• Nenhum resultado encontrado

A relação entre a qualidade do relacionamento amoroso e a memória autobiográfica do casal

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "A relação entre a qualidade do relacionamento amoroso e a memória autobiográfica do casal"

Copied!
40
0
0

Texto

(1)

Escola de Psicologia

Margarida Marlene Magalhães Garcês

A relação entre a qualidade do

relacionamento amoroso e a memória

autobiográfica do casal

(2)

Dissertação de Mestrado

Mestrado Integrado em Psicologia

Trabalho efetuado sob a orientação da

Professora Doutora Joana Arantes

e do

Professor Doutor Pedro Barbas Albuquerque

Margarida Marlene Magalhães Garcês

A relação entre a qualidade do

relacionamento amoroso e a memória

autobiográfica do casal

outubro de 2016

(3)

Nome: Margarida Marlene Magalhães Garcês

Endereço eletrónico: a66722@alunos.uminho.pt; margarida.mgarces@gmail.com Número do Cartão de Cidadão: 14092274

Título da dissertação: A relação entre a qualidade do relacionamento amoroso e a memória autobiográfica do casal

Orientadores: Professora Doutora Joana Arantes e Professor Doutor Pedro Barbas Albuquerque

Universidade do Minho Ano de conclusão: 2016

Designação do Mestrado: Mestrado Integrado em Psicologia

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE;

Universidade do Minho, 17 de outubro de 2016

(4)

Índice Agradecimentos ... iii Resumo ... iv Abstract ... v Introdução ... 6 Estudo 1 ... 9 Método ... 10 Participantes. ... 10 Medidas. ... 10 Procedimento ... 11 Análise de Dados ... 12 Resultados e Discussão ... 12 Estudo 2 ... 18 Método ... 18 Participantes. ... 18 Medidas ... 19 Procedimento ... 20 Análise de Dados ... 20 Resultados e Discussão ... 21 Discussão geral ... 28

Limitações e Estudos Futuros ... 30

Conclusão ... 30

(5)

Agradecimentos

Ao finalizar este percurso tão importante da minha vida queria expressar o meu mais profundo agradecimento a todos aqueles que estiveram presentes e me apoiaram nesta caminhada e que, de alguma forma, tornaram possível a realização deste trabalho.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Professora Doutora Joana Arantes, pelo apoio, incentivo e disponibilidade demonstrada em todo o processo que levou à concretização deste estudo.

Ao Professor Doutor Pedro Albuquerque pela orientação e as sugestões na elaboração deste trabalho.

Aos meus colegas de laboratório de Psicologia Evolutiva, pelas sugestões e comentários que fizeram avançar e melhorar o meu trabalho. Em particular, quero agradecer também à Soraia pela ajuda e colaboração no projeto e a todos os casais que se disponibilizaram a participar neste estudo.

À Daniela, à Filipa e à Ana por toda a experiência académica partilhada desde o meu primeiro dia em Braga e por se tornaram indispensáveis, amigas e companheiras ao longo destes cinco anos.

À minha amiga Márcia pela amizade, pelos momentos de convívio, partilha e pelo encorajamento mútuo face às adversidades.

À minha melhor amiga Diana, pela amizade, presença e apoio incondicional em todas as fases importantes da minha vida.

Ao Diogo, por todos os momentos de carinho e partilha. Pela ajuda nos momentos mais difíceis e por me apoiares inteiramente, mas sobretudo por acreditares em mim! Obrigada por teres surgido na minha vida e permanecido ao meu lado em todos os momentos.

Aos meus avós, por serem um exemplo na minha vida e por valorizarem cada conquista.

Aos meus pais e irmão, o meu mais profundo e especial agradecimento pelo apoio e amor incondicional, pelas conversas e incentivo permanente, pela paciência e pela enorme

(6)

A relação entre a qualidade do relacionamento amoroso e a memória autobiográfica do casal

Resumo

O principal objetivo do presente estudo foi investigar, pela primeira vez, a relação entre a qualidade percebida do relacionamento amoroso e a memória autobiográfica do casal utilizando uma metodologia quantitativa e qualitativa. Pretendeu-se também investigar diferenças de sexo e idade em termos de qualidade do relacionamento e memória

autobiográfica do casal. Foram realizados dois estudos. No Estudo 1, 682 participantes (498 mulheres e 184 homens) recordaram o primeiro beijo com o atual (ou último) parceiro, e completaram o Memory Quality Questionnaire, a fim de o traduzir e validar para a população Portuguesa. O Estudo 2, foi constituído por uma amostra de 50 casais heterossexuais e

consistiu numa fase individual e numa fase de interação. Na fase individual foram recolhidos dados sociodemográficos, juntamente com informações sobre a qualidade do relacionamento e sintomas psicopatológicos. Os participantes foram também convidados a recordar e avaliar duas memórias autobiográficas do seu relacionamento atual. Na fase de interação, cada casal foi convidado a recordar essas memórias em conjunto. As respostas foram registadas sob a forma de áudio e vídeo e, posteriormente, codificadas. Os resultados mostraram que a qualidade percebida do relacionamento amoroso está positivamente correlacionada com a qualidade da memória autobiográfica do casal.

Palavras-chave: qualidade do relacionamento, memória autobiográfica do casal,

(7)

The relationship between the quality of the romantic relationship and the couple’s autobiographical memory

Abstract

The main aim of the present study was to investigate, for the first time, the relationship between the perceived quality of the romantic relationship and the couple’s autobiographical memory using a quantitative and a qualitative methodology. It was intended to also

investigate sex and age differences in terms of quality of the relationship and the couple’s autobiographical memory. Two studies were conducted. In Study 1, 682 participants (498 women and 184 men) recalled their first kiss with their current (or last) partner, and completed the Memory Quality Questionnaire, in order to translate and validate this

questionnaire to the Portuguese population. Study 2 comprised a sample of 50 heterosexual couples and consisted of an individual and an interaction phase. In the individual phase sociodemographic data were collected, along with information on the quality of the relationship and psychopathological symptoms. Participants were also asked to recall and evaluate two autobiographical memories of their current relationship. In the interaction phase, each couple was invited to remember these memories together. Responses were recorded in the form of audio and video and then coded. Results showed that the perceived quality of the romantic relationship is positively correlated with the quality of couple’s autobiographical memory.

Keywords: romantic relationship quality, couple’s autobiographical memory, sex

(8)

Introdução

A memória autobiográfica (MA) refere-se a episódios, específicos e pessoais, de experiências passadas (Conway & Williams, 2008) e permite a reexperienciação de situações que, normalmente, envolvem um contexto emocional rico (Talarico, LaBar, & Rubin, 2004). Apresenta como características primordiais a sua representação visual, narrativa verbal, crença de que o episódio foi vivido pelo indivíduo e que a sua recordação é um relato verídico do acontecimento original (Barclay, 1999; Barclay & Smith, 1993; Bruner & Feldman, 1999; Nelson & Fivush, 2004; Pillemer, 1998; Rubin, 1999).

No que concerne às propostas em torno das funções da MA, vários autores consideram habitualmente a existência de três âmbitos preponderantes, nomeadamente, as funções do self, diretivas e sociais (Bluck, 2003; Conway, 2003; Philippe, Koestner, & Lekes, 2013). A função do self permite promover o sentido de coerência e continuidade individual ao longo do tempo, o seu desenvolvimento (Conway, Singer, & Tagini, 2004) e autoproteção (Wilson & Ross, 2003). Por outro lado, a função diretiva, definida por Bluck (2003) como a recordação ao nível do desempenho do indivíduo em situações passadas, permite não só auxiliar na resolução de problemas e direcionar o comportamento, como também reinterpretar e retirar significado desse acontecimento de vida. A função social contribui para o desenvolvimento e manutenção da intimidade nas relações através do uso de memórias passadas nas conversas com os outros, na medida em que a partilha de experiências pessoais aproxima e gera identificação e empatia entre os pares (Alea & Bluck, 2003).

A investigação sobre a qualidade da MA tem encontrado várias características que estão frequentemente associadas a uma melhor recordação, nomeadamente, o significado pessoal, a emocionalidade, a vividez e a frequência de repetição (e.g., Alea & Bluck, 2007; Anderson, Cohen, & Taylor, 2000; Bluck & Li, 2001; Grysman & Hudson, 2013;Thomsen & Berntsen, 2003).

Contudo, ao longo do tempo, o conteúdo mnésico torna-se suscetível à omissão de alguns detalhes e à inserção de dados novos, inventados ou imaginados (Rubin, Schrauf, & Greenberg, 2004; Wagenaar, 1986). Assim, quanto mais recente é o acontecimento recordado, mais precisos são também os seus detalhes, e quanto mais remota é a vivência passada, mais vulnerável é à inclusão de informações não verídicas no momento da sua recuperação. Outros autores acrescentam, ainda, que a fiabilidade da MA depende do significado pessoal

(Comblain, D’Argembeau, & van der Linden, 2005; Reisberg & Heuer, 2004; St. Jacques & Levine, 2007; Talarico et al., 2004) e da intensidade emocional (Christianson & Safer, 1995;

(9)

Talarico & Rubin, 2007) associados à experiência passada. Nesta perspetiva, os indivíduos tendem a recordar com maior vivacidade acontecimentos emocionalmente intensos do que acontecimentos de caráter neutro (Brown & Kulik, 1977). Consequentemente, o acesso a memórias emocionalmente intensas proporciona uma melhor recuperação de pormenores do tipo sensorial e contextual, tornando a narrativa mais coerente e mais vívida (Comblain et al., 2005).

Em relação à idade, a investigação sugere que parecem existir alterações nas

características da MA que resultam do processo de envelhecimento (Baddeley, 1999). Alguns estudos sustentam que os adultos idosos apresentam memórias com características

semelhantes às memórias dos adultos e jovens adultos em termos de vivacidade e

emocionalidade (e.g., Bluck, Levine, & Laulhere, 1999; Cohen & Faulkner, 1988). Porém, outros estudos defendem que as memórias dos adultos idosos tendem a ser menos vívidas (Singer, Rexhaj, & Baddeley, 2007) e menos emocionais (Cohen, Conway, & Maylor, 1994; Singer et al., 2007) do que as memórias dos jovens adultos. Alguns autores propuseram que, associado ao envelhecimento dos indivíduos, ocorre a diminuição da recordação de

informação episódica, tendencialmente mais emocional, que tende a ser compensada pelo aumento de informação semântica, tendencialmente mais neutra (e.g., Piolino et al., 2006).

Diversos estudos têm referenciado o sexo como uma outra variável relevante. Alguns autores referem que os homens e as mulheres tendem a recordar de forma diferente os acontecimentos de vida, sendo que as mulheres apresentam MAs mais específicas, vívidas e emocionais (Davis, 1999; Pillemer, Wink, DiDonato, & Sanborn, 2003), enquanto que os homens tendem a recordar informações mais factuais (Schulkind, Schoppel, & Scheiderer, 2012). Porém, nem todos os estudos encontraram diferenças de género na recordação (e.g., Bauer, McAdams, & Sakaeda, 2005; Rubin, Schulkind, & Rahhal, 1999; Talarico et al., 2004).

Memória autobiográfica nos relacionamentos amorosos

Diversos investigadores têm vindo a dedicar-se à investigação sobre a MA nos relacionamentos amorosos (e.g., Alea & Vick, 2010; Drivdahl & Hyman, 2014; Frye & Karney, 2004; Halford, Keefer, & Osgarby, 2002; Karney & Coombs, 2000; Osgarby & Halford, 2013; Pasupathi, Lucas, & Coombs, 2002; Philippe et al., 2013). Por exemplo, Alea e Bluck (2007) constataram que a recordação de MAs positivas sobre o relacionamento amoroso (e.g., noite romântica) produziam um aumento da intimidade do casal,

(10)

principalmente nas mulheres. Da mesma forma, Bazzini, Stack, Martincin e Davis (2007) encontraram evidências de que os casais, ao recordarem em conjunto memórias positivas sobre o seu relacionamento, relatavam aumentos subsequentes dos níveis de satisfação no relacionamento.

De acordo com vários estudos, os níveis de satisfação do casal com o relacionamento amoroso podem influenciar o julgamento da valência dos comportamentos do parceiro ao longo das interações (e.g., Bradbury & Fincham, 1987; Halford et al., 2002; Weiss, 1980). Por exemplo, Weiss (1980) argumentou que os casais mais satisfeitos com a sua relação tendem a percecionar os comportamentos dos parceiros de forma mais positiva do que os casais menos satisfeitos. Analogamente, Halford e os seus colaboradores (2002) verificaram – através da análise da taxa de comentários, positivos e negativos, de registos diários sobre as interações do casal ao longo de uma semana – que os indivíduos menos satisfeitos com o seu

relacionamento percecionavam e avaliavam as interações do parceiro de forma mais negativa do que a situação real.

Existe uma preocupação crescente em compreender o valor adaptativo da recordação do passado (e.g. Cohen, 1998; Neisser, 1978). Por exemplo, a recordação de MAs de um relacionamento amoroso atual permitem compreender o processo e desenvolvimento da relação (Philippe et al., 2013) e contribuem para a forma como os casais perspetivam as mudanças que podem ocorrer no futuro (Frey & Karney, 2004). Vários estudos sobre a função social da MA têm encontrado evidências de que as características da MA (e.g., significado pessoal) podem predizer a satisfação conjugal (Alea & Vick, 2010) e até mesmo promover a intimidade nos relacionamentos (Alea & Bluck, 2007). Por exemplo, Alea e Vick (2010), pretenderam avaliar a qualidade de memórias designadas por relationship-defining memories (e.g., primeiro encontro com o parceiro amoroso) e a satisfação conjugal ao longo da vida adulta. Para isso, homens e mulheres de diferentes faixas etárias avaliaram a sua satisfação conjugal e descreveram as suas memórias avaliando, posteriormente, a sua qualidade. Os autores encontraram evidências de que a qualidade dessas memórias era preditora da

satisfação conjugal. Os resultados foram discutidos no contexto da função social da MA, na medida em que estas memórias podem influenciar a satisfação conjugal em toda a vida adulta.

O nosso estudo

A literatura tem vindo a mostrar que a partilha de MAs pode exercer um papel relevante nos relacionamentos amorosos, quer ao nível da satisfação conjugal (Alea & Vick,

(11)

2010), quer na promoção da intimidade nos relacionamentos (Alea & Bluck, 2007). Os estudos existentes sobre esta temática carecem de investigação sobre a forma como os casais recordam as MAs do relacionamento, tendo em conta a qualidade desse relacionamento no momento da recordação. Porém, à exceção de dois estudos (Bazzini et al., 2007; Halford et al., 2002), a grande maioria dirige as suas investigações para apenas um dos membros da díade (e.g., Alea & Bluck, 2007; Alea & Vick, 2010; Drivdahl & Hyman, 2014; Phillipe et al., 2012), conduzindo ao acesso a diferentes MAs sobre o relacionamento. Estas memórias podem variar, não só no seu conteúdo e contexto das experiências vivenciadas, mas também nas características da própria memória. Cohen (1998), perante a inconsistência de resultados ao nível das diferenças de idade (e.g., Cohen et al., 1994; Cohen & Faulkner, 1988)

argumenta, ainda, que as MAs ao serem auto selecionadas pelos indivíduos tendem a ser qualitativamente mais ricas do que as MAs serem sugeridas pelo experimentador. Estas lacunas na literatura poderão explicar a inconsistência de resultados encontrados nos estudos de MAs sobre o relacionamento amoroso. Assim, a presente investigação tem como caráter inovador a utilização de casais como amostra em estudo, bem como a integração de métodos quantitativos e qualitativos, a fim de investigar a relação entre a qualidade percebida do relacionamento e a qualidade das MAs do casal.

Contudo, não existem instrumentos na literatura validados para a população

Portuguesa que permitam avaliar a qualidade da MA. Neste sentido, no Estudo 1 foi traduzido e validado um questionário que avalia a qualidade da memória. O Estudo 1 é importante uma vez que só é possível estudar a relação entre a qualidade do relacionamento amoroso e a qualidade da MA com um instrumento confiável que permita aceder e avaliar as diferentes características que a constituem.

As nossas hipóteses são: i) indivíduos que percecionam maior qualidade na sua relação amorosa, apresentam também maior qualidade das MAs do seu relacionamento amoroso; ii) indivíduos do sexo feminino recordam as MAs com maior qualidade do que os do sexo masculino; e iii) indivíduos mais velhos recordam as MAs sobre o relacionamento amoroso com menor qualidade do que os mais novos.

Estudo 1

O principal objetivo do Estudo 1 foi traduzir e validar um questionário para a população Portuguesa - Memory Quality Questionnaire (MQQ), para que pudesse ser

(12)

do relacionamento amoroso e a qualidade das MAs sobre o relacionamento amoroso, bem como explorar possíveis diferenças entre os sexos, idade e estado relacional.

Método

Participantes.

A amostra inicial incluiu 1328 participantes. Após a exclusão de questionários com menos de 50% de respostas concluídas (n = 646), a nossa amostra ficou reduzida a 682 participantes. Destes, 498 eram do sexo feminino (73,02%) e 184 do sexo masculino

(26,98%). A média de idades dos participantes foi de 24,19 anos (DP = 6,16; intervalo: 18 a 60 anos). No geral, os homens (M = 25,44; DP = 7,39) eram mais velhos do que as mulheres (M = 23,73; DP = 5,59), sendo esta uma diferença estatisticamente significativa, t(255,91) = 2,82, p < 0,05. Em termos de nacionalidade, 657 (96,33%) eram Portugueses, 18 (2,64%) Brasileiros e os restantes sete (1,03%) de nacionalidade Cabo-verdiana, Canadense, Russa, Italiana, Francesa, Tonganesa e Moçambicana. Em relação à orientação sexual, 623 (91,35%) identificaram-se como heterossexuais, 30 (4,40%) como homossexuais e 29 (4,25%) como bissexuais. Relativamente ao estado relacional, 490 (71,84%) referiram estar num

relacionamento amoroso, os restantes 192 (28,15%) não estavam envolvidos num relacionamento no momento da resposta ao questionário, mas tiveram pelo menos um relacionamento no passado.

Todos os participantes aceitaram voluntariamente participar no estudo, não receberam compensação monetária e foram recrutados através de e-mails institucionais e redes sociais (e.g., Facebook).

Medidas.

Informação sociodemográfica. Para a recolha de informação sociodemográfica foram

apresentadas questões sobre a idade, sexo, nacionalidade, localização, orientação sexual, nível socioeconómico, habilitações literárias, número de filhos, estado relacional (i.e., se estavam envolvidos ou não num relacionamento amoroso) e duração do relacionamento amoroso.

Qualidade do relacionamento amoroso. A Escala da Perceção da Qualidade da

Relação (EPQR: Fletcher, Simpson, & Thomas, 2000; versão Portuguesa de Silva, Saraiva, Albuquerque, & Arantes, aceite) permite avaliar a qualidade do relacionamento. O

(13)

por seis componentes diferentes sobre a qualidade percebida da relação: satisfação com a relação, compromisso, intimidade, confiança, paixão e amor. Cada item é respondido utilizando uma escala de Likert de 7 pontos, variando de 1 (nada) a 7 (extremamente). Os resultados são calculados através da média da pontuação total de todos os itens, sendo que pontuações mais altas sugerem uma maior qualidade percebida do relacionamento. Esta escala apresenta uma boa consistência interna, tanto na versão original (α = 0,88, estudo 1; α = 0,85, estudo 2) como na versão portuguesa (α = 0,97).

MA sobre o relacionamento amoroso. Foi pedido aos participantes que recordassem e

descrevessem uma MA sobre o relacionamento amoroso, mais precisamente, o momento do primeiro beijo com o atual parceiro amoroso – ou do último parceiro, para aqueles que não estavam envolvidos num relacionamento amoroso. Os participantes receberam instruções (baseadas em Alea & Bluck, 2007; Alea & Vick, 2010 e Bluck et al., 1999) para referirem, especificamente: i) o que aconteceu; ii) como aconteceu; iii) onde estavam; iv) quem estava no local; v) quando aconteceu (dia/mês/ano); vi) que idade tinham; e vii) a importância do acontecimento.

Qualidade da memória. O Memory Quality Questionnaire (MQQ: Bluck & Liao, em

prep; adaptado de Bluck, Levine, & Laurelhe, 1999) designado a partir daqui por

Questionário da Qualidade da Memória (QQM), foi desenvolvido para avaliar a qualidade da memória. Desde o seu desenvolvimento, este instrumento tem sido adaptado por diversos autores (e.g., Alea & Bluck, 2007) consoante os objetivos dos seus estudos. O QQM é constituído por 11 itens (e.g., “Quão vívida (clara na sua mente) está a informação que

partilhou?”) sendo cada item respondido através de uma escala de Likert de 5 pontos,

variando de 1 (nada) a 5 (extremamente). O questionário inclui ainda dois itens adicionais de resposta livre relativamente à data em que ocorreu o evento recordado (e.g., "Em que mês

ocorreu o evento?").

Na sequência de diversas comunicações pessoais com os autores foi-nos indicado que o estudo de Bluck e Liao (em prep) sugere uma estrutura de três fatores para a QQM. Porém, o estudo ainda se encontra em desenvolvimento, pelo que ainda não foi possível ajustar um modelo aos dados.

Procedimento

(14)

a sua tradução e validação. Seguidamente, efetuaram-se os procedimentos de tradução e retroversão utilizando o procedimento padrão para adaptar escalas (Geisinger, 1994). Os itens da versão original foram traduzidos por dois investigadores bilingues e, consequentemente, procedeu-se a uma discussão item a item sobre a sua adequação linguística. Efetuou-se depois a retroversão para a língua inglesa, trabalho este realizado por uma tradutora-especialista, comparando de seguida a versão inglesa original com as versões inglesas retraduzidas. Por fim, discutiu-se com os membros do grupo de investigação em psicologia evolutiva sobre a adequação de cada item à realidade linguística portuguesa e à temática da qualidade da memória.

O questionário foi administrado via online e as respostas foram registadas a partir do

software Qualtrics (v.16). Os participantes foram informados acerca dos objetivos da investigação e foi garantida a confidencialidade das suas respostas. Inicialmente foram recolhidas informações sociodemográficas e sobre a qualidade do relacionamento.

Posteriormente foi-lhes pedido que recordassem, durante cinco minutos, uma MA do primeiro beijo. Por fim preencheram o QQM.

Análise de Dados

Os dados recolhidos foram exportados para Excel e posteriormente importados para o

software estatístico Statistical Package for Social Sciences (SPSS; v. 23). As análises com

recurso ao SPSS incluíram: i) correlações de Pearson, para examinar as relações entre as diferentes variáveis em estudo; ii) testes t, para examinar as diferenças de sexo e diferenças ao nível do estado relacional; e iii) análises fatoriais exploratórias para validar o questionário (QQM). Para realizar análises fatoriais confirmatórias foi utilizado o software AMOS (v. 23), dando origem a quatro índices de ajuste do modelo, o Comparative Fit Index (CFI), o Root

Mean Square Error of Approximation (RMSEA), o Tucker-Lewis Index (TLI) e o Normed Fit Index (NFI). Para todos os testes de significância foi utilizado o critério de p < 0,05.

Resultados e Discussão

Os resultados do Estudo 1 envolveram análises da sensibilidade, da validade de constructo, da fidelidade, bem como informações descritivas e correlações entre as variáveis em estudo. Além disso, integrou análises das variáveis sociodemográficas, mais precisamente, diferenças entre os sexos e estado relacional.

(15)

Item

Fatores

1 2 3

V1. Até que ponto é importante para si a informação que

partilhou? 0,69

V2. Quanto é que esta informação influenciou a pessoa que é hoje? 0,56 V3. Quão vívida (clara na sua mente) está a informação que

partilhou? 0,70

V4. Quão positiva do ponto de vista emocional foi para si a

informação que partilhou? 0,81

V5. Durante a realização da tarefa, até que ponto estava a reviver o

acontecimento que experienciou? 0,62

V6. Por vezes as pessoas sabem que algo aconteceu, mas não são capazes de realmente se recordarem da situação. Quando pensa na experiência, quanto é que realmente se lembra dela acontecer? (versus saber apenas que ela aconteceu)?

0,61

V7. Quão negativa do ponto de vista emocional foi para si a

informação que partilhou? 0,45

V8. Durante a realização da tarefa e pensando na informação que

partilhou, até que ponto se sentiu ansioso(a)? 0,81 V9. Quão ansioso(a) se sentiu durante o acontecimento partilhado? 0,84

V10. Com que frequência pensa sobre a informação que partilhou? 0,86 V11. Com que frequência fala sobre a informação que partilhou? 0,80

Análise da sensibilidade e validade de constructo

Tendo em conta que o QQM não tinha sido ainda traduzido e validado para a

população Portuguesa, decidiu-se proceder à análise das suas propriedades psicométricas. A sensibilidade dos resultados foi determinada através de tabelas de frequência e distribuições dos dados que revelaram uma boa sensibilidade para todos os itens do questionário.

Para avaliar a validade de constructo realizou-se uma análise fatorial de componentes principais com rotação Varimax. Para isso, foi confirmada inicialmente a fatorabilidade dos dados através do teste de esfericidade de Bartlett (p < 0,001) e do teste de Kaiser-Meyer-Olkin (0,87).

A partir da análise fatorial exploratória foram extraídos três fatores, que explicam 65,05% da variância, tal como foi sugerido nas análises preliminares realizadas por Bluck e Liao (em prep). O fator 1 explica 30,39% da variância e integra os itens entre V1 e V6. O fator 2 explica 19,10% da variância e integra os itens entre V7 e V9. O fator 3 explica 15,56% da variância e integra os itens V10 e V11. A Tabela 1 apresenta os valores de saturação para a estrutura de três fatores. Todos os itens apresentaram valores de saturação ≥ 0,45.

Tabela 1

Valores de saturação para a estrutura de três fatores: Fator 1 = Reexperiência; Fator 2 = Emocionalidade negativa; Fator 3 = Frequência de repetição

(16)

RELACIONAMENTO AMOROSO E MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA 14

A análise fatorial confirmatória (Figura 1) mostrou um bom ajuste do modelo teórico de três fatores para o QQM (χ2 = 208,02; CFI = 0,94; NFI = 0,93; TLI = 0,92; RMSEA =

0,08).

Figura 1. Modelo teórico.

Item 1 2 3

V1. Até que ponto é importante para si a informação que

partilhou? 0,69

V2. Quanto é que esta informação influenciou a pessoa que é hoje? 0,56 V3. Quão vívida (clara na sua mente) está a informação que

partilhou? 0,70

V4. Quão positiva do ponto de vista emocional foi para si a

informação que partilhou? 0,81

V5. Durante a realização da tarefa, até que ponto estava a reviver o

acontecimento que experienciou? 0,62

V6. Por vezes as pessoas sabem que algo aconteceu, mas não são capazes de realmente se recordarem da situação. Quando pensa na experiência, quanto é que realmente se lembra dela acontecer? (versus saber apenas que ela aconteceu)?

0,61

V7. Quão negativa do ponto de vista emocional foi para si a

informação que partilhou? 0,45

V8. Durante a realização da tarefa e pensando na informação que

partilhou, até que ponto se sentiu ansioso(a)? 0,81 V9. Quão ansioso(a) se sentiu durante o acontecimento partilhado? 0,84

V10. Com que frequência pensa sobre a informação que partilhou? 0,86 V11. Com que frequência fala sobre a informação que partilhou? 0,80

(17)

Análise de fidelidade

Em termos de fidelidade, o cálculo do Alpha de Cronbach relevou valores elevados de consistência interna (α = 0,83). Quando se procedeu à remoção de qualquer um dos itens, o valor de Alpha de Cronbach manteve-se constante, salientando a importância de todos os itens para o instrumento.

Análises correlacionais

A fim de analisar a relação entre a qualidade do relacionamento e qualidade da MA, bem como outras variáveis em estudo, foram realizadas correlações de Pearson (ver Tabela 2).

Os dados reportados revelaram que a qualidade do relacionamento está positivamente correlacionada com a qualidade da MA, em termos de reexperiência e frequência de repetição (r = 0,380, p < 0,01, e r = 0,343, p < 0,01, respetivamente). Os resultados mostraram ainda uma correlação positiva significativa entre a duração do relacionamento e a qualidade do relacionamento (r = 0,126, p < 0,01), indicando que os indivíduos com relacionamentos mais duradouros apresentaram maior qualidade do relacionamento. Porém, verificou-se uma correlação negativa significativa entre a qualidade do relacionamento e a idade (r = -0,097, p < 0,05), demonstrando que indivíduos mais velhos percecionaram menor qualidade do relacionamento do que os indivíduos mais novos.

Relativamente à relação entre as características da memória, verificou-se uma

correlação positiva significativa entre a reexperiência e a emocionalidade negativa (r = 0,207,

p < 0,01), bem como entre a reexperiência e a frequência de repetição (r = 0,592, p < 0,01),

indicando que os indivíduos com maior reexperiência do acontecimento real, tendem a apresentar maior emocionalidade negativa e maior frequência de repetição. Além disso, verificou-se uma correlação positiva significativa entre a frequência de repetição e a

emocionalidade negativa (r = 0,164, p < 0,01), indicando que os indivíduos que classificaram a memória com maior emocionalidade negativa tendem a falar e a pensar com maior

frequência nessa memória.

Em relação à idade, foi encontrada uma correlação negativa significativa com a reexperiência (r = -0,128, p < 0,01), com a emocionalidade negativa (e r = -0,220, p < 0,01) e com a frequência de repetição (r = -0,131, p < 0,01), indicando que os indivíduos mais velhos tendem a apresentar menor reexperiência do acontecimento real, menor emocionalidade negativa e tendem a falar e pensar com menor frequência nessa memória. Verificou-se ainda uma correlação negativa significativa entre a emocionalidade negativa e a duração do

(18)

relacionamento (r = -0,119, p < 0,01), indicando que os indivíduos com relacionamentos mais longos tendem a recordar as memórias com menor emocionalidade negativa,

comparativamente com os indivíduos com relacionamentos mais curtos. Os resultados mostraram, ainda, que a frequência de repetição se encontra negativamente correlacionada com o tempo decorrido desde o primeiro beijo (r = -0,154, p < 0,01), indicando que os indivíduos com memórias mais antigas sobre o primeiro beijo tendem a falar e pensar menos sobre esses episódios.

No que concerne à duração do relacionamento amoroso, verificou-se uma correlação positiva significativa com a idade (r = 0,569, p < 0,01) e com o tempo decorrido desde o primeiro beijo (r = 0,551, p < 0,01), indicando que os indivíduos mais velhos tendem a estar envolvidos em relacionamentos mais longos e apresentam MAs mais antigas do que os indivíduos mais novos. As restantes correlações não são estatisticamente significativas.

Diferenças entre os sexos

De modo a explorar a existência de eventuais diferenças entre homens e mulheres em termos de qualidade do relacionamento e qualidade da MA sobre o relacionamento amoroso, foram realizados testes t para amostras independentes (ver Figura 2).

Tabela 2

Coeficientes de correlação de Pearson entre EPQR, QQM (reexperiência, emocionalidade negativa e frequência de repetição) e variáveis sociodemográficas: Estudo 1

Nota. **p < 0,01; *p < 0,05.

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

1. Idade -

2. Duração do relacionamento 0,57** -

3. EPQR -0,10* 0,13** -

4. Tempo desde o primeiro

beijo 0,55** 0,81** 0,06 -

5. Reexperiência -0,13** -0,01 0,45** -0,07 -

6. Emocionalidade negativa -0,22** -0,12** 0,04 -0,05 0,21** -

(19)

0 1 2 3 4 5 6 7

EPQR Reexperiência Emocionalidade negativa Frequência de repetição Pontua çã o Homens Mulheres ***

Figura 2. As diferenças entre os sexos para EPQR e QQM (reexperiência,

emocionalidade negativa e frequência de repetição). ***

***

Os resultados revelaram que as mulheres percecionam maior qualidade do

relacionamento t(282,77) = -3,90, p < 0,001, maior reexperiência t(280,84) = -4,32, p < 0,001 e frequência de repetição do que os homens t(668) = -3,83, p < 0,001. Contudo, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas ao nível da emocionalidade negativa entre homens e mulheres.

Diferenças no estado relacional

A fim de analisar se existem diferenças ao nível do estado relacional, foi realizado um teste t para amostras independentes (ver Figura 3). Os resultados revelaram que os indivíduos envolvidos em relacionamentos amorosos percecionaram maior qualidade relacional do que os indivíduos que já não estavam num relacionamento amoroso t(286,57) = 11,77, p < 0,001.

Relativamente à qualidade da MA, verificaram-se diferenças significativas entre os indivíduos que recordaram MAs sobre o relacionamento atual e indivíduos que recordaram MAs sobre o relacionamento passado. Os indivíduos que recordaram MAs sobre o

relacionamento atual evidenciaram maior reexperiência, t(343,89) = 5,55, p < 0,001 e maior frequência de repetição t(375,26) = -3,83, p < 0,001. Porém, não foram encontradas

diferenças significativas ao nível da emocionalidade negativa.

Figura 2. As diferenças entre os sexos para EPQR e QQM (reexperiência, emocionalidade

(20)

Figura 3. As diferenças no estado relacional para EPQR e QQM (reexperiência,

emocionalidade negativa e frequência de repetição).

Estudo 2

O objetivo primordial do Estudo 2 foi analisar a relação entre a qualidade do relacionamento amoroso e a qualidade da MA em casais envolvidos num relacionamento amoroso. Pretendeu-se também explorar diferenças de sexo e idade ao nível da qualidade na relação e qualidade das MAs.

Método

Participantes.

A amostra inicial incluiu 51 casais. Após a exclusão de um casal que mantinha um relacionamento homossexual, a amostra ficou reduzida a 50 casais. Os casais foram recrutados através de e-mails pessoais e redes sociais. O processo de seleção atendeu aos seguintes critérios: (i) estarem num relacionamento amoroso há pelo menos três meses; (ii) estarem atualmente envolvidos num relacionamento heterossexual; e (iii) terem nacionalidade Portuguesa. A média de idades dos participantes foi de 23,43 anos (DP = 6,45; intervalo: 17 a 50 anos). Relativamente ao status de relacionamento 75 (75%) participantes mencionaram que namoravam sem regime de coabitação, 17 (17%) namoravam com regime de coabitação, quatro (4%) estavam numa união de facto e os restantes (4%) estavam casados. A duração

0 1 2 3 4 5 6 7

EPQR Reexperiência Emocionalidade negativa Frequência de repetição P o n tu aç ão Num relacionamento Sem relacionamento *** *** ***

(21)

média dos relacionamentos amorosos era de 45,89 meses (DP = 55,89). Os participantes aceitaram voluntariamente participar no estudo e não receberam compensação monetária.

Medidas

Informação sociodemográfica. Para a recolha de informação sociodemográfica, foram

apresentadas questões sobre a idade, sexo, nacionalidade, localização, orientação sexual, nível socioeconómico, habilitações literárias, número de filhos, status e duração do relacionamento amoroso.

Sintomas Psicopatológicos. O Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI:

Derogatis, 1982; versão Portuguesa de Canavarro, 1999) consiste numa medida de autorrelato e inclui 53 itens. Os itens são classificados numa escala tipo Likert de 5 pontos, variando entre 0 (de modo nenhum) a 4 (extremamente), através da qual o indivíduo avalia o grau em que cada problema o afetou na última semana. Este instrumento avalia nove dimensões sintomáticas (depressão, somatização, hostilidade, sensibilidade interpessoal, ansiedade, ideação paranoide, obsessões e compulsões, ansiedade fóbica e psicoticismo). Além disso, fornece três índices globais que constituem avaliações sumárias de perturbações emocionais, nomeadamente o Índice Geral de Sintomas (IGS), o Índice de Sintomas Positivos (ISP) e o Total Sintomas Positivos (TSP). Os estudos psicométricos efetuados na versão Portuguesa (Canavarro, 1999) revelaram níveis adequados de consistência interna para as nove

subescalas, com os valores de Alfa de Cronbach a variar entre 0,62 (ansiedade fóbica) e 0,80 (somatização). Foram também sugeridos pontos de corte clínicos para distinguir entre a presença e a ausência de sintomatologia nas nove subescalas (somatização ≥ 0,6, obsessões e compulsões ≥ 1,6, sensibilidade interpessoal ≥ 1,1, depressão ≥ 1,2, ansiedade ≥ 1,3,

hostilidade ≥ 1,1, ansiedade fóbica ≥ 0,6, ideação paranoide ≥ 1,3, psicoticismo ≥ 0,9) e no total de sintomatologia (TSP ≥ 27).

Qualidade do relacionamento. Recorreu-se ao uso da EPQR anteriormente descrita

(ver Estudo 1).

MAs sobre o relacionamento amoroso. Os participantes dispuseram de seis minutos

para recordar e falar do momento do primeiro beijo (três minutos) e da primeira relação sexual (três minutos) com o atual parceiro amoroso, sob as mesmas orientações do Estudo 1.

Qualidade da memória. Recorreu-se à utilização do QQM anteriormente descrito (ver

(22)

Procedimento

O Estudo 2 foi composto por uma fase individual e uma fase de interação entre o casal. Na fase individual, cada parceiro dirigiu-se, separadamente, para um local com ambiente controlado, livre de distratores, garantindo a confidencialidade das suas respostas. Começaram por preencher o consentimento informado, onde estava descrito o objetivo do estudo, a metodologia, a importância da sua colaboração e a garantia de confidencialidade. De seguida, foram recolhidas informações sociodemográficas, preencheram a EPQR e o BSI. A ordem de apresentação dos instrumentos foi contrabalanceada. Após o preenchimento destas medidas, descreveram em voz alta a MA do primeiro beijo do casal e, assim que atingiam o tempo limite, avaliavam a qualidade da memória através do preenchimento do QQM. Este procedimento foi comum às duas MAs. A ordem de apresentação foi contrabalanceada e as respostas foram gravadas.

Na fase de interação, cada casal foi convidado a recordar em conjunto as memórias anteriormente recordadas, sob as mesmas orientações da fase anterior. A interação do casal foi gravada sob a forma de áudio e vídeo.

Análise de Dados

Após a recolha, os dados foram exportados para Excel e analisados por meio de metodologias quantitativas e qualitativas. As análises quantitativas foram conduzidas através do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS; v. 23) e incluíram: i) correlações de Pearson, para examinar as relações entre as diferentes variáveis em estudo e ii) testes t, para verificar diferenças entre os sexos. Para todos os testes de significância foi utilizado o critério de p < 0,05.

O conteúdo das gravações foi transcrito na íntegra e posteriormente codificado. A sua análise foi conduzida por meio de metodologias qualitativas de codificação dos dados

utilizando o software informático Nvivo (v.11). A técnica utilizada no processo de análise de dados foi a análise de conteúdo, de caráter indutivo-dedutivo, que assenta em três etapas fundamentais: i) a pré-análise, ii) a exploração do material e iii) o tratamento dos resultados, inferência e interpretação (Bardin, 1977). Na primeira etapa foram definidas as hipóteses e objetivos do estudo, de forma a complementar os dados obtidos através da metodologia quantitativa. Por conseguinte, e assentando nos pressupostos subjacentes na literatura (Bardin, 1977), foi realizada uma leitura flutuante do conteúdo das narrativas. Na etapa seguinte, na ausência de uma grelha prévia que permitisse delimitar a análise dos dados e tendo em

(23)

consideração as sugestões provenientes da literatura (Alea & Bluck, 2007; Thomsen & Berntsen, 2003), foram estabelecidas a priori três categorias, entre as quais, a vivacidade (detalhe), a emocionalidade e o significado pessoal. Porém, a partir da leitura flutuante emergiram outras categorias: a nitidez (grau de certeza), o caráter incomum, o impacto na

história do casal e o tempo desde o acontecimento. A formulação das categorias seguiu os

princípios da exclusão mútua, exaustividade, homogeneidade, pertinência e objetividade (Chadwick, Bahar & Albrecht, 1984).

Findo este processo de clarificação e elaboração de categorias, codificou-se as

narrativas, assumindo a frase como unidade de registo. A codificação foi realizada a partir de marcadores semânticos, permitindo reunir todas as passagens que se relacionavam com cada categoria em particular e possibilitando uma compreensão mais abrangente do fenómeno em estudo. Posteriormente, um dos autores do estudo codificou a totalidade das transcrições e outro investigador codificou cerca de 30% do conteúdo. O processo de acordo entre

investigadores foi realizado por dois investigadores independentes que, ao efetuarem a tarefa de codificação, concordaram em cerca de 76% das classificações (k = 0,76), o que de acordo com Fleiss (1981) sinaliza um acordo forte que está para além do acaso. As diferenças foram resolvidas por discussão. Após o processo de categorização e codificação das narrativas, seguiu-se a terceira e última etapa, envolvendo o tratamento dos dados, inferência e interpretação dos resultados.

Resultados e Discussão

A primeira secção dos resultados envolve análises utilizando uma metodologia quantitativa e integra a amostra na sua totalidade, dado que nenhum indivíduo apresentou sintomatologia psicopatológica. A segunda secção envolve a análise de conteúdo executada a partir das MAs sobre o relacionamento amoroso.

Análise quantitativa

Análises correlacionais.

A fim de analisar a relação entre a qualidade do relacionamento e qualidade das MAs do casal, foram realizadas correlações de Pearson. Os resultados são apresentados na Tabela 3 e foram discutidos apenas os dados estatisticamente significativos.

(24)

MA sobre o primeiro beijo.

Tal como no Estudo 1, emergiu uma correlação positiva significativa entre a qualidade relacionamento e a qualidade da MA, em termos de reexperiência e frequência de repetição (r = 0,757, p < 0,01, e r = 0,340, p < 0,01, respetivamente).

Relativamente à relação entre as variáveis da qualidade da memória, foi encontrada uma correlação positiva significativa entre a reexperiência e a frequência de repetição (r = 0,417, p < 0,01), indicando que indivíduos com maior reexperiência, tendem a falar e pensar com maior frequência nessas memórias. Foi também encontrada uma correlação negativa entre a idade e a reexperiência, indicando que indivíduos mais velhos apresentam menor reexperiência do acontecimento real (r = -0,294, p < 0,01). Os resultados mostraram, ainda, que a frequência de repetição e a reexperiência se encontraram negativamente correlacionadas com o tempo decorrido desde o primeiro beijo (r = -0,205, p < 0,05, e r = -0,262, p < 0,01, respetivamente), indicando que indivíduos com memórias mais antigas sobre o primeiro beijo tendem a falar e pensar menos sobre essas memórias.

No que concerne à idade, verificou-se uma correlação positiva significativa com a duração do relacionamento e com o tempo decorrido desde o primeiro beijo (r = 0,642, p < 0,01, e r = 0,627, p < 0,01), indicando que indivíduos mais velhos tendem a estar envolvidos em relacionamentos mais longos e apresentam MAs sobre o primeiro beijo mais antigas.

MA sobre a primeira relação sexual.

Relativamente à MA sobre a primeira relação sexual, verificou-se uma correlação positiva significativa entre a qualidade do relacionamento e a qualidade da MA, em termos de reexperiência (r = 0,712, p < 0,01), emocionalidade negativa (r = 0,294, p < 0,01) e

frequência de repetição (r = 0,441, p < 0,01).

No que diz respeito à relação entre as variáveis da qualidade da memória, foi encontrada uma correlação positiva significativa entre a reexperiência e a frequência de repetição (r = 0,573, p < 0,01), indicando que indivíduos com maior reexperiência do

acontecimento real tendem a falar e pensar com maior frequência nessas memórias. Verificou-se também uma correlação positiva significativa entre a reexperiência e a emocionalidade negativa (r = 0,292, p < 0,01), na medida em que indivíduos com maior reexperiência

reportaram maior emocionalidade negativa. Foi também encontrada uma correlação negativa significativa entre a reexperiência, a idade (r = -0,253, p < 0,05), a emocionalidade negativa (r = -0,254, p < 0,05) e a frequência de repetição (r = -0,269, p < 0,01), pelo que indivíduos

(25)

mais velhos tendem a apresentar menor reexperiência, menor emocionalidade negativa e menor frequência de repetição, comparativamente com os indivíduos mais novos.

Relativamente à duração do relacionamento, verificou-se uma correlação negativa com a reexperiência (r = -0,203, p < 0,05), com a emocionalidade negativa (r = -0,237, p < 0,05) e com a frequência de repetição (r = -0,250, p < 0,05), indicando que os indivíduos com

relacionamentos mais longos, tendem a apresentar menor reexperiência, menor emocionalidade negativa e menor frequência de repetição, comparativamente com os indivíduos com relacionamentos mais curtos.

Diferenças entre os sexos.

A fim de analisar se existem diferenças ao nível do estado relacional foi realizado um teste t para amostras independentes. No entanto, não foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas entre homens e mulheres para nenhuma das variáveis em estudo.

(26)

Nota. **p < 0,01; *p < 0,05. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 1. Idade - 2. Duração do relacionamento 0,64** - 3. EPQR -0,17 -0,16 - Primeiro beijo

4. Tempo desde o primeiro beijo 0,63** 0,89** -0,19 -

5. Reexperiência -0,29** -0,17 0,76** -0,26* -

6. Emocionalidade negativa -0,18 -0,13 0,07 -0,02 0,08 -

7. Frequência de repetição -0,16 -0,16 0,34** -0,21* 0,42** 0,17 - Primeira relação sexual

8. Tempo desde a primeira relação sexual -0,07 -0,08 -0,09 0,06 0,01 0,07 -0,05 -

9. Reexperiência -0,25* -0,20* 0,71** -0,18 0,68** 0,16 0,33** 0,06 -

10. Emocionalidade negativa -0,25* -0,24* 0,29** -0,14 0,36** 0,51** 0,15 0,12 0,29** -

11. Frequência de repetição -0,27** -0,25* 0,44** -0,28** 0,49** 0,23* 0,62** -0,13 0,57** 0,19 -

Tabela 3

Coeficientes de correlação de Pearson entre EPQR, QQM (reexperiência, emocionalidade negativa e frequência de repetição) e variáveis sociodemográficas: Estudo 2

(27)

Análise qualitativa

As matrizes de codificação, geradas a partir da análise de conteúdo, possibilitaram identificar padrões e relações emergentes entre as categorias e dois atributos, nomeadamente o sexo e a qualidade do relacionamento, permitindo estabelecer um número apreciável de inferências. A Tabela 4 representa a síntese de todas as categorias, subcategorias e relações emergentes a partir da quantificação dos dados qualitativos.

A categoria vivacidade apresenta duas subcategorias, mais especificamente, a

subcategoria vívida (e.g., “…lembro-me perfeitamente. Foi muito especial, durante um jantar

romântico em casa dele, houve uma troca de olhares e no fim beijamo-nos…”) e pouco vívida

(e.g., “Foi em casa dela ou na minha que demos o primeiro beijo… e foi isso”). A

codificação das unidades de registo baseou-se no tipo de detalhe das descrições, isto é, foram consideradas descrições vívidas, todas as que apresentavam características contextuais e sensoriais acerca das memórias. Por outro lado, foram consideradas memórias pouco vívidas todas as que continham apenas informação contextual ou factual. Os resultados mostraram que os indivíduos do sexo masculino (85%) e feminino (92%) com elevada qualidade do relacionamento evidenciaram ter memórias mais vívidas do que indivíduos do sexo masculino (45%) e feminino (42%) com baixa qualidade do relacionamento.

Relativamente à categoria significado pessoal, esta contém três subcategorias, nomeadamente, a subcategoria muito relevante (e.g., “foi um momento muito especial para

mim…recordo-o com muito carinho”), relevante (e.g., “posso dizer que foi importante até…”) e pouco relevante (e.g., “…foi um simples beijo”). A codificação foi realizada tendo

em consideração a importância atribuída ao acontecimento. Os dados revelaram que os indivíduos do sexo masculino (71%) e feminino (64%), com maior qualidade do relacionamento, atribuíram maior relevância às MAs sobre o relacionamento do que os indivíduos do sexo masculino (26%) e feminino (28%) com baixa qualidade do

relacionamento.

A categoria emocionalidade associada às memórias, é composta por três

subcategorias, positiva (e.g., “foi maravilhoso”), negativa (e.g., “estava muito nervosa, com

medo que corresse mal”, “Foi embaraçoso, só queria que acabasse.”) e sem carga emocional

significativa (e.g., “foi um beijo como todos os outros que demos na altura”), codificadas através de marcadores semânticos. Ao analisar a relação entre esta categoria e a qualidade do relacionamento, verificou-se que os indivíduos do sexo masculino com elevada qualidade do relacionamento evidenciaram mais emoções positivas (37%) do que indivíduos do sexo

(28)

masculino (8%) com baixa qualidade do relacionamento. Além disso, reportaram menos emoções negativas (6%) do que os indivíduos com menor qualidade do relacionamento (9%). Os restantes reportaram ausência de carga emocional, sendo que esta foi maior no caso dos indivíduos com baixa qualidade do relacionamento (83%). Em contraste, os indivíduos do sexo feminino com elevada qualidade do relacionamento apresentaram mais emoções positivas (51%) do que os indivíduos com baixa qualidade do relacionamento (13%). Apresentaram também mais emoções negativas (15%) do que os indivíduos com menor qualidade do relacionamento (6%). Os restantes indivíduos, reportaram ausência de carga emocional, sendo que esta foi maior no caso dos indivíduos com baixa qualidade do relacionamento (81%).

As categorias nitidez, caráter incomum, impacto na história do casal e tempo desde o

acontecimento emergiram aquando a leitura flutuante das narrativas. Todas as unidades de

registo foram codificadas a partir de marcadores semânticos.

No que concerne à categoria nitidez da memória, existem duas subcategorias: a certeza (e.g., “…lembro-me perfeitamente, foi no dia…”) e a incerteza associada à descrição (e.g.,

“Não me lembro como aconteceu, acho que…”). Os resultados mostraram que os indivíduos

do sexo masculino (63%) e feminino (75%) com elevada qualidade do relacionamento evidenciaram ter maior certeza na descrição das memórias do que indivíduos do sexo masculino (44%) e feminino (52%) com baixa qualidade do relacionamento.

Em relação à categoria caráter incomum dos acontecimentos, subdividiu-se em ocasional (e.g., “…combinamos que iria acontecer no meu aniversário”) e inesperado (e.g.,

“…foi de repente e aconteceu de forma natural”), permitindo aceder a informações acerca do

grau de surpresa do acontecimento. A maioria dos indivíduos do sexo masculino (92%) e feminino (80%) com elevada qualidade do relacionamento referiram que os momentos descritos aconteceram de forma inesperada enquanto que, os restantes reportaram ter sido de forma ocasional. Porém, a maioria dos indivíduos do sexo masculino (83%) e feminino (100%) com baixa qualidade do relacionamento também atribuíram caráter incomum aos acontecimentos.

Relativamente ao tempo desde os acontecimentos, a maioria dos indivíduos do sexo masculino (90%) e feminino (79%) com elevada qualidade do relacionamento reportaram que os momentos descritos aconteceram nos últimos cinco anos. No entanto, o mesmo se

verificou para os indivíduos com baixa qualidade do relacionamento do sexo masculino (71%) e feminino (64%).

(29)

Tabela 4

Categorias decorrentes da análise de conteúdo e síntese dos dados qualitativos: relação entre o sexo, a qualidade das MAs e a qualidade do relacionamento

1Distribuição percentual correspondente ao número de unidades de registo.

Q ual idad e da MA Categorias Subcategorias Qualidade do relacionamento Elevada Baixa M F M F (%)1 (%)1 Vivacidade Vívida 85 92 45 48 Pouco vívida 15 8 55 52 Significado pessoal Muito relevante 71 64 26 28 Relevante 29 21 31 36 Pouco relevante 0 15 43 36 Emocionalidade Positiva 37 51 8 13 Negativa 6 15 9 6

Sem carga emocional 57 34 83 81

Nitidez Certeza 63 75 44 52

Incerteza 37 25 56 48

Caráter incomum Ocasional 8 20 17 0

Inesperado 92 80 83 100 Tempo desde os acontecimentos 0-5 anos 90 79 71 64 6-11 anos 8 19 9 11 12-17 anos 2 2 11 8 mais de 17 anos 0 0 9 17 Impacto na história do casal Ponto de viragem 52 62 22 20

Sem impacto relevante 48 38 78 80 viragem (e.g., “Foi o iniciar da nossa relação, um marco, o primeiro de todos”) e sem impacto relevante na história do casal (e.g., “…não significou nada para nós”), permitindo aceder à importância e impacto que os acontecimentos tiveram para o casal. Verificou-se que, mais de metade dos indivíduos do sexo masculino (52%) e feminino (62%) com elevada qualidade do relacionamento referiram que o momento do primeiro beijo e da primeira relação sexual representaram um marco ou ponto de viragem na história do casal. A maioria os indivíduos do sexo masculino (78%) e feminino (80%) com baixa qualidade do

(30)

Discussão geral

A integração sistemática de métodos qualitativos e quantitativos neste estudo revela o interesse em aprofundar o conhecimento acerca da relação entre a qualidade do

relacionamento e a qualidade das MAs do casal associadas a esse relacionamento. Além disso, foi o primeiro estudo a investigar esta relação com casais que mantinham um relacionamento amoroso. Para isso, foram realizados dois estudos. O Estudo 1, teve como objetivo principal a tradução e validação para a população Portuguesa de um instrumento de avaliação da qualidade da memória (Memory Quality Questionnaire; Bluck & Liao, em prep; adaptado de Bluck, Levine, & Laurelhe, 1999) que serviu de base para o Estudo 2. Além disso, investigou-se a relação entre a qualidade do relacionamento e a qualidade da MA, bem como diferenças entre os sexos e estado relacional. Adicionalmente às análises efetuadas no estudo anterior, no Estudo 2 recorreu-se a uma metodologia qualitativa através da análise de conteúdo das MAs sobre o relacionamento amoroso, a partir de uma amostra de 50 casais. Os resultados permitem chegar a algumas conclusões gerais que são consistentes com a literatura. Importa referir que, o estudo ao ser realizado com casais, permite o acesso a MAs do

relacionamento mais similares em termos de conteúdo e contexto das experiências vivenciadas.

Relativamente à qualidade das MAs, tanto no Estudo 1 como no Estudo 2, os resultados mostram que os indivíduos que percecionam maior qualidade do relacionamento tendem a apresentar MAs sobre o relacionamento amoroso com maior qualidade,

corroborando a primeira hipótese do estudo. Analogamente, na análise de conteúdo verificou-se que os indivíduos que percecionam maior qualidade relacional reportam MAs

perceptualmente mais vívidas, nítidas e com predominância de emoções positivas. Além disso, atribuem maior significado pessoal aos acontecimentos subjacentes a essas memórias. Importa referir ainda que, a maioria destes indivíduos, referenciou que os acontecimentos reportados ocorreram de forma espontânea e inesperada e que representam um marco importante ou ponto de viragem nos seus relacionamentos. Por um lado, estes dados vão ao encontro do estudo realizado por Halford e os seus colaboradores (2002), no qual os casais mais satisfeitos com o relacionamento reportavam maior taxa de comentários positivos sobre as interações do parceiro. Por outro lado, também o significado atribuído aos acontecimentos contribuiu para uma melhor recordação das memórias (Alea & Bluck, 2007).

Relativamente ao estado relacional, no Estudo 1 os indivíduos envolvidos num

(31)

do relacionamento quando comparados com indivíduos que recordavam MAs sobre o relacionamento passado. Estas diferenças poderão sugerir que, com o fim da relação ocorra uma diminuição da qualidade do relacionamento e as memórias desse relacionamento tornam-se menos significativas para o indivíduo e mais suscetíveis a alterações. Essas alterações refletem-se na diminuição da qualidade da MA, isto é, na menor reexperiência do

acontecimento e menor frequência com que falam e pensam nessas memórias (Alea & Bluck, 2007; Anderson, Cohen, & Taylor, 2000; Thomsen & Bertsen, 2003).

Em relação às diferenças entre os sexos, alguns autores referem que os homens e as mulheres tendem a recordar acontecimentos de vida de forma diferente (e.g., Davis, 1999; Pillemer et al., 2003; Schulkind et al., 2012). Os resultados do Estudo 1 mostram que as mulheres, além de percecionarem maior qualidade da relação, apresentam maior qualidade das MAs sobre o relacionamento, comparativamente com os homens. Mais precisamente, as mulheres tendem a apresentar maior reexperiência do acontecimento real e maior frequência de repetição do que os homens. Estes resultados são consistentes com a segunda hipótese do estudo. No entanto, estas diferenças podem dever-se às diferenças de idade, dado que os homens eram significativamente mais velhos do que as mulheres. No Estudo 2 as diferenças entre os sexos não foram significativas, tal como reportam alguns estudos anteriores (e.g., Bauer et al., 2005; Rubin et al., 1999; Talarico et al., 2004). Uma possível justificação para a ausência de diferenças é o facto da amostra do Estudo 2 ser bastante reduzida, em comparação com a amostra do Estudo 1. Porém, através da análise de conteúdo foi possível perceber que as mulheres, com maior qualidade do relacionamento, reportam memórias mais específicas, vívidas (Davis, 1999; Pillemer et al., 2003) e expressam maioritariamente emoções positivas nas suas narrativas (Davis, 1999). Além disso, apresentam maior certeza nas suas descrições, isto é, consideram que relatam o acontecimento tal como ele aconteceu e revelam que os acontecimentos descritos tiveram impacto relevante nos seus relacionamentos.

No que concerne à idade, os resultados do Estudo 1 mostram que os indivíduos mais velhos tendem a apresentar menor qualidade do relacionamento, bem como menor qualidade das MAs sobre o relacionamento. Estes resultados corroboram a terceira hipótese do estudo. De acordo com alguns autores, paralelamente ao processo de envelhecimento surgem

alterações nas características da MA (Baddeley, 1999) e, portanto, as memórias tendem a ser menos vívidas e menos emocionais ao longo do tempo (Cohen et al., 1994; Singer et al., 2007). Além disso, os indivíduos mais velhos apresentaram memórias mais antigas, existindo uma maior vulnerabilidade à distorção (Rubin et al., 2004; Wagenaar, 1986). No Estudo 2, não foram encontradas diferenças entre a idade e a qualidade do relacionamento. Uma

(32)

possível justificação para estes dados é o facto da amostra do Estudo 2 ser maioritariamente constituída por indivíduos com idades compreendidas entre os 22 e os 25 anos, existindo pouca heterogeneidade relativamente às faixas etárias. Relativamente à qualidade das

memórias, no geral, os indivíduos mais velhos recordaram as MAs com menor reexperiência, emocionalidade e frequência de repetição, corroborando os dados encontrados anteriormente. Porém, a maioria das MAs dizem respeito a acontecimentos decorridos nos últimos cinco anos, o que poderá levar ao maior acesso a informações sensoriais e contextuais sobre os acontecimentos.

Limitações e Estudos Futuros

Apesar dos contributos deste estudo, o mesmo encerra com algumas limitações, uma das quais se prende com o facto de se ter utilizado um questionário ainda em

desenvolvimento. No entanto, o instrumento foi traduzido e validado para a população Portuguesa e apresenta boas propriedades psicométricas.

Uma outra limitação, diz respeito ao facto de se ter recorrido à análise de autorrelatos. Seria interessante atenuar possíveis discrepâncias entre os acontecimentos reais e as MAs, analisando o acordo estabelecido entre o casal aquando a recordação em conjunto. Seria igualmente relevante replicar o estudo utilizando MAs sobre situações de conflito entre o casal e averiguar se o padrão de resultados se mantém.

Relativamente à média de idades, aproximadamente de 24 anos, constitui uma outra limitação do estudo. Seria interessante replicar este estudo com uma amostra mais

heterogénea e examinar se se obteria o mesmo padrão de resultados.

Uma outra limitação prende-se com o facto de parte dos nossos dados serem correlacionais e, consequentemente, não permitirem a atribuição de associações casuais.

Além das limitações importa, ainda, referir alguns pontos fortes. O estudo de caráter inovador, ao ser realizado com casais, permitiu o acesso a MA sobre os mesmos

acontecimentos, diminuindo o enviesamento dos resultados. Além disso, a integração de métodos qualitativos e quantitativos permitiu um conhecimento mais aprofundado acerca da qualidade das MAs do casal, permitindo identificar padrões e relações emergentes não observáveis nos questionários.

Conclusão

(33)

qualidade do relacionamento nas MAs do casal. Através da tradução e validação do QQM foi possível avaliar a qualidade da memória, enriquecendo, futuros estudos sobre esta temática.

Os resultados mostram que a qualidade percebida do relacionamento amoroso está positivamente correlacionada com a qualidade da MA do casal. As diferenças entre os sexos contribuem de certa forma para enriquecer e completar estudos anteriormente desenvolvidos. Neste estudo, os resultados indicam que as mulheres percecionam maior qualidade do

relacionamento e apresentam MAs qualitativamente mais ricas do que os homens. As

diferenças de idade sugerem pistas que apontam no sentido de que os indivíduos mais velhos tendem a apresentar menor qualidade do relacionamento, bem como menor qualidade das MAs do relacionamento. Em geral, os resultados do nosso estudo fornecem uma compreensão profunda sobre questões relevantes sobre as relações amorosas, até agora ausentes na

(34)

Referências

Alea, N., & Bluck, S. (2003). Why are you telling me that? A conceptual model of the social function of autobiographical memory. Memory, 11, 165–178. doi:10.1080/741938207 Alea, N., & Bluck, S. (2007). I’ll keep you in mind: The intimacy function of

autobiographical memory. Applied Cognitive Psychology, 21, 1091–1111. doi:10.1002/acp.1316

Alea, N., & Vick, S. C. (2010). The first sight of love: Relationship-defining memories and marital satisfaction across adulthood. Memory, 18, 730–742.

doi:10.1080/09658211.2010.506443

Anderson, S. J., Cohen, G., & Taylor, S. (2000). Rewriting the past: Some factors affecting the variability of personal memories. Applied Cognitive Psychology, 14, 435–454. doi:10.1002/1099-0720

Baddeley, A.D. (Eds.). (1999). Essentials of Human Memory (pp. 219-236). UK: Psychology Press.

Barclay, C. R. (1999). Autobiographical remembering: Narrative constraints on objectified selves. In D. C. Rubin (Ed.), Remembering Our Past. Studies in Autobiographical

Memory (pp. 94-125). Cambridge, UK.: Cambridge University Press.

Barclay, C. R., & Smith, T. S. (1993). Autobiographical remembering and self-composing.

International Journal of Personal Construct Psychology, 6, 231-251.

doi:10.1080/08936039308405620

Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições Setenta.

Bauer, J. J., McAdams, D. P., & Sakaeda, A. R. (2005). Interpreting the good life: Growth memories in the lives of mature, happy people. Journal of Personality and Social

Psychology, 88, 203–217. doi:10.1037/0022-3514.88.1.203

(35)

reminiscing about laughter on relationship satisfaction. Motivation and Emotion, 31, 25-34. doi:10.1007/s11031-006-9045-6

Bluck, S. (2003). Autobiographical memory: Exploring its functions in everyday life.

Memory, 11(2), 113-123. doi:10.1080/741938206

Bluck, S., Levine, L. J., & Laulhere, T. M. (1999). Autobiographical remembering and hypermnesia: A comparison of older and younger adults. Psychology & Aging, 14, 671-682. doi:10.1037/0882-7974.14.4.671

Bluck, S., & Li, K. Z. (2001). Predicting memory completeness and accuracy: Emotion and exposure in repeated autobiographical recall. Applied Cognitive Psychology, 15, 145– 158. doi:10.1002/1099-0720(200103/04)15:23.0.CO;2-T

Bluck, S., & Liao, H. W. (em prep). Emerging adults recall anxiety-provoking memories. Bradbury, T. N., & Fincham, F. D. (1987). Affect and cognition in close relationships:

Toward an integrative model. Cognition and Emotion, 1, 59–87. doi:10.1080/02699938708408364

Brown, R., & Kulik, J. (1977). Flashbulb memories. Cognition, 5, 73-99. doi:10.1016/0010-0277(77)90018-X

Bruner, J., & Feldman, C. F. (1999). Group narrative as a cultural context of autobiography. In D. C. Rubin (Ed.), Remembering our past: Studies in autobiographical memory (pp. 291-317). Cambridge, UK: Cambridge University Press.

Canavarro, M. (1999). Inventário de sintomas psicopatológicos - B.S.I. In M. Simões, M. Gonçalves, & L. Almeida (Eds.), Testes e Provas Psicológicas em Portugal (pp. 87-109). Braga: APPORT/SHO.

Chadwick, B. A., Bahar, H. M., & Albrecht, S. L. (1984). Content analysis. Social Science

Research Methods, 239-257.

(36)

memories. In D. C. Rubin (Ed.), Remembering our past: Studies in autobiographical

memories (pp. 218-243). Cambridge, USA: Cambridge University Press.

Cohen, G. (1998). The effects of aging on autobiographical memory. In C. P. Thompson, D. J. Herrmann, D. Bruce, D. J. Read, D. G. Payne, & M. P. Toglia (Eds.),

Autobiographical memory: Theoretical and applied perspectives (pp. 105–123).

Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, Inc.

Cohen, G., Conway, M., & Maylor, E. A. (1994). Flashbulb memories in older adults.

Psychology & Aging, 9, 454-463. doi:10.1037/0882-7974.9.3.454

Cohen, G., & Faulkner, D. (1988). Life span changes in autobiographical memory. In M. M. Gruneberg, P. E. Morris, & R. N. Sykes (Eds.), Practical aspects of memory: Current

research and issues (pp. 277-282). Chichester, UK: Wiley.

Comblain, C., D’Argembeau, A., & van der Linden, M. (2005). Phenomenal characteristics of

autobiographical memories for emotional and neutral events in older and younger adults. Experimental Aging Research, 31, 173-189. doi:10.1080/03610730590915010 Conway, M. (2003). Cognitive-affective mechanisms and processes in autobiographical

memory. Memory, 11, 217-224. doi:10.1080/741938205

Conway, M. A., Singer, J. A., & Tagini, A. (2004). The self andautobiographical memory: Correspondence and coherence. Social Cognition, 22, 495–537.

doi:10.1521/soco.22.5.491.50768

Conway, M. A., & Williams, H. L. (2008). Autobiographical memory. In J. H. Byrne et al.,

Learning and Memory: A Comprehensive Reference (pp. 893-909). Oxford: Elsevier

Ltd.

Davis, P. J. (1999). Gender differences in autobiographical memory for childhood emotional experiences. Journal of Personality and Social Psychology, 76, 498–510.

(37)

doi:10.1037//0022-3514.76.3.498

Derogatis, L. R., & Spencer, P. M. (1982). Administration and Procedures: BSI. Manual I. Baltimore, MD: Clinical Psychometric Research.

Drivdahl, S. B., & Hyman, I. E. Jr. (2014). Fluidity in autobiographical memories: Relationship memories sampled on two occasions. Memory, 22, 1070-81. doi:10.1080/09658211.2013.866683

Fleiss, J. L. (1981). Statistical methods for rates and proportions (2nd edition). New York: John Wiley and Sons.

Fletcher, G. J. O., Simpson, J. A., & Thomas, G. (2000). The measurement of perceived relationship quality components: A confirmatory factor analytic approach. Personality

and Social Psychology Bulletin, 26, 340-354. doi:10.1177/0146167200265007

Frye, N. E., & Karney, B. R. (2004). Revision in memories of relationship development: Do biases persist over time? Personal Relationships, 11, 79-97. doi:10.1111/j.1475-6811.2004.00072.x

Geisinger, K. F. (1994). Cross-cultural normative assessment: Translation and adaptation issues influencing the normative interpretation of assessment instruments.

Psychological Assessment, 6(4), 304-312. doi:10.1037/1040-3590.6.4.304

Grysman, A., & Hudson, J. A. (2013). Gender differences in autobiographical memory: Developmental and methodological considerations. Developmental Review, 33, 239– 272. doi:10.1016/ j.dr.2013.07.004

Halford, W. K., Keefer, E., & Osgarby, S. M. (2002). “How has the week been for you two?” Relationship satisfaction and hindsight memory biases in couples’ reports of

relationship events. Cognitive Therapy and Research, 26, 759–773. doi:10.1023/A:1021289400436

Imagem

Figura 1. Modelo teórico .
Figura 2. As diferenças entre os sexos para EPQR e QQM (reexperiência,  emocionalidade negativa e frequência de repetição)
Figura 3. As diferenças no estado relacional para EPQR e QQM (reexperiência,  emocionalidade negativa e frequência de repetição)

Referências

Documentos relacionados

Inicia-se pelo algoritmo principal com a leitura das condições iniciais das variáveis de estado dinâmico, parâmetros e condições operacionais; então o

Estas percepções podem ter implicações clínicas uma vez que os pacientes estão mais dispostos a seguir o aconselhamento, quando detectam por parte dos terapeutas uma atitude

Neto e Soares (2004) preconizam que esta constitui-se em uma proposta alternativa aos programas de capacitação para o trabalho, pois procura a integração entre educação e trabalho

Os títulos correntes são geralmente colocados no topo da página, embora também possam ser encontrados ao longo da borda exterior do bloco de texto, ou na margem

A pesquisa realizada no arquivo do TJ-PB traz para este arquivo uma contribuição cultural de grande valor e pode ser considerada como um primeiro passo

Os conservantes são usados para preservar as amostras de leite desde a coleta até o momento da análise no laboratório.. Existem vários tipos que podem ser usados desde que

O professor Cristiano Holanda Montinegro está à frente da disciplina na referida escola há três anos, possui uma postura tradicional, suas aulas são de caráter

The two protocols for the determination of soil water retention properties compared in this study, the traditional method based on the assumption of hydrostatic equilibrium on