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Reitoria da Universidade do Porto Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Câmara Municipal do Porto Fundação Engenheiro António de Almeida
Fundação Calouste Gulbenkian Centro de Estudos da População e Família
Homenagem ao Professor Víctor de
Sá
Organização do
APRENDER A ARTE
-
Sobre o Aorendizado nas Fábricas e Oficinas
seg;ndo um Inquérito de
1866
Gaspar Martins Pereira
1. Na nova ordem socio-económica liberal, que se impôs no
segundo quartel do século
XIX, o papel das antigas corporações
de ofícios aparecia como um sério obstáculo
à
liberdade de
circulação da mão-de-obra industrial,
á
livre formação do
mercado de trabalho e ao livre acesso
a
profissão. Não podiam
tolerar-se,
à
luz dos princípios do liberalismo económico
triunfante, as restrições colocadas pelos estatutos da; corpora-
ções, nomeadamente as que se relacionavam com o número de
aprendizes a admitir em cada oficina e com as condições do
aprendizado já que proibiam a livre circulação da mão-de-obra e
estabeleciam o controlo do acesso
à
qualificação profissional'.
Por outro lado, o Estado liberal não podia suportar a existência
de corpos organizados que limitassem o exercício da livre
iniciativa individual dos cidadãos. De resto, já na segunda
metade do século
XVIII, o desenvolvimento da indústria
manufactureira e a instituição de organismos estatais destinados
a proteger, fomentar e controlar a produção da indústria
nacional, na lógica mercantilista dominante, introduzem-se
como elementos desagregadores das antigas prerrogativas das
corporações de ofícios. Destaque-se o impacto das Manufacturas
do Estado lançadas por Pombal, cujos regulamentos passam a
impor-se como normas orientadoras de diversos oficios. Parale-
lamente, a instituição da Junta do Comércio, dotada de poderes
para conceder alvará de estabelecimento de novas indústrias,
desfere um duro golpe na hegemonia profissional das corpora-
ções.
Em 1834, o novo Estado liberal extingue definitivamente as
antigas formas de organização corporativa, consideradas como
((estorvos
à
indústria nacior~al»~.
O
regime liberal permite agora
aos industriais e proprietários das oficinas admitir qualquer
número de aprendizes, sem que se estabeleçam quaisquer normas
sobre as condições de aprendizado, possibilitando em contra-
partida a livre circulação dos aprendizes. O recrutamento de
grande número de menores, bem como de mulheres, nas oficinas e
nas fábricas3, permite aumentar a produção com salários
substancialmente mais baixos4.
Face a o vazio legislativo que sucedeu
à
abolição das
corporações de oficios, o acesso
à
profissão e as condições de
formação profissional passam a fazer-se de acordo com os
interesses dos industriais que estabelecem nas suas oficinas e
fábricas regulamentos internos próprios.
Quebrava-se, assim, a lógica tradicional artesã das relações
entre o mestre e o aprendiz, centrada na transmissão controlada
do saber especializado da arte e na defesa do prestígio
profissional, suplantada agora pela lógica da livre concorrência
e do lucro. Dai que as questões do aprendizado e do ingresso no
mundo do trabalho tenham constituído, no processo de
industrialização oitocentista, um ponto fulcral de resistência e
de reivindicações operárias, frequentemente defensoras da ordem
tradicional artesã contra a nova ordem liberal5. Como salientou
já Maria Filomena Mónica, referindo-se às motivações das
revoltas operárias iniciais, «o que estava em causa era fundamen-
talmente a liberdade que o capitalista se arrogava de destruir os
costumes do ofício, quer através de máquinas, quer através da
concorrência crescente de novos b r a $ o ~ » ~ .
2.
A
realidade industrial portuguesa, como tem sido
salientado por diversos autores, mantém até muito tarde um
peso assinalável da pequena indústria oficinal, onde as tradições
artesanais se revelam persistentes. Na indústria nortenha, e
nomeadamente na indústria portuense, a maquinofactura
constitui excepção. Predominam as unidades oficinais e domésti-
cas, com fraquíssimo grau de apetrechamento tecnológico e
dispondo de uma mão-de-obra abundante, prevalecendo a rotina
e os hábitos tradicionais7.
As relações entre o mestre e os seus oficiais e aprendizes
pautam-se ainda pela concepção paternalista. Frequentemente o
mestre comunga com os aprendizes a mesa, a casa e o trabalho8.
Em algumas indústrias, como a ourivesaria ou a relojoaria,
procura-se mesmo limitar a admissão de novos aprendizes ao
círculo da parentela, numa tentativa de manter o secretismo
profissional e a dignidade do oficio, por vezes associado ao nome
de família.
Após 1834, perante o vazio legislativo no sector do
aprendizado, iremos assistir a profundas discrepâncias nas
condições de acesso ao oficio e de formação dos jovens
aprendizes. Mas, convirá salientar, como se depreende dos
documentos publicados em anexo, que tal diversidade profissio-
nal e regional
é
fortemente marcada pelo costume. Em certos
casos, aliás,
22
anos depois da Lei de 1834, continuam a realizar-
-se contratos de aprendizado de acordo com os regulamentos
corporativos extintos.
3. Os documentos que publicamos resultaram da actividade
de uma Comissão de Inquérito
i
situação do aprendizado e do
trabalho dos menores nas fábricas e oficinas, presidida pelo
Governador Civil do Porto, barão de
S.
Januário, e referem-se
A3
práticas correntes nos diversos distritos do Norte e Centro do pais
(Viana do Castelo, Braga, Bragança, Porto, Aveiro, Viseu e
Guarda), em
1866~.
Procurando responder
à
indefinição legislativa relativamente
a
um
aspecto que preocupava quer os industriais, quer os
operários, o ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria,
João de Andrade Corvo, visa estabelecer
((regras certas, justas e
equitativas» que orientem as relações entre mestres e aprendizes.
Nesse sentido, a Comissão do Porto viria mesmo a ultrapassar os
objectivos para que tinha sido criada (a indagação das condições
de aprendizado que se praticavam), publicando um
Projecto de
Lei &aprendizagem extrahida da Lei Franceza de 22 de Fevereiro a
4 de M a r ~ o
de
1851i0,
que estaria também na base das disposições
relativas ao aprendizado que se publicariam no Código Civil de
1867, o qual constitui a primeira legislação liberal sobre a
matéria. O recurso
à
experiência estrangeira parece ter sido a
forma expedita de ultrapassar a grande diversidade de condições
de aprendizado que se praticavam, de acordo com as informações
então recolhidas, reveladoras não apenas da diversidade regional
e profissional, mas também da persistência de aspectos da
tradição corporativa e da prevalência do costume num momento
de vazio legislativo.
O
inquérito fornece-nos um conjunto
importante de informações gerais, por distritos e profissões,
relativas às idades de ingresso no aprendizado,
à
sua duração, aos
horários de trabalho e de repouso dos aprendizes, aos salários, às
modalidades de contratação,
à
situação dos aprendizes na
doença, às penalidades,
à
residência do aprendiz, etc. Apesar de
incompleto e de comportar informações dispersas, o conjunto de
documentos que publicamos revela-se de grande interesse para o
conhecimento das condições de ingresso no mundo do trabalho e
de formação em meados do século passado.
4. Na maior parte dos distritos tinha já desaparecido o
costume de se fazer escrituras públicas nos contratos de
aprendizado, as quais, segundo revela um dos industriais
inquiridos, eram vulgares vinte anos antes. As condições do
aprendizado passam a ser estabelecidas por um ajuste verbal
entre o mestre ou dono da oficina e os pais ou superiores do
aprendiz. Como nos informa um outro industrial, os contratos
escritos, quando se faziam, utilizavam ainda as normas dos
antigos regulamentos. Em Braga, segundo o respectivo Gover-
nador Civil, ((toda a classe d'artistas em geral se pronnuncia ainda
hoje por estas antigas praticas, que elles abonam com argumentos
tirados da experiencia
...
».
E,
no concelho de Estarreja, no distrito
de Aveiro,
((é
ainda observada a antiga pratica, sendo as
obriga~ões reciprocas de mestres e aprendizes estipuladas em
escripturas, ou outros titulos, que produzem effeito em juizo. a irão
ser que contenham
condições torpes ou oppostas
á
moral publica)).
Nas fábricas, como se verifica pelas informações relativas
à
Companhia Aurificia ou
à
Fundição de Massarelos, do Porto,
são os próprios regulamentos internos que tendem a reger as
condições do aprendizado. Na maior parte das oficinas, a ordem
liberal permitiu aumentar o poder discricionário do mestre ou do
patrão, numa conjuntura de abundância de mão-de-obra no
mercado de trabalho.
A idade de ingresso no aprendizado varia substancialmente de
profissão para profissão e de localidade para localidade,
oscilando entre os 8 e os 15 anos, situando-se vulgarmente em
tomo dos 12 anos". Da mesma forma varia também a duração
do aprendizado, podendo ir desde um ano, entre alguns mestres
sapateiros, até aos dez anos, como acontece entre os latoeiros de
Lamego. Frequentemente, a liberdade do mestre poder aumentar
o tempo de aprendizado constitui uma estratégia de retenção de
mão-de-obra barata, sobretudo em zonas do interior, onde o
aprendiz não dispõe muitas vezes de alternativas de colocação.
Para ingressar no oficio, como nos revelam alguns depoi-
mentos, valoriza-se sobretudo a robustez fisica da criança,
considerando-se a instrução como um valor secundário.
Há,
por outro lado, exemplos de critérios de admissão mais rigorosos,
como o parentesco, utilizado ainda por algumas elites profissio-
nais, em que os conhecimentos da arte são considerados como um
património valioso, na lógica do secretismo tradicional (caso dos
relojoeiros de Braga).
A diversidade da valorização profissional dos diversos oficios,
a abundância de candidatos ao aprendizado no mercado de
trabalho e os costumes locais determinam um leque muito
alargado de situações relativas aos salários dos aprendizes. Em
certos casos, sobretudo nas profissões mais valorizadas, os
aprendizes têm mesmo de pagar ao mestre somas consideráveis
que poderão atingir mais de 50$000 rs., o equivalente ao salário
recebido num ano por um oficial. Outros poderão ganhar um
salário, que raramente ultrapassa os 100 rs. diários, oscilando,
regra geral, entre os 40 e os 80 rs. Muitos, no entanto, nada
recebem.
A separação gradual entre
a
unidade de produção e a unidade
de residência contribuiu para enfraquecer a posição paternalista
do patrão ou mestre face a o aprendiz. O aprendiz que vive na casa
do mestre, com direito a
((cama, mesa e roupa)), associado por
vezes
à
condição de criado doméstico, irá desaparecer. Mas, em
1866,
os
«aprendizes internos)) são ainda frequentes. O Projecto de
Lei d'aprendisagem,
já
citado, transcrevendo aliás a lei francesa,
integra esta posição paternalista do mestre
-«o mestre deve ser
para o aprendiz como um bom pae, vigiar sua cortducta e costumes
tanto externa como domesticamente...». Este paternalismo
aprendizes, alvos de castigos corporais, tantas vezes denunciados.
Também a utilização abusiva dos aprendizes no serviço
doméstico suscita muitas queixas dos operários, aparecendo-nos
aqui denunciada pelas próprias autoridades. ((Dá-se em algumas
officinas
-lê-se no depoimento do Administrador do Concelho de
Viseu
-o abuso dos mestres empregarem os aprendizes no seu
serviço domestico, de modo que findo o tempo do aprendizado,
pouco ficam sabendo do offiio a que se dedicaram exigindo por isso
os mestres aos aprendizes mais tempo de trabalho gratuito, ou
dando-lhes um salario diminuto».
Os horários de trabalho do aprendiz são por toda a parte
geralmente longos em quase todas as profissões. Estendem-se,
regra geral, de sol a sol, diferindo os horários de inverno dos de
verão. No inverno, trabalham normalmente desde as 7 horas da
manhã às 8 da tarde. No verão, das 5 horas da manhã às
8
da
tarde. No entanto, os períodos de descanso são também maiores
no verão, incluindo meia hora para o «almo$o» (às 8,30h) e duas
horas para o «jantar» (ao meio dia), associado por vezes ao tempo
da «sesta». No inverno, a pausa do (Qantar» reduz-se geralmente a
uma hora e, em algumas profissões e localidades,
é
vulgar fazer-se
serão até às 10 ou 11 horas da noite. O dia de trabalho raramente
é
inferior a 13-16 horas, incluindo as pausas que variam entre
uma e três horas diárias. Os documentos que apresentamos
reflectem também neste aspecto diferenças profissionais impor-
tantes. Se os aprendizes de oleiros, cuteleiros, tecelões de linho ou
serralheiros do Distrito de Braga têm de trabalhar das 4 horas da
manhã até por volta das 8 da tarde,
já os aprendizes de ourives do
Distrito de Viana do Castelo, trabalhando das
7
horas da manhã
às 5 da tarde de inverno e das 6 da manhã às 7 da tarde de verão,
parecem mais favorecidos.
5. No ano seguinte, o Código Civil viria estabelecer a primeira
expressão legislativa liberal sobre o aprendizado. Fixa as
condições de rescisão do contrato, determina o limite de
9
horas
diárias de trabalho para os aprendizes menores de 14 anos e de 12
para os menores de 18 anos, proíbe o mestre de reter o aprendiz
«além do tempo convencionado ou do costume)), mas a contra-
venção seria apenas punida com o pagamento ao aprendiz pelo
serviço prestado. Por outro lado, o aprendiz não poderá
abandonar o mestre antes de acabado o tempo do contrato. Da
ineficácia desta legislação não valerá a pena acumular provas. A
Lei de 14 de Abril de 1891 sobre o trabalho dos menores e das
mulheres nas fábricas e oficinas refere no seu preâmbulo que «a
cobea natural das emprezas deseja nos seus trabalhos o menor, por
que elle
é
instrumento docil e barato; e, tanto mais barato quanto
mais produzir)).
A
Lei de 1891, que constitui um importante
documento da nova filosofia de intervenção social do Estado,
deixa inferir do incumprimento das disposições do Código Civil
de
1867.
Basta salientar o facto de que a jornada de trabalho dos
menores de 14 anos passa de 9 para 10 horas, segundo a nova
lei1'.
Imagens de um mundo demasiado duro para as crianças e
jovens, provavelmente não mais duro que o anterior, mas sem
dúvida mais incerto. Tanto mais que as máquinas virão
desqualificar o saber do artista e transformá-lo em operário. E
quantas vezes não há-de ainda o operário sonhar com o ((mundo
perdido dos artistas)),
onde o «saber-fazer)) era uma arte?
Porto, Fevereiro de 1991
NOTAS
'
Para o estudo das antigas corporações de oficios continua a ser ntilissima a consulta da obra de LANGHANS, Franz-Paul de Almeida, As corporopies dosofícios mecânicos. Subsídios para a sua história, 2 vols, Lisboa, 1943. Relevo
especial merece o estudo introdntório desta obra, da responsabilidade de CAETANO, Marcello, A antiga organiza$ão dos mesteres da cidade de Lisboa, pp. X-LXXN.
Decreto de 7 de Maio de 1834.
'
No caso do Porto, segundo o Inquérito Industrial realizado em 1852, dos6 090 operários que trabalhavam nas fábricas e oficinas 35% eram mulheres e 21% menores. Na indústria têxtil, principal ramo da indústria portuense, que ocupa 4 058 operários, cerca de 44% são mulheres e 18% são menores. Cf. MAGALHAES, Maria Madalena Allegro de, A indústri~ do Porto na primeira
vol. IV, Porto, 1988, p. 138. No Inquérito Industrial de 1881, a Subcomissão do Distrito do Porto, dirigida por Oliveira MARTINS, aponta 27 195 mulheres (33%) e 14301 menores (17%) num total de 82 193 operários do distrito. Cf.
Inquérito Industrial de 1881 - Inquérito Directo, 2O Parte.
Nas fábricas de tecidos do Porto, por exemplo, o salário das mulheres em 1860 oscilava entre 50 e 120 rs., representando menos de um terço do salário masculino (200 a 300 rs.), enquanto o dos menores (40 a 80 rs.) rondava por cerca de um quarto do dos homens adultos. Cf. G O W E A , Visconde de, Relalório
apresenrado à Junta Geral do Distrito do Porto
...,
Porto, 1860, mapa n' 6. Diversos jornais ((operários)) de meados do século, como o Eco dosOoerários (Lisboa. 1850). o Jornal dos Ooerários (Porto. 1852). A Voz do
.
.
,.
Oper<irio (Porto, 1853) ou o Jor»iil do Ci?utrii Promotur (Lisbod, 1852-1853), reiicciem cm vinos ari~gos C513 p011~ào. Cf. BAKRETO, J a é , O i tipigrafor 2 o d ~ ~ s ~ ~ r t i i r du ~ o ~ ~ t r a t o ~ ã o C U / L , C ~ I I . I I L~,>I PUTII<PU/ 1 , <\Anilisc Socidlu. Vol. XVII (64, 1981-2O, pp. 255-291. Também ~aria"Filo&na MÓNICA tem destacado este aspecto em diversos trabalhos. Cf., por exemplo, Umu arisrocracia operária:
os cltapeleiros (1870-1914). «Análise Social», vol. XV (60), 1979-4*, p. 861; A
forma~ão da classe operário portuguesa. Antologia da imprensa operária (1850-
-19341, Lisboa, 1982, p. 24: «o controlo do aprendizado constifuiu um ponto
fundamenral nas lutas operárias iniciais. Os primeiros operários não lutaram só por reivindicap3es salariais, lutaram também, e principalmente, paro que o conrrolo sobre o mercado de trabalho lhes não saísse das mãos, objectivo evidentemente incompativel com a necessidade da constitu&ão de um mercado de trabalho copifalistao.
MONICA, Mana Filomena, Uma aristocracia operária
...,
p. 864.'
Cf. JUSTINO, David, A formação do espaço económico nacional. Porrugnl, 1810-1913. Vol. I, Lisboa, 1988, p. 77-125.Este modelo de co-residência de aprendizes com os seus mestres pode detectar-se também com frequência nos Livros de Desobriga de Cedofeita que serviram de base ao nosso trabalho Eslruturas familiares na cidade do Porio em
meados do século XIX, Porto, 1986 (dissertação de Mestrado, dactil.).
Arquivo do Governo Civil do Porto, Correspondência Recebida, 1866 (M645). H á referências à resposta enviada pelo Governador Civil de Vila Real, aue não conse~uimos
-
detectar. Os Governadores Civis de Coimhra e Castelo Branco nio enviar~m inforniaqõcz. AI bus:a, 3 qur prucedcmos no Arquivo H i . ' ,ton:o . do Minisicrto das 0br:is I'úblic~?, pdr& dcrccrar os rclsi0rios enviado?rielas Comissões, revelaram-se infrutíferas. Pelo menos o do Porto sabemos ter Sido enviado pelo louvor que o mesmo mereceu por parte do Rei, pela portaria de 15 de Janeiro de 1867 que dá por extinto o trabalho desta Comissão. Da Comissão faziam parte Justino Ferreira Pinto Basto, Joaquim Ribeiro de Faria Guimarães, Joaquim Torcato Alvares Ribeiro, Diogo José Cabral, Rodrigues de Freitas, barão do Freixo, Gaspar da Cunha Lima, Manuel Ferreira Duarte Cidade, João Arsénio Freire e Francisco José de Carvalho. Em Lisboa, foi criada idêntica Comissão, presidida por Augusto César Cáu da Costa (de que faziam oarte. entre outros. Fradesso da Silveira. Pereira Marecos e Aeostinho Roxo). par3 proceder a igual inquirito nos disrritos de L.isbua, ~:iniar:m, ixvora, ~ e j á , Portllcgrc c Faro. Cf Purtiria dc I? de Scicmbro dc 1866 do .Minisiirio d;ls Obrd j I'ublicas, Coniircio c Indiistri:!, Dióriu de Lirhoo, n0?07 de 13 de Setembro
'O A experiência inglesa parece não ter sido também ignorada, a avaliar pela
existência de uma cópia de um contrato realizado em Liverpool em 1834. " A análise etária dos aprendizes numa zona de dominância artesã no Porto de 1827 revelou já a mesma concentração em torno dos 12 anos. Cf. FERNANDES. Paula Guilhemina. Breve abordaaem o uma esrrurura socio- -prr,]irriotzol <Ia sl,la<lc~ ,lu I>o~,!Io nar irrpernr do Cerco. comunic3yio ~prescntada s o Congcsso «O Porto n3 Ipoca Contsmporinca~~. Porlo, 1989
I ? A Lei de 1891 ~ r o i b c a ~ d m i s s i i ~ de menores dr. I2 aiios nds fibric:is c oficinas, abrindo um; excepção para certas indústrias onde poderão ser admitidos maiores de 10 anos, fixando nestes casos o dia de trabalho em 6 horas.
APÊNDICE
DOCUMENTAL
DISTRITO DO PORTO DOCUMENTO 1
1866, Outubro, 8, Porto
-
Rascunho da acta da 1Qessão da Comissão de Inquérito do Porto.(Arquivo do Governo Civil do Porto, Doeumenlo~ão avulso, Correspondên-
cia, M647)
Se á contractos com os aprendises?
Qual a idade dos aprendises quando. os contractam? Se são internos e externos?
Quaes as condiqoes de serviço para cada classe? e qual o tempo de aprendisado.
Como procedem se os aprendises abandonão o serviço. Quaes os salarios dos aprendizes? e que ordem seguem. Quaes são as garantias de cumprimentos dos contractos? Qual o número de aprendises?
Qual o número de officiaes?
Oue habilitacões exirem aos a~rendises
-
Com relação a instmcção primaria o que se pratica Se aprendem desenho na escola industrial.
Quaes as horas de trabalho? Quantas refeições tem os internos?
Como se procede com os aprendises no caso de doença? Se descontão o tempo de doença?
Qual a penalidade pelos delictos? Qual a idade dos actuaes aprendises
Se o tempo de trabalho diario é o mesmo para todos os aprendises. Se á facilidade em obter aprendises.
O Snr. Manoel Custodio Moreira dono d'uma fabrica de tecidos de seda disse que outrora usava de escriptos de obrigação no aprendizado; mas como recorrese diversas vezes ao poderjudiciario para os fazer cumprir e não fosse bem succedido por falta de lei a este respeito, nunca mais recorreu, e deixou-se de taes escriptos.
Actualmente tem aprendizes internos e externos; a nenhuns exige conhecimento de primeiras letras ou outras quaisquer. antes de entrarem para o trabalho, nem mesmo depois os obriga a irem ás aulas. Não lhe convem mesmo que os internos as frequentem, porque d'outra sorte perderiam tempo reclamado pelo serviço fabril; porem todos os aprendizes actuaes da sua fabrica sabem ler e escrever, excepto um externo.
Ensina-os com todo o cuidado no seu officio. O trabalho dura desde o amanhecer até as 8 horas da noute. Durante uma Darte do anno é oortanto preciso haver semos. O almoço dá lugar a 1/2 hora de descanço; o jantar a uma hora. Os externos tem as mesmas boras e obrigações que os internos. A duração de trabalho é também a mesma s u e uara os officiaes .
.
Quando algum aprendiz interno adoece, é tractado em casa, excepto em doenças graves e prolongadas, porque então vae para o hospital. Embora, n o ajuste se combine que o aprendiz dará alem do tempo do aprendizado aquelle que consumiu em doenças, é em geral dispensado disso.
Para serem regulares no trabalho é ás vezes obrigado a applicar-lhe leves castigos corporaes, ou reprehendel-os; porem não usa suspender o salano, ou prival-os das refeições costumadas.
Admitte aprendizes de 13 a 17 annos; deu-se porem o caso de admittir um de 17 annos; e como o tempo de aprendizado é de 5 annos, devia acabar aos 22; comtudo descontou-lhe seis meses. Actualmente tem 4 aprendizes e 12 ofliciaes. Acrescentou que ha cerca de 20 annos é que fazia contractos por escripto; e julgou conveniente que se fizesse lei que regulasse as relações dos aprendizes com
OS mestres.
O snr. Joaquim Rodigo Pinto, director da fabrica Aurificia disse que neste estabelecimento não se faziam obrigações escnptas por se julgarem inuteis; na fabrica ba um regulamento a que os aprendizes devem submetter-se, não podendo porem achar nos tribunaes a garantia do cumprimento delle.
A idade minima de admissão ao aprendizado é de 14 annos. Todos os aprendizes são externos; nem mesmo a organisação económica da fabrica, pertencente a sociedade anonyma, permittia facilmente outra coisa. Entrados na fabrica, são mandados já para alguns serviços proprios de creado, já para as oficinas, ande vão praticando até se conhecer qual dellas se adapta melhor á
vocação de cada um. Sendo de 120 reis o ordenado inicial, vão ganhando, conforme os progressos, até 240 reis. A Aurijicia trabalha ha 3 ou 4 mezes, e já alguns aprendizes ganham 160 reis.
O aprendizado é de 4 annos. Ha alli 10 aprendizes e cerca de 24 officiaes. Para ser admittido exiee-se ter. como fica dito. 14 annos de idade. bem como
-
robustez, e saber Iêr, escrever, e contar. Dois aprendizes frequentam a aula de desenho no instituto industrial. Reconhece que a instmcção é extremamente necessaria ao bom serviço na industria.O trabalho effectivo dura onze horas; alem destas, o aprendiz tem uma hora para jantar, a o meio dia. Não toma outra refeição durante o serviço; vem almoçado. Parecia-lhe conveniente que fossem 10 as horas de trabalho.
Tocante a doença, não está prevenido no regulamento, mas de certo se dispensará o tempo que ella durar, se não for longa, e não se suspendará o salario. Que os aprendizes, quando faltavam ás suas obrigações eram reprehendidos, podendo ir a pena até á expulsâo; mas que não se infligiam castigos corporaes. Hoje a fabrica tem aprendizes de 14 até 16 annos.
Oue talvez houvesse difficuldade em alcancar a muitos aorendizes novos:
.
d'ordinario são d'aldea os que se empregam na ourivesaria.Parece-lhe que no caso de se fazer lei sobre o aprendizado, cumpre attender esoecialmente aos abusos dos oatrões e ao dos trabalhadores: estesoodiam dar liançi, obrigando-se o fiador 30 pagamenro de cerra quantia diaria pelo tempo complementar do aprendizado; dcsra sorte ficava o aprcndiz livre e o patrjo sewro. Ainda assim lul>ia sue
. - .
çe rioderiam illudir tneç diwosiçùer da rinrre do. .
pa<rão, se eçte lhe der mau tractam;nto. ou não lhe ensinr o oíiiçio. ~ u c k d e que os rapares tomados para o scrvi$o das fihncas d o cmprcgadoç longo tempo eni trabalhos domesticos.O vogal snr. Gaspar da Cunha Lima observou que assim era, porque os patrões receiavam que os aprendizes Ihes fugissem antes de acabado o tempo.
O snr. 3. Rodrigo Pinto esteve duas veses na França onde visitou diversas fabricas.
O snr. Raymundo Joaquim Martins, vereador, e dono de fabrica de tecidos de seda, Iam e algodão, e mixtos, disse que em tempo usou de contractos escriptos para a aprendizagem; no seu estabelecimento se formaram officiaes muito distinctos, bem conhecidos ainda hoje, principalmente em lavrado.
Costumava ter 10 aprendises.
Desde que se implantou o systema liberal, como diversas leis cahissem em desuso, foi sempre diíiicil, e muitas vezes impossivel, encontrar juizes que tomassem validos os contractos de aprendizado. Comtudo houve no Porto um juiz, o snr. António Roberto de Araujo e Cunha, o qual, fundando-se no antigo regulamento da fabrica de sedas, obrigava os patrões e os aprendizes ao cumorimento das mutuas obrieacões. Desde então era inntil recorrer ao
- .
judiciario. Desappareceram, pois, os contractos por escripto. Ficou a boa fé, insufficiente porem. Os aprendizes fogem das fabricas, antes de darem todo o temvo. O mestre verde o que gastou com elles. oorem igualmente na industria das.
-
-
sedas, porquc os 3prendizes estragam muita marcria pnma nos primeiror anuo,.Em face de tudo isto, rcsolveu-se a mio ler aprcndizcs. Costumava ~dmittil- -os de 10 a 15 annos, internos e externos. Preferia os de fora da cidade. . DOI
.
se sujeitarem mais. Uns eram internos, outros externos. Aquelles não tinham salario. Os externos ganhavam no 19 anno 120 reis; se ao fim delle ainda nâo estavam aptos para o tear tinham mais 20 reis, e o mesmo augmento por anno até entrarem para o tear. Depois de habilitados a elle, ganhavam metade do que usava dar-se aos oficiaes, passado um anno, percebiam 213. Quando fazia contracto por escripto, havia tres testemunhas e fiador.Nâo exigia habilitações litterarias, mas costumavam mandar os internos aprender a ler, escrever e contar; um oficial se encarregava primeiramente de Ihes ensinar o alphabeto e o syllabario. Alguns aprendizes d'ambas as classes frequentavam desenho.
Ouando tinha 10 anrendizes costumava ter 50 a 60 officiaes. Lembrou que
.
pelo antigo regulamento não podia haver mais do que 1 aprendiz para quatro teares. Agora conservava 2 aprendizes e 52 off~ciaes; d'aquelles, I um tinha 11 annos, o outro 12, quando os admittiu.As horas de trabalho eram 12, incluindo meia hora ao almoço, e uma ao jantar; desde a Pascoa até o S. Miguel dava uma e meia hora para o jantar. No caso de doença tractava em casa os internos, excepto quando se prolongava muito. Não descontava do tempo do aprendizado o da doença.
Admoestava-os ou mesmo castigava-os corporalmente; mas estes castigos, para não serem exaggerados, elle mesmo os dava.
Da mesma sorte que os outros industnaes inquiridos, concordou na grande necessidade de regular o aprendizado.
Findo este inquento, a commissão decidiu que se continuassem os trabalhos na proxima 28 feira sendo convidados os industnaes:
Zefenno - marceneiro
Joao Antonio de Macedo - latoeiro Sardinha -mestre pedreiro
Manoel Jose Prado - carpinteiro Manoel Caetano Ferraz - sapateiro Magalhães - correeiro
Como não houvesse mais nada a tractar, o snr. presidente levantou a sessão. Porto e sala das sessões - 8 d'outubro dc 1866.
J. J. Rodrigues de Freitas Jor. Secretário
DOCUMENTO 2
1866, Outubro, 15, Porto
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Rascunho da acta da'? sessão da Comissão de Inquérito do Porto.(AGCP, Documenia~âo avulsa, Correspondência, M647)
Presentes os Illustrissimos Barão de S. Januáno, Barão do Freixo, Gaspar Lima, Duarte Cidade e Francisco José de Carvalho e Faria Guimarães. Compareceram os Snrs. Macedo, latoeiro, e Zefenno, marceneiro.
[Snr. Macedo, latoeiro]
Se há contratos com os aprendizes? - contrata-os vocalmente e o aprendizado dura.5 annos, durante os quaes apenas os sustenta, ficando o vestuario a careo d o Dae.
De que idãde adhitte os aprendizes? - de 12 a 15 annos.
Os aprendizes são internos, e alem da comida, tem roupa lavada, e casa: não tem aprendizes externos,
Quaes as condições de serviço? - todo o serviço proprio da oficina, e algum domestico e mesmo externo auxiliar da oficina.
Tempo #aprendizado?-5 annos, eexpirados e l l q fi ca oficial com ordenado. Processo quando os aprendizes abandonão o serviço?
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nenhum.Salario? -nenhum, apenas casa, comida e roupa lavada. Tem regularmente 3 aprendizes e 1 oficial.
Habilitações dos aprendizes? - robnstez, preferindo aquelles que tem principias de leitura.
Não é pratica mandar os aprendizes á escola, salvo algum que tem desposição para desenho, e que o manda a aula.
Horas de trabalho?-preenchem o diacom trabalho, e fazem serão no inverno. Almoção, jantão e ceiam, de verão e inverno.
Tratão em casa os aprendizes, quando o encommodo é ligeiro, e mandão nara o hosnital ou entreeam aos oaes auando o encommodo é
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grave. sem desconrarern erre tempo no pçriodo de aprendi~ado.Keprehenn?o s castigos corporaea ligeiros por alguma fdlr3 pra1ic:ida. Os acruacg aorendixc rem 12. 1 5 e 16 annos.
Há sempre no mercado abnndancia de rapazes que desejam aprender o oficio.
Snr. Zeferino (entalhador)
Não tem aprendizes
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não há contractos - o aprendizado dura 4 annos-
alguns paes pagam para os aprendizes não façam recados e outros serviços isto antiaamente-
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os contractos são vocaes - e a idade dos aprendizes de 11 a 15 annos-
geralmente há mais aprendizes externos do que internos e trazem ferramenta; os internos tem casa e comida - não tem agora nenhum official - não exigem habilitações, aconselhando-os porem a frequentarem a aula de desenho-
o trabalho diario é de 9 a 10 horas-
os anrendizes durante a doenca não lhe.
édescontado esse tempo p a r a ~ o periodo de aprendizado. Há facilidade em obter aprendizes.
Magalhães - correeiro
O aprendizado dura 6 annos- aprendizes internos, recebendo casa, comida e vestuario.
Não há contratos escriptos actualmente; já em tempo os fez, mas sem resultado.
Idade de 11 a 13 annos.
Serviço proprio da arte, e nenhum mais.
Tambem o aprendizado dura 5 annos, mas ent8o não recebe vestuario. Tem 1 aprendiz e 3 oficiaes.
Não considera a instrucção como condição indispensavel para a admissão. Trabalho - 13 horas
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3 comidas - almoço, jantar e ceia.Não há dificuldade em obter aprendizes. Ferraz - carpinteiro
Tempo d'aprendizado - 3 112 a 4 anos - não há contratos - idade de 10 a 14 annos -tem internos e externos
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tem geralmente casa, comida e roupa lavada-
Há tambem aprendizes de officiaes, sendo d'estes menor o tempo e q u e regula por 2 annos. No fim dos 4 annos passam a oficiaes.Não há garantia para o cumprimento dos contratos. Tem regulamente 4 aprendizes e 20 officiaes.
A instmcção primaria não é condição para a admissão. As horas de serviço são as regulares - e tem serão.
Quando doentes não se desconta o tempo para o aprendizado, doenças leves em casa e graves para o hospital.
Idade de 8 a 14 annos - para adniissão. Não há dificuldade em obter rapazes. Sardinha - pedreiro
Os aprendizes pagão para entrar regulamente 6 moedas, durando o aprendizado 1 e 1 112 a 2 annos, recebendo logo de salario 8 a 9 vintens.
Idade para admissam 14 annos para cima - aprendizes todos externos. Tem talvez nas suas obras 7 aprendizes
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nas obras que dirige. Frequentão regulamente o desenho na escola industrial. As horas de trabalho de sol a sol.Doentes não recebem salarios.
DOCUMENTO 3
1866, Porto - Informação sobre o aprendizado na Fundição de Massarelos (AGCP, Documenta~ão avulsa, Correspondência. M647)
A Fundicão de Massarellos tem actualmente 55 raoazes. dos auais tem conrrictu escripro 36; c d'esiri frequentão a aula de primeirds leiris 28 r 79 a :gula de Dczcnho. Esins aulsj são dcnrro do proprio Eii~bclccimento graluiids oara os alumnos. sendo os mestres e fornecimento oaro pelo Estabelecimento.
. - .
O tempo $aprendizagem é de 7 annos e as idades varião muito, havendo aprendizes que principiarão o tempo aos 12 annos e outros aos 17; para os mais velhos ordinariamente tem havido uma reducção no tempo d'aprendizagem.
As horas de trabalho são aeora das 7 ~ ~
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damanhá às 7 da noite. e no verão das 6 da manhã às 6 da tarde. Tem de descanso meia hora no almoço, e uma ao jantar. Os aprendizes largão o trabalho as 5 horas da tarde para hirem para as aulas que durão até as 7 horas,DOCUMENTO 4
1866, Julho, 7, Porto - Cópia de um contrato de aprendizado da Fundição de Massarelos.
(AGCP, Docume~llapão avulsn, Correspondência. M647)
I'elo presente, declaramoi nás abaixo assignadas Atiro>iio .\'og,g>,ora dos
Su,tros r B. A181to T<,irriru doi Su~iror. rssidenrcs n'csra cidade do Porro, frcgurzia
Geral da Companhia «ALLIANÇA» a admissão na Fundição de Massarellos como aprendiz de Serralheiro o nosso filho Joòo Nogueira dos Santos de idade 16 annos, debaixo das condições aqui declaradas e abaixo transcriptas; ao fiel cumprimento das quaes, tanto o dito nosso filho Joòo Nogueira dos Santos como nós, nos obrigamos por nossas pessoas e bens.
I Q O tempo d'aprendizagem será de 7 annos, que terão principio em I de
Janeiro de 1864 e findarão em igual dia e mez do anno de 18
...
2 O Durante todo o tempo que permanecer no estabelecimento, obedecerá
com respeito a todos os seus chefes, e trabalhará com assiduidade nas obras que lhe forem indicadas.
3
' Zelará os interesses do estabelecimento, não extraviando objecto algum, nem consentindo que por outrem seja extraviado, avizando os chefes de qualquer extravio que elle por ventura tenha descuberto.
4' Ganhará no primeiro anno, 80 reis, no segundo 100 reis, no terceiro I20
reis, no quarto 160 reis, no quinto 200 reis, no sexto 240 reis, e no setimo 300
reis.
5'Se antes de acabar o tempo, deixar o estabelecimento, e for trabalhar pelo seu officio. em outro. no Porto ou Lisboa. ou em outra aualauer oarte de
. .
.
Portugal, ficará sugeito á pêna d'um mez de prizão, e seus pais, como fiadores pagarão de multa quarenta e oito mil reis de indemnização dos prejuizos cauzados ao estabelecimento.Para clareza se fizerão dois do mesmo theor e data, que vão ser assignados, um pelo snr. Gaspar da Cunha Lima, Director Geral da Companhia «ALLIANÇA» e outro pelo nosso filho João Nogueira dos Santos e por nós como fiadores d'elle, e bem assim pelas testemunhas prezentes Cazimiro A~rtonio
Barboza Júnior Domingos de Sá e Silva
Porto, e Fundição de Massarellos, 7 de Jull~o de 1866.
João Nogueira dos Santos Como fiador Antonio Nogueira dos Santos
Gaspar da Cunha Lima Director Geral da Companhia Alliança
ARTIGO 3' DO REGULAMENTO DOS APRENDIZES §I=
São reputados aprendizes da Fundição de Massarellos, unicamente aquelles rapazes que fizerem contracto escripto garantido por fiadores idoneos.
5
2=Os aprendizes não poderão ser empregados fóra do Estabelecimento em serviço estranho à sua profissão.
5
3 OHaverá aula de primeiras letras e de dezenho, e todos os aprendizes serão obrirados a freaueutal-as: e em auanto as não houver. será nermittido o hirem ás
-
.
.
referidas aulas nocturnas, para o que se Ihes dispensará o tempo necessano. Estas aulas só poderão ser frequentadas pelos aprendizes; isto é pelos aprendizes que tiverem feito contracto.5
4OO tempo d'aprendizagem é de 7 annos, durante os quaes o ensino será praticado da maneira sepuinte:
10 Serviço em geralda Officina
2g e 3* Serralharia
4' Maquina e Tornos
5' Serralharia ou Tomos, segundo o aprendiz quizer ser, serralheiro ou torneiro.
6' e 7' Sua profissão
5
5*Cada aprendiz além das gratificações que o seu merito e applicação exigirem, ganhará no primeiro anno Rs 80
Segundo anno Rs100 Terceiro «I20 Quarto « ((160 Quinto « 6200 Sexto ~ 2 4 0 Setimo (( ((300
5
6'Alem do salario e gratificação, a Direcção fará em uma das Companhias de seguros mutuos, sobre a cabeça de cada aprendiz um seguro da quantia de
Rs
...
em aunuidades de Rs...
cada uma; este seguro será liquidavel no fimde 10 annos, e o producto reverterá em favor do aprendiz, se na epoca da liquidação existir ainda no Estabelecimento, aliás reverterá em beneficio da caixa de socorros.
DISTRITO DE VIANA DO CASTELO
DOCUMENTO 5
1866, Dezembro, 4, Viana do Castelo - Carta do Governador Civil de Viaua do Castelo para o Governador Civil do Porto, remetendo as informações sobre o aprendizado naquele distrito.
(AGCP, Documenla~ão avrrlsa, Correspondência, M647) 1ll.mo Ex.mo Snr.
Satisfasendo ao officio que V. Ex.a me deregiu em data do 1' de Outubro ultimo ácerca da pratica actualmente em uso neste districto relativamente aos
contractos d'aorendizado. e á duracão e destribuicão do trabalho das creanças nas fabricas e ifficinas; rcnho a honra deenviar 3 V: EX a a inclusa nora pela qual
sr conhece. nos diltèrenlcs olficior e artes quanto tempo dura o aprendizado, em que edades se começa, por quem são alimentados, quantas horas trabalhão e ouantas descancam oor dia. e se o seu servico ,
.
.
é gratuito ou remunerado. tendo mais a accrcscentar que não ha costume de se Pars contracio regukir por meio d'eacripiura par, a acszira~ão do aprendiz, rirer:
recebido somente mcdianrc um ajuste;ocal-entre o mestre ou dono da oiiicina e os paes ou superiores do aprendiz.Quaesquer outras informações que V. Ex.a julgue ser precizo eu fornecer, promtamente o farei logo que por V. Ex.a me sejam requisitados.
Deos Guarde a V. Ex.a Vianna do Castelo, 4 de Desembro de 1866. Ex.a e Ex.mo Sr. Governador Civil do Districto de Porto
O Governador Civil Jacome Borges Pacheco Pereira
DISTRITO DE AVEIRO
DOCUMENTO 6
1866, Dezembro, 4, Aveiro - Carta do Governador Civil de Aveiro para o Governador Civil do Porto, remetendo as informações sobre o aprendizado naquele distrito.
(AGCP, Documentapão avulsa, Correspondéncia. M647) Ill.mo e Ex.mo Snr.
Satisfazendo ate onde me é nossivel á instancia de V. Ex.a no seu telemama
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d'hontem tenho a honra #enviar-lhe a inclusa nota, em que se contém os esclarecimentos ate boie obtidos acerca da forma e condições dos contractos d'aorendizado neste ~Fstricto.Deus Guarde a V. Ex.a Aveiro o 1' de Desembro de 1866. Ill.mo e Ex.mo Snr. Governador Civil do Porto
O Governador Civil
João Silverio #Amorim da Guerra Martins
Nota dos contractos de aprendizado
comforme a pratica seguida nos concelhos abaixo designados. Concelho de Aveiro
Ha muitos annos que n'este concelho não se celebram contractos de aprendizado por escriptura publica ou qualquer outro titulo, reservando-se os mestres e aprendizes a faculdade de se desligarem quando e como Ihes convém.
A pratica hoje adoptada é a seguinte:
O aorendiz de caminteiro está o orimeiro anno sem receber do mestre senão o sustento, e passado esse anno ganha conforme o seu merecimento.
O aprendiz de alfayate sustenta-se á sua custa e nada recehe durante ires annos, findos os quaes começa a ganhar algum salano, maior ou menor segundo a sua aptidão.
Ao aprendiz de sapateiro acontece o mesmo, com a unica differença de receber do mestre o almoço.
A aprendizagem de funileiro dura 4 ou 5 annos, durante os quaes nada recehe do mestre, senão o sustento.
Para o aprendiz de ferreiro a pratica é ideutica.
Os aprendizes de capellistas dão 4 ou 5 annos de serviço sem que recebam remuneração alguma em dinheiro; mas os patrões dão-lhes casa, cama e meza, bem como todo o vestuano.
Os fabricantes de louça recebem os aprendizes por 4 annos, não Ihes dando em todo este tempo salario algum, nem mesmo de comer.
Concelho de Estarreja
Neste concelho é ainda observada a autiea pratica, sendo as obneações
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reciprocas de mestres e aprendizes estipuladas em escnpturas, ou outros titulos, que produsem effeito em juizo, a não ser que contenham condições torpes ou oppostas á moral publica.Por estes contractos obrigam-se os aprendizes, por si, ou por seus paes ou tutores, a acompanhar os mestres um, dois ou tres annos, ganhando no pnmeiro um certo jornal, que augmenta gradualmente nos seguintes, não chegando nunca, porém, ao de um offcial.
Acontece muitas vezes serem modificados os contractos primitivos, de ordinano em proveito dos aprendizes, com relação ao tempo e salario.
No concelho de Estarreja não ha fabricas nem officinas propriamente ditas.
Concelho de Ilhavo
Neste concelho os contractos de aprendizado não são os mesmos para todos os officios.
O aprendiz de carpinteiro começa logo recebendo algum salario em relação com a idade aue tem. Assim: se é maior de 13 annos. eanha desde o onncioio da
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L . aprendizagem até ao fim do 29 anno 120 réis por dia, subindo este jornal depois a 160 réis; se o aprendiz é menor de 13 annos, começa por ganhar 400 réis diarios, . . . salano aue cresce deoois consoante a antidão aue mostra.O aprendiz de tamanqueiro obriga-se a pagar ao mestre uma certa quantia pelo tempo que durar a aprendizagem, regulando esta por um anno e aquella por seis mil réis. Quando não se dá esta condição, abriga-se o aprendiz, acabado o temno de aorendizaeem. a trabalhar eratuitamente oor dois annos em oroveito
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do mestre.Os aprendizes de sapateiro e alfayate estão com os respectivos mestres tres annos, durante os quaes não recebem remuneração alguma.
Concelho de Vagos
Os contractos entre mestres e aprendizes são geralmente fornulados da seguinte maneira:
Umas vezes, obriga-se o aprendiz a acompanhar o mestre por 2, 3 ou 4 annos, segundo a idade que tem á data em que começa a aprendizagem, sem receber salario algum, nem sustento, durante todo este tempo. Outras vezes, o mestre obriga-se a sustentar o aprendiz; mas n'este caso, tem o ultimo de satisfazer ao primeiro uma dada quantia, que é raro exceder a 24000 réis, por todo aquelle tempo, ou uma certa quantidade de generos aunnahnentc.
Quer de um, quer de outro modo, o mestre obriga-se a ensinar o que sabe, e quasi sempre, a conservar o aprendiz por mais algum tempo, além do da aprendizagem, para se aperfeiçoar, mediante o salario estipulado pelo mestre.
N'este concelho não ha fabricas propriamente taes. Ha, apenas, pequenos estabelecimentos de louça, telha e breu, que estão a cargo dos respectivos donos c seus filhos.
Governo Civil de Aveiro, I* de Dezembro de 1866. O Governador Civil
Joáo Silverio d'Amorim da Guerra Quaresma
DISTRITO DE BRAGANÇA
DOCUMENTO 7
1866, Dezembro, 1, Bragança
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Carta do Governador Civil de Bragança vara o Governador Civil do Porto. remetendo as informacóes sobre o aprendizado naquele distrito.(AGCP, Documentapio avulsa, Correspondência, M647) 1ll.mo e Ex.mo Snr.
Resuondendo ao ofiicio de V. Ex.a N* 77 de 1' d'outubro vroximo vassado. tenho a honra de informar a V. Ex.a com o que pude averiguar, relativamente á
pratica seguida n'este districto em os contratos d'aprendizado.
primeiramente é de notar que náo se encontram no districto estabeleci- mentos industriaes. alem d'aauelles onde se exercem as artes mecanicas menos dispensaveis á vida dos povos, taes como a de alfaiate, barbeiro, carpinteiro, ferreiro, marceneiro, pedreiro, serralheiro etc; e ainda esses só offerecem uma tal o aual imoortancia n'esta cidade
Os contractos são celebrados entre o pai ou tutor do aprendiz e o mestre d'oficio, por escriptura particular, ou verbalmente que é o mais seguido, e nunca Dor escnutura vublica. sue uossa subir a iuizo. . .
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N'eites côntractos seguem-se dous s~stemas: ou o aprendiz se obriga a trabalhar gratuitamente para o mestre por um, dous até tres annos, segundo a
natureza do officio, recebendo d'ahi em diante um modico jornal, que tambem varia pela dita rasão e pelo melhor ou peor trabalho do aprendiz, que d'ahi por dia& se chama official: ou então se obriea. álem d'eise temo; de se&ico
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gratuito, a pagar mais um tanto em dinheiro, por que tambem o mestre se obriga a dar-lhe vestido e alimento. São, porem, tantas as variantes, que nenhuma dellas oóde estabelecer uma reeraA duração do trabako é geralmente desde o nascer até ao occaso do sol no tempo de verão, com descanso de duas horas depois do meio dia; no inverno, por&, ha serão para alguns officios até ás 9 horas da noite.
Deus Guarde a V. Ex.a.
Bragança, IQ de dezembro de 1866
Ill.mo e Ex.mo Sur. Governador Civil do Districto do Porto Servindo de Governador Civil
O Secretário Geral Henrique Jose Fernandes Lima
DISTRITO DE BRAGA DOCUMENTO 8
1866, Dezembro, 7, Braga - Carta do Governador Civil de Braga para o Governador Civil do Porto, remetendo as informações sobre o aprendizado naquele distrito.
(AGCP, Doeumenta~ão avulsa, Correspondência, M647) Ill.mo e Ex.mo Snr.
No mappa demonstrativo que vai juncto tem V. Ex.cia os dados e esclarecimentos que pude colher a respeito do que actualmente se pratica nas fabricas e officinas d'este Districto com os aprendizes de cada uma das artes que n'elle se exercem.
O que posso a este respeito informar a V. Ex.cia é que antigamente os artistas eram classificados pela ordem dos seus officios, e alistados sob a bandeira d'uma Irmandade ou Confraria cujo padroeiro era invocado como o sancto e protector dos officiaes alistados assim por exemplo na Irmandade de S. Joze associavão-se todos os carpinteiros, vidreiros e marceneiros, na de S. Chrispim e S. Chrisoiniano todos os saoateiros. na de S. J o r ~ e
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todos os forradores. e assim os dcmdis. Tinham seus compromissos ou Estaruros aprov.tdus pelo Corregedor J a Comarca, c confirmados por Pru\i,àu Kegia expsdlda pelo Desembargo do Paco. Nesses Estatutos havia disoosicões que marcavam o tempo d'aprendisagem. . .
- do respectivo oficio com garantias para os mestres que não podiam estabelecer- -se como taes sem previamente serem examinados por trez Juizes e um Escrivão elegidas triennalmente pela corporação a que pertenciam, e para os aprendizes, aue findo o temoomarcado de aurendizapem comecavam a ser officiaes e nesta-
qualidade I<: cunirrvavnni ai6 julg3dos hnbilitados L.om alguns annos de prsticdse submcrri~m ao exame para mssires, e como iaep se cstnbelecim. Toda a c l ~ s j e d'artistas em geral se pronnuncia ainda hoje por estas antigas praticas, que elles
abonam com areumentos tirados da exoeriência. aueixando-se dos a~rendizes
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que logo que adquirem algum conhecimento da arte ou oficio a que se destinaram, e apparece quem Ihes prometta alguma ganancia, immediatamente abandonam o mestre que teve o maior trabaiho de os ensinar, e de Ihes dar o sustento sem cheear a oerceber oor isso comr>ensacão ou lucro aleum: Que almns-
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-mestres, embora por excepção comettem cniezas e deshumanidades com os aprendizes que não tem familia, nem parentes que olhem por elles, obrigando-os a serviços improprios da idade e superiores ás suas forças; e que finalmente se arvoram muitas vezes em mestres pessoas inbahilitadas cujas obras cheias d'erros, ncios e deffeitos revertem em prejuizo publico, e são um grandissimo obstaculo no aperfeiçoamento das artes.
Tambem em favor dos menores sem fortuna nem familia direi Que é muito parii lamentar ver um grande numero de orRo, r engeitados sem terem quem por cllcs olhr, e nem 30 menoç se Ihcr norne3r judicialrnznte um 'Suror dativo que
cure da Dessoa, como a Lei determina. No Juizo dos Orfaos attende-se somente aos quetem bens para administrar, e deixa de cumprir-se a Lei, entregando ao mais completo abandono os menores a quem a sorte collocou na miseria: d'aqui vem que muitos ainda procurando o trabalho, não acham quem os receba por não terem abonador que responda pelo seu comportamento, e eis aqui já em tenra idade o primeiro passo para a carreira do vicio, e d'aqui os mais consectarios que a bem conhecida illustração de V. Ex.cia me despensa d'ennunciar: que se nomeie um Conselho de familia e um tutor aos menores em iaes condir.úea e circunrr3ncini 6 prccziru (13 Lei qus ha muiros annos çc não cumpre, mis cuja ubservincio deve d31 um bom resultado debaixo do ponta ds vista que já apontei. Eis o que posso informar a V. Ex.cia, e á Ex.ma Commissão a que dignamente preside, cujos elevados conhecimentos suprirão todas as minhas deficiencias.
Deos Guarde a V. Ex.cia. Braga 7 de Dezembro de 1866 Ill.mo e Ex.mo Snr. Governador Civil do Distncto do Porto
O Governador Civil Visconde de Pindello
DISTRITO DA GUARDA DOCUMENTO 9
1866, Dezembro, 3 -Guarda. Carta do Governador Civil da Guarda para o Governador Civil do Porto, remetendo as informações sobre o aprendizado naquele distrito.
(AGCP, Documentação avulsa, Correspondência. M647) 1ll.mo e Ex.mo Sr.
Sendo a agricultura a industria principal d'este Distncto, pouco exercidas são n'elle as artes e os officios, e raras, por isso, as oficinas, e os estabelecimentos fabris.
Há, todavia fabricas de laneficios e de cortnmes em alguns concelhos e n'ontros oficinas de Ferreiro, sarralheiro, marceneiro, carpinteiro etc. - porem nas orimeiras são as creancas admittidas. não como anrendizes. mas como operarios, percebendo salano proporcionado ao serviço que executam; nas semudas, recebem-se como aprendises mediante certo contracto feito entre os ou tutores dos mesmos, os donos das officinas, sendo este contracto as mais das vezes, a obrigação de darem os aprendizes ao mestre, certo numero de annos de serviço, por lhe ensinar o officio que se propoem aprender.
Nas fabricas trabalham as criancas todo o dia. como os demais onerarios. tendo apenas de Maio a Setembro, duas horas de descanço, depois da refeição maior - os aprendizes de oficios estão sugeitos á mesma regra, sendo de mais a mais obrieados ao serão. nas noutes do inverno,
É i s t i o que tenho ;honra de dizer a V. Ex.ça, sobre o objecto do seu oficio n' 77 do 1' de Novembro ultimo, em vista dos esclarecimentos que obtive.
Deos Guarde a V. Ex.ça. Guarda 3 de Dezembro de 1866.
Ill.mo e Ex.mo Sr. Governador Civil do Districto do Porto. Servindo de Governador Civil
O Secretario Geral Francisco de Paula Mendonça
DISTRITO DE VIZEU DOCUMENTO 10
1866, Dezembro, 1 - Viseu. Carta do Governador Civil de Viseu para o Governador Civil do Porto, remetendo cópia da carta do Administrador do Concelho de Viseu com as informações sobre o aprendizado nesse concelho.
(AGCP, Documenfação avulsa, Correspondência, M647) Ill.mo e Ex.mo Snr.
Tendo exigido dos administradores dos concelhos de Lamego e Vizeu os esclarecimentos relativos a contratos de aprendizado, por me não constar que em outro algum concelho d'este districto houvesse contratos de tal natureza, recebi os relativos ao concelho de Vizeu. e são os oue constam do oficio. aue V. Ex.a
.
Aencontrará incluso por cópia, faltando ainda os concernentes a Lamego, pelos quaes eu aguardava para enviar uns e outros a V. Ex.a. N'esta data vou exigir que estes dtimos se me remettam com urgencia.
Deus Guarde a V. Ex.a Vizeu, 1 de dezembro de 1866.
Ill.mo e Ex.mo Snr. Governador Civil do districto do Porto O Governador Civil
D. Jozé Manuel de Menezes d'Alarcão
Cópia - Administração do concelho de Vizeu Na 137 I* Repartição. Ill.mo e
Ex.mo Snr. satisfazendo ao que me foi ordenado por V. Ex.a em oficio n* 586, com data de 8 de outubro proximo findo, acompanhado de uma copia da solicitação feita pelo Ex.mo Governador Civil do distncto do Porto, relativa ao
aprendizado, e horas de trabalho das creanças empregadas nas fabricas e oficinas. cabe-me a honra de levar ao conhecimento de V. Ex.a oue no concelho a meu cargo, apen3s iristem algumas fahncas de cortumes, prcgos, e telh3, mas em nenhum d'ellas se admitrem aprendizes. Pelo que respeita ao tempo do 3prenJiexi0, c a limiia(.20 e disrribuic3o d i hora de rrabllho dar crcxncas empregadas nas officinai, diversifica segundo a natureza d'estas, e por isso vou expor a V. Ex.a o que actualmente se pratica com relação a este objecto nas differentes oficinas existentes no concelho a meu cargo. Na officina de latoeiro, é
costume darem os aprendizes quatro annos de serviço gratuito, trabalham desde o amanhecer ás nove horas da noute, e tem de descanço uma e meia hora, sendo meia hora para almoço, e uma para jantar; que de ordinario é desde o meio dia até á uma hora. Na de funileiro
-
idem. Na de alfaiates, dam os aprendizes tres annos de serviço, tambem gratuito, trabalham desde amanhecer até ás nove horas da noite, descançando desde as oito horas da manhãa até ás oito e meia, e desde o meio dia ate a uma hora da tarde. Na de sapateiro-
idem. Na de selleiros dam os aprendizes cinco annos, sem que recebam gratificação alguma; trabalham desde o amanhecer até ás nove horas da noite, e tem de descanço meia hora ao almoço e uma ao jantar que de ordinario é ao meio dia. Na de marceneiros, os aprendizes são obrigados a darem quatro annos de serviço gratuito, e tem de descanço meia hora para almoçar, e uma para jantar. Na de chapeleiros, dam os aprendizes cinco a m o s de serviço sem remuneração alguma; trabalham desde o amanhecer até ás nove horas da noute e descançam meia hora ao almoco e uma ao iantar. Na de ferreiros. os avrendizes trabalham gratuitamente Ires nnnos, principi~m a i r a b ~ l h ~ r dwc hora> antes do amanhecera1C ao rsarcccr, tendo, de inverno, de dr,c~nqo meia hora ao almuso, r uni3 ao
jantar; e de verão, meia hora ao almoço, que de ordinario é ás sete horas da manhaã, e descançam mais tres horas, desde as onze até ás duas da tarde. Na de tamanqueiros, os aprendizes dam tres annos de trabalho gratuito, tem de descanço meia hora para almoçar, e uma para jantar, e princepiam a trabalhar ao amanhecer. e deixam o trabalho ás oito horas da noite. No fim do temoo de aprendisado os mestres dam aos aprendizes um salario diario que é regulado segundo o merecimento e aptidão de cada um d'elles, que depois é augmentado proaressivamente conforme o seu desenvolvimento, não havendo vara este fim iaxã alguma determinada. Dá-se em algumas oficinas o abuso-dos mestres empregando os aprendises no seu serviço domestico de modo que findo o tempo do aprendisado, pouco ficam sabendo do oficio a que se dedicaram, exigindo por isso os mestres aos aprendises mais tempo de trabalho gratuito, ou dando-lhe um salario muito diminuto. Connria que se posésse termo a este abuso, estabelecendo-se uma pena para os mestres que o commettessem, bem como que fossem reduzidas as horas do trabalho em algumas oficinas, não só por o seu numero ser excessivo, mas tambem para que a todos os aprendises fosse possivel poderem frequentar as aulas nocturnas de instrucção primaria.
Deus Guarde a V. Ex.a Vizeu, 17 de novembro de 1866. Ill.mo e Ex.mo Snr. Governador Civil deste districto - O administrador de concelho - Manoel Antonio Barroso
Está conforme O Secretario Geral
DOCUMENTO 11
1866, Dezembro, 1 - Viseu. Carta do Governador Civil de Viseu para o Governador Civil do Porto, remetendo as informações dadas pelo Administrador do Concelho de Lamego sobre o aprendizado nesse concelho.
(AGCP, Documentag?~ avulsa, Correspondência, M647) Ill.mo e Ex.mo Snr
Em additamento ao meu officio no 256, do 10 do corrente, tenho a honra de remetter a V. Ex.a os esclarecimentos dados elo administrador do concelho de Lamego sobre as relações de aprendizado e horas de trabalho nas fabricas e officinas, ficando assim satisfeito o officio de V. Ex.a do lP de outubro ultimo, sob nQ 77.
Deus Guarde a V. Ex.a Vizen, 4 de desembro de 1866.
Ill.mo e Ex.mo Snr. Governador Civil do distnclo do Porto O Governador Civil
DISTRICTO D E VIANNA DO CASTELO
Nota acerca dos contractos #aprendizado nas officinas e artes mechanicas TEMPO EDADES PORQUEM HORAS HORAS
PROFISSÕES D E W S SUSTEN- D E COMIDAS E SAIARIO OBSERVAÇÓES APRENDIZ APRENDIZEI T A W S TRABALHO DESCANÇO
AUriii 2 a I annar I 2 8 14 annor p y a u lhm. 8h I. invirno Il2h ao a l m v n i o vencem Acabado o apcadmdo vmam 40 R dianoi, augmcolanda rnnrome rupenaia Ihm. Si. vciao I h ao janai o adirntsmeotoc hrbefidrdc Sc or muira os rulaoum dum I annoi
o apn~dimdo. cootraio "cal.
Bribiiro 2 anoor idirn idem idcm idem idem Acab3d0 o rprmdmdo ,roam 4M a MY) rr mrnira, rama cmmids. Caiadar ii a 6 annor I 1 a I 2 annoi i d m l h m. "i 6 t. inv. idcm no inv. 80 r 120 n. Alsunr m a l r a d-nirm ao r p x n d i 20 rr diatioi pelo rnsino.
I m. "i 8 t. ver. 2h ra jantar v i r dir.ar
Calalal I anoor I5 annai i d m idem idrm 80 a I20 n. D-nlam-u-lha 20 r 30 n. do ralana diano p r n o mnlii, i na fim do bmpo pagam dc rpnndizado l9S2W. ou 24SWO pn a malri.
Carpinteiro 2 rnoor 11 a 12 annoi idem m.m. "i 8h.l. inv. idem n i o vroam No 6m da 2 annoicomqrn a ganhar 80 r 120 rr dirtioi a wao
mm.
i3 8,. "C,. cmbeodo ruminto "r proDa@o da h r k l i d r d r Cardairo 3 a 4 rnnor I1 a li m n o i i d m l h m ii 6 t. iou. idcm 80 r I W n.I m. "i 8 1. vir.
C a m i m I a 4 annar I 2 8 11 annoi i d m l h m . 6s 8h.l.inv. idrm do vc'inam I m. a, 8 l. "e'.
Femdoi 3 mnor I 2 a 13 annos pela mali. l h m i% 6 1. inu. idmi idnn i m. i% 8 l. uri.
~ e n n r o 2 r I annoi 14 a l i snnoi idem ihm. 1% 8h.t. inu. 112h ao almqo idem NO lim do tempo o moire d6 ao aprendiz um raiodc hnchc.
I m. i% 8 l. vci. I h aa jantar
Fopuetiim idem I1 a 14 annoi idem idcm i d m i d m
Funiloro 3 rnnar 9 a 10 annor pelos parr idrm id"" idem No fim do ,mim rnmw a grnhar 20 a 40 n. diatios i i r i k n d o
rupento x y n d o a habilidade. L r t w i m idrm i d m idem idnn id"" idem
~ r m n i i r o 2 a I aonar 12 a 11 annoi idcm idem idnn i d m
Ounva 7 annar I1 a 14 annar pela prtdo l h m i 3 5h.l inu. i d m idem No fim do tmp rnmMo a ganhar 281800 n. poirnno. 6 m. "i 7 t. veda
Pdrcim r a 6 annor II r 12 annor pilo% paa ou l h m b 6 1. inv. 112 ao a l m v i W a 120 n.
6 sua u n t a i m. i 8 t. rcr. l ao janlai c m m
Pmtar 5 annar i d m idrm ida" I/2h ro almqo "ao rrnam
I h ao janlrr
Palmro 2 a 3 rnnor i d m idcm i d a I12h ao rlma(o idrm 2 ao janwr e iaU
RZI~..~IO . r annor 11 a 14 aomos idem idem idem idm
Sapnliro 1 annoi i d a idem i d m l12hao a l m v i d m l h ao janlar
k m i h i i m 2 a I annor idem idrm ida" idem idem Fioda o t m p o grnha 80 n. a m. Em rlgurr p r n n prsr
d'rpirndiodo28S800n.immo i n d m n i o à o pelaotragodar r r m m c i a r .
Tanmro 3 annoi idem idcm idem I p h r o a l m w i d m
Governa Civil de Viannado Carielo, 4 de Dezembro de 1866.