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NOS LIMITES DA LINGUAGEM: Uma leitura das doenças psicossomáticas à luz da psicanálise lacaniana

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Academic year: 2020

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Ano 2 - N º 08 Julho/Agosto - 2009 NOS LIMITES DA LINGUAGEM: Uma leitura das doenças psicossomáticas à luz da

psicanálise lacaniana1

DENISE RIBEIRO BARRETO MELLO2

Psicóloga e Mestre em Cognição e Linguagem - UENF/2007

RESUMO

O presente trabalho estabelece uma reflexão sobre o processo psicossomático que, em muitos casos no fracasso do tratamento, constitui-se grande problema para a prática dos profissionais de saúde. Suas características são sintomas físicos múltiplos e recorrentes, com histórico longo e complicado de contato com a assistência médica especializada sem explicação clínica satisfatória, que acaba por afetar o sujeito em seus aspectos social, interpessoal, laboral e familiar de sua vida. O desenvolvimento do estudo destas doenças deve-se, em especial, ao diálogo entre Medicina e Psicanálise, pela absorção dos conceitos psicanalíticos na prática de saúde. Questiona-se a relação desta problemática com a linguagem, encontrando na Psicanálise caminhos para compreendê-la. Tem-se como objeto o estudo teórico do Inconsciente enquanto linguagem e os fenômenos psicossomáticos como uma dificuldade de inscrição do significante, impossibilitando o sujeito de encontrar um sentido para seus conflitos, o que acaba por resultar numa lesão no órgão, como se na falta de simbolização o corpo fosse eleito como texto psíquico. Examina-se o cenário teórico psicanalítico no que tange a questão da psicossomática que é extremamente vasto, delimitando o referencial bibliográfico nos conceitos de Lacan, propondo-se, então, um olhar aqui denominado como Psicossomática Psicanalítica de Orientação Lacaniana.

Palavras-chaves: Linguagem, Psicanálise, Freud, Lacan, Fenômenos Psicossomáticos.

ABSTRACT

The present work establishes a reflection on the psychosomatic process, which, in many cases, when the treatment fails, is a major problem for the practice of the health professionals. The main characteristics of this process are multiple and recurrent physical symptoms, with a long and complex clinical history in which no satisfying explanation is found by the specialized medical assistance, that affect the social, interpersonal, work and familiar behavior of the patients. The development on the studies of these diseases is an effect of the dialog between Medicine and Psychoanalysis, particularly because of the absorption of the psychoanalytical concepts in the health practice. This work inquires into the relation of this problematic with the language, finding in Psychoanalysis the ways to comprehend it. The object of this study is the unconscious, understood here as a language, and the psychosomatic phenomena, taken as a difficulty in the inscription of the significant that makes impossible for the subject to find a meaning for his/her conflicts, and that may have as a consequence an organ’s injury, as if in the

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Este artigo resulta da dissertação de Mestrado defendida na UENF em Agosto de 2007.

2 Psicóloga (UNESA/2004) e Pedagoga (FAFIC/1996); Psicóloga Clínica; Especialista em Saúde Pública

(UNESA/em conclusão); Psicóloga da Prefeitura Municipal em Campos dos Goitacazes e da Faculdade de Medicina de Campos dos Goitacazes. Professora do Curso de Psicologia, Educação Física e Enfermagem e da Pós-graduação em Psicanálise dos ISECENSA (Institutos Superiores de Ensino do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora). E-mail para contato: deniserbmello@gmail.com

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lack of symbolization the body was elected as psychic text. The scene of the psychoanalytical theory is examined. It is intended to verify some hypothesis through the concepts of Lacan, due to the necessity of delimitating even more the bibliographic referential, proposing, then, a king of approach, entitled here as Lacanian Oriented Psychoanalytic Psychosomatic.

Key-words: Language, Psychoanalysis, Freud, Lacan Psychosomatic Phenomena.

INTRODUÇÃO

“A psicanálise não é fruto da especulação, mas sim o resultado da experiência; e, por essa razão, como todo novo produto da ciência, acha-se incompleta. É viável a todos convencerem-se por suas próprias investigações da correção das teses nelas corporificadas e auxiliar no desenvolvimento ulterior do estudo” (Freud, 1911, p. 225).

Estas palavras de Freud no início do século passado representam em grande medida o sentido deste trabalho. A Psicanálise enquanto arcabouço teórico, epistemológico e clínico tem levantado muitas questões relevantes, justamente por partir de uma realidade que diz respeito a vida das pessoas. Freud propôs radicalmente esta aproximação, não prescindiu de construir uma clínica baseada no que viu e ouviu acontecer na vida dos sujeitos que atendia.

Escutou que as pessoas adoeciam das relações e que estas também, paradoxalmente, também poderiam curá-las. Isto há cem anos atrás quando ainda não se assistia aos altos índices de criminalidade, aos altos níveis de estresse decorrentes deste tempo atual.

Assim, intentando colaborar com o desenvolvimento de estudo a partir daquilo que temos visto na clínica atual, é que desenvolvemos este estudo que agora se transforma num artigo. Menor para o acesso, porém não reduzido no conteúdo e tampouco naquilo que se propõe.

Psicossomático é um termo que deixou de ser utilizado somente por profissionais mediante a quadros clínicos em que o paciente não responde satisfatoriamente ao tratamento proposto pela descrição dos sintomas. As pessoas utilizam-no para designar seu próprio estado de mal-estar. Vejo pelo menos duas razões para isso: o advento tecnológico que socializou o acesso a informação e a própria prática médica que tem favorecido a isto na medida em que ao

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não encontrar respostas satisfatórias que resultem em tratamentos eficientes, diagnostica um número sem fim de casos como “virose”.

Uma coisa é fato inegável: as pessoas estão sofrendo e adoecendo. E mais, este adoecimento alcança o corpo em níveis absurdos. Este fato tem chamado a atenção de psicanalistas no mundo inteiro. Assim, o nosso intuito aqui é buscar mapear o que se tem estudado sobre este tema, chegando ao referencial lacaniano para propor e sustentar o que denominamos de Psicossomática Psicanalítica de Orientação Lacaniana.

PSICOSSOMÁTICA: UMA (RE)VISÃO

Rever, olhar novamente: esta é a intenção inicial deste artigo. Quando voltamos mais uma vez nossos olhos para algo que já vimos, nossa visibilidade da questão se amplia e este é o espírito da ciência, construir conhecimentos que não sejam míopes a respeito da realidade.

Aliás, também a clínica nos impele a isto, até porque teoria e prática são indissociáveis no campo psicanalítico. Os atendimentos realizados possibilitam a construção do conhecimento que traz respostas para a clínica. Este movimento (que não deve ter fim) foi o motor do meu trabalho de dissertação. Deparei-me com casos clínicos em que os sujeitos apresentavam sintomas corporais extremos causadores de grande sofrimento.

Questões foram surgindo: que fronteira é esta que se supõe existir entre corpo e mente? Por que esta primazia orgânica no contexto médico? Que respostas a psicanálise pode oferecer para esta problemática?

Desde o início percebi que o que sustenta hoje o campo de conhecimento denominado Psicossomática deve-se ao diálogo entre Medicina e Psicanálise (MELLO FILHO, 1992, p. 77). Fato estranho uma vez que a Medicina que temos hoje é bem diferente daquela proposta por Freud. No entanto, atualmente há médicos que resistem firmemente ao modelo biologizante e invasivo que provocam um sem número de iatrogenias.

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Enquanto ciência natural, a medicina utiliza-se da dimensão biológica do corpo, deixando que as ciências humanas em geral se ocupem das propriedades humanas simbólicas e subjetivas. Porém, sabe-se atualmente que os aspectos sociais parecem exercer uma função determinante no modo como estes processos se tornam complexos, uma vez que criam representações culturais sobre o que significam as doenças.

A medicina segue, diante do vasto quadro de doenças listadas nos sistemas classificatórios do campo médico, procurando manter-se na tradição cartesiana de um corpo-objeto, conforme se observa nas descrições de seus Manuais. Conceituados como Transtornos Somatoformes (somatização) no CID-10 e DSM-IV, os sintomas psicossomáticos são neles caracterizados essencialmente pela presença de sintomas físicos, múltiplos, recorrentes e variáveis no tempo, persistindo ao menos por dois anos.

O CID-10 enfatiza que a grande maioria dos pacientes somatizantes tem uma longa e complicada história de contato tanto com a assistência médica especializada, enquanto que o DSM-IV acrescenta que tal transtorno caracteriza-se também pelo fato de que para os sintomas apresentados nada se encontra de anormal e quando se encontra não há a resposta esperada ao tratamento médico convencional.

Efeitos desta instigante realidade acabam por respingar no trabalho clínico quando não raramente recebemos pessoas acometidas por alguma doença em que o tratamento médico convencional não alcançou êxito. Elas chegam cansadas, sem esperança de que algo possa mudar seu estado.

Lembro-me que num atendimento clínico, nas entrevistas preliminares de um paciente com uma doença sem conclusão diagnóstica, prejudicado nas suas atividades laborais, sociais e familiares e há mais de dois anos passando por vários médicos, fiz uma pergunta entendendo-a como a mais elementar, talvez mais apropriada para um médico do que para um analista. “Lembra-se de ter apresentado este sintoma em algum momento anterior de sua vida?”, ao que o paciente respondeu um tanto perplexo: “Sim... mas, que estranho, este tempo ninguém antes,

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nenhum médico me perguntou sobre isso!” O paciente já havia apresentado aquele sintoma na adolescência, em uma época importante de sua vida, mas esta história pregressa parecia irrelevante.

Aqui se percebe uma nítida diferença entre Medicina e Psicanálise, principalmente quanto ao método clínico, afinal desde o início com Freud sabe-se que “o que caracteriza a psicanálise como ciência, não é o material de que trata, mas sim a técnica com a qual trabalha” (FREUD, 1916-17, p. 389).

Enquanto que para a Medicina a prioridade é a descrição sintomatológica de um mal-estar que define um diagnóstico priorizando a doença, para a psicanálise, por sua vez, vale a particularização dos sintomas na história de um sujeito.

Antes da psicanálise, entendia-se que as doenças eram causadas por agentes externos. Havia, é claro, muitas iniciativas em tentar compreender a relação corpo e mente. O próprio surgimento do termo psicossomática em 1828 por Johann Heinroth testemunha isto. Ele postula que paixões sexuais são importantes para a manifestação de doenças como tuberculose, epilepsia e câncer, ressaltando a importância dos aspectos físicos e psíquicos integrados nos processo de adoecer (VOLICH, 2000, p. 43).

No entanto, como ocorre esta suposta integração entre corpo e mente é Freud quem esclarece com o conceito de pulsão como limítrofe entre o somático e o psíquico.

Passados mais de cem anos do surgimento da psicanálise, atualmente há um campo de conhecimento denominado hoje como psicossomática psicanalítica do qual compartilham diversos autores e posicionamentos, em que há um acordo em se considerar uma multiplicidade de causas para o adoecer relacionados com conflitos inconscientes.

Os primeiros nomes que se destacaram no estudo dos processos psicossomáticos estiveram em contato direto com Freud. Groddeck, Alexander, Ferenczi e outros se empenharam em aplicar conceitos fundamentalmente psicanalíticos para “desenvolver uma abordagem psicossomática da patologia orgânica” (VOLICH, 1998, p. 20).

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Georg Groddeck (1966) sustenta em sua obra que nenhuma doença acontece ao acaso, mas que todas elas comportam um sentido e que em dado momento da vida inscreve-se em seu percurso subjetivo. Trata-se de uma doença “que se apresenta para a mente em vez de nela se representar” (ÁVILA, 2002, p. 10 – grifos do autor).

O contexto da Primeira Grande Guerra Mundial foi decisivo para que o horizonte da psicossomática fosse amplamente alargado. O número expressivo de pacientes com diversas doenças, sem causa aparente, reforçou a hipótese freudiana de que os fundamentos de muitos males orgânicos são de ordem psíquica. “Com o fim da guerra, também os neuróticos de guerra desapareceram – prova final mais impressiva das causas psíquicas das enfermidades” (FREUD, 1920, p. 231).

Assim, na década de 30 Franz Alexander (Apud ÁVILA, 2002, p. 81-83) funda o Instituto de Psicanálise de Chicago. Ele sustenta a diferença entre conversão histérica – em que os sintomas emergem como um efeito do recalcamento – e as doenças psicossomáticas – resultantes de conflito psíquico que provoca tensão fisiológica como uma resposta orgânica mediante a impossibilidade do sujeito elaborar grande carga emocional.

Vicente (2005) realiza um excelente mapeamento do campo na atualidade, ressaltando posicionamentos de diferentes autores, tais como Boss (apud VICENTE) para o qual o recalcamento progressivo de afetos converge para o soma, percurso que a clínica deve trilhar inversamente possibilitando a liberação pulsional, e Sapir (idem) que considera que a ausência desta atividade conduz à angústia, mas não propriamente ao sintoma (como na neurose) nem ao delírio (na psicose) e sim, nos casos psicossomáticos, à morte.

No Brasil, Perestrelllo, Júlio de Mello Filho e Abram Eksterman são alguns autores que tem se destacado no estudo da psicossomática. Perestrello (1987) sustenta que muitas afecções médicas estão inegavelmente relacionadas à vida psíquica, Mello Filho (1992) defende a psicossomática como campo essencialmente interdisciplinar, e Eksterman (In.: Mello Filho,

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1992) considera que a psicossomática provoca um renascimento do mote hipocrático: tratar os doentes e não as doenças.

Estes pesquisadores têm sido em grande medida influenciados pelas escolas inglesas e francesas de psicanálise. Da escola inglesa destaca-se o nome de Winnicott.

Donald Woods Winnicott (1998) utiliza o termo psique-soma para designar o esquema corporal construído e elaborado no decorrer da existência do sujeito desde a sua mais tenra infância.

Para ele (1988, p. 410), tanto quanto Anna Freud e John Bowlby, a formação do psiquismo está estreitamente relacionada com as primeiras etapas do desenvolvimento, com o relacionamento do bebê e sua mãe, com o modo como esta o trata. O bebê necessita de um ambiente acolhedor que, segundo o autor, é a mãe que o proporciona por ser ela considerada como o próprio ambiente. Qualquer insuficiência neste processo pode acarretar sérios danos psíquicos a vida do sujeito posteriormente ou ainda na infância.

Assim, a enfermidade é decorrente de um processo de dissociação no paciente, um quadro clínico que não apenas mostra uma doença somática, mas revela “a persistência de uma cisão na organização do ego do paciente, ou de dissociações múltiplas, que constituem a verdadeira enfermidade” (WINNICOTT, 1994, p. 82).

Este autor afirma que “a enfermidade psicossomática é o negativo de um positivo” (ibid., p. 88), considerando como positivo o desenvolvimento de uma tendência organizadora e integradora da psique e do soma, à medida que atribui grande importância aos estágios primitivos das experiências infantis.

Em 1969, o autor acrescenta uma nota no artigo em questão para reiterar seu posicionamento quanto à aproximação do transtorno psicossomático com o transtorno psicótico. A enfermidade psicossomática aparece associada a alterações no curso do desenvolvimento que de algum modo impossibilitaram que a presença da mãe fosse percebida, ou que provavelmente tal presença de fato não se encontrava ali.

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Hipóteses como esta sustentadas por Winnicott também foram estudadas por René Arpad Spitz (1979) que observou, realizando estudo com crianças hospitalizadas por longo períodos ou que eram abandonadas em hospitais, que elas acabavam por mostrar diversas alterações físicas e psíquicas, quadro definido por ele como hospitalismo.

Tanto quanto Winnicott, Spitz (1979, p. 99) atribui grande valor a relação mãe-bebê. Para ele, o sentimento materno que leva a mãe a cuidar e proteger o bebê é essencial para possibilitar um “clima emocional favorável”, fundamental para o desenvolvimento da criança.

Para ambos, qualquer alteração nesta relação pode alterar a constituição subjetiva e posteriormente afetar a vida do sujeito em etapas posteriores da vida, colaborando ou não para a superação de conflitos, em que a psicossomatização seria, entre outras, uma possibilidade.

Entre os pesquisadores da escola francesa, um autor que se destaca é Pierre Marty, fundador do Instituto de Psicossomática de Paris (IPSO), em 1972. Ele sustenta que a somatização é o resultado da impossibilidade do psiquismo, devido a certas condições, de assimilar um trauma, priorizando a escuta analítica para compreender o estado psíquico destes pacientes. Com este procedimento, Marty (apud VOLICH, 2004, p. 21) verifica que em seus discursos percebia-se certa pobreza imaginativa, negatividade simbólica e elaboração onírica precária.

Os trabalhos de Marty buscam a participação de fatores psicoemocionais em quadros como alergias, lombalgias, cefaléias e enxaquecas, hipertensão e distúrbios gastrointestinais, além de doenças mais graves como câncer, e mesmo os efeitos da soropositividade do HIV. Suas principais preocupações concentram-se “nos seguintes campos: na dimensão etiológica da patologia; na atenção às relações precoces da criança com seus pais; no âmbito terapêutico” (VOLICH, 1998, p. 21).

Marty pressupõe três formas de respostas do organismo frente a situações: pelo viés orgânico, pela ação e pelo pensamento. No entanto, seja qual for a forma de resposta eleita, a resposta ideal é aquela em que os recursos psíquicos sejam orientadores e norteadores das

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reações do sujeito, mesmo que a resposta se dê pela via somática. Para tanto, o autor desenvolve os conceitos de mentalização (que consiste em operações simbólicas através das quais o aparelho psíquico garante a regulação das energias instintivas, pulsionais, libidinais e agressivas, segundo Volich, 1998, p. 25), pensamento operatório (que designa um conjunto de capacidades simbólicas empobrecidas verificadas na ausência de formações do inconsciente) e depressão essencial (que se caracteriza-se principalmente pela ausência de objeto somados a uma queda de libido e ao sentimento de desamparo profundo diferentes de outros quadros neuróticos).

Um pensamento considerado intermediário é o de Joyce McDougall, uma vez que conviveu diretamente com Anna Freud, Winnicott e mais tarde com Lacan. Para ela, todos os sujeitos têm, em certa medida, uma tendência a somatizar mediante uma situação estressante ou circunstância de conflito que ultrapassa os limites daquilo que se pode suportar ou elaborar sem que necessariamente se passe por uma via patológica.

Utilizando-se da metáfora do corpo como teatro, palco em que conflitos psíquicos entram em cena, a autora a mantém como pensamento central de sua obra Teatros do corpo (1996), espaço em que cria conceitos originais, dentre os quais alguns que se referem ao estudo de processos psicossomáticos.

O sintoma caracteriza-se por uma relação simbólica já que a representação recalcada une-se a um elemento consciente ocasionando um conflito. Por esta via várias formações são possíveis, tais como as manifestações histéricas, por exemplo. Joyce McDougall propõe que este corpo que serve de teatro para manifestações simbólicas e não biológicas é um “corpo neurótico”.

Já nas manifestações psicossomáticas uma lesão explode no corpo como um ato que rompe com o trabalho psíquico próprio da neurose. No lugar do trabalho psíquico surge, segundo a autora, a doença psicossomática. O diferencial entre estes pacientes, o que somatiza e o neurótico, é a capacidade simbólica utilizada em menor grau ou não-utilizada pelos primeiros. “Enquanto que o fenômeno neurótico nos faz pensar em uma relação de qualidade, mediada pela

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representação significante, o fenômeno psicossomático, com seu caráter de descarga, de ato, nos sugere uma relação econômica” (Santos Filho. In: MELLO FILHO, 1991, p. 355). Percebe-se que, para ela, há uma nítida oposição entre a via biológica e a via simbólica. Nas doenças psicossomáticas o corpo revela “uma história sem palavras” (op.cit., p. 354).

QUEM É O HOMEM PARA A PSICANÁLISE?

Quem é este ser humano que adoece do corpo, da mente, que se angustia, que se estressa, que fala, que se cala, que simboliza ou deixa de simbolizar, que deseja, que goza? Quem é este sujeito por trás da doença?

Sem esta inquietante questão, meu estudo teria se findado na primeira parte. Entendi que se o que desejava era obter respostas clínicas, precisava compreender minimamente como a psicanálise concebe o ser humano e que conceito de Homem sustenta. E a busca por esta resposta esbarra inevitavelmente na questão da constituição do sujeito.

Diversos posicionamentos sustentam a singularidade do caso, no entanto pouco se fala do que fundamenta esses aspectos singulares e particulares de cada atendimento.

Encontrei respostas para esta questão nas concepções originais de Lacan ao propor um retorno a Freud. E neste revisitar, cedo se deparou com a estreita relação entre o inconsciente freudiano e a linguagem. Retomou os textos originais de Freud que, segundo ele, são reveladores do inconsciente, a saber: A interpretação dos sonhos (1900), Psicopatologia da vida cotidiana (1901) e Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Outros textos de Freud recebem a mesma referência, tais como A significação antitética das palavras primitivas (1910) e A negativa (1925).

Lidar dia-a-dia com o sofrimento das pessoas permitiu a Freud desenvolver uma teoria concreta sobre as dificuldades da vida humana, posicionamento que foi reafirmado por Lacan. O contato clínico diário com pacientes, e não estudos distanciados em laboratório, faz da psicanálise muito mais do que apenas um edifício teórico consistente. Os estudos psicanalíticos

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aproximam quem deles desejar dispor do que há de mais lindo e difícil que constitui o humano: sua singularidade que se mostra lá onde está a palavra, o discurso, a linguagem. E disto Freud e Lacan não abriram mão.

Desde seus primeiros trabalhos, Freud desenvolveu a psicanálise relacionando-a de modo indireto à linguagem. Quando escreveu a monografia Sobre as afasias: um estudo crítico (1891), Freud intentava “abalar uma tendência cômoda e atraente sobre os distúrbios da linguagem” com uma preocupação voltada não para a localização, mas para “as condições funcionais da linguagem” (GAY, 1989, p. 73).

Assim, Freud deu um passo importante ao conceber a dimensão das palavras em seu valor não propriamente como representantes ideacionais e conceituais da realidade e sim em sua força criadora e potencialmente transformadora do psiquismo.

Nos textos freudianos referidos por Lacan, a aproximação entre psicanálise e linguagem tornou-se ainda mais evidente. Buscando intercessões entre a lingüística de Saussure – em especial a noção de significante e significado – a psicanálise freudiana e a antropologia estrutural de Lèvy-Strauss, Lacan realiza um importante empreendimento, o de devolver a psicanálise o lugar central do inconsciente que estava se perdendo por uma ênfase excessiva nos aspectos conscientes.

Lacan resgatou os textos originais de Freud que estavam sendo abandonados por pós-freudianos que se detinham apenas em comentários daqueles textos: “Por um lado, Lacan resgatou no texto de Freud determinadas categorias que nunca tinham sido objetos de consideração efetiva (...) Por outro, Lacan produziu novas conceituações que, embora possam hoje ser consideradas como implícitas no texto de Freud, ao serem explicitadas, ou seja, nomeadas, puderam não apenas retificar o campo teórico, como igualmente nele introduziu novas perspectivas” (JORGE, 2000, p. 19).

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O sujeito se constitui na linguagem, não é uma construção, também não é concebido, e sim constituído (ELIA, 2004, p. 16).

Portanto, o sujeito da psicanálise surge num mundo de linguagem que já está instituído antes dele. Antes de uma criança ser concebida planos são feitos sobre ela, seus pais imaginam como ela será, falam dela e, sobretudo, dão-lhe um nome. Este novo ser chega à vida de seus pais como objeto de desejo.

O surgimento do bebê ocorre antes mesmo que ele chegue a nascer de fato; há algo que precede a sua chegada, posto que ele nasce num lugar suposto na família de ser e fazer aquilo que os seus pais não conseguiram fazer e ser para os seus próprios pais, como uma atualização daquelas expectativas. Em 1914, em Sobre o narcisismo: uma introdução, quando Freud aborda a questão do narcisismo, ele coloca este pequeno ser no lugar de “sua majestade o bebê”, lugar este oferecido pelo Outro (FREUD, 1914, p. 98).

Este bebê deverá passar pelo seu próprio processo de subjetivação marcado pela castração e pelas operações lógicas de alienação e separação: “O registro do significante institui-se pelo fato de um significante repreinstitui-sentar um sujeito para outro significante. Essa é a estrutura, sonho, lapso e chiste de todas as formações do inconsciente. E é também o que explica a divisão originária do sujeito” (LACAN, 1964b, p. 849).

Tanto o significante quanto o sentido está no campo do Outro. O que chega para o sujeito como sentido ou significante baseia-se na interpretação dada pelo Outro; desde Freud, em 1895, já se tem esta noção quando postula a experiência de satisfação do bebê a partir do que lhe será oferecido. O choro do bebê é interpretado pelo adulto como uma demanda que passa, então, a acolhê-lo em seu desamparo.

As operações lógicas de alienação e separação relacionam-se com a posição que a criança tomará diante do desejo dos pais. Lacan postula, portanto, que ambas são concernentes ao lugar do Outro, situando-as numa dimensão simbólica articuladas com a angústia, tal como ensina no Seminário 10 (1963). E no ano seguinte, no Livro 11, afirma: “alienação e separação, operações

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da classificação do sujeito em sua dependência significante ao lugar do Outro” (LACAN, 1964a, p. 196).

Na alienação o sujeito está condenado a aparecer por uma divisão: de um lado como sentido produzido pelo significante e por outro como afânise, conceito essencial para se compreender a questão da psicossomática em Lacan, referindo-se a um apagamento, esmaecimento ou desaparecimento, ao relacioná-lo as operações lógicas de constituição do sujeito, aqui em questão.

O sujeito em sua condição humana vê-se como “um sujeito que recebeu a definição de ser movido na, constituição por, e ordenado a um campo que lhe é exterior (...) em que reside sua essência alienante” (op.cit., p. 204, 207).

Sendo assim, o sujeito se vê na condição de ser efeito do significante que lhe vem do Outro, do desejo do Outro, ou seja, para se constituir o Outro é imprescindível ao sujeito. É pela via do significante que o sujeito se encontra com a alienação, o que o coloca na posição de assujeitamento ao desejo do Outro.

Não se trata de reduzir a alienação à dependência em relação ao Outro, já que para Lacan “não é o fato de essa operação se iniciar no campo do Outro que o faz qualificar de alienação. Que o Outro seja para o sujeito o lugar de sua causa significante só faz explicar aqui a razão porque nenhum sujeito pode ser causa de si mesmo” (LACAN, 1964b, p. 855).

A esta altura surge uma indagação: o sujeito está fadado ao aprisionamento nas malhas significantes do Outro? Lacan neste seminário postula uma saída dialética pela outra operação lógica que é a separação: o sujeito que consente a alienação, aciona estratégias para separar-se do Outro a partir daquilo que nele localiza como falta relacionada à sexualidade e à parcialidade pulsional.

O contato do bebê com a mãe lhe confere os primeiros sentidos e significantes; cabe-lhe interrogar-se sobre os ditos maternos. Mas esse questionamento só será possível quando o sujeito

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encontrar-se com a falta no Outro; surge daí, então, a possibilidade de separação, pois a fala do Outro deixa escapar algo da ordem da satisfação do desejo que também a ele falta.

Este escape encontrado pelo sujeito se dá pela via do desejo, uma vez que o seu desejo não coincide com o desejo do Outro, percebido pelo sujeito de um modo invertido, não recíproco. Essa é a brecha ou a fenda como espaço possível para que o sujeito saia do assujeitamento alienado ao desejo do Outro.

Se a alienação gera angústia, a separação atua como uma proteção deste afeto à medida que abre a possibilidade ao desejo do sujeito. Desse modo, é o desejo que está em jogo contra a angústia. Em outras palavras, a angústia se fará sentir, quanto mais difícil for ao sujeito se constituir como sujeito do seu desejo.

Falta e vazio aproximam-se dos processos de alienação e separação, o que aponta para uma perda tanto no campo do sujeito como do Outro. Do lado do sujeito, a falta que se recobre na separação diz respeito à impossibilidade de uma representação completa do Outro sobre o próprio sujeito. Quanto ao Outro, a falta lhe torna desejante, permite-lhe encerrar a perda do sujeito, seu desaparecimento enquanto objeto de desejo.

A PSICOSSOMÁTICA EM FREUD E LACAN

Feitas estas considerações importantes sobre a concepção de homem para a psicanálise enquanto sujeito do inconsciente, retomo a questão central deste artigo, a psicossomática em Lacan, relacionada necessariamente a questão do sujeito.

Freud deixou inúmeros caminhos em aberto como possibilidade de estudos posteriores como venho sinalizando desde o início deste trabalho. Ele estudou um grupo de neuroses diferentes das psiconeuroses que denominou neuroses atuais, já que sua origem é atribuída ao presente e não à infância e às alterações sintomáticas são consideradas sem expressão simbólica resultantes de inadequação ou ausência de satisfação sexual.

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São incluídas no grupo das neuroses atuais a neurose de angústia e a neurastenia. Há uma origem sexual, mas devido à desordens neste plano no momento atual que se reverte no corpo: “a fonte de excitação, o fator desencadeante da perturbação, está no domínio somático, enquanto que na histeria e na neurose obsessiva está no domínio psíquico”. Esta reversão direta no corpo deriva de não estar num plano simbólico mediante a “ausência daquela mediação que encontramos na formação dos sintomas das psiconeuroses” (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 300).

As neuroses de angústia, diferenciadas por Freud principalmente da histeria, são discutidas num artigo em 1894, “Sobre os fundamentos para destacar da neurastenia uma síndrome específica denominada ‘neurose de angústia’ ”, enquanto uma forma de neurose atual ao lado da neurastenia considerada como uma doença que resulta de uma disfunção nervosa, já que nas neuroses atuais predominam os sintomas somáticos devido a ausência de elaboração psíquica.

A diferença entre a neurose de angústia e a histeria é que a conversão nesta última se dá no plano psíquico que, não encontrando outro caminho para a excitação, reverte-se no corpo, enquanto que na neurose de angústia a tensão física não encontra meios para passar para o psíquico conservando-se no plano físico (idem, p. 303). Acrescenta-se que a causa desencadeante da neurose de angústia não seria de uma patologia psíquica e se reverteria ao somático, “não dependeria do recalcamento de uma representação e do deslocamento de seu afeto” (CHEMAMA,1995, p. 15).

Freud afirma em uma das Conferências Introdutórias sobre Psicanálise (1916-17), na Conferência XXIV intitulada “O estado neurótico comum”, que nas neuroses atuais e nas psiconeuroses: Em ambos os casos, os sintomas se originam da libido e se constituem, portanto, empregos anormais da mesma; são satisfações substitutivas. Mas os sintomas das neuroses atuais (...) não tem nenhum sentido, nenhuma significação psíquica. Não só se manifestam

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predominantemente no corpo (...) como também constituem, elas próprias processos inteiramente somáticos (FREUD, 1916-17, p. 388 – grifos nossos).

Como se vê, Freud percebeu no tratamento clínico de seus pacientes a relação entre os fatores psíquicos e as doenças somáticas, mas preferiu dedicar-se ao estudo das psiconeuroses. Se assim não fosse, talvez não tivesse dado a Psicanálise o estatuto que tem. Por outro lado, agindo assim deixou várias questões em aberto, entre as quais, as múltiplas configurações que podem resultar da relação corpo e mente.

Lacan retoma esta problemática não se referindo a um sintoma ou doença psicossomática e sim ao fenômeno psicossomático. Não se trata mais de pensar a psicossomática como uma doença, mas como uma resposta do sujeito; não como um dizer do corpo, e sim que o corpo adoece pela via da linguagem, pelo excesso de um gozo específico advindo do movimento pulsional, justamente aí nesta fronteira entre o somático e o psíquico.

Quando Lacan denomina estes processos como fenômenos ele enfatiza o que já havia sido colocado por Freud quando aborda as neuroses atuais. Estas doenças são assim consideradas por serem atuais não apenas no sentido de estarem acontecendo no presente, mas, principalmente, por serem atuais apontam para a atualização de algo que se encontrava fixado, para a possibilidade de um significante congelado poder encadear-se em análise.

Ao enfatizar a singularidade do caso clínico, Lacan insiste nas estruturas clínicas freudianas, distinguindo fenômeno e estrutura: esta que está para além do fenômeno e este que pode apresentar uma face enganadora. Em Freud encontra-se a base para se pensar em estruturas clínicas, uma idéia que Lacan insistiu em manter para “evitar o engodo inerente à abordagem puramente fenomenológica” (JORGE; FERREIRA, 2005, p. 24).

Ao utilizar o termo fenômeno para discutir as doenças psicossomáticas, Lacan não se refere à fenomenologia, e sim enfatiza que não se trata de um sintoma, pois ainda não houve uma inscrição no simbólico. Trata-se sim de algo que concerne ao real, que escapou da linguagem e justamente por isso pede por um significante que venha dizê-lo ao invés de somatizar.

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Em todo o seu ensino, Lacan refere-se à psicossomática em quatro diferentes momentos, como um fenômeno que pode se apresentar em qualquer estrutura clínica.

No Seminário 2, O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise, Lacan retira o fenômeno psicossomático do bojo da construção teórica da neurose e o situa no limite do narcisismo, considerando-o como relacionadas ao Real e ao corpo biológico. “Se algo é sugerido pelas reações psicossomáticas como tais, é justamente por elas estarem fora do âmbito das construções neuróticas (...) Trata-se de uma relação a algo que está sempre no limite de nossas elaborações conceituais (...) estou-lhes falando do simbólico, do imaginário, mas há também o real. As relações psicossomáticas estão no nível do real” (LACAN, 1985b, p. 127).

A postulação lacaniana permite pensar-se que a libido seria investida no órgão erogeneizado e não no objeto. “(...) não se sabe como funciona o fenômeno psicossomático, mas o investimento da libido se faz sobre o órgão próprio (...) Os fenômenos psicossomáticos se produziriam na vizinhança da pulsão, que Lacan ainda não relaciona à divisão subjetiva (WARTEL, 2003, p. 78).

No Seminário 3 denominado As Psicoses, Lacan afirma que estas doenças são: “fenômenos estruturados de modo bem diferente do que se passa nas neuroses, a saber, onde há não sei que impressão ou inscrição direta de uma característica (...) de um conflito, sobre o que se pode chamar o quadro material que apresenta o sujeito enquanto ser corpóreo”.

Lacan reafirmará este posicionamento em 1964, quando acrescentará outros elementos importantes a sua teoria. Impõe-se ao sujeito significações confusas vindas do Outro, levando-o, pela formação de compromisso, no lugar de um sintoma, a responder com uma lesão no órgão apresentando um fenômeno psicossomático, como uma via de escape encontrada frente à sua sujeição ao desejo do Outro.

A questão reaparece no ensino de Lacan num momento mais decisivo no Seminário 11, Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise, no qual o autor propõe que os fenômenos psicossomáticos incidem sobre o corpo como efeitos de linguagem. “A psicossomática é algo

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que não é um significante, mas que, mesmo assim, só é concebível na medida em que a indução significante, no nível do sujeito, se passou de maneira que não põe em jogo a afânise do sujeito” (LACAN, 1964, p. 215 – grifos do autor).

Esta referência de Lacan à psicossomática se dá num momento em que ele busca situar teoricamente a constituição do sujeito no lugar do Outro por meio das duas operações lógicas de alienação e separação, como estudados anteriormente. Ao propor que estas se produzem numa ordem lógica, ele as opõe a ordem cronológica, o que implica afirmar que o tempo próprio do inconsciente está na base da constituição do sujeito.

Nos fenômenos psicossomáticos este duplo movimento parece não ser acionado pela impossibilidade da afânise que não se realizando produz o congelamento da cadeia significante, posto que o intervalo entre o S1 e S2, espaço denominado holófrase, inexiste. Desse modo, o

significante deixa de representar o sujeito para outro significante, permitindo que este fique submetido ao discurso do Outro.

O que Lacan chama de “gelificação” ou congelamento da cadeia significante é capaz de produzir diversos efeitos tanto estruturais – como a psicose em suas formas particulares de se apresentar, como nas paranóias, por exemplo – quanto outros, entre eles, o fenômeno psicossomático.

O efeito de linguagem produzido pelo congelamento evidencia o fracasso da metáfora paterna e, conseqüentemente, da subjetivação resultando no fenômeno psicossomático, situado no limite, como uma borda, o que implica o gozo nessas manifestações.

Compreenda-se a metáfora subjetiva e a metáfora paterna para situar a questão da psicossomática. A primeira fracassa pela ausência de afânise (holófrase, gelificação da cadeia significante) e a segunda, a metáfora paterna, coloca em questão o significante Nome-do-pai.

Isto aponta para uma questão importante: o fenômeno psicossomático pode se apresentar em qualquer estrutura, pois é o significante que, atuando sobre o corpo, gera lesões pela impossibilidade de movimentação da cadeia mediante a fixação pelo congelamento.

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No Seminário em questão Lacan afirma que um significante representa o sujeito para outro significante. Nos casos dos fenômenos psicossomáticos, esta série apresenta-se desordenada: o sujeito é representado por um significante que encontra a presença ou ausência do significante unário, do S1 absoluto que só pode ser representado pelo traço unário, “pela impossibilidade própria das línguas de traduzir o nome próprio provocando um “curto-circuito no Outro da linguagem; ele atravessa as línguas e parece fazer diretamente referência ao objeto sem passar pela mediação da articulação significante” (MILLER. In: WARTEL, 2003, p 90).

O corpo entra, assim, no lugar do Outro do significante e é exatamente por este caminho, de reconhecer o Outro como corpo é que se pode diferenciar melhor o sintoma histérico do psicossomática, uma vez que o primeiro evidencia o Outro do significante, do desejo, enquanto que no segundo pelo contorno do Outro do significante, fica o Outro como corpo.

Nestes fenômenos uma forma particular de mimetismo parece ser evocada como uma realização do imaginário, pois, pela fixação da cadeia significante ocasionada pelo congelamento, o real retorna no corpo, já que este não é representado no simbólico pela impossibilidade da relação dialética com o Outro. A lesão surge impressa no corpo a partir da identificação do desejo com a falta, neste caso, do Outro que se presentifica ao sujeito pela identificação com algo traumático. Nas palavras de Lacan: “O homem é capturado pela imagem de seu corpo” (LACAN, 1975, p. 7).

Mais tarde na Conferência em Genebra sobre o Sintoma (1975), Lacan reconhece que a questão dos fenômenos psicossomáticos é ainda um território pouco explorado. Pode-se acrescentar a afirmação lacaniana: complexo, enigmático, instigante, desafiador e atual na clínica psicanalítica.

As lesões psicossomáticas são caracteristicamente enigmáticas, pois tanto podem aparecer como que “do nada” e do mesmo modo que se apresentaram vão embora. Ou, ainda, podem se agravar e colocar em risco a vida do sujeito, como um agravamento do quadro ou até mesmo a morte.

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Mas o que é isto que se inscreve no corpo como um excesso que traz apontamentos de morte? Lacan faz nesta Conferência várias associações: “hieróglifo”, “traço unário”, “assinatura”, “selo”, “corpo considerado como cartucho revelando o nome próprio”, “marcas” (LACAN, 1975, p. 13-14).

Utiliza-se de uma expressão, “assinatura das coisas”, vinda dos místicos, que difere dos conceitos desenvolvidos pelo próprio Lacan, sinal e significante. Recorre, ainda, ao traço unário como uma forma particular de escrita. Estas assinaturas se assemelham aos hieróglifos que, no entanto, ali se inscrevem não para serem lidos como traços pré-significantes, cifras que não passaram pela subjetivação do desejo. É algo para se ler, mas que não nos é possível compreender, na expressão de Lacan “boiamos”: “É algo da ordem do escrito. Em muitos casos, não sabemos lê-lo” (idem).

Este escrito, porém é da ordem de número e não da letra como contagem de gozo, posto que, segundo Lacan, “o corpo se deixa levar para escrever algo da ordem do número” (idem).

Se os situasse no nível da letra seria possível pensá-los por uma inscrição simbólica. Mas os situando na ordem do número coloca-os na ordem do real, por trazer algo específico de gozo: “é por esse viés, pela revelação do gozo específico que há na sua fixação, que sempre é preciso visar a abordagem do psicossomático” (idem).

Foi necessário a Lacan avançar em seu ensino para que 11 anos mais tarde, após suas considerações sobre a questão da psicossomática em 1964 no Livro 11, chegando em 1975 a esta Conferência, para que pudesse pensar nos fenômenos psicossomáticos em relação ao gozo. O estatuto específico deste gozo nestes fenômenos não é semelhante aquele em que se verifica também nas outras séries de casos o enfraquecimento da metáfora subjetiva, como na esquizofrenia, por exemplo.

O gozo nestes fenômenos contém um enigma relacionado ao corpo aqui em questão que é o corpo imaginário. Pela divisão corpo/organismo o gozo está separado da carne, refrigerando-se

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nas zonas erógenas, deixando o corpo como um deserto e retornando pelas bordas ou no limite como real, como uma marca, ou se se preferir como uma tatuagem.

Aliás, este é o dualismo proposto por Lacan que se difere daquele proposto por Freud entre corpo/psique e nos permite a abordagem da psicossomática: corpo/organismo. O que se coloca como questão é a constituição do corpo pelo sujeito. Este é o diferencial desenvolvido pela psicanálise ao propor uma outra dicotomia que não se reduz aquela inicialmente apontada entre corpo e mente.

A ação da linguagem sobre o corpo provoca uma divisão entre corpo e organismo que se verifica sexuado e mortal uma vez movido pela atividade pulsional, o que possibilita a ação da libido que tem como representação os objetos da própria pulsão. Mas se sabe que este objeto é da ordem da impossibilidade, da incompletude e é por ele que este corpo/organismo dividido irá reivindicar incessantemente pela via da demanda e do desejo.

“Tudo se passa como se algo estivesse escrito no corpo, alguma coisa que se oferece como enigma” (LACAN, 1975, p. 14). A linguagem hieroglífica verificada nos fenômenos psicossomáticos é diferente da linguagem alfabética que se vê no sintoma. O hieróglifo encontra-se desfonetizado e por isso é algo que encontra-se apreencontra-senta encontra-sem possibilidade de leitura. Pode pensar no S1 em que há fixação como um hieróglifo, uma figura, uma marca do sujeito que sendo

impossibilitado de se inscrever em alguma parte, mas tendo ali estado, contorne o significante como um texto: “o fenômeno psicossomático é um hieróglifo no deserto – o que é escrito”, algo que não é para ser lido, distinto de um apelo ao Outro (idem).

O trabalho de análise deve procurar construir o sentido do gozo específico para que pela ação da palavra o enfraquecimento da metáfora paterna possa ceder lugar a sua restauração, propiciando que, pela sua inserção no simbólico, o fenômeno psicossomático possa se converter numa questão sobre o desejo remetida ao Outro, para que esta deixe de ser o próprio corpo.

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É possível que assim, pela inscrição do significante, a cadeia antes congelada possa voltar a se movimentar e, pela repetição, a doença possa emergir como sintoma, sendo possível, desse modo, ser trabalhado pela transferência.

Em análise, por meio da transferência, o sujeito tem a possibilidade pelo estabelecimento da fala e da escuta, de se confrontar com sua divisão subjetiva, abrindo caminho para que a compulsão à repetição, enquanto uma força constante de retorno ao objeto perdido, possa ser, ao mesmo tempo, um fator de cura.

O trabalho clínico com um paciente que apresenta um fenômeno psicossomático é possibilitar-lhe uma saída pelo lugar de onde o analista responde a demanda não mais aquele esperado onde havia uma idéia com o Outro traumático. Abre-se assim a possibilidade do sujeito “separar-se de um lugar de alienação, de um lugar de objeto no fantasma, e dirigir-se à construção de seu próprio fantasma. Buscando encontrar-se, encontra-se com um bem sucedido desencontro que lhe permite ser sujeito (BORGES, 2004, p. 106-7).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Longe de incentivar uma unificação quanto ao posicionamento frente aos quadros psicossomáticos, propor uma Psicossomática Psicanalítica de Orientação Lacaniana visa antes de tudo esclarecer que pelo ensino de Lacan é possível se pensar em estudos científicos e atuações clínicas para estes pacientes nos moldes da clínica lacaniana.

Certamente, apropriar-se do conhecimento sobre os fenômenos psicossomáticos para a clínica, além de essencial, é, também, uma forma de se viabilizar o tratamento nestas condições. Por este motivo, acredita-se ser necessário mais estudos e experiências em torno do tema para continuar a ampliar a visão sobre a psicossomática em Lacan. Foi neste intuito que realizei este estudo, tendo sua relevância não apenas no plano pessoal, como também para o campo acadêmico e psicanalítico, onde teoria e prática encontram-se entrelaçadas.

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Contudo, foi sem dúvida o contato clínico com pacientes o motor deste trabalho. Entendendo a necessidade e cedendo ao desejo de conhecer mais de perto as formulações teóricas de Lacan a respeito dos fenômenos psicossomáticos, busquei um aprofundamento nesta direção.

Estas considerações finais visam ressaltar o quanto os estudos em psicossomática numa orientação lacaniana ainda é uma área de conhecimento aberto e em expansão. Há, assim, um leque de questões que se colocam.

Por que a somatização é uma saída que se encontra para a ausência de significante em relação a algo? Que algo é este tão potente que não se deixa definir? Estas são algumas questões que continuam a bater à porta da clínica. Os poucos temas e sonhos trazidos para as sessões de análise ou quase a falta total deles é uma característica intrigante para o analista que tem como foco de trabalho a associação livre que, neste caso, são mínimas.

No decorrer das sessões, o sujeito aparece pouco. Quando incitado a falar, passa às vezes por muitos assuntos, mas sobre o fenômeno psicossomático pouco fala, a doença não é subjetivada, sendo produzida por um Outro que lhe é externo e mal que toma posse de seu corpo, tornando-se dependente de alguém que lhe possa curar. Esta é uma brecha para o trabalho de análise que pela transferência pode chegar a um significante e outra forma de gozo, não mais relacionada ao Outro.

São desafios que se colocam e que com meu trabalho dissertativo procurei teoricamente aprofundar, mas, com certeza, não esgotar. As inúmeras questões em aberto denotam as aberturas pertinentes para outras possíveis explorações na comunidade científica.

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