas, com diferentes capacidades, são capazes de usufruir da sua utilização, sem enfrentar qualquer tipo de barreiras.

Entende-se amiúde que um edifício é acessível, se as pessoas que utilizam cadeiras de rodas conseguirem aceder a ele de forma independente. No entanto, a acessibilidade é muito mais do que isso – ela significa também garantir que os serviços prestados por uma organização sejam acessíveis. Ou seja, garantir que todas as pessoas, com ou sem deficiência, possam entrar no edifício e utilizar os serviços do centro de formação. É comum pensar-se que basta construir uma rampa. Porém, a acessibilidade significa igualmente que as pessoas possam comunicar, deslocar-se de forma independente, receber informação e muito mais.

Em Moçambique, foi aprovado o Decreto n.º 53/2008 de 30 de Dezembro (regulamento relativo à construção e manutenção dos dispositivos técnicos de acessibilidade e à circulação e utilização dos sistemas de serviços e lugares públicos pela pessoa com deficiência física ou de mobilidade condicionada). Este documento regula procedimentos referentes à acessibilidade física dos edifícios de utilidade pública (escolas, hospitais, centros de formação, etc.), para que estes sejam acessíveis às pessoas com deficiência.

Passaram-se dez anos desde que o Regulamento entrou em vigor e o governo tem envidado esforços para assegurar que todas as obras públicas (escolas, hospitais, centros de formação, etc.)se pautem pela acessibilidade. Por essa razão, algumas escolas e hospitais possuem rampas. Porém, ainda existem muitos desafios, porque alguns edifícios de utilidade pública carecem de adaptação e outros possuem rampas que não obedecem às medidas regulamentadas pelo decreto. Além disso, muitos dos edifícios de utilidade pública construídos por particulares não obedecem aos requisitos de acessibilidade previstos pelo decreto.

O que fez a Young Africa?

Realização de uma auditoria de acessibilidade

Como é que um centro de formação profissional sabe o que deve ser feito para ser completamente acessível aos estudantes e pessoal? Uma forma de o saber é realizar uma auditoria de acessibilidade.

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Requisitos

para um/a

auditor/a de

acessibilidade

2 No Anexo I, poderá consultar

uma cópia do guião da auditoria de acessibilidade

Um/a auditor/a de acessibilidade deverá:

• Ser capaz de demonstrar experiência prévia em orientar auditorias de acessibilidade;

• Conhecer a legislação nacional existente, em termos de acessibilidade;

• Ser capaz de facilitar a auditoria de forma participativa, criando máximo envolvimento e consciência;

• Ser capaz de fornecer recomendações claras e inequívocas no local e por escrito;

• Ser capaz de ajudar a organização que realiza a auditoria de acessibilidade a implementar o plano de acção.

A auditoria de acessibilidade é uma ferramenta, composta por um guião de orientação, um modelo de relatório e um plano de acção, que visa avaliar se uma instituição de utilidade pública (escolas, instituições de formação profissional, entre outras) e os seus serviços são ou não acessíveis para pessoas com deficiência física, visual, intelectual e auditiva. Esta ferramenta avalia

os escritórios e os locais de trabalho (as instalações interiores e exteriores).

A ferramenta de auditoria de acessibilidade2 foi desenvolvida a nível internacional pelo Centro de Ambiente Acessível (CAE), tendo sido adaptada para ser utilizada em Moçambique pela Light for the World. A finalidade de uma auditoria de acessibilidade é a identificação das barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência. O objectivo é não só centrar a atenção no que está em falta, mas também nas oportunidades existentes para melhoria.

A auditoria de acessibilidade deve ser realizada por um/a auditor/a de acessibilidade, juntamente com os funcionários e os alunos do centro de formação profissional, bem como, sempre que possível, em conjunto com associações de pessoas com deficiência.

Com a equipa de auditoria, percorra lentamente o espaço que está a ser alvo de verificação. Comece pela entrada do pátio ou do edifício e circule lentamente por toda a área, verificando todos os itens da lista. Percorra todo o terreno e os espaços do edifício, incluindo a recepção, as salas de aula, as oficinas, as áreas comuns e de lazer, os albergues, a biblioteca, a sala de informática, o refeitório e a área administrativa. Envolva as organizações de pessoas com deficiência na auditoria, para conhecer também os seus pontos de vista. Após a realização da auditoria, é elaborado um plano de acção,que discute quais os passos que podem ser dados, de forma a melhorar a acessibilidade das pessoas com deficiência.

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Alterações físicas ou arquitetónicas nos centros de formação

Quando a auditoria de acessibilidade foi realizada nos centros da Young Africa na Beira e em Dondo, algumas das recomendações feitas foram no sentido de se construir um caminho pavimentado que conduzisse da estrada principal até ao portão principal, para uma fácil orientação dos utentes, e de se colocarem faixas de advertência no passeio, para que as pessoas com deficiência visual não caminhassem acidentalmente pela estrada. Naturalmente, nem tudo pôde ser imediatamente resolvido, devido às restrições financeiras. Porém, apresentam-se a seguir algumas das alterações feitas pelos centros para resolver os problemas de acessibilidade: • o Foram construídas rampas ao redor dos dois centros. As

rampas facilitam o acesso aos edifícios para as pessoas que tenham dificuldade em utilizar facilmente as escadas, como os utilizadores de cadeiras de rodas.

• o Relativamente à construção de sanitários acessíveis,foram construídos na Young Africa Beira dois sanitários de raiz, acessíveis e adaptados, e um sanitário no lar feminino. Na Young Africa Agri-Tech Dondo, foram construídos sanitários acessíveis de raiz, nos dois lares de estudantes, nos refeitórios e no bloco de salas de aula. Houve necessidade de construir sanitários acessíveis, porque os existentes eram de difícil utilização para as pessoas com limitações de mobilidade, visto que estas necessitam de sanitários que possuam portas com fechaduras ao nível adequado, sanitas com barras de apoio e banheiras com bancadas para fácil utilização. Nada disto existia nas instalações da Young Africa. Para assegurar que os utilizadores de cadeiras de rodas os pudessem utilizar de forma independente, foram construídos novos sanitários acessíveis e foram feitas adaptações no sanitário do lar feminino da Young Africa Beira.

• Foi reduzida a altura dos interruptores de iluminação,para permitir o acesso aos utilizadores de cadeiras de rodas e minimizar a sua dependência em relação a outras pessoas. • Foi reduzida a altura do balcão de atendimento aos

estudantes, para que as pessoas de baixa estatura e os utilizadores de cadeiras de rodas pudessem aceder aos serviços.

O orçamento pode ser um factor de limitação, quando se trata de implementar melhorias de acessibilidade, pois as alterações acarretam custos. No entanto, lembre-se de que as soluções podem ser simples e económicas. Por exemplo, por não ter conseguido adaptar o edifício para pessoas impossibilitadas de utilizar as escadas, a Young Africa mudou o curso de Corte e Costura para uma sala de aula no rés-do-chão.

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Sandra tem 35 anos, é viúva e mãe de quatro filhos. Adquiriu a deficiência após ter dado à luz o seu quarto filho, há quase seis anos. “Inicialmente, parecia uma simples trombose, mas depois de muitas idas ao hospital sem sucesso, decidi procurar um curandeiro (médico tradicional)que, em vez de

melhorar a minha situação, piorou o meu estado de saúde, tendo chegado ao ponto de não conseguir mexer mais os pés.” Apesar da descriminação e do medo, Sandra continua a sensibilizar outras mulheres com deficiência a abraçarem oportunidades como as que o projecto da Young Africa oferece. “Fui várias vezes desprezada e não por pessoas estranhas. Hoje, quando me encontram na rua com a minha bata da escola, perguntam-me para onde vou e se sou realperguntam-mente capaz de estudar e ter formação. É muito difícil acreditares em ti própria, quando todos à tua volta gritam que não és capaz. É necessário muito amor-próprio para sobreviver a isso.” Actualmente, Sandra está a concluir o curso de Corte e Costura na Young Africa e sonha em começar o seu próprio negócio para evitar a mendicidade.

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3 A legislação local sobre

acessibilidade é o Decreto n.º 53/2008 de 30 de Dezembro de 2008, que é um regulamento sobre construção e manutenção dos dispositivos técnicos de acessibilidade,sobre circulação e utilização de sistemas dos serviços públicos pela pessoa com deficiência ou com mobilidade condicionada e sobre as especificações técnicas e a utilização do símbolo internacional de acesso.

Dica: Muitos centros de formação profissional oferecem cursos de construção civil. Assim, os funcionários e os alunos destes cursos podem ser mobilizados para ajudar a melhorar a acessibilidade, bem como a inclusão da acessibilidade no currículo de formação, conforme a legislação local3 sobre a construção e a adaptação de edifícios

acessíveis. Esta constituirá uma ótima oportunidade de aprendizagem!

Além disso, foram construídos de raiz três edifícios acessíveis, na Young Africa Agri-Tech Dondo, designadamente,dois lares(um masculino e um feminino,com capacidade para 64 jovens cada)e um refeitório acessível,com capacidade para 128 jovens. Estes três novos edifícios seguiram as recomendações baseadas nos princípios de concepção universal e a legislação estabelecida no Decreto n.º 53/2008 de 30 de Dezembro, que regulamenta a construção de edifícios e instalações acessíveis para utilização por diversos grupos, com especial enfoque na pessoa com deficiência.

Formação e interpretação em linguagem gestual

A linguagem gestual é um modo de comunicação importante para as pessoas com deficiência auditiva. Assim, é importante que faça parte dos modos de comunicação do centro de formação, para garantir o acesso e permitir a partilha de todas as informações.

Por isso, a Young Africa decidiu oferecer formação básica em linguagem gestual, com a duração de 3 meses e uma carga horária de 64 horas, o que equivaleu a cerca de uma hora e meia por dia. Na referida formação, foram abordados tópicos básicos, como o alfabeto em linguagem gestual, a gramática, o nome de pessoas, etc., e nela participaram 30 pessoas (formadores, corpo administrativo e alguns estudantes com deficiência auditiva). Pensou-se em oferecer formação a este grupo em linguagem gestual, porque existia uma barreira de comunicação entre os estudantes com deficiência auditiva e os formadores na sala de aula e o pessoal administrativo, dificultando o tratamento de assuntos relacionados com a inscrição, pedidos de informações, etc.

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A experiência demonstrou que os estudantes provenientes de

meios rurais (Gorongosa e Búzi, em particular) não possuíam conhecimentos em linguagem gestual, ou seja, comunicavam através de gestos simples. Assim, estes jovens tiveram a possibilidade de participar na formação em linguagem gestual, oferecida pela Young Africa. Além disso, foram oferecidas formações em linguagem gestual, no âmbito dos programas de Reabilitação Baseada na Comunidade (RBC) para pessoas com deficiência auditiva e seus familiares, bem como activistas de RBC. O objectivo desta formação, no âmbito dos programas de RBC, foi desenvolver competências a nível local em linguagem gestual e, em simultâneo, preparar desde cedo os jovens com deficiência auditiva, para que não tivessem de enfrentar barreiras de comunicação em linguagem gestual, após serem referenciados para o centro de formação profissional da Young Africa.

A assimilação dos conteúdos foi positiva e permitiu uma melhor interacção entre os formadores e os estudantes com deficiência. A título de exemplo, um formador do curso de electricidade e uma formadora de informática receberam jovens com deficiência auditiva e não necessitaram de um intérprete para estabelecer a comunicação durante as aulas. Além disso, os formadores de serralharia e carpintaria empregaram actualmente, a tempo parcial, dois jovens com deficiência auditiva nos seus departamentos.

Alocação de intérpretes em linguagem gestual

A alocação de intérpretes em linguagem gestual teve como objectivo permitir que a comunicação entre estudantes com deficiência e pessoas sem deficiência, que não dominavam a linguagem gestual, ocorresse sem barreiras no centro da Young Africa. Os intérpretes tinham a incumbência de interpretar nas salas de aula, em reuniões e em pequenos e grandes eventos em que participavam pessoas com deficiência auditiva. A alocação de intérpretes permitiu que a inclusão fosse uma realidade em todos os eventos e momentos na Young Africa.

Os intérpretes em linguagem gestual podem ser encontrados, através das associações de pessoas com deficiência, neste caso a ASUMO4, NUDESMO5 e a EDUS6. Além disso, outros intérpretes que possuem formação em linguagem gestual provêm da Igreja Testemunha de Jeová.

O custo médio mensal de um intérprete em linguagem gestual é de aproximadamente 8,000.00 MZN (correspondente a 123 euros por mês). Neste caso, a Light for the World pagou aos intérpretes de linguagem gestual, conforme a necessidade dos alunos com deficiência auditiva.

4 ASUMO: Associação dos

Surdos de Moçambique 5 NUDESMO: Núcleo de

Deficientes Surdos de Moçambique

6 EDUS: Associação Educar os

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Em princípio, os intérpretes são requisitados para todos os cursos onde estiverem a ser formados jovens com deficiência auditiva. A missão dos intérpretes em linguagem gestual é permanecer na sala de aula, onde existam jovens com deficiência auditiva em formação. Isso permite a esses jovens participar na formação, em pé de igualdade com os restantes estudantes. Além disso, os intérpretes acompanham os jovens nas reuniões, feiras, graduações e outros eventos que ocorram no centro, de modo a permitir que os jovens com deficiência auditiva tenham acesso à maior parte da informação produzida e existente no centro.

O que pode fazer?

• Peça a um/a auditor/a profissional para realizar uma auditoria de acessibilidade nas suas instalações. É um bom começo, para que possa perceber o que já está a correr bem e onde pode melhorar.

• Depois de obter uma lista de elementos que precisam de ser melhorados, escolha alguns ‘quick wins’ (resultados de impacto rápido) a implementar. Trata-se de coisas que podem não custar muito dinheiro, mas que podem fazer toda a diferença! Faça uma lista de acções que gostaria de melhorar ao longo do tempo.

• Recorde que as soluções nem sempre têm de ser caras ou extravagantes; é mais importante a atitude e o pensamento criativo. Por exemplo, se não tiver dinheiro para construir uma rampa ou acrescentar um elevador para o segundo andar, considere a hipótese de mudar as turmas para o rés-do-chão, para que os alunos com mobilidade reduzida possam frequentar as aulas.

• Certifique-se de que toda a informação é disseminada em múltiplos formatos. Por exemplo, servindo-se tanto de meios orais como de meios escritos. Desta forma, mais pessoas serão capazes de compreender a sua mensagem.

• Contacte as organizações de pessoas com deficiência, que o podem ajudar, fornecendo serviços ou conhecimentos específicos, como por exemplo, a tradução de informação para braille, ou a informação sobre onde encontrar um intérprete de linguagem gestual qualificado.

Dica: A Universidade Eduardo Mondlane oferece um curso de licenciatura em linguagem gestual, além de possuir especialização no desenvolvimento de currículos de formação de formadores.

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Alguns dos alunos com deficiência não só frequentaram os cursos, como também se destacaram durante a formação! Essita, por exemplo, uma utilizadora de cadeira de rodas, foi a melhor estudante do curso de Gestão de Farma.

Januário, que tem uma deficiência auditiva, foi o melhor aluno do curso de Avicultura. Na sua opinião, os jovens com deficiência devem “saber que a formação é a chave para o futuro”. Além disso, Januário acrescentou: “Sou um jovem africano e já tenho um certificado. O meu trabalho e o meu futuro estão garantidos. Sem um certificado, não sou nada.”

Os melhores

licenciados

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O primeiro passo para iniciar a formação é inscrever-se no curso. À partida, isto pode constituir um obstáculo para muitos jovens com deficiência, porque estes podem não ter conhecimento do centro de formação e dos seus cursos, ou do facto de que os cursos podem ser do seu interesse. Por vezes, os requisitos de inscrição podem ser tão exigentes que potenciais alunos são automaticamente excluídos - por exemplo, a necessidade de apresentar uma candidatura manuscrita pode não ser possível para uma pessoa com deficiência visual.

Os alunos com deficiência carecem igualmente de orientação e apoio durante a formação. Assim como qualquer outro aluno, estes alunos precisam de se sentir bem-vindos na formação, de entender o conteúdo e as tarefas a realizar e de fazer parte da vida social do centro.

O que fez a Young Africa?

Alteração do método de mobilização

A Young Africa fez a divulgação das oportunidades da seguinte forma:

• Mobilizações nas sedes dos bairros sobre as oportunidades de formação existentes;

• Roadshows nos bairros suburbanos da Beira, onde se realizaram palestras sobre os cursos ministrados e, em simultâneo, foram abordados assuntos relacionados com o HIV/SIDA;

• Divulgação em plataformas digitais e redes sociais, como o próprio site, o Facebook, o WhatsApp,etc.

É assim que os (potenciais) alunos são informados sobre a possibilidade de frequentarem um curso na Young Africa. No entanto, estes métodos nem sempre funcionam para alunos com deficiência. Por exemplo, muitos indivíduos com deficiência em Moçambique não utilizam smartphones, especialmente nas zonas rurais. Isto significa que não têm acesso às redes sociais e, consequentemente, também não às informações sobre formação profissional, partilhadas nas plataformas digitais.

Inscrição e acompanhamento

dos alunos

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7 Para mais informações sobre

a RBC, ver a página 20.

Por isso, foi necessário um método alternativo para informar os alunos com deficiência sobre a possibilidade de fazerem uma formação na Young Africa. Um dos métodos seleccionados foi informar as organizações de Reabilitação Baseada na Comunidade7 e as organizações de pessoas com deficiência (OPD) sobre as oportunidades de participação em formação, disponíveis para alunos com deficiência. A equipa de RBC pôde, assim, partilhar esta informação com potenciais alunos, identificados nas comunidades. Outra acção realizada foi realçar a acessibilidade da formação técnico-profissional junto dos alunos com deficiência.

A organização visitou escolas secundárias para conversar com os directores das escolas e com os alunos sobre as oportunidades de estudar num centro de formação profissional, após a conclusão dos estudos escolares. Durante tais visitas, foi mencionado claramente que os alunos com deficiência também eram muito bem-vindos e apelou-se à disseminação da mensagem junto dos alunos que ponderavam o que fazer depois da escola. Foi desta forma que o número de alunos com deficiência cresceu exponencialmente na Young Africa.

Motivação de alunos com deficiência para participar em formações

Não é suficiente tornar o seu centro inclusivo. Muitas vezes, os jovens com deficiência não aparecem por conta própria. Vários podem ser os motivos para que tal aconteça: estes jovens podem estar escondidos em casa pelos pais/familiares, podem não ter serviços básicos de reabilitação, não ter meios de compensação necessários para a sua participação, ou não se sentirem suficientemente confortáveis para se inscreverem sozinhos. As limitações financeiras são um dos principais obstáculos ao acesso,ou um dos motivos para não se candidatarem, assim como o facto de não saberem que o centro de formação está disposto a fazer adaptações razoáveis de integração para jovens com deficiência. Por isso, é bastante importante ser activo na identificação dos jovens e na sua preparação antes de se candidatarem, sobretudo na fase inicial. A Light for the World estabeleceu ligações entre a Young Africa, as organizações de OPD, os programas de RBC e as pessoas com deficiência. Estas instituições fazem a identificação das pessoas interessadas em receber formação nos cursos da Young Africa, através de acções de sensibilização nas comunidades e nas famílias.

No início do projecto, houve alguma resistência em participar na formação profissional, por parte de algumas pessoas com deficiência.

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Assim, a Light for the World, a Young Africa e os parceiros de RBC implementaram acções de sensibilização e motivação, para promover uma maior adesão dos jovens com deficiência. Estas acções incluíram conversas directas com os jovens, para partilha das vantagens que existem em participar na formação profissional. Outra acção foi a partilha de experiências (através de depoimentos) por parte dos jovens com deficiência licenciados que participaram na formação profissional e que empreendiam algumas actividades de geração de rendimentos, como forma de ilustrar a transformação que a FTP trouxe para as suas vidas e como forma de motivar outros jovens a participar.

À medida que o tempo passa, poderá constatar que os jovens com deficiência vêm ao centro de formação por iniciativa própria, pois ouvem de outros que é possível que pessoas com deficiência frequentem a formação com sucesso.

Apoio financeiro para alunos com deficiência

A deficiência e a pobreza andam geralmente de mãos dadas; por conseguinte, muitos jovens com deficiência não têm simplesmente condições para financiar os custos directos e indirectos da sua educação.

Por isso, a Young Africa oferece bolsas de estudo a estudantes vulneráveis, que não têm condições financeiras para pagar o curso. Estas bolsas incluem custos de transporte, material de formação (ferramentas de trabalho, materiais de higiene e segurança no trabalho),as propinas mensais da formação e o alojamento para os jovens oriundos de meios rurais ou zonas distantes dos centros de formação.

O que é a

Reabilitação

Baseada na

Comunidade?

A Reabilitação Baseada na Comunidade é uma estratégia que visa melhorar a inclusão de pessoas com deficiência nas suas comunidades. Os activistas de RBC deslocam-se de porta em porta, com vista a identificar crianças e adultos com deficiência. Uma vez identificadas, a RBC apoia as pessoas com deficiência a satisfazer as suas necessidades básicas, encaminhando-as para os serviços de saúde e terapia, sensibilizando a comunidade sobre os direitos e os talentos de pessoas com deficiência, trabalhando com as escolas e o governo, bem como prestando acompanhamento.

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Para além do sistema interno dos centros de formação

relativamente às bolsas de estudo, a outra via é através da Direcção Provincial de Género, Criança e Acção Social (DPGCAS), para onde as pessoas vulneráveis enviam os seus nomes e aguardam a disponibilidade de vagas. Este sistema de bolsas é válido apenas para os centros de formação profissional do governo.

Preparação dos alunos para a formação profissional

Após indicação de que pretendem receber formação, uma equipa de profissionais conversa com os potenciais alunos para os ajudar a escolher o curso certo. Nesse caso, o processo envolve os colaboradores dos programas de RBC, os especialistas em inclusão de deficiência e os pontos focais na área da deficiência da Young Africa. Este processo é necessário, porque as comunidades ou os próprios formadores/ colaboradores do centro de formação podem pensar que as pessoas com (determinadas)deficiências só são capazes de realizar determinados trabalhos, ou porque os alunos podem não possuir uma visão realista da formação e do trabalho que poderão fazer após a formação, pelo que só tenderão a optar por determinados cursos. Ajude-os a entender que as pessoas com deficiência podem ser empregadas em qualquer tipo de trabalho, bem como a perceber o impacto que esta formação e trabalho têm no seu dia-a-dia.

A AMJUDE8 desenvolveu acções de preparação dos jovens para participação na formação técnico-profissional. O objectivo da preparação para os exames de admissão foi assegurar que os jovens com deficiência tivessem noções e conhecimentos básicos sobre a formação profissional, bem como facilitar a admissão, caso esses jovens se candidatassem às universidades. A preparação incluiu sessões semanais de uma hora e meia nas competências de escrita e matemática, a fim de identificar as potencialidades e as limitações dos jovens. Além disso, também foram realizadas sessões de sensibilização sobre os cursos existentes nos centros de formação profissional e sobre as carreiras profissionais daí resultantes. Assim, os alunos com deficiência que participaram nessas sessões puderam escolher um curso adequado aos seus interesses e talentos. A preparação da AMJUDE decorreu um mês antes de o curso iniciar na Young Africa e dois meses antes dos exames de admissão às

universidades. 8 Associação Moçambicana

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Quais são os cursos que os jovens com deficiência podem frequentar?

A resposta é: todos! Desde que os alunos estejam interessados e motivados, podem escolher os cursos que quiserem. Por exemplo, os jovens com deficiência que frequentaram a Young Africa entre 2015 e 2019 escolheram os seguintes cursos:

Corte e Costura

Refrigeração Electrónica

Electrificação rural Informática Carpintaria

Gestão de Farma Mecanização agrícola Operador de máquina pesada

Operador de tractor Abertura de furo

Educador de infância Canalização

Electricidade automóvel Condutor de tractor

Gestão de recursos humanos Construção Civil

Mestre de obra Serralharia Civil Culinária

Electricidade Instaladora Agricultura especial Mecânica automóvel

Avicultura 61 32 20 5 3 2 1 1 38 24 15 5 3 1 1 1 36 21 6 4 2 1 1 1

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Provisão de alojamento

Os lares, no contexto da formação profissional, desempenham um papel muito importante, pois permitem que as pessoas dos meios rurais tenham acesso à formação profissional, uma vez que nesses meios as oportunidades de formação são escassas. Além disso, as pessoas com deficiência são as que mais necessitam dos lares, porque a rede de transportes em Moçambique é muitas vezes inacessível e inadequada. Os utilizadores de cadeiras de rodas têm frequentemente dificuldade em utilizar transportes públicos, porque estes não estão geograficamente acessíveis. Por vezes, são os próprios motoristas dos autocarros que se recusam a parar para pessoas com deficiência, deixando-as na beira da estrada.

Dada esta situação, a formação profissional torna-se mais acessível às pessoas com deficiência, se estas puderem permanecer no centro, em vez de utilizarem os transportes públicos diariamente. Por isso, a Young Africa possui 3 lares de estudantes, dos quais 2 têm capacidade para receber 128 pessoas (64 pessoas em cada lar). Dois destes lares estão situados na Young Africa Agri-Tech em Dondo (um masculino e um feminino)e o outro situa-se na Beira, tendo capacidade para receber 48 pessoas do sexo feminino. Durante o projecto, 46 jovens com deficiência (dos quais 15 mulheres) tiveram oportunidade de pemanecer no lar durante a formação. Devido às limitações relacionadas com a mobilidade de casa para o centro de formação profissional, os lares de estudantes permitiram e permitem que mais jovens com deficiência possam aceder à formação profissional.

Inclusão em actividades sociais

As actividades sociais são uma parte importante da vida estudantil. Os alunos passam tempo juntos nos dormitórios e durante o fim-de-semana, praticam desporto juntos e fornecem feedback sobre a formação através da Assembleia de estudantes. Assim, é muito importante para os alunos, com e sem deficiência, participar em actividades sociais.

Para garantir que os alunos com deficiência não fossem rejeitados pelos seus colegas, a equipa de inclusão realizou sessões mensais de sensibilização, durante as aulas de Ciências da Vida, para estudantes com e sem deficiência, sobre como incluir pessoas com deficiência no dia-a-dia. Nessas sessões, os alunos discutiram o que é a deficiência e quais as barreiras que as pessoas com deficiência podem enfrentar no seu dia-dia. Em virtude disso, os alunos tornaram-se muito mais abertos e receptivos perante os colegas com deficiência.

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Além disso, ambos os centros da Young Africa dispõem de uma Assembleia de estudantes. As preocupações de todos os estudantes são canalizadas para esse grupo. Foi criada uma posição para ser ocupada especialmente por um aluno com deficiência no seio da Assembleia de estudantes, para que as suas necessidades e preocupações fossem representadas. A Young Africa, no âmbito das actividades recreativas do centro, promove actividades desportivas, como futebol,e festivais anuais de arte. As competições das actividades desportivas são realizadas entre equipas compostas por pessoas com e sem deficiência. A experiência resultante destas actividades recreativas mostra que pode haver uma maior interacção entre pessoas com e sem deficiência, se forem formadas equipas de trabalho compostas também por pessoas com e sem deficiência. No festival de arte da Young Africa, que conta com exposições de serviços providenciados pela Young Africa, provou-se que é possível formar equipas de trabalho compostas por pessoas com e sem deficiência. De um modo geral, as actividades desportivas e os eventos sociais promovem a colaboração entre pessoas com e sem deficiência, além de tornarem visível a contribuição que as pessoas com deficiência podem dar nas várias acções ao nível do centro de formação e no local de trabalho.

Profiling

Recentemente, a Young Africa introduziu a metodologia do profiling, que visa descobrir talentos e dar orientação profissional, de forma a poder inscrever o estudante na área mais adequada ao seu perfil. O profiling é relevante, porque muitos estudantes, quando se inscreviam num curso, mudavam de opinião e descobriam que já não gostavam desse curso, pelo que tentavam mudar para outro. Além disso, havia desistências de alguns estudantes por falta de motivação. Assim, o profiling consiste em orientar o estudante a fazer escolhas acertadas. O profiling é uma metodologia para a selecção, recrutamento e formação de talentos, que se baseia nas seguintes questões: • candidato quer fazer o trabalho? Motivação.

• candidato possui aptidões sociais necessárias? Competências. Os alunos são submetidos a pequenos testes e aconselhados sobre que cursos fazer, com base nos resultados.

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O que pode fazer?

• Verifique os seus critérios de admissão. Existe algum critério que exclua, incidentalmente, indivíduos com uma (determinada) deficiência?

• Algumas pessoas com deficiência podem não estar a frequentar formações no seu centro, pois poderão não saber que as formações são acessíveis e apropriadas para elas. À medida que realiza as suas acções de recrutamento, realce que as pessoas com deficiência são bem-vindas. Também pode investir no estabelecimento de parcerias com organizações de pessoas com deficiência, centros de referência (como o SIOAS) ou organizações de RBC que o possam ajudar a chegar a potenciais alunos com deficiência. Muitos jovens com deficiência, apesar de já terem ouvido falar sobre a formação profissional, podem não estar convencidos de que essa formação é para eles. Por isso, é importante apoiar organizações de RBC, para motivar e convencer os jovens de que eles são capazes e de que esta é uma oportunidade de participarem em cursos de formação.

• Se o alojamento fizer parte do seu centro, verifique se é acessível para alunos com deficiência e talvez até destine alguns dos quartos para esses alunos.

• Se o seu centro tiver um mecanismo de feedback do aluno, como uma associação de estudantes ou um conselho estudantil, certifique-se de que os alunos com deficiência também estão representados. Isso proporciona um mecanismo que permite ouvir as informações e preocupações específicas das pessoas com deficiência.

• Realce a inclusão nas actividades sociais. Organize actividades que promovam a participação entre alunos com e sem deficiência. Verifique se os locais onde as actividades sociais ocorrem, tais como a sala comum ou o refeitório, são acessíveis aos alunos com deficiência. Se necessário, sensibilize os alunos sobre a deficiência.

• Apoie os alunos na escolha do curso que pretendem frequentar. Muitas pessoas com deficiência nunca tiveram a liberdade para sonhar com o que gostariam de ser ou fazer e precisam de ser encorajadas e apoiadas durante o processo. Realce a ideia perante os pais, os professores e os conselheiros que os estudantes não se devem limitar a seleccionar os cursos que são considerados mais “adequados” para pessoas com o seu tipo de deficiência.

O Serviço de Informação, Orientação e Acompanhamento Social (SIOAS) é um modelo de assistência social com forte participação das unidades sociais, que consiste em identificar, orientar e prestar assistência a pessoas vulneráveis, especialmente pessoas com deficiência, em programas de saúde, educação, emprego e proteçcão social. O SIOAS é coordenado pelo governo no âmbito da Estratégia Nacional de Segurança Social II, nos Projectos de Proteçcão Social, sendo executado em parceria com organizações da sociedade civil e outras associações e apoiado pela União Europeia.

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A governação é a forma como uma organização é gerida. Um passo importante para garantir que as pessoas com deficiência possam participar na sua organização é garantir que a inclusão faça parte dos processos de gestão. Isso significa, por exemplo, verificar se a inclusão faz parte da visão e da missão da organização, se os procedimentos organizacionais incluem pessoas com deficiência e se a administração promove a inclusão em toda a organização.

O que fez a Young Africa?

Incorporação da inclusão em estratégias e políticas

A Young Africa não só considerou a inclusão como parte da vida diária dos dois centros na fase do projecto-piloto (como algo de curto prazo), como também a considerou como uma parte essencial de toda a sua organização.

A direcção e a administração da Young Africa acreditam, de facto, que a inclusão dos jovens com deficiência é acertada e necessária e transmitem essa mensagem com entusiasmo. A inclusão tornou-se parte da estratégia da Young Africa e todos os seus centros de formação profissional são encorajados a alcançar a quota de 5% de inclusão de jovens com deficiência. Os dados dos estudantes são agora também distribuídos por deficiência, para que a Young Africa saiba quantos do seu corpo discente, no total, são pessoas com deficiência.

Além disso, a inclusão faz agora parte da sua política de não discriminação, sendo que actualmente está a ser desenvolvida uma política específica sobre a inclusão de jovens com deficiência. Ao incorporar a inclusão da deficiência nas suas políticas, a Young Africa compromete-se a ser inclusiva em todas as suas abordagens e actividades.

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Certificar-se de que a inclusão faz parte do orçamento para financiamento

A Young Africa, enquanto entidade prestadora de formação profissional, depende em parte de financiamento externo. Uma das formas de demonstrar empenho na causa da inclusão é, sempre que é solicitado financiamento, incluir pessoas com deficiência nas novas propostas apresentadas. No passado, a Young Africa concebia propostas que visavam apoiar grupos vulneráveis de uma forma genérica, mas, a partir de 2015, esta organização passou a considerar grupos mais marginalizados, neste caso as mulheres e as pessoas com deficiência. Assim, uma percentagem das bolsas é atribuída a jovens com deficiência. Como resultado deste trabalho, desde Outubro de 2018, que a Young Africa recebe financiamento do projecto da Cidade de Viena,apoiado pela organização Horizonte 3000. Neste projecto, prevê-se a compra de meios de compensação, ligeiras modificações na acessibilidade arquitectónica, formação em linguagem gestual e braille e, por fim, bolsas de estudo para jovens com deficiência.

Da mesma forma, a partir de 2017, a Young Africa criou um programa de bolsas de estudo para mulheres e, mais especificamente, para mulheres que pretendem frequentar cursos dominados por homens, por exemplo, mecânica, carpintaria, serralharia e electricidade, o que fez com que a participação das mulheres aumentasse de forma significativa.

“A inclusão de jovens com deficiência tornou-se uma parte integrante das actividades formativas e sociais do centro. A Young Africa não o faz de forma paralela e isolada; o que se pretende é garantir que em todos os cursos de formação haja inclusão de 5% de jovens com deficiência.” Dorien Beurskens, Directora da Young Africa International.

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Em 2019, a Young Africa recebeu apoio financeiro da Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento, através da Light for the World, com vista a garantir bolsas de estudo para jovens com deficiência, no âmbito da formação profissional. A probabilidade de as pessoas com deficiência terem dinheiro disponível para pagar a escola é reduzida, pelo que incluir um orçamento específico para diminuir os custos dos cursos ou adquirir, por exemplo, meios de compensação, pode constituir uma ajuda significativa para que estas pessoas possam frequentar um curso.

Construção de sistemas que ajudem potenciais alunos na preparação para a formação e para a vida após a formação

A inclusão não é apenas necessária durante o tempo em que os alunos estão efectivamente a frequentar um curso. Muitas vezes, os alunos não frequentam os cursos, apesar de o ensino e a formação profissional serem acessíveis, simplesmente porque não foram preparados de antemão, ou porque não conseguem fazer a transição para um emprego ou negócio depois da formação, porque esses sistemas não lhes são acessíveis. Neste sentido, a Young Africa também tomou algumas medidas para analisar os processos antes e depois da frequência de formações no seu centro.

Dependendo do curso, o nível mínimo de escolaridade exigido para admissão é o sétimo ou o décimo ano. O pessoal da Young Africa constatou, ao longo dos anos, que os alunos que vêm do ensino geral têm dificuldades na leitura e na escrita, e mesmo em matemática, sendo este problema ainda mais visível nos jovens com deficiência. Não ser capaz de ler, escrever ou fazer cálculos significa que estes jovens não se conseguem integrar nos cursos nas universidades e nos centros de formação profissional. Consequentemente, a Young Africa prevê a abertura de uma escola secundária, onde serão leccionados os níveis do oitavo ao décimo ano a alunos com e sem deficiência.

Para os estudantes que terminaram a sua formação, a Young Africa tem um projecto de micro-crédito. Os estudantes interessados em criar o seu próprio negócio podem candidatar-se ao projecto e obter algum crédito, que lhes permitirá iniciar o seu próprio negócio. Dado que as pessoas com deficiência têm dificuldades em encontrar emprego formal, criar o seu próprio negócio poderá ser a maneira ideal de trabalhar por conta própria. Neste sentido, a Young Africa comprometeu-se em incluir estudantes com deficiência no comprometeu-seu projecto de investimento em start-ups, tendo prometido a total ausência de discriminação. Os alunos com e sem deficiência ficaram motivados e foram incentivados a elaborar os seus próprios planos de negócios. Como resultado, a Young Africa conta com jovens que já beneficiaram de start-up kits nas áreas de Serralharia e Corte e Costura.

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Nomeação de pontos focais em matéria de inclusão da deficiência

A Young Africa nomeou dois colaboradores (Oficiais de Programas) que, para além das suas actividades de rotina no centro, desempenham as funções de pontos focais, em matéria de inclusão de deficiência. O objectivo destes pontos focais é assegurar,monitorizar e incentivar a inclusão de pessoas com deficiência no seio da instituição. As acções concretamente desenvolvidas pelos pontos focais incluíram a mobilização dos formadores (franqueadores) e do pessoal administrativo para participação nas formações relacionadas com a inclusão da deficiência (por exemplo: formação em linguagem gestual e workshops), a adaptação das avaliações para satisfazer as necessidade dos alunos (por exemplo, introduzindo testes de escolha múltipla para alunos com deficiência auditiva) e o acompanhamento dos planos de acção desenvolvidos no âmbito da auditoria de acessibilidade.

A existência de um ponto focal significa que o centro de formação pode contar com uma pessoa responsável pelas questões relacionadas com a deficiência, que pode actuar como o ponto de ligação com todas as outras pessoas do centro: formadores, alunos, directores, funcionários administrativos, etc. Assim, está disponível uma pessoa a quem os alunos com deficiência podem recorrer, sempre que tiverem dúvidas ou questões a colocar.

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O que pode fazer?

• Verifique todos os documentos estratégicos e relativos às políticas internas: certifique-se de que a visão, missão e estratégia apoiam a inclusão de pessoas com deficiência, numa perspectiva baseada em direitos.

• Se é administrador(a)/gestor(a), pode começar com a promoção da inclusão de pessoas com deficiência: fale positivamente sobre as pessoas com deficiência e sobre a inclusão e ofereça aos seus funcionários a oportunidade de trabalhar proactivamente em matéria de inclusão.

• Comece por monitorizar o ponto da situação: quantos alunos com deficiência estão actualmente matriculados nos seus cursos.

• Orçamento para a inclusão: certifique-se de que está disponível algum orçamento que possa ser gasto em alojamento razoável, mudanças necessárias nos edifícios e sistemas e prestação de apoio a alunos e funcionários com deficiência.

• Nomeie um ponto focal para a inclusão de pessoas com deficiência; esta será a pessoa responsável por monitorizar e incentivar o processo de mudança que visa um centro de formação inclusivo para pessoas com deficiência. O cargo de ponto focal é temporário, dado que serve apenas de ponto de partida para que ocorra inclusão no centro. Assim que a inclusão for uma realidade a todos os níveis da instituição, ou seja, assim que esta passar a fazer parte da cultura organizacional, o cargo de ponto focal deixará de ser necessário, visto que a inclusão da deficiência é assumida por todos como parte do seu trabalho diário.

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Suzana, de 26 anos, frequenta o curso de Corte e Costura na Young Africa. Aos quinze anos, ela perdeu o movimento em ambas as pernas.“O meu pai nunca me deixou ir à escola, ou fazer as coisas que as outras meninas faziam.” A situação piorou

depois de Suzana ter perdido a capacidade de andar: “porque o meu pai tinha medo da reacção dos outros. Eu sofri uma discriminação dupla: por ser mulher e por ter uma deficiência.” Depois de o pai falecer, Suzana sentiu finalmente que tinha uma oportunidade pela frente. O seu plano de futuro é poder ter a sua micro-empresa, onde poderá empregar outros jovens com deficiência. “A Young Africa deu-me uma oportunidade única para me formar e ser alguém na vida. Apesar de todas as barreiras e dificuldades, tenho agora a possibilidade de ser independente e poder criar um negócio que pode ajudar muitas pessoas com e sem deficiência.”

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Assim que um aluno com deficiência ingressa no centro de formação profissional e está prestes a iniciar as aulas, é necessário que seja capaz de participar no seu processo de aprendizagem, tal como todos os outros alunos. Não haveria nenhuma vantagem, se estivesse apenas a frequentar as aulas, sem aprender nada. Para alguns estudantes, é necessário repensar a apresentação da aula, para que a aprendizagem se realize. Isto não significa que é necessário mudar o que está a ensinar - algo que poderá preocupar alguns professores; significa apenas que deverá mudar a forma como a aprendizagem ocorre, para que todos possam aprender!

O que fez a Young Africa?

Adaptação do toque da campainha na escola

A campainha anuncia o início e o fim das aulas. Mas os alunos com deficiência auditiva nem sempre a conseguem ouvir. Por isso, o formador de electricidade, em colaboração com os seus alunos com deficiência auditiva, conceberam uma campainha que não só emite um som, como também sinais luminosos para pessoas com deficiência auditiva.

Preparação de materiais de estudo em diferentes formatos

Para os alunos com deficiência visual, que não são capazes de ler documentos escritos ou em papel, foi instalado o programa JAWS nos computadores da biblioteca. Além disso, com o apoio técnico do Instituto de Deficientes Visuais (IDV), foram traduzidos para braille todos os documentos necessários para a formação dos alunos com deficiência visual, capazes de ler braille. Estas duas adaptações permitiram que os alunos com deficiência visual lessem e escrevessem materiais de estudo, apesar de não conseguirem ler manuais escolares em papel.

Alterações físicas na sala de aula

Para alguns cursos, foi tomada a iniciativa de realização de algumas alterações físicas nas salas de aula e nos materiais, para possibilitar a participação de alunos com deficiência. Nos cursos de Electricidade,Refrigeração e Mecânica Automóvel foi realizada a seguinte adaptação: redução da altura das mesas de comando dos motores eléctricos para os jovens com deficiência. A redução da altura das mesas permite que os jovens com deficiência, particularmente aqueles que usam cadeiras de rodas, triciclos ou muletas, possam trabalhar de forma participativa e independente nos cursos,sem necessitar do envolvimento de outros colegas ou formadores. De igual modo, no curso de Corte e Costura, deverá ser reduzida a altura das mesas onde são feitos os cortes dos tecidos e os moldes.

Planificação curricular,

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No curso de Corte e Costura, foi feita outra adaptação para os

utilizadores de cadeiras de rodas:as máquinas de pedais foram adaptadas, através da introdução de adaptadores (manivelas manuais) nos volantes exteriores. Isto permitiu que os alunos e outros utilizadores com capacidade limitada nas pernas utilizassem as máquinas de costura com as mãos.

No curso de Serralharia Civil, a adaptação principal foi a utilização de rebarbadeiras e berbequins de pequeno porte, para fácil manuseamento pelos estudantes com deficiência física. A razão de tal adaptação é que os alunos com capacidade limitada nos pés, ou que usam cadeiras de rodas, têm frequentemente dificuldade em utilizar maquinaria pesada.

Instrumentos de avaliação alternativos

Outra mudança que a Young Africa implementou nos seus cursos foi a forma como os alunos fazem os testes. Os testes escritos com perguntas e respostas eram de difícil compreensão para os jovens com deficiência auditiva, porque a lógica de escrita da linguagem gestual é diferente da lógica de uma língua falada. A estratégia adoptada foi a adaptação dos testes para o modelo de escolha múltipla.

Os alunos com visão reduzida também tinham dificuldade em ler as provas escritas. Assim, a estratégia foi fazer testes escritos com letras ampliadas (tamanho 16,Arial), para permitir que estes alunos lessem e compreendessem os enunciados. Quanto aos alunos com deficiência visual, os testes foram traduzidos para braille. Com todas estas adaptações, os alunos com diferentes tipos de deficiência puderam testar os seus conhecimentos, em pé de igualdade com os alunos sem deficiência. Além disso, estes testes alternativos são reconhecidos pelo governo, pois estão em sintonia com os padrões de qualidade governamentais.

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O que pode fazer?

• Peça a opinião dos alunos com deficiência sobre a melhor forma de aprenderem e tenha em conta essas opiniões, no momento de elaboração do currículo.

• Alguns alunos aprendem melhor a ouvir; outros a ver; outros preferem praticar sozinhos. Por isso, inclua diferentes métodos de ensino no seu currículo, para que os alunos beneficiem de diversas oportunidades e formas de absorver a mesma informação.

• Verifique se os materiais e os equipamentos do curso são acessíveis para os alunos com necessidades diferentes e adapte-os, se necessário.

• Ofereça formação aos professores sobre como adaptar as aulas, para dar resposta às necessidades dos alunos com capacidades diferentes.

• Ofereça formação aos professores sobre como adaptar os métodos de avaliação, para avaliar alunos com competências diferentes, de forma igualitária.

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A Sra. Dalva é proprietária do Restaurante Brasibeira, na cidade da Beira. Em 2016, ela contratou a Joana para trabalhar como cozinheira no seu restaurante. A Joana tem deficiência auditiva e fez o curso de culinária no centro de

formação da Young Africa. “Não foi fácil aceitar uma jovem com deficiência para trabalhar no nosso restaurante”, disse a Sra. Dalva. A gestão do restaurante nunca tinha contratado funcionários com deficiência e estava com receio da reacção dos outros colegas. Mas acabou por correr tudo bem. Embora o pessoal do restaurante Brasibeira desconheça a linguagem gestual, são utilizados gestos para comunicar com a Joana. Hoje a Sra. Dalva está feliz por ter a Joana na equipa.

Restaurante

Brasibeira

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Um centro de formação nunca trabalha isolado, sendo necessário estabelecer relações com o mundo exterior. Neste contexto, muito pode ser feito para incluir pessoas com deficiência. Por exemplo, estabelecer parcerias com organizações de pessoas com deficiência, serviços de referência como o SIOAS ou organizações de RBC, que têm a capacidade para fornecer informações e oferecer serviços em matéria de deficiência, além de assegurar que as pessoas com deficiência sejam contactadas e incluídas em qualquer comunicação ou partilha de informação realizada pelo centro de formação.

O que fez a Young Africa?

Parcerias com organizações de RBC

As organizações de Reabilitação Baseada na Comunidade, ou outras organizações relacionadas com pessoas com deficiência, são organizações muito úteis, com as quais é possível estabelecer contacto para a mobilização de jovens. Os jovens com deficiência podem necessitar de serviços de reabilitação ou de meios de compensação, ou ter outras necessidades às quais é urgente dar resposta, designadamente o acesso aos centros de formação. Assim, as organizações especializadas na área da deficiência constituem um recurso muito importante, quando se trata de identificar os jovens com deficiência.

A Young Africa estabeleceu contacto com organizações como a ADPPDS (Associação Desportiva de Pessoas com Deficiência de Sofala), a NUDESMO (Núcleo de Deficientes Surdos de Moçambique), a ADEMO Sofala (Associação de Deficientes de Moçambique), a OREBACOM (Organização de Reabilitação Baseada na Comunidade), a Amavida-Gorongosa (parceiro de RBC da Light for the World em Gorongosa), a Associação Kupedzana (parceiro de RBC da Light for the World em Búzi) e, por fim, a RBC Dondo, que faz parte do projecto de formação profissional apoiado pela União Europeia. Estas organizações apoiaram a Young Africa na identificação dos jovens com deficiência, passíveis de serem elegíveis para formação nos seus centros; asseguraram a satisfação das necessidades básicas de reabilitação; sensibilizaram as famílias e os jovens para a importância da formação profissional; e apoiaram os jovens na preparação para o ingresso no centro de formação. As organizações de RBC também acompanharam estes jovens após a conclusão da formação e aquando da sua inclusão na comunidade local.

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Inclusão de pessoas com deficiência na comunicação externa

Uma das formas de demonstrar a inclusão de pessoas com deficiência é através da comunicação externa, quer sob a forma de textos escritos, quer através da partilha de histórias e imagens ilustrativas, que reflictam sobre uma sociedade que inclui pessoas com deficiência e incentiva as outras instituições a abraçarem a mesma causa.

A equipa de comunicação da Young Africa mudou activamente os seus métodos de trabalho, no sentido de incluir pessoas com deficiência na comunicação externa. Actualmente, as histórias de sucesso dos jovens com deficiência são partilhadas também externamente. Por exemplo, as fotografias e as histórias de pessoas com deficiência são utilizadas na comunicação e divulgadas nos boletins informativos e nas páginas do Facebook.

O boletim informativo da Young Africa em 2017 mostra Mateus Mbazo,um jovem com deficiência formado em Agricultura.

A página do Facebook da Young Africa Moçambique inclui fotografias e histórias dos formandos e dos licenciados com deficiência.

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Sensibilização de (potenciais) empregadores de licenciados

Não é, naturalmente, uma situação desejável que as pessoas com deficiência que concluem com êxito uma formação não consigam encontrar um emprego, porque os empregadores não estão dispostos a contratá-las. Por esse motivo, a Young Africa e a Light for the World procuraram despertar a consciência dos empregadores para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado laboral.

Uma das acções realizadas, foram as campanhas porta a porta sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado laboral. Durante as referidas campanhas, os sensibilizadores falaram com as empresas sobre empregabilidade e estágios. Consequentemente, as empresas abriram as suas portas a estágios para jovens com deficiência, que poderão, eventualmente, resultar em recrutamento. Além disso, foram realizados dois grandes eventos no sector privado. Um deles foi a Feira de Habilidades de Pessoas com Deficiência, na Província de Sofala. Este evento foi organizado no dia 3 de Dezembro de 2017, o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.

O objectivo da feira foi sensibilizar os diferentes actores e, em particular, o sector privado sobre o potencial e as competências das pessoas com deficiência, sendo dada especial atenção aos jovens com deficiência formados nos centros de formação da Young Africa.

O Outro

Lado

Em 2016, a Young Africa e a Sonome Productions divulgaram o spot TV “o outro lado”, que apresenta 4 histórias de sucesso de pessoas com deficiência, motivadas pelo lema “Todos queremos uma oportunidade para mostrar as nossas capacidades”. O spot TV foi transmitido múltiplas vezes na TVM e na Televisão Soico em 20169.

O vídeo tem por objectivo a sensibilização dos diversos actores da sociedade para o facto de que é possível que as pessoas com deficiência sejam profissionais e dêem o seu contributo. Para que isso aconteça, é necessário que lhes sejam dadas oportunidades para mostrar as suas capacidades.

9 O spot TV pode ser

visualizado na página https://www.youtube.com/ watch?v=Wm-nVMHnPoc.

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O evento contou com a presença de 126 convidados (45 do

sector privado), associações de pessoas com deficiência, várias ONG e o governo. Apresentam-se a seguir as acções deste evento:

• Sessão de discussão que envolveu o IFPELAC (anteriormente conhecido como INEFP), a FAMOD provincial e a Associação Comercial da Beira (ACB). O debate debruçou-se sobre o processo de formação e a transição para o mercado de trabalho.

• Exposição de bens e serviços produzidos por jovens com deficiência durante a formação na Young Africa, como forma de evidenciar a produtividade e a capacidade destes jovens; foram exibidos produtos como iogurte, frango, arroz, legumes e queijo.

• Atribuição de certificados de honra ao sector privado, mais precisamente a 6 empresas, em reconhecimento do apoio prestado aos jovens com deficiência na concessão de estágios e emprego. Esta estratégia visou incentivar outros empreendedores a abrir as suas portas a licenciados para estágios e empregos.

O segundo evento, de maior relevo, foi a conferência de formação técnico-profissional de natureza inclusiva. A Young Africa organizou a celebração dos 10 anos de existência em Moçambique e, como forma de tornar visível o trabalho desenvolvido entre a Light for the World e a Young Africa, celebraram-se 10 anos de formação técnico-profissional de natureza inclusiva. O objectivo da conferência foi partilhar boas práticas com outros centros de formação profissional e, em simultâneo, sensibilizar e incentivar as empresas a oferecer mais oportunidades de estágios e emprego para pessoas com deficiência. Ao todo, participaram neste evento 146 instituições, das quais 86 eram do sector privado.

O que pode fazer?

• Crie uma rede de contactos com organizações de pessoas com deficiência, serviços de referência como o SIOAS e organizações de RBC. Assim que tiver estabelecido parcerias, será fácil solicitar informações ou esclarecimentos, em caso de dúvidas. Em troca, estas organizações poderão encaminhar potenciais estudantes com deficiência para o seu centro de formação.

• Reveja os conteúdos promocionais por si desenvolvidos, tal como o seu site e brochuras. As pessoas com deficiência que aparecem nas fotografias, estudos de caso e histórias, são exactamente iguais às pessoas sem deficiência?

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Ser um centro de formação inclusivo não se limita apenas aos seus alunos. As pessoas com deficiência também podem ser cuidadores, professores e mesmo membros da direcção. Como pode garantir que a sua organização, enquanto instituição empregadora, seja receptiva a pessoas com deficiência?

O que fez a Young Africa?

Formação de funcionários em deficiência e inclusão

De modo a sensibilizar o centro no seu todo,a Young Africa ofereceu formação em consciencialização sobre deficiência a todos os funcionários dos centros de formação técnico-profissional, incluindo o pessoal docente, de gestão e de suporte. No seio da Young Africa, a equipa de formadores recebeu formação regular em temáticas sobre inclusão e deficiência. Alguns dos temas abordados foram: a Convenção das Nações Unidas e o direito das pessoas com deficiência, formação em linguagem gestual, como distinguir diferentes tipos de deficiência, etc. Essencialmente, os cursos de formação centraram a sua atenção no lado prático - como interagir com pessoas com diferentes deficiências, por exemplo, com alguém com deficiência auditiva, etc.

As capacitações e os cursos de formação foram especificamente concebidos para dotar os colaboradores e os formadores da Young Africa de capacidades técnicas e competências práticas para lidar, estabelecer relações e comunicar com pessoas com deficiência, bem como para adaptar os seus cursos a alunos com deficiência. Desta forma, os formadores foram capazes de prestar mais atenção aos alunos com deficiência nas suas aulas e adquiriram mais competências de ensino destes alunos. Em resultado disso, o número de estudantes inscritos por iniciativa própria na Young Africa aumentou, porque sabiam que os professores deste centro possuiam competências para os receber bem.

Não existe um método único para a transmissão das competências práticas necessárias. Estas mudam, em função do contexto e das necessidades. No entanto, recomendamos, como referência, o livro de recursos sobre inclusão e deficiência da Light for the World10 e o manual de formação para o pessoal de formação técnico-profissional (FTP).

Recursos humanos

10

https://www.light-for-the- world.org/resource-book-disability-inclusion

Referências

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