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Artigo
original
Escolhas
e
hábitos
alimentares
em
adolescentes:
associac¸ão
com
padrões
alimentares
do
agregado
familiar
Susana
Cardoso
a,∗,
Osvaldo
Santos
b,
Carla
Nunes
ae
Isabel
Loureiro
a aEscolaNacionaldeSaúdePublica,UniversidadeNOVAdeLisboa,Lisboa,PortugalbInstitutodeMedicinaPreventiva,FaculdadedeMedicinadeLisboa,Lisboa,Portugal
informação
sobre
o
artigo
Historialdoartigo: Recebidoa7deabrilde2014 Aceitea14dejulhode2014 On-linea2deabrilde2015 Palavras-chave: Escolhasalimentares Adolescentes Família
r
e
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u
m
o
Introduc¸ão:Sãomúltiplososfatoresquecondicionamasescolhasalimentares.Nasidades infanto-juvenis,ospaisdesempenhamumpapelimportantenaconstruc¸ãodepreferências alimentares.Talinfluênciaéespecialmenterelevantenainfância,maspareceprolongar-se atravésdoperíododaadolescência.
Objetivo:Oprincipalobjetivodoestudofoicaracterizaraassociac¸ãoentrehábitos alimen-taresdoagregadofamiliareescolhasalimentaresdosadolescentes.
Método:Trata-sedeum estudocomabordagemmista,quantitativa equalitativa.Numa primeiraetapa,arecolhadedados(quantitativos)foifeitaatravésdaEscaladeHábitos Alimentares(EHA),autopreenchidaporumaamostradeadolescentesafrequentaroensino secundário(10.◦-12.◦ ano)em 2escolasdodistrito deCoimbra.Desta forma,foi possí-velcaracterizarosadolescentesquantoàadequac¸ãodehábitosalimentares.Deseguida, paraacomponentequalitativadoestudo,foramidentificadoseselecionadosos adolescen-tescompontuac¸õesmaiselevadas naescalaEHA(i.e.,comhábitosmaisadequados)e osadolescentescompontuac¸õesmaisbaixasnestaescala(i.e.,comhábitosalimentares menosadequados).Estesadolescentesforamentrevistadosrelativamenteàssuas prefe-rênciasalimentares,nomeadamentequantoàescolhaalimentaremvárioscontextos(em casa,naescolaeforadecasa),hábitosdoagregadofamiliarerazõesconducentesàsopc¸ões efetuadas.Foramquestionadosaindaquantoaoriscodesaúde(i.e.,percec¸õesderisco) asso-ciadoaoshábitosalimentares,decisãoperanteoimpulsodecomeresituac¸õesassociadas e,porúltimo,acercadeintenc¸õesdemudanc¸adehábitos.Foifeitaumaanálisede con-teúdodenaturezatemática,comcodificac¸ãolinha-a-linhasegundoométododeCharmaz ecodificac¸ãoaxial(comrecursoaosoftwareMaxQDA).
Resultados:Participaram 358 adolescentes, dos 14 aos 18 anos (média=15,78; desvio--padrão=1,05;46,9%rapazes).Amédiadapontuac¸ãoobtidanositensdaEHA(escalatipo
Likert1-5)foide3,434(desvio-padrão=0,346),variandoentre2,15-4,3.Apontuac¸ãototal
∗ Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:sm.cardoso@ensp.unl.pt(S.Cardoso).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.07.004
0870-9025/©2014EscolaNacionaldeSa ´udeP ´ublica.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.U.EsteéumartigoOpenAccesssobalicençade CCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
resultante dasomados itensvariouentre 86-172(numaescala entre0-200),comuma médiade137,4pontos(desvio-padrão=13,85).Nãoforamencontradoshábitos alimenta-ressignificativamentediferentesentregruposetáriosouestratossocioeconómicos,sendo asraparigasaassumirescolhasalimentaresmaisadequadas.Ogrupodeadolescentescom hábitosadequados(médiaEHA entre3,75-4,3;pontuac¸ãototalEHA entre150-172) inte-gra11alunos;ogrupocomhábitosdesadequados(médiaEHAentre2,65-3,125;pontuac¸ão totalEHAentre106-125)integra17alunos.Osadolescentescomhábitosalimentaresmais adequadosdescrevemoestiloparentalcomosendomaisinterventivodoqueodescrito pelosadolescentescomhábitosmenosadequados.Estainfluência,porpartedospais,é operacionalizadadeformasdiversas:atravésdeestiloautoritativo,atravésdosexemplos comportamentais(porpartedospais)e/ouatravésdenegociac¸ãooucontroloda disponibi-lidadealimentaremcasa.Daanálisedeconteúdotambémseinferequeospais/familiares dosadolescentescombaixapontuac¸ãonaEHAtendematerhábitosalimentarespouco saudáveis.Éfrequenteoregistodesensac¸õesdebem-estarassociadoaopadrãoalimentar, porpartedosalunoscomhábitosmaisadequados;nosadolescentescomhábitosmenos adequadosforamregistadasac¸õesdeacomodac¸ãoaoshábitos,semdesenvolvimentode umaposturaativaderemediac¸ãocomo,por exemplo,iniciativaparamudaroshábitos, mesmoquepontualmente.Osresultadosdesteestudoapontamparaanecessidadedeas intervenc¸õesdeeducac¸ãoalimentarentrejovensapostaremnodesenvolvimentode com-portamentosalimentaresadequadosaoníveldetodooagregadofamiliar,emcomplemento aintervenc¸õeseducativasdirigidasapenasaosjovens.
©2014EscolaNacionaldeSa ´udeP ´ublica.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.U.Esteéum artigoOpenAccesssobalicençadeCCBY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Food
choices
and
eating
patterns
in
adolescents:
association
with
parents’
food
patterns
Keywords:
FoodChoices Adolescents Family
a
b
s
t
r
a
c
t
Introduction: There areseveralfactorsthatcaninfluence foodchoices.Inchildrenand youngsters,parentsplayanimportantroleintheconstructionoffoodpreferences.This influenceisespeciallyrelevantinchildhoodbutitseemstoextendthroughoutadolescence.
Objective:tocharacterizetheassociationbetweenthehouseholdhabitsandthefoodchoices ofadolescents.
Method:Thisisaquantitativeandqualitativestudy.Inafirstmoment,datacollection (quan-titative)wasmadebytheEatingHabitsScale(EHA).StudentsfromtwoschoolsofCoimbra (10thto12thgrade)wereaskedtocompletetheEHA.Thus,itwaspossibleto characte-rizeadolescentsaccordingtoadequacyofeatinghabits.Then,forthequalitativestudy,we selectedthestudentsaccordingtothebest(moreappropriatehabits)andtheworst(bad habits)scoreEHAobtained.Theseadolescentswereinterviewedabouttheirfood preferen-ces,includingonfoodchoiceindifferentcontexts(athome,inschoolandoutsidethehome), householdhabitsandreasonsofthechoices.Werealsoaskedaboutperceptionsofrisk asso-ciatedwitheatinghabits,decisionbeforetheurgetoeatand,finally,abouttheintentionsof changinghabits.Acontentanalysiswasmade,usingline-by-linecodingmethodaccording toCharmazandaxialcodification(usingMaxQDAsoftware).
Results: Thecensusofstudentswasinvitedtoparticipateinthesurvey,reachingasample sizeof358students,aged14to18(mean=15.78,standarddeviation=1.05;46.9%boys).The averagescoreonitensofEHA(likert1-5)was3,434(standarddeviation0.346)withmean between2.15and4.3.Amongtheadolescents,thetotalscoreobtainedintheEHAranged between86and172(possiblevaluesbetween0and200),withanaverageof137.4 (stan-darddeviation=13.85).Therewerenosignificantdifferenteatinghabitsaccordingtoeach agegrouporsocioeconomicstratum,withthegirlstotakemoreappropriatefoodchoices (higherscoresEHA).Thegroupofadolescentswithproperhabits(EHAaverage3.75–4.3; EHAscoresbetween150and172),includeselevenstudents.Thegroupofinadequatehabits (EHAaverage2.65–3.125;EHAscoresbetween106and125),includes17students. Adoles-centswithpropereatinghabitsdescribetheparentingstyleasmoreinterventionistthan thosereportedbyadolescentswithbadhabits.Thisparents’influenceisoperationalizedin severalways:throughauthoritativestyle,throughbehavioralexamples(byparents),and/or throughnegotiationorcontroloffoodavailabilityathome.Fromcontentanalysiswealso
inferthatparents/familiesofadolescentswithlowscoresinEHAtendtohaveunhealthy eatinghabits.Registrationoffeelingsofwell-beingassociatedwithdietarypatternsis com-monamongadolescentswithproperhabits;amongadolescentswithinadequatehabits, wefoundconformity,withoutdevelopinganactiveremediationattitudeas,forexample, initiativetochangehabits,evenoccasionally.Theresultspointtotheneedforeducation interventionsamongyoungsterswithparticularfocusindevelopingappropriatehousehold eatingbehaviors,inadditiontoeducationalinterventionsdirectedonlytoyoungsters.
©2014EscolaNacionaldeSa ´udeP ´ublica.PublishedbyElsevierEspaña,S.L.U.Thisisan openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Aescolhaalimentar,maisoumenosconsciente,étomadano momentoemquesecomprae/ouconsomedeterminado ali-mento,sendoestaescolhadeterminadapordiversosfatores: fisiológicos,psicológicos,sociais,económicoseculturais.As escolhasalimentaressãoveículosdeformac¸ãodehábitos ali-mentareseinfluenciamsignificativamenteoestadodesaúde aolongodavida1.Poroutrolado, importadestacaropapel
da aprendizagemnaaquisic¸ão depreferênciasalimentares emjovens (crianc¸as e adolescentes), quer a aprendizagem formal(sobrealimentossaudáveisversusnãosaudáveis,por exemplo)queraaprendizageminformal2,3.Nosprocessosde
aprendizageminformalospaisdesempenhamumpapel fun-damental,nomeadamente através da modelac¸ão quanto a hábitosalimentares(aprendizagemvicariante,paraosjovens) eda disponibilidade alimentarpermitida(para além, obvi-amente, das recomendac¸ões/permissões diretas quanto às escolhasalimentaresdosjovens)4.
De facto, o ambiente familiar apresenta-se frequente-mentecomodeimportânciacrucialparaodesenvolvimentoe manutenc¸ãodoscomportamentosalimentaresedeatividade física,emcrianc¸as,podendoserencorajadaspráticas saudá-veisatravésdoshábitosassumidospelospaisedosrecursos disponibilizadosporestes5,6. Sabe-setambémqueas
práti-casparentaispotenciamaopc¸ãopordeterminadosalimentos atravésdaexposic¸ãorepetidaaessesalimentos4,7.
Emcrianc¸asdos4aos8anosfoipossíveldestacara influên-ciadamãe,assumindorelevâncianãosóapráticaparental, mas também o estilo parental,nomeadamente através da pressão exercida para comer, com efeito potencialmente perverso (i.e., associado a maior disfunc¸ãoalimentar)8. A
estruturaeasinterac¸õesfamiliaresdiretamenterelacionadas comarefeic¸ãoestendemasuainfluênciasobreoperíododa adolescência9,10.
UmestudodeArcan11,comadolescentesdeidades
com-preendidas entre 15-18 anos, aponta para uma associac¸ão positivaentreamodelagemparentalsaudável,emtermosde escolhasalimentares,eumIMCde18-23(i.e.,saudável)nos filhos.Assimsendo,éparticularmenteimportante compreen-derosdeterminantesdasescolhasalimentares.
Comocrescimento,esobretudonaadolescência,emqueas interac¸õessociaisnãoparentaisseintensificam,aconstruc¸ão deescolhatorna-semaiscomplexaedependentedainterac¸ão com/entre múltiplos elementos psicossociais, culturais e económicos2,12. A globalizac¸ão e ocontexto socialem que
o adolescente se integra afetam as escolhas alimentares
de modo ainda mais pronunciado do que no período da infância13. Bouwman14,p.391 refere que «a comida é
frequen-temente partilhadacom outros eproporcionaoportunidades para estabelecimentodecontactossociais.Estasinterac¸õessociaispodem funcionarcomo um marcodecultura ecomoexpressão de afeto, compromissoeidentidade».
Dequalquermodo,oimpactodoshábitosfamiliares con-tinua a fazer-se sentir na adolescência. Por exemplo, em algunsestudosfoipossívelverificarassociac¸ãodemaior con-sumo de fast-food emenor consumo de vegetais porparte dosadolescentes,comcontextosfamiliaresqueintroduzem frequentementeofast-foodnapráticahabitualquotidiana15.
Pareceexistirumaassociac¸ãoentreoambientealimentarde casa,controladosobretudopelospais,eoconsumodefrutas evegetais,porpartedosjovens.Adisponibilidadedefrutase vegetaiseorácioalimentosmaissaudáveis/alimentospouco saudáveis,emcasa,estãofortementeassociadosàingestão defrutasevegetais16.
Oestudoaquiapresentadovisacontribuirparaa compre-ensãodaformacomoasescolhasalimentares,nodia-a-dia deadolescentes,serelacionamcomoshábitosalimentaresdo agregadofamiliare,emespecial,comoshábitosalimentares dospais.
Objetivos
Oprincipalobjetivodesteestudoécaracterizaraassociac¸ão entrepercec¸ãodoshábitosalimentaresdoagregadofamiliar easescolhasalimentaresdosadolescentes.
Numaprimeirafase,recorrendoaumaabordagem quan-titativa, pretende-se caracterizar os hábitos alimentares em adolescentes a frequentar o ensino secundário. Numa segunda fase, recorrendo a uma abordagem qualitativa, pretende-se conhecer a percec¸ão dos jovens quanto aos hábitos alimentares doagregado familiar. Esta informac¸ão, obtida pela abordagem qualitativa, permite compreender a associac¸ão entre as práticas parentais e as escolhas alimentares dos adolescentes (avaliadas pela componente quantitativa).
Métodos
Oestudoseguiuumaabordagemmista,inicialmente quan-titativa ede seguida qualitativa, sempre com umdesenho observacional transversal. A recolha dosdados quantitati-vosfoifeitaatravésdequestionáriosdeautopreenchimento,
emcontextoescolar,eporentrevistaindividual semiestrutu-radaface-a-face.Participaramnoestudo2escolas(amostra intencional),emqueseprocuroudiversidade(entre adoles-centes)socioeconómica,bemcomodeofertaalimentar(em termosdepastelaria/snack-bareestabelecimentosfast-foode emtermos de ementadecantina escolar).Em cada escola foi constituídaumaamostra não probabilística,por conve-niência.Numadas escolasforam aplicadosquestionários a turmasdo10◦ ao12◦ anos deescolaridade,ensino regular, selecionando2turmas poranodeescolaridadeeaturmas deensinoprofissional,selecionandoumaturmaporanode escolaridade.Noutra,foramaplicadosquestionáriosaturmas do10◦ ao12◦ doensino regular,selecionando3turmas por cadaanodeescolaridade.Aselec¸ão foirealizadacombase emconveniência dohorárioescolar,porforma afacilitar a operacionalizac¸ãodosquestionários.Foramexcluídosalunos com históriaclínicaconhecida de distúrbioalimentare/ou compatologiacondicionantedadieta (n=4).Foramobtidas asautorizac¸ões dadirec¸ãodas escolasqueparticiparamno estudo,bemcomooconsentimentoinformadoassinadopelos paisepelosadolescentes,comgarantiadeanonimato(e, por-tanto,deconfidencialidade).
OsalunosresponderamàEscaladeHábitosAlimentares (EHA),validadaparaapopulac¸ãoportuguesaporMarques17.
AsrespostassãodadasatravésdeumaescaladotipoLikert.
Quantomaiselevadaapontuac¸ãomédiadetodosositens, maisadequados serãoos hábitos alimentares. Este instru-mentoinclui questões relativasa4dimensões:quantidade alimentar(7itens),qualidadealimentar(14itens),variedade alimentar (8 itens) e adequac¸ão alimentar (11 itens), que originam distribuic¸ãopor item de 1-5. A pontuac¸ão global (somatóriodasrespostasdadasaos40itens)podeapresentar valoresavariarentre0-200.Médiasdepontuac¸ão(1-5)mais elevadascorrespondemahábitosmaisadequadosemtermos dequalidade,quantidade,variedadeeadequac¸ão alimenta-res.
Oprocessodevalidac¸ãodaEHAdesenvolvidoporMarques resultou de uma amostra não aleatória, de âmbito regio-nal(zonaCentro) everificou haveralgunsitens com baixa correlac¸ãocomapontuac¸ãototaldaescala(reduzindoovalor globaldeconsistênciainterna).Noentanto,osreferidositens forammantidos porquestões designificado de constructo. Osvaloresdealfaencontradosnoestudodevalidac¸ãoforam de␣=0,5paraaquantidadealimentar,␣=0,716paraa quali-dadealimentar,␣=0,658paravariedadealimentare␣=0,619 paraadequac¸ãoalimentar.OvaloralfadeCronbachglobalfoi bastantebom:␣=0,816.
O índice de massa corporal(IMC) foi determinado pela investigadorapormedic¸ãoantropométricadopesoedaaltura dosadolescentes.Paradeterminac¸ão depré-obesidadeede obesidadeseguiram-seospontosde corte(ecurvasde per-centil)doCDC18.
Para efeitosda análise estatística utilizou-se o software IBMStatisticalPackagefortheSocialSciences,SPSS20.0.Para comparac¸ão entre alunos provenientes dos vários estratos socioeconómicos,géneroegruposetáriosrecorreu-seaoteste tparaamostrasindependenteseàANOVAaumfator.
Paraasentrevistassemiestruturadasforamselecionados os alunos com melhor e pior pontuac¸ão obtida na EHA. Pretendeu-seassimestabelecerumadicotomia,comvistaà
análisecomparativadesubgruposcomcaracterísticas(em ter-mosdehábitosalimentares)muitodistintas(maisadequados –grupoA–emaisdesadequados–grupoB).Assimsendo,a amostradeadolescentesqueparticipounaabordagem qua-litativaconsistiunumasubamostradosqueparticiparamna abordagemquantitativa.Otamanhoamostraldecadagrupo (commelhoresepioreshábitos)foidefinidodeacordocomo princípiodasaturac¸ãoteórica19:
Grupo A (n=11): alunos com elevada pontuac¸ão na EHA (hábitos alimentares mais adequados; EHA ≥150); pontuac¸õesentre 150-172, médiade 163,9(desvio-padrão =5,84).Médiadasdimensões:qualidade–3,889±0,29; quan-tidade –4,026±0,56; variedade– 4,522±0,23; adequac¸ão – 4,024±0,17.Médiatotaldasdimensões–4,115±0,17.
GrupoB(n=17):alunoscombaixapontuac¸ãonaEHA (hábi-tosalimentaresmenosadequados;EHA≤125);pontuac¸ões entre 106-125, média de 118,82 (desvio-padrão=5,85). Média das dimensões: qualidade – 2,890±0,34; quanti-dade –2,823±0,55; variedade – 3,125±0,39; adequac¸ão – 3,074±0,48.Médiatotaldasdimensões–2,978±0,15. Relati-vamenteaestegrupo,nãofoipossívelintegrar4alunosque haviamobtidopontuac¸ãoinferiora106(2delesmudaramde escolae2recusaramparticiparnacomponentequalitativa doestudo).
Nasentrevistassemiestruturadasosparticipantes proce-deramaumadescric¸ãodoshábitosalimentaresdoagregado familiar,dosseuspróprioshábitosalimentares,sendo questi-onadosacercadasdiferenc¸asentreaalimentac¸ãopraticada emcasa, naescolaefora deambas, erazõesconducentes aessasescolhas.Foramquestionadosaindaquantoaorisco desaúde(i.e.,percec¸õesderisco)associadoaoshábitos ali-mentares, decisãoperante oimpulsode comeresituac¸ões associadase,porúltimo,acercadeintenc¸õesdemudanc¸ade hábitos.
Para efeitos de análise dos dadosrecolhidos através da entrevista(dadosqualitativos)seguiu-seumaabordagemtipo
groundedtheory20,21.Osregistosáudiodasentrevistasforam
transcritos de forma integral. Foi feita uma análise temá-tica doconteúdo,com categorizac¸ão atravésdométodo de codificac¸ão aberta linha-a-linha de Charmaz22. Após esta
codificac¸ãoabertarealizou-seacodificac¸ãoaxial,comrecurso aosoftwareMaxQDA,poranálisedarelac¸ãoentrecategorias23
e,porúltimo,codificac¸ãoseletivaprocurandoidentificaruma categoriacentraldateoria,integrandotodososdadosdo pro-cesso,atéatingirasaturac¸ãoteóricadosdados.
Resultados
AEHAfoiadministradaa358alunos(46,9%rapazes)doensino secundário(10.◦-12.◦anosdeescolaridade),comidadesentre os14eos18anosdeidade(média=15,78±1,05).Adistribuic¸ão poridades,nívelsocioeconómicoesexodosalunos partici-pantesemcadaumadasfasesdoestudoapresentam-senas
tabelas1e2.
Aspontuac¸õestotaisdeEHA,resultantesdasomadetodos os itens, variaram entre 86-172, com uma média de 137,4
Tabela1–Caracterizac¸ãodaamostra–componente quantitativadoestudo Rapazes (n=168) Raparigas (n=190) Total (n=358) Idade 14anos(%) 8,33 9,47 8,9 15anos(%) 33,9 35,8 34,9 16anos(%) 33,3 28,95 31 17anos(%) 17,86 20,5 19,3 18anos(%) 6,55 5,26 5,9 Média 15,8 15,76 15,78 Mediana 16 16 16 Desvio-padrão 1,046 1,055 1,050
Nívelsocioeconómicodospais
Semsubsídio(%) 85,7 87,9 86,9
EscalãoC(%) 7,14 7,9 7,5
EscalãoB(%) 5,95 3,68 4,7
EscalãoA(%) 1,19 0,53 0,8
Tabela2–Caracterizac¸ãodaamostra–componente
qualitativadoestudo GrupoA (n=11) GrupoB (n=17) Total (n=28) Idade 14anos(%) 18,18 23,5 21,4 15anos(%) 27,27 29,4 28,6 16anos(%) 36,36 29,4 32,1 17anos(%) 0 17,6 10,7 18anos(%) 18,18 0 7,14 Média 15,72 15,4 15,54 Mediana 16 15 15,5 Desvio-padrão 1,35 1,064 1,17 Sexo Raparigas(%) 72,7 41,2 53,6 Rapazes(%) 27,3 58,8 46,4
Nívelsocioeconómicodospais
Semsubsídio(%) 100 88,2 92,8
EscalãoC(%) 0 11,8 11,8
EscalãoB(%) 0 0 0
EscalãoA(%) 0 0 0
GrupoA:grupodeadolescentescomhábitosalimentaresmais sau-dáveis,deacordocomapontuac¸ãoglobaldaEHA(≥150). GrupoB:grupodeadolescentescomhábitosalimentaresmenos saudáveis,deacordocomapontuac¸ãoglobaldaEHA(≤125).
(desvio-padrão=13,85). Emtermos médios,obtiveram-seos valoresapresentadosnatabela3.
Porsetratardeumaescalarecenteedeaplicac¸ãoainda diminuta, procedeu-se,como járeferido, a umaanálisede
fiabilidade internadamesma.Relativamenteàescala com-pleta obteve-se um alfade 0,81.Para as subdimensões da escala foram encontradosos seguintes alfas: quantidade – 0,52;qualidade –0,69;variedade–0,69 eadequac¸ão–0,52, correspondendo avaloresqueapontamparafraca/razoável consistênciaparaalgumasdimensões(comreduzidonúmero deitens),masumaboafiabilidadenoseuconjunto.
Oestratosocioeconómicofoiavaliadosegundooescalão de subsídiodeac¸ãosocialescolar.Aamostrainclui alunos de escalões socioeconómicos diversificados: 86,9% de ado-lescentesnãoabrangidosporsubsídio,7,5%deadolescentes poucocarenciados(escalãoC),4,7%deadolescentes carenci-ados (escalão B) e0,8%de adolescentesmuito carenciados (escalãoA).
Apenasumalunoviviacomumatia.Osrestantesviviam comospaiseirmãosnocasodeestesexistirem.
Nãoforamencontradoshábitosalimentares significativa-mentediferentesentregrupoetáriosouestratos socioeconó-micos.Járelativamenteaosexo,recorrendo-seaotestetpara comparac¸ãodemédias,verificou-seseremasraparigasa assu-mirescolhasalimentaresmaisadequados(pontuac¸õesmais elevadasdoEHA;p<0,001).
Nenhum dos adolescentes apresentava obesidade. No grupo A uma aluna apresentava ligeiro excesso de peso (IMC=25,0).NogrupoBumaaluna apresentavaexcessode peso (IMC=27,7) e um aluno apresentava ligeiro excesso depeso(IMC=24,8)18.
Perspetivasdosalunossobreoshábitosalimentares dospais
Daanálisedosrelatosobtidosatravésdaentrevista, constata--se que o fator com maior relevância nas escolhas dos adolescentes–hábitosdoagregadofamiliar–écomumaos 2grupos,emdetrimentodeoutrosfatores,comotempo dis-ponívelepreferênciasalimentaresbaseadasnopaladar,estes sim,diferindonaprioridadeassumidaentreos2grupos(Ae B).
Osadolescentescomhábitosalimentaresadequados refe-rempráticasmaissaudáveis,partindodoambientefamiliar (ver exemplo de discurso na tabela 4). Os pais/familiares assumeminfluênciadiretaeinterventiva.Apresenta-seuma famíliaque,tipicamente,apreciaecultivaumaalimentac¸ão adequada,frequentementecomcontroloepreocupac¸ãopela saúde. Desalientarque o «controlo»éreferido, pelos ado-lescentes, como um acompanhamento, mas sem pressão conflituosa.Naperspetivadosadolescentes,osreferidos hábi-tosenraízam-seaolongodotempoeasopc¸õesdospaistêm
Tabela3–Médiasobtidaspelaaplicac¸ãodaEHA–componentequantitativadoestudo
Amostran=358 GrupoA GrupoB
Média Desvio-padrão Média Desvio-padrão Média Desvio-padrão
Global 3,434 0,346 4,115 0,175 2,978 0,150
Quantidade 3,069 0,412 4,026 0,563 2,823 0,554
Qualidade 3,350 0,587 3,889 0,298 2,890 0,347
Variedade 3,772 0,527 4,522 0,235 3,125 0,395
Tabela4–Discursosdosadolescentesrelativamenteàinfluênciaparentalnasescolhasalimentares(porcategorias
deanálise)
Categorias Exemplos(verbatim)
GrupoA
Disponibilidadealimentar «Comováriasfrutasqueaminhamãemeprepara»
«Comomuitopeixe...aminhamãecostumafazermuitopeixe»
«Sinto-mebemanãocomer(fritosealimentosricosemgordura)eentãoaminhamãetambémjásabeisso...lá emcasaémuitoraro»
Controloeencorajamento «Láemcasaacomidaatéébastantesaudável.Nósfazemosmuitomaiscozidosegrelhadosdoquefritos...» «Semprefuicontroladapelaminhamãenoquetocaàalimentac¸ão,nuncameexcedicomporcariase habituei-meassim»
«Emcasanãocomofritosporqueeunãogostomuito,aminhamãenãogostadefritos,nãogostadocheiro...» «... semprefuihabituadaaterumregimealimentarmaiscontrolado...enãofac¸osacrifícios,sinto-mebem»
Bem-estar «Sinto-mebemanãocomer(fritosealimentosricosemgordura)eentãoaminhamãetambémjásabeisso...lá
emcasaémuitoraro»
«...enãofac¸osacrifícios,sinto-mebem»
Preferênciasdospaiscomo promotorasdaspreferências dosfilhos
«Emcasanãocomofritosporqueeunãogostomuito,aminhamãenãogostadefritos,nãogostadocheiro...» «... eugosto... porexemplo,eueaminhamãegostamosmasporissotenhoqueàsvezescomprarsó especialmenteparanós...» Dificuldadeem gerir/compensara disponibilidadedecomida saudável,emfunc¸ãode gostosdiferentes
«Gostavadeconseguirintroduzirmaisvegetais...eutento,sóquemuitasvezesnão...emminhacasaelesnão gostammuito...eugosto...porexemplo,eueaminhamãegostamosmasporissotenhoqueàsvezescomprar sóespecialmenteparanósporqueosmeusirmãosnãogostam»
GrupoB
Práticafamiliarpouco saudável
«Aminhamãefazimensosdocesdepoisdarefeic¸ão»
«Nãocostumocomersopaaojantarporquejácominaescolaeomeupaitambémnãofaz.Emcasacomomenos doquenaescolamasmaisvezes.Aquinaescolacomomaiscomodeveser»
«Èquaseimpossíveleufazerdietanaquelacasa...aminhamãefazovosmoles,fazmileumacoisas...ela
tambémégulosaefazparaelaeestálá»
Nãoencorajamento «Devezemquandoralhacomigomasnãomeobrigaacomer»
«Aojantarcomooqueaminhamãefaz,masnãocomosopa.Carne,massa,arroz,peixe»
Indisponibilidadeemcasa «Eucomoporgosto...estouarefletirpelaprimeiravez...talvezoportunidade...porqueemcasanuncasefaz. Comoquandovouaorestaurante.Sequisessefazernãotinhaparaofazer»
Acomodac¸ão «Seeuacordaràs10ou11h,omeupaisóacordaàs3datardeeentãosoucapazdecomer3vezeso pequeno-almoc¸o,sejapãooucereais.Aoalmoc¸onãocomonadaoucomoumpãoesóvoltoacomeraojantarou aolanche...nãoháohábitodealmoc¸arláemcasa.Almoc¸ologoaoacordar...ésempreassimqueraosábado queraodomingo»
Ospais,oupelomenosum deles,fomentamoshábitos inadequadosou
encorajam-nos
«Sehouvercomo,senãohouverligoàminhamãeepec¸oparacomprar»
«Demanhã,omeupaicostumairaopadeiro,compraumfolhadomistoeeucostumocomer...»
«Aossábados,seaminhamãesair,seforaCoimbra,àsvezestrazMcDonaldssenão,comoesparguetecom bacon»
«SeaminhamãeestiverporCoimbraatémepodetrazerumhambúrguerparaolanchemasumavezou outra...chegouaserumavezporsemana...»
repercussõesclarasnasopc¸õesemcontextofamiliar.É refe-ridoobem-estarqueadvémdaopc¸ãoporumaalimentac¸ão adequada. Os hábitos familiares incorporam a procura de bem-estarporpartedosvárioselementosdafamília.
Noúnico caso, de entre os que constituem o grupo A, emquesurgemalgunscenáriosdehábitos menos adequa-dos o adolescente, mesmo perante a dificuldade em gerir problemas de disponibilidade, assume uma posic¸ão ativa nosentidodedesenvolvercondic¸õesfacilitadorasdeopc¸ões saudáveis, sendo estas (também neste caso e tal como expressopeloadolescente)associadasàinfluênciadeumdos pais.
Emcontraste,dosrelatos dosadolescentescom hábitos alimentares inadequados, verifica-se uma prática familiar, nomeadamente selec¸ão alimentar e modos de confec¸ão, poucosaudáveis. Nestesadolescentes,ainfluênciaativada família,nasrarasvezesemqueémencionada,émaisténue, menoscontroladora,nãoencorajandooshábitossaudáveis.
Nodiscursodosadolescentessurgecom frequênciao
reco-nhecimento da alimentac¸ão como inadequada, mas sem
desenvolvimento de comportamentos de compensac¸ão, ao invésdoobservadoemalgunscasosdogrupoA.Associam-se questões depreferênciasemodosdeconfec¸ão,com dispo-nibilidadedeprodutosalimentaresmenossalutogénicos,em casa:«Eucomoporgosto...estouarefletirpelaprimeiravez...talvez oportunidade...Comoquandovouaorestaurante.Sequisessefazer nãotinhaparaofazer».Nestafraseéespecialmenteevidenteo factodaspráticasfamiliares,nomeadamentenoqueserefere àdisponibilidadealimentar,condicionaremaformacomoo adolescentesealimenta.Jáfrasescomo«seeuacordaràs10ou 11homeupaisóacordaàs3datardeeentãosoucapazdecomer3 vezesopequeno-almoc¸o,sejapãooucereais»ou«soalmoc¸onãocomo nadaoucomoumpãoesóvoltoacomeraojantarouaolanche...»
ouainda«nãoháohábitodealmoc¸arláemcasa.Almoc¸ologoao acordar...ésempreassimqueraosábadoqueraodomingo» deno-tamumaacomodac¸ão,semdesenvolvimentodeestratégias
remediadoras(verificadasnogrupocomhábitosalimentares adequados).
Dodiscursodosadolescentestambémseconcluiqueos pais,oupelomenosumdeles,fomentamoshábitos inade-quadosouencorajam-nos,criandocondic¸õesfavoráveisaos consumosalimentarespoucosaudáveis.
Ainfluênciaporpartedamãesurgemaisfrequentemente comparativamente com o pai. Esta assimetria é em parte explicávelpelaexecuc¸ão,porpartedamãe,detarefascomo cozinharouadquirirprodutos.Opaiteráassimumainfluência maispontualnasescolhasalimentaresdosadolescentes.
Osadolescentesentrevistadosreferemfrequentementeas escolhas realizadasem contexto familiar, como assumidas igualmente em contextos fora do ambiente familiar: «Até
gosto...antesnemgostavamuitomascomeceiagostar...»,«escolho habitualmentecoisasquetêmavercomacomidaqueeucostumo comer»,«...vaitambémporaquiloqueeuestoumaishabituada...»
ou«semprefuicontroladapelaminhamãenoquetocaàalimentac¸ão, nuncameexcedicomporcariasehabituei-meassim».
Discussão
Pretendia-se com este estudo uma caracterizac¸ão da associac¸ão entre hábitos alimentares do agregado fami-liareasescolhasalimentaresdosadolescentes,recorrendo a uma metodologia mista (quantitativa e qualitativa). A abordagem quantitativa visou a caracterizac¸ão da amostra emestudo quanto aos hábitos alimentares e a selec¸ão de (sub)amostras que permitissem uma abordagem qualita-tivarica eminformac¸ão sobre determinantes das escolhas alimentares.
Foi utilizada a EHA, que revelou uma boa consistência interna(paraaescalatotal),emboracomconsistênciainterna maisfracaparaalgumasdassuassubdimensões(explicável tambémpelofactodeestasdimensõesterempoucositens). Deumaformageral,osvaloresdeconsistênciainterna encon-tradosestãoalinhadoscomosencontradosporMarques17.
AescalaEHAapresentaalgumaslimitac¸õesquedecorrem doseuprocessodevalidac¸ãoeusoaindalimitado.Este traba-lhoreforc¸aapossibilidadederecursoaestaescalaparaanálise doshábitosalimentares,tendo-seobtidoumalphade Cron-bachde0,81.Noentanto,éaconselhávelrecorreraestudos maisaprofundadosdemodoareforc¸aravalidadeexternada escala.
Na amostra estudada os adolescentes apresentaram classificac¸ões mais elevadas na dimensão «variedade alimentar» e mais reduzidas na dimensão «quantidade», tal como obtido em outros estudos17. As médias obtidas
para cada dimensão da escala EHA aproximam-se das já encontradasnaamostraestudadaporMarques(quantidade: 3,107; qualidade:3,244;variedade: 3,574;adequac¸ão:3,297), apresentandovaloresligeiramentemaisbaixosparaa dimen-sãorelativaàquantidadeeligeiramentemaiselevadospara asrestantesdimensões.
Umalimitac¸ãodesteestudotemavercomofactodenão existirem dadosrelativos aoIMC da totalidade dosalunos. Apenasforamdeterminadosessesvaloresrelativamenteaos alunosselecionadosparaabordagemqualitativa,por condici-onantesrelativasàlogísticaehoráriosdasdiversasturmas.
Seria igualmente pertinente complementar o estudo com outrasfontesdedadosrelativosàspráticasparentaiseestilo parental,paraalémdasdecorrentesdosrelatosdos adoles-centes.Damesmaforma,ofactodeaanálisedecorrersobre umaamostradeconveniêncialimitaasuarepresentatividade. Daanálisedosrelatosdosadolescentes,apesardos mes-mos não visarem descric¸ão exaustiva, constata-se alguma identidadeentreosalimentosehábitosalimentaresqueos adolescentesverbalizarameoregistadoaprioriaquandodo preenchimentodaEHA.
Osdadosrecolhidosnesteestudoconfirmamopapeldas práticasehábitosfamiliaresenquantoformatadoresde esco-lhas alimentares entre adolescentes. A figura 1 apresenta, deforma esquemática,omodocomoestaspráticase hábi-tosalimentaresdoagregadofamiliarserelacionamcomas escolhasalimentaresatuaisdosadolescentes.Comosepode observar, na opinião dos adolescentes, o padrãoalimentar dospaisestádiretamenteassociado aosrecursos alimenta-resdisponibilizadosemcasa.Tal,éconcordantecomoutros estudos,quemostraramqueamodelagemparental,o ambi-ente familiar e controlo da disponibilidade por parte dos paisestãoassociadosaoshábitosalimentaresadotadospelos adolescentes6,15,16. A percec¸ão de bem-estar por partedos alunos com hábitos alimentares adequados surge também associadaàsopc¸õesalimentaresimplementadasemcontexto familiar.
Osrelatosqueapontamparaoencorajamento,porparte dospais,doconsumodefastfood,predominantesnogrupode adolescentes comhábitos inadequados(classificac¸õesmais baixasdaescalaEHA),parecemirdeencontroaodefendido por alguns autores, como Boutelle, quanto à influência da aquisic¸ão defastfood paraconsumo no seio familiar.Nesta perspetiva,afamíliapareceassumirumpapelnegativo, con-tribuindoparaaselec¸ãodessetipodealimentos15.
Existemestudosdeassociac¸ãoentreo padrãoalimentar dospaiseasescolhasepreferênciasalimentaresdosfilhos, inferindoainfluênciaparentalsobreoscomportamentos ali-mentares, mas, na sua maioria, incidiram sobre amostras constituídasporcrianc¸asatéaos13-14anosdeidade. Pou-cos são os estudos que incluíramadolescentes até aos 18 anos6,24.Umestudode2013analisouaassociac¸ãoentre
hábi-tosalimentareseoambientefamiliaremtermosdefrequência dasrefeic¸õesemfamíliaecontroloparental,numaamostra de adolescentesgregos.Foiregistadaumaassociac¸ãoentre controloparentaleescolhassaudáveisporpartedosfilhos13.
Tambémnanossaamostraopapelreguladordospaisassume especialrelevânciaparaoshábitosdosfilhos.Osestudos rea-lizadosnosúltimosanostêminvestidonacaracterizac¸ãode hábitosepráticasalimentaresparentaisesuaassociac¸ãocom hábitosalimentaresdosfilhos.Nãoforamencontrados estu-dos que relacionem a prática parental percecionada pelos adolescenteseasescolhasassumidasporestes.Numestudo de Stevenson,com recolhadedadosatravés defocus-group,
comadolescentesdos12aos15anos,apresentandohábitos alimentares saudáveis, verificou-se associac¸ão entrea prá-ticadedesportoedeatividadesculináriaseaautopercec¸ão relacionadacom a alimentac¸ão,isto é, acrenc¸a deque os hábitossaudáveisacarretammais-valias,assimcomoa cor-retaavaliac¸ãoem«bom»e«mau»podeserdeterminantepara oscomportamentosadoptados25.Segundoosautoresdesse
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Pais/agregado familiar
Adolescentes
Hábitos adequados Hábitos inadequados Hábitos inadequados Bem-estar Postura ativa/compensação Acomodação Ausência de estratégias de compensação Prática familiar pouco saudável
Encorajamento de hábitos inadequados Indisponibilidade de alimentos
saudáveis Prática familiar saudável Controlo/encorajamento Disponibilidade alimentar
Preferências alimentares
Figura1–Atitudesdosadolescentesrelativamenteàescolhaalimentareformacomoestaéinfluenciadapelaspráticas ehábitosdosagregadosfamiliares.
estudo,participar ativamente, nomeadamentena confec¸ão dosalimentos,seráummediadordoconsumodemaior vari-edade de alimentos. Esta postura ativa surge na presente investigac¸ão,nestamesmaperspetiva,umavezqueos ado-lescentes que assumem este tipo de postura mais ativa, nomeadamenteparticipandonaaquisic¸ãodeprodutospara consumoemcasa,apresentammaiorcapacidadeparaefetuar escolhassaudáveis.
Nopresenteestudo,aassociac¸ãoentrepadrãoalimentar dospais eescolhas dos filhos adolescentesfoi investigada recorrendo aosrelatos dosfilhos.Deste modo,sobressaem os fatores relevantes característicos do agregado familiar, quandopercecionadospelosadolescentes.
Asescolhasalimentarespodemestaremassociac¸ãocom fatoresculturaiseétnicos26.Noestudoqueseapresentatal
nãofoiconsideradoumavezquetodososparticipantessão provenientesdeummesmoambientecultural,sendo oriun-dosdePortugal,concretamenteBeiraLitoral.
Conclusões
Orecursoàcomparac¸ãodediscursos degruposde adoles-centescomhábitosespecialmenteantagónicoscorrespondea umanovaabordagemrelativamenteaosestudosjáexistentes.
Comesteestudo,verificou-sequeainfluênciadospaisé rele-vante,independentementedesetratardeadolescentescom hábitosmanifestamenteadequadosoumanifestamente desa-dequados.
Um dos fatores que pode influenciar as escolhas ali-mentaresdosadolescentesestárelacionadocomoshábitos familiares relacionados com a alimentac¸ão. O padrão ali-mentar praticado em casa é determinante para a adoc¸ão e manutenc¸ão de comportamentos alimentares por parte dos adolescentesem geral. Este fator,ao contrário doque poderá acontecer com outros, assume relevância especial querentreosadolescentesqueefetuamescolhasadequadas quer sobreos queefetuamescolhas inadequadas.Paisque adquiremalimentossaudáveis,tornando-osdisponíveisem contexto familiar,que consomemessesmesmosalimentos de uma forma regular, com preocupac¸ãocom o bem-estar dos várioselementos da família,contribuem para o enrai-zar de hábitos alimentares saudáveis por parte dosfilhos. Estes tendem a tomar decisões semelhantes fora de casa, pelo que a influência se estende para além do contexto familiar. Os jovens falamem hábitos iniciados pelos hábi-tosalimentares praticados emfamília equeseperpetuam paraalémdessecontexto,oqueépatentenareferência fre-quente a frases com termos como «hábito» e «comecei a gostar».
Tendoemconta queoshábitos alimentares partemem grandepartedocontextofamiliar,existeumatendênciapara estesseperpetuaremaolongodasgerac¸ões.Assimsendo,e tendoemcontaosresultadosdopresenteestudo,é impor-tantequeasintervenc¸õesnaáreadaeducac¸ãoparaasaúde tenhamemcontaocontextofamiliar.Qualquermedidaque contempleestecontexto,nomeadamenteatravésde ativida-desqueincluamospais/famíliacomquemviveoadolescente, serão sempre maisadequadas. Confirma-se a importância deintervirjuntodospais,nomeadamentenosentidodeos encorajaradisponibilizar,emcasa,alimentosvariados, nome-adamentefrutasevegetais,eadiminuiradisponibilidadede outrosalimentosmenossaudáveis27,28.
É aconselhável efetuar estudos recorrendo a amostras maisalargadaseemcontextosculturaisdiversificadospara umacompreensãomaisfundamentadadofenómeno.Estes esforc¸osdeinvestigac¸ãoserãoespecialmenteheurísticosse incluíremacaracterizac¸ãodoníveleducacionaldospais,das suaspercec¸õese atitudesrelativamenteà alimentac¸ãoeo níveldeliteraciaemsaúde,fundamentalparauma compre-ensãomaisampladainfluênciadocontextofamiliar.
Conflito
de
interesses
Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.
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