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Uma Abordagem da Literatura sobre Partidos Políticos em Seis Modelos. Do Partido de Quadros ao Modelo de Partido-empresa de Negócios

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do partido de quadros ao modelo de

partido-empresa de negócios

Resumo

Neste artigo, o qual faz parte de nossa pesquisa que busca entender as razões de emergência de um modelo como o de partido-empresa de negócios, revisamos a literatura sobre partidos políticos através de seis modelos elaborados desde seus primeiros estudos sistematizados, colocando-os sob o crivo da atual da crise de representatividade e possível era de declínio dos partidos políticos (Mair, 2003). Analisando criticamente seu itinerário, defendemos a hipótese de que parte desta crise enfrentada tem relação direta com um movimento de despolitização das agremiações na medida em que estas absorvem mais características de organizações empresariais voltadas para um mercado, neste caso um “mercado eleitoral”, fato que acaba por explicar as razões de emergência de um modelo como o de partido-empresa de negócios.

Palavras-chave

Teoria Política; Partidos Políticos; Comportamento Político; Modelos de Partidos.

Flávio Rodrigues Barbosa

Mestre em Ciência política pela UFF (f.rodriguesbarbosa@gmail.com)

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Introdução

A análise dos partidos políticos constitui um dos campos de estudos mais importantes da ciência política. É unânime a visão de que as organizações partidárias desempenham um papel central tanto na teoria quanto na prática política das modernas democracias liberais. Ao longo do desenvolvimento das diferentes teorias que buscaram tratar do seu entendimento, os partidos políticos por várias vezes foram apontados como uma característica praticamente indispensável da moderna governança democrática pelo fato de ser através deles que se construíram importantes elos entre o povo soberano e os políticos eleitos para exercerem funções representativas.

Com pouco mais de um século de estudos e análises, desde as primeiras contribuições de Ostrogorski (1903) e Michels (1982), observou-se também que os partidos políticos figuraram como uma das mais importantes estruturas de construção social sobre questões que resultam da “tensão inerente em todas as modernas democracias entre o demos que

autoriza de um lado, e os políticos autorizados do outro, exercendo funções de coordenação entre os agentes públicos, entre os cidadãos que compartilham referências políticas entre si, e também entre os cidadãos e seus representantes eleitos (Luther e Rommel, 2002). Como participantes centrais nas eleições, os partidos são instituições políticas responsáveis tanto pelos candidatos, assim como pelas questões entre as quais os eleitores vão escolher. Além do mais, exercem importante função no recrutamento de pessoal político para cargos eletivos ou nomeações e se configuram também como o meio que representa

os variados agrupamentos sociais com suas posições

ideológicas e diferentes visões de mundo. Os partidos políticos também exercem papel primordial para fins de legitimidade do regime que é o de reconhecimento ou contestação do resultado das eleições, assim como o de estruturar coalizões necessárias para aprovar a legislação e apoiar governos.

É esperado, então, por parte dos partidos políticos nos regimes democráticos, que estes forneçam os canais de comunicação fundamentais da democracia através de uma forte relação entre os cidadãos e o Estado. Do contrário, tem-se uma democracia meramente ilustrativa onde prevalece o exercício autoritário do poder que se oculta em uma mera retórica sobre a democracia representativa. Como observado por Lawson (2010) sobre o contexto de crise de representatividade no centro-leste europeu:

alguns desses partidos, formados para travar a batalha pela democracia, aceitaram uma derrota, pelo menos por agora, e vivem apenas em papéis de fantoches que lhes permitam partilhar os pré-requisitos, mas não a substância, do poder. Outros formaram apenas recentemente organizações fortes o suficiente para seguir o caminho para fora da ditadura e ainda estão trabalhando fora do novo relacionamento. Eles vieram ao poder acenando bandeiras democráticas, mas não são necessariamente vinculados à esta ou, uma vez no poder, não são capazes de obedecer a seus preceitos (Lawson, 2010, p. XII).

Por partidos políticos entendemos uma espécie

de agrupamento de homens que compartilham sentimentos e destinos políticos comuns e que encontram sua melhor forma de expressão conquistando e/ou compartilhando o poder dentro do Estado, adotando para a execução de seus objetivos um conjunto elaborado de estratégias políticas específicas. Seja qual for o modelo de estratégia orientada, para conquistar o Estado ou influir no

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poder dentro dele, os partido políticos objetivam-se nas objetivam-seguintes condições: 1) devem possuir uma organização burocrática (membros filiados e/ou corpo de profissionais especializados), uma vez que são organizações que buscam o poder político, necessitam contar tanto com o trabalho intelectual para elaboração de políticas, estratégias e a própria manutenção do partido, assim como o trabalho militante; 2) uma ideologia ou discurso específico, para que possa legitimar suas bases de representação; 3) recursos monetários, pois sem fundos fica inviável qualquer atividade política que visa a conquista ou a influência do poder dentro do Estado.

1 – Origens dos Partidos Políticos

Na maioria dos países da Europa Ocidental os partidos políticos surgiram pela primeira vez durante a segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Conforme Duverger (1967) observou, os modernos partidos políticos tiveram suas origens tanto internamente quanto externamente nas assembleias representativas. Os partidos criados internamente receberam do autor a denominação

intraparlamentar, sendo também reconhecidos e

trabalhados na literatura como partidos de quadros (Cadre Parties). Estão atrelados às vitórias políticas

do imaginário das elites liberais e que responderam primeiramente a questões como a extensão do sufrágio, liberalização e transferência do controle do Executivo, até então monopolizado pelos monarcas, colocando-os sob responsabilidade do Parlamento. Passava-se a aceitar, num momento histórico de reformulação da linguagem política, “uma nova ideia de discordância,

onde esta deixava de ser entendida como sinônimo de traição e conspiração” (Lawson, 2010, p. XII). Os

partidos criados externamente, receberam de Duverger a denominação extra-parlamentar, e são reconhecidos

e trabalhados na literatura como partidos de massa (Mass Parties). Tiveram suas origens nos esforços de

mobilização social daqueles que estiveram excluídos das assembleias representativas, seguindo o imaginário político das lideranças socialistas em sua reação para ganho de representação e voz dentro do parlamento.

A conceitualização dos partidos políticos é bem variada devido ao processo dialético que envolve crescentes demandas por igualdade e inclusão. Tal processo, levado pelo aumento da complexificação das sociedades, é somado a sua relação com as organizações partidárias e se mostra como o grande responsável pela impossibilidade de uma forma final de um modelo de partido político. Assim, aqueles que se ocupam do estudo sobre as organizações partidárias acabam se deparando com mudanças que ocorrem em diferentes períodos de tempo e construindo novos modelos de análise devido a tarefa de reestruturação empreendida pelos partidos em virtude de continuar sendo capazes de responder as mudanças e demandas sociais.

A obra pioneira de Duverger abriu as portas para que outros autores inserissem seus estudos no vocabulário sobre partidos políticos. Epstein (1967) realizou uma significativa revisão da obra de Maurice Duverger identificando como o modelo de partido de massas acabaria por se tornar o modelo padrão tanto para as clivagens de esquerda quanto de direita (contágio pela esquerda). Enquanto Kirchheimer (1966),

ao buscar uma resposta para o declínio dos partidos de massa, observou sua substituição por uma nova organização exclusivamente mais preocupada com o sucesso eleitoral, organizada ao longo de linhas menores e mais dependente de profissionais.

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Também foi notada a maneira como tais organizações passaram a fazer uso de novas formas e técnicas de comunicação e como a figura da liderança passou a receber mais ênfase, deixando a organização do partido mais envolvida no recrutamento de líderes e na divulgação da figura da liderança parlamentar (contágio pela direita). O velho modelo organizacional

de quadros/elites reemergia como uma nova variante, recebendo do autor a denominação Catch-all. Como

variantes do modelo de Kirchheimer, também vieram enriquecer o debate os modelos propostos por Angelo Panebianco (2005) e sua abordagem do modelo de partido profissional-eleitoral; Katz e Mair (1995), com o modelo de partido cartel, e; recentemente, Hopkin e Paolucci (1999), com o modelo do partido-empresa de negócios ( Business-firm Parties). Vejamos cada um deles.

2 – Os Modelos de Partido de Quadros

versus Partido de Massa

Conforme mencionado, a distinção entre partidos de elite e partidos de massa é originária de Maurice Duverger (1967). As primeiras características dos partidos de quadros, também conhecidos como partidos de elite, foram ressaltadas pela sua baixa estruturação, na centralização política entre suas elites e uma fraca organização fora da legislatura. Outra distinção se fez através da análise da relação entre os membros do partido de elite com os eleitores, comparando com a extensão das atividades da organização extraparlamentar. Os partidos de elite apresentaram uma frouxa organização informal, composta de indivíduos locais proeminentes com base em convenções partidárias fechadas. Levantava

fundos e mobilizava recursos de maneira a garantir a representação das classes média e alta.

Aqueles que se viram fora do sistema político tiveram que se organizar de maneira mais intensiva, a fim de levantar fundos e mobilizar recursos para suas realizações. Os partidos de massa se apresentavam como organizações que aspiravam ao poder, dotados de estruturas altamente desenvolvidas e capacidade de alistar uma significativa porcentagem de seus eleitores como membros do próprio partido político. Em contraste com o localismo e convenções fechadas dos partidos de quadros, “o partido de massa, com base em seções abertas e sucursais, se apresentava como uma forma de organização política mais moderna e superior em comparação com seus rivais políticos” (Wolinetz, 2002, p. 141), o que levou muitos observadores entenderem que “as vantagens competitivas oferecidas pelos partidos de massa resultaria em uma forma de organização a ser imitada pelos outros empreendedores político-partidários” (Luther e Rommel, 2002, p. 2).

Os próximos modelos de partidos políticos mostram a ausência de diferenças significativas entre organizações partidárias como aquelas que abrigam diferentes clivagens ideológicas. Não se encontra um modelo exclusivo de partidos de direita e outro para os partidos de esquerda. Ao nosso olhar, a “conquista do voto” e a confecção de um “mercado eleitoral” fez

inaugurar uma era de “parecenças” entre os partidos

políticos, fator este que se constitui em mais um dos importantes fomentadores da atual crise dos partidos políticos tradicionais nas democracias liberais.

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3 – O Modelo de Partido Catch-all

O modelo catch-all emergiu na literatura

acompanhado das ideias sobre o “fim da ideologia”, durante a década de 1960, e do enfraquecimento das clivagens sociais que formavam as bases dos sistemas partidários anteriores. Kirchheimer (1966), seu principal desenvolvedor, argumentou que os partidos políticos modernos se dirigiam cada vez mais na competição pelos votos de qualquer grupo social que pudessem. Um dos resultados de sua análise foi a observação sobre mudanças que afetavam até mesmo a concorrência no plano ideológico.

Os partidos haviam se transformado. Em seus discursos, os programas abrangentes deram lugar a questões específicas. A importância da liderança política ganhou mais ênfase e os partidos passaram a promover mais a qualificação técnica e gerencial de seus candidatos. Nesse novo esquema de política partidária, as eleições, mais do que nunca, passaram a girar em torno de uma escolha entre políticos em vez de uma escolha entre as políticas ou plataformas de governo. Outro fator a entrar em cena foi o uso de novas tecnologias de comunicação para tentar compensar a relativa falta de densidade organizacional. Esta adaptação, ocorrida primeiramente nos partidos de quadros, assim como suas inovações metodológicas, acabou levando os partidos rivais à sua imitação, constituindo dessa vez um “contágio pela direita” na

história dos partidos políticos.

A mudança promovida pelo modelo catch-all acabou contribuindo para uma convergência

política. Aqui, a necessidade de manter um eleitorado distinto sob uma determinada doutrina política foi se tornando um fator de comprometimento bem menor, encorajando a “diminuição do carácter

distintivo ideológico e/ou político dos partidos” (Katz e Mair, 1995, p. 102-103). De acordo com Kirchheimer, o impulso para o sucesso contínuo “levou os partidos a ampliarem seus apelos para além do apoio de sua classe original” (Kirchheimer, 1966, p. 190). No entanto, o autor também observa que nem todos os partidos seriam obrigados a passar por essa transformação e alguns poderiam optar por permanecer como partidos de massa, defendendo os interesses de um grupo ou uma classe particular, ainda que, uma vez no poder, os líderes políticos dos partidos de massa tenham encontrado grandes razões para mudar suas organizações para o modelo catch-all

(Kirchheimer, 1966). De fato, Kirchheimer definiu o modelo catch-all como uma máquina eleitoral

bem-sucedida, dotada de maior habilidade para ganhar votos comparada com os modelos antecessores. Um fator que forçaria seus concorrentes com a adoção de métodos semelhantes caso quisessem estar em iguais condições de vencer eleições.

Panebianco (2005) e Katz e Mair (1995) entenderam de forma diferente. Caracterizaram o modelo catch-all como uma entidade altamente

vulnerável. Começando pela ausência de um eleitorado de pertencimento, que por si coloca o cacth-all sem

bases seguras de apoio. Dessa forma, eleitores que o apoiam em uma eleição podem muito bem abandoná-lo no pleito seguinte devido a uma gradual erosão da identidade partidária.

Por gradual erosão das identidades partidárias entende-se “o sentido em que os partidos políticos se lançam em um movimento pela disputa do poder, onde se arriscam a se confundir cada vez mais com os outros partidos, incluindo partidos que são seus adversários” (Mair, 2003, p. 285). Tal fenômeno é explicado na medida em que as antigas distinções entre

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os grupos de eleitores começaram a se dispersar. Com efeito, os partidos começaram a compartilhar eleitores entre si. Quanto mais se enfraquece as lealdades partidárias, mais dispostos os partidos políticos se tornam para dirigir seus apelos aos eleitorados de seus adversários. Todavia, também há um efeito contrário: “ao mesmo tempo em que todos os eleitores se tornam mais acessíveis a todos os partidos, também os partidos se tornam igualmente disponíveis para todos os eleitores” (Mair, 2003, p. 285).

O modelo catch-all acabou se tornando uma

metáfora para descrever mudanças ocorridas nos partidos políticos, assim como as estratégias de aproximação com o eleitorado, sendo um dispositivo eficaz quando usado para diferenciar os partidos contemporâneos com os antigos partidos de massa (Wolinetz, 2002). No entanto, observam seus analistas, o modelo catch-all é imperfeitamente operacionalizado,

sendo um instrumento eficaz quando utilizado para distinguir partidos políticos contemporâneos, ficando o perigo de se interpretar Kirchheimer e sua tese

catch-all de uma maneira muito negativa, como “um

partido altamente oportunista em busca de voto, um partido centrado no líder, um partido ligado a grupos de interesse ou todas as opções anteriores” (Wolinetz, 2002, p. 145).

4 – O Modelo de Partido

Eleitoral-profissional

Buscando resolver ambiguidades dentro do modelo catch-all desenvolvido por Kirchheimer, Angelo

Panebianco (2005) desenvolve sua análise variante em termos organizacionais partindo da observação dos efeitos produzidos pelo “contágio pela direita”

nos partidos de massa1. A primeira transformação

fundamental identificada pelo autor foi apontada na mudança do partido burocrático de massa para um partido profissional-eleitoral. Ambos os modelos são definidos por Panebianco como tipos-ideais.

O partido burocrático de massas, de sua análise, é inspirado no partido de massas de Duverger, sendo caracterizado pelo papel central de um representante ou de uma burocracia eleita, pela ênfase na participação, na interna liderança colegial, no financiamento através de grupos de interesses e na clivagem ideológica. Em contraste, o partido eleitoral-profissional é caracterizado pela centralidade nos especialistas e profissionais do partido. Ocorre o deslocamento entre os tradicionais titulares de cargos do partido que passam a dar lugar à “profissionais com habilidades técnicas e políticas, que são de maior uso nos modernos meios de comunicação e ambiente político. O papel dos profissionais não só aumenta nos gabinetes parlamentares dos partidos, mas também na organização do partido” (Katz e Mair, 1995, p.145). O modelo profissional-eleitoral possui orientação estritamente eleitoral e laços verticais fracos para sua adesão, além de papel proeminente de representantes eleitos e financiamento através de grupos de interesses organizados ou subsídios do governo. Assim como no modelo catch-all, em seus programas políticos a ênfase

na ideologia é retirada e colocada sobre questões e interesses específicos.

No modelo eleitoral-profissional toda a função organizacional extraparlamentar do partido político é modificada. Se antes o partido de massa 1 Panebianco argumentou que a expressão partido eleitoral-profissional seria preferível a denominação catch-all, de Kirchheimer,

pelo fato de enfatizar a profissionalização do novo modelo e sublinhar a diferença organizacional crucial entre partidos de massa e o novo tipo de partido político.

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realizava uma função expressivamente integradora na sociedade, o partido eleitoral-profissional está mais preocupado em vencer as eleições e passa mais tempo lidando com o recrutamento de líderes, com a legitimação da autoridade e com a imagem da liderança parlamentar. As atividades organizacionais do partido, que antes se orientavam para a construção, organização da filiação e manutenção do próprio partido no eleitorado, cedem espaço para a mobilização de apoio do eleitorado em geral.

Outra mudança significativa ocorre na crescente dependência de recursos monetários em vez de recursos de trabalho. Tal fato antes se explicava devido os partidos de massa não possuírem recursos para contratar um considerável número de trabalho profissional, oferecendo “cargos políticos a seus membros em troca de sua participação. Uma negociação que encontrava muito sucesso devido a comunhão ideológica entre os membros do partido, através de atividades associativas” (Panebianco, 2005, p. 264).

Conforme a análise de Panebianco (2005), os partidos eleitorais-profissionais se mostraram mais hábeis para poder contar com o trabalho profissional. No entanto, observa-se que ao se tornarem mais capazes de contar com o trabalho especializado de profissionais, os partidos eleitorais-profissionais acabaram por construir uma distante relação de troca com a sociedade, ditada cada vez mais pela profissionalização do aparelho do partido.

5 – O Modelo de Partido Cartel

No modelo cartel os partidos políticos mudaram seu papel primário de agentes da cidadania (sociedade) para a direção de agentes do Estado/governo (Mair, 2003, p. 280; Luther e Rommel, 2002, p. 13), mudança que passou a caracterizar o atual momento da atividade político-partidária como um trabalho de participação mais governamental. Mudanças no direcionamento macroeconômico, como visto na ascensão do neoliberalismo na década de 1990, e os problemas enfrentados pelos Estados na gestão de suas economias, afetaram a capacidade de formulação de políticas de governo nos partidos europeus ocidentais. Visando a permanência nos cargos conquistados, os partidos políticos se dispuseram cada vez mais em compatibilizar suas posições ideológicas com sua postura política no governo. Hoje, o maior desafio enfrentado pela maioria dos partidos de governo da Europa Ocidental que desejam manter sua credibilidade política entre os eleitores é “garantir que os resultados políticos substanciais gerados nas principais áreas de controvérsia política estejam em conformidade com os seus próprios compromissos manifestos” (Luther e Rommel, 2002, p. 17).

Dessa forma, em meados da década de 1990, a pesquisa empírica acerca dos partidos políticos conhecia mais um novo modelo de organização partidária, identificado e inserido na literatura política por Katz e Mair (1995), cuja preocupação inicial era responder o porquê, e, em que medida muitos partidos políticos haviam abandonado suas raízes sociais e migrado para o Estado. O novo modelo recebeu de seus autores a denominação de partido cartel, e incluía tanto as

características de organização interna do modelo de Panebianco, como também a hipótese de que nesse

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modelo os partidos de cartel supostamente conspiram para utilizar recursos do Estado para o apoio de suas atividades individuais. Os autores também alegaram que tais partidos procuram manter a estrutura da concorrência em favor dos partidos que compõe o

establishment, ou partidos-membros (insider), e contra os

desafios colocados pelos partidos “de fora” (outsider).

O partido cartel surge como um novo tipo que se define pela sua relação com o Estado. O argumento central é que o apoio do Estado mudou a orientação global e a direção dos partidos políticos e certas organizações partidárias teriam se tornado mais motivadas a governar do que para ganhar eleições. Outra característica foi identificada na maneira como os partidos do establishment se tornaram tão parecidos,

dificultando o reconhecimento de algum ponto de distinção entre eles. Comparado com o modelo catch-all, os partidos cartel apelam para um eleitorado ainda

mais amplo ou mais difuso, o que se explica pelo fato de estarem sempre envolvidos em campanhas de capital intensivo, enfatizam suas habilidades gerenciais e de eficiência, sendo vagamente organizados e remotos a partir de seus membros, que são mal distinguidos dos não membros (Katz e Mair, 1995).

Um dos traços mais importantes é que em vez de competir para ganhar eleições ou apoio popular, os partidos cartéis demonstram boa disposição para garantir seu acesso ao Estado através do compartilhamento do poder com outros partidos. De acordo com Katz e Mair (1995), os partidos de cartel deixaram de operar como mediadores entre a sociedade civil e o Estado (seguindo o modus operandi dos partidos catch-all) se tornando agentes do Estado. Assim, os

partidos de modelo cartel se tornaram igualmente vulneráveis como os de orientação catch-all.

Com o movimento de migração dos partidos políticos rumo ao Estado, ocorre também o abandono das funções expressivas e representativas dos partidos políticos para uma política de corretagem, produzindo o distanciamento do partido político para com a sociedade (Katz e Mair, 1995; Mair, 2003). A migração para o Estado, promovida pela análise do modelo de partido cartel, também possui sua significativa margem de contribuição para o fenômeno da erosão da identidade partidária. Tendo os partidos políticos migrado para a direção governamental, passam a ser entendidos no sentido em que cada um deles alimenta alguma expectativa realista de usufruir de um breve período no poder (Mair 2003). Como se pode facilmente notar em qualquer democracia atual, a erosão da identidade partidária faz emergir um novo padrão de formação do governo em um contexto muitas vezes chamado de “promiscuidade eleitoral”, que une agremiações partidárias que antes figuravam no cenário como inimigos tradicionais:

na França, os socialistas compartilham o poder com os ecologistas, e o mesmo fazem os socialistas e os ecologistas alemães; os partidos seculares holandeses e até mesmo os belgas compartilham atualmente o governo sem exigirem os tradicionais mecanismos de conciliação proporcionados pela ortodoxia religiosa; o Partido do Povo austríaco mostrou-se capaz de forjar uma coligação eficaz com o Partido da Liberdade, de extrema-direita; o Partido Trabalhista britânico construiu uma aliança informal, mas pioneira, com os liberais; na Itália, a incorporação da anteriormente fascista Aliança Nacional, numa coligação de direita foi seguida por outro governo singular que incluiu tanto os antigos comunistas como os antigos democratas-cristãos; na Irlanda, o Fine Gael, de caráter tradicionalmente conservador, subiu ao poder pela última vez graças a uma coligação que incluiu o antigo Partido dos Trabalhadores, de extrema-esquerda (Mair, 2003, p. 286).

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Por fim, Katz e Mair (1995), Mair (2003) e Katz e Crotty (2006) argumentam que o modelo de partido cartel não é o ponto final do desenvolvimento dos partidos políticos. Embora aparentemente isolados da ira dos eleitores devido aos subsídios do Estado e sua capacidade de formar coligações antes inimagináveis, os partidos de cartel estão expostos à concorrência de partidos mais livres ou mais novos e desejosos por ocupar cargos no governo, sendo seu estilo suscetível de gerar a sua própria resposta na forma de sentimento antipartido, o que pode acabar por abrir espaço para partidos antiestablishment e lideranças “populistas”.

6 – A Emergência do modelo de

Partido-empresa de Negócios (Business-firm

Party)

No fim do século XX um novo e poderoso ator político emerge na Itália, capacitado de força suficiente para influenciar e modificar profundamente as estratégias de campanhas eleitorais, as formas de organização dos partidos e a maneira como a política e os interesses privados interagiam na sociedade. Esse novo tipo de organização partidária, identificado como Business-firm Party, e tratado por nós como

Partido-Empresa de Negócios, foi introduzido na literatura por Hopkin e Paolucci (1999) e Paolucci (2006) desde sua ascensão política através da análise de caso de dois específicos partidos políticos: Unión de Centro Democrático (UCD), na Espanha, sob liderança

de Adolfo Suárez; e do Forza Italia, sob liderança de

Silvio Berlusconi, na Itália.

O Business-firm Party vem sendo interpretado

como um tipo “extremo do modelo catch-all em sua

versão eleitoral-profissional” (Paolucci. 2006, p. 1).

Uma das primeiras grandes características é que a imagem do partido se confunde com a de seu líder e fundador, geralmente um rico empresário ou uma destacada figura de negócios que alcança grande expressão nacional e opta por fundar um novo partido político em causa própria, se tratando também de uma organização patrimonial, de caráter privado, dirigida e controlada autocraticamente por seu líder e fundador, cujo objetivo é o ganho de poder político para este (Hopkin e Paolucci, 1999; Paolucci, 2006).

A figura do empresário político não é uma novidade exclusiva do modelo de partido-empresa de negócios. Michels (1982), Weber (1996) e Schumpeter (1976) já haviam exposto em suas obras o quanto os partidos políticos podem servir a interesses privados destes. A novidade na abordagem de Hopkin e Paolucci (1999) e Paolucci (2006) reside no fato de que o empresário, aqui, se oferece para coordenar e liderar o grupo latente em troca de um elemento de “lucro” privado, entendido como o prestígio e as vantagens materiais trazidas pela ocupação de um cargo público. De acordo com os autores

o partido político deixa de ser uma organização voluntária com objetivos essencialmente sociais para se tornar uma espécie de empresa de negócios, onde os bens públicos produzidos são incidentais para os verdadeiros objetivos, fazendo da política, na terminologia de Olson, um subproduto (Hopkin e Paolucci, 1999, p. 311).

O partido-empresa de negócios é literalmente uma propriedade de seu líder, sendo construído e (re) adaptado em torno de sua personalidade e interesses específicos, servindo como seu instrumento político pessoal, daí a patronagem se apresentar como sua grande característica. Critérios de filiação partidária são irrelevantes e todas as posições de poder são uma

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emanação direta de uma relação pessoal com o líder e fundador do partido. O líder centraliza em sua figura questões e decisões como programas, estratégias e alianças políticas. Esses critérios acabam influenciando profundamente a estrutura organizacional do partido e criam graves problemas para sua institucionalização, uma vez que um partido de tipo patrimonialista e altamente personalizado, como no modelo Business-firm, encontra em toda sua estrutura organizacional

uma relação direta de dependência com seu líder. O desenho organizacional do partido é pessoalmente supervisionado por seu líder e fundador. A estrutura organizacional conta com uma estrutura profissional tecnocrática composta em sua maior parte por um corpo de profissionais, os quais podem ter origem em uma de suas empresas pessoais. Isso garante que toda estratégia partidária esteja voltada para a promoção de seus interesses próprios, assim como a manutenção de sua estrutura de atuação centralizada. Dessa forma, o partido representa apenas uma maneira legítima para entrar e competir em um contexto democrático. A tarefa de escolha dos membros do partido também se encontra centralizado em suas mãos e seguem os mesmos critérios de contratações realizados com o corpo de especialistas, sendo um recrutamento “personalizado e que necessita da confirmação de uma relação ou indicação pessoal com o proprietário do partido” (Paolucci, 2006, p. 10). Após o recrutamento, os membros são distribuídos na composição hierárquica do partido e seguindo as indicações do líder. Níveis de organizações centrais existem de maneira formal e com atuação irrelevante, cabendo todas as decisões ao líder e seu círculo composto por funcionários diretamente indicados e amigos de confiança (Hopkin e Paolucci, 1999). Há dois fatores líquidos do

partido-empresa de negócios intimamente ligados com a baixa ou ausência de institucionalização que merecem menção. O primeiro é que estes possuem estatutos precários, levando a sua desintegração sempre que as circunstâncias do jogo mudam, enquanto que os laços de lealdade convergem sempre para o líder ao invés de priorizar a organização.

O caráter patrimonialista também exerce uma profunda influência sobre a natureza eleitoral do partido. As políticas oferecidas são entendidas e trabalhadas como produtos ofertados para um mercado de eleitores entendidos como consumidores de propostas e projetos políticos. Paolucci (2006) observa que os partidos-empresas de negócios parecem subprodutos empíricos dos modelos de partidos políticos encontrados nas teorias da escolha racional:

nada mais são do que subprodutos da competição entre sedentos por poder e políticos oportunistas, uma vez que tal tipo de partido não mostra qualquer interesse real na integração de identidades coletivas e grupos sociais no sistema político, nem na seleção de uma classe política. Ele formula programas só para vencer as eleições, em vez de participar nas eleições, de modo apenas a obter um mandato para levar a cabo o seu programa (Paolucci, 2006, p. 7).

Embora o centralismo seja o atributo organizacional fundamental do caráter de empresa desse modelo, há de se ressaltar outras características com caráter de empresa de negócios, como a forma na qual o partido é administrado, com gestores, administradores e especialistas trabalhando no partido como terceirizados. Nesse modelo de organização político-partidária, não é comum existir prazo para tomada de decisões para os órgãos internos. Os gestores atuantes nos partidos-empresas de negócios (os administradores pessoais do líder) têm a

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liberdade de realizar reuniões informais e não oficiais diretamente com o líder e proprietário do partido.

O Carisma tem sido entendido neste modelo como um complemento útil e natural para a centralidade do líder, tanto em fatores externos quanto internos (Paolucci, 2006; Olteanu e Néve, 2014). Empresas são contratadas para trabalhar com estratégias de propaganda e marketing, consultoria e também na imagem do líder do partido nas diversas mídias, campanhas e programas eleitorais. A diferença reside na forma como a relação político e eleitor é tratada: “Em uma época caracterizada pela difusão dos meios de comunicação, como aquele em que o catch-all floresce, um líder carismático tem mais

chances de ter sucesso chegando ao eleitorado através

da televisão e da mídia” (Paolucci, 2006, p. 5). Mais uma vez, pode-se observar tal modelo agindo em um segmento mercadológico, onde o político e suas propostas são trabalhados na lógica de um produtor dotado de grande empreendedorismo que oferece, “à granel”, políticas em grande demanda num mercado de eleitores desejosos por novidades. Isso acaba ganhando reforço na retórica eleitoral quando o líder enfatiza suas qualidades de empresário bem-sucedido e adota o discurso da gestão eficiente e comportamento gerencial competente, típico de empresas comerciais, a ser implantado na gestão profissionalizada do país e assuntos públicos.

Quadro 1. Transformações das organizações político-partidárias

Modelos de Organizações Políticas-partidárias

Partido de Elite Partido de Integração de Massa

Partido Catch-all ou

Profissional-eleitoral Partido de Cartel Partido-empresa de Negócios Período

Dominante Emergência do governo parlamentar até o sufrágio de massa Direcionado para o sufrágio de massa

1950 até o presente 1970 até o presente 1990 até o presente

Locus de Origem Origem

Parlamentar Origem Extra-parlamentar Evolução dos modelos pré-existentes Evolução dos modelos existentes Extra-parlamentar, através da iniciativa de empresários políticos Estrutura

Organizacional Mínima e Local, com o escritório central do partido subordinado ao partido no poder público Membros organizados em seções locais, com o escritório central confiado a um congresso eleito do partido Membros organizados em seções, mas postos à margem do processo decisório, com o escritório central subordinado ao partido no poder público

Escritório central subordinado ao partido no poder

público, com seus membros amplamente substituídos por consultores contratados. As decisões são ratificadas através de plebiscito de seus membros e colaboradores.

Organização formal mínima, com controle hierárico exercido por empresários autônomos e seus empregados.

Natureza e Papel

dos Membros As elites são seus únicos membros

Filiação ampla e

homogênea Filiação heterogênea, organizada primeiramente como líderes de torcida das elites

Distinção entre membros e colaboradores obscuros. Os membros se parecem mais com indivíduos do que com um corpo organizado.

Filiação mínima e irrelevante

Recursos Básicos

Primários Riqueza pessoal e suas conexões Pagamento de taxas de seus membros e organizações auxiliares Contribuições de indivíduos e grupos de interesse

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8 – Novas Transformações Sociais e novos

desafios.

Os partidos políticos da atualidade parecem ter se colocado em uma “sinuca de bico”. Ao optarem por se parecer muito uns com os outros aprenderam também a imitar o sucesso um do outro adotando técnicas similares de organização e de campanha, sacrificando características-chave que antes serviam para sua clara distinção entre o eleitorado. Uma conclusão comum na literatura sobre os partidos políticos desde as últimas décadas do século XX é a de que se tornou cada vez mais difícil, para os eleitores, encontrar e entender diferenças significativas, seja em termos de ideologias ou de objetivos entre os diferentes partidos e, assim, selecionar algum que o represente, uma vez que este figura para si como uma organização composta de maior relevância para seus problemas e necessidades.

Em quase todas as democracias bem estabelecidas da Europa, o número de eleitores que declaram possuir uma forte identificação partidária é cada vez menor, “e mesmo as formas mais fracas de identificação e simpatia partidária estão desaparecendo” (Mair, 2003, p. 280; Autor, 2018b). Os partidos e as suas atividades convencionais já não conseguem mobilizar os cidadãos como antes e se mostram incapazes de atrair sua atenção e estabelecer uma relação de empatia com os mesmos. Quando comparados com épocas anteriores, observa-se que os partidos políticos vêm desfrutando bem menos da significante presença no seio da sociedade. Um dos motivos para o declínio do nível de membros filiados aos partidos políticos nas democracias europeias vem sendo atribuída à incapacidade das organizações partidárias de acompanharem o crescente número de

novos eleitores e suas demandas sociais. O quadro atual, que marca o desafio a ser enfrentado pelos partidos políticos, inclui: declínio da identificação partidária, declínio da participação eleitoral e o aumento da volatilidade eleitoral.

Outras transformações significativas foram observadas na mudança da estrutura de comunicação dos partidos políticos e em sua programação:

A constante aceleração e inovação tecnológica e a inevitável internacionalização dos meios eletrônicos, cada vez mais influentes, têm diminuído a capacidade das elites do partido de controlar a comunicação política, promovendo o desaparecimento do papel da imprensa do partido na mobilização e retenção de apoio político (Luther e Rommel, 2001, p. 14).

Com relação a sua programação ou espectro ideológico, observou-se que algumas mudanças socioestruturais e socioculturais, como uma crescente secularização, a expansão educacional (a qual mostra que o valor funcional das sugestões dos partidos aos eleitores tem caído (Luther e Rommel, 2002), o aumento de mobilidade social e geográfica, etc. resultaram no enfraquecimento da capacidade de mobilização social em termos de plataformas ideológicas, tratadas nos tradicionais termos da clivagem esquerda-direita (Lipset e Rokkan, 1992). Por outro lado, novas tensões emergiram, como temas relacionados às questões ambientais, movimentos feministas, pós-materialismo e o etnoregionalismo.

Apesar do nível de satisfação com a democracia ainda se manter alto, os cidadãos se afastaram das formas tradicionais de participação política, migrando para um outro estilo participativo que vem ao longo dos últimos anos se manifestando através do crescente sentimento de protesto. O surgimento de novas questões políticas tem levado, em vários

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países, à emergência e sucesso de novos partidos e também ao crescimento de pequenos partidos com fortes apelos antiestablishment que, por sua vez, têm

frequentemente desafiado os partidos tradicionais na tarefa de adaptação de sua organização interna, a fim de responder de forma mais eficaz a estes novos desafios (Autor 2016, 2017a e 2017b).

Em 2003, Peter Mair publicava um influente trabalho acerca da situação, até então, dos partidos políticos na Europa Ocidental. Em sua conclusão, temia que as transformações sofridas pelas organizações partidárias produzissem cidadãos indiferentes à política, situação cujo autor já apontava suas raízes no “ceticismo com que muitos eleitores parecem olhar o processo político, bem como nos juízos negativos que os líderes políticos e a classe política, em geral, lhes merecem” (Mair, 2003, p. 288).

Mair concluía, nesse trabalho, que a época dos partidos de massa tivera seu fim, juntamente com a era dos projetos ideológicos e qualquer possibilidade de manutenção de um compromisso com a política tradicional ou com qualquer tentativa de preservação de uma identidade organizacional poderosa e distinta. O autor apontou uma previsão feita por Lijphart (1968) e Dahl (1966), sobre um movimento dentro das organizações partidárias que passaria a se tornar característico dos partidos a partir da conjuntura política em meados da década de 1970:

um agravante movimento que tornaria o mundo político demasiadamente burocratizado, demasiado dependente de negociações e compromissos [e] demasiadamente utilizado como instrumento por elites políticas e tecnocratas (Dahl, 1966: 400. Apud. Mair, 2003, p. 288).

O receio desses autores sobre o futuro da política partidária parece se concretizar cada vez mais, principalmente quando observamos o desenvolvimento dos últimos modelos de partidos políticos: catch-all (ou seu similar profissional-eleitoral),

cartel e partido-empresa de negócios, assim como aquele que se apresenta no momento atual de negação ideológica e exacerbação de centrismos.

Conclusão: Um Declínio da “Era dos

Partidos Políticos”?

Se ao longo de sua história os partidos políticos têm sido considerados um componente essencial para a manutenção de governos representativos e a estabilidade das modernas democracias, ao término do século XX e início do XXI já houve quem advogasse sobre o “fim da era dos partidos” e os classificasse, hoje, como instituições em declínio, arcaicas e desatualizadas (Mair, 2003). Os fatores que teriam levado à tal opinião podem ser encontrados nos diferentes modelos partidários que foram discutidos nesse trabalho. São modelos construídos a partir das observações feitas por seus estudiosos em cada período de transformação. Ainda que erguidas em tipos-ideais, os modelos mostram características que se acentuaram nos comportamentos e estratégias políticas adotadas pelas organizações partidárias e, como isso, se refletiu em sua relação com a sociedade. Dessa forma, já no início do século XXI se entendia que os partidos políticos acabaram por ser:

dominados por aquilo que é por vezes entendido como uma classe política dedicada aos seus próprios interesses, ou sendo criticados por servirem pouco mais do que a promoção dessa mesma classe,

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os partidos políticos são hoje muitas vezes descritos como organizações que dificultam a renovação democrática, mais do que como um dos meios pelos quais a democracia pode ser ainda sustentada (Mair, 2003, p. 277).

Entre as principais funções tradicionalmente desempenhadas pelos partidos políticos que sofreram profundas alterações, destacam-se a relação entre

sociedade e Estado, as funções representativas que migraram para funções processuais (Mair, 2003) e a consequente erosão da identidade partidária.

Enumeramos, no quadro abaixo, as mudanças nas estruturas político-partidárias apontadas como as mais significativas e a cada uma delas relacionamos com uma fase específica de modelo de partido abordado neste trabalho.

Quadro 2. Principais Transformações das Organizações Partidárias

PRINCIPAIS TRANSFORMAÇÕES 1. O esvaziamento do debate em torno das

ideologias deu lugar a questões específicas e à personalidade das lideranças;

2. Partidos que antes defendiam políticas bem definidas e exerciam funções representativas ou expressivas, dão lugar à partidos mais oportunistas e que se mostram bem distantes de seus apoiadores

1 Despolitização

(Partidos de Massa → Partidos Catch-all)

Membros dos partidos (filiação e militância) cedem

lugar aos profissionais e tecnocratas. 2 Alteração na Vocação (Partidos Catch-all → Partidos Cartel)

Erosão da identidade partidária e transformação do eleitorado: de um eleitorado de pertencimento para um eleitorado de opinião.

3 Parecenças

(Partidos de Massa → Partidos Cartel)

Crescente dependência de subsídios oriundos de grupos de interesse ou do governo para o apoio financeiro

4 Migração

(Partidos Cartel e Partido Empresa de Negócios)

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Cada modelo foi baseado nas principais formas de relacionamento entre partido político, eleitores e Estado. A conclusão que chegamos, quando analisamos as principais características de cada mudança produzida, é um argumento que situa o momento da atual crise vivida pelos partidos políticos em um movimento de neutralização e despolitização das organizações quanto mais estas se voltam para uma visão política rasa e fria do cidadão como um consumidor de “produtos políticos”, moldando suas estruturas de acordo com padrões e estratégias voltadas para um mercado.

Mair (2003) e Katz e Mair (2009) costumam argumentar que os partidos políticos podem ser definidos em níveis institucionais como organizações sob pressão. A definição é verdadeira, uma vez que se trata de instituições que por fazerem parte da esfera política não poderiam habitar nenhum outro ambiente que não fosse marcado pela hostilidade entre seus competidores.

A alegada fase de “parecenças” tem início quando da confecção de um “mercado eleitoreiro”, fenômeno que ascendeu às propriedades do imaginário estratégico da política contemporânea quando da emergência e sucesso dos partidos de integração de massa e que passou a levar os partidos políticos a uma verdadeira espécie de “corrida espacial”. A emergência dos primeiros partidos de integração de massa colocou em xeque o monopólio político das elites no processo decisório. Não tardaria para que a democracia ganhasse força suficiente para que se tornasse um processo irreversível, restando para os intelectuais das elites a tarefa de pensar uma versão própria da democracia, com instituições e estruturas que produzissem governos capazes de arbitrar a vida democrática.

O sentimento democrático é aquele exatamente oposto ao individualismo, sendo justamente a intensidade da vida democrática o fator causador das crises dos governos “democráticos” (Rancière, 2014). Controlar esse tipo de intensidade requer o desenvolvimento tanto de uma linguagem quanto de uma pedagogia que eduque e insira os homens nos contextos e espaços políticos de exercício da dominação. Numa guerra, é sabido, a arma que você usou para vencer um inimigo ontem será usada contra você amanhã. O que dizer da guerra no mundo político, das estruturas das organizações políticas, da força das palavras e dos discursos políticos? Foi exatamente esse o efeito produzido pelo contágio pela esquerda, que não apenas levou os partidos de direita a se reestruturarem nos moldes de integração de massa, como a desenvolverem novos mecanismos para a conquista dos votos. O contágio pela direita foi, assim, o resultado desse contra-ataque, marcando o início do movimento de despolitização que teve como resultado as parecenças.

A ampliação do discurso democrático exige a ampliação da democracia, mas esta requer apenas em sua aparência. Não se intenciona dar tanto poder ao povo, sendo o remédio, para a contenção da vida democrática na cena política, promover a constante reorientação de suas energias mais febris para outros fins (Rancière, 2014). Prática que pode ser encontrada no pós-guerra, quando a Academia, ao culpar o povo pela ascensão dos regimes nazifascistas – e não as oligarquias, políticos e estratégias discursivas e máquinas de propaganda que reencantam o mundo –, promoveu uma nova interpretação da democracia, dessa vez sem demos (Miguel, 2002).

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A solução encontrada foram as bem-sucedidas teorias elitistas e econômicas da democracia, as quais defenderam arduamente uma desejável apatia das massas em relação à política, tal como as forças do liberalismo econômico defendem a apatia do Estado em relação ao mercado para a promoção do “bom governo democrático” (Rancière, 2014), sendo justamente através do mercado e de seus mecanismos que a democracia liberal atualizaria seus dados, construiria sua linguagem política e pedagógica e modelaria o apático e indiferente “homem democrático” (Rancière, 2014).

Esse momento-chave marca, para nós, também a transformação dos partidos políticos em estruturas cada vez mais racionalizadas, que de pouco em pouco aderem a uma visão econômica que precede a política. Um caminho que já vinha sendo pavimentado desde meados do século XIX, quando consolidado o espírito da sociedade civil ou sociedade

de mercado, descrito através de um estado em que todos são comerciantes (Tonnies, 1947), sendo suas rendas derivadas da venda de alguma coisa e qualquer que seja a renda de uma pessoa, esta deve ser vista como produto de uma venda (Polanyi, 2003).

Na busca pela expansão de seus “produtos” políticos, a “corrida eleitoral” faz com que os partidos políticos aos poucos deixem de lado suas bases originais (com os grandes partidos de esquerdas entrando em simbiose com o sistema de dominação burguesa, transformando-se em novas oligarquias competidoras). Direita e esquerda, então, correm para um mesmo ponto onde parecem se amalgamar juntamente com a crescente parecença política com a qual se promovem, fazendo antigas diferenças e antagonismos darem vez a discursos universalistas e plataformas de governos similares. O fim dessa

primeira fase, a qual chamamos de despolitização e

que inicialmente se caracterizou pela mobilização ideológica das massas, ocorre na transição dos partidos políticos de massa para o modelo catch-all.

A confecção do “mercado eleitoral” lança os partidos políticos rumo a sua reestruturação em moldes cada vez mais empresariais. Com a vitória nas eleições se tornando a maior de todas as preocupações, os partidos políticos acabam por se reformular absorvendo traços de uma empresa de negócios atuante no setor de varejos. Essa alteração, ao nosso ver, afeta profundamente as estruturas políticas vocacionais no que concerne ao político profissional. Viver “da política” requer agora a transformação do burocrata no tecnocrata, com o especializado passando a ser a figura de proeminência dentro do partido. Chamamos essa fase de alteração na vocação,

sendo uma fase que tem seu início na opção pelo modelo catch-all e se consolida com o modelo cartel.

A mudança quanto à orientação do discurso, assim como a estratégia de mobilização, produz um novo tipo de eleitorado, o qual passa a não ver diferenças significativas entre os diferentes partidos e se afasta cada vez mais das velhas preocupações ideológicas que antes o mobilizava. Denominamos esse estágio de parecenças. Nossa análise teve como

ponto de partida o processo de erosão da identidade partidária (Mair, 2003), também na transição para o

catch-all. Nessa fase, os partidos se parecem como

variados fabricantes de um mesmo produto no mercado, se tornando incapazes de internalizar uma crença duradoura no eleitorado acerca de suas propostas. A cultura democrática se esvazia na cultura de supermercado e o espetáculo democrático nada mais se parece do que com “o reino do consumidor narcisista, que varia suas escolhas eleitorais tal qual

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varia seus prazeres íntimos” (Rancière, 2014, p. 35). Com efeito, “a vida democrática se torna uma vida apolítica do consumidor indiferente de mercadorias” (Rancière, 2014, p. 42), ocorre o afastamento das funções representativas dos partidos políticos e a erosão da identidade partidária, o eleitorado se volatiliza e o número de apoio recebido em uma eleição não deve ser traduzido como uma lealdade a ser esperada em eleições futuras. Com o eleitor esvaziado de conteúdo e em um estado de indiferença, os partidos redirecionam suas prioridades e alvos, se reestruturando rumo ao modelo de partido de cartel.

Os partidos políticos necessitam de recursos financeiros se quiserem ganhar eleições ou participar do poder. Em um contexto geral, as organizações partidárias foram se tornando cada vez mais dependentes do financiamento público que recebem do Estado. A fonte de financiamento preferida passa a ser o tesouro público, tornando o sustento da vida organizacional de muitos partidos dependente das subvenções estatais. Os partidos buscaram fortalecer sua ligação com o Estado e priorizam em sua agenda o seu papel de detentores de cargos públicos, estando mais interessados na obtenção de cargos, sendo a conquista de um lugar no governo a expectativa mobilizadora da estratégia partidária. Essa última fase chamamos de migração. Os partidos se tornam uma

espécie de sinônimo de parlamento e governo e se reduzem cada vez mais aos seus líderes que ocupam cargos públicos (Mair, 2003; Katz e Mair, 2009).

Toda mudança de direcionamento envolve a revisão do tradicional (ou padrão vigente) posicionamento tanto das funções como das estratégias políticas. Na migração para o Estado, os partidos optaram por se afastar de suas tradicionais funções representativas pela ampliação das funções

procedimentais (Mair, 2003). Funções classicamente associadas aos partidos políticos ressaltam as atividades representativas, as quais devem promover a integração e mobilização dos cidadãos no regime político onde os partidos competem apresentando suas formulações de políticas públicas. Com o “partido de governo” tais funções deixaram de ser consideradas como parte essencial do repertório partidário. Hoje, tais funções se tornaram uma atividade partilhada com associações civis, movimentos sociais suprapartidários e alguns meios de comunicação em redes sociais. Por isso, tem-se argumentado, e com certa razão, que “a expressão de interesses e exigências populares tem ocorrido frequentemente fora do mundo partidário, com os partidos políticos buscando captar sinais que emanam de outros contextos” (Mair, 2003, p. 283). Observa-se a crescente tendência para confiar no julgamento de peritos ou de corpos (aparentemente) não políticos no que concerne a determinação e condução das políticas públicas. O mal-estar resultante de tal processo de transformação é de que quanto mais os partidos políticos parecem menos necessários, mas o contexto de formulações das políticas parece despolitizada.

As fases de transformações, expostas em nosso quadro, acompanham as mudanças de paradigma político-partidário, enquanto as mudanças de paradigmas acompanham as novas formas racionalizadas da contemporaneidade. Os modelos de partidos políticos também são resultantes da constante modernização da luta democrática e dos momentos de reconfiguração da dominação (Rancière, 2014). A corrida política, em um “mercado de eleitores”, transformou os partidos em máquinas eleitorais. Ao mesmo tempo em que promoveu sua crescente profissionalização, o tornou um reflexo de uma empresa de negócios atuante na área de

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compra e venda de mercadorias. Com a confecção de um sujeito democrático indiferente e apático aos bens e interesses públicos, a tarefa de, na prática, se inverter os valores da democracia não se revelaria tão trabalhosa, fazendo desta um mero arranjo estatal e governamental que atua em seu exato oposto, com personagens “eternamente” eleitos, empresários investindo pesadas quantias de dinheiro em busca de um mandato, partidos financiados por fraudes em contratos públicos, governantes agindo como governados e governados agindo como governantes (Rancière, 2014). As eleições se transformaram em uma espécie temporária de contrato social, onde eleitores periodicamente se reúnem para se abdicar de seus direitos e consenti-los para uma figura que terá o monopólio do direito legítimo de interferir em suas vidas, não tendo outro instrumento, senão o voto nas próximas eleições para destituir seus “representantes (Manin, Przeworski e Stokes, 2006)”.

Dessa forma, não seria surpresa que em algum momento da história contemporânea que se encarrega da análise das transformações dos modelos partidários, um tipo extremo, como o partido-empresa de negócios, pudesse emergir. Para nós, tal modelo figura como o resultado puro de um processo de racionalização sob a moderna ordem econômica empreendida pelos partidos políticos, havendo aumento de racionalismo com pouca reflexividade (Giddens, Lash e Beck 1997). Mais do que a direção ao catch-all ou cartel, tal modelo

supõe a final concretização das angústias de Dahl, Lijphart e Mair, figurando como produto daquela tendência do crescente racionalismo do mundo moderno previsto por um angustiado Max Weber (1996) nas últimas páginas de “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, quando avaliava os efeitos

da degeneração da vocação na aventura sob direção

de uma crescente racionalização do mundo com origens em uma ética especificamente burguesa, restando o mal-estar com a possível convivência de um mundo feito de homens sem espírito e instituições sem alma (Weber, 1996).

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Referências

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