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Artigo
de
revisão
Atenc¸ão
primária
à
saúde
e
os
idosos
institucionalizados:
a
perspectiva
da
gestão
municipal
no
Brasil
Grasiela
Piuvezam
a,∗,
Kenio
Costa
de
Lima
b,
Monise
Santos
de
Carvalho
c,
Vítor
Guerra
Pereira
Xavier
c,
Rafael
Alves
da
Silva
c,
Aline
Rochelle
Filgueira
Dantas
ce
Vilani
Medeiros
de
Araújo
Nunes
daDoutoraemCiênciasdaSaúdepelaUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte–UFRN,DepartamentodeSaúdeColetiva(DSC-UFRN), ProgramadePósGraduac¸ãoGestãodaQualidadeemServic¸osdeSaúde(PPGQualiSaúde-UFRN-BR/UMU-ES/INSP-MX),Natal,Brasil bDoutoremCiênciaspelaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro–UFRJ.DepartamentodeOdontologiaedoProgramadePós-Graduac¸ão emCiênciasdaSaúdedaUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte–UFRN,Natal,Brasil
cEstudantedoCursodeMedicinadaUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte,Natal,Brasil
dDoutoraemCiênciasdaSaúdepelaUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte–UFRN.ProfessoradoDepartamentodeSaúde Coletiva(DSC-UFRN),Natal,Brasil
informação
sobre
o
artigo
Historialdoartigo:
Recebidoa8dedezembrode2014 Aceitea27demaiode2015
Palavras-chave:
Atenc¸ãoPrimáriaàSaúde PolíticasPúblicasdeSaúde Idosos
Instituic¸ãodeLongaPermanência
r
e
s
u
m
o
Ac¸õesdesaúdenaatenc¸ãoprimáriasãoessenciaisparagarantiraqualidadena assistên-cia.Oobjetivofoiidentificarasac¸õesdesenvolvidasnaatenc¸ãoprimária,direcionadasaos idososinstitucionalizadosnoBrasil,apartirdaópticadosgestoresmunicipais.Estudo qua-litativo,observacionaleanalítico.Foramrealizadasentrevistassemiestruturadascom28 gestoresde11municípiospertencentesàs5regiõesgeográficasbrasileiras.Osdados reco-lhidosforamprocessadospelosoftwareALCESTE(4.9).Osresultadosdemonstramqueas ac¸õesdirecionadasaosidososinstitucionalizadosforamescassas.Emrelac¸ãoaosidososem geralasac¸õessimbolizamatenc¸ãofragmentadaedistantedopreconizadonasPolíticasde SaúdePúblicaaosIdosos.
©2015TheAuthors.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.U.emnomedaEscolaNacional deSaúdePública.EsteéumartigoOpenAccesssobalicençadeCCBY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
∗ Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:gpiuvezam@yahoo.com.br(G.Piuvezam).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2015.05.003
0870-9025/©2015TheAuthors.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.U.emnomedaEscolaNacionaldeSaúdePública.EsteéumartigoOpen AccesssobalicençadeCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Primary
Health
Care
and
the
institutionalized
elderly:
The
perspective
of
municipal
management
in
Brazil
Keywords:
PrimaryHealthCare HealthyPublicPolicy Elderly
HomesfortheAged
a
b
s
t
r
a
c
t
Healthactionsinprimarycareareessentialtoensurethequalityofcare.Theobjectivewas toidentifytheactionsundertakeninprimarycare,targetedtoinstitutionalizedelderlyin Brazil,fromtheperspectiveofmunicipalmanagers.Itisaqualitative,observationaland analyticalstudy.Semi-structuredinterviewswith28managersof11municipalitiesinthe fivegeographicalregionswereconducted.ThecollecteddatawereprocessedbyALCESTE software(4.9).Resultsdemonstratethattheactionsdirectedtotheinstitutionalizedelderly werescarce.Regardingtheelderlyingeneraltheactionssymbolizefragmentedanddistant attentionadvocatedbythePublicHealthPolicyfortheElderly.
©2015TheAuthors.PublishedbyElsevierEspaña,S.L.U.onbehalfofEscolaNacional deSaúdePública.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Oenvelhecimentodapopulac¸ãobrasileiraéconsideradoum processo progressivo e crescente, e configura-se como um fenómenoquetemsetornadoalvodediscussão, principal-mentenasáreasqueenvolvemaatenc¸ãoàsaúdedoidoso eas políticaspúblicas. Destaca-secomo evidência, o reco-nhecimento,porpartedepesquisadoresegestorespúblicos, das consequências doenvelhecimento da populac¸ão sobre a previdência social e sobre os programas de saúde. Ade-mais, observa-se que o crescimento do número de idosos quedemandamassistênciaàsaúdeéprogressivamentevisto comoumproblemadanovapolíticasocietalecomimpactos sobreaatenc¸ãoprimáriaàsaúde(APS)1,2.
Nas proposic¸õesde Alma-Ata(1978), aAPS éentendida comofunc¸ãocentraldosistemanacionaldesaúde,integrando umprocessopermanentedeassistênciasanitária–queinclui prevenc¸ão,promoc¸ão,curaereabilitac¸ão–e,comopartedo processomaisgeraldedesenvolvimentosocietaleeconómico, envolvendoacooperac¸ãocomoutrossetoresparapromover odesenvolvimentosocietaleenfrentarosdeterminantesda saúde3.
Nospaíseseuropeus,osservic¸osambulatoriaisdeprimeiro contatoestão integradosaumsistemadesaúdede acesso universal,istoé,odireito àsaúdeégarantido pormeiode sistemauniversal com financiamento público oupor meio de contributos específicosaseguros sociais.Nos paísesda AméricaLatinaacoberturaésegmentada,convivendo esque-masdiferenciadoscomimportantesdesigualdadesnoacesso, eaatenc¸ãoprimáriaéincorporadaapenasnosetorpúblico comprogramasseletivos.Nospaísesdoterceiromundo pre-dominaainterpretac¸ãodaAPScomoumprogramaespecífico paraosmarginalizadoseexcluídos,materializadanaproposta político-ideológicadaatenc¸ãoprimáriaseletivadestinadaàs populac¸õespobres3.
NoBrasil,aAPSéregulamentadapelaPolíticaNacionalde Atenc¸ão Básica(PNAB)4, queconsidera ostermos «atenc¸ão
básica»e«APS»como equivalentes.Opresente artigo utili-zaráotermoAPS.Essapolíticaédesenvolvidacomomaisalto graudedescentralizac¸ãoetemnaestratégiadesaúdeda famí-lia(ESF)suaac¸ãoprioritáriaparaexpansãoeconsolidac¸ão.A
atenc¸ãoprimáriaéocontatopreferencialdosutentesecentro decomunicac¸ãocomaRededeAtenc¸ãoàSaúde(RAS)5,sendo
orientada pelos princípiosda universalidade, da acessibili-dade,dovínculo,dacontinuidadedocuidado,daintegralidade daatenc¸ão,daresponsabilizac¸ão,dahumanizac¸ão,da equi-dadeedaparticipac¸ãosocietal.
No intuito de atender ao caráter global de cuidado à saúdedapopulac¸ãoidosa,inúmerosesforc¸ostêmsido realiza-dospelogovernobrasileiro.Assim,baseadasnaConstituic¸ão Federal6surgiramaPolíticaNacionaldoIdoso7eoEstatuto
doIdoso8.Em1999,foipublicadaaPolíticaNacionaldeSaúde
doIdoso(PNSI)9,revogadaem2006pelaPolíticaNacionalde
SaúdedaPessoaIdosa(PNSPI)10.APNSPIeaPNAB4,11,12têm
comopropósitobasilarapromoc¸ãodoenvelhecimento sau-dável;apreservac¸ãoe/ouamelhoria,aomáximopossível,da capacidadefuncionaldosidosos;aprevenc¸ãodedoenc¸as;a recuperac¸ãodasaúdedaquelesqueadoecem,eareabilitac¸ão daquelesquevenhamatersuacapacidadefuncional restrin-gida,demodoagarantir-lhespermanêncianomeioemque vivem, exercendo de forma independente suasfunc¸ões na sociedade.
Mesmodiantedetaisconquistaseavanc¸osparaaatenc¸ão à saúdedosidosos,ainda permanecemdesafios13,14, como
ocuidadoespecíficodirecionadoaosidososqueresidemem instituic¸õesdelongapermanênciaparaidosos(ILPI)15.
Nestesentido,oInstitutodePesquisasEconômicas Apli-cadas (IPEA)16 realizou umlevantamento das ILPI no país.
Constatou a presenc¸a de 3.548 instituic¸ões no território e que 1,5% da populac¸ão de idosos é institucionalizada, ou seja, 83.870 idosos. O estudo demonstrou ainda uma dis-crepânciaentreasregiões:oNordesteapresentou8,5%das ILPI e a região Sudeste 63,6%. O incremento da demanda porcuidadosdelongadurac¸ão paraidosostemsido obser-vado emâmbitonacional, dependentedefatoresculturais, grau de suporte familiar e disponibilidade de servic¸os alternativos.
AtendênciaéoaumentodademandaporILPInoBrasil, emboraaspolíticaspriorizem afamíliacomo signatáriado cuidadoaoidoso.Aindaqueimbuídosdessapercepc¸ão, há umconsensodeque,emmuitosmomentos,aILPIsetorna umaalternativaimportante,devendoasseguraraqualidade devidaesatisfac¸ão,tantodosidosos,comodesuasfamílias.
Assim,oobjetivodopresenteartigofoiidentificarasac¸ões desenvolvidasnaAPS,direcionadasaosidosos instituciona-lizados,apartirdaópticadosgestoresmunicipaisnoBrasil, bemcomoverificaraconcordânciaentreasdiversas realida-desestudadascomapolíticabrasileiradeatenc¸ãoprimária.
Metodologia
Desenhodoestudoecontexto
Trata-sedeumestudode naturezaqualitativa, classificado comoobservacionaleanalítico,realizadonobiénio2008-2010. Apesquisafoidesenvolvidaem11municípiosdemédioe grandeporte,distribuídosnas5regiõesgeográficasdoBrasil (Norte,Nordeste,Sul,SudesteeCentro-Oeste),comointuito degarantirrepresentatividadeparacadaumadasregiões bra-sileiras.
Populac¸ão
Apopulac¸ãodoestudofoicompostapelosgestoresmunicipais desaúdeemcadaumdosmunicípioseforamentrevistadosos secretáriosmunicipaisdesaúde,oscoordenadoresdesaúde doidosoeoscoordenadoresdesaúdebucal.
Critériosdeinclusão
Osmunicípiospesquisadosforamsorteados,2porcadaregião geográfica,atendendoa2critériosdeinclusão:1)municípios com100mil habitantesou mais,deacordocomaListade Projec¸ão PopulacionaldoInstituto Brasileiro deGeografia e Estatística(IBGE)paraoanode200516;2)municípioscom
per-centagemdeidososnapopulac¸ãomaiorouigualàmediana encontradaemcadaregiãogeográfica.
Assim,osmunicípiosselecionadosforam:JiParaná(RO)e Araguaína(TO),da regiãoNorte; Crato(CE)eArapiraca(AL) naregiãoNordeste;Poc¸osdeCaldas(MG)eMagé(RJ)daregião Sudeste;RioVerde(GO)eRondonópolis(MT)daregião Centro--Oeste;e,naregiãoSul,osmunicípiosdeMaringá(PR)eBagé (RS).ApesquisafoirealizadanomunicípiodoNatal(RN).
Os gestores municipais de saúde que participaram da pesquisa atenderam aos seguintes critérios de inclusão: 1)trabalharnasecretariamunicipaldesaúdehápelomenos umano;2)pertenceraumadascidadesdeterminadasparaa realizac¸ãodapesquisa.
Recolhadosdados
Estudopilotofoirealizadopreviamenteàrecolhadosdados. No estudo piloto foram entrevistados 6 gestores de saúde pertencentesa2municípiosdemédio-porte,localizadosno estadodoRioGrandedoNorte,noBrasil.Asentrevistas rea-lizadasnoestudopilotonãointegraramaamostra finalda pesquisa. O estudopiloto foi desenvolvido com o objetivo deajustaroinstrumentoderecolhadedadose,apósasua aplicac¸ão,somentealterac¸õesortográficasforam realizadas nostópicos-guia(roteiros),visandoamelhorcompreensãodos entrevistados.
Foramutilizadasentrevistassemi-estruturadas,que segui-ram tópicos-guia previamente elaborados. As entrevistas foram utilizadas como um recurso destinado a fornecer informac¸õespertinentesaoobjetodepesquisa17,bemcomo
compreenderasrelac¸õesdosatoressociaiseocontextoem queosprofissionaisestãoinseridos18.
Ostópicos-guiaforamelaboradoscomointuitode respon-deraosquestionamentosinerentesaosobjetivosdapesquisa. As questõesnorteadoras buscaramcontextualizarasac¸ões daAPSnosmunicípios,sobretudoaquelasdirecionadasaos idososinstitucionalizados.
Assim, nas entrevistas solicitava-se aos indivíduos que falassem livremente a partir dos seguintes questiona-mentos: «Há quanto tempo a ESF foi implantada no município?»; «Como está estruturadaactualmente aESF?»; «Em relac¸ão às unidades de atenc¸ão primária no municí-pio,comofuncionam?»;«Existemac¸õesdirecionadasagrupos prioritários?»;«Quaissãoessesgruposprioritários?»;«Existem ac¸õesdesaúdeespecíficasparaosidososnomunicípio?»;«A APSdesenvolveac¸õescomosidososinstitucionalizados?».As entrevistasforamgravadase,posteriormente,transcritas.
Análisedosdados
Aanálisedomaterialdiscursivorecolhidonasentrevistasfoi realizadapelosoftwaredeanálisequantitativadedados tex-tuaisAnalyseLexicaleparContexted‘umEsembledeSegmentsde Texte(ALCESTE)19,versão4.9paraWindows.
OALCESTEagruparaízessemânticasdefinindo-aspor clas-ses,levandoemconsiderac¸ãoafunc¸ãodapalavradentrode umdadotexto.Portanto,épossívelquantificarcomoinferir sobreadelimitac¸ãodasclasses,quesãodefinidasemfunc¸ão daocorrênciaedaco-ocorrênciadaspalavrasedasuafunc¸ão textual20.
Ainterpretac¸ãodasclasses lexicais,conformepreconiza Oliveira21,resultouemtemasqueforamsubmetidosauma
leiturateórica,emfunc¸ãodointeressedospesquisadorese dasrelac¸õesevidenciadas.Oprocessodenomeac¸ãodoseixos edasclassesocorreuatravésdeconsultoriaadhoccom3 con-sultoresindependentes.
O materialtranscrito constituiuum únicoarquivo, cha-madocorpus.Apreparac¸ãodocorpusincluiuadefinic¸ãodas unidades de contexto inicial (UCI)20. O software fazanálise
estatística textual através deumaanálise léxica em4 eta-pas. A primeira organiza o material reconhecendo asUCI, dividindo-se emsegmentos de texto; asunidades de con-textoelementar(UCE),agrupandoasocorrênciasdaspalavras emfunc¸ão das suasraízeserealizandoo cálculodassuas respectivasfrequências.Posteriormente,classificaasUCE,de formaaobteromaiorvalorpossívelnumaprovadeassociac¸ão (qui-quadrado). Na terceira etapa, são descritas as classes encontradas que são compostas em UCE com vocabulário semelhante. Na quarta etapa, são fornecidasas UCE mais característicasdecadaclasse,permitindoquesetenhao con-textodeocorrênciadovocabulário22.
Aspectoséticos
Pesquisafoi aprovadapeloComitêdeÉticaemPesquisada UniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte(CEP-UFRN),sob onúmeroSISNEP0033.0.051.000-06.
Tabela1–Caracterizac¸ãodosgestoresentrevistadosnos11municípiosbrasileiros,segundomunicípio,cargo,formac¸ão
acadêmicaetempodeexperiêncianagestãodesaúde.Natal,2015
Município Cargo Formac¸ão Experiência(anos)
Natal,RN Secretáriodesaúde Administrac¸ão 3,0
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 12,0
Coordenadordesaúdedoidoso Psicologia 1,0
Arapiraca,AL Secretáriodesaúde Servic¸osocial 20,0
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 11,0
Crato,CE Secretáriodesaúde Enfermagem 2,6
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 1,5
JiParaná,RO Secretáriodesaúde Administrac¸ão 2,75
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 2,4
Coordenadordesaúdedoidoso Economia 9,0
Araguaína,TO Secretáriodesaúde Odontologia 7,0
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 10,0
Coordenadordesaúdedoidoso Enfermagem 1,0
RioVerde,GO Secretáriodesaúde Medicina 30,0
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 20,0
Rondonópolis,MT Secretáriodesaúde Servic¸osocial 16,0
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 5,0
Coordenadordesaúdedoidoso Educac¸ãofísica 4,0
Maringá,PR Secretáriodesaúde Odontologia 2,0
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 22,0
Coordenadordesaúdedoidoso Enfermagem 4,5
Assessordeplanejamento Administrac¸ão 2,0
Bagé,RS Secretáriodesaúde Medicina 4,5
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 0,5
Poc¸osdeCaldas,MG Secretáriodesaúde Medicina 1,5
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 2,0
Magé,RJ Secretáriodesaúde Direito 2,0
Coordenadordesaúdebucal Odontologia 2,0
Resultados
Ototaldegestoresqueparticiparamnapesquisafoide28 indi-víduos,relacionadosàgestãodepolíticaspúblicasdesaúde, pertencentesaos11municípiosedistribuídosnas5regiões geográficasdoBrasil.
Aamostrafoicompostapor13gestoresdosexofeminino (46,4%).Emrelac¸ãoàfaixaetária,17,85%possuíamentre 30-40anos,14,28%entre41-50anos,17,85%entre51-60anose 7,14%possuíam maisde61 anos. Notocanteao tempode experiêncianagestão,constatou-seque17,85%possuíamaté umanodeexperiêncianagestãopública,13(46,42%) de 2-5anos, 3(10,71%)de6-10anose7(25%)dosentrevistados possuíammaisde11anosdeexperiêncianagestãopública. Ademais, em relac¸ão à distribuic¸ão dos entrevistados nos municípios,aoscargosocupados,bemcomoaformac¸ão aca-démicapode-seobservarnatabela1.
Oreduzidonúmerodecoordenadoresdesaúdedoidoso deve-seaofacto desomente5municípioscontaremcom a presenc¸adessetipodegestor.
Aanálisedasentrevistasresultouemumaproveitamento de 76% do corpus.A classificac¸ão hierárquica descendente determinou2eixose5classestemáticas.Oaproveitamento
do corpus, de acordo com Camargo20, foi considerado um
adequadodesempenhoparaclassificac¸ãohierárquica descen-dente.OALCESTEidentificou28UCIe411UCE.
Afigura1apresentaodendogramacomadescric¸ãodas palavraseradicaisdepalavrasqueintegraramcadaumadas5 classes. O primeiro eixo foi denominado «Funcionamento
da APS» e foi constituído das seguintes classes: Classe 1, com 11% das palavras analisadas, retrata a «consolidac¸ão da ESF»; Classe 3, com 31% das palavras analisadas, trata das «dificuldades no gerenciamento dos profissionais da ESF»;Classe4,com 9%daspalavras analisadas,evidenciaa «interferênciadapolíticalocalnasac¸õesdesaúde»eClasse 5,quecontém37%daspalavrasanalisadaseapontaparaa «necessidadedeatenc¸ãoespecializadaemsaúde».
Osegundoeixo,denominado«Asac¸õesdaAPScomosidosos», éconstituídopelaClasse2,com37%daspalavrasanalisadas, emostraotema«Idoso:umalvodasac¸õesdaESF».
Discussão
Primeiroeixo–Funcionamentodaatenc¸ãoprimária àsaúde
NaClasse1,intitulada«Consolidac¸ãodaESF»,observa-se,em grandepartedosdiscursosdosentrevistados,umbreverelato históricodoinícioedaatualsituac¸ãodaESF,edasequipas nascidadespesquisadas.
A implantac¸ãoda ESF surgeem umcontexto1 no qual,
anecessidadedeadoc¸ãoereformulac¸ãodenovaspolíticas2
públicaseramemergencialmentenecessárias.Aconceituac¸ão do que seriam as políticas públicas seria a de conjuntos de disposic¸ões,medidas e procedimentos, que orientam a política do Estado, e regulam as atividades governamen-tais relacionadas às tarefas de interesse público2. Dentro
1. ESF: Estratégia Saúde da Família; 2. Qui-quadrado; 3. ACS: Agente Comunitário de Saúde; 4. MS: Ministério da Saúde; 5. Centro de Especialidades.
Classe 1 Classe 4 Classe 3 Classe 5 Classe 2 Consolidação da
ESF1
Interferência da política local nas
ações de saúde
Dificuldades no gerenciamento dos profissionais
da ESF Necessidade de atenção especializada em Saúde Idoso: um alvo das ações da ESF
Radical Khi2 Radical Khi2 Radical Khi2 Radical Khi2 Radical Khi2
ESF 37 gest+ 60 med+ 40 C. Esp.5 99 grupo+ 58
implant+ 36 secretari+ 37 dent+ 34 *suj_19 71 crianca+ 46
tempo 33 abr+ 30 profission+ 30 norte 60 diabet+ 34
concurso+ 32 prefeit+ 30 equipe+ 25 zona 60 *ges_03 32
dois 29 pass+ 24 horas 21 especiali+ 52 idos+ 30
mil 28 ESF 24 dificuldade+ 20 protese+ 44 acoes 23
Indeterm+ 24 meio 20 salario+ 19 paciente+ 31 idosos 23 primeira+ 24 *pro_08 18 enfermeir+ 19 consorcio 29 hipertenso+ 22 crato 16 *suj_25 18 *suj_04 17 centro+ 28 *suj_20 20
noventa 16 cont+ 16 coloc+ 14 tipo 24 especif+ 17
inclusive 15 aparelhos 12 ESF 14
policlinica
+ 22 organiz+ 16
epoca 15 prefeitura+ 12 ACS3 12 Produtivi+ 22 prioriz+ 16
publico+ 15 esporte+ 12 MS4 12 *mun_08 21 pesso+ 15
desde 13 eu 12 grande+ 12 consult+ 17 gestante+ 14
maringa 12 *ges_01 11 *suj_22 12
especializa
d+ 17 palestra+ 13
sei 12 aqui 10 duas 12 estado 17 pens+ 13
*pro_00 12 *suj_17 10 quarenta 10 *pro_00 16 tent+ 13
nove 12 quer+ 10 ate-o 9 teodorico 15 *mun_11 12
novecentos 12 menos 9 abrang+ 9 posto 15 *suj_26 12 dess+ 11 saude 9 espaco+ 9 especiais 15 adolescente+ 11
11% 9% 31% 12% 37%
Funcionamento da Atenção Primária à
Saúde
As ações da Atenção Primária à Saúde com
os idosos
Figura1–Dendogramacomasrepresentac¸õesdoseixosedassuasrespectivasclasses.Natal,2015.
integramocampodeac¸ãosocietaldoEstado,orientadopara amelhoriadascondic¸õesdesaúdedapopulac¸ãoedos ambi-entesnatural,societaledotrabalho.Atarefa específicaem relac¸ãoàsoutraspolíticaspúblicasdaáreasocietalconsiste em organizar as func¸ões públicas governamentais para a promoc¸ão,protec¸ãoerecuperac¸ãoda saúdedosindivíduos edacoletividade.
Apromulgac¸ãodaConstituic¸ãoBrasileira6trouxeum
cará-ter reformador para a saúde pública no país, instituindo a criac¸ão do sistema único de saúde (SUS) e a posterior implantac¸ãoda ESF;permitiu acriac¸ão doidealdo acesso universaleigualitárioàsac¸õeseservic¸osparaapromoc¸ão, protec¸ãoerecuperac¸ãodaatenc¸ãoàsaúdedapopulac¸ão7.
Analisando as entrevistas, denota-se a sincronia entre os períodos de início da ESF na maioria dos 11 municí-pios,assimcomoaexistênciadasequipas,configurando-se comoumaspectopositivodentrodapropostadoprojetode expansão da ESF nosmunicípios brasileiros, afim de pro-porcionar oacessodapopulac¸ãoaosservic¸osdesaúde23,24.
Encontram-se,abaixodescritos,fragmentosdasentrevistas, que corroboram o explicitado na literaturae nas políticas públicas.
«(...)AESFemNatalfoiimplantadadesdeoanode1997, nóscontamoshojecom111equipas;dessas111nósestamos com 17equipasdescobertassemmédicos, mascomoutros profissionais.(...)»–Entrevistado07.
Entretanto,atenta-separaaimplantac¸ãotardiadaequipa desaúdebucalnaESF,emgrandepartedascidades,oquese podeinferiremumarupturadaatenc¸ãointegralàsaúde.
«(...)Emjaneirode2006,foirealizadoumconcursopúblico, por tempo indeterminado, para toda a ESF, e para toda a partedoServic¸odeAtendimentoMóveldeUrgência(SAMU)e implantandoaESFbucal,porqueatéentãonãoexistiaoESF bucal.(...)»–Entrevistado17.
Oconceitodeatenc¸ãointegralàsaúdecompreendeo reco-nhecimentopelaAPSdasnecessidadesdesaúdedapopulac¸ão edosrecursosparaabordá-las.Assim,aatenc¸ãoprimáriadeve prestar,diretamente,todososservic¸osparaasnecessidades comuns,eagircomoumagenteparaaprestac¸ãodeservic¸os paraasnecessidadesquedevamseratendidasnoutros pon-tosdeatenc¸ão.Aintegralidadedaatenc¸ãoéummecanismo importante,namedidaemqueasseguraqueosservic¸ossejam ajustadosàsnecessidadesdesaúdedapopulac¸ão5.
Aprecária atuac¸ão inicial da equipa da saúdebucal na atenc¸ãoprimária,eespecificamentenocuidadoasaúdedos idosos,configura-se comoumfatorpreocupante,sobretudo emrelac¸ãoaosidososinstitucionalizados,poisascondic¸ões desaúdebucalsãofundamentaisparaagarantiadesaúdee qualidadedevidadosindivíduos25.
Observa-se,então, anecessidadedeestabelecerum pro-gramaparaasaúdebucaldosidosos,sobretudoaoconsiderar estudos que relatam a associac¸ão entre bactérias presen-tes nos biofilmes aderidos nas próteses odontológicas e a causa de infecc¸ões respiratórias, no caso de indivíduos desdentados26–28,enocasodeidososdentados,umapossível
correlac¸ãoentreinfecc¸õesgengivaisedoenc¸assistémicas29,
fatoresqueagravamsubstancialmenteacondic¸ãodesaúde dessapopulac¸ão.
NaClasse3,denominada«Dificuldadesnogerenciamentodos profissionaisdaESF»,pode-seinferiracercadacomposic¸ãodas equipasdesaúdedafamíliada ESFdas cidadesestudadas. Ademais, também foi identificada, com uma percentagem de repetic¸ão relativamente elevada no estudo, a palavra «dificuldade» (Khi2=20), sendo um dos destaques da aná-lisedessaclasse.Aausênciadoprofissionalmédicopara a composic¸ãocompletadaequipafoielencadacomoum pro-blema importante. Relatam-se também, nos discursos dos entrevistados,asdificuldades enfrentadas na situac¸ão pre-cáriade infraestruturasnasunidades deatenc¸ão primária, constituindo-secomoumgraveecrónico24,30problemado
sis-temapúblicodesaúdenoBrasil,conformepode-senotarnos discursosdosgestores.
«(...)Agentenãoconsegueporfaltadeprofisionais médi-cos,no Estadotodo tem esse déficit demédicos. Umadas grandesdificuldadesquenóstínhamosnaépocaeraa rotati-vidadedestesprofissionais.Estãoindoparaoutrosmunicípios vizinhos,porqueaofertafinanceiraedequalidadedevidaera melhor,comotransporte,alimentac¸ão,hospedagem.(...)»– Entrevistado04.
Ademais, observou-se as condic¸ões de carga horária e alta rotatividadede profissionais, os quaisnão se sentiam atraídosempermanecernoemprego.Dentrodessatemática, questiona-se a eficácia das práticas das políticaspúblicas, nasquaisapresentam eexigem, atravésde portarias, uma participac¸ãoeatuac¸ãomacic¸aecompletadosprofissionais. Entretanto,devidoadiversosfatores,entreeles,adissonância
entreasgestões(municipais,estaduaisefederais),falha-se nos investimentos necessários à atenc¸ão primária e tam-poucoseconseguefiscalizaraprestac¸ãodeservic¸osofertados, configurando-segrandesdificuldadesdeatuac¸ãoeprogresso da atenc¸ãoprimáriae,consequentemente,doSUS. Perante tais dificuldadesenfrentadas,atenta-separa suaspossíveis interferênciasnopapel daequipada ESFdiante do atendi-mento ao idoso. A necessidade da atenc¸ão constante que a equipa de saúde deve fornecer à pessoa idosa, quanto aoseubem-estar,aocotidianofuncionaleintegrac¸ão fami-liar e societal31, pode não ser realizado de forma plena e
eficaz,acarretandoprejuízosnocuidardoidoso.Nesse con-texto,enfatiza-seosdéficitsnoatendimento,principalmente da populac¸ão idosa institucionalizada que, muitas vezes, dependedas unidadesdeatenc¸ãoprimáriaparaoacessoà saúde.
AClasse4tratada«Interferênciadapolíticalocalnasac¸õesde saúde»,eissoédestacadosobretudonosperíodosdetransic¸ão degestão,que,noBrasil,ocorremacada4anos.Pode-se veri-ficarnodiscursodosgestores,comoasquestõeseleitoraise asmudanc¸asnasgestõesmunicipaisinterferemnoprocesso deconsolidac¸ãodaESF,comoestratégiadereorganizac¸ãoda APSnopaís.Talsituac¸ãoérelatadanotrechododiscursoque segue:
«(...)Mashouveaeleic¸ão,adirec¸ãodepolíticapassoupara outro partidoe essa nova gestão a princípionão entendia muitobemaESF...MasquandoaprefeituraentendeuaESF, elaqueriaabrirESFemtodasasesquinas.(...)»–Entrevistado 25.
Outra questãoimportante foi abusca dosgestorespela expansão e melhoria na estrutura da ESF nos municípios, mesmo diante das dificuldades apresentadas. Sabe-se que os problemasna gestão municipal da saúde,sobretudo no quedizrespeitoàautonomianaadministrac¸ãodosrecursos einstabilidadedosquadrosdirigentes,podemestar relacio-nadoscomasituac¸ãoanalisada32.Ademais,sãonotóriasas
dificuldadesdeexpansãoeimplantac¸ãodoPSFnasgrandes cidades do Brasil, tais como: dificuldade na mudanc¸a dos processosdetrabalhoeinsuficiênciadaestruturafísicaede recursoshumanos32.
Na análise da Classe 5, denominada «Necessidade de atenc¸ão especializadaem saúde»,infere-seacercada existên-ciaeimplantac¸ãoprincipalmentedeservic¸osespecializados para garantir o processo de referência e contrareferência, e,consequentemente,aatenc¸ãointegral.Nessaperspectiva, destacam-seosmunicípiosdeCratoeMaringá,que apresen-tavam essetipo de servic¸o.Essaclasse emerge a partir da constatac¸ãodosgestoresmunicipaisdaprofundanecessidade deaprimoramentodaatenc¸ãoprimária,ouseja,osgestores sinalizamanecessidadedeampliaraatenc¸ãoemsaúde atra-vés daofertadeservic¸osdesaúdeespecializados,como os núcleosdeapoioàsaúdedafamília(NASF),oscentrosde espe-cialidades odontológicas(CEO)e aspoliclínicasque devem comporaRAS5.
ARASéconstituídaporumconjuntodeorganizac¸õesque prestamac¸õeseservic¸os,dediferentesdensidades tecnológi-cas,comvistasàintegralidadedocuidado.Essasorganizac¸ões interagem pormeiode sistemasde apoiotécnico,logístico ede gestão5. Aatenc¸ão secundáriaou especializadaé
hospitalar, com densidade tecnológica intermediária entre a atenc¸ão primária e a terciária, historicamente interpre-tada como procedimentos de média complexidade. Esse nívelcompreendeservic¸osmédicosespecializados,deapoio diagnóstico e terapêutico, e atendimento de urgência e emergência33.
O NASF, em contraste com os modelos convencionais de prestac¸ão de cuidados, busca operar numa lógica de corresponsabilizac¸ãoegestãointegradadocuidado,pormeio de atendimentose projetosterapêuticos, queenvolvam os utenteseconsideremasingularidadedaspessoasassistidas34.
Nofragmentodediscursoabaixo,ogestorrelataaimportância doNASFnaofertadeservic¸ospúblicosdesaúdeàpopulac¸ão: «(...)OsNASFtambém,queéonúcleodeapoiodasaúdeda famíliaqueelestambémacompanham,porqueelestêm psi-cólogo,nutricionista,assistentesocial,quesãoprofissionais queagentenãotem naequipadasaúdedafamília.Então issojádá um apoiomuito grandeaos profissionais (...)»– Entrevistado07.
Os CEO têm sido a estratégia da Política Nacional de SaúdeBucal(BrasilSorridente)para garantiraatenc¸ão espe-cializadaemsaúdebucal.Essesservic¸osdevemseconstituir em unidades de referência para a atenc¸ão primária, inte-gradosnoprocessodeplanejamentolocoregional,ofertando minimamente as especialidades: periodontia; endodontia; atendimentoapacientescomnecessidadesespeciais; diag-nósticobucalcomênfasenadetecc¸ãodocâncerdeboca;e cirurgiaoralmenor35. Arelevância doCEO édestacadano
trechoabaixo:
«(...) Jáque o municípiotem ocentro de especialidade odontológica,queéumaretaguardaatodaumaodontologia preventivaebásicaqueéexecutadaemtodasasunidades básicasdesaúdedomunicípio...(...)»–Entrevistado22.
As policlínicas são consideradas servic¸os de referência ematenc¸ãoespecializadanoâmbitoregionaletêm conquis-tadoumpúblicoespecíficodapopulac¸ão.Sãoestruturasde articulac¸ão,organizac¸ãoecoordenac¸ãoregionaldaatenc¸ãoà saúde,etêmcomocaracterísticaaresponsabilidadesanitária pelaatenc¸ãoprimáriadapopulac¸ãoaoseuentornoeaoferta especializadadeservic¸os,segundoreferênciadaESF36.
Assim,debate-seaimportânciadaintegralidadedasaúde, contrapondo-seaoqueévistoemmuitascidades,nasquais, somenteoatendimentofocadonomédicooudeenfermeiros étidocomoprioritário,alémdasdeficitáriasac¸õesediscursos direcionadosàpopulac¸ãohabitanteemILPI.
Osresultadosdiscutidosapontamnadirec¸ãodasbarreiras paraofuncionamentoeprogressãodaAPS.Nessa perspec-tiva,considera-sequeésignificanteodesafiodeproporcionar umaatenc¸ãointegraledequalidade atodaapopulac¸ão,e torna-seaindamaispreocupantegarantiressaatenc¸ãoparaa populac¸ãoidosa.
Segundoeixo–Asac¸õesnaatenc¸ãoprimáriaàsaúdecom osidosos
AClasse2,intitulada«Idoso:umalvodasac¸õesdaESF»,trazos idososcomoumdosgruposemqueasequipasdesaúdeda famíliarealizamatividades.Essafoiaúnicaclassea mencio-naroindivíduoidosonodiscursodosindivíduos.
Osentrevistadoselencaramasac¸õesdesenvolvidasnaAPS comogrupodediabéticosehipertensos(HIPERDIA).Ogrupo populacionalmaiscontempladocomessasatividadessãoos idosos.Outroscoletivostambémsãodestacados,comoos gru-posdasgestantesedascrianc¸as,deacordocomopreconizado pelaPNAB4.
Os gestores, que compuseram o discurso dessa classe, foram os coordenadores de saúdedo idoso.Quando ques-tionadosacercadosidosos,relataramasatividades daAPS pré-existentes,ouseja,asac¸õescomogrupodehipertensose diabéticos(HIPERDIA).Enfocaramtambémasatividades cor-relacionadascomaprevenc¸ãodedoenc¸aseagravos(estímulo de atividadefísica)eevidenciaramasdificuldadesde reali-zarac¸õescomplexas,quepossamproporcionarumaatenc¸ão primáriamaiseficaz.
Odiscursodeumdosgestores,querelataac¸õesdiferentes dasencontradasnosoutrosmunicípios,salientaumenfoque nasdoenc¸ascrónico-degenerativas37,sendoestasasdemaior
prevalênciaecrescimentonapopulac¸ãoidosa:
«(...) Palestras,eventos, passeios além do centro... (...) Éocentromaisfocado napartemental, maldeParkinson, Alzheimer,essasdoenc¸asneurológicas,deumaformageral. Temapartededoenc¸asreumáticasefuncionacomoocentro especialdoidoso,etemapartedefisioterapia,odontologia... Então,amaioriadasac¸õesagentedesenvolvelámesmo(...)» –Entrevistado3.
Diantedoresultadodaanálisedaclasse,verifica-sea pre-cariedade de ac¸ões complexas ede forma a integralizar o cuidardoidoso.Ademais,comofatoragravantedasituac¸ão, constata-se,nodiscursodosgestores,aescassez38,39,e,até
mesmo,ainexistênciadeac¸õesdirecionadasàpopulac¸ãosenil habitantedasILPI.Diantedessesfactos,percebe-sea assin-croniadasac¸õesdegrandepartedagestãopúblicabrasileira, diantedoqueépreconizadonasdiretrizesdepolíticas públi-casdesaúdeaoidoso8,9.
Nesse sentido, Barrios e Fernandes40 afirmam que a
implementac¸ãodeestratégiasorientadasparaamelhoriadas condic¸ões de vidada populac¸ãoque envelhece decorre da intervenc¸ão,integradaounão,dosatorespúblicoseprivados, como as autarquias, asassociac¸ões,das organizac¸ões não--governamentais(ONG),entreoutras,ouseja,hánecessidade deumaac¸ãodetodaasociedadenosentidodegarantirum processodeenvelhecimentodigno.
Finalmente, asac¸ões identificadas naAPS, direcionadas aosidososinstitucionalizados,apartirdaópticadosgestores municipaisnoBrasilforamescassase,emalgunsmunicípios, inexistentes.Aclasse2foiaúnicaemqueemergiuatemática doidosonaatenc¸ãoprimária.Otemafoitratadodemaneira fragmentada,namedidaemqueosentrevistadosdestacaram asac¸õesdesenvolvidascomogrupodediabéticose hiperten-sos(HIPERDIA),eogrupopopulacionalmaiscontempladocom essasatividadessãoosidosos.Essefactodemonstraa impre-cisão dasac¸õesespecíficas edequalidade paraesse grupo populacional,ouseja,aspectosdiscrepantesdos preconiza-dosnaspolíticasdesaúdepúblicaaosidosos.E,apesardos entrevistados serem questionados sobreapopulac¸ão idosa institucionalizada, nenhum dos gestores mencionou ac¸ões específicasparaessegrupo.
No tocante à concordânciaentre as diversas realidades estudadascomaPNAB,osresultadosmostraramqueotempo
deimplantac¸ãodaESFnosmunicípioscoincidecomo preco-nizadopelapolítica,oqueseconstituiumaspectopositivo. Entretanto,aimplantac¸ãotardiadasequipasdesaúdebucal naESF, aausência deprofissionais médicos, arotatividade dosprofissionaisnasequipaseosproblemasnainfraestrutura dasunidadesdeatenc¸ãoprimária,representamumaruptura da atenc¸ãointegral àsaúde. Easmudanc¸as locaisna ges-tãointerferemdiretamentenasac¸õesdaESF,dificultandosua consolidac¸ão.
Diantedessequadro, econsiderandoqueessa pesquisa representaoBrasil,asituac¸ãomostra-sepreocupantee dire-cionaparaanecessidadedeinvestirnaatenc¸ãocentradano pacienteidosoresidenteemILPI,considerando,sobretudo,as contribuic¸õesdadasporessegrupodepessoasparao cresci-mentoedesenvolvimentodopaísnasúltimasdécadas.
Agradecimentos
Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ao Ministério da Saúde pelo financiamento da pesquisa através do Edital MCT--CNPq/MS–DAB/SAS–No 49/2005,noProjeto dePesquisa No 402502/2005-1.
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