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TEMPO DE CONSTRUIR, AMAR, CURAR E DANÇAR

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Academic year: 2021

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Irene Dias de Oliveira**

TEMPO DE CONSTRUIR,

AMAR, CURAR E DANÇAR*

–––––––––––––––––

* Recebido em: 26.02.2020. Aprovado em: 07.03.2020.

** Pós-Doutora em Antropologia da Religião (PUC SP). Doutora, Mestre e Graduada em Teologia pela Pontifícia Facoltà Teológica dell’ Itàlia Meridional. Professora aposentada da PUC Goiás. Atualmente coordena projetos de cursos na Universidade Internacional da Paz. E-mail: irene@unipazgoias.org.br

Resumo: este trabalho é a narrativa em primeira pessoa das experiências e memórias que teceram a minha vida de educadora e pesquisadora na Pontifícia Univer-sidade Católica de Goiás ao longo de 20 anos. Embora tenha a consciência da necessidade de uma escrita acadêmica procurei deixar-me levar por uma escrita mais pessoal, pois se trata de deixar-se embalar pelasminhas memórias sem preocupar-me demais com kronos, o tempo implacável que tudo obriga e pressiona para um desfecho implacável. Hoje ouso acolher as surpresas do dia a dia e viver os momentos e instantes do kairós, o tempo de graça e gratidão que ganha asas nas emoções que embalam as memórias. E agora mais distante de kronos e mais próxima do kairós posso perceber quantos instantes de graça, beleza e leveza estiveram presentes durante os 20 anos de kronos na PUC Goi-ás. É nas asas de kronos e kairós que vou mergulhar em busca das memórias de um tempo que teci com meus e minhas colegas. Histórias de graça e leveza; histórias de construção coletiva de saber; histórias de um colegiado que vive graças a ousadia e persistência de seus pesquisadores/as.

Palavras-chave: Programa em Ciências da Religião. Memórias. 20 anos.

Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu:tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar,

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tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz.

(Eclesiastes, 3,1-8).

T

ecer histórias no emaranhado de minhas memórias, de minhas experiências e

emoções é o que vou fazer aqui. Vou tentar resgatar da minha memória o que aconteceu e como eu me senti ao longo dos 20 anos em que estive como pro-fessora e pesquisadora de antropologia da religião, religião e multiculturalismo; religião, etnicidade e violência no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião (PPGCR) da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Farei o relato de fatos que foram essenciais para mim. Estes não serão feitos a partir

de uma ordem linear. Apenas mergulharei no mar da minha memória e resga-tarei aquilo que vier à tona sem algum juízo de valor. Quais lembranças me movem e quais emoções se fazem presentes agora? Fazer memória, portanto será ir ao passado e embalar as lembranças com as emoções do presente. Isto faz toda a diferença, a meu ver, quando falamos de memória. É a partir deste ‘lugar’ que inicio este texto sem a pretensão de me ater à precisão dos fatos e ao kronos implacável– deixo isto aos historiadores –. Move-me neste momento apenas o Kairós. Sim o Kairós é aquele tempo de graça em que parte da minha vida como educadora e pesquisadora se desenvolveu. É aquele tempo que fluiu como deveria. Tempo em que amizades foram construídas, cativadas e soli-dificadas; tempo em que fazer parte de um projeto de educação stricto sensu era percebido e sentido com temor, respeito e entusiasmo. Tempo das grandes reflexões sobre os temas que acreditávamos ser importantes para a sociedade epara aqueles e aquelas que procuravam o PPGCR.

TEMPO DE DESCONTRUIR E TEMPO DE COMEÇAR....

Comecei timidamente minha trajetória junto ao PPGCR trazendo um pouco de mim, um pouco de Moçambique onde vivi cerca de 11 anos seguidos e um pouco de minha experiência de mãe de dois maravilhosos filhos que nasceram na África do Sul. Moçambique e África do Sul foram laboratórios de vida, de novas e ri-cas aprendizagens e de desapego intelectual. Lá aprendi muito sobre como ser mãe com a experiência das mães moçambicanas, italianas e brasileiras; e as-sim fui aprendendo sobre as várias cosmovisões, sobre as diferenças culturais e religiosas; sobre sincretismo e sobre fronteiras culturais. Muito do que havia aprendido no ocidente cristão pouco me serviu para analisar e compreender a

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cultura e a história dos povos africanos. Dessa forma tive que deixar de lado muitos dos meus conceitos, teorias para compreensão do outro e abrir-me para novas fronteiras e espaços culturais e religiosos. É a partir destas experiên-cias ricas, sofridas (não é fácil ter que abrir mão de certa bagagem cultural e admitir que o ‘outro’; aquele que é diferente de você pode ensinar tantas ou-tras coisas) que aprendi que existem ouou-tras possibilidades teóricas tão válidas quanto a minha. Em terras moçambicanas aprendi que o tempo não era apenas linear; que nem tudo vai ao encontro do futuro e ao progresso. O tempo pode ser cíclico e o passado (aquele voltado para os ancestrais) pode se constituir num imenso berço de possibilidades transformadoras e de aprendizagem para as novas gerações; a memória dos mais velhos ressignifica constantemente o presente;a ordem e a hierarquia constituídasnão estão ligadas somente a quem acumula leituras, ciência e tecnologia mas podem partir daqueles que acu-mulam mais experiências, dos mais velhos e dos mais sábios da comunidade; também aprendi que o conceito de pessoa está muito relacionado ao conceito e a percepção que se tem da comunidade, do coletivo e da etnia.

Com esta bagagem, suficientemente apreendida, retorno ao Brasil, especificamente para Goiânia, cidade que me conquistou e à qual sou grata por tudo aquilo que me proporcionou, enquanto qualidade de vida (ainda muito boa na primeira década século XXI); simplicidade e acolhimento por parte dos amigos que aqui encontrei. Logo comecei a fazer parte dos quadros da PUC Goiás como professora de teologia e do PPGCR. Nesta Universidade dediquei vinte anos da minha vida (dos 40 aos 60) todos eles dedicados, quase que inteiramente, ao PPGCR ao lado de pessoas maravilhosas; de pesquisadores e pesquisadoras que tinham como ‘marca’ uma profunda humanidade, revestida de solidarieda-de, alegria e um profundo compromisso com a identidade e a missão da PUC Goiás. Nestes anos aprendemos juntos, trocamos nossas experiências acadê-micas, colaboramos uns com os outros; sofremos e nos alegramos; vivemos momentos de grande leveza e harmonia; apesar da sucupira, do quallis, presta-ção de contas às agências financiadoras (CAPES, CNPq, FAPEG entre outras) e tantas outras métricas de nossas produções. Mesmo assim devo reconhecer, comparando com os dias atuais, que fomos privilegiados por termos políticas favoráveis à educação e grandes e competentes gestores junto ao Ministério da Educação. Fomos, quando necessário, uma âncora e um ‘porto de acolhimen-to’ de mestrandos e doutorandos em suas dificuldades pessoais e existenciais. Também nos alegramos, comemoramos e festejamos suas alegrias e sucessos. Muitas das vezes ao orientar fomos também ‘portal’ de longas e profundas ‘escutas’ de suas dores e aflições. A esta equipe e à equipe de teologia sou grata por ter podido junto com eles construir minha história como educadora e pesquisadora da PUC Goiás. Sou muito orgulhosa e grata por ter feito parte

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de um colegiado unido, competente, harmonioso e ao mesmo tempo crítico e vigilante em relação à missão e à identidade do PPGCR e da PUC Goiás. Em todos estes anos estive consciente de que o stricto sensu, no Centro-Oeste, nas

regiões pobres do Brasile para alguns grupos e classes sociais, ainda é mais uma forma de compromisso social do que um laboratório stricto sensu de pes-quisa. Isto porque quando se pensa em stricto sensu no Brasil esquece-se que nem todos os mestrandos e doutorandos tiveram as mesmas oportunidades em seus processos de aprendizagem. Esquece-se também de que a maioria das Universidades do Norte, Nordeste e Centro-Oeste são novas e com um corpo docente que, embora qualificado, é formado por poucos professores diante de tantas exigências acadêmicas e demandas administrativas e pedagógicas. Por isso que ao longo destes 20 anos trabalhei e pesquisei tendo a clareza de que a educação no Brasil ainda cumpre um compromisso social como forma de fazer chegar aos lugares mais dispersos e às pessoas mais carentes do país a democratização do saber especializado e da pesquisa. A partir desta com-preensão fiz escolhas em relação às minhas disciplinas e projetos de pesquisa tendo presente a realidade histórica, cultural e social dos mestrandos e douto-randos que procuravam o PPGCR e o impacto que isso podia ter na sociedade como um todo. Inicialmente propus no âmbito da Linha de Pesquisa ‘Cultura e Religião’cursos e pesquisas sobre identidade, memória, imaginário e sincre-tismo religioso.O sincresincre-tismo tinha sido muito discutido, nas décadas de ’70 e ‘90 do século passado,com muitos significados e sobre os quais havia muitas divergências. Desde a década de 1930 o sincretismo passou a ser relacionado com as religiões, especialmente aquelas praticadas pelas classes dominadas. Diante isso algumas concepções de sincretismo começaram a ser abandonadas pois

tra-ziam no seu bojo preconceitos e remetiam à impureza e à inferioridade cultural dos dominados. Inúmeros artigos, dissertações e pesquisas foram realizadas sobre este tema garantindo mais uma concepção de resistência e manutenção identitária e de alteridade do que uma “tendência a se utilizar nas relações apreendidas do mundo do outro para ressemantizar o seu próprio universo” (SANCHIS, 1994, p. 7). Com o paradigma da inculturação a discussão é mais delicada uma vez que se faz necessário ir de encontro ao debate teológico até então construído. Neste aspecto a inculturação consistiria numa ação que visa-va adentrar-se numa cultura estranha, apropriar-se da mesma com a finalidade de transmitir uma mensagem religiosa. Esta apropriação acompanha a suspeita de um intervencionismo cultural que visa a conversão do outro, não com meios violentos, mas com o objetivo de ‘evangelizar’. Mas a inculturação também pode ser compreendida como um processo de ‘apropriação’ espontânea e vo-luntária, por parte de um determinado grupo, de uma religião ou de elementos desta e que serão expressos e comunicados a partir de uma determinada

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cultu-ra. Neste sentido podemos afirmar que a mensagem de evangélica no caso do cristianismo, uma vez que é generalizada assume novos significados e novas reinterpretações a partir do contexto histórico em que ela é proposta. Então a pergunta que fazíamos era: até que ponto podemos falar com segurança que esta apropriação e reinterpretação (da mensagem) está em sintonia com um núcleo primordial e transcendente?Ou: até que ponto este núcleo é percebido da mesma maneira e com o mesmo significado entre grupos diferentes? Para alguns teóricos isto é possível pois existe uma razão universal inata que se ma-nifesta e por isso é possível encontrar semelhanças, correspondências e arqué-tipos e promover desta forma uma certa homogeneização e assimilação cultural. Para Ângela Ales Bello (1985) a religião participa intimamente das culturas, no bojo das quais elas existem. Se do ponto de vista fenomenológico podemos afirmar que a religião é um fenômeno universal e que existe uma unidade on-tológica da espécie humana, porém em termos de cosmovisão, de conteúdo e de ética elas podem ser radicalmente diferentes e cada grupo irá preservar sua autocompreensão e o caráter histórico de toda a existência.

Na minha compreensão os mundos históricos e os objetos neles existentes são perce-bidos e construídos diferentemente na consciência coletiva. Isto implica na dificuldade de apreensão de uma mensagem a partir de uma perspectiva colo-cada por outrem eno fato que nenhuma mensagem transcendente pode ser dis-sociada daquela que a medeia historicamente. Neste sentido, parece-me,que só se pode falar de reinterpretação e ressignificação. Para Right (2003, p. 462), “toda opinião ou proposição assume novos significados, na medida em que é mediada dentro de uma situação e horizontes novos”. Daí porque concordo com Right quando afirma que toda comunicação implica em analogia em que a com-preensão do emissor e a do receptor e apropriador são parcialmente idênticas e parcialmente diferentes. Toda compreensão é interpretação, e a apropriação sempre implica alguma adaptação do conhecido ao sujeito cognoscente (RI-GHT, 2003, p. 462) e esta adaptação se dá a partir da própria realidade e do próprio contexto e aquilo que pode ser contradição, falso e/ou verdadeiro para um povo não o é para outro. Além do mais quando estamos falando de expe-riência religiosa, estamos nos referindo à expeexpe-riência do sagrado do mistério e do Totalmente Outro e isto envolve conceitos, linguagens limitadas e inade-quadas para a expressão deste mistério. E neste sentido fica difícil compreen-dermos até que ponto o que é expresso e comunicado corresponde à totalidade da experiência (RIGHT, 2003, p. 464).

Em outras palavras tenho percebido em meus estudos que temos acesso ao mundo alheio, à religião do outro sempre a partir do nosso mundo. Então se pergunta: é possível um espaço - entre fronteiras - que me permita enxergar o outro com os olhos do outro e desta forma aceder à religião do outro a partir da

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perspecti-va do outro? É possível no que diz respeito à religião se chegar a uma verdade universalmente válida (como pretende o cristianismo) de modo a conduzir à unidade aquilo que é múltiplo; à união de um mundo humano com muitos mundos familiares, em que se constitui o mundo verdadeiro? Quais são as consequências e o impacto social de tais teorias? Muitos já sabemos a respos-ta: intolerância, fanatismo religioso, ódio, preconceitos, grupos religiosos que se sentem privilegiados e melhores em relação aos demais. Exemplos não nos faltam nos dias atuais.

....TEMPO DE PLANTAR E TEMPO DE COLHER

As questões colocadas acima me levaram quase que automaticamente a reflexões e pesquisas mais complexas, a outros debates e a novas perguntas. Não havia como continuar o debate sobre sincretismo e identidade, sem refletir sobre o simbólico, o imaginário, sobre as memórias construídas e outros conceitos. O simbólico envolve tudo que transmite sentido (sejam eles conscientes ou inconscientes) e que constitui as representações entre os membros ou as ge-rações de uma sociedade: ritos, tradições, memórias, mitos, terra, língua etc. Símbolo é um veículo para uma concepção, sendo a concepção o sentido do símbolo (AZEVEDO, 1981, p. 22). Este mesmo autor acrescenta ao conceito de cultura, além de seus aspectos práticos e simbólicos, um conjunto de senti-dos, valores e padrões subjacentes à prática social e ao nível simbólico. Este conjunto subjacente de sentidos e valores nos dá uma a pista para distin-guir o uso por diferentes culturas de idênticos símbolos e práticas sociais. Em outras palavras, o mesmo rito, língua, símbolo ou instrumento pode ser usado por duas sociedades marcadamente distintas. A chave que nos vai permitir cap-tar a definir a existência de culturas diferentes será precisamente este conjunto subjacente de sentidos e de valores. A prática social e o nível simbólico são da ordem da percepção empírica dos fenômenos. Podem ser observados, captados e descritos. Os sentidos e valores, no entanto, estão por trás ou por baixo dos fenômenos observáveis. O acesso a eles é de uma ordem cognoscitiva distinta. É através de um processo específico de comunicação que explicita tais sentidos e valores que chegamos a conhecê-los e a captar por meio deles a identidade de uma cultura em concreto” (AZEVEDO,1981, p. 22).

Portanto não se pode, a meu ver, refletir e pesquisar sobre identidade sem falar de me-mória, sistemas simbólicos e imaginário. Temas fascinantes e obrigatórios para quem estuda o fenômeno religioso. Daí fui me apropriando de um olhar mais crítico e de um novo modo de pensar, analisar e orientar novas

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possibi-lidades metodológicas e conceituais para as minhas disciplinas de modo que estas pudessem se debruçar sobre o estudodas religiões e seus desdobramen-tos junto as variadas instâncias culturais e religiosas da vida humana. Minhas reflexões foram aprofundandoe buscando respostas aos problemas nos quais vivem as comunidades marginalizadas e grupos invisibilizados e vulneráveis da sociedade. Daí surgem minhas preocupações com as comunidades afrodes-cendentes, com os grupos que sofrem ataques e são vítimas de preconceitos e intolerância religiosa e não. As minhas pesquisas assumiram assim ‘cor’, ‘lugar’ e ‘lado’. Meu ser educadora não poderia estar dissociada das dinâmicas culturais e religiosas nas quais se fundamentam os discursos preconceituosos e que legitimam as atitudes intolerantes, racistas, fundamentalistas e de não reconhecimento do outro. Neste sentido as minhas pesquisas e produção bi-bliográfica se debruçaram sobre temas como religião, violência, etnicidade e multiculturalismo. Este debate está interligado, embora avance muito mais e seja muito mais amplo e complexo, que os temas do sincretismo e inculturação. Quando me propus discutir e pesquisar sobre multiculturalismo, etnicidade e religião posso dizer que fui uma das poucas a trazer este tema para um debate mais am-plo nos Programas em Ciências da Religião do país. Havia poucas iniciativas dispersas até então. Estes temas (multiculturalismo e etnicidade) eram e são muito discutidos e pesquisados nas áreas de literatura e linguística, mas ainda não constituíam uma preocupação no PPGCR da PUC Goiás

Com o fenômeno migratório, a globalização e os conflitos culturais e religiosos fazia-se necessário trazer para o centro das reflexões sobre o fenômeno religioso o debate sobre interculturalidade, identidade, etnicidade, multiculturalismo e religião de modo a poder compreender a realidade que se impunha com muita força trazen-do inúmeros problemas. Leituras das obras de Charles Taylor, Frederick Barth, Semprini, Poutignat, Sansone, Gilbert Durand, D’ Adesky, Stuart Hall entre outros, fizeram parte de meu cotidiano. Começo a introduzir,na linha de pesqui-sa Religião e CulturadoPPGCR da PUC Goiás, eixos temáticos que pudessem abarcar uma compreensão mais profunda da religião e sua relação com a cultura, com os grupos sociais marginalizados e vítimas de violência simbólica ou não; estudos de diferentes abordagens do ‘outro’ segundo as hermenêuticas antropo-lógicas e as dinâmicas simbólico-religiosas. O objetivo era analisar, a partir da antropologia cultural, as experiências religiosas e sua relação com a violência, o fanatismo, a intolerância, a negação do outro enquanto pessoa e assim obter uma apropriação adequada do significado cultural dos fenômenos religiosos nos dife-rentes ordenamentos culturais da sociedade. Estes eixos de pesquisa tinham con-tinuidade com os eixos anteriores (sincretismo, identidade, cultura e religião). Se observarmos nossas sociedades, sejam elas desenvolvidas ou não, iremos

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in-tolerâncias que encontram sua origem em problemas políticos e econômicos. Mas estes são perpassados também pelas questõesétnicas, étnicas e religiosas. A intolerância religiosa vem crescendo em várias partes do mundo inclusive no Brasil cujas causas podem ser encontradas na proximidade das ‘frontei-ras’, nas relações multiculturais, no ‘não- reconhecimento’ efetivo do outro, somando-se à desigualdade social, à discriminação racial e de gênero, além do preconceito de classe e da homofobia. Portanto entendemos seremnecessários e urgentes o desenvolvimento de estudos e debates acadêmicos que pudes-sem fornecer suportes teóricos consistentes para a formulação de políticas e leis que viabilizassem uma convivência mais harmônica e equilibrada. E por isso estudos, pesquisas e publicaçõescomeçaram a ser realizados a partir dos paradigmas do multiculturalismo e etnicidade. Foi elaborado um projeto que visava estudar, a partir dos paradigmas de ‘multiculturalidade’ e ‘etnicidade’ como o cristianismo, religião com pretensões universais, encaixava-se na nova realidade cultural marcada pela consciência histórica, pelo reconhecimento e valorização de outras culturas e etnias e verificar a relevância do sincretismo religioso nas relações interculturais. Percebi que as nações modernas estavam cada vez mais pluriétnicas e alicerçadas cada vez menos na origem comum, na religião, na língua e na raça. A fluidez das fronteiras dava origem a novas articulações, novas formas de poder político e organização social. Tal situação marcada pela globalização entendida aqui como a pluralidade de resultados de interação da cultura local com a cultura de mercado (CAMPOS MACHADO, 2007) dava lugar ao multiculturalismo. Países antes delimitados por uma iden-tidade marcadamente étnica, cultural e/ou religiosa agora se deparam diante do outro, do exótico e diferente com pluralidade de ofertas culturais, políticas e religiosas. Prevaleciam as categorias da multiplicidade, da flexibilidade e da porosidade das fronteiras e identidades étnicas. Nossa sociedade estava, portanto, marcada pela diversidade cultural e pluralidade de grupos sociais étnicos e culturais. Sendo assim, no âmbito das nações modernas, a etnicidade é atenuada em favor da nacionalidade. Segundo D’Adesky (2001, p. 61): É essa passagem da etnia para a nação que assegura ao conceito de cidadania a guarda de direitos civis e políticos que só podem ser apanágio daqueles que uma identidade nacional designa, por toda parte, como membros da comunidade nacional dotados de plenos direitos. Portanto, a cidadania não está diretamente ligada à etnicidade. Não se é cidadão de uma etnia, mas de uma nação.

Fazia-se necessário estipular formas de intervenção numa sociedade multicultural onde as diferenças fossem reconhecidas e onde as diferenças étnicas, regionais e religiosas fossem reconhecidas e visíveis. O respeito à tolerância se impunha,

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a meu ver, sempre mais sobre as interações culturais que não estão mais em sintonia com as definições estáticas que as definiram no passado. O multicul-turalismo, portanto, tenta questionar a hegemonia de um grupo sobre os ou-tros, de uma religião sobre as outras e tenta dar espaço às minorias culturais, étnicas, religiosas e aos grupos marginalizados e excluídos em nossas socie-dades. Conceitos como sincretismo, identidade não eram suficientes para uma compreensão da realidade e da cultura do nosso tempo.

Passamos a refletir sobre como as inimizades grupais podiam subsistir em grupos hu-manos que apesar de estarem e conviverem tão próximos são alvos de seus próprios vizinhos com mentalidade semelhante, e que acreditam ser superiores ou pertencerem a um grupo ou a uma religião melhor. Ondas de migrantes po-bres, desesperados, despossuídos vindos da África, do Haiti, da Venezuela, da China, do Iraque e de outros países da América Latina chegam ao Brasil com suas culturas, suas crenças e suas tradições étnicas e religiosas e precisam ser incluídos em nossa sociedade plural e multicultural sem que isso gere difama-ção, repulsa e hostilidades. Estas questões chamavam e chamam a atenção da academia no sentido de se aprofundar e entender como o desprezo étnico ou cultural e a intolerância religiosa são fenômenos complexos e problemáticos e demandam pesquisas que enfrentem o debate complexo das categorias refe-rentes ao multiculturalismo, à etnicidade e ao fenômeno religioso. E a pergun-ta que não queria calar era? Como pode a religião legitimar este discurso de ódio, violência e não reconhecimento do outro, a partir da crença num “Deus Pai, amoroso e misericordioso”?

Vimos que do ponto de vista da religião, mas especialmente do cristianismo, sabe-se que o seu projeto de universalização, a partir de Constantino, em 313 d.C deu lugar a uma igreja transnacional, una e hierarquicamente centralizada (catoli-cismo). O cristianismo tem sido a religião que afirma a unicidade da verdade, da justiça e do valor universal.Tornamo-nos, no ocidente, unidirecionais, con-vergentes e monoteístas. Deste modo os valores ocidentais referem-se sempre a uma unidade de princípios e consequentemente a uma homogenização cultu-ral, política e valorativa. Diante deste quadro, muitos pesquisadores, dentro e fora do Brasil, nas últimas décadas, vinham realizando estudos acerca das re-lações interétnicas e multiculturais e levantando muitas discussões polêmicas e críticas sobre a ideologia da homogeneização cultural e religiosa e propondo novos paradigmas tais quais a fluidez das fronteiras étnicas, a questão da raça, do mito da democracia racial e da interdependência étnica entre outras (SAN-SONE, 2004; POUTIGNAT,STREIFF-FENART, 1997).

Todas estas questões encontram-se diretamente relacionadas a dois conceitos muito discutidos no âmbito das Ciências da Religião, da Teologia e da Antropologia como sincretismo e inculturação de um lado e do outro o pluralismo religioso

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que põe em discussão a visão sotereológica cristã cujas premissas se baseiam no fato que somente Jesus Cristo pode salvar. Sabíamos que, apesar de não pretender fazer uma abordagem de cunho teológico, certamente o resultado da pesquisa teórica sobre as categorias levantadas teria repercussão sobre a teolo-gia do pluralismo religioso e sobre como a teoloteolo-gia cristã vinha interpretando e julgando as religiões, as culturas e a realidade a partir de sua perspectiva universalizante. Perspectivas estas amenizadas, no âmbito da Igreja Católica pelo atual Papa Francisco Bergoglio. Percebi que ao se colocar em contato culturas e etnias diferentes e ao se favorecer processos de miscigenação e de sincretismo cultural isto desestabilizava e afetava a identidade hegemônica do cristianismo ao mesmo tempo em que o movimento entre ‘fronteiras’ culturais e religiosas colocava em evidência a instabilidade da identidade cristã tornan-do ainda mais visível sua precariedade tornan-doutrinária e hegemônica. Isto se dá porque todas as religiões são históricas, marcadas pelas suas respectivas cul-turas e pelas relações interculturais (FERRETTI 2002; BOFF, 1985; TERRIN, 2004) mas ao mesmo tempo são marcadas profundamente por suas doutrinas hegemônicas e ‘fundantes’ com uma tradição (especialmente a cristã, no oci-dente) enraizada na história e nos Estados/Nações. Daí a pergunta: seriam elas capazes de se tornarem inclusivas e consensuais em contraposição ao pensa-mento exclusivo e conflitual atribuído ao monoculturalismo e à modernidade? (SEMPRINI, 1999). Reconheceriam as religiões suas próprias dependências e seus próprios débitos para com os outros para que pudessem se tornar mais indulgentes com o mundo ad extra? (TERRIN, 2004).

Estas perguntas exigiam um tempo maior de reflexão, debate e análise. Foi assim que com uma bolsa da FAPEG/CAPES decidi fazer o pós-doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Neste período tive a possibilidade de debater estes temas com outros pesquisadores, apresentar em seminários e co-lóquios, organizar congressos e discutir com os orientandos e alunos do PPG-CR da PUC Goiás em disciplinas, pesquisas e colóquios por mim ministrados e mostraram a necessidade de se construir conhecimentos que dessem conta de analisar as questões postas por uma sociedade multicultural, multiétnica e sua relação com o fenômeno religioso de modo a encontrar possíveis respos-tas que pudessem tornar viáveis, equilibradas e possíveis as relações humanas em nosso país tão marcado pela diversidade de culturas, etnias e religiões. Questões estas ainda merecem muita atenção, principalmente nesse momento, em que a sociedade brasileira tenta se organizar na luta contra o preconceito, a intolerância política e religiosa, o desprezo pelos direitos humanos e valores democráticos.

No pós-doutorado a pesquisa versaram sobre estudos e análises teóricas comparativas sobre as categorias do multiculturalismo e da etnicidade e sua relação com a

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religião. No que diz respeito ao multiculturalismo percebi que esta categoria começou a ser discutida, no Brasil,nos anos ’90 do século passado e sofreu forte influência do pensamento desenvolvido nos Estados Unidos onde a etni-cidade e a diversidade cultural são nitidamente definidas e utilizadas nos recur-sos públicos e reconhecidas na legislação. Já na história latino-americana ela é marcada pela interpretação monolítica sem considerar, na maioria das vezes, uma longa história de sincretismo cultural e religioso que penetra a realidade e o imaginário das nossas populações e sem ter em conta que a organização polí-tica se deu sem uma ‘forte’ consciência dos paradigmas de ‘etnicidade’ e ‘raça’ apesar da longa trajetória de discriminação racial (SANSONE, 2004). Embora não faltassem no Brasil, pesquisas e pesquisadores interessados em discutir estas temáticas no campo da antropologia, da sociologia e da geopolítica. Em África desde os anos ‘90 estas temáticas emergiam no cotidiano das reflexões e debates acadêmicos e políticos; nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Eu-ropa, estes temas eram discutidos há mais tempo em função da forte presença migratória, dos contatos interétnicos e multiculturais; mas só a partir dos anos 80 é que foram levados para o debate acadêmico. Não obstante sabe-se que o multiculturalismo é tratado, nos diferentes países, de diferentes maneiras e concepções. Uma coisa é falar de multiculturalismo nos Estados Unidos e na Inglaterra; outra coisa é falar de multiculturalismo na França e na Itália e outra coisa ainda é falar de multiculturalismo na América Latina e especialmente no Brasil onde as mais diferentes etnias estão permeadas pelo pensamento cató-lico/cristão em si relativamente ‘ecumênico’, mas onde os conflitos étnicos e raciais emergem fortemente (SANSONE, 2007).

No que diz respeito à etnicidade, esse termo, nos anos 70 e 80 quase não era ouvido no mundo acadêmico, tanto na Europa quanto no Brasil. Mesmo se na Europa e nos Estados Unidos, em função dos migrantes, este termo já era bem popular. Hoje a questão da etnicidade tem se tornado, no mundo inteiro um termo bas-tante conhecido popularmente e academicamente.

A etnicidade tornou-se uma parte essencial da propaganda de produtos de be-leza. O xampu para cabelo encarapinhado é hoje simplesmente chamado de xampu étnico. Ou seja, étnico passou a substituir termos como exótico, estra-nho, não-branco ou, em linguagem simples, raro e diferente (SANSONE, 2004, p. 10).

No debate acadêmico muitos pesquisadores têm se debruçado sobre a questão étnica aliada à questão do racismo. Entre os pesquisadores mais relevantes destaca-mos, no Brasil, Sansone (2004) com seu texto sobre Negritude sem Etnicidade que em suas reflexões sobre etnicidade e racismo procura articular uma

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vi-são global com o local além de aportar uma contribuição considerável sobre identidade e relações sociais. Outros autores que se debruçam sobre o tema são: D’ Adesky (2001) com seu texto Racismos e Anti-racismos no Brasil, em que aborda o protagonismo dos negros no Brasil no combate ao racismo e pela afirmação da diferença e, ao mesmo tempo, destaca a concepção do multiculturalismo como ferramenta política para planejar, avaliar e monitorar a concretização da igualdade de oportunidades num país excludente como o Brasil. Também Carneiro (1999; 2005) em suas pesquisas tem se dedicado à questão da intolerância étnica (mais voltado para o antissemitismo) em algu-mas suas publicações como O Racismo na história do Brasil: mito e realidade (1999); Preconceito Racial em Portugal e Brasil Colônia: os cristãos novos e o mito da pureza de sangue (2005) onde a autora através de uma perspectiva histórica profundamente e densamente fundamentada discute como o racismo ‘tradicional’ e ‘moderno’ tem servido de suporte aos interesses econômicos e políticos das grandes potências colonizadoras ao longo dos séculos endos-sando a ideia de uma sociedade dividida em raças ‘puras’ e ‘impuras’ e como a concepção do monogenismo bíblico tem servido como fundamento para correntes teológicas tradicionais em favor da ‘ transmissão da verdadeira fé católica’ (CARNEIRO, 2005, p. 13-4).

No que diz respeito à religião nossa preocupação foi averiguar como esta, especial-mente o cristianismo, numa realidade multicultural e pluriétnica, influencia e atua para o reconhecimento e o respeito das diferenças. Nesta linha de refle-xão não são muitos os pesquisadores que se debruçaram sobre o tema. Entre eles queremos destacar alguns/mas teólogos/as e Cientistas da Religião como Mário de França Miranda (2001); Irene Dias de Oliveira (2002); Faustino Tei-xeira (2001) e alguns antropólogos/as como Cristina Pompa (2002); Melvina de Araújo (2006), Pierre Sanchis(1994; 1999); Sérgio Ferretti (2002). Todos estes, ou em sua quase maioria, (especialmente os teólogos) vêm refletindo so-bre a relação da religião com a cultura, poucos pesquisadores, de modo geral, têm se interessado pela relação entre religião, etnicidade e multiculturalismo. No âmbito dos estudos antropológicos e sociológicos sente-se falta, no Brasil, de estudos mais consistentes sobre a religião na perspectiva da cultura e em sua relação com uma sociedade multiétnica e multicultural cujo paradigma de fundo é o reconhecimento da diferença. Grupos mantidos à margem do espaço público como os negros e indígenas são agora personagens do cenário político e reivindicam o reconhecimento de suas tradições, suas culturas e suas crenças. Portanto nos últimos anos a minha contribuição para a pesquisa no PPGCR versou sobre estas diferenças enriquecem ou empobrecem os sistemas social e religioso e como a religião, a partir de uma certa lógica homogeneizante pode contribuir para a não visibilidade e exclusão das riquezas presentes em outros

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espaços culturais e religiosos. Tais atitudes podem nos levar ao ‘desperdício’ (SOUSA SANTOS, 2008) das experiências de outros povos, de outras culturas e de outros saberes que podem contribuir para uma compreensão diferenciada da realidade e abrir-se para a inesgotável diversidade epistemológica do mun-do rompenmun-do com as resistências e as intolerâncias que ainda persistem. CONCLUSÃO: TEMPO DE CURAR, DANÇAR E CONTEMPLAR

Estas pesquisas, diante do avanço de uma cultura que privilegia o fanatismo, a into-lerância, o desrespeito para com o diferente são, mais do que nunca, neces-sárias. E em se tratando de pesquisas sabe-se que estas são sempre marcadas pela ‘incompletude’. A cada desfecho ela, a incompletude, aponta para outras possibilidades, outros caminhos e novas abordagens. Desta forma, ao tecer os vários fios possíveis, estes, aos poucos, vão dando consistência e aderência a tantas outras formas e a tantos outros jeitos de ser e estar no mundo (multicul-turalismo): possibilidades sempre novas; sempre em construção e que podem estender-se ao infinito e assim contar com outros olhares, outras luzes, outras formas, outros atores, novos tempos, novos contextos históricos e sempre no-vas e diferentes tessituras.

Quanto a mim percebi que havia chegado o momento de desapegar-me do espaço aca-dêmico; o tempo (kronos) começou a cavalgar com passos rápidos demais, as demandas eram tantas, a tecnologia estava aí para ajudar, mas sentia que não conseguia acompanhar. E o tempo (kronos) era implacável! Estava na hora de fazer espaço para jovens e criativos pesquisadores. Estes jovens nasceram com a tecnologia quase que incorporada. Sinto inveja. O corpo também come-çava a reclamar. A memória comecome-çava a falhar. Foram longos finais de semana lendo teses e dissertações, longas jornadas de pesquisa, escrevendo artigos, preparando aulas, congressos e palestras.A memória não conseguia absorver mais nada. Chegou um tempo em que, na sua sabedoria, ela simplesmente não deixava ‘entrar e nem sair’ alguma informação. Mas é assim a jornada de todo aquele e aquela que se dedica à educação. Educar foi a minha escolha e a minha missão. Educar é saber aprender, saber ensinar e reconhecer quandoo corpo pede para que o espaço educativo seja outro. Nunca deixamos de ser educadores apenas mudam os espaços nos quais continuamos a aprender e a ensinar. Hoje eis-me aqui aprendendo com a natureza, com os pássaros, com amigos e amigas que têm a minha idade ou mais, com os filhos ora adultos – como eles me ensinam e como é belo vê-los amadurecer! -,com seus amigos e com as crianças. É hora de observá-los mais, de conversar mais, de ouvi-los mais. Assim aprendo com eles a tecer novos caminhos, novas possibilidades de pesquisas e desta forma me permitir integrar kronos e kairóse participar

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mais da ‘roda da vida’ sabendo que tudo é efêmero e finito no tempo (kro-nos) que não pode ser cronometrado. Mas ao mesmo tempo deixo-me levar pelo tempo pleno e infinito (kairós) no instante profundo de contemplação da natureza e na leveza da meditação. Dessa forma aprendo simplesmente ser e buscar o essencial. Aos poucos esvazio a minha mala existencial para unir-me, com leveza e gratidão infinita, à dança do universo e aos novos e misteriosos espaços da graça e amorosidade divinas.

TIME TO CONSTRUCT, LOVE, HEAL AND DANCE

Abstract: this paper is a first-person narrative of the experiences and memories that have underpinned my life as an educator and researcher at the Pontificial Catholic University of Goiás (PUC Goiás) over the course of 20 years. While aware of the need to write academically, I have chosen instead to engage in a more personal account as I am stimulated by my memories, without an ex-cessive preoccupation with the other Kronos, the implacable passage of time that obliges and pressures for an implacable ending. Nowadays I dare to ac-commodate the everyday surprises and moments of Kairos, that is, the time of grace and gratitude that inspires the emotions shaping the memories. And now, further apart from Kronos and closer to Kairos, I am able to realize the multiple instances of grace, beauty, and well-being present in my 20 years of Kronos at PUC Goiás. It is on the wings of Kronos and Kairos that I will delve in search of the memories of a time that I have constructed with my col-leagues. Stories of grace and well-being; stories of collective construction of knowledge; stories of an institution that thrives due to the determination and persistence of its researchers.

Keywords: Religious Sciences Program. Memories; 20 years.

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