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Medidas socioeducativas na ressocialização de adolescentes infratores: contexto histórico e política de atuação

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

RAFAEL GERSON ALVES DE ÁVILA

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA RESSOCIALIZAÇÃO DE

ADOLESCENTES INFRATORES: CONTEXTO HISTÓRICO E

POLÍTICA DE ATUAÇÃO

Volta Redonda / RJ 2017

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RAFAEL GERSON ALVES DE ÁVILA

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA RESSOCIALIZAÇÃO DE

ADOLESCENTES INFRATORES: CONTEXTO HISTÓRICO E

POLÍTICA DE ATUAÇÃO

Trabalho de Conclusão do Curso apresentada ao Curso de Graduação em Administração do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Administração.

Orientador: Prof. Dr. LUÍS HENRIQUE ABEGÃO

Volta Redonda 2017

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TERMO DE APROVAÇÃO

RAFAEL GERSON ALVES DE ÁVILA

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA RESSOCIALIZAÇÃO DE ADOLESCENTES INFRATORES: CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICA DE ATUAÇÃO

Monografia aprovada pela Banca Examinadora do Curso de Administração da Universidade Federal Fluminense – UFF.

Volta Redonda, ... de ...de ...

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. LUÍS HENRIQUE ABEGÃO Orientador

Prof. CARLOS JOSÉ VIEIRA MARTINS

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“Transmito o que sou e assim vou vivendo a contínua dádiva de ser feliz.”

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RESUMO

O presente estudo tem o objetivo de apresentar o contexto social e histórico que envolve as medidas socioeducativas no Estado do Rio de Janeiro voltadas aos adolescentes infratores, visando a ressocialização e a recuperação dos mesmos. Essas medidas levam em consideração o desenvolvimento emocional, cognitivo, motor e social do adolescente, que deve receber um tratamento diferenciado daquele dispensado ao adulto. Em conjunto às medidas socioeducativas são necessárias políticas públicas e um sistema de garantias de direito da criança e do adolescente, em observância do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Este trabalho também procura discutir os planos do DEGASE - Departamento Geral de Ações Socioeducativas, que hoje tem a incumbência de promover a socioeducação no Estado do Rio de Janeiro, respeitando todas as diretrizes da Lei 12594/2012, que instituiu o SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. Analisaremos também a situação de egressos na cidade de Volta Redonda e a experiência do CRIAAD no processo de reabilitação e colocação profissional desses adolescentes.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 01

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE PENAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE... 02

2.1 Políticas públicas e sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente... 04

2.2 O Estatuto da criança e do adolescente – ECA... 06

3 O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS... 08

3.1 Medidas Protetivas e Socioeducativas... 08

3.2 Medidas Protetivas... 10

3.3 Medidas Socioeducativas... 10

4 INSTRUMENTOS LEGAIS E NORMATIVOS DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI...12

4.1 Processo para aplicação de medida sócio educativa... 13

4.2 Aplicação das medidas socioeducativas... 14

4.3 PASE, PPI e PPP...14

4.4 Departamento geral de ações socioeducativas – DEGASE... 15

4.4.1 Execução do DEGASE...15

5 EGRESSO DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL...17

6 CONCLUSÃO...19

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1 INTRODUÇÃO

Na sociedade brasileira atual não é incomum vermos crianças e adolescentes envolvidos em situações como tráfico de drogas, homicídios, entre outras questões criminais. Mediante esse contexto, compreendemos que a educação formal não é capaz de atender a essas demandas específicas da sociedade contemporânea, o que limita o seu poder de barrar o crescimento do número de crianças e adolescentes em conflito com a lei. Esse trabalho tem como objetivo trazer uma reflexão sobre as medidas aplicadas e a contribuição das mesmas na ressocialização de adolescentes envolvidos em atos infracionais, a partir de uma compreensão histórica sobre a responsabilidade penal dos menores de idade.

Fazendo uma análise histórica da política de atendimento à infância e adolescência, pode-se ver que a evolução das medidas socioeducativas está intimamente ligada à percepção do jovem como cognitivamente diferente do adulto, mas não incapaz de responder por seus atos. Sendo assim, foi necessário criar medidas que seriam aplicadas como correção para esses jovens infratores. Essas medidas são regidas pelo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e prevê providências socioeducativas contra o infrator, sendo elas: advertência, liberdade assistida, semiliberdade, entre outras, até mesmo a internação é possível.

Cury (2005) destaca que na Constituição Federal de 1988 ficou estabelecida a condição de inimputável do menor, vez que a ele não pode ser aplicada penas, exigindo a criação de lei específica a fim de regularizar tal situação. “A lei específica criada foi a Lei n° 8.069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê vários direitos conferidos ao menor, dentre eles prevê a apuração de atos infracionais, seu procedimento, as medidas aplicadas na semiliberdade” (CURY, 2005).

No presente trabalho será apresentada uma revisão histórica sobre a criação e implementação das medidas socioeducativas, apresentando a legislação normativa e plano diretriz que regulamentam e implicam na execução dessas. Por fim, destacar-se-á a nova lei 12.594/12, que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, a partir da compreensão dos conceitos normativos relativos a Direitos Humanos, dos quais o Brasil é signatário, e abordado na perspectiva da integridade da promoção, prevenção, assistência e da recuperação, sob a ótica da multidisciplinaridade e interdisciplinaridade, no âmbito da atenção básica.

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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE PENAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.

As definições de infância e adolescência baseiam-se no resultado de um amplo e complexo processo de desenvolvimento, que envolve fatores físicos, biológicos, psicológicos, hormonais, cognitivos, políticos e sociais. Esse fenômeno é natural e está relacionado à idade cronológica.

Atualmente entendemos que uma criança tem suas capacidades motoras e mentais diferentes de um adulto, porém nem sempre foi assim. Freyre (1993) destaca que no Brasil colônia as crianças das famílias nobres eram tratadas como pequenos adultos, e deviam se vestir e se portar como tal, a fim de serem diferenciadas dos moleques da senzala, havendo assim uma desconstrução da naturalidade dessa transição e amadurecimento, forçando as crianças a se tornarem homenzinhos.

Já o debate sobre o adolescente é relativamente novo, quando deixa de ser percebido apenas como um meio termo entre criança e adulto. A adolescência inicia-se com a puberdade, período da vida em que ocorrem as maiores mudanças no corpo infantil, além de ser uma fase do desenvolvimento humano marcado por mudanças psicológicas, sociais e hormonais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o período da adolescência a faixa etária entre os 10 e 19 anos. No Brasil, a partir da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 1990), o termo faz referência ao indivíduo com idade de 12 anos completos aos 18 anos incompletos.

Mesmo com pouca idade e maturação cognitiva incompleta, no decorrer dos séculos foi bastante comum ver crianças e adolescentes praticando atos de violência. Atualmente, esse problema tornou-se um fenômeno mundial (MONES, 1991; SHOEMAKER, 1996 apud OLIVEIRA e ASSIS, 1999).

No passado, essas crianças e jovens, considerados perigosos pela sociedade, eram frequentemente internados ou detidos em instituições correcionais. Essa medida de restrição de liberdade foi utilizada para o enfrentamento da questão, tanto por países desenvolvidos como por aqueles em desenvolvimento (HAWKINS, 1996 apud OLIVEIRA e ASSIS, 1999).

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Atualmente, temos políticas públicas que garantem os direitos e estipulam deveres a essas crianças e adolescentes considerados infratores.

Compreende-se o tratamento atual dado aos adolescentes em conflito com a lei a partir de um entendimento a respeito da dinâmica das relações sociais e históricas. Não se tinha muito esclarecimento sobre o tema da responsabilidade penal dos menores até bem pouco tempo.

A partir do nascimento dos códigos penais de corte, no século XIX, esse tema passou a ter sua formalização. Antecedendo, no entanto, as orientações doutrinarias que passaram a regulamentar os direitos da criança e do adolescente, existiram instituições carcerárias, nas quais era aplicadas praticas punitivas, onde acontecia desde a tortura ate a inanição.

Sem o entendimento dos direitos da criança e do adolescente, e com o mercado de trabalho em formação naquele, os sistemas punitivos transformaram esses “criminosos” em mão-de-obra barata, assim como retiravam os ociosos das ruas para fornecê-los ao mercado de trabalho.

No Brasil, a doutrina que se deu início ao regramento da punição aplicada às crianças e adolescentes, denominada doutrina da indiferença, vigorou desde o final do século XIX até o começo do século XX, tendo como principal característica o grande desinteresse pela política social (COSTA, 2011). A doutrina foi intitulada como sendo “da indiferença”, pois a punição aplicada às crianças e adolescentes era a mesma aplicada aos adultos.

Apenas as crianças menores de sete anos eram consideradas inimputáveis, e a partir dos sete anos de idade até os dezoito anos havia uma redução de um terço da pena em relação aos adultos, ou seja, tinham a liberdade restrita por um tempo menor que a dos adultos.

Assim, o direito penal do menor infrator caracterizava-se pela pouca ou quase nenhuma distinção em relação ao adulto. Além disso, as crianças nas ruas incomodavam as elites, tendo sido criadas instituições com o objetivo de higienizar e corrigir, “formando” trabalhadores. No Brasil, em 1830, foi elaborado o código criminal e as casas de correção, que eram destinadas a pessoas com idade de 14 a 17 anos, e por ser o crime considerado um desvio individual, nessa época passou a existir uma diferenciação entre o conceito de menor e o de criança.

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Diante desse contexto histórico, segundo Costa (2011), na doutrina o estado se responsabiliza em relação à tutela do “menor” em situação irregular, sendo considerados em situação irregular as crianças e adolescentes privados de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução. Então, em 1902, foi proposto por Mello Mattos a lei de proteção ao menor, que foi promulgada em 12/10/1927, como Código de Menores.

O código Mello Mattos estabeleceu que nenhum indivíduo menor de 14 anos, autor de crime ou contravenção penal, seria submetido a processo penal, e aquele maior de 14 e menor de 18 anos deveria ser submetido a processo especial, com informações dizendo a seu respeito, seu estado físico, mental e moral.

Em 1990, de acordo com Costa (2011), é construída a terceira e ultima doutrina, a da proteção integral, que é dirigida e orientada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no qual crianças e adolescentes são vistas como tendo direitos especiais e específicos, devido à condição de pessoas em desenvolvimento.

Entendendo que, de acordo com o ECA, crianças são todos com até 12 anos incompletos, sendo penalmente inimputáveis e irresponsáveis, e é considerado adolescente todo ser humano dos 12 anos até 18 anos incompletos.

2.1 Políticas públicas e sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente

No Brasil, é a partir do século XIX que o Estado passa a se preocupar com a infância. As primeiras ações do Estado com relação à infância pobre eram direcionadas apenas aos meninos desvalidos, excluindo os escravos e as meninas. Neste período a assistência pública criou o Asilo de Menores Desvalidos. “A ação de internação foi mantida por longos anos da história brasileira e tendo como objetivo educar ou ‘recuperar’ o ‘menor’ pobre através do trabalho, pois entendia que a capacidade de trabalho era o único bem da população empobrecida” (MELIM, 2005, p.3).

Nos primeiros anos da República a questão da criança e do adolescente era considerada uma questão de higiene pública e de ordem social. Para se consolidar o projeto de nação forte, saudável, ordeira e progressista (Ordem e Progresso), o estado deveria ocupar-se da ordem, da

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vida sem vícios, por exemplo, no combate aos monstros da tuberculose, da sífilis e varíola (FALEIROS, 1995).

Nos anos de 1940 se implementa uma política mais clara de atendimento à infância pobre, com a criação de órgão federal responsável por administrar e planejar as ações para essa camada da população. Surge então o Serviço de Atendimento ao Menor (SAM). Contudo, devido a diversas denúncias de falha na administração e maus tratos a menores, a instituição vai à falência e é criada a FUNABEM (Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor) e a FEBEM (Fundação Estadual de Bem-Estar do Menor).

Em 1979 houve uma reformulação no Código de Menores (1927), introduzindo a Doutrina da “Situação Irregular”, segundo Liberati (1991 p.02), que seria um sistema tutelar que continha medidas de proteção e sanções ao menor. Mas não continha outros fatores essenciais como medidas de apoio à família e do meio onde habitavam.

Com o fim do período de Ditadura Militar e o início do período democrático houve uma mudança nesse cenário das políticas de atendimento, e aos poucos a infância e adolescência começaram a fazer parte desta pauta na luta por direitos.

A Constituição Federal de 1988 trouxe um novo olhar político e social ao Brasil, e no campo da criança e do adolescente a Constituição, em seu artigo 227, normatizou preceitos que possibilitaram a regulamentação do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990.

O Estatuto irá mudar a concepção de criança e adolescente:

A concepção histórica de “menor” abandonado e delinquente é questionada e a criança e os adolescentes passam a ser considerados sujeitos de direito - visto que vivem em um Estado Democrático de Direitos -, em condição peculiar de desenvolvimento - já que ainda está em processo de desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social - e com prioridade absoluta (MELIM, 2005, p.5).

Apesar de um amplo avanço no que se refere ao atendimento à criança e ao adolescente, tanto político quanto legislativamente, ainda é necessário efetivar direitos civis e sociais que abranjam essa parcela da sociedade, pois diversos setores da sociedade ainda os tratam como

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“menor”, no sentido pejorativo do termo, com a intenção de inferiorizá-los, não os tendo como sujeitos de direito que são. E para isso deve-se criar cada vez mais políticas que promovam seu protagonismo, rompendo com a ideia da doutrina de situação irregular - que seria o indivíduo privado de condições de saúde, subsistência e instrução e por seu desvio de conduta ideal - que foi revogada pelo ECA.

2.2 O Estatuto da criança e do adolescente – ECA

O Brasil foi o primeiro país da America Latina a adequar a legislação aos princípios da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, promulgada em 1990. O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA é instrumento jurídico social de plena legitimidade histórica, configurando-se como uma ferramenta de cidadania, pois viabiliza a todo cidadão acionar os meios de defesa de direito da criança (de 0 a 12 anos incompletos) e do adolescente (de 12 a 18 anos incompletos) (SILVA, 2009).

A construção desse marco legal, resultado de um processo histórico, marcado por grandes lutas dos movimentos sociais pela infância, dos setores progressistas da sociedade civil, dos operadores das instâncias governamentais e das pressões internacionais, acarreta mudanças políticas, culturais e jurídicas à temática criança e adolescente, estabelecendo novos paradigmas na esfera de atendimento à população infanto-juvenil e reconhecendo sua situação peculiar de sujeitos em desenvolvimento.

Rompe-se assim com a lógica da gestão centralizada no Poder Judiciário, de caráter filantrópico e assistencial, onde criança e adolescente de família em situação de pobreza eram entendidos como objeto de proteção assistencial, unido à ideia da repressão e da tutela.

Com o ECA, instaura-se uma doutrina de Proteção Integral, reconhecendo a situação especifica de sujeitos em desenvolvimento, que carece de atenção e cuidado de diversos atores sociais, por serem sujeitos de personalidade e merecedores de dignidade (SILVA, 2009).

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, relata que a família, a sociedade e o Estado, são corresponsáveis na efetivação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente.

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É dever da família, da sociedade e do poder público assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

O artigo 4 do ECA atribui à família, como a primeira instituição social, a responsabilidade para a “efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação ao respeito e à liberdade” (Brasil, 1990). Entretanto, o Estatuto corresponsabiliza a comunidade, a sociedade em geral e o Poder Público na efetivação desses direitos citados.

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3 O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA) consolidou-se a partir da Resolução 113 do Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (CONANDA), de 2006. O sistema é resultado de uma mobilização marcada pela Constituição Federal de 1988 e pela promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), cujo intuito é a implementação de uma Doutrina da Proteção Integral, assegurando o interesse da criança e do adolescente como um direito de cidadania e dever do Estado.

Portanto, cabe ao Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente, promover, defender e controlar a efetivação dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais, em sua totalidade, no que tange a todas as crianças e adolescentes, de modo que sejam reconhecidos e respeitados como sujeitos de direitos em condição peculiar de desenvolvimento.

O Sistema de Garantia dos Direitos da criança e do Adolescente constitui-se na articulação e integração das instâncias públicas governamentais e da sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento do mecanismo de promoção, defesa e controle para efetivação dos direitos humanos da criança e do adolescente, nos níveis federal, estadual, distrital e municipal (CONANDA, 2006).

Porém, como já foi dito acima, as crianças e adolescentes tiveram os seus direitos e também os seus deveres defendidos. Com o crescimento exponencial de delitos praticados por crianças e adolescentes, diariamente divulgados em todos meios de comunicação, fez-se necessário estipular medidas socioeducativas a fim de diminuir a incidência do ato infrator.

3.1 Medidas Protetivas e Socioeducativas

O ECA prevê as medidas de proteção aplicadas às crianças e as medidas socioeducativas aos que tiverem seus direitos violados ou ameaçados “por ação ou omissão da sociedade ou Estado, por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável e em razão de sua conduta”, como destaca o artigo 98 (BRASIL, 1990).

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As medidas de proteção são aplicadas pelo Conselho tutelar e consiste, conforme o artigo 101 do ECA, em:

Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;

IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VII - acolhimento institucional;

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; IX - colocação em família substituta.

O adolescente, ao quebrar alguma regra da vida familiar, costuma ser advertido pelos seus responsáveis. Da mesma forma ocorrem com alunos que descumprem os regimentos da escola em que está inserido, na medida em que a escola tem a autoridade de responsabilizá-lo com punições de que vão desde a advertência até a expulsão regimental. Quando o adolescente quebra uma regra da sociedade, cuja transgressão é considerada crime ou contravenção, não são aplicadas as penas do código penal, mas uma medida socioeducativa.

Assim, há diferença entre medidas de proteção e medidas socioeducativas (MSE). As MSE podem ser aplicadas apenas a adolescentes autores do ato infracional, que é o ato análogo ao crime. As crianças ficam sujeitas a medida de proteção.

Assim encontram se textualizadas, no ECA:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

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3.4 Medidas Protetivas

De acordo com Coimbra, Bocco e Nascimento (2005), medidas protetivas são as medidas aplicáveis a crianças e adolescentes até os 18 anos de idade incompletos que, segundo o ECA (art. 98), estejam ameaçados ou violados por "ação ou omissão da sociedade ou do Estado; por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; e em razão de sua conduta".

Essas medidas têm como características: a garantia do direito à proteção integral; é destinada a crianças e adolescentes com direitos ameaçados ou violados; e é aplicada pelo Conselho Tutelar (exceto no caso de colocação em instituição e acolhimento em família substituta - poder judiciário).

3.5 Medidas Socioeducativas

De acordo com o ECA (Brasil, 1990 apud COIMBRA, BOCCO e NASCIMENTO, 2005), medidas socioeducativas são as medidas aplicadas a jovens entre 12 e 18 anos de idade incompletos, autores de alguma infração. As medidas socioeducativas são, em ordem crescente de severidade: advertência, obrigação de reparação do dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação, sendo as duas últimas em regime fechado. O ECA estabelece que os jovens não podem receber pena como os adultos, por entender que ainda estão em processo de desenvolvimento.

Conforme alude o supracitado disposto legal, somente a autoridade competente para atribuição poderá aplicar ao adolescente infrator medidas de caráter sócio educativo. A MSE de internação constitui uma forma de privação de liberdade cuja aplicação se encontra condicionada. Nela se cumpre todos os direitos do adolescente que são: direito à educação, cultura, esporte e lazer.

Na MSE de advertência, medida perpetrada pelo juiz, tendo a necessidade de fazer com que o adolescente tome ciência da ilicitude do seu ato e das consequências que poderão lhe advir se reincidir, tem como objetivo a natureza educativa e não punitiva.

Na MSE de reparação ao dano, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento, compense o prejuízo da vitima.

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Na MSE de prestação de serviço à comunidade, lhe é determinada a realização de tarefas gratuitas de interesse geral junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e em outros estabelecimentos equivalentes. De acordo com suas aptidões, nunca excedendo a oito horas semanais.

A MSE de liberdade assistida consiste numa supervisão de autoridade competente em acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente em relação à frequência e aproveitamento escolar, inclusão, se julgar necessário, em programas oficiais ou comunitários de auxilio e assistência social, e inserção no mercado de trabalho, sendo apresentados relatórios em todo o decorrer da medida.

A MSE de semi-liberdade possibilita realizar atividades externas à unidade socioeducativa. Onde são obrigatórias a escolarização e a profissionalização do adolescente, utilizando o máximo possível os recursos existentes na comunidade. Esta medida pode ser determina de inicio ou como forma de transição para o meio aberto.

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4 INSTRUMENTOS LEGAIS E NORMATIVOS DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

Hoje existe uma legislação que regulamenta e implica a execução de medidas socioeducativas, com sanções, normas, diretrizes e planos que norteiam o atendimento a adolescentes em conflito com a lei.

A Lei 12.594/2012 institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), que é o conjunto ordenado de princípios, regras e ações de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve o processo de apuração do ato infracional e de execução de medida socioeducativa em programas de atendimento ao adolescente infrator.

Os objetivos, estratégias e metas estabelecidos pelo SINASE são formulados pelo CONANDA (Conselho Nacional da Criança e do Adolescente) com o apoio do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

Ao instituir o SINASE, a nova lei define as competências de entes federativos, planos de atendimento nas respectivas esferas de governo, os diferentes regimes de programas de atendimento, o acompanhamento e as avaliações das medidas, a responsabilização dos gestores e as fontes de financiamento. Trata ainda da execução das medidas socioeducativas, abrangendo os procedimentos gerais e os atendimentos individuais, a atenção integral à saúde do adolescente em atendimento (com previsão especifica para casos de transtorno mental e dependência de álcool ou substancia psicoativa), os regimes disciplinares e a oferta de capacitação para o trabalho.

A Lei recomenda a individualização do plano de execução das ações corretivas, levando em contas peculiaridades de cada adolescente, como o registro de doenças, deficiências e dependências químicas. O princípio da não discriminação do adolescente, como registro em razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social, orientação religiosa, política ou sexual, é outro norteador das ações socioeducativas abrangidas pelo SINASE.

A Lei traz também a possibilidade de novas fontes de financiamento para os sistemas socioeducativos nacional, estaduais e municipais - antes, somente recursos dos orçamentos

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das prefeituras, governos estaduais e União e dos fundos de defesa dos direitos da criança e do adolescente eram destinados para programas socioeducativos. Dentre as novas fontes, constam o Fundo de Amparo ao Trabalhador, o Fundo de Prevenção, Recuperação e de Combate ao abuso de Drogas e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

Com essas novas possibilidades de financiamento, pode-se dizer que a Lei do SINASE não diz respeito apenas à execução de medidas socioeducativas, ela também abrange os atendimentos de cada indivíduo, assim como procedimentos gerais, como capacitação para o mercado de trabalho.

4.1 Processo para aplicação de medida sócio educativa

São necessários três procedimentos para aplicação da medida socioeducativa. No primeiro procedimento, o adolescente quando apreendido em flagrante (e não preso) é conduzido, com as limitações previstas no artigo 178 do ECA, à delegacia especializada e, se não houver, para a delegacia comum. O Artigo 171 do ECA determina que nos casos em que a prisão do adolescente se dá por ordem judicial, ele é levado para a justiça da infância e juventude.

Essas são as duas únicas formas de se privar o adolescente de sua liberdade. Não há a apreensão para averiguação. Sua ocorrência caracteriza crime previsto no ECA. Chegando na delegacia especializa, deve ser apresentado à autoridade policial para que lavre o boletim de ocorrência circunstanciado. Depois de todo esse procedimento, será liberado e devem os pais se encarregar de levar o adolescente para ser ouvido pelo Ministério Público no mesmo dia ou no dia útil seguinte. Logo, os pais devem prestar termo de compromisso.

No segundo procedimento, o Promotor vai realizar a oitiva informal, na qual estará presente o adolescente, os pais, a vítima e as testemunhas. Depois da oitiva informal o Ministério Público poderá: promover o arquivamento ou conceder remissão - conforme artigos 126 e 127 do ECA - ou poderá oferecer representação - quando institui peça processual e passa para fase judicial.

O terceiro procedimento ocorre em sede judicial, para que o juiz possa proferir sentença aplicando ou não uma medida socioeducativa, essa fase se inicia com oferecimento da representação pelo Ministério Público e deverá ter presença obrigatória do advogado,

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conforme artigo 207 do ECA. O juiz profere sentença que pode ser: absolutória ou sancionatória (medida socioeducativa e/ou medida protetiva). Dessa sentença cabe apelação sendo possível o juízo de retratação, no prazo de 10 dias.

4.2 Aplicação das medidas socioeducativas

As medidas socioeducativas constituem parte do sistema de responsabilização jurídica especial aplicadas aos adolescentes sobre os quais se verificou a prática de ato infracional sem, contudo, deixar de observar os direitos que são garantidos aos adolescentes, face à condição de pessoas em desenvolvimento que dependem, material e emocionalmente do mundo adulto.

Nelas estão presentes dois elementos que traduzem suas finalidades: Socioeducação e Responsabilidades. Isso significa dizer que, as medidas socioeducativas possuem uma natureza sociopedagógica condicionada à garantia de direitos fundamentais e ao desenvolvimento de ações que visem à formação para o exercício da cidadania (SOUZA, 2008, p.25).

Para a apuração do ato infracional devem ser observados os critérios do ECA. Somente após o devido processo legal, assegurada ao adolescente a ampla defesa, pode esse adolescente cumprir a medida socioeducativa imposta pelo Estado – Juiz.

4.3 PASE, PPI e PPP

O PASE é o Plano de Atendimento Sócio educativo do Governo do Rio de Janeiro que define as mudanças de conteúdo, método e gestão requeridas para alinhar sua política de execução das medidas socioeducativas, impostas pela Justiça da Infância e da Juventude aos adolescentes em conflito com a lei em razão do cometimento de ato infracional.

A missão do PASE é criar espaços e condições pra que os adolescentes em conflito com a lei possam desenvolver as competências pessoais, relacionais, produtivas e cognitivas que lhe permitam, como pessoas, cidadãos e futuros profissionais, atuarem no convívio social sem reincidir na quebra de normas tipificadas pela Lei Penal como crimes ou contravenções, por

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meio do emprego de métodos e técnicas de ação socioeducativas comprometidas ao mesmo tempo com a sua proteção integral e segurança dos cidadãos.

O PPI (Projeto Político Institucional) é o instrumento direcionador, cuja função é nortear as ações desenvolvidas pelo novo DEGASE (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) no cumprimento de sua missão, enquanto órgão executor do atendimento socioeducativo no Estado do Rio de Janeiro.

O PPP (Projeto Politico Pedagógico) por sua vez é quem define a identidade das Unidades Socioeducativas, caracterizado por criar meios onde o adolescente se adapte aos projetos educativos necessários ao processo de ensino e aprendizagem. Onde o adolescente é considerado como cidadão em formação, que carece de ser conscientizado da forma como atuará individual e coletivamente na sociedade. A partir disso o PPP reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo no decorrer da medida socioeducativa.

4.4 Departamento geral de ações socioeducativas – DEGASE

O DEGASE tem como missão promover a socioeducação no Estado do Rio de Janeiro, favorecendo a formação de pessoas autônomas, cidadãos solidários e profissionais competentes, possibilitando a construção de projetos de vida e a convivência familiar e comunitária. O Departamento Geral de Ações Socioeducativas foi criado em 1993 com o objetivo de assumir a política de atendimento ao adolescente infrator, anteriormente executado pelo Governo Federal. Essa responsabilidade de executar as Medidas Socioeducativas em meio Aberto foi transferida do estado para os municípios em 2008, conforme recomenda o ECA e sistematiza o SINASE.

4.4.1 Execução do DEGASE

Com a municipalização das medidas de meio-aberto, o DEGASE passou a executar somente as medidas socioeducativas de semiliberdade e internação, tanto cautelar quanto a definitiva, nos moldes dos artigos da Lei 8069/90, respeitando todas as diretrizes da Lei 12594/2012 que instituiu o SINASE.

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Hoje a estrutura do DEGASE é composta por unidades de internação provisória, unidades de internação e unidades de semiliberdade, sendo divididas em unidades masculinas, unidades femininas e em alguns casos unidades mistas (masculina e feminina).

Essas unidades são divididas conforme descrição abaixo:

01 Centro de Socioeducação - Gelso de Carvalho Amaral – CENSE GCA

02 Unidades de Internação Provisória – CENSE Dom Bosco (ex-instituto Padre Severino) e CENSE Ilha do Governador – unidades masculinas.

01 Unidade Exclusiva de Internação – Educandário Santo Expedito (ESE) – masculina.

05 Unidades de Atendimento Misto (Internação Provisória e Internação): Escola João Luiz Alves (EJLA), Centro de atendimento Intensivo de Belford Roxo (Cai-Baixada), Educandário Santos Dumont (ESD) (unidade feminina), CENSE professora Marlene Henrique Alves (CENSE Campos) e CESNSE Irmã de Lá Gandara Ustará (CENSE Volta Redonda).

16 Unidades de Semiliberdade:

Exclusivamente Masculina: CRIAAD: Bangu, Cabo frio, Campos dos Goytacazes, Duque de Caxias, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Penha, Santa Cruz, São Gonçalo, Teresópolis e Volta Redonda.

Exclusivamente feminina: CRIAAD Ricardo de Albuquerque.

Unidade de Atendimento Misto de Semiliberdade (masculina e feminina): Barra Mansa, Macaé e Nova Friburgo.

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5 EGRESSO DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

Entende-se como egresso do sistema socioeducativo os adolescentes que receberam extinção das medidas de internação ou de semiliberdade. O DEGASE através do setor Assessoria às Medidas Socioeducativas e ao Egresso – AMSEG elaborou o Projeto Egresso do Sistema Socioeducativo do Estado do Rio de Janeiro, buscando atender o que recomenda o ECA e o SINASE no que se refere a programas para o acompanhamento de egressos do sistema.

Isso pode se dar no âmbito da responsabilidade social, no que tange às empresas e micro empresas, que podem auxiliam neste caso, dando oportunidade de trabalho para os egressos, o que é de total interesse publico.

Daft (1999, p.88) define a responsabilidade social como sendo "(...) a obrigação da administração de tomar decisões e ações que irão contribuir para o bem-estar e os interesses da sociedade e da organização". Sendo assim, a responsabilidade social foca a cadeia de negócios da empresa e abrange preocupações com um público maior (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente), cujas demandas e necessidades a empresa deve buscar entender e incorporar em seus negócios (ROTHGIESSER, 2004).

Mediante essa definição de responsabilidade social, é preciso definir sua importância e contribuição na ressocialização do adolescente infrator, na medida em que uma das manifestações mais expressivas da responsabilidade social é a ação social externa da empresa, tendo como beneficiária principal a comunidade ao seu entorno. A responsabilidade social, no entanto, não altera a gestão do negócio, mas faz uma interação entre áreas antes distintas, para que a empresa gere para a sociedade um bem além da geração de novos empregos, o que poderia beneficiar diretamente esse processo onde os egressos das medidas socioeducativas estão reconstruindo suas vidas e seus projetos pessoais.

E para reconstruir suas vidas é preciso oferecer ferramentas para que esses adolescentes possam trabalhar e gerar seus próprios recursos financeiros. E para gerar esses recursos, além de oferecer um trabalho deve-se oferecer profissionalização, pois com uma profissão esse adolescente poderá reconstruir sua vida em qualquer local onde residir.

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Atualmente em Volta Redonda há empresas empenhadas nesse processo de responsabilidade social, como a CSN, que oferece cursos e treinamentos em Hotelaria; Fundação Beatriz Gama que oferece cursos em mecânica, lanternagem e informática; a Dagaz/Coca cola que oferece logística, marketing e informática; o CRAS (Centro de referência a assistência social) da Vila Mury, que oferece profissionalização para garçons e cabeleireiros; e o Senac que oferece o curso de Administração.

Essa proposta de profissionalização pode ser uma das mais adequadas ao processo de ressocialização, porém ainda há algumas questões que merecem atenção, e uma delas é a inserção desse profissional recém-formado no mercado de trabalho.

O caso do CRIAAD Volta Redonda, que atualmente consta com 29 adolescentes, dos quais apenas 2 trabalham, mesmo que dentre os 29, 11 destes estejam cursando e 7 já concluíram cursos profissionalizantes nas áreas de logística, marketing, hotelaria, garçom, barbearia e mecânica de motos.

Acreditamos que a falta de confiança na reabilitação é um dos principais desafios enfrentados por esses adolescentes para conseguir um emprego, pois, ao contratante será exigido um termo de “Proposta de Emprego”, e isso no geral insurge um bloqueio por parte da empresa, principalmente ao ter o conhecimento de que tal adolescente estava apreendido por ato infracional.

Apesar dessas questões que envolvem a recolocação desses adolescentes no mercado de trabalho, o CRIAAD tem se esforçado para sensibilizar os empresários locais para abraçarem essa causa. É necessário despertar tais empresários e microempresários para essa realidade do sistema socioeducativo e para o fato de que a contribuição social da empresa pode ser e é de suma importância.

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6 CONCLUSÃO

Com a desigualdade social e a falta de investimentos em políticas públicas, principalmente na educação, amplia-se a vulnerabilidade da infância e da adolescência, tornando comum o envolvimento destes em situações de conflito com a lei.

A criação do DEGASE foi um marco no atendimento a esses jovens, focando na descentralização de atendimento e o desenvolvimento de uma discussão humanista somada à própria institucionalidade da esfera estadual, iniciando a propriamente dita política pública de socioeducação no Estado do Rio de Janeiro.

O DEGASE, sistema que administra unidades onde são aplicadas medidas socioeducativas de semiliberdade e privação de liberdade no Estado do Rio de Janeiro, veio para receber esses adolescentes, vendo-os apenas como educandos, capazes de viver em sociedade, respeitando os direitos da criança e do adolescente, em concordância com o Estatuto da Criança e Adolescente e o Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo).

Porém muitos investimentos ainda devem ser feitos, especialmente em recursos humanos e em formação continuada voltada principalmente para os trabalhadores do sistema. Com uma equipe de atuação mais preparada para essas questões o objetivo de ressocialização desses jovens infratores tende a ser mais efetivo.

São milhares de crianças, adolescentes, jovens que perdem boa parte de suas vidas ou até mesmo a própria vida ao se envolverem em situações de conflito com a lei, podendo ter sua privação de liberdade em um momento de desenvolvimento físico e intelectual, deixando de viver e conhecer aquilo que seria indispensável à sua idade.

A prevalência de uma visão punitiva faz com que esses “menores” se tornem invisíveis, excluídos do meio social. Ou seja, eles chegam na sociedade sem espaço, sem lugar, sem oportunidades, o que acarreta num ciclo vicioso, de um centro socioeducativo a uma penitenciária. Está claro que ver esses “menores” como criminosos torna a sociedade doente.

O DEGASE possibilita aos adolescentes espaços para escolarização, profissionalização, práticas de esporte, práticas culturais, alojamentos, refeitório e infraestrutura de saúde,

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oferecendo a esses jovens uma nova oportunidade de vida, focando no crescimento profissional e pedagógico.

Ao oferecer uma nova oportunidade, o DEGASE oferece um processo de mudança de atitude, que apresenta aos adolescentes possibilidades para se tornar um profissional e se inserir no mercado de trabalho. Reabilitação não apaga o passado, mas muda o futuro, pois oferece um caminho que antes não era possível. E para mudar a vida desses adolescentes de forma significativa é necessário um empenho conjunto, primeiramente do próprio adolescente, depois do governo que oferece ferramentas e opções para essa mudança e de empresários que oferecem o trabalho como forma de sustento digno.

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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, Ministério da Justiça, Brasilia. 1988.

BRASIL. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE, Lei 12.594/12, Brasilia. 1990.

BRASIL. Código de Menores de 1927, Decreto Nº 17943/1927.

BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Direitos Humanos (SDH). Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo: Diretrizes e eixos operativos para o SINASE. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 2013.

COIMBRA, Cecília; BOCCO, Fernanda; NASCIMENTO, Maria Livia do. Subvertendo o conceito de adolescência. Arquivos Brasileiros de Psicologia. v. 57, n. 1 (2005).

CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. 7.ed. São Paulo: Malheiros, 2005.

DAFT, R. L. Administração. Tradução. 4. ed. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 1999.

FALEIROS, Vicente de Paula. Infância e processo político no Brasil. In: PILLOTTI, Francisco; RIZZINI, Irene (Orgs.). A arte de governar crianças. A história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Interamericano Del Niño/Santa Úrsula/Amais Livraria e Editora, 1995.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: a formação da familia brasileira sob regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 22°. Edição, 1983.

LIBERATI, Wilson Donizeti. O Estatuto da Criança e do Adolescente: comentários. RJ: IBPS, 1991.

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MELIM, Juliana Iglesias. A construção da política de atendimento à criança e ao adolescente: de menor a sujeito... O que mudou? II Jornada Internacional de Políticas Públicas, São Luís, MA, 2005. Disponível em <www.joinpp.ufma.br/jornadas>. Acesso em 04/12/2016.

OLIVEIRA, Maruza B.; ASSIS, Simone G.. Os adolescentes infratores do Rio de Janeiro e as instituições que os "ressocializam". A perpetuação do descaso. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, p. 831-844, Oct. 1999. Disponível em

<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1999000400017&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 03/05/2017.

ROTHGIESSER, Tanya Linda. Sociedade Civil Brasileira e o Terceiro Setor. Disponível em <http://www.terceirosetor.org.br/>. Acesso em: 07/04/2017

SILVA, Neidy Marcia de Souza. Desafios a gestão integrada de politicas publicas. Dissertação de mestrado: UERJ, 2009.

SOUZA, Rosimeri. Caminhos para a municipalização do atendimento socioeducativo em meio aberto: Liberdade assistida e prestação de serviço a comunidade. Rio de Janeiro: IBAM/DES; Brasilia, 2008.

VOLPI, Mario. Sem liberdade, sem direitos: a experiencia da privação de liberdade na percepção dos adolescentes em conflito com a lei, São Paulo, Cortez, 2001.

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