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O impacto da automação nas bibliotecas - uma revisão

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NAS BIBLIOTECAS

-UMA REVISÃO*

John J. Eyre Senior Lecturer

The Polytechnic of North London School of L ibrarianship

London, England

RESUMO

Após rever-se os problemas surgidos quando os computadores foram pela primeira vez usados nos serviços técnicos de biblioteca, discute-se diversos aspectos relacionados com os efeitos sobre o pessoal. Especialmente relevante é o aparecimento do bibliotecário de sistemas, novas estruturas de pessoal, reciclagem, possibilidades de verificação e monitoração, e problemas de saúde advindos do uso de determinados equipamentos. Historia-se o desenvolvimento tecnológico, das estruturas principais (mainframes) até os microcomputadores, e avalia-se o efeito sobre os periféricos. Faz-se também referência ao impulso que a automação tem dado às atividades cooperativas e de normalização. Inclui-se referências.

Descritores: Tecnologia da computação; Sistemas de

informação; Automação de sistemas de informação; Automação de bibliotecas; Software de aplicação; Hardware;

Aplicação do computador; Pessoal

1 INTRODUÇÃO

A introdução dos computadores nas bibliotecas representa uma revolução que ainda não atingiu seu clímax. Seria tarefa ingente detalhar todas as implicações da automação nas bibliotecas, já que os efeitos colaterais são cada vez mais acentuados. Para facilitar esta análise, o assunto será tratado sob dois aspectos: pessoal e sistemas.

2 HISTÓRICO

Até a década de 60, os equipamentos mecânicos eram usados nas bibliotecas para controlar a circulação, na listagem de periódicos, e em coisas semelhantes. A principal contribuição desses equipamentos,

entretanto, parece ter sido simplesmente a de diversificar os tipos de problemas. Sendo equipamentos eletro-mecânicos, estavam sujeitos a quebras constantes e geralmente transferiam o esforço manual para outra parte do sistema. Mas sua introdução mostrou, pelo menos, que os bibliotecários estavam preparados para usar máquinas na manutenção ou aprimoramento dos serviços. De um modo geral, entretanto, os sistemas continuavam a ser altamente manuais.

* Tradução de Eduardo José Wense Dias, Escola de Biblioteconomia da UFMG.

Acidentalmente ou não, o fato 4 que a crise que atingiu as bibliotecas, em decorrência principalmente da redução do número de funcionários, e de coleções e usuários cada vez maiores, ocorria ao mesmo tempo em que se desenvolviam os computadores. Por volta da década de 60, os computadores já estavam em sua 3a. geração, e entrariam na 4a. antes do fim da década. Circuitos integrados (Cl) possibilitaram o

desenvolvimento dos minicomputadores, aos quais se seguiram, logo depois, os microcomputadores. Esse desenvolvimento tão rápido provocou, por si só, muitos problemas para os bibliotecários, em termos de escolha do equipamento apropriado. 3 IMPLICAÇÕES PARA O PESSOAL

Embora prestígio, curiosidade pela tecnologia, e disponibilidade gratuita de serviços computacionais sejam apontados como as causas principais a favorecerem a automação, havia bibliotecários que estavam dispostos a experimentar qualquer tipo de tecnologia que pudesse representar um bom suporte de serviço. Apesar desse entusiasmo e disposição, quando bibliotecários e analistas se encontravam, os resultados eram muito vagarosos. Tornou-se logo evidente que a cada um faltava conhecimento suficiente da linguagem e do enfoque do outro. Os bibliotecários sentiam dificuldade em submeter-se aos compromissos que o

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O Impacto da automação nas Bibliotecas — uma revisão John J. Eyre

sistema de computação parecia exigir como paga pelos seus benefícios, ao passo que o pessoal de computação achava difícil aceitar a aparente intransigência dos bibliotecários quanto a especificações, ou achava difícil entender a necessidade de dados bibliográficos Muitas vezes, soluções de processamento de dados, comercialmente já aprovadas, acabavam revelando-se inaceitáveis. Atualmente, os bibliotecários são reconhecidos como usuários que têm necessidades peculiares, pelo menos no que tange ao tamanho dos arquivos e à complexidade dos dados bibliográficos. Um aspecto das primeiras especificações de sistemas automatizados era a falta de pessoal da biblioteca que pudesse dialogar com o pessoal de computação, num nível adequado. Atualmente, as bibliotecas já reconhecem essa necessidade e têm agora um novo tipo de especialista, responsável pela automação. As escolas, por sua vez, tiveram que tomar providências no sentido de preparar esse novo profissional, com uma formação adequada, refletida no currículo do curso. Espera-se que esse profissional atue como elemento de ligação entre o sistema, o pessoal de computação, e o pessoal da biblioteca. Com isso, introduziu-se uma pequena mudança na estrutura de pessoal da biblioteca. Enquanto antes da automação cada departamento era responsável por suas próprias esferas de operação, agora o especialista em automação tem que ser consultado sobre o uso do sistema automatizado, as mudanças necessárias, e os problemas que estiverem ocorrendo.

A necessidade de uma reciclagem do pessoal, com a finalidade de usar o sistema automatizado e reagir corretamente às suas faltas não teve sua importância, de

início, devidamente reconhecida. Atualmente, reconhece-se que, por causa da automação, alguns temem perder o emprego, ou acham que ela vai exigir um treinamento além de suas capacidades, ou então que vai reduzir suas tarefas a um nível de total desqualificação. Conseguir despertar a confiança e a disposição para colaborar torna-se, assim, parte importante do trabalho de implantação desses sistemas. Algumas vezes, a crença na automação só se concretiza depois que as máquinas chegam. Entretanto, é muito comum que, uma vez

treinado, o funcionário passe a ter a sensação de ter adquirido novas habilidades, com o conseqüente sentimento de promoção por merecimento. No caso do BALLOTS, logo que os funcionários demonstraram suas habilidades esperaram uma melhoria tanto de posição quanto de salário. De modo inverso, as

bibliotecas descobriram que a utilização de equipamentos automatizados de coleta de dados, no balcão de

empréstimo, entedia os funcionários a tal ponto que é necessário restringir suas permanências nessas funções e períodos determinados.

Todas essas mudanças representam um desafio para o administrador da biblioteca. Com o computador

surge um padrão diferente de trabalho, de estrutura de pessoal, de controle, de responsabilidades e de pressões. Procedimentos como o Controle dos dados de entrada têm que ser implantados, mas não devem sobrecarregar as rotinas de entrada a ponto de anular as vantagens econômicas que a automação visa. De modo similar, os sistemas em linha exigem uma decisão quanto aos níveis de acesso de cada membro do staff. A autorização para mudar registros existentes no arquivo, ou para acréscimo de novos, tem que sofrer algumas restrições, no caso de dados catalográficos. Com tudo isso, resta ainda o problema do bem-estar do pessoal. Até agora, com os sistemas manuais, a administração da biblioteca só se preocupava com os cuidados naturais para com a saúde dos funcionários e, geralmente, com problemas que tivessem influência sobre seu desempenho. Em sistemas automatizados, outros problemas aparecem. No momento, muitas pesquisas estão sendo feitas na Lough borough University (Inglaterra), no Instituto de Oftalmologia (IFRA, Darmstadt), na França, na Suécia e na Áustria, todas visando determinar os perigos a que estão sujeitos os operadores de terminais de vídeo que permanecem por algum período maior de tempo em contato com o equipamento. Com efeito, os operadores queixam-se de tontura, sensação de mal-estar e fadiga ocular. Muitas vezes, terminam precisando usar óculos. Os efeitos da amostragem em terminais de vídeo tanto têm a ver com o contraste, o brilho e as condições de luminosidade em que são usados, como com a disposição dos dados, o

tamanho dos textos, e o uso de indicadores luminosos. Embora as pessoas tenham se mostrado bem

adaptáveis, o administrador da biblioteca vê-se forçado a levar em consideração os efeitos provocados pelo uso dos equipamentos de automação. Em alguns casos, a ineficiência é causada pelo uso inapropriado do equipamento. Os catálogos com um filme cassette, por exemplo, tornaram-se populares por causa da facilidade de colocação dos cassette nos visores, e por causa da facilidade de arquivamento. Infelizmente, muitas bibliotecas preferiram o visor manual, que é mais barato, o que, para o departamento de catalogação, é um verdadeiro suplício, quando se trata de lidar com uma meia dúzia de cassettes. Desde o BUCCS (Bath University Computer Catalogue Study) que se tem como aceito que o acesso direto proporcionado pela ficha é mais satisfatório e permite maior rapidez no uso, embora seja um problema a manutenção das fichas na ordem correta, e mesmo a prevenção contra o desaparecimento de algumas.

4 SISTEMAS

O planejamento, operação e controle do sistema está sendo radicalmente alterado, à medida que a automação é implantada em mais bibliotecas. Parece evidente também que o acúmulo de experiência está afetando

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John J. Eyre

a visão tanto dos bibliotecários quanto de seus superiores, no que diz respeito à forma como o serviço deve ser organizado.

4.1 A TITUDES EM RELAÇÃO A INVESTIMENTO

Tradicionalmente, sendo a biblioteca um sistema de trabalho essencialmente humano, não era de se

esperar que gastasse muito com equipamentos. Os custos principais eram com pessoal e com o acervo. Por volta do final da década de 60, os administradores já aceitavam a idéia de os bibliotecários pedirem verbas de até 50.000 libras para instalarem sistemas baseados em minis. Embora restrições econômicas tenham cercado seu desenvolvimento, tais propostas são reconhecidas como um bom método de realizar serviços de biblioteca eficientes e eficazes. Essa dependência à máquina trouxe uma série de novos problemas para a administração da biblioteca. Esses sistemas requeriam manutenção regular e adequada e necessitavam ter, sempre à disposição, alguém capaz de identificar, rapidamente, os defeitos surgidos. Não obstante, e não importando também com que cuidados fossem essas máquinas tratadas, tinham elas que serem substituídas e hoje em dia é obviamente uma parte necessária dos procedimentos orçamentários a aceitação de períodos de corte de verbas para amortizar o custo dessas substituições. Como acontece com os próprios computadores, essas substituições podem também

implicar em alterações no planejamento do sistema, o que significa também despesas extras. Infelizmente, as verbas envolvidas estão na casa dos milhares de libras. Uma coisa parece certa para aqueles que têm estado envolvidos em projetos de automação: uma vez implantado o sistema, é inadmissível um retorno ao sistema manual. Assim, o capital inicial de investimento é o começo de despesas continuadas. Poucos bibliotecários esperam restringir a automação a uma ou duas operações. A maioria tenciona e espera automatizar, eventualmente, todas as operações de processamento técnico. Com o crescimento do tamanho desses sistemas, é de se esperar que a equipe de automação venha a contar com técnicos capazes de

proporcionar um serviço permanente de manutenção e testes. É interessante notar, a propósito, que o OCLC (Ohio College Library Center), assim como o BALLOTS, usam terminais planejados pelos próprios sistemas e organizam, eles mesmos, seus próprios seminários de manutenção, teste e desenvolvimento. Todas as implicações financeiras de sistemas totalmente automatizados ainda não foram exploradas publicamente.

4.2 CUSTOS

Um aspecto novo do debate em torno da automação de bibliotecas é a demanda contínua por análises detalhadas de custo para cada operação. Por exemplo: custo por entrada catalográfica, por cada item acrescentado a arquivo, custo de manutenção dos arquivos, etc. Entretanto, quando esses dados são

fornecidos, fica evidente que existem poucos números semelhantes referentes aos sistemas manuais. Assim o valor dessa: informações é mais para ajudar na escolha do sistema mais barato, do que para permitir comparações satisfatórias com os sistemas manuais correspondentes. Inexoravelmente, os bibliotecários começaram a examinar cada processo do sistema, com o objetivo de conhecer mais sobre suas características e custo. A automação lhes persuade da necessidade de desenvolver uma

conscientização do sistema, coisa que não acontece com os sistemas tradicionais. A automação implica em custos calculados para cada fase e é impiedosa para com os projetos extravagantes ou mal feitos. Por exemplo: estruturas de dados, tempo de processamento, vida e dimensão de arquivos, freqüência, formato e volume de saída, tudo isso tem um preço. Como resultado da automação, os bibliotecários estão se

tornando muito consciente do problema do custo. A partir de agora, eles esperam demonstrar os benefícios resultantes da automação, em termos de economia de pessoal, aumento da produtividade, e melhoria do serviço.

4.3 PRECISÃO

Se os erros não serão rapidamente corrigidos através do sistema, há que haver procedimentos de verificação em todo o seu âmbito. A centralização de arquivos que tenham dados gerados em diferentes pontos ligados ao sistema exige que os procedimentos de validação, baseados no software, para todos esses dados, tenham que ser ativados na fase de entrada no sistema, lsso pode ser feito linha a linha ou para o registro como um todo. Entretanto, se as verificações de software forem muitas, isso pode significar um alto preço e envolver a produtividade. O que é certo é que não pode haver realmente quaisquer verificações satisfatórias no que diz respeito a ortografia, e a elementos como datas, paginação, etc. Infelizmente, os efeitos de dados errados podem ameaçar seriamente o sistema como um todo. É certo que no caso do OCLC, que não verifica as entradas, os erros nos arquivos têm causado problemas, como a multiplicação de entradas para uma mesma obra.

Enquanto o treinamento e a consultoria permanente podem diminuir a ocorrência de imprecisões, a administração tem que implantar procedimentos gerais de verificação, a todos os níveis. Essas preocupações salientam a intolerância dos sistemas automatizados na absorção de altos índices de erros, em marcante contraste com a flexibilidade e hospitalidade dos sistemas manuais. É o caso dos registros de recebimento de periódicos, que freqüentemente têm que ser editados e atualizados, antes de darem entrada num sistema computarizado.

4.4 FLUXO DE TRABALHO

Uma conseqüência especial da automação foi a de mudar as divisões do sistema da,biblioteca. Antes, o pessoal

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O Impacto da automação nas Bibliotecas — uma revisão John J. Eyre

podia ser designado para tarefas de aquisição,

catalogação, empréstimo, etc. Com o uso do MARC na fase de encomenda, a divisão entre esta atividade e a de catalogação torna-se imprecisa. De forma semelhante, a produção automática de avisos de cobrança e de reserva tem eliminado algumas das tarefas dos auxiliares do setor de empréstimo. Com o

sistema em linha da Ohio State University, por exemplo, os leitores podem usar os terminais de vídeo para se informarem do status de qualquer livro da biblioteca. Se o livro desejado está emprestado, o leitor faz

reserva sem precisar de qualquer ajuda dos funcionários. É obvio que com a implantação por etapas o padrão de trabalho mudará várias vezes. Um aspecto dessas mudanças é a crescente mobilidade do pessoal. Aqueles que antes estavam envolvidos exclusivamente com uma atividade, passam a poder ser aproveitados em outras atividades. Espera-se que, eventualmente, os funcionários da biblioteca possam passar a maior parte do tempo dando assistência aos leitores, ao invés de gastar esse tempo no trabalho técnico desenvolvido internamente. A razão para haver grupos era principalmente devido à necessidade de consultar arquivos que estavam relacionados com determinada tarefa. Especialmente no caso dos sistemas em linha, o acesso aos

arquivos pode ser feito de qualquer terminal autorizado.

4.5 CONTROLE

Embora este seja um assunto ainda não devidamente explorado, não há dúvida que o computador deu à biblioteca uma capacidade sem precedentes

de controlar suas operações. Todos os dados processados podem ser identificados, acumulados e analisados, a fim de proporcionar estatísticas regulares sobre a economia, volume, tipo e freqüência do uso. Menos comum é o controle do pessoal, que é também viável através da utilização do sistema. Assim, é possível controlar-o trabalho dos que dão entrada aos dados, em termos de índice de erros, rapidez de operação, e produtividade. Pode-se controlar o sistema de empréstimo, em termos de excesso de trabalho e, em conseqüência, um provável pagamento de hora extra. Todas essas informações significam que o bibliotecário, pela primeira vez, é capaz de reagir rapidamente às .mudanças no sistema.

Mencionou-se antes a necessidade de determinar níveis de acesso ao sistema. Controles desse tipo permitem discriminação entre os funcionários, de tal forma que aos funcionários antigos é permitido alterar os dados,

interromper transações e mesmo anular dados ou rotinas normalmente protegidos. Mas à medida que os sistemas em linha forem crescendo, mais funcionários terão acesso aos arquivos não confidenciais, o que significa que, em contraste com os sistemas antigos, aqueles normalmente responsáveis por cada parte não terão que assumir essa responsabilidade. Assim, todos

os que trabalham no sistema têm que estar informados sobre o mesmo como um todo e, dessa forma, tornarem-se mais independentes.

5 ASPECTOS TÉCNICOS

Quando um investimento envolve dezenas de milhares de libras, é de se esperar que as bibliotecas usem os equipamentos durante a maior parte da vida útil destes. Assim, tal como na indústria gráfica e na de engarrafamento, às bibliotecas é inerente

uma capacidade de tirar vantagem rápida dos avanços tecnológicos. No campo da eletrônica, onde o desenvolvimento é tão rápido, as barreiras à realização de certas operações de forma econômica ou com suficiente rapidez estão constantemente mudando. A utilização de serviços baseados em estruturas principais, conforme mostra a experiência de tantas bibliotecas públicas, pode muitas vezes ser insatisfatória. Sistemas pequenos, entretanto, parecem ser muito caros e muito limitados em termos de trabalho com arquivos muito grandes. A experiência inicial com sistemas de controle de circulação tem sido promissora.

Mesmo assim, os minis utilizados foram rapidamente superados, e no entanto não puderam ser mudados. Numa área onde os avanços são tão rápidos, qualquer aquisição torna-se desatualizada dentro de 18 meses.

É essencial, portanto, que os bibliotecários

encarem o problema de se manterem atualizados quanto aos progressos que possam alterar a configuração e a capacidade dos futuros sistemas. Mini e

microcomputadores estão se tornando rapidamente indistinguíveis, enquanto configurações ainda menores são anunciadas. Mas as coisas estão mudando o tempo todo.

Enquanto os IC (integrated circuits - circuitos integrados) apareceram na década de 50, os circuitos LSI (large scale integrated — integrados em larga escala) foram um fenômeno da década de 60 e deram um tremendo impulso à miniaturização, o que explica, por exemplo, a grande disseminação das calculadoras de bolso. Atualmente, os japoneses desenvolvem os circuitos VLSI (very large scale integrated — integrados em muito larga escala), que eventualmente

concentrarão ainda mais informações nas pastilhas de silício. No que diz respeito às bibliotecas, entretanto, o aspecto significativo do desenvolvimento dos LSI é que brevemente os micros poderão muito bem ser

capazes de desempenhar as funções exigidas na área de processamento técnico, dependendo apenas da

capacidade de armazenamento dos periféricos. As RAM (random access memories — memórias de acesso aleatório) estão indo dos 1K (1024) bytes iniciais para 64K bytes. Obviamente, irão crescer ainda mais, tão logo os microprocessadores possam trabalhar com volumes maiores de armazenamento. Por outro lado, as

ROM (read only memories — memórias de leitura Ci. Inf., Rio de Janeiro, 8 ( 1 ) : 51 57, 1979

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O Impacto da automação nas Bibliotecas - uma revisão John J. Eyre

exclusiva) tinham aplicação limitada e não ofereciam flexibilidade. Foram também melhoradas, de forma que agora são não apenas programáveis (PROM), mas também eletricamente apagáveis (EEPROM). Pastilhas como a ubíqua Intel 8080, que opera com uma palavra de 8 bits e foi desenvolvida a partir da 4040, pode oferecer mais de 70 instruções e acessar 64k bytes de

RAM, oferecendo 265 canais de E/S (entrada/saída). Já é possível inclusive uma rapidez maior (com a 8085),

enquanto outras firmas estão oferecendo também uma pastilha com palavras de 16 bits. Tanto a Inspel quanto a Data General, por exemplo, deverão estar comercializando, brevemente, uma pastilha que trabalha com palavras de 32 bits. O problema das palavras maiores é que embora propiciem um processamento mais rápido, exigem por outro lado instruções mais complexas e, consequentemente, maior consumo de energia. Todos esses melhoramentos significam que os microcomputadores, num futuro não muito remoto, poderão oferecer uma capacidade de processamento tradicionalmente associada apenas a estruturas principais. Mas o computador não é o único fator de limitação nas configurações

miniaturizadas. Os periféricos têm sido parte importante dos requisitos no trabalho de processamento técnico das bibliotecas. Recentemente, a armazenagem em discos flexíveis, que começaram com uma capacidade de

1/4 de milhão de bytes (1/4MB), estão agora indo para 1/2 MB e brevemente aumentarão essa capacidade para 2 megabytes. Os hard diskettes deverão chegar até 10 megabytes. E os cartuchos também apresentam a mesma tendência de aumento da densidade.

Mesmo aqueles que usam estruturas principais podem vir a reconsiderar o uso do acesso em linha, tendo em vista os progressos relacionados com a densidade dos discos removíveis intercambiáveis. Os sistemas ICL

1900 ofereciam 60 megabytes, ao passo que a série 2900 possui unidades de 200 megabytes. Breve é de se esperar que ofereçam uma capacidade de 500 M Bytes. Isto significa que se tomarmos por base registros de 5000 bytes, a biblioteca poderá ter o seu catálogo armazenado num único disco. Mesmo a fita magnética usada para arquivamento, reserva ou armazenamento temporário deverá aumentar sua densidade até 6k bits por polegadas, o que significa 1 bilhão num rolo padrão com fita de 1/2' polegada. A economia de espaço e velocidade de processamento fica mais evidente se nos lembrarmos do arquivo em fita do OCLC, com seus mais de 9600 rolos! Esses progressos também beneficiarão os sistemas em batch, que tanto dependem de arquivos em fita. Os progressos futuros também acenam com possibilidades para as bibliotecas. As memórias de bolhas magnéticas, que requerem menos energia, e que são leves e baratas, serão capazes de aumentar sua capacidade dos 256k bits atuais para 1 e 3 megabytes. Sendo não-voláteis e permutáveis, podem bem ser a opção do futuro para as bibliotecas.

Um sistema desenvolvido pela Inteligent Systems Corporation é um terminal inteligente árabe/farsi que

aceita também o inglês. Baseado na pastilha do 8080, ele oferece 4k bytes de RAM e 24k de EPROM. A mostragem visual pode incluir até 8 cores e permite composição tanto da esquerda quanto da direita, dependendo da língua usada. Essas caracterísitcas possibilitam maior cooperação no intercâmbio de informação

ou de acesso a arquivos. A amostragem colorida é hoje em dia muito mais comum. Micros como o Apple II possibilitam gráficos coloridos, usando um aparelho de TV e um gravador de fita convencionais. Frente a essa tecnologia sempre em mudança,.o bibliotecário é tentado a adiar a automação. O critério para aquisição, entretanto deve ser que o sistema escolhido faça o trabalho e seja o mais adequado entre todos os disponíveis no mercado. É provável que qualquer das opções se torne obsoleta em pouco tempo, mas isto não tem importância, se o sistema for eficaz. Numa revisão técnica, como esta, é necessário que se faça referência aos serviços de teletexto. O serviço Prestei, do British Post Office, o sistema Oracle, da Independem Television Authority, e o sistema Ceefaz, da BBC, permitem, a qualquer um que tenha um aparelho apropriado de TV e um telefone, acesso a vários arquivos de informação. Homens de negócios, e presumivelmente bibliotecas, poderão obter um terminal especial de mesa, com

telefone e facilidades de discagem, tela em branco e preto, e talvez uma impressora. Se esse serviço oferecer tanta informação quanto foi previsto, pode muito bem dispensar estantes inteiras de obras anuais de referências, tais como diretórios, obras biográficas, guias, e até mesmo dicionários. O problema para as bibliotecas, como agora ocorre com o uso dos bancos de dados, será o de como cobrar esses serviços. Algumas bibliotecas entendem

que se o terminal é oferecido a acesso público, então ele deve ser tão gratuito quanto o uso de livros e periódicos. Entretanto, as bibliotecas poderão ver-se às voltas com um aumento de despesas que poderá afetar seriamente o orçamento dos materiais bibliográficos. Assim, será necessário determinar a melhor alternativa de acesso à informação. Assim como um Serviço Nacional de Saúde não pode oferecer uma resposta tão

rapidamente quanto uma organização privada, também os usuários de bibliotecas mantidas pelos poderes públicos deverão ter suas consultas analisadas a fim de se determinar que custos com serviços em linha poderão ser assumidos. Para se ter uma idéia dessa dificuldade, basta pensar em quanto custaria uma pesquisa sobre anúncios, realizada através de um serviço de teletexto como Prestei, em comparação com o mesmo serviço sendo feito com base num jornal nacional de circulação diária.

É certo que os avanços tecnológicos obrigarão as bibliotecas a estabelecerem normas de decisão quanto às fontes de informação a serem oferecidas gratuitamente, no caso de consultas dos usuários. Por exemplo: à medida que as redes de informação forem se expandindo, chegará o tempo em que os usuários Ci. Inf., Rio de Janeiro, 8 ( 1 ) : 51 -57, 1979

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se verão tentados a fazerem as pesquisas mais longas através das bibliotecas, reservando o terminal

doméstico para pesquisas mais rápidas e menos onerosas. É óbvio que, uma vez terminada a pesquisa, as

bibliotecas poderão transmitir o resultado para o terminal da casa do usuário. Embora inicialmente seja possível pensar em somente se permitir essas

consultas em linha a indivíduos, isso deverá dar lugar, eventualmente, a formas convencionais de

fornecimento da informação. Essa será mais outra incerteza, relacionada com o seu papel, a ser enfrentada pelo bibliotecário no futuro.

Outro problema é o do software. Um exame dos sistemas atuais sugere que as linguagens utilizadas dependem em grande parte do equipamento e da capacidade dos programadores. Costuma-se dizer que linguagens de alto nível/como COBOL ou Fortran, são mais adequadas e flexíveis de um sistema para outro, quando se necessita melhorar ou mudar o equipamento. Mas muitos sistemas têm escolhido o Assembler ou mesmo linguagens de máquina, com a finalidade de obterem o máximo de controle e eficiência.

Surpreendentemente, o OCLC usa a linguagem Assembler em seu sistema, mas para eles as alterações no

equipamento, embora requeiram revisões completas da programação, não chegam a constituir um grande problema, sendo conpensadas pela eficiência dos programas. Se os avanços atuais na área dos equipamentos continuarem como vão, as linguagens disponíveis para os micros deverão logo ser expandidas. Com o advento ,das pastilhas ROM que trabalham com palavras de 16 e 32 bits, as restrições atuais ao BASIC (apesar das versões desenvolvidas) deverão acabar. Se as notícias dos jornais forem verdadeiras, logo teremos uma linguagem de aplicação geral, chamada POBOL, que pode ser usada em qualquer equipamento e por qualquer pessoa. Com efeito, é o software que tem frustrado muitas esperanças de cooperação. Os sistemas tendem a criar certo comportamento idiossincrático, provocado pela adaptação ou pela implantação de sistemas operacionais e pelas limitações de compiladores em várias organizações. Tudo isso significa que muitas vezes não é possível transferir o software de uma organização para outra, embora ambas usem um mesmo modelo de um mesmo fabricante, sem que tenha que sofrer algumas alterações. Modelos diferentes, ou de fabricação diferente, geralmente implicam em tantas alterações que é mais fácil reescrever todo o sistema.

6 COOPERAÇÃO E NORMAS

Desde o relatório da Inforonics, de 1965, sobre um possível formato para dados bibliográficos, que se tem trabalhado no sentido de uma cooperação que leve a um acordo quanto às estruturas de dados que permitem intercâmbio. É interessante notar que assim como o OSTI (Office for Scientific and Technical Information),

na Inglaterra, patrocinou grandes projetos na área de automação, nos Estados Unidos foi o Council on Library Resources que contribuiu com a maior parte dos recursos para o Projeto MARC. Durante 1967, trabalhou-se muito no sentido de estabelecer o formato MARC usando indicadores (tags) para identificar os elementos. Entretanto, o fato de uma biblioteca nacional como a Library of Congress, com um volume tão grande de aquisição, ter

estabelecido tal tipo de formato, despertou o interesse de órgãos normalizadores, assim como de outros órgãos que pudessem vir a ser afetados de alguma forma por aquela decisão. Por essa época, a BNB também se envolvia na questão, e em 1968 era lançado o formato MARC para comunicação de dados

bibliográficos. O impacto real dessa "norma" tem sido demonstrado pela sua adoção, com variações, por outros países, de forma que hoje em dia temos serviços baseados no MARC em número cada vez maior de países: Israel (MARCIS), Austrália (AUSMARC), Canadá (CANMARC), Alemanha Ocidental (MAB 1), França (MONOCLE), etc: Em 1973, o formato obteve respaldo ainda maior, com a publicação da ISO 2709 (Formato para intercâmbio de informações bibliográficas em fita magnética). Com a adoção cada vez mais generalizada do formato MARC, muitos países têm criado seus próprios serviços de distribuição de dados bibliográficos em fita magnética, tanto a nível nacional quanto internacional; como parte desse intercâmbio além fronteiras, um outro formato chamado UNIMARC está sendo desenvolvido. Entretanto, os serviços bibliográficos nacionais terão que verificar se as diferenças locais não serão causa de séries dificuldades. As normas da ISBD, por exemplo, embora proporcionem certo grau de conformidade na descrição bibliográfica, por outro lado permitem diferenças que são suficientes para criarem problemas quando do intercâmbio de dados. É certo que as repercussões do intercâmbio ainda estão por serem devidamente avaliadas. Conforme documento recente do setor da lFLA responsável pelo Controle Bibliográfico Universal, este se torna agora um assunto de preocupação universal. Embora haja o temor de que países mais importantes possam impor sua vontade nas negociações, haverá sempre um enfoque nacional para as bases de dados bibliográficos. Mas o desenvolvimento de redes como a EURONET, que será ligada a outras como a SCANNET, a TRANSPAC e a TYMNET, que oferecem acesso em linha, tornará necessário o estabelecimento de protocolos de acordo e linguagens de comando. Uma rede MARC requer um conjunto de caracteres incluindo romanos, cirílicos, hebraicos, gregos e arábicos, e símbolos com um sistema totalmente reversível de transi iteração. Acesso

internacional a esses bancos de dados pode muito bem levar ao estabelecimento de arquivos regionais ou mesmo centralizados, quando não para oferecer controle satisfatório em aspectos tais como a entrada, o acesso ou a transferência de informação local. Problemas similares surgem com a decisão de armazenar uma obra num banco Ci. Inf., Rio de Janeiro, 8 (1): 51 - 57, 1979

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John J. Eyre

de dados que serve a várias bibliotecas. Decisões têm que ser tomadas com relação à autoridade para alterar registros Mas isso pressupõe uma catalogação centralizada, que tem desvantagens em relação à catalogação cooperativa. Esta última proporciona uma cobertura mais ampla e geralmente os pequenos contribuintes processam seu material mais rapidamente, dessa forma aprimorando a atualização do banco de dados. Há, também, a necessidade de controlar a duplicação de registros, uma praga que infesta o OCLC e a fusão dos registros BNB/ LC. Todas essas atividades decorrentes da introdução dos computadores no ambiente da biblioteca torna inevitável que os nossos profissionais devam conhecer o computador sua capacidade e suas limitações. Significa também que as escolas de biblioteconomia devem preparar

especialistas que tendo interesse e aptidão, tenham formação, a nível avançado, em aspectos apropriados àqueles de quem se espera o projeto, desenvolvimento e manutenção de sistemas bibliotecários autorizado Essa tarefa e as mudanças rápidas que estão envolvidas, representam para as escolas de biblioteconomia o desafio de oferecer aos estudantes a oportunidade de participarem integralmente de um futuro excitante.

ABSTRACT

After reviewing the problems when computers were first used for library housekeeping routines, various aspects concerning the effects on staff are discussed. Particularly relevant are the emergence of the systems librarian, new staff structures, retraining, exposure to scrutiny and monitoring and health problems associated with the use of certain equipment. Technical developments from mainframes to microcomputers are outlined and the effect on peripherals assessed. Reference is also made to the impetus which automation has given to cooperation and standardisation. References are given.

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Tendo em vista termos usado um grande número de notícias e relatórios gerais na elaboração deste artigo, achamos mais úteis fornecer uma seleção das fontes mais apropriadas, que cobrem o período de

1976 em diante:

Annual Review of Information Science and Technology; Catalogue and Index; Computer Talk; Computer

Weekly; Computer Bulletin; Computing; Datamation; Data Systems; Journal of Library Automation;

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Referências

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