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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA O IDOSO: sua incidência na cidade de Porto Velho e a tutela cedida pelo Ministério Público | Anais do Congresso Acadêmico de Direito Constitucional - ISSN 2594-7710

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Anais do I Congresso Acadêmico de Direito Constitucional da FCR Porto Velho/RO 23 de junho de 2017 P. 725 a 749

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA O IDOSO: sua incidência na cidade de Porto Velho e a tutela cedida pelo Ministério Público

Ágnes Clícia Oliveira Cavalcante1 Tulio Anderson Rodrigues da Costa2

RESUMO

O presente artigo pretende mostrar a incidênciada violência doméstica contra o idoso de forma concisa, com base em uma análise realizada em alguns processos - fornecidos pela Promotoria da Cidadaniana cidade de Porto Velho - e em um questionário aplicado.Demonstra ainda asespécies de violência mais encontradasentre os processos analisados; as causas que levam os agressores a praticarem tal ato; as regiões da cidade em que há maior incidência de violência; o perfil das vítimas, tais como o sexo e a condição econômica;alémdas medidas adotadas pelo Ministério Público de Rondônia para proteção das pessoas idosas que se encontram vulneráveis em decorrência da violência doméstica; apresentando as devidas conclusões que foram alcançadas com a pesquisa.

Palavras-chave: Idoso, Família, Violência, Direitos.

ABSTRACT

This article aims to show the incidence of domestic violence against the elderly in a concise way, based on an analysis carried out in some cases - provided by the Citizenship Office in the city of Porto Velho - and an applied questionnaire. It also shows the types of violence most found among the analyzed processes; The causes that lead the aggressors to practice such an act; The regions of the city where there is a greater incidence of violence; The profile of victims, such as sex and economic condition; Besides the measures adopted by the Public Ministry of Rondônia to protect the elderly people who are vulnerable due to domestic violence; Presenting the conclusions that were reached with the research.

Keywords: Elder, Family, Violence, Rights.

1

Acadêmica do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail:

cavalcante.agnes@gmail.com

2

Docente da disciplina de Direito Penal I, Doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em convênio com a Faculdade Católica de Rondônia, Especialista em Direito Público pelo Instituto Luterano de Ensino Superior de Porto Velho. E-mail: tulioanderson1@gmail.com

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726 INTRODUÇÃO

Neste artigo pretende-se analisar a incidência da violência doméstica contra o idoso na cidade de Porto Velho, mostrando quais as medidas adotadas pela Promotoria da Cidadania que visam proteger a vítima, quaisas espéciesde violência mais recorrentes, o perfil socioeconômico da família da mesma, as regiões da cidade em que mais ocorrem e as principais causas que levaram o agressor a cometer o ato, posto que as quantidades dos casos de violência doméstica relatados têm aumentado, fazendo com que seja um assunto de extrema relevância para a sociedade, a família e o âmbito jurídico.

Importante frisar que de acordo com estatísticas oficiais, dentre as espéciesde violência cometida contra o idoso, a doméstica é a principal, tendo como maioresagressores os filhos, netos, genros ou noras e parentes afins que não sabem lidar com os mais velhos, além da falta de paciência e tempo, o interesse financeiro e problemas familiares anteriores que influenciam de forma impactante nas relações agressivas da família.

Foi realizada uma análise geral eoutra concisa sobre o crescimento da população idosa no Brasil, a visão de velhice que a sociedade tem e também o crescimento da violência no ambiente familiar, evidenciando as garantias e princípios constitucionais de proteção a essas pessoas, bem como a história dos seus direitos através do surgimento da Política Nacional do Idoso e do Estatuto do Idoso.

O Estatuto do Idoso, Lei 10.741/2003, trouxe grandes avanços na proteção a essa parcela da população, regulando em uma única norma os direitos elencados na Constituição Federal de 1988 e na Política Nacional do Idoso. Mas a questão fundamental se encontrana problemática acerca das medidasnormatizadas pelo Estatuto e adotadas pelo Ministério Público, se elas são eficientes quando exercida sua tutela de proteção à vítima de violência doméstica e quais os impactos na família, sociedade e na legislação vigente.

Para se chegar aos objetivos propostos serão analisadas as espécies de violência, explicando detalhadamente cada uma delas; os motivos que levam o agressor a cometê-las, tanto as motivações mais encontradas no país, quanto às encontradas na cidade de Porto Velho; as medidas que existem para coibi-las, as

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que a Lei 10.741/2003 traz e as adotadas pelo Ministério Público de Rondônia para defesa dos direitos dos idosos; e quais sanções são aplicadas ao agressor.

Através da pesquisa bibliográfica e, também, a realizada no Ministério Público de Rondônia será possível alcançar conclusões acerca dos questionamentos realizados no início do presente artigo, demonstrando as informações que foram obtidas ao longo de todo o processo de colheita de dados.

1 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO IDOSO E DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A pessoa idosa é o indivíduo com 60 anos ou mais,no Brasil essa população obteve um crescimento considerável nos últimos anos, representando, atualmente, 23.5 milhões dos brasileiros (Dados sobre o envelhecimento no Brasil, 2012, p.02). Isto é o dobro do que apresentava em 1991, mostrando que a expectativa de vida melhorou e o processo de envelhecimento se tornou uma das maiores conquistas da nossa sociedade.

Frente a isso, a violência doméstica tem os seus números aumentando a cada ano, o lugar que era para dar segurança, se torna um ambiente cercado de maus tratos, abandono e interesses financeiros, quando o idoso não faz o que seu responsável deseja. O idoso e suas necessidades são postos de lado, sua qualidade de vida diminui, as agressões físicas aparecem e podem até acarretar a morte. Sobre isso, Paulo Roberto Barbosa Ramos (2014, p.187):

[...]Há, no interior das famílias, a cumplicidade dos adultos em manejar os velhos, em imobilizá-los com cuidados para o seu próprio bem. Em privá-los da liberdade de escolha, em torná-los cada vez mais dependentes administrando as suas aposentadorias, obrigando-os a sair de seu canto, a mudar de casa, e, por fim, submetendo-obrigando-os à internação hospitalar. Se o idoso não cede à persuasão, à mentira, os familiares não hesitarão em fazer uso da força.

O idoso, apesar de muitas pessoas o enxergarem como mais um peso a ser carregado, possui um papel fundamental nas relações com a família e com a sociedade. Seu envelhecimento adequado e sua qualidade de vida devem ser objetivos em comum dos familiares, Estado e sociedade. Mônica de A. Magalhães Serrano e Vidal Serrano Nunes Júnior afirmam (2014, p.206):

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Essa transformação demográfica tem sido objeto de vários debates mundiais, considerando o ritmo acelerado do envelhecimento mundial e a preocupação com a vulnerabilidade desta população, que suscitam medidas não só governamentais, como também uma mudança comportamental da sociedade e da família.

Conforme a Organização Mundial da Saúde a violência contra a pessoa idosa se define como qualquer ato, único ou repetitivo, ou omissão, que ocorra em qualquer relação supostamente de confiança, que cause dano ou incômodo à pessoa idosa.

1.1 GARANTIAS E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS RELATIVOS AO IDOSO

A Constituição Federal de 1988 trouxe dispositivos que tratam de forma mais especifica os direitos e garantias concernentes ao idoso. Tais dispositivos se encontram no Título VIII, Capítulo VII, artigos 229 e 230, e tratam das obrigações da família, do Estado e da sociedade no que tange a proteção e dignidade da pessoa idosa, bem como o direito ao transporte público.

Outra questão abordada pela Constituição são os fundamentos trazidos no artigo 1º, incisos II e III que tratam da cidadania e dignidade da pessoa humana aplicados de maneira geral a todos os indivíduos, mas que deve ser considerado com mais atenção ao observar a situação de fragilidade do idoso. Nessa linha, também aduz sobre os objetivos fundamentais da República, artigo 3º, IV, entre eles se destaca a promoção do bem para todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Quanto aos princípios referentes ao amparo a essas pessoas, quatro se destacam, são eles o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, Princípio da Igualdade, Princípio da Proteção ao Idoso e Princípio da Solidariedade Familiar, todos estes tratam de estabelecer maior seguridade, promoção da assistência familiar material e moralmente, e propiciar a eles uma vida digna, livre de toda e qualquer tipo de violência que porventura venha ocorrer.

O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, como dito anteriormente, é um fundamento constitucional que visa proporcionar a todos o respeito a sua honra, virtude e moral, garantindo-lhes assim as condições existenciais mínimas. Para o idoso é essencial à atenção a este princípio, considerando a existência de uma visão

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errada de que quanto mais a pessoa envelhece, menos valor lhe é atribuído diante da sociedade.

O Princípio da Igualdade, vislumbradono art.5º, caput, dispõe que todos são iguais no que diz respeito a aptidões e possibilidade de usufruir um tratamento isonômico frente à lei. Essa igualdade deve ser observada quanto à diferença entre as partes, ou seja, tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.

O Princípio da Proteção ao Idoso assegura a essas pessoas umamparo maior a sua qualidade de vida e garantia de cumprimento dos seus direitos, reflexo disso foi a criação do Estatuto do Idoso, Lei 10.741/2003, onde se encontram todos os dispositivos acerca de direitos e deveres alusivos a eles.

E finalizando, o Princípio da Solidariedade Familiar tem como objetivo fornecer aos entes do arranjo familiar, assistência moral e material, ou seja, impõe a cada pessoa deveres de cooperação, assistência, amparo, ajuda e cuidado em relação às outras. Com relação ao idoso, este princípio fica mais evidenciado devido a sua fragilidade, onde, em muitos casos, eles são totalmente dependentes de seus familiares, principalmente os filhos.

1.2 A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Em quatro de janeiro de 1994 foi instituída a Política Nacional do Idoso, Lei 8.842/94, com o intuito de assegurar os direitos sociais dessas pessoas, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação na sociedade, conforme seu artigo 1º.

Anteriormente a ela, as proteções referentes ao idoso eram encontradas em textos esparsos, como por exemplo, o Código Civil de 1916, o Código Penal, o Código Eleitoral, a Constituição Federal de 1988, decretos, leis, entre outros.

Deve-se ressaltar que após ser regulamentada pelo Decreto 1948, de 3 de julho de 1996, assinado pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, a Política Nacional do Idoso passou a ser implantada nos Estados, tendo como um de seus recursos os Fóruns Estaduais e Regionais Permanentes da Política Nacional do Idoso.

Os seus princípios norteadores estão elencados no artigo 3º, sendo eles o dever da família, sociedade e Estado em assegurar todos os direitos da cidadania ao

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idoso; o envelhecimento como algo inerente a sociedade; a proibição de qualquer tipo de discriminação; o idoso como agente e destinatário das mudanças trazidas; e a observância, por parte do poder público, acerca das diferenças econômicas, sociais e regionais do país.

Em seu artigo 6º trouxe os Conselhos que cuidariam dos direitos deles, porém, apenas em 2004, por meio do Decreto 5.109, foi criado e instalado o Conselho Nacional de Direitos do Idoso. Já no âmbito dos Estados, Distrito Federal e Municípios, ficou a cargo destes, através de leis próprias, instituí-los. E coube ao Ministério Público, valendo-se de todos os instrumentos legais, obrigar o Poder Executivo a encaminhar o projeto de criação desses conselhos, e depois de criados, garantir o seu funcionamento.

1.3 O ESTATUTO DO IDOSO E SUAS MEDIDAS PROTETIVAS

A Constituição Federal de 1988 e a Política Nacional do Idoso trouxeram diretrizes e princípios acerca do tema, porém não abordam de maneira detalhada as políticas, os direitos e os meios de proteção a essas pessoas, havendo assim, a necessidade de uma lei especifica para o idoso, visto que se trata de uma parcela especial da população.

O Estatuto do Idoso, Lei 10.741/03, foi instituído em 1º de outubro de 2003, visando regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, dispondo que eles gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, de acordo com seus artigos 1º e 2º.

Observa-se que a Constituição Federal elenca em seu artigo 230 quanto a obrigação da família, da sociedade e do Estado assegurar ao idoso a efetivação dos direitos à vida, saúde, alimentação, educação, liberdade, dignidade, entre outros. Além de estabelecer que o idoso não será alvo de qualquer tipo de violência, negligência, crueldade e opressão.

Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Art. 4o Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo

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atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.

Nota-se que foi feito para dar maior ênfase e assegurar os direitos que preservem a dignidade da pessoa humana, sem nenhum tipo de discriminação, demonstrando assim uma preocupação da sociedade brasileira em relação ao assunto, conforme preceitua Ramos (2014, p.159):

A aprovação do Estatuto do Idoso demonstra preocupação da sociedade brasileira com o seu novo perfil demográfico. O Brasil, conforme já anotei neste Curso, não é mais um país de jovens, mas um país em acelerado processo de envelhecimento. Esse perfil populacional exige do Estado e da sociedade ações efetivas para a garantia dos direitos fundamentais das pessoas envelhecidas.

Seus capítulos versam sobre diversos direitos que têm como objetivo preservar a qualidade de vida do idoso, tais como, o direito à vida, à liberdade, ao respeito, à dignidade, aos alimentos, saúde, educação, esporte, previdência social entre outros.

Foram elencadas medidas que visam proteger a vítima sempre que estes direitos sejam ameaçados ou violados, tanto por ação ou omissão do Estado, abuso cometido pela família ou em razão de sua condição pessoal. Tais medidas estão descritas no artigo 45, são elas o encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade, orientação, apoio e acompanhamento temporários, requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar, inclusão em programa oficial ou comunitário deauxílio, orientação e tratamento a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação, abrigo em entidade, e oabrigo temporário.

Quanto as políticas de atendimento, o artigo 46 aduz que serão realizadas através de um conjunto de ações articulado entre os Municípios, o Distrito Federal, os Estados e a União. Serão executadas por meio de políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994; políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que necessitarem;serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos abandonados em hospitais e instituições de

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longa permanência; proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos;mobilização da opinião pública no sentido da participação dos diversos segmentos da sociedade no atendimento do idoso.

No capítulo referente aos crimes contra a pessoa idosa há um rol de dispositivos que têm o intuito de protegê-los, bem como as penalidades para o agressor, estando elencados desde o artigo 93 até o 108, entre eles estão o de discriminação, omissão na prestação de socorro, abandono, exposição ao perigo a saúde e a integridade do idoso, entre outros.

A maior penalidade trazida pelo Estatuto é a do artigo 99, §2º, reclusão que pode ir de quatro a doze anos quando a vida ou saúde do idoso for exposta a perigo, e tem similaridade com o artigo 136 do Código Penal.

Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:

Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa. § 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

§ 2º Se resulta a morte:

Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:

Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa §1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a quatro anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.

Antes de sua implementaçãoa Ação Penal era processada mediante a escolha do idoso, sendo pública condicionada a representação ou privada. Porém, com o advento do Estatuto passou a ser Ação Penal Incondicionada, sendo legitimado o Ministério Público, independente da escolha do idoso, isto porque eles protegem ao máximo o familiar agressor, não procurando ajuda dos órgãos de

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proteção, não tomando atitudes que defendam seus direitos, movidos pelo afeto que sentem por aqueles.

Diante do exposto , mesmo com a autonomia dada ao Ministério Público para instaurar os processos que tenham como vítima essas pessoas ainda são encontradas muitas dificuldades para descobrir que eles estão sofrendo algum tipo de violência doméstica. Com esse pensamento, Roberto Mendes de Freitas Junior (2015, p.206):

A legislação anterior, ao deixar a critério do idoso (mediante ação penal condicionada, ou ação penal privada) o oferecimento de representação ou a propositura de processo-crime, acabava contribuindo à verdadeira impunidade do agressor, pois não raras vezes – quiçá na maioria – o idoso, vítima de um crime praticado por um parente (irmão, filho, neto etc.), perdoava o agressor, movido pelo sentimentalismo característico dos anciãos, ou deixava de noticias a agressão sofrida por receio de represálias.

O Estatuto veio com a atribuição de funcionar como diploma de direitos, dando ao Poder Público meios de controlar as ações acerca do melhor tratamento dispensado ao idoso, além de elucidar a todos que estas pessoas não devem ser postas a margem da sociedade, evidenciando quais as obrigações de cada ente diretamente ligado ao bem estar dos mesmos.

1.4 ESPÉCIES DE VIOLÊNCIA

De acordo com o Plano de Ação para Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa (2005, p. 12) as espécies de violência cometidas contra o idoso são a física, a psicológica, a sexual, o abandono, a negligência e o abuso financeiro e econômico.

A violência física é aquela em que o agressor utiliza a força para coagir o idoso a fazer algo contra sua vontade, ferindo-o, causando dor, incapacitando-o e até acarretando a morte. O artigo 99 do Estatuto do Idoso traz o tipo penal maus-tratos e suas punições ao agressor.

A psicológica é aquela em que o idoso sofre agressões verbais ou gestuais, causando-lhe humilhação, restringindo sua liberdade e, também, isolando-o do convívio com outras pessoas. O artigo supracitado também visa coibir esse tipo de crime.

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A sexual é aquela em que o agressor se utiliza de ato ou jogo sexual, de caráter homo ou heterossexual, com a pessoa idosa. Visam a obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças.

O abandono é aquela forma de violência em que os familiares ou o Estado manifestam sua ausência ou deserção no momento de prestar socorro a um idoso que necessita de proteção. O Estatuto do Idoso trata do abandono material em seu artigo 98, visando evitar que a família deixe de suprir as necessidades básicas daquele.

A negligência se manifesta na recusa ou na omissão dos cuidados ao idoso, tanto por parte dos responsáveis familiares quanto dos institucionais. Geralmente aparece relacionada a outros abusos que geram lesões e traumas físicos, emocionais e sociais, principalmente para os que se encontram em situação de dependência ou incapacitados.

Por fim, o abuso financeiro e econômico que consiste na exploração ilegal dos idosos ou ao não consentimento, por parte destes, que o agressor utilize seus recursos financeiros e patrimoniais.

1.5 CAUSAS QUE LEVAM O AGRESSOR A COMETER A VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO

As principais motivações que levam a agressão do idoso por parte de um familiar são o uso do álcool ou outras drogas, a dependência financeira do agressor em relação aquele e o relacionamento desestabilizado por conflitos anteriores.

O embate de ideias que ocorre diariamente entre os mais novos e os idosos gerem esses conflitos e, na maioria das vezes, acabam acarretando a violência contra estes. Além disso, a omissão dos familiares em dar a essas pessoas amor, afeto, respeito e cuidado, é para eles a configuração dos maus tratos. Mesmo que não haja a violência física, há a violência emocional o que prejudica exponencialmente a qualidade de vida desse idoso.

No que concerne às finanças do mesmo, a disputa por seus bens e as dificuldades das famílias em arcar com os seus cuidados se tornam mais uma parcela do conjunto de violências. Na grande maioria das vezes os familiares

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praticam essa agressão visando os bens patrimoniais do idoso, nessa linha o Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa (2005, p. 16):

[...] Geralmente, são cometidos por familiares, em tentativas de forçar procurações que lhes dêem acesso a bens patrimoniais dos velhos; na realização de vendas de bens e imóveis sem o seu consentimento; por meio da expulsão deles do seu tradicional espaço físico e social do lar ou por seu confinamento em algum aposento mínimo em residências que por direito lhes pertencem, dentre outras formas de coação. Tais atos e atitudes visam, quase sempre, à usurpação de bens, objetos e rendas, sem o consentimento dos idosos.

Duas formas de agressão se destacam nos lares, as negligências em relação as suas necessidades quanto ao ambiente em que vivem e as relacionais. Após vários estudos realizados se chegou ao perfil do abusador, de acordo com o Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa (2005, p. 18) em primeiro lugar estão os filhos, mais que as filhas; em segundo, as noras e os genros; e em terceiro, o cônjuge. O Plano também atribui características a ele (2005, p. 18):

A caracterização do agressor revela alguns perfis e circunstâncias: (1) ele vive na mesma casa que a vítima; (2) é um filho(a) dependente financeiramente de seus pais de idade avançada; (3) é um familiar que responde pela manutenção do idoso sem renda própria e suficiente; (4) é um abusador de álcool e drogas, ou alguém que pune o idoso usuário dessas substâncias; (5) é alguém que se vinga do idoso que com ele mantinha vínculos afetivos frouxos, que abandonou a família ou foi muito agressivo e violento no passado; (6) é um cuidador com problema de isolamento social ou de transtornos mentais.

Mesmo que exista esse Plano para proteger o idoso, baseado no Estatuto, a violência ainda persiste. A existência de uma legislação especifica para reconhecer os direitos a eles inerentes os meios para inibi-la, principalmente a doméstica, praticamente não existem, as penas elencadas no Estatuto do Idoso são brandas se levar em conta que o agressor não é qualquer pessoa, e, sim, um familiar, uma pessoa que o idoso tem confiança. Os meios e as sanções que existem para combater a violência doméstica contra o idoso, na maioria dos casos, não conseguem alcançar suas finalidades, as políticas públicas e sociais ainda são pequenas em relação a esse assunto, pois predomina o pensamento de que problemas de família se resolvem dentro do seio familiar.

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2 RESULTADOS OBTIDOS NA CIDADE DE PORTO VELHO

A Secretaria Especial de Direitos Humanos disponibilizou em 2014 dados acerca da violência em que a vítima é o idoso, essas análises mostram que no ano de 2011 morreram 26.669 pessoas idosas por acidentes e violências no país, significando 68 óbitos por dia.

O gráfico abaixo mostra a taxa de mortalidade do idoso por causas externas. Segundo o Manual de Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa (2014, p.39), por causas externas entendemos agressões físicas, psicológicas, acidentes e maus-tratos que provocam adoecimento ou levam à morte de uma pessoa. Ela inclui a mortalidade por homicídios, suicídios e acidentes, entre outras.

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Observa-se que a cidade de Porto Velho é a que apresenta os maiores números de mortalidade. Entretanto, esses dados são abrangentes e incluem todos os tipos de mortes externas, tais como suicídios e acidentes, não só os relacionados a violência doméstica.

O próximo gráfico demonstra as taxas de homicídio dos idosos e como elas se distribuem em algumas capitais brasileiras. Elas incluem tanto homicídio ocorrido no âmbito familiar, como também ocorrido fora dele, causados por terceiros que não os entes da família.

Porto Velho está como a segunda capital com maior taxa de homicídios de pessoas idosas, mostrando assim que os casos em que estas pessoas são vítimas estão se tornando frequentes, seja por falta de políticas públicas, seja por proteção ao agressor e até mesmo por desconhecimento de seus direitos. A taxa mostrada acima é maior do que a taxa de homicídio do país, que é de 22,5 para 100.000 mil habitantes.

2.1 INFORMAÇÕES COLHIDAS NO MINISTÉRIO PÚBLICO DE RONDÔNIA

O Ministério Público é o ente que tutela os direitos relativos à pessoa idosa, tal é sua importância que foi dispensado um capítulo na Lei 10.741/2003 para

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compreender sua competência nas questões que envolvem essas pessoas. Estes artigos mostram sua atuação mesmo quando não for parte nos processos e que a não intervenção nestes, acarreta nulidade.

Art. 74. Compete ao Ministério Público:

I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso;

II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de designação de curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos em condições de risco;

III – atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme o disposto no art. 43 desta Lei;

IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou o interesse público justificar;

V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo: a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar;

b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias;

c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas;

VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso;

VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;

VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas;

IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde, educacionais e de assistência social, públicos, para o desempenho de suas atribuições;

X – referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos previstos nesta Lei.

§ 1o A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuser a lei.

§ 2o As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, desde que compatíveis com a finalidade e atribuições do Ministério Público.

§ 3o O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre acesso a toda entidade de atendimento ao idoso.

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Na 8ª Promotoria, 1ª Titularidade, na cidade de Porto Velho, Promotoria da Cidadania, que tutela o idoso, foi informado que em média eles atendem 100 casos por ano, e que todos eles envolvem violência doméstica. Porém, alguns desses casos podem começar em determinado ano e não ser solucionado no mesmo período, ainda existem, dentre eles, procedimentos administrativos em aberto dos anos de 2015 e 2016.

Foi informado, também, que os tipos de violência mais constantes são o abuso financeiroe a negligênciada família com a pessoa idosa, e que há um grande número de reincidência. Porém, como a demanda é muito grande, eles não possuem um controle de quantos processos foram findados com solução, quantos foram arquivados e a quantidade de processos por tipo de violência. Isso mostra a dificuldade que existe para fazer uma análise mais concisa sobre a quantidade de procedimentos existentes em que a vítima é o idoso e dar uma exatidão sobre quantos resultaram na condenação do agressor.

As informações obtidas através do questionário e da entrevista foram fornecidas pela Assistente da Promotoria e pela Assistente Social que atuam diretamente nos casos enviados a Promotoria de Justiça. Informaram como a Promotoria da Cidadania atua, quais as medidas adotadas para proteger o idoso e qual a orientação dada a família. Todo esse procedimento é feito extrajudicialmente, trabalhando em conjunto com outros órgãos como, por exemplo, a Secretária de Direitos Humanos, através do disque 100; o Conselho Nacional do Idoso; a Secretária Municipal de Assistência Social e Família; o Centro de Referência Especializado de Assistência Social-CREAS e a Defensoria Pública.

O Ministério Público toma ciência da violência através de um ofício enviado por órgãos como o Centro de Atenção Psicossocial- CAPS, ou quando uma pessoa comparece pessoalmente para noticiar algum caso de suspeita de violência contra o idoso, e também através de canais de denúncia como o disque 100. Ele age mediante representação ou de ofício, instaura um procedimento administrativo para analisar melhor os fatos, quando possuir todas as informações toma as medidas pertinentes, inclusive se necessário as judiciais.

Ao tomar ciência desse fato, o Promotor envia um ofício a Secretária de Assistência Social solicitando visita a residência do idoso que pode estar sofrendo

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violência doméstica. É feito um relatório detalhado descrevendo a situação em que o idoso vive, e em seguida o Ministério Público convida os familiares que estão envolvidos no caso para se apresentarem ao órgão.

Para solucionar de maneira célere e garantir a efetivação dos direitos da pessoa idosa, é realizada uma audiência extrajudicial onde as partes se comprometem a algumas condições impostas pelo Promotor, por exemplo, prestar contas dos gastos realizados com o dinheiro do idoso, não negligenciar os cuidados necessários ao idoso, entre outros. Ao final, eles assinam um termo de compromisso, onde ratificam as condições impostas.

Como dito acima, os casos mais frequentes são a negligência e o abuso financeiro, quando há indícios de crimes, por exemplo, violência física ou sexual o Promotor encaminha os autos para uma delegacia, e lá será feita a investigação criminal pertinente, sendo realizado assim, o inquérito policial que dará lastro ao processo judicial.

Ao ser realizado o inquérito, será encaminhado para a Promotoria que atua na área de violência doméstica contra a mulher, quando a vítima é a mulher idosa, ou para alguma das demais Promotorias que atuam nas varas criminais genéricas, quando a vítima for o homem idoso, com exceção dos crimes elencados no Estatuto do Idoso, para que então seja oferecida a denúncia. Porém, como foi informado, esses casossão os mais raros, principalmente por conta da dificuldade de se apurar a incidência de um crime mais gravoso quando a própria vítima protege o agressor.

A Promotoria da Cidadania de Rondônia atua nos crimes elencados no Estatuto do Idoso, quais sejam os do artigo 93 ao 108 da Lei 10.741/2003. Qualquer outro crime cometido contra o idoso que não esteja no Estatuto, será encaminhado para outra promotoria criminal para que lá se proceda a devida denúncia.

Nos procedimentos administrativos disponibilizados para análise, há uma incidência muito grande de abusos financeiros, onde o familiar responsável pelos cuidados do idoso utilizam o dinheiro destes para fins diversos dos que deveriam ser utilizados. Em um dos casos os agressores eram os netos, que além de negligenciarem os cuidados necessários, realizaram ameaças contra a vidada idosa se esta não continuasse dando seus rendimentos aqueles.

Em outro processo o agressor era o companheiro que se apoderava do dinheiro e dava uma finalidade diversa da que deveria ter sido dada, acumulando

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dividas em nome da idosa, não comprando os remédios que esta necessitava e nem comprando alimentação adequada, além da convivência com um filho usuário de drogas.

Na audiência extrajudicial realizada para tentar convencer essa idosa a sair daquela situação, ela afirmou que não gostaria de ir morar com outra pessoa que não fosse o companheiro, tendo as partes assinado um acordo em que prestariam contas dos gastos feitos com a aposentadoria daquela. O processo acabou sendo arquivado no ano de 2014, porém no início de 2017 fora novamente desarquivado, pois chegou ao conhecimento do Ministério Público que o companheiro e o filho da idosa estavam novamente negligenciando-a, chegando a entregar os seus objetos pessoais nas mãos de vendedores de drogas.

No segundo caso citado acima o Ministério Público retirou a idosa da casa onde vivia para proteger sua integridade física, levando-a para morar com outro filho, e continuam acompanhando para que as mesmas situações não ocorram novamente.

No terceiro procedimento analisado a idosa vivia com os filhos, a notícia chegou ao Ministério Público através de vizinhos da referida, diziam que escutavam várias brigas na casa daquela. Havia indícios de violência física, abuso sexual e negligência por isso foi determinado que se realizasse uma visita a residência da idosa, ao chegar a assistente social e a psicóloga encontraram a mesma com vários hematomas pelo corpo, incluindo um dos olhos que se encontrava arroxeado. Ao ser questionada sobre seu bem-estar e acerca da suposta violência cometida por um dos filhos, a idosa nada respondia.

No caso acima todos os filhos sabiam da violência perpetrada por um dos irmãos, porém ficaram omissos em relação ao caso, deixando a vítima a mercê dele. A Promotoria, neste caso, enviou o fato para ser realizado o inquérito policial e enquanto não se finaliza e retorna para ser oferecida a denúncia perante o juiz competente, foi dado abrigo em outro local para a vítima.

Pode-se afirmar que os exemplos citados foram alguns entre tantos outros que existem, mostrando as causas que levaram o agressor a cometer o fato, a atitude da vítima frente aquele e as providências que o Ministério Público toma para garantir os direitos da pessoa idosa, fazendo o que está ao seu alcance para que seja tudo feito sem a necessidade de uma demanda judicial demorada.

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Ao serem questionadas quais as espécies de violência mais vivenciadas pelos idosos na cidade de Porto Velho foi informado que as mais recorrentes são os maus tratos psicológicos, o abuso financeiro e econômico, o abandono e a negligência, porém na maioria das vezes um tipo aparece interligado com o outro, por exemplo, os filhos fazem ameaças para usufruírem do dinheiro do idoso ou utilizam o dinheiro para interesse próprio, negligenciando suas necessidades. Por isso, a dificuldade de se mostrar qual o tipo de violência que se destaca, pois vários acabam se apresentando em um mesmo caso concreto.

Os agressores, como dito no começo desse tópico os casos encontrados na 8ª Promotoria são todos domésticos, são os filhos, os netos e até mesmo o cônjuge, em sua minoria são os cuidadores. A depender do caso, podem ser um ou mais agressores.

Nesse caso, quanto a espécie de violência mais denunciada nos últimos seis meses, se destaca o abuso financeiro. Ele acaba trazendo outros tipos de violência consigo, tais como a violência psicológica e a negligência.

As medidas aplicadas que tem se mostrado mais eficazes e que são adotadas por aquela Promotoria de Justiça são extrajudiciais, e em sua grande maioria há resoluções dos conflitos, conseguindo assim, se chegar a melhor solução para o idoso. Quando não há, o Ministério Público encaminha para ser realizado o inquérito policial, como já dito anteriormente.

Essas medidas executadas são, dependendo do caso concreto, a conciliação dos conflitos, as redes de Proteção Social à Família podem ser acionadas através de programas psicossociais proporcionados pelo município e pelo Estado. Nos casos em que não foi possível chegar a conciliação, e as medidas impostas pelo Promotor não foram respeitas, evidenciando um risco para a integridade física e a vida do idoso é solicitado a instauração do inquérito policial.

As regiões da cidade de Porto Velho onde há uma maior incidência de violência doméstica contra o idoso são a zona leste e a zona sul. Poucos casos são registrados na região norte da cidade, e alguns casos na região central.

A respeito das sanções trazidas pelo Estatuto do Idoso influenciarem ou não no aumento dos casos de violência doméstica contra o idoso, foi respondido que não. Elas trouxeram benefícios para garantir que os direitos deles sejam

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respeitados, o problema para o aumento gradativo nas denúncias está ligado mais a pouca efetivação das políticas públicas existentes.

Nessa linha, disseram que não há necessidade de mudança no Estatuto do Idoso visando dar maior proteção no que tange a violência doméstica, pois o que se necessita é que a rede de atendimento às políticas de proteção seja maisestruturada, como por exemplo, a implantação de delegacias e varas especializadas para a pessoa idosa, um melhor atendimento realizado pelo instituto médico legal, e uma maior atuação do Conselho do Idoso.

As políticas públicas existentes que visam a proteção do idoso são, além do próprio Estatuto, a atuação da assistência social através da Lei Orgânica de Assistência Social- LOAS e do Sistema Único de Assistência Social- SUAS. Porém, essas políticas ainda não estão devidamente articuladas em uma rede fortalecida que mostre o trabalho conjunto do Município, Estado e União.

Sendo assim,as maiores causas que levaram o agressor a cometer o fato são a ausência de vínculos afetivos, problemas com uso de drogas, a cultura e os valores em que foi formada aquela família.

2.2 SÍNTESE DOS DADOS COLETADOS

Realizada a presente pesquisa e buscando maiores informações para evidenciar a incidência da violência doméstica contra o idoso em Porto Velho, conseguimos observar que os principais direitos lesados são a integridade patrimonial, moral e física. Os idosos são vítimas de, preferencialmente, maus-tratos, extorsão, apropriação indébita, lesões corporais, abandono e ameaças, cometidos pelos próprios familiares.

A maior omissão é a do Estado que não desenvolve as políticas públicas indispensáveis ao oferecimento de uma melhor qualidade de vida a essas pessoas. Em um âmbito mais restrito, os maiores agressores são os parentes mais próximos, principalmente aqueles que convivem diretamente com a vítima e que tem acesso a seu patrimônio.

Observou-se que o principal alvo das agressões são as mulheres idosas, entre os dez procedimentos administrativos disponibilizados aleatoriamente, nove tinham como vítima a mulher. Além do abuso financeiro foi observado a presença de

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violência física, psicológica e principalmente a negligência cometida contra essas mulheres. Somente em um procedimento a vítima era homem, porém neste caso só foi presenciado o abuso financeiro, sem outros tipos de violência presentes.

Em todos os casos os agressores eram filhos que ficaram responsáveis pelos cuidados com os pais, tanto homens quanto mulheres, e somente em um o agressor também era o companheiro. Foi observado que setratava de pessoas hipossuficientes, tanto vítima quanto agressor, principalmente pelas áreas da cidade que tem maior ocorrência, zona leste e zona sul.

Os entes do arranjo familiar, na maioria das vezes, são omissos quando sabem da existência de agressões cometidas por outro ente. Nada fazem para impedir, e quando o fazem a violência já ocorreu reiteradas vezes. E as vítimas sempre defendem o agressor, não fazem acusações, ficam intimidadas, e quando questionadas se mantêm em silêncio. Quem denuncia, em quase todos os casos, são terceiros de fora da família, como por exemplo, vizinhos ou amigos da vítima.

As formas utilizadas para evitar e reparar os danos causados são os acordos, os termos de compromisso de ajustamento de conduta, as ações cautelares e as ações civis públicas. Foi observado que o Ministério Público faz todo o possível para não entrar nas vias judiciais, tentando ao máximo a conciliação entre as partes.

A maior sanção administrativa imposta é o envio do fato a uma delegacia para uma possível instauração de inquérito policial, que, se realizado, voltará para o Ministério Público para oferecimento da denúncia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo demonstrou que a violência doméstica praticada contra a pessoa idosa tem tido uma incidência frequente na cidade de Porto Velho, prova disso são as constantes notícias que chegam ao Ministério Público de Rondônia através de canais de denúncias ou quando o denunciante vai até o próprio órgão relatar o caso.

A pesquisa de campo serviu para esclarecer alguns pontos chaves, tais como os tipos de violência que mais se destacam, sendo eles o abuso financeiro e a negligência; o perfil socioeconômico da vítima e de sua família que em todos os procedimentos analisados verificou-se que são pessoas de baixa renda; os

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agressores, em todos os casos, eram os filhos e algum outro familiar; as mulheres foram as vítimas em 90% dos procedimentos; as causas mais encontradas para a prática do ato foram os interesses financeiros, relacionamentos maculados por problemas familiares anteriores e a falta de afeto.

Quanto às medidas adotadas para proteção ao idoso, observou-se que o Ministério Público aplica de forma atuante as que foram trazidas pela Lei 10.741/2003. Nos procedimentos analisados foram encontrados vários termos de responsabilidade assinados pelos familiares agressores, onde eles se compromissavam a não praticar novamente os atos de violência, foram dadas orientações e feito acompanhamentos temporários e nos casos mais graves foi disponibilizado, para as vítimas, abrigos em entidades. E também, a conciliação sendo utilizada habitualmente, como uma forma célere e sem todos os constrangimentos de se entrar na esfera judicial.

Ocorre que apesar do esforço empregado, não só pelo MP, mas também, por todos os órgãos citados no capítulo anterior que trabalham em conjunto, a violência doméstica contra o idoso ocorre cada vez mais, e há uma grande dificuldade em se ter conhecimento desses números, pois como já dito as vítimas protegem o agressor, seja por afeto, dependência ou medo. Além disso, não existe uma rede de atuação estruturada onde o Estado possibilite a efetivação das políticas públicas que protejam o idoso, o que acaba ferindo princípios constitucionais, por exemplo, a dignidade da pessoa humana e a solidariedade familiar.

Nessa mesma linha, as políticas públicas devem ter o condão de conscientização para a família e a sociedade, no tocante ao idoso, e devem ser implementadas e desenvolvidas com afinco, demonstrando a importância dessa crescente parcela da população nas relações sociais. Para o idoso deve existir uma divulgação maior dos seus direitos, mostrando para eles que caso haja qualquer violência cometida por um familiar, não devem se sentir intimidados a procurar os órgãos de proteção.

Quanto ao Estado, este tem a obrigação de não desamparar a pessoa idosa que se encontre em situação de perigo, principalmente na cidade de Porto Velho, onde não existe delegacia e vara especializada e exclusiva para o idoso, sendo que o próprio Estatuto traz a possibilidade de serem implantados, conforme o artigo 70, e

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há necessidade para tal feito diante dos constantes relatos já citados, sendo uma forma de mostrar a vítima que está sendo protegida e inibir novas ocorrências.

Diante do exposto, percebe-se que, apesar de todo o trabalho feito pela Promotoria de Justiça, as reincidências ocorrem. O idoso continua a mercê do agressor e se cala diante das agressões sofridas, o que demonstra que, mesmo com a tutela exercida pelo Ministério Público, os objetivos não são alcançados.

Portanto, enquanto não houver toda a estruturação e aplicabilidade das políticas públicas trazidas no Estatuto, bem como informação à vítima e à família quanto aos seus direitos e obrigações para com os ascendentes, o quadro permanecerá como está.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Decreto- Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.

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MANUAL de enfrentamento à violência contra a pessoa idosa. Disponível em:

http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/publicacoes/violencia-contra-a-pessoa-idosa. Acesso em: 04 set. 2016, às 12:00.

OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva. O processo histórico do Estatuto do Idoso e

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PLANO de Ação para enfrentamento da violência contra a pessoa idosa.

Disponível em:

http://www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz.br/biblioteca/_manual/11.pdf. Acesso em: 17 fev. 2017, às 18:35.

RAMOS, Paula Mirana de Souza; Ramos, Tereza de Souza; Ferreira, Rúbia Silene Alegre. Maus tratos contra o idoso: um olhar sobre a problemática da violência

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SOUZA, Edinilsa Ramos de; Souza Minayo, Maria Cecília de. Impacto da violência

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ANEXO I

QUESTIONÁRIO PESQUISA DE CAMPO Acadêmica: Ágnes Clícia Oliveira Cavalcante

Orientador: Túlio Anderson Costa Rodrigues

Questionário aplicado na 8ª Promotoria (Promotoria da Cidadania), 1ª Titularidade.

1)Quais as espécies de violência mais vivenciadas pelos idosos na cidade de Porto Velho- RO?

( ) Maus tratos físicos; ( ) Maus tratos psicológicos; ( ) Abuso financeiro e econômico; ( ) Abuso sexual;

( ) Abandono; ( ) Negligência;

( ) Outros:____________________________________________________ 2) Quem são os agressores?

( ) Filhos; ( ) Netos; ( ) Cônjuge; ( ) Cuidadores;

( ) Outros:____________________________________________________ 3) A principal espécie de violência denunciada nos últimos 05 anos é: ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 4) As medidas aplicadas tem se mostrado eficazes?

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 5) Quais as regiões da cidade onde o índice de violência é maior?

____________________________________________________________ ____________________________________________________________

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____________________________________________________________ 6) Quais as medidas adotadas pelo Ministério Público que visam proteger o idoso que sofre violência doméstica?

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ___________________________________________________________

7) As sanções em vigor são fatores que influenciam no aumento dos casos de violência doméstica contra o idoso?

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 8) É necessário uma mudança no Estatuto que vise maior proteção ao idoso, no que tange a violência doméstica?

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 9) Quais as políticas públicas de proteção ao idoso? Elas estão se mostrando eficazes? Ou há uma carência das mesmas?

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 10) Quais as principais causas que levam o agente a praticar a violência contra o idoso?

____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________

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