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Seleção, síntese e disseminação de evidências para profissionais de saúde por meio de correio eletrônico

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Seleção, síntese e disseminação de evidências para profissionais de saúde por meio

de correio eletrónico

Selection, synthesis and dissemination of evidence for health professionals using

e-mail

Maria Cristiane Barbosa GALVÃO. FMRP-USP, Ribeirão Preto, Brasil.

(

mgalvao@usp.br

)

Ivan Luiz Marques RICARTE. FT-UNICAMP, Limeira, Brasil. (

ricarte@unicamp.br

)

Fabio CARMONA. FMRP-USP, Ribeirão Preto, Brasil. (

carmona@fmrp.usp.br

)

Danielle

Alves Fernandes dos SANTOS. FAPESP TT3, Ribeirão Preto, Brasil.

(

danielleafsantos@gmail.com

)

Resumo

Apresenta-se o processo de seleção, tradução, síntese e disseminação de evidências em saúde

por meio de correio eletrónico aos profissionais de saúde que atuam no Estado de São Paulo,

Brasil. Trezentos e quarenta e oito profissionais de saúde que aceitaram o convite para

participar do projeto receberam por correio eletrónico, durante 48 semanas, o total de 144

conteúdos informacionais selecionados, traduzidos para a língua portuguesa e distribuídos por

correio eletrónico às segundas, quartas e sextas, exceto em feriados. O profissional de saúde

pôde avaliar ou não o conteúdo informacional recebido, dependendo de sua vontade, por

meio de instrumento de avaliação específico. Os profissionais de saúde que participaram do

projeto relataram usar as evidências recebidas por correio eletrónico para: assistir o paciente

de modo diferente (36%), justificar uma escolha durante a assistência (20%), estar mais certo

sobre uma decisão (20%), entender melhor uma condição ou tecnologia em saúde (24%),

discutir o assunto com pacientes ou outros profissionais (33%), convencer os pacientes ou

outros profissionais sobre uma questão em saúde (23%). Logo, a informação em saúde

transforma a assistência. Profissionais de saúde precisam de informação adequada, resumida e

facilmente acessível, possuindo pouco tempo para se manterem atualizados ou frequentarem

uma biblioteca. Para tanto, é fundamental o estabelecimento de parcerias produtivas entre

profissionais de biblioteconomia, informática e saúde para o desenvolvimento de serviços

inovadores e adequados às demandas informacionais atuais.

Palavras-chave: Serviços de informação; Prática clínica baseada em evidências; Correio

eletrônico

Abstract

We present the process of selection, translation, synthesis and dissemination of evidence in

health through e-mail to health professionals working in the State of São Paulo, Brazil. Three

hundred and forty-eight health professionals who accepted the invitation to participate in the

(2)

project received by e-mail, during 48 weeks, the total of 144 selected informational contents,

translated into Portuguese and distributed by e-mail on Mondays, Wednesdays and Fridays,

except on holidays. Health professionals could assess or not the information content received,

depending on their will, through a specific assessment tool. Health professionals who

participated in the project reported using the evidence received by e-mail to: assist patient

differently (36%), justify choice for assistance (20%), being more sure about a decision (20%)

better understand a health condition or technology (24%), discuss it with patients or other

professionals (33%), convince patients or other professionals about a health issue (23%).

Therefore, the health information transforms assistance. Health professionals need proper

information, summarized and easily accessible because they have little time to keep up to date

or to go to the library. It is therefore essential to establish productive partnerships between

library, information technology and health professionals for the development of innovative

and appropriate services to attend current informational demands.

Keywords: Information services; Evidence-based practice; Electronic mail

Introdução

O presente texto apresenta o processo de seleção, tradução, síntese e disseminação de

disseminação de evidências em saúde por meio de correio eletrônico aos profissionais de

saúde que atuam no Estado de São Paulo, Brasil. Esse projeto empregou uma abordagem

transdisciplinar

1

e foi desenvolvido por pesquisadores com experiência nas áreas da

informação (um bibliotecário), informática (um engenheiro) e saúde (um médico e um

nutricionista), sendo aprovado por comitê de ética em pesquisa com seres humanos

(certificado 37030414.0.0000.5440).

Na primeira etapa do estudo (julho-dezembro 2014) foram convidados a participar do projeto

profissionais de saúde, com nível superior, que atuavam no Estado de São Paulo, registados no

respectivo conselho regional de sua profissão, do sexo masculino ou feminino, com qualquer

idade, que possuíssem acesso à Internet e conta de correio eletrônico e que atuassem

diretamente na assistência ao paciente. Trezentos e quarenta e oito profissionais de saúde

aceitaram o convite para participar do projeto. A Figura 1 apresenta a formação desses

profissionais.

(3)

Figura 1. Profissão dos participantes no projeto.

É importante destacar que os gestores de saúde do Estado de São Paulo contatados não

possuíam qualquer tipo de cadastro ou listagem dos correios eletrônicos dos profissionais de

saúde que atuam nesse território. Assim, a divulgação do projeto foi realizada em redes

sociais, jornais e revistas de grande circulação, nos conselhos das diferentes profissões de

saúde e pelo YouTube. Ressalta-se também que o sistema de saúde brasileiro trabalha com o

conceito de equipas multiprofissionais de saúde e não com o conceito de assistência em saúde

médico-centrada, sendo de interesse público que as equipas multiprofissionais tenham suas

demandas informacionais atendidas.

Na segunda etapa do estudo (janeiro-dezembro de 2015), os 348 profissionais de saúde que

aceitaram o convite para participar do projeto receberam por correio eletrônico, durante 48

semanas, o total de 144 conteúdos informacionais selecionados, traduzidos para a língua

portuguesa e distribuídos por correio eletrônico às segundas, quartas e sextas, exceto em

feriados. O profissional de saúde pôde avaliar ou não o conteúdo informacional recebido,

dependendo de sua vontade, por meio de instrumento de avaliação específico

2

.

Metodologia para a seleção de evidências

Como a produção de informação em saúde é exponencial, uma questão relevante é identificar

quais evidências devem ser disseminadas para os profissionais de saúde. Para solucionar este

problema, a equipa do projeto decidiu selecionar evidências que pudessem auxiliar no

atendimento da população assistida em unidades de saúde do Estado de São Paulo. Assim,

elegeram-se como temáticas prioritárias aquelas relacionadas com o perfil epidemiológico do

Estado de São Paulo, como sejam: insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral,

cardiopatias congênitas, risco cardiovascular, violência doméstica, violência sexual, acidente

76 67 64 53 17 16 11 9 8 7 6 3 2 9 0 10 20 30 40 50 60 70 80

(4)

de trânsito, lesões traumáticas acidentais, lesões traumáticas não acidentais, exposição a

poluentes ambientais, doenças alérgicas, obesidade, tabagismo, antimicrobianos, infecções,

febre amarela, febre maculosa, leishmaniose, esquistossomose, hanseníase, tracoma,

HIV/AIDS, hepatite, tuberculose, saúde mental, crack, gestação, parto, puerpério, cesárea,

populações vulneráveis, humanização em saúde, educação em saúde, comunicação em saúde,

saúde bucal, câncer bucal, hipertensão arterial sistêmica, tecnologias relacionadas a

portadores de necessidades especiais, micoses, HPV, norovírus, viroses respiratórias, raiva,

anemia falciforme e esclerose múltipla.

Além do perfil epidemiológico priorizaram-se, na seleção de evidências, as revisões

sistemáticas, quando existentes. Esta decisão foi embasada na classificação de Oxford para

níveis de evidências

3

.

Para a busca e seleção de evidências priorizaram-se as bases de dados assinadas e

disponibilizadas no Portal Saúde Baseada em Evidências, do Ministério da Saúde do Brasil,

inclusive para verificar se tais bases atendiam às necessidades informacionais do Estado de São

Paulo. Assim, foram selecionados conteúdos das bases DynaMed; Access Medicine; BVS

Atenção primária à saúde; Atheneu; ProQualis; Rehabilitation Reference Center; BMJ

BestPractice; Access Physiotherapy; ProQuest Saúde da Família; REBRATS; ProQuest

Enfermagem; Micromedex; ProQuest Gestão em Saúde; e Conselho Federal de Farmácia. No

entanto, por volta do mês de julho de 2015, o Ministério da Saúde do Brasil, em decorrência

da crise financeira, deixou de assinar várias bases de dados (Atheneu; BMJ BestPractice;

ProQuest Saúde da Família; ProQuest Enfermagem; e ProQuest Gestão em Saúde). Dessa

forma, durante o desenvolvimento do projeto decidiu-se incluir também a base de dados

PubMed. A Figura 2 apresenta a quantidade de conteúdos informacionais selecionados de

cada base de dados.

(5)

Figura 2. Quantidade de conteúdos informacionais selecionados de cada base.

É importante destacar que algumas bases de dados já possuem classificação das evidências,

como é o caso da Dynamed, facilitando o processo de seleção segura de conteúdos

informacionais a serem disseminados. Por outro lado, muitas bases de dados internacionais

têm como foco os profissionais de saúde que atuam em países desenvolvidos e cobrem muito

superficialmente o perfil epidemiológico que atinge países tropicais. Por exemplo, as

evidências sobre dengue, zika e chikungunya tornaram-se essenciais para o Brasil nos últimos

anos porque tais doenças são epidemias nacionais. Para superar essa limitação, o uso da base

de dados PubMed, via interface PICO, facilitou a busca e a seleção de evidências adequadas.

Destaca-se que o bibliotecário foi o responsável por buscar e selecionar as evidências para

disseminação.

Metodologia para a síntese e a tradução de evidências

Na perspectiva da Cochrane

4

, o resumo de evidência deve contemplar:

Antecedentes: Uma ou duas frases que expliquem o contexto ou que discorram sobre o

propósito do estudo. Se a versão do estudo é uma atualização de um estudo anterior, é útil

incluir, nessa parte do resumo, essa informação.

Objetivos: Trata-se de uma declaração precisa do objetivo principal do estudo, de preferência

em uma única frase. Quando possível, o estilo da redação dos objetivos deve empregar a

seguinte forma: "Para avaliar os efeitos da [intervenção ou comparação] para [problema de

29 26 24 17 14 7 6 5 4 4 3 2 1 1 1 0 5 10 15 20 25 30 35

(6)

saúde] para/na [tipos de pessoas, doença ou problema – se especificado]". Assim, tem-se:

“Objetivo: Avaliar o impacto da caminhada na diminuição de peso de mulheres obesas

pobres”, onde caminhada é a intervenção, obesidade é o problema e mulher pobre se refere

ao perfil dos participantes do estudo.

Métodos de pesquisa: Por exemplo, no caso das revisões sistemáticas de literatura deve-se

incluir as fontes nas quais os artigos científicos e/ou outros documentos foram buscados e

incluir o intervalo de datas da busca de cada fonte. Assim tem-se: “Consultou-se a base de

dados MEDLINE (janeiro de 1966 a dezembro de 2015)”. Se houver restrições do estudo, com

base na língua ou publicação, estas devem ser indicadas. Se indivíduos ou organizações foram

contatados para localizar estudos, isso deve ser mencionado e é preferível usar a forma

"Entrou-se em contato com empresas farmacêuticas", em vez de incluir uma lista de todas as

empresas farmacêuticas contatadas. Se periódicos foram especificamente acessados

manualmente, e não por meio de uma base de dados, isso deve ser mencionado no resumo.

Critérios de seleção: No caso das revisões sistemáticas de literatura devem ser mencionados o

tipo de estudo incluído, o tipo de intervenção ou comparação e a doença, o problema e/ou o

perfil da população que foi priorizada na revisão.

Coleta e análise de dados: No caso das revisões sistemáticas de literatura deve-se apresentar a

forma como os dados foram extraídos e avaliados, especificando se a extração de dados e a

avaliação de risco foram realizadas por mais de uma pessoa. Se os autores dos artigos originais

foram contatados para fornecerem informações adicionais, essa informação deve ser

mencionada nessa parte do resumo.

Principais resultados: Deve citar o número total de estudos e número de participantes

incluídos na revisão e breves detalhes pertinentes para a interpretação dos resultados. Deve

mencionar os principais resultados qualitativos e quantitativos, geralmente não incluindo mais

que seis resultados. Os resultados mencionados devem ser selecionados com base na

possibilidade de ajudar alguém a tomar uma decisão sobre se deve ou não usar uma

intervenção específica. Os efeitos adversos devem ser mencionados se esses foram objeto de

estudo na revisão. As estatísticas devem ser apresentadas de uma forma padrão, como: odds

ratio 2,31 (95% intervalo de confiança 1,13-3,45).

Conclusão: No caso das revisões sistemáticas de literatura cujo objetivo principal é o de

apresentar informações, ao invés de oferecer conselhos ou recomendações, a conclusão deve

ser sucinta abarcando os principais resultados. Suposições sobre as circunstâncias práticas,

valores, preferências, vantagens e desvantagens não devem ser feitas; e a inclusão de

conselhos ou recomendações deve ser evitada. Quaisquer limitações importantes de dados e

análises devem ser observadas. Implicações importantes para as futuras pesquisas científicas

devem ser explicitadas se não estiverem óbvias ao longo do resumo.

Além do resumo da revisão mencionado anteriormente, a Cochrane

4

recomenda também a

elaboração de um segundo resumo em linguagem mais simples, denominado plain language

summary. Este resumo é elaborado em uma linguagem que possa ser compreendida pelos

pacientes e população em geral. De igual modo que os anteriores, tais resumos são

disponibilizados na Internet e, por isso, poderão ser lidos como documentos isolados.

Os resumos em linguagem simples são constituídos por duas partes: um título e um corpo de

texto. O título do resumo em linguagem simples deve traduzir o título do estudo original para

uma linguagem mais simples, quando necessário. Assim, um estudo que tenha o título “Drogas

(7)

anticolinérgicas comparadas a outros medicamentos para a síndrome da bexiga hiperativa em

adultos" pode ter o título traduzido para seguinte linguagem simples: "Medicamentos para a

síndrome da bexiga hiperativa”. O título do resumo em linguagem simples não deve refletir as

conclusões da revisão. Ele deve ser escrito em forma de sentença, ou seja, iniciando por uma

palavra cuja primeira letra é maiúscula, seguida por palavras com letras minúsculas e não deve

possuir mais que 256 caracteres de comprimento. A segunda parte, ou do corpo do resumo em

linguagem simples, não deve ter mais que 400 palavras e deve incluir: uma afirmação sobre a

importância da revisão, contemplando, por exemplo, a conceituação do problema de saúde,

sinais e sintomas, a prevalência, a descrição da intervenção e as razões para o seu uso; as

principais conclusões da revisão, incluindo os resultados numéricos, mas em um formato geral

e de fácil compreensão, como o número de estudos considerados na revisão sistemática e o

número de participantes envolvidos em tais estudos; comentário sobre quaisquer efeitos

adversos; e breve comentário sobre quaisquer limitações da avaliação (e.g., ensaios em

populações muito específicas ou estudos incluídos com métodos deficientes). No final do

resumo em linguagem simples podem ser acrescidos links da web como o link da revisão

sistemática original. Gráficos ou imagens não devem ser incluídos nesse tipo de resumo

4

.

Na perspectiva da Cochrane

4

, o primeiro esboço do resumo de evidência em linguagem

simples deve ser escrito pelos próprios autores do artigo científico e submetido à análise por

uma equipa editorial especializada em linguagem simples. Esse processo pode estar sujeito a

várias interações entre os autores do artigo e a equipa editorial

4

.

Apesar de a Cochrane

4

ser uma instituição de grande prestígio, os resumos de evidência

poderiam contemplar não apenas linguagem verbal simples, mas também ajudas visuais

(fotografias, gráficos, tabelas e desenhos), arquivos sonoros ou arquivos audiovisuais, pois

existe na atualidade tecnologia disponível para incrementar e passar informações sintéticas e

mais inteligíveis empregando múltiplos recursos. Além disso, o resumo em linguagem verbal

escrita pressupõe a alfabetização do leitor, excluindo, portanto, uma parcela da população

mundial

5

.

Nesse sentido, estudo recente destaca que, para diminuir a desigualdade no acesso à

informação entre diferentes grupos populacionais, se faz necessária a produção de sínteses de

evidência em formatos não escritos, como na forma de livros falados ou de vídeos. Além disso,

ressalta a utilização conjunta de estratégias menos dependentes da comunicação escrita,

como a divulgação de notícias por meio do rádio ou por plataformas disponíveis na web

6

.

Obviamente que, para que essa produção seja efetiva, a sociedade requer profissionais

habilitados para a produção de resumos de evidências em linguagens multimodais.

Considerando a literatura sobre a produção de resumos, mas também as necessidades dos

profissionais de saúde que atuam no Brasil, optou-se, nesse projeto, por traduzir as evidências

selecionadas para a língua portuguesa, bem como sintetizá-las em forma de resumos

informativos encabeçados por uma questão clínica. Objetivou-se criar resumos com no

máximo 500 palavras, conforme exemplo apresentado na Figura 3.

(8)

Figura 3. Exemplo de conteúdo informacional disseminado.

No processo de tradução buscou-se manter as características do texto original, contemplando

conteúdos relacionados à introdução, problema, metodologia, resultados e conclusão. Essa

ordem de apresentação foi empregada em todas as evidências disseminadas, exceto quando o

texto original suprimia uma dessas partes. A tradução dos textos originais para a língua

portuguesa foi realizada pela bibliotecária que integra a equipa do projeto e, quando

necessário, por uma nutricionista. Em seguida, cada tradução foi revista por um profissional

(9)

médico e, quando necessário, por um profissional de informática. Assim, cada conteúdo

disseminado foi traduzido por um profissional e revisto por outro profissional a fim de se

verificar se a informação traduzida era compreensível em língua portuguesa. Quando no texto

original havia termos novos em inglês e sem tradução prévia ao português, a equipa se reuniu

para definir qual seria o melhor termo a ser empregado na língua portuguesa, sendo a palavra

final dada ao médico com maior fluência em português e inglês. Os nomes dos responsáveis

pela criação, revisão e disseminação de cada resumo foram acrescentados como conteúdo

informacional do resumo. As referências bibliográficas seguiram as recomendações da

Associação Brasileira de Normas Técnicas; porém, diante de cada referência agregou-se o

nome da base de dados de onde cada evidência foi coletada a fim de informar melhor aos

profissionais de saúde a origem da informação.

Metodologia para a disseminação de evidências

Existem duas metodologias para disseminação de evidências em meio eletrônico: push

(empurrar/enviar) e pull (procurar/buscar). Na primeira, as evidências são selecionadas das

bases de evidências e enviadas aos profissionais de saúde, pacientes e/ou população. Na

segunda, os profissionais de saúde, os pacientes e a população acessam diretamente as bases

de evidências para buscar a informação desejada. Ocorre que a busca por evidências requer

várias competências informacionais e tecnológicas que nem sempre são de amplo

conhecimento. Além disso, especialmente profissionais de saúde possuem um tempo muito

reduzido para buscar, selecionar e interpretar evidências. Já os profissionais bibliotecários são

treinados, ao longo da graduação, para desenvolver buscas informacionais avançadas.

Pelo exposto, a metodologia push é mais recomendável para a disseminação de evidências em

contextos clínicos; porém, requer uma plataforma tecnológica. Assim, toda a gestão do projeto

empregou a plataforma Research Electronic Data Capture (REDCap), desenvolvida pela

Vanderbilt University, nos Estados Unidos. Essa plataforma foi customizada pelo profissional de

informática e pelo médico para a produção, a revisão, a disseminação das evidências para os

correios eletrônicos dos profissionais de saúde e para o recebimento das avaliações de cada

conteúdo informacional disseminado.

Metodologia para a avaliação de evidências

O gestor da saúde necessita saber o impacto das evidências disseminadas na assistência em

saúde. Assim, cada profissional da saúde teve ter a oportunidade de avaliar a evidência

recebida. Para capturar as avaliações das evidências aos profissionais de saúde, o projeto

empregou o IAM Information Assessment Method for Electronic Knowledge Resources

2

,

traduzido para língua portuguesa pela própria equipa do projeto.

Resultados

Os profissionais de saúde que participaram do projeto relataram usar as evidências recebidas por

correio eletrônico para: assistir o paciente de modo diferente (36%), justificar uma escolha

durante a assistência (20%), estar mais certo sobre uma decisão (20%), entender melhor uma

condição ou tecnologia em saúde (24%), discutir o assunto com pacientes ou outros profissionais

(33%), convencer os pacientes ou outros profissionais sobre uma questão em saúde (23%),

(10)

conforme apresentado na Figura 4. Logo, a informação em saúde transforma a assistência.

Figura 4. Uso das evidências recebidas pelos profissionais de saúde.

Profissionais de saúde precisam de informação adequada, resumida e facilmente acessível,

possuindo pouco tempo para se manterem atualizados ou frequentarem uma biblioteca.

Assim, é fundamental o estabelecimento de parcerias produtivas entre profissionais de

biblioteconomia, informática e saúde para a aplicação dos conhecimentos de busca, seleção e

síntese da informação no desenvolvimento de serviços inovadores e adequados às demandas

informacionais atuais.

Discussão e Conclusão

Considerando os resultados elencados, entende-se que a saúde baseada em evidências pode

melhorar a qualidade e reduzir os custos da assistência prestada. Porém, essa prática precisa

ser planejada e integrada ao processo de trabalho do profissional da saúde. Se um profissional

de saúde tem acesso a uma evidência importante, uma provável questão que surge é: o que

ele fará com ela? Discuti-la-á com colegas ou pacientes potencialmente interessados no

assunto? Se for discuti-la com colegas, em que ocasião o fará? Em que lugar? Em que horário?

Se for discutir com pacientes, disporá de tempo durante a consulta? Fará uma reunião com

pacientes interessados? Organizará uma palestra? Onde? Com quais recursos? Com qual

tempo? Sob a supervisão de quem? Com qual equipa de apoio? Deriva-se, então, que para

maximizar o uso das evidências o processo de saúde baseada em evidências precisa ser

institucionalizado nas unidades de saúde, nos municípios, nas regionais de saúde e assim

sucessivamente. Não se pode delegar a questão exclusivamente a profissionais de saúde para

que busquem soluções pontuais, individuais e improvisadas. Sua implantação demanda o

(11)

planejamento institucional, municipal, regional e nacional.

De forma complementar, é preciso ressaltar que muitos profissionais de saúde seguem

culturas organizacionais estabelecidas ao longo de anos e décadas. Mudanças em seu

comportamento informacional profissional demandam motivação, como aumento na

remuneração ou algum tipo de reconhecimento profissional. No caso do Canadá, por exemplo,

profissionais médicos que avaliam evidências recebem créditos que são contabilizados

anualmente para a renovação do registo profissional. Dessa forma, recomenda-se que as

unidades de saúde criem mecanismos para que os usos e as avaliações de evidências

realizadas pelos profissionais de saúde integrem os itens de avaliação para a progressão

funcional. Acredita-se que sem uma motivação pessoal ou profissional, as iniciativas de saúde

baseada em evidências venham a ter pouco êxito.

Finalmente, embora a maioria dos profissionais de saúde tenha acesso à Internet no telefone

móvel ou em suas residências, é fundamental que as unidades de saúde tenham

computadores com acesso à Internet e, também, acesso às bases de evidências a fim de

garantir o acesso à informação durante a atividade profissional. Igualmente, quiosques com

computadores ou materiais impressos com evidências traduzidas para a linguagem simples

poderão ser de grande valia para os pacientes e seus acompanhantes que frequentam as

unidades de saúde.

Agradecimentos

Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e à Fundação de

Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina de

Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Referências bibliográficas

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o uso de evidências científicas na tomada de decisão. Cad Saúde Colet. 2015;23(3):316-22.

(13)

Notas biográficas

Maria Cristiane Barbosa GALVÃO. Graduação em Biblioteconomia e Documentação (1992) e

mestrado em Ciências da Comunicação (1997) pela Universidade de São Paulo, doutorado pela

Universidade de Brasília, com estágio na Université de Montréal (2003) e pós-doutorado em

Medicina Baseada em Evidência pela McGill University (2012). Atualmente, é Professora

Doutora na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, no

Departamento de Medicina Social. Conduz linhas de pesquisa na área de informação e

informática em saúde e pesquisa e inovação responsável.

Ivan Luiz Marques RICARTE. Professor titular da Faculdade de Tecnologia da Universidade

Estadual de Campinas (Brasil). Possui graduação (1984) e mestrado (1987) em Engenharia

Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (Brasil), Ph.D. em Engenharia Elétrica pela

University of Maryland at College Park (EUA) e pós-doutorado junto ao Information Technology

for Primary Care Research Group da McGill University (Canadá). Líder do grupo de pesquisa

interdisciplinar em Tecnologia e Informação em Saúde. Tem, como áreas de interesse, a

aplicação das tecnologias computacionais nas áreas da saúde e da educação.

Fábio CARMONA. Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Mato Grosso (1998),

mestrado (2006), doutorado (2009) em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade

de São Paulo e pós-doutorado em Terapia Intensiva Cardíaca Pediátrica pelo Children’s

Hospital Boston, Harvard University (2011). Atualmente, é Professor Doutor da Faculdade de

Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, no Departamento de Puericultura e

Pediatria. Conduz linhas de pesquisa nas áreas de terapia intensiva pediátrica, cardiologia

pediátrica, informação em saúde e medicamentos fitoterápicos aplicados à saúde humana.

Danielle Alves Fernandes dos SANTOS. Graduada em Nutrição e Metabolismo pela Faculdade

de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (2009) e pós-graduada em

Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário SENAC (2015). Atua em atendimento

clínico nutricional em Ribeirão Preto.

Imagem

Figura 1. Profissão dos participantes no projeto.
Figura 2. Quantidade de conteúdos informacionais selecionados de cada base.
Figura 4. Uso das evidências recebidas pelos profissionais de saúde.

Referências

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