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Aprender a arte : sobre o aprendizado nas fábricas e oficinas segundo um inquérito de 1866

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Edkáo Patrocinada por.

Reitoria da Universidade do Porto Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Câmara Municipal do Porto Fundação Engenheiro António de Almeida

Fundação Calouste Gulbenkian Centro de Estudos da População e Família

(3)

Homenagem ao Professor Víctor de

Organização do

(4)

APRENDER A ARTE

-

Sobre o Aorendizado nas Fábricas e Oficinas

seg;ndo um Inquérito de

1866

Gaspar Martins Pereira

1. Na nova ordem socio-económica liberal, que se impôs no

segundo quartel do século

XIX, o papel das antigas corporações

de ofícios aparecia como um sério obstáculo

à

liberdade de

circulação da mão-de-obra industrial,

á

livre formação do

mercado de trabalho e ao livre acesso

a

profissão. Não podiam

tolerar-se,

à

luz dos princípios do liberalismo económico

triunfante, as restrições colocadas pelos estatutos da; corpora-

ções, nomeadamente as que se relacionavam com o número de

aprendizes a admitir em cada oficina e com as condições do

aprendizado já que proibiam a livre circulação da mão-de-obra e

estabeleciam o controlo do acesso

à

qualificação profissional'.

Por outro lado, o Estado liberal não podia suportar a existência

de corpos organizados que limitassem o exercício da livre

iniciativa individual dos cidadãos. De resto, já na segunda

metade do século

XVIII, o desenvolvimento da indústria

manufactureira e a instituição de organismos estatais destinados

a proteger, fomentar e controlar a produção da indústria

nacional, na lógica mercantilista dominante, introduzem-se

como elementos desagregadores das antigas prerrogativas das

corporações de ofícios. Destaque-se o impacto das Manufacturas

do Estado lançadas por Pombal, cujos regulamentos passam a

impor-se como normas orientadoras de diversos oficios. Parale-

(5)

lamente, a instituição da Junta do Comércio, dotada de poderes

para conceder alvará de estabelecimento de novas indústrias,

desfere um duro golpe na hegemonia profissional das corpora-

ções.

Em 1834, o novo Estado liberal extingue definitivamente as

antigas formas de organização corporativa, consideradas como

((estorvos

à

indústria nacior~al»~.

O

regime liberal permite agora

aos industriais e proprietários das oficinas admitir qualquer

número de aprendizes, sem que se estabeleçam quaisquer normas

sobre as condições de aprendizado, possibilitando em contra-

partida a livre circulação dos aprendizes. O recrutamento de

grande número de menores, bem como de mulheres, nas oficinas e

nas fábricas3, permite aumentar a produção com salários

substancialmente mais baixos4.

Face a o vazio legislativo que sucedeu

à

abolição das

corporações de oficios, o acesso

à

profissão e as condições de

formação profissional passam a fazer-se de acordo com os

interesses dos industriais que estabelecem nas suas oficinas e

fábricas regulamentos internos próprios.

Quebrava-se, assim, a lógica tradicional artesã das relações

entre o mestre e o aprendiz, centrada na transmissão controlada

do saber especializado da arte e na defesa do prestígio

profissional, suplantada agora pela lógica da livre concorrência

e do lucro. Dai que as questões do aprendizado e do ingresso no

mundo do trabalho tenham constituído, no processo de

industrialização oitocentista, um ponto fulcral de resistência e

de reivindicações operárias, frequentemente defensoras da ordem

tradicional artesã contra a nova ordem liberal5. Como salientou

já Maria Filomena Mónica, referindo-se às motivações das

revoltas operárias iniciais, «o que estava em causa era fundamen-

talmente a liberdade que o capitalista se arrogava de destruir os

costumes do ofício, quer através de máquinas, quer através da

concorrência crescente de novos b r a $ o ~ » ~ .

2.

A

realidade industrial portuguesa, como tem sido

salientado por diversos autores, mantém até muito tarde um

peso assinalável da pequena indústria oficinal, onde as tradições

artesanais se revelam persistentes. Na indústria nortenha, e

nomeadamente na indústria portuense, a maquinofactura

constitui excepção. Predominam as unidades oficinais e domésti-

(6)

cas, com fraquíssimo grau de apetrechamento tecnológico e

dispondo de uma mão-de-obra abundante, prevalecendo a rotina

e os hábitos tradicionais7.

As relações entre o mestre e os seus oficiais e aprendizes

pautam-se ainda pela concepção paternalista. Frequentemente o

mestre comunga com os aprendizes a mesa, a casa e o trabalho8.

Em algumas indústrias, como a ourivesaria ou a relojoaria,

procura-se mesmo limitar a admissão de novos aprendizes ao

círculo da parentela, numa tentativa de manter o secretismo

profissional e a dignidade do oficio, por vezes associado ao nome

de família.

Após 1834, perante o vazio legislativo no sector do

aprendizado, iremos assistir a profundas discrepâncias nas

condições de acesso ao oficio e de formação dos jovens

aprendizes. Mas, convirá salientar, como se depreende dos

documentos publicados em anexo, que tal diversidade profissio-

nal e regional

é

fortemente marcada pelo costume. Em certos

casos, aliás,

22

anos depois da Lei de 1834, continuam a realizar-

-se contratos de aprendizado de acordo com os regulamentos

corporativos extintos.

3. Os documentos que publicamos resultaram da actividade

de uma Comissão de Inquérito

i

situação do aprendizado e do

trabalho dos menores nas fábricas e oficinas, presidida pelo

Governador Civil do Porto, barão de

S.

Januário, e referem-se

A3

práticas correntes nos diversos distritos do Norte e Centro do pais

(Viana do Castelo, Braga, Bragança, Porto, Aveiro, Viseu e

Guarda), em

1866~.

Procurando responder

à

indefinição legislativa relativamente

a

um

aspecto que preocupava quer os industriais, quer os

operários, o ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria,

João de Andrade Corvo, visa estabelecer

((regras certas, justas e

equitativas» que orientem as relações entre mestres e aprendizes.

Nesse sentido, a Comissão do Porto viria mesmo a ultrapassar os

objectivos para que tinha sido criada (a indagação das condições

de aprendizado que se praticavam), publicando um

Projecto de

Lei &aprendizagem extrahida da Lei Franceza de 22 de Fevereiro a

4 de M a r ~ o

de

1851i0,

que estaria também na base das disposições

relativas ao aprendizado que se publicariam no Código Civil de

1867, o qual constitui a primeira legislação liberal sobre a

(7)

matéria. O recurso

à

experiência estrangeira parece ter sido a

forma expedita de ultrapassar a grande diversidade de condições

de aprendizado que se praticavam, de acordo com as informações

então recolhidas, reveladoras não apenas da diversidade regional

e profissional, mas também da persistência de aspectos da

tradição corporativa e da prevalência do costume num momento

de vazio legislativo.

O

inquérito fornece-nos um conjunto

importante de informações gerais, por distritos e profissões,

relativas às idades de ingresso no aprendizado,

à

sua duração, aos

horários de trabalho e de repouso dos aprendizes, aos salários, às

modalidades de contratação,

à

situação dos aprendizes na

doença, às penalidades,

à

residência do aprendiz, etc. Apesar de

incompleto e de comportar informações dispersas, o conjunto de

documentos que publicamos revela-se de grande interesse para o

conhecimento das condições de ingresso no mundo do trabalho e

de formação em meados do século passado.

4. Na maior parte dos distritos tinha já desaparecido o

costume de se fazer escrituras públicas nos contratos de

aprendizado, as quais, segundo revela um dos industriais

inquiridos, eram vulgares vinte anos antes. As condições do

aprendizado passam a ser estabelecidas por um ajuste verbal

entre o mestre ou dono da oficina e os pais ou superiores do

aprendiz. Como nos informa um outro industrial, os contratos

escritos, quando se faziam, utilizavam ainda as normas dos

antigos regulamentos. Em Braga, segundo o respectivo Gover-

nador Civil, ((toda a classe d'artistas em geral se pronnuncia ainda

hoje por estas antigas praticas, que elles abonam com argumentos

tirados da experiencia

...

».

E,

no concelho de Estarreja, no distrito

de Aveiro,

((é

ainda observada a antiga pratica, sendo as

obriga~ões reciprocas de mestres e aprendizes estipuladas em

escripturas, ou outros titulos, que produzem effeito em juizo. a irão

ser que contenham

condições torpes ou oppostas

á

moral publica)).

Nas fábricas, como se verifica pelas informações relativas

à

Companhia Aurificia ou

à

Fundição de Massarelos, do Porto,

são os próprios regulamentos internos que tendem a reger as

condições do aprendizado. Na maior parte das oficinas, a ordem

liberal permitiu aumentar o poder discricionário do mestre ou do

patrão, numa conjuntura de abundância de mão-de-obra no

mercado de trabalho.

(8)

A idade de ingresso no aprendizado varia substancialmente de

profissão para profissão e de localidade para localidade,

oscilando entre os 8 e os 15 anos, situando-se vulgarmente em

tomo dos 12 anos". Da mesma forma varia também a duração

do aprendizado, podendo ir desde um ano, entre alguns mestres

sapateiros, até aos dez anos, como acontece entre os latoeiros de

Lamego. Frequentemente, a liberdade do mestre poder aumentar

o tempo de aprendizado constitui uma estratégia de retenção de

mão-de-obra barata, sobretudo em zonas do interior, onde o

aprendiz não dispõe muitas vezes de alternativas de colocação.

Para ingressar no oficio, como nos revelam alguns depoi-

mentos, valoriza-se sobretudo a robustez fisica da criança,

considerando-se a instrução como um valor secundário.

Há,

por outro lado, exemplos de critérios de admissão mais rigorosos,

como o parentesco, utilizado ainda por algumas elites profissio-

nais, em que os conhecimentos da arte são considerados como um

património valioso, na lógica do secretismo tradicional (caso dos

relojoeiros de Braga).

A diversidade da valorização profissional dos diversos oficios,

a abundância de candidatos ao aprendizado no mercado de

trabalho e os costumes locais determinam um leque muito

alargado de situações relativas aos salários dos aprendizes. Em

certos casos, sobretudo nas profissões mais valorizadas, os

aprendizes têm mesmo de pagar ao mestre somas consideráveis

que poderão atingir mais de 50$000 rs., o equivalente ao salário

recebido num ano por um oficial. Outros poderão ganhar um

salário, que raramente ultrapassa os 100 rs. diários, oscilando,

regra geral, entre os 40 e os 80 rs. Muitos, no entanto, nada

recebem.

A separação gradual entre

a

unidade de produção e a unidade

de residência contribuiu para enfraquecer a posição paternalista

do patrão ou mestre face a o aprendiz. O aprendiz que vive na casa

do mestre, com direito a

((cama, mesa e roupa)), associado por

vezes

à

condição de criado doméstico, irá desaparecer. Mas, em

1866,

os

«aprendizes internos)) são ainda frequentes. O Projecto de

Lei d'aprendisagem,

citado, transcrevendo aliás a lei francesa,

integra esta posição paternalista do mestre

-

«o mestre deve ser

para o aprendiz como um bom pae, vigiar sua cortducta e costumes

tanto externa como domesticamente...». Este paternalismo

(9)

aprendizes, alvos de castigos corporais, tantas vezes denunciados.

Também a utilização abusiva dos aprendizes no serviço

doméstico suscita muitas queixas dos operários, aparecendo-nos

aqui denunciada pelas próprias autoridades. ((Dá-se em algumas

officinas

-

lê-se no depoimento do Administrador do Concelho de

Viseu

-

o abuso dos mestres empregarem os aprendizes no seu

serviço domestico, de modo que findo o tempo do aprendizado,

pouco ficam sabendo do offiio a que se dedicaram exigindo por isso

os mestres aos aprendizes mais tempo de trabalho gratuito, ou

dando-lhes um salario diminuto».

Os horários de trabalho do aprendiz são por toda a parte

geralmente longos em quase todas as profissões. Estendem-se,

regra geral, de sol a sol, diferindo os horários de inverno dos de

verão. No inverno, trabalham normalmente desde as 7 horas da

manhã às 8 da tarde. No verão, das 5 horas da manhã às

8

da

tarde. No entanto, os períodos de descanso são também maiores

no verão, incluindo meia hora para o «almo$o» (às 8,30h) e duas

horas para o «jantar» (ao meio dia), associado por vezes ao tempo

da «sesta». No inverno, a pausa do (Qantar» reduz-se geralmente a

uma hora e, em algumas profissões e localidades,

é

vulgar fazer-se

serão até às 10 ou 11 horas da noite. O dia de trabalho raramente

é

inferior a 13-16 horas, incluindo as pausas que variam entre

uma e três horas diárias. Os documentos que apresentamos

reflectem também neste aspecto diferenças profissionais impor-

tantes. Se os aprendizes de oleiros, cuteleiros, tecelões de linho ou

serralheiros do Distrito de Braga têm de trabalhar das 4 horas da

manhã até por volta das 8 da tarde,

já os aprendizes de ourives do

Distrito de Viana do Castelo, trabalhando das

7

horas da manhã

às 5 da tarde de inverno e das 6 da manhã às 7 da tarde de verão,

parecem mais favorecidos.

5. No ano seguinte, o Código Civil viria estabelecer a primeira

expressão legislativa liberal sobre o aprendizado. Fixa as

condições de rescisão do contrato, determina o limite de

9

horas

diárias de trabalho para os aprendizes menores de 14 anos e de 12

para os menores de 18 anos, proíbe o mestre de reter o aprendiz

«além do tempo convencionado ou do costume)), mas a contra-

venção seria apenas punida com o pagamento ao aprendiz pelo

serviço prestado. Por outro lado, o aprendiz não poderá

abandonar o mestre antes de acabado o tempo do contrato. Da

(10)

ineficácia desta legislação não valerá a pena acumular provas. A

Lei de 14 de Abril de 1891 sobre o trabalho dos menores e das

mulheres nas fábricas e oficinas refere no seu preâmbulo que «a

cobea natural das emprezas deseja nos seus trabalhos o menor, por

que elle

é

instrumento docil e barato; e, tanto mais barato quanto

mais produzir)).

A

Lei de 1891, que constitui um importante

documento da nova filosofia de intervenção social do Estado,

deixa inferir do incumprimento das disposições do Código Civil

de

1867.

Basta salientar o facto de que a jornada de trabalho dos

menores de 14 anos passa de 9 para 10 horas, segundo a nova

lei1'.

Imagens de um mundo demasiado duro para as crianças e

jovens, provavelmente não mais duro que o anterior, mas sem

dúvida mais incerto. Tanto mais que as máquinas virão

desqualificar o saber do artista e transformá-lo em operário. E

quantas vezes não há-de ainda o operário sonhar com o ((mundo

perdido dos artistas)),

onde o «saber-fazer)) era uma arte?

Porto, Fevereiro de 1991

NOTAS

'

Para o estudo das antigas corporações de oficios continua a ser ntilissima a consulta da obra de LANGHANS, Franz-Paul de Almeida, As corporopies dos

ofícios mecânicos. Subsídios para a sua história, 2 vols, Lisboa, 1943. Relevo

especial merece o estudo introdntório desta obra, da responsabilidade de CAETANO, Marcello, A antiga organiza$ão dos mesteres da cidade de Lisboa, pp. X-LXXN.

Decreto de 7 de Maio de 1834.

'

No caso do Porto, segundo o Inquérito Industrial realizado em 1852, dos

6 090 operários que trabalhavam nas fábricas e oficinas 35% eram mulheres e 21% menores. Na indústria têxtil, principal ramo da indústria portuense, que ocupa 4 058 operários, cerca de 44% são mulheres e 18% são menores. Cf. MAGALHAES, Maria Madalena Allegro de, A indústri~ do Porto na primeira

(11)

vol. IV, Porto, 1988, p. 138. No Inquérito Industrial de 1881, a Subcomissão do Distrito do Porto, dirigida por Oliveira MARTINS, aponta 27 195 mulheres (33%) e 14301 menores (17%) num total de 82 193 operários do distrito. Cf.

Inquérito Industrial de 1881 - Inquérito Directo, 2O Parte.

Nas fábricas de tecidos do Porto, por exemplo, o salário das mulheres em 1860 oscilava entre 50 e 120 rs., representando menos de um terço do salário masculino (200 a 300 rs.), enquanto o dos menores (40 a 80 rs.) rondava por cerca de um quarto do dos homens adultos. Cf. G O W E A , Visconde de, Relalório

apresenrado à Junta Geral do Distrito do Porto

...,

Porto, 1860, mapa n' 6. Diversos jornais ((operários)) de meados do século, como o Eco dos

Ooerários (Lisboa. 1850). o Jornal dos Ooerários (Porto. 1852). A Voz do

.

.

,.

Oper<irio (Porto, 1853) ou o Jor»iil do Ci?utrii Promotur (Lisbod, 1852-1853), reiicciem cm vinos ari~gos C513 p011~ào. Cf. BAKRETO, J a é , O i tipigrafor 2 o d ~ ~ s ~ ~ r t i i r du ~ o ~ ~ t r a t o ~ ã o C U / L , C ~ I I . I I L~,>I PUTII<PU/ 1 , <\Anilisc Socidlu. Vol. XVII (64, 1981-2O, pp. 255-291. Também ~aria"Filo&na MÓNICA tem destacado este aspecto em diversos trabalhos. Cf., por exemplo, Umu arisrocracia operária:

os cltapeleiros (1870-1914). «Análise Social», vol. XV (60), 1979-4*, p. 861; A

forma~ão da classe operário portuguesa. Antologia da imprensa operária (1850-

-19341, Lisboa, 1982, p. 24: «o controlo do aprendizado constifuiu um ponto

fundamenral nas lutas operárias iniciais. Os primeiros operários não lutaram só por reivindicap3es salariais, lutaram também, e principalmente, paro que o conrrolo sobre o mercado de trabalho lhes não saísse das mãos, objectivo evidentemente incompativel com a necessidade da constitu&ão de um mercado de trabalho copifalistao.

MONICA, Mana Filomena, Uma aristocracia operária

...,

p. 864.

'

Cf. JUSTINO, David, A formação do espaço económico nacional. Porrugnl, 1810-1913. Vol. I, Lisboa, 1988, p. 77-125.

Este modelo de co-residência de aprendizes com os seus mestres pode detectar-se também com frequência nos Livros de Desobriga de Cedofeita que serviram de base ao nosso trabalho Eslruturas familiares na cidade do Porio em

meados do século XIX, Porto, 1986 (dissertação de Mestrado, dactil.).

Arquivo do Governo Civil do Porto, Correspondência Recebida, 1866 (M645). H á referências à resposta enviada pelo Governador Civil de Vila Real, aue não conse~uimos

-

detectar. Os Governadores Civis de Coimhra e Castelo Branco nio enviar~m inforniaqõcz. AI bus:a, 3 qur prucedcmos no Arquivo H i . ' ,ton:o . do Minisicrto das 0br:is I'úblic~?, pdr& dcrccrar os rclsi0rios enviado?

rielas Comissões, revelaram-se infrutíferas. Pelo menos o do Porto sabemos ter Sido enviado pelo louvor que o mesmo mereceu por parte do Rei, pela portaria de 15 de Janeiro de 1867 que dá por extinto o trabalho desta Comissão. Da Comissão faziam parte Justino Ferreira Pinto Basto, Joaquim Ribeiro de Faria Guimarães, Joaquim Torcato Alvares Ribeiro, Diogo José Cabral, Rodrigues de Freitas, barão do Freixo, Gaspar da Cunha Lima, Manuel Ferreira Duarte Cidade, João Arsénio Freire e Francisco José de Carvalho. Em Lisboa, foi criada idêntica Comissão, presidida por Augusto César Cáu da Costa (de que faziam oarte. entre outros. Fradesso da Silveira. Pereira Marecos e Aeostinho Roxo). par3 proceder a igual inquirito nos disrritos de L.isbua, ~:iniar:m, ixvora, ~ e j á , Portllcgrc c Faro. Cf Purtiria dc I? de Scicmbro dc 1866 do .Minisiirio d;ls Obrd j I'ublicas, Coniircio c Indiistri:!, Dióriu de Lirhoo, n0?07 de 13 de Setembro

(12)

'O A experiência inglesa parece não ter sido também ignorada, a avaliar pela

existência de uma cópia de um contrato realizado em Liverpool em 1834. " A análise etária dos aprendizes numa zona de dominância artesã no Porto de 1827 revelou já a mesma concentração em torno dos 12 anos. Cf. FERNANDES. Paula Guilhemina. Breve abordaaem o uma esrrurura socio- -prr,]irriotzol <Ia sl,la<lc~ ,lu I>o~,!Io nar irrpernr do Cerco. comunic3yio ~prescntada s o Congcsso «O Porto n3 Ipoca Contsmporinca~~. Porlo, 1989

I ? A Lei de 1891 ~ r o i b c a ~ d m i s s i i ~ de menores dr. I2 aiios nds fibric:is c oficinas, abrindo um; excepção para certas indústrias onde poderão ser admitidos maiores de 10 anos, fixando nestes casos o dia de trabalho em 6 horas.

APÊNDICE

DOCUMENTAL

DISTRITO DO PORTO DOCUMENTO 1

1866, Outubro, 8, Porto

-

Rascunho da acta da 1Qessão da Comissão de Inquérito do Porto.

(Arquivo do Governo Civil do Porto, Doeumenlo~ão avulso, Correspondên-

cia, M647)

Se á contractos com os aprendises?

Qual a idade dos aprendises quando. os contractam? Se são internos e externos?

Quaes as condiqoes de serviço para cada classe? e qual o tempo de aprendisado.

Como procedem se os aprendises abandonão o serviço. Quaes os salarios dos aprendizes? e que ordem seguem. Quaes são as garantias de cumprimentos dos contractos? Qual o número de aprendises?

Qual o número de officiaes?

Oue habilitacões exirem aos a~rendises

-

Com relação a instmcção primaria o que se pratica Se aprendem desenho na escola industrial.

Quaes as horas de trabalho? Quantas refeições tem os internos?

Como se procede com os aprendises no caso de doença? Se descontão o tempo de doença?

Qual a penalidade pelos delictos? Qual a idade dos actuaes aprendises

Se o tempo de trabalho diario é o mesmo para todos os aprendises. Se á facilidade em obter aprendises.

(13)

O Snr. Manoel Custodio Moreira dono d'uma fabrica de tecidos de seda disse que outrora usava de escriptos de obrigação no aprendizado; mas como recorrese diversas vezes ao poderjudiciario para os fazer cumprir e não fosse bem succedido por falta de lei a este respeito, nunca mais recorreu, e deixou-se de taes escriptos.

Actualmente tem aprendizes internos e externos; a nenhuns exige conhecimento de primeiras letras ou outras quaisquer. antes de entrarem para o trabalho, nem mesmo depois os obriga a irem ás aulas. Não lhe convem mesmo que os internos as frequentem, porque d'outra sorte perderiam tempo reclamado pelo serviço fabril; porem todos os aprendizes actuaes da sua fabrica sabem ler e escrever, excepto um externo.

Ensina-os com todo o cuidado no seu officio. O trabalho dura desde o amanhecer até as 8 horas da noute. Durante uma Darte do anno é oortanto preciso haver semos. O almoço dá lugar a 1/2 hora de descanço; o jantar a uma hora. Os externos tem as mesmas boras e obrigações que os internos. A duração de trabalho é também a mesma s u e uara os officiaes .

.

Quando algum aprendiz interno adoece, é tractado em casa, excepto em doenças graves e prolongadas, porque então vae para o hospital. Embora, n o ajuste se combine que o aprendiz dará alem do tempo do aprendizado aquelle que consumiu em doenças, é em geral dispensado disso.

Para serem regulares no trabalho é ás vezes obrigado a applicar-lhe leves castigos corporaes, ou reprehendel-os; porem não usa suspender o salano, ou prival-os das refeições costumadas.

Admitte aprendizes de 13 a 17 annos; deu-se porem o caso de admittir um de 17 annos; e como o tempo de aprendizado é de 5 annos, devia acabar aos 22; comtudo descontou-lhe seis meses. Actualmente tem 4 aprendizes e 12 ofliciaes. Acrescentou que ha cerca de 20 annos é que fazia contractos por escripto; e julgou conveniente que se fizesse lei que regulasse as relações dos aprendizes com

OS mestres.

O snr. Joaquim Rodigo Pinto, director da fabrica Aurificia disse que neste estabelecimento não se faziam obrigações escnptas por se julgarem inuteis; na fabrica ba um regulamento a que os aprendizes devem submetter-se, não podendo porem achar nos tribunaes a garantia do cumprimento delle.

A idade minima de admissão ao aprendizado é de 14 annos. Todos os aprendizes são externos; nem mesmo a organisação económica da fabrica, pertencente a sociedade anonyma, permittia facilmente outra coisa. Entrados na fabrica, são mandados já para alguns serviços proprios de creado, já para as oficinas, ande vão praticando até se conhecer qual dellas se adapta melhor á

vocação de cada um. Sendo de 120 reis o ordenado inicial, vão ganhando, conforme os progressos, até 240 reis. A Aurijicia trabalha ha 3 ou 4 mezes, e já alguns aprendizes ganham 160 reis.

O aprendizado é de 4 annos. Ha alli 10 aprendizes e cerca de 24 officiaes. Para ser admittido exiee-se ter. como fica dito. 14 annos de idade. bem como

-

robustez, e saber Iêr, escrever, e contar. Dois aprendizes frequentam a aula de desenho no instituto industrial. Reconhece que a instmcção é extremamente necessaria ao bom serviço na industria.

O trabalho effectivo dura onze horas; alem destas, o aprendiz tem uma hora para jantar, a o meio dia. Não toma outra refeição durante o serviço; vem almoçado. Parecia-lhe conveniente que fossem 10 as horas de trabalho.

(14)

Tocante a doença, não está prevenido no regulamento, mas de certo se dispensará o tempo que ella durar, se não for longa, e não se suspendará o salario. Que os aprendizes, quando faltavam ás suas obrigações eram reprehendidos, podendo ir a pena até á expulsâo; mas que não se infligiam castigos corporaes. Hoje a fabrica tem aprendizes de 14 até 16 annos.

Oue talvez houvesse difficuldade em alcancar a muitos aorendizes novos:

.

d'ordinario são d'aldea os que se empregam na ourivesaria.

Parece-lhe que no caso de se fazer lei sobre o aprendizado, cumpre attender esoecialmente aos abusos dos oatrões e ao dos trabalhadores: estesoodiam dar liançi, obrigando-se o fiador 30 pagamenro de cerra quantia diaria pelo tempo complementar do aprendizado; dcsra sorte ficava o aprcndiz livre e o patrjo sewro. Ainda assim lul>ia sue

. - .

çe rioderiam illudir tneç diwosiçùer da rinrre do

. .

pa<rão, se eçte lhe der mau tractam;nto. ou não lhe ensinr o oíiiçio. ~ u c k d e que os rapares tomados para o scrvi$o das fihncas d o cmprcgadoç longo tempo eni trabalhos domesticos.

O vogal snr. Gaspar da Cunha Lima observou que assim era, porque os patrões receiavam que os aprendizes Ihes fugissem antes de acabado o tempo.

O snr. 3. Rodrigo Pinto esteve duas veses na França onde visitou diversas fabricas.

O snr. Raymundo Joaquim Martins, vereador, e dono de fabrica de tecidos de seda, Iam e algodão, e mixtos, disse que em tempo usou de contractos escriptos para a aprendizagem; no seu estabelecimento se formaram officiaes muito distinctos, bem conhecidos ainda hoje, principalmente em lavrado.

Costumava ter 10 aprendises.

Desde que se implantou o systema liberal, como diversas leis cahissem em desuso, foi sempre diíiicil, e muitas vezes impossivel, encontrar juizes que tomassem validos os contractos de aprendizado. Comtudo houve no Porto um juiz, o snr. António Roberto de Araujo e Cunha, o qual, fundando-se no antigo regulamento da fabrica de sedas, obrigava os patrões e os aprendizes ao cumorimento das mutuas obrieacões. Desde então era inntil recorrer ao

- .

judiciario. Desappareceram, pois, os contractos por escripto. Ficou a boa fé, insufficiente porem. Os aprendizes fogem das fabricas, antes de darem todo o temvo. O mestre verde o que gastou com elles. oorem igualmente na industria das

.

-

-

sedas, porquc os 3prendizes estragam muita marcria pnma nos primeiror anuo,.

Em face de tudo isto, rcsolveu-se a mio ler aprcndizcs. Costumava ~dmittil- -os de 10 a 15 annos, internos e externos. Preferia os de fora da cidade. . DOI

.

se sujeitarem mais. Uns eram internos, outros externos. Aquelles não tinham salario. Os externos ganhavam no 19 anno 120 reis; se ao fim delle ainda nâo estavam aptos para o tear tinham mais 20 reis, e o mesmo augmento por anno até entrarem para o tear. Depois de habilitados a elle, ganhavam metade do que usava dar-se aos oficiaes, passado um anno, percebiam 213. Quando fazia contracto por escripto, havia tres testemunhas e fiador.

Nâo exigia habilitações litterarias, mas costumavam mandar os internos aprender a ler, escrever e contar; um oficial se encarregava primeiramente de Ihes ensinar o alphabeto e o syllabario. Alguns aprendizes d'ambas as classes frequentavam desenho.

(15)

Ouando tinha 10 anrendizes costumava ter 50 a 60 officiaes. Lembrou que

.

pelo antigo regulamento não podia haver mais do que 1 aprendiz para quatro teares. Agora conservava 2 aprendizes e 52 off~ciaes; d'aquelles, I um tinha 11 annos, o outro 12, quando os admittiu.

As horas de trabalho eram 12, incluindo meia hora ao almoço, e uma ao jantar; desde a Pascoa até o S. Miguel dava uma e meia hora para o jantar. No caso de doença tractava em casa os internos, excepto quando se prolongava muito. Não descontava do tempo do aprendizado o da doença.

Admoestava-os ou mesmo castigava-os corporalmente; mas estes castigos, para não serem exaggerados, elle mesmo os dava.

Da mesma sorte que os outros industnaes inquiridos, concordou na grande necessidade de regular o aprendizado.

Findo este inquento, a commissão decidiu que se continuassem os trabalhos na proxima 28 feira sendo convidados os industnaes:

Zefenno - marceneiro

Joao Antonio de Macedo - latoeiro Sardinha -mestre pedreiro

Manoel Jose Prado - carpinteiro Manoel Caetano Ferraz - sapateiro Magalhães - correeiro

Como não houvesse mais nada a tractar, o snr. presidente levantou a sessão. Porto e sala das sessões - 8 d'outubro dc 1866.

J. J. Rodrigues de Freitas Jor. Secretário

DOCUMENTO 2

1866, Outubro, 15, Porto

-

Rascunho da acta da'? sessão da Comissão de Inquérito do Porto.

(AGCP, Documenia~âo avulsa, Correspondência, M647)

Presentes os Illustrissimos Barão de S. Januáno, Barão do Freixo, Gaspar Lima, Duarte Cidade e Francisco José de Carvalho e Faria Guimarães. Compareceram os Snrs. Macedo, latoeiro, e Zefenno, marceneiro.

[Snr. Macedo, latoeiro]

Se há contratos com os aprendizes? - contrata-os vocalmente e o aprendizado dura.5 annos, durante os quaes apenas os sustenta, ficando o vestuario a careo d o Dae.

De que idãde adhitte os aprendizes? - de 12 a 15 annos.

Os aprendizes são internos, e alem da comida, tem roupa lavada, e casa: não tem aprendizes externos,

(16)

Quaes as condições de serviço? - todo o serviço proprio da oficina, e algum domestico e mesmo externo auxiliar da oficina.

Tempo #aprendizado?-5 annos, eexpirados e l l q fi ca oficial com ordenado. Processo quando os aprendizes abandonão o serviço?

-

nenhum.

Salario? -nenhum, apenas casa, comida e roupa lavada. Tem regularmente 3 aprendizes e 1 oficial.

Habilitações dos aprendizes? - robnstez, preferindo aquelles que tem principias de leitura.

Não é pratica mandar os aprendizes á escola, salvo algum que tem desposição para desenho, e que o manda a aula.

Horas de trabalho?-preenchem o diacom trabalho, e fazem serão no inverno. Almoção, jantão e ceiam, de verão e inverno.

Tratão em casa os aprendizes, quando o encommodo é ligeiro, e mandão nara o hosnital ou entreeam aos oaes auando o encommodo é

-

grave. sem desconrarern erre tempo no pçriodo de aprendi~ado.

Keprehenn?o s castigos corporaea ligeiros por alguma fdlr3 pra1ic:ida. Os acruacg aorendixc rem 12. 1 5 e 16 annos.

Há sempre no mercado abnndancia de rapazes que desejam aprender o oficio.

Snr. Zeferino (entalhador)

Não tem aprendizes

-

não há contractos - o aprendizado dura 4 annos

-

alguns paes pagam para os aprendizes não façam recados e outros serviços isto antiaamente

-

-

os contractos são vocaes - e a idade dos aprendizes de 11 a 15 annos

-

geralmente há mais aprendizes externos do que internos e trazem ferramenta; os internos tem casa e comida - não tem agora nenhum official - não exigem habilitações, aconselhando-os porem a frequentarem a aula de desenho

-

o trabalho diario é de 9 a 10 horas

-

os anrendizes durante a doenca não lhe

.

é

descontado esse tempo p a r a ~ o periodo de aprendizado. Há facilidade em obter aprendizes.

Magalhães - correeiro

O aprendizado dura 6 annos- aprendizes internos, recebendo casa, comida e vestuario.

Não há contratos escriptos actualmente; já em tempo os fez, mas sem resultado.

Idade de 11 a 13 annos.

Serviço proprio da arte, e nenhum mais.

Tambem o aprendizado dura 5 annos, mas ent8o não recebe vestuario. Tem 1 aprendiz e 3 oficiaes.

Não considera a instrucção como condição indispensavel para a admissão. Trabalho - 13 horas

-

3 comidas - almoço, jantar e ceia.

Não há dificuldade em obter aprendizes. Ferraz - carpinteiro

Tempo d'aprendizado - 3 112 a 4 anos - não há contratos - idade de 10 a 14 annos -tem internos e externos

-

tem geralmente casa, comida e roupa lavada

-

Há tambem aprendizes de officiaes, sendo d'estes menor o tempo e q u e regula por 2 annos. No fim dos 4 annos passam a oficiaes.

(17)

Não há garantia para o cumprimento dos contratos. Tem regulamente 4 aprendizes e 20 officiaes.

A instmcção primaria não é condição para a admissão. As horas de serviço são as regulares - e tem serão.

Quando doentes não se desconta o tempo para o aprendizado, doenças leves em casa e graves para o hospital.

Idade de 8 a 14 annos - para adniissão. Não há dificuldade em obter rapazes. Sardinha - pedreiro

Os aprendizes pagão para entrar regulamente 6 moedas, durando o aprendizado 1 e 1 112 a 2 annos, recebendo logo de salario 8 a 9 vintens.

Idade para admissam 14 annos para cima - aprendizes todos externos. Tem talvez nas suas obras 7 aprendizes

-

nas obras que dirige. Frequentão regulamente o desenho na escola industrial. As horas de trabalho de sol a sol.

Doentes não recebem salarios.

DOCUMENTO 3

1866, Porto - Informação sobre o aprendizado na Fundição de Massarelos (AGCP, Documenta~ão avulsa, Correspondência. M647)

A Fundicão de Massarellos tem actualmente 55 raoazes. dos auais tem conrrictu escripro 36; c d'esiri frequentão a aula de primeirds leiris 28 r 79 a :gula de Dczcnho. Esins aulsj são dcnrro do proprio Eii~bclccimento graluiids oara os alumnos. sendo os mestres e fornecimento oaro pelo Estabelecimento.

. - .

O tempo $aprendizagem é de 7 annos e as idades varião muito, havendo aprendizes que principiarão o tempo aos 12 annos e outros aos 17; para os mais velhos ordinariamente tem havido uma reducção no tempo d'aprendizagem.

As horas de trabalho são aeora das 7 ~ ~

-

damanhá às 7 da noite. e no verão das 6 da manhã às 6 da tarde. Tem de descanso meia hora no almoço, e uma ao jantar. Os aprendizes largão o trabalho as 5 horas da tarde para hirem para as aulas que durão até as 7 horas,

DOCUMENTO 4

1866, Julho, 7, Porto - Cópia de um contrato de aprendizado da Fundição de Massarelos.

(AGCP, Docume~llapão avulsn, Correspondência. M647)

I'elo presente, declaramoi nás abaixo assignadas Atiro>iio .\'og,g>,ora dos

Su,tros r B. A181to T<,irriru doi Su~iror. rssidenrcs n'csra cidade do Porro, frcgurzia

(18)

Geral da Companhia «ALLIANÇA» a admissão na Fundição de Massarellos como aprendiz de Serralheiro o nosso filho Joòo Nogueira dos Santos de idade 16 annos, debaixo das condições aqui declaradas e abaixo transcriptas; ao fiel cumprimento das quaes, tanto o dito nosso filho Joòo Nogueira dos Santos como nós, nos obrigamos por nossas pessoas e bens.

I Q O tempo d'aprendizagem será de 7 annos, que terão principio em I de

Janeiro de 1864 e findarão em igual dia e mez do anno de 18

...

2 O Durante todo o tempo que permanecer no estabelecimento, obedecerá

com respeito a todos os seus chefes, e trabalhará com assiduidade nas obras que lhe forem indicadas.

3

' Zelará os interesses do estabelecimento, não extraviando objecto algum, nem consentindo que por outrem seja extraviado, avizando os chefes de qualquer extravio que elle por ventura tenha descuberto.

4' Ganhará no primeiro anno, 80 reis, no segundo 100 reis, no terceiro I20

reis, no quarto 160 reis, no quinto 200 reis, no sexto 240 reis, e no setimo 300

reis.

5'Se antes de acabar o tempo, deixar o estabelecimento, e for trabalhar pelo seu officio. em outro. no Porto ou Lisboa. ou em outra aualauer oarte de

. .

.

Portugal, ficará sugeito á pêna d'um mez de prizão, e seus pais, como fiadores pagarão de multa quarenta e oito mil reis de indemnização dos prejuizos cauzados ao estabelecimento.

Para clareza se fizerão dois do mesmo theor e data, que vão ser assignados, um pelo snr. Gaspar da Cunha Lima, Director Geral da Companhia «ALLIANÇA» e outro pelo nosso filho João Nogueira dos Santos e por nós como fiadores d'elle, e bem assim pelas testemunhas prezentes Cazimiro A~rtonio

Barboza Júnior Domingos de e Silva

Porto, e Fundição de Massarellos, 7 de Jull~o de 1866.

João Nogueira dos Santos Como fiador Antonio Nogueira dos Santos

Gaspar da Cunha Lima Director Geral da Companhia Alliança

ARTIGO 3' DO REGULAMENTO DOS APRENDIZES §I=

São reputados aprendizes da Fundição de Massarellos, unicamente aquelles rapazes que fizerem contracto escripto garantido por fiadores idoneos.

5

2=

Os aprendizes não poderão ser empregados fóra do Estabelecimento em serviço estranho à sua profissão.

(19)

5

3 O

Haverá aula de primeiras letras e de dezenho, e todos os aprendizes serão obrirados a freaueutal-as: e em auanto as não houver. será nermittido o hirem ás

-

.

.

referidas aulas nocturnas, para o que se Ihes dispensará o tempo necessano. Estas aulas só poderão ser frequentadas pelos aprendizes; isto é pelos aprendizes que tiverem feito contracto.

5

4O

O tempo d'aprendizagem é de 7 annos, durante os quaes o ensino será praticado da maneira sepuinte:

10 Serviço em geralda Officina

2g e 3* Serralharia

4' Maquina e Tornos

5' Serralharia ou Tomos, segundo o aprendiz quizer ser, serralheiro ou torneiro.

6' e 7' Sua profissão

5

5*

Cada aprendiz além das gratificações que o seu merito e applicação exigirem, ganhará no primeiro anno Rs 80

Segundo anno Rs100 Terceiro «I20 Quarto « ((160 Quinto « 6200 Sexto ~ 2 4 0 Setimo (( ((300

5

6'

Alem do salario e gratificação, a Direcção fará em uma das Companhias de seguros mutuos, sobre a cabeça de cada aprendiz um seguro da quantia de

Rs

...

em aunuidades de Rs

...

cada uma; este seguro será liquidavel no fim

de 10 annos, e o producto reverterá em favor do aprendiz, se na epoca da liquidação existir ainda no Estabelecimento, aliás reverterá em beneficio da caixa de socorros.

DISTRITO DE VIANA DO CASTELO

DOCUMENTO 5

1866, Dezembro, 4, Viana do Castelo - Carta do Governador Civil de Viaua do Castelo para o Governador Civil do Porto, remetendo as informações sobre o aprendizado naquele distrito.

(AGCP, Documenla~ão avrrlsa, Correspondência, M647) 1ll.mo Ex.mo Snr.

Satisfasendo ao officio que V. Ex.a me deregiu em data do 1' de Outubro ultimo ácerca da pratica actualmente em uso neste districto relativamente aos

(20)

contractos d'aorendizado. e á duracão e destribuicão do trabalho das creanças nas fabricas e ifficinas; rcnho a honra deenviar 3 V: EX a a inclusa nora pela qual

sr conhece. nos diltèrenlcs olficior e artes quanto tempo dura o aprendizado, em que edades se começa, por quem são alimentados, quantas horas trabalhão e ouantas descancam oor dia. e se o seu servico ,

.

.

é gratuito ou remunerado. tendo mais a accrcscentar que não ha costume de se Pars contracio regukir por meio d'eacripiura par, a acszira~ão do aprendiz, rire

r:

recebido somente mcdianrc um ajuste;ocal-entre o mestre ou dono da oiiicina e os paes ou superiores do aprendiz.

Quaesquer outras informações que V. Ex.a julgue ser precizo eu fornecer, promtamente o farei logo que por V. Ex.a me sejam requisitados.

Deos Guarde a V. Ex.a Vianna do Castelo, 4 de Desembro de 1866. Ex.a e Ex.mo Sr. Governador Civil do Districto de Porto

O Governador Civil Jacome Borges Pacheco Pereira

DISTRITO DE AVEIRO

DOCUMENTO 6

1866, Dezembro, 4, Aveiro - Carta do Governador Civil de Aveiro para o Governador Civil do Porto, remetendo as informações sobre o aprendizado naquele distrito.

(AGCP, Documentapão avulsa, Correspondéncia. M647) Ill.mo e Ex.mo Snr.

Satisfazendo ate onde me é nossivel á instancia de V. Ex.a no seu telemama

-

d'hontem tenho a honra #enviar-lhe a inclusa nota, em que se contém os esclarecimentos ate boie obtidos acerca da forma e condições dos contractos d'aorendizado neste ~Fstricto.

Deus Guarde a V. Ex.a Aveiro o 1' de Desembro de 1866. Ill.mo e Ex.mo Snr. Governador Civil do Porto

O Governador Civil

João Silverio #Amorim da Guerra Martins

Nota dos contractos de aprendizado

comforme a pratica seguida nos concelhos abaixo designados. Concelho de Aveiro

Ha muitos annos que n'este concelho não se celebram contractos de aprendizado por escriptura publica ou qualquer outro titulo, reservando-se os mestres e aprendizes a faculdade de se desligarem quando e como Ihes convém.

(21)

A pratica hoje adoptada é a seguinte:

O aorendiz de caminteiro está o orimeiro anno sem receber do mestre senão o sustento, e passado esse anno ganha conforme o seu merecimento.

O aprendiz de alfayate sustenta-se á sua custa e nada recehe durante ires annos, findos os quaes começa a ganhar algum salano, maior ou menor segundo a sua aptidão.

Ao aprendiz de sapateiro acontece o mesmo, com a unica differença de receber do mestre o almoço.

A aprendizagem de funileiro dura 4 ou 5 annos, durante os quaes nada recehe do mestre, senão o sustento.

Para o aprendiz de ferreiro a pratica é ideutica.

Os aprendizes de capellistas dão 4 ou 5 annos de serviço sem que recebam remuneração alguma em dinheiro; mas os patrões dão-lhes casa, cama e meza, bem como todo o vestuano.

Os fabricantes de louça recebem os aprendizes por 4 annos, não Ihes dando em todo este tempo salario algum, nem mesmo de comer.

Concelho de Estarreja

Neste concelho é ainda observada a autiea pratica, sendo as obneações

- .

- .

reciprocas de mestres e aprendizes estipuladas em escnpturas, ou outros titulos, que produsem effeito em juizo, a não ser que contenham condições torpes ou oppostas á moral publica.

Por estes contractos obrigam-se os aprendizes, por si, ou por seus paes ou tutores, a acompanhar os mestres um, dois ou tres annos, ganhando no pnmeiro um certo jornal, que augmenta gradualmente nos seguintes, não chegando nunca, porém, ao de um offcial.

Acontece muitas vezes serem modificados os contractos primitivos, de ordinano em proveito dos aprendizes, com relação ao tempo e salario.

No concelho de Estarreja não ha fabricas nem officinas propriamente ditas.

Concelho de Ilhavo

Neste concelho os contractos de aprendizado não são os mesmos para todos os officios.

O aprendiz de carpinteiro começa logo recebendo algum salario em relação com a idade aue tem. Assim: se é maior de 13 annos. eanha desde o onncioio da

.

-

L . aprendizagem até ao fim do 29 anno 120 réis por dia, subindo este jornal depois a 160 réis; se o aprendiz é menor de 13 annos, começa por ganhar 400 réis diarios, . . . salano aue cresce deoois consoante a antidão aue mostra.

O aprendiz de tamanqueiro obriga-se a pagar ao mestre uma certa quantia pelo tempo que durar a aprendizagem, regulando esta por um anno e aquella por seis mil réis. Quando não se dá esta condição, abriga-se o aprendiz, acabado o temno de aorendizaeem. a trabalhar eratuitamente oor dois annos em oroveito

- .

do mestre.

Os aprendizes de sapateiro e alfayate estão com os respectivos mestres tres annos, durante os quaes não recebem remuneração alguma.

(22)

Concelho de Vagos

Os contractos entre mestres e aprendizes são geralmente fornulados da seguinte maneira:

Umas vezes, obriga-se o aprendiz a acompanhar o mestre por 2, 3 ou 4 annos, segundo a idade que tem á data em que começa a aprendizagem, sem receber salario algum, nem sustento, durante todo este tempo. Outras vezes, o mestre obriga-se a sustentar o aprendiz; mas n'este caso, tem o ultimo de satisfazer ao primeiro uma dada quantia, que é raro exceder a 24000 réis, por todo aquelle tempo, ou uma certa quantidade de generos aunnahnentc.

Quer de um, quer de outro modo, o mestre obriga-se a ensinar o que sabe, e quasi sempre, a conservar o aprendiz por mais algum tempo, além do da aprendizagem, para se aperfeiçoar, mediante o salario estipulado pelo mestre.

N'este concelho não ha fabricas propriamente taes. Ha, apenas, pequenos estabelecimentos de louça, telha e breu, que estão a cargo dos respectivos donos c seus filhos.

Governo Civil de Aveiro, I* de Dezembro de 1866. O Governador Civil

Joáo Silverio d'Amorim da Guerra Quaresma

DISTRITO DE BRAGANÇA

DOCUMENTO 7

1866, Dezembro, 1, Bragança

-

Carta do Governador Civil de Bragança vara o Governador Civil do Porto. remetendo as informacóes sobre o aprendizado naquele distrito.

(AGCP, Documentapio avulsa, Correspondência, M647) 1ll.mo e Ex.mo Snr.

Resuondendo ao ofiicio de V. Ex.a N* 77 de 1' d'outubro vroximo vassado. tenho a honra de informar a V. Ex.a com o que pude averiguar, relativamente á

pratica seguida n'este districto em os contratos d'aprendizado.

primeiramente é de notar que náo se encontram no districto estabeleci- mentos industriaes. alem d'aauelles onde se exercem as artes mecanicas menos dispensaveis á vida dos povos, taes como a de alfaiate, barbeiro, carpinteiro, ferreiro, marceneiro, pedreiro, serralheiro etc; e ainda esses só offerecem uma tal o aual imoortancia n'esta cidade

Os contractos são celebrados entre o pai ou tutor do aprendiz e o mestre d'oficio, por escriptura particular, ou verbalmente que é o mais seguido, e nunca Dor escnutura vublica. sue uossa subir a iuizo. . .

.

N'eites côntractos seguem-se dous s~stemas: ou o aprendiz se obriga a trabalhar gratuitamente para o mestre por um, dous até tres annos, segundo a

(23)

natureza do officio, recebendo d'ahi em diante um modico jornal, que tambem varia pela dita rasão e pelo melhor ou peor trabalho do aprendiz, que d'ahi por dia& se chama official: ou então se obriea. álem d'eise temo; de se&ico

- .

gratuito, a pagar mais um tanto em dinheiro, por que tambem o mestre se obriga a dar-lhe vestido e alimento. São, porem, tantas as variantes, que nenhuma dellas oóde estabelecer uma reera

A duração do trabako é geralmente desde o nascer até ao occaso do sol no tempo de verão, com descanso de duas horas depois do meio dia; no inverno, por&, ha serão para alguns officios até ás 9 horas da noite.

Deus Guarde a V. Ex.a.

Bragança, IQ de dezembro de 1866

Ill.mo e Ex.mo Sur. Governador Civil do Districto do Porto Servindo de Governador Civil

O Secretário Geral Henrique Jose Fernandes Lima

DISTRITO DE BRAGA DOCUMENTO 8

1866, Dezembro, 7, Braga - Carta do Governador Civil de Braga para o Governador Civil do Porto, remetendo as informações sobre o aprendizado naquele distrito.

(AGCP, Doeumenta~ão avulsa, Correspondência, M647) Ill.mo e Ex.mo Snr.

No mappa demonstrativo que vai juncto tem V. Ex.cia os dados e esclarecimentos que pude colher a respeito do que actualmente se pratica nas fabricas e officinas d'este Districto com os aprendizes de cada uma das artes que n'elle se exercem.

O que posso a este respeito informar a V. Ex.cia é que antigamente os artistas eram classificados pela ordem dos seus officios, e alistados sob a bandeira d'uma Irmandade ou Confraria cujo padroeiro era invocado como o sancto e protector dos officiaes alistados assim por exemplo na Irmandade de S. Joze associavão-se todos os carpinteiros, vidreiros e marceneiros, na de S. Chrispim e S. Chrisoiniano todos os saoateiros. na de S. J o r ~ e

-

todos os forradores. e assim os dcmdis. Tinham seus compromissos ou Estaruros aprov.tdus pelo Corregedor J a Comarca, c confirmados por Pru\i,àu Kegia expsdlda pelo Desembargo do Paco. Nesses Estatutos havia disoosicões que marcavam o tempo d'aprendisagem

. . .

- do respectivo oficio com garantias para os mestres que não podiam estabelecer- -se como taes sem previamente serem examinados por trez Juizes e um Escrivão elegidas triennalmente pela corporação a que pertenciam, e para os aprendizes, aue findo o temoomarcado de aurendizapem comecavam a ser officiaes e nesta

-

qualidade I<: cunirrvavnni ai6 julg3dos hnbilitados L.om alguns annos de prsticd

se submcrri~m ao exame para mssires, e como iaep se cstnbelecim. Toda a c l ~ s j e d'artistas em geral se pronnuncia ainda hoje por estas antigas praticas, que elles

(24)

abonam com areumentos tirados da exoeriência. aueixando-se dos a~rendizes

-

.

.

que logo que adquirem algum conhecimento da arte ou oficio a que se destinaram, e apparece quem Ihes prometta alguma ganancia, immediatamente abandonam o mestre que teve o maior trabaiho de os ensinar, e de Ihes dar o sustento sem cheear a oerceber oor isso comr>ensacão ou lucro aleum: Que almns

-

.

. .

-

.

-mestres, embora por excepção comettem cniezas e deshumanidades com os aprendizes que não tem familia, nem parentes que olhem por elles, obrigando-os a serviços improprios da idade e superiores ás suas forças; e que finalmente se arvoram muitas vezes em mestres pessoas inbahilitadas cujas obras cheias d'erros, ncios e deffeitos revertem em prejuizo publico, e são um grandissimo obstaculo no aperfeiçoamento das artes.

Tambem em favor dos menores sem fortuna nem familia direi Que é muito parii lamentar ver um grande numero de orRo, r engeitados sem terem quem por cllcs olhr, e nem 30 menoç se Ihcr norne3r judicialrnznte um 'Suror dativo que

cure da Dessoa, como a Lei determina. No Juizo dos Orfaos attende-se somente aos quetem bens para administrar, e deixa de cumprir-se a Lei, entregando ao mais completo abandono os menores a quem a sorte collocou na miseria: d'aqui vem que muitos ainda procurando o trabalho, não acham quem os receba por não terem abonador que responda pelo seu comportamento, e eis aqui já em tenra idade o primeiro passo para a carreira do vicio, e d'aqui os mais consectarios que a bem conhecida illustração de V. Ex.cia me despensa d'ennunciar: que se nomeie um Conselho de familia e um tutor aos menores em iaes condir.úea e circunrr3ncini 6 prccziru (13 Lei qus ha muiros annos çc não cumpre, mis cuja ubservincio deve d31 um bom resultado debaixo do ponta ds vista que já apontei. Eis o que posso informar a V. Ex.cia, e á Ex.ma Commissão a que dignamente preside, cujos elevados conhecimentos suprirão todas as minhas deficiencias.

Deos Guarde a V. Ex.cia. Braga 7 de Dezembro de 1866 Ill.mo e Ex.mo Snr. Governador Civil do Distncto do Porto

O Governador Civil Visconde de Pindello

DISTRITO DA GUARDA DOCUMENTO 9

1866, Dezembro, 3 -Guarda. Carta do Governador Civil da Guarda para o Governador Civil do Porto, remetendo as informações sobre o aprendizado naquele distrito.

(AGCP, Documentação avulsa, Correspondência. M647) 1ll.mo e Ex.mo Sr.

Sendo a agricultura a industria principal d'este Distncto, pouco exercidas são n'elle as artes e os officios, e raras, por isso, as oficinas, e os estabelecimentos fabris.

(25)

Há, todavia fabricas de laneficios e de cortnmes em alguns concelhos e n'ontros oficinas de Ferreiro, sarralheiro, marceneiro, carpinteiro etc. - porem nas orimeiras são as creancas admittidas. não como anrendizes. mas como operarios, percebendo salano proporcionado ao serviço que executam; nas semudas, recebem-se como aprendises mediante certo contracto feito entre os ou tutores dos mesmos, os donos das officinas, sendo este contracto as mais das vezes, a obrigação de darem os aprendizes ao mestre, certo numero de annos de serviço, por lhe ensinar o officio que se propoem aprender.

Nas fabricas trabalham as criancas todo o dia. como os demais onerarios. tendo apenas de Maio a Setembro, duas horas de descanço, depois da refeição maior - os aprendizes de oficios estão sugeitos á mesma regra, sendo de mais a mais obrieados ao serão. nas noutes do inverno,

É i s t i o que tenho ;honra de dizer a V. Ex.ça, sobre o objecto do seu oficio n' 77 do 1' de Novembro ultimo, em vista dos esclarecimentos que obtive.

Deos Guarde a V. Ex.ça. Guarda 3 de Dezembro de 1866.

Ill.mo e Ex.mo Sr. Governador Civil do Districto do Porto. Servindo de Governador Civil

O Secretario Geral Francisco de Paula Mendonça

DISTRITO DE VIZEU DOCUMENTO 10

1866, Dezembro, 1 - Viseu. Carta do Governador Civil de Viseu para o Governador Civil do Porto, remetendo cópia da carta do Administrador do Concelho de Viseu com as informações sobre o aprendizado nesse concelho.

(AGCP, Documenfação avulsa, Correspondência, M647) Ill.mo e Ex.mo Snr.

Tendo exigido dos administradores dos concelhos de Lamego e Vizeu os esclarecimentos relativos a contratos de aprendizado, por me não constar que em outro algum concelho d'este districto houvesse contratos de tal natureza, recebi os relativos ao concelho de Vizeu. e são os oue constam do oficio. aue V. Ex.a

.

A

encontrará incluso por cópia, faltando ainda os concernentes a Lamego, pelos quaes eu aguardava para enviar uns e outros a V. Ex.a. N'esta data vou exigir que estes dtimos se me remettam com urgencia.

Deus Guarde a V. Ex.a Vizeu, 1 de dezembro de 1866.

Ill.mo e Ex.mo Snr. Governador Civil do districto do Porto O Governador Civil

D. Jozé Manuel de Menezes d'Alarcão

Cópia - Administração do concelho de Vizeu Na 137 I* Repartição. Ill.mo e

Ex.mo Snr. satisfazendo ao que me foi ordenado por V. Ex.a em oficio n* 586, com data de 8 de outubro proximo findo, acompanhado de uma copia da solicitação feita pelo Ex.mo Governador Civil do distncto do Porto, relativa ao

(26)

aprendizado, e horas de trabalho das creanças empregadas nas fabricas e oficinas. cabe-me a honra de levar ao conhecimento de V. Ex.a oue no concelho a meu cargo, apen3s iristem algumas fahncas de cortumes, prcgos, e telh3, mas em nenhum d'ellas se admitrem aprendizes. Pelo que respeita ao tempo do 3prenJiexi0, c a limiia(.20 e disrribuic3o d i hora de rrabllho dar crcxncas empregadas nas officinai, diversifica segundo a natureza d'estas, e por isso vou expor a V. Ex.a o que actualmente se pratica com relação a este objecto nas differentes oficinas existentes no concelho a meu cargo. Na officina de latoeiro, é

costume darem os aprendizes quatro annos de serviço gratuito, trabalham desde o amanhecer ás nove horas da noute, e tem de descanço uma e meia hora, sendo meia hora para almoço, e uma para jantar; que de ordinario é desde o meio dia até á uma hora. Na de funileiro

-

idem. Na de alfaiates, dam os aprendizes tres annos de serviço, tambem gratuito, trabalham desde amanhecer até ás nove horas da noite, descançando desde as oito horas da manhãa até ás oito e meia, e desde o meio dia ate a uma hora da tarde. Na de sapateiro

-

idem. Na de selleiros dam os aprendizes cinco annos, sem que recebam gratificação alguma; trabalham desde o amanhecer até ás nove horas da noite, e tem de descanço meia hora ao almoço e uma ao jantar que de ordinario é ao meio dia. Na de marceneiros, os aprendizes são obrigados a darem quatro annos de serviço gratuito, e tem de descanço meia hora para almoçar, e uma para jantar. Na de chapeleiros, dam os aprendizes cinco a m o s de serviço sem remuneração alguma; trabalham desde o amanhecer até ás nove horas da noute e descançam meia hora ao almoco e uma ao iantar. Na de ferreiros. os avrendizes trabalham gratuitamente Ires nnnos, principi~m a i r a b ~ l h ~ r dwc hora> antes do amanhecer

a1C ao rsarcccr, tendo, de inverno, de dr,c~nqo meia hora ao almuso, r uni3 ao

jantar; e de verão, meia hora ao almoço, que de ordinario é ás sete horas da manhaã, e descançam mais tres horas, desde as onze até ás duas da tarde. Na de tamanqueiros, os aprendizes dam tres annos de trabalho gratuito, tem de descanço meia hora para almoçar, e uma para jantar, e princepiam a trabalhar ao amanhecer. e deixam o trabalho ás oito horas da noite. No fim do temoo de aprendisado os mestres dam aos aprendizes um salario diario que é regulado segundo o merecimento e aptidão de cada um d'elles, que depois é augmentado proaressivamente conforme o seu desenvolvimento, não havendo vara este fim iaxã alguma determinada. Dá-se em algumas oficinas o abuso-dos mestres empregando os aprendises no seu serviço domestico de modo que findo o tempo do aprendisado, pouco ficam sabendo do oficio a que se dedicaram, exigindo por isso os mestres aos aprendises mais tempo de trabalho gratuito, ou dando-lhe um salario muito diminuto. Connria que se posésse termo a este abuso, estabelecendo-se uma pena para os mestres que o commettessem, bem como que fossem reduzidas as horas do trabalho em algumas oficinas, não só por o seu numero ser excessivo, mas tambem para que a todos os aprendises fosse possivel poderem frequentar as aulas nocturnas de instrucção primaria.

Deus Guarde a V. Ex.a Vizeu, 17 de novembro de 1866. Ill.mo e Ex.mo Snr. Governador Civil deste districto - O administrador de concelho - Manoel Antonio Barroso

Está conforme O Secretario Geral

(27)

DOCUMENTO 11

1866, Dezembro, 1 - Viseu. Carta do Governador Civil de Viseu para o Governador Civil do Porto, remetendo as informações dadas pelo Administrador do Concelho de Lamego sobre o aprendizado nesse concelho.

(AGCP, Documentag?~ avulsa, Correspondência, M647) Ill.mo e Ex.mo Snr

Em additamento ao meu officio no 256, do 10 do corrente, tenho a honra de remetter a V. Ex.a os esclarecimentos dados elo administrador do concelho de Lamego sobre as relações de aprendizado e horas de trabalho nas fabricas e officinas, ficando assim satisfeito o officio de V. Ex.a do lP de outubro ultimo, sob nQ 77.

Deus Guarde a V. Ex.a Vizen, 4 de desembro de 1866.

Ill.mo e Ex.mo Snr. Governador Civil do distnclo do Porto O Governador Civil

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DISTRICTO D E VIANNA DO CASTELO

Nota acerca dos contractos #aprendizado nas officinas e artes mechanicas TEMPO EDADES PORQUEM HORAS HORAS

PROFISSÕES D E W S SUSTEN- D E COMIDAS E SAIARIO OBSERVAÇÓES APRENDIZ APRENDIZEI T A W S TRABALHO DESCANÇO

AUriii 2 a I annar I 2 8 14 annor p y a u lhm. 8h I. invirno Il2h ao a l m v n i o vencem Acabado o apcadmdo vmam 40 R dianoi, augmcolanda rnnrome rupenaia Ihm. Si. vciao I h ao janai o adirntsmeotoc hrbefidrdc Sc or muira os rulaoum dum I annoi

o apn~dimdo. cootraio "cal.

Bribiiro 2 anoor idirn idem idcm idem idem Acab3d0 o rprmdmdo ,roam 4M a MY) rr mrnira, rama cmmids. Caiadar ii a 6 annor I 1 a I 2 annoi i d m l h m. "i 6 t. inv. idcm no inv. 80 r 120 n. Alsunr m a l r a d-nirm ao r p x n d i 20 rr diatioi pelo rnsino.

I m. "i 8 t. ver. 2h ra jantar v i r dir.ar

Calalal I anoor I5 annai i d m idem idrm 80 a I20 n. D-nlam-u-lha 20 r 30 n. do ralana diano p r n o mnlii, i na fim do bmpo pagam dc rpnndizado l9S2W. ou 24SWO pn a malri.

Carpinteiro 2 rnoor 11 a 12 annoi idem m.m. "i 8h.l. inv. idem n i o vroam No 6m da 2 annoicomqrn a ganhar 80 r 120 rr dirtioi a wao

mm.

i3 8,. "C,. cmbeodo ruminto "r proDa@o da h r k l i d r d r Cardairo 3 a 4 rnnor I1 a li m n o i i d m l h m ii 6 t. iou. idcm 80 r I W n.

I m. "i 8 1. vir.

C a m i m I a 4 annar I 2 8 11 annoi i d m l h m . 6s 8h.l.inv. idrm do vc'inam I m. a, 8 l. "e'.

Femdoi 3 mnor I 2 a 13 annos pela mali. l h m i% 6 1. inu. idmi idnn i m. i% 8 l. uri.

~ e n n r o 2 r I annoi 14 a l i snnoi idem ihm. 1% 8h.t. inu. 112h ao almqo idem NO lim do tempo o moire d6 ao aprendiz um raiodc hnchc.

I m. i% 8 l. vci. I h aa jantar

Fopuetiim idem I1 a 14 annoi idem idcm i d m i d m

Funiloro 3 rnnar 9 a 10 annor pelos parr idrm id"" idem No fim do ,mim rnmw a grnhar 20 a 40 n. diatios i i r i k n d o

rupento x y n d o a habilidade. L r t w i m idrm i d m idem idnn id"" idem

~ r m n i i r o 2 a I aonar 12 a 11 annoi idcm idem idnn i d m

Ounva 7 annar I1 a 14 annar pela prtdo l h m i 3 5h.l inu. i d m idem No fim do tmp rnmMo a ganhar 281800 n. poirnno. 6 m. "i 7 t. veda

Pdrcim r a 6 annor II r 12 annor pilo% paa ou l h m b 6 1. inv. 112 ao a l m v i W a 120 n.

6 sua u n t a i m. i 8 t. rcr. l ao janlai c m m

Pmtar 5 annar i d m idrm ida" I/2h ro almqo "ao rrnam

I h ao janlrr

Palmro 2 a 3 rnnor i d m idcm i d a I12h ao rlma(o idrm 2 ao janwr e iaU

RZI~..~IO . r annor 11 a 14 aomos idem idem idem idm

Sapnliro 1 annoi i d a idem i d m l12hao a l m v i d m l h ao janlar

k m i h i i m 2 a I annor idem idrm ida" idem idem Fioda o t m p o grnha 80 n. a m. Em rlgurr p r n n prsr

d'rpirndiodo28S800n.immo i n d m n i o à o pelaotragodar r r m m c i a r .

Tanmro 3 annoi idem idcm idem I p h r o a l m w i d m

Governa Civil de Viannado Carielo, 4 de Dezembro de 1866.

Referências

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