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ALTERAÇÃO DO NOME NO ACENTO DO REGISTRO EM DECORRÊNCIA DAS RELAÇÕES SOCIAFETIVAS NA VIA EXTRAJUDICIAL

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Academic year: 2020

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ALTERAÇÃO DO NOME NO ACENTO DO REGISTRO EM DECORRÊNCIA DAS RELAÇÕES SOCIAFETIVAS NA VIA EXTRAJUDICIAL

Priscila Fernandes da Costa1; André Ricardo Gomes de Souza2;Ivan de Oliveira Silva3

RESUMO

O presente trabalho pretende discutir as regras jurídicas relacionadas à alteração do nome no acento de registro em decorrência da filiação socioafetiva. Durante a pesquisa, levantou-se as normas relacionadas ao nome, enquanto direito da personalidade, bem como a atual compreensão, na doutrina e na jurisprudência, a respeito da mitigação do princípio da imutabilidade do nome, desta forma para tal alteração no acento de registro, temos atualmente duas opções, a primeira através do judiciário4, e a segunda chamada de via extrajudicial realizada diretamente no Cartório de Registro de Pessoas Naturais5, ambas amparadas por legislações que reconhecem e até mesmo privilegiam a paternidade e a maternidade socioafetiva .

Palavras-chave: Direito da Personalidade. Alteração do Nome. Filiação Socioafetiva. Registro Civil. ABSTRACT

The present work intends to discuss the legal norms related to the alteration of the name in the cadastral accent as a result of socio-affective affiliation. We will talk about the possibility of changing the name as a result of socio-affective relationships in the Registry of natural persons, this is the focus of this article.

Key words: Personality Law. Name change. Socioaffective affiliation. Civil Registry. SUMÁRIO

Introdução; 1. Definição de Paternidade e Maternidade Socioafetiva; 1.1 A dignidade da pessoa humana admitindo a existência de uma nova espécie de paternidade/maternidade; 1.2.A existência do nome do pai biológico e da mãe biológica na certidão de nascimento do filho impede o reconhecimento da maternidade ou paternidade socioafetiva?; 2. A relativização do princípio da imutabilidade do nome; 2.1. Evolução histórica dos Direitos da Personalidade; 2.2. O Princípio da Imutabilidade do Nome Civil e sua Flexibilização na Sociedade Contemporânea; 3. Sobre a alteração do nome do padrasto ou madrasta no acento do registro; 3.1. Reconhecimento de paternidade socioafetivo e seus efeitos; 3.2. Reconhecimento do filho socioafetivo diretamente em cartório; 4. Conclusão; 5. Referências

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa teve por objetivo investigar a possibilidade de alteração do nome civil, da pessoa natural, através do reconhecimento de paternidade/maternidade socioafetiva. Em decorrência dessa pretensão, nossa análise direcionou-se para o 1 Graduanda do Curso de Direito, pelo Centro Universitário Braz Cubas. Trabalho orientado pelo Prof. Dr. Ivan de Oliveira Silva.

2 Mestrado em POLÍTICAS PÚBLICAS pela Universidade de Mogi das Cruzes, Brasil(2016). Docente do Centro Universitário Brazcubas.

3 Doutorado em Direito pela Universidade Metropolitana de Santos, Brasil(2011). Professor Titular do Centro Universitário Brazcubas, Brasil.

4 Lei nº 11.294, de 17 de abril de 2009 5 Provimento 63 de novembro de 2017

Revista do Curso de Direito Brazcubas V2 N1: Dezembro de 2018

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enfrentamento do tema sob um olhar teórico e prático. Para tanto, não deixamos de lado a oportunidade de abordar os vários aspectos da alteração do nome, com vistas a demonstrar que, atualmente, há acolhimento da tese de que as relações socioafetivas geram incidência no âmbito dos direitos da personalidade.

Para avanço de nossa pesquisa, dividimos o presente artigo em três partes, conforme segue:

No primeiro item, abordamos aspectos relacionados a socioafetividade e a relativização simultânea nas questões sociais e afetivas, destacando a dignidade da pessoa humana, nesta nova modalidade de filiação baseada exclusivamente no afeto.

Por outro lado, no segundo item, analisamos as questões ligadas ao direito de personalidade, e também do princípio da imutabilidade do nome e sua flexibilização na sociedade contemporânea.

Ao final, no último item, reservamos espaço para responder a problemática de nossa investigação, qual seja: a alteração do nome do padastro ou da madrasta no acento de registro bem como seus efeitos sociais e jurídicos, evidenciando o reconhecimento do filho socioafetivo diretamente em Cartório, extrajudicialmente.

1 Definição: Paternidade e Maternidade Socioafetiva

O ser humano evoluiu6 e em virtude disso, as formas de família também mudaram. Hoje não existe apenas a família tradicional, composta por marido, mulher e filhos legítimos, há as diversas entidades familiares, dentre elas, a resultante de união estável, resultante de união homoafetiva, monoparental, pluriparental, socioafetiva etc.

A Constituição Federal de 1988 foi responsável por dar relevância jurídica a estes fatos da atualidade, sendo possível a proteção a todos os tipos de família e relações familiares, tendo como fundamento o afeto e a convivência. A origem biológica passou a não ser a única importante, nem tampouco, única merecedora de tutela do Estado.

6 A afirmação de que o ser humano evolui, não é um consenso entre os pensadores. Citem-se, por exemplo, J. J. Rousseau que afirma que o homem, após o Contrato Social, corrompeu-se, ao invés de evoluir . - O Contrato Social (Ed. Martins Fontes, 1999). No mesmo sentido, Freud afirma que a civilização corrompeu o homem, impondo-lhe uma série de problemas na psique. - FREUD, Sigmund (1996). O mal-estar na civilização). De outro giro, O livro A Origem dos Antropos (Guerreiro, 2001.) exemplifica bem como o homem usando seus atributos de raciocínio e inteligência amplia sua compreensão das necessidades imediatas para uma ação calculada e premeditada abrangendo suas necessidades futuras, criando novas possibilidades, enriquecendo seus conhecimentos e modificando-os conforme lhe convém.

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O doutrinador Caio Mário da Silva Pereira (2006, p.17) é um dos primeiros a tratar dessa “paternidade /maternidade sócio-afetiva” definindo-as como aquela que “se funda na construção e aprofundamento dos vínculos afetivos entre o pai e o filho, entendendo-se que a real legitimação dessa relação entendendo-se dá não pelo biológico, nem pelo jurídico. Dá-se pelo amor vivido e construído por pais e filhos”7.

A socioafetiva é, portanto, aquela filiação que parte do pressuposto afetivo, como o próprio nome diz, ou seja, caracteriza-se quando pessoas que não possuem vínculo biológico passam a ter relação de afeto, inclusive perante a sociedade. Por exemplo, um pai que considera o filho da sua atual esposa, como se seu fosse, independentemente de vínculo sanguíneo, baseado tão somete na relação de afeto, amor e respeito recíproco construído com o passar do tempo, pode neste caso, ter a possibilidade dessa filiação socioafetiva considerada juridicamente, sem qualquer distinção da biológica, haja vista que, da mesma forma, a relação socioafetiva tem como consequência, diretos e obrigações inerentes ao caso.

1.1 A dignidade da pessoa humana admitindo a existência de uma nova espécie de paternidade/maternidade, fundada exclusivamente no afeto

O Direito de Família “Civil-Constitucional” engloba valores e princípios mais abrangentes, alcançando direitos fundamentais, como a dignidade da pessoa humana8 ; isonomia9, ao reafirmar a igualdade de direitos e deveres do homem e da mulher e o tratamento jurídico igualitário dos filhos ; a solidariedade social 10; e a afetividade que, nesse contexto, ganha dimensão jurídica e neste contexto onde valoriza-se a dignidade da pessoa, é que se encontra inserida a questão da paternidade ou maternidade socioafetiva nas relações multiparentais. A dignidade da pessoa humana admitiu a existência de uma nova espécie de paternidade/maternidade, fundada exclusivamente no afeto. Com o reconhecimento de que o afeto é um princípio do direito de família, a inclusão do nome do pai ou mãe no acento do registro, é a forma de reconhecer no campo jurídico o que ocorre no mundo dos fatos, onde a afetividade é o elemento nuclear e definidor da união familiar, passando, portanto, a produzir todos os efeitos patrimoniais e jurídicos pertinentes a este (a) filho (a).

7 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Introdução ao direito civil: direito de família, vol.5. Rio de Janeiro: Forense, 2006

8 Dignidade da Pessoa Humana. Constituição Federal 1988. Artigo1º, inciso III 9 Isonomia. Constituição Federal 1988. Artigo 5º, inciso I

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Nas Jornadas de Direito Civil, promovidas respectivamente pelas edições: I, III, IV e V, foram aprovados diversos Enunciados que dão amparo à socioafetividade. Seguem-se abaixo os enunciados que estão diretamente relacionados ao nosso tema.

Enunciado 103. Art. 1.593: O Código Civil reconhece, no art. 1.593, outras espécies de parentesco civil além daquele decorrente da adoção, acolhendo, assim, a noção de que há também parentesco civil no vínculo parental proveniente quer das técnicas de reprodução assistida heteróloga relativamente ao pai (ou mãe) que não contribuiu com seu material fecundante, quer da paternidade socioafetiva, fundada na posse do estado de filho.

Enunciado 256. Art. 1.593: A posse do estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil.

Enunciado 339. A paternidade socioafetiva, calcada na vontade livre, não pode ser rompida em detrimento do melhor interesse do filho.

Enunciado 519. Art. 1.593: O reconhecimento judicial do vínculo de parentesco em virtude de socioafetividade deve ocorrer a partir da relação entre pai(s) e filho(s), com base na posse do estado de filho, para que produza efeitos pessoais e patrimoniais.

Atualmente, encontra-se em trâmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 2.285/2007 chamado de Estatuto das Famílias (elaborado pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família), o qual admite a relação de parentesco baseada na socioafetividade (“Art. 10. O parentesco resulta da consanguinidade, da socioafetividade ou da afinidade.”) e consagra o princípio da afetividade11 (Art. 5.º Constituem princípios fundamentais para a interpretação e aplicação deste Estatuto a dignidade da pessoa humana, a solidariedade familiar, a igualdade de gêneros, de filhos e das entidades familiares, a convivência familiar, o melhor interesse da criança e do adolescente e a afetividade.)

Ainda, o artigo 75 do referido Projeto de Lei preceitua a possibilidade de ação investigatória de paternidade baseada na socioafetividade quando não há pai registral (Art. 75. O filho não registrado ou não reconhecido pode, a qualquer tempo, investigar a paternidade ou a maternidade, biológica ou socioafetiva.). Além desses, a socioafetividade encontra-se presente em diversos outros artigos do referido Projeto de Lei, como os artigos 100, 103 e 211.

11 O princípio do afeto é um princípio constitucional implícito, decorrente da dignidade da pessoa humana e a busca da felicidade plena. Afeto quer dizer interação ou ligação entre pessoas, podendo ter carga positiva ou negativa. O afeto positivo, por excelência, é o amor; o negativo é o ódio. Obviamente, ambas as cargas estão presentes nas relações familiares, tornou-se comum, na doutrina contemporânea, afirmar que o afeto tem valor jurídico ou, mais do que isso, foi alçado à condição de verdadeiro princípio geral. – Por Flávio Tartuce

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1.2 A existência do nome do pai biológico e da mãe biológica na certidão de nascimento do filho impede o reconhecimento da maternidade ou paternidade socioafetiva?

Alguns doutrinadores em longo período de tempo apresentaram o conceito sobre a família, tendo, por exemplo, a consanguinidade sendo o vínculo para uma família, e se tornando um conjunto de pessoas ligadas12.

A filiação socioafetiva é vista como uma construção da realidade fática; pai não é apenas aquele que transmite a carga genética, é também aquele que exerce tal função no cotidiano.

A definição da paternidade e da maternidade leva em conta, igualmente, conceitos reveladores de um vínculo socioafetivo, construído na convivência familiar por atos de carinho e amor, olhares, cuidados, preocupações, responsabilidades, participações diárias. Investe-se no papel de mãe ou pai aquele que pretende, intimamente, sê-lo e age como tal: troca as fraldas, esquenta a mamadeira, dá-lhe de comer, brinca, joga bola com a criança, ensina andar de bicicleta, leva-a para a escola e para passear, cuida da lição, ensina, orienta, protege, preocupa-se quando ela está doente, leva ao médico, contribui para a sua formação e identidade pessoal e social13.

Fernanda Pacheco Nácul, define que:

“A paternidade/maternidade sociológica é um ato de opção, fundada na liberdade de escolha de quem ama e tem afeto. Atualmente, paternidade, maternidade e filiação não decorrem exclusivamente de informações genéticas e biológicas. A visão moderna do direito de família é a da existência de um núcleo familiar unido por relações de afeto, solidariedade e amor, buscando a realização da dignidade da pessoa humana através de outras formas de família que igualmente merecem a proteção do Estado.14

A família foi e continuará sendo o núcleo básico de qualquer sociedade. Sem família não é possível nenhum tipo de organização social ou jurídica. O papel da família na modernidade se apresenta na qualidade de formador, ou seja, no sentido de preparar as crianças e adolescentes para suas responsabilidades futuras no tocante às normas de convívio social, sendo a família o agente da socialização. Diante da importância dessa atribuição como formadora é que a convivência familiar assume uma nova dimensão e

12 Por todos, BELVILÁQUA, Clovis. Direito de Família. – p.16

13 CARVALHO, Carmela Salsamendi. Filiação Socioafetiva e Conflitos de Paternidade ou Maternidade. 2012

14 A Paternidade e Maternidade Socioafetiva. Advogada Fernanda Pacheco Nácul, especialista em Direito da Família. Diário Gaúcho. 2015

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passa a ser apontada como a relação afetiva duradoura que vincula as pessoas que compõem o grupo familiar, em razão dos laços de sangue ou não.

A pessoa criada e registrada por pai socioafetivo não precisa abrir mão da paternidade biológica e, portanto, nem de direitos como pensão e herança.

Hoje a ciência jurídica não mais se omite em relação ao vínculo afetivo e, em decorrência da Constituição de 1988 reconhece que a afetividade, transcendendo aos aspectos especificamente psicológicos e sociológicos, modificou a família, que deixou de ser mera instituição para se transformar em uma entidade.

O sangue e os afetos são razões autônomas de justificação para o momento constitutivo da família, mas o perfil consensual e a affectio constante e espontânea exercem cada vez mais o papel de denominador comum de qualquer núcleo familiar15. O merecimento de tutela da família não diz respeito exclusivamente às relações de sangue, mas, sobretudo, àquelas afetivas que se traduzem em uma comunhão espiritual e de vida.

Diante disso, é perfeitamente possível que se considere uma relação afetiva ao invés de uma relação biológica, e, da mesma forma, é plenamente viável que se considere a coexistência de vínculos biológicos e afetivos ao mesmo tempo, respeitando assim, sobretudo, os princípios do melhor interesse da criança e da dignidade da pessoa, ainda podemos observar que, a existência harmoniosa desses vínculos biológicos e afetivos, criam portanto uma figura chamada de Multiparentalidade, ou seja, a existência de mais de um pai ou uma mãe.

Portanto, o afeto familiar envolve pais e filhos, mostrando-se como elemento essencial na própria existência da família. Dessa forma, quando se fala em família, mesmo considerando os conceitos diversificados que se apresentam, existe um ponto comum, centrado na união das pessoas que fazem parte desse núcleo familiar, com ou sem laços consanguíneos, que é o respeito mútuo, o cuidado e o afeto.

15 Paulo Lôbo (2008, p. 11) prevê que a família, ao converte-se em espaço de realização da afetividade humana, marca o deslocamento da função econômico-religioso-procracional para essa nova função. Essas linhas de tendências enquadram-se no fenômeno jurídico-social denominado personalização das relações civis, que valoriza o interesse da pessoa humana mais do que suas relações patrimoniais. É a recusa da coisificação ou retificação da pessoa, para ressaltar sua dignidade. A família é o espaço por excelência da responsabilização do direito.

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2 A relativização do princípio da imutabilidade do nome

Segundo Flávio Tartuce16 ,

“os direitos da personalidade têm por objeto os modos de ser, físicos ou morais do indivíduo. O que se busca proteger com tais direitos são os atributos específicos da personalidade, sendo esta a qualidade do ente considerado pessoa.”

Carlos Alberto Bittar conceitua os direitos da personalidade como sendo aqueles “reconhecidos à pessoa humana tomada em si mesma e em suas projeções na sociedade, previsto no ordenamento jurídico exatamente para a defesa de valores inatos no homem, como a vida, a higidez física, a intimidade, a honra (...)”17.

No Brasil, a sede dos direitos da personalidade é a própria constituição. Através desses princípios, o operador do direito conta com diretrizes quando da aplicação da norma e de sua interpretação. O direito da personalidade está embasado no princípio da dignidade da pessoa humana consagrada no art. 1º, inciso III da Constituição Federal, sendo que os outros princípios fundamentais que norteiam a personalidade visando sua proteção encontram-se, preponderantemente, no título II – Direitos e garantias fundamentais (vida, propriedade, intimidade, etc.) -, e titulo VIII - educação, cultura, saúde, previdência, meio ambiente, entre outros.

O Código Civil dedica timidamente aos direitos da personalidade o capítulo II do título I do livro I, da parte geral, arts. 11 a 21.

O nome, sem sombra de dúvida, é dos mais importantes direitos da personalidade pois tem a função de individuar e identificar a pessoa, garantindo lastro histórico, cultural, familiar e social, tornando a pessoa realmente um indivíduo uno e senhor de suas próprias relações jurídicas. Os próprios valores, as qualidades, atributos, em suma, o caráter da pessoa, acaba por incorporar o seu nome.

Sabe-se que o título II da Constituição de 1988, sob o título “Dos direitos e garantias Fundamentais”, traça as prerrogativas para garantir uma convivência digna, com liberdade e com igualdade para todas as pessoas, sem distinção

de raça, credo ou origem. Tais garantias são genéricas, mas também essenciais ao ser humano, e sem elas a pessoa humana não pode atingir sua plenitude e, por vezes, sequer pode sobreviver. Nunca se pode esquecer a vital importância do art. 5.° da CF/1988 para 16 TARTUCE, Flávio. Manuel de Direito Civil, - p. 90.

17 BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos da Personalidade. 5ª Ed. Atualizada por Eduardo Cardoso Bianca Bittar. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

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o nosso ordenamento jurídico, ao consagrar as cláusulas pétreas, que são direitos fundamentais deferidos à pessoa.

Nos dias de hoje é nítida a flexibilização do princípio da imutabilidade do nome. Assim, entendemos superada a antiga rigidez do princípio da imutabilidade, dada as múltiplas causas que permitem e autorizam as alterações necessárias, seja pelo avanço da sociedade, seja pela preservação da dignidade da pessoa humana. O nome, como vimos, é um dos direitos da personalidade, e compõe o fundamental rol dos Direitos Humanos, sendo função do Estado, bem como de toda sociedade, primar pelo respeito ao princípio de dignidade da pessoa humana. Portanto a flexibilização sempre será bem-vinda onde e quando beneficiar a qualidade de vida do cidadão, restituindo-lhe o direito à dignidade

2.1 Conceito: Princípio da imutabilidade

A imutabilidade do nome civil é um princípio de ordem pública, em razão de que sua definitividade é de interesse de toda a sociedade, constituindo garantia segura e eficaz das relações de direitos e obrigações correlatas.

O Código Civil preceitua no artigo 16: “Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome”. Toda pessoa tem o direito a ter um nome, e ao nome do pai e da mãe e de conhecer a identidade dos mesmos. O nome da pessoa é dotado de publicidade e integra sua personalidade dada às características dos registros públicos que são a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia jurídica dos atos, conforme disposição no artigo 1.° da Lei

8.935/94. É ele que identifica o indivíduo na sociedade. Preleciona Maria Helena Diniz

“que o nome integra a personalidade por ser o sinal exterior pelo qual se designa, se individualiza e reconhece a pessoa no seio da família e da sociedade; daí ser inalienável, imprescritível e protegido juridicamente (CC, arts. 16, 17, 18 e 19; CP, art. 185). O Estado traçou princípios disciplinares do direito ao nome, entre os quais destacamos a imutabilidade que pode ser extraído da Lei 6.015/1973, Art. 5818.”

Na definição e lição do Ministro Ruy Rosado de Aguiar, sobre o princípio da imutabilidade do nome civil, tem-se que.

18 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, vol.5. Direito de Família. 2005

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“São dois os valores em colisão: de um lado, o interesse público de imutabilidade do nome pelo qual a pessoa se relaciona na vida civil; de outro, o direito da pessoa de portar o nome que não a exponha a constrangimentos e corresponda à sua realidade familiar. Para atender a este, que me parece prevalente, a doutrina e a jurisprudência têm liberalizado a interpretação do princípio da imutabilidade, já fragilizado pela própria lei, a fim de permitir, mesmo depois do prazo de um ano subsequente à maioridade, a alteração posterior do nome, desde que daí não decorra prejuízo grave ao interesse público, que o princípio da imutabilidade preserva.”19

Assim, vê-se que o princípio da imutabilidade do nome não é absoluto, uma vez que a

“regra geral, no direito brasileiro, é a da imutabilidade ou definitividade do nome civil, mas são admitidas exceções. Nesse sentido, a Lei de Registros Públicos prevê, (i) no art. 56, a alteração do prenome, pelo interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, desde que não haja prejuízo aos apelidos de família e (ii) no art. 57, a alteração do nome, excepcional e motivadamente, mediante apreciação judicial, e após oitiva do MP.” STJ, 3ª Turma, REsp 1412260/SP, Relatora: Ministra Nancy Andrighi, julgado em 15/5/2014, DJe 22/5/2014. De forma muito parecida, agora sob a relatoria do Ministro Paulo de Tarso Sanseverino no julgamento do Recurso Especial 1304718/SP, decidiu a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça que o “princípio da imutabilidade do nome não é absoluto no sistema jurídico brasileiro. 2. O nome civil, conforme as regras dos artigos 56 e 57 da Lei de Registros Públicos, pode ser alterado no primeiro ano após atingida a maioridade, desde que não prejudique os apelidos de família, ou, ultrapassado esse prazo, por justo motivo, mediante apreciação judicial e após ouvido o Ministério Público”20.

Denota-se que, de acordo com várias decisões, inclusive a que mencionamos acima, os tribunais vêm admitindo a relativização da imutabilidade do nome, em detrimento da dignidade da pessoa humana, ou ainda, nos casos em que inexistem prejuízos a terceiros.

“A jurisprudência já autorizou excepcionalizar o princípio da imutabilidade do nome em diversas oportunidades: (a) substituição do

patronímico do pai pelo do padrasto - Agravo 989812/SP, decisão monocrática, Relator: Ministro Fernando Gonçalves, DJe 7/3/2008; (b) inclusão do patronímico de companheiro - REsp 1206656/GO, Relatora: Ministra Nancy Andrighi, DJe 11/12/2012; (c) acréscimo do patronímico materno - REsp 1256074/MG, Relator: Ministro Massami Uyeda, DJe 28/8/2012; (d) inclusão do patronímico do padrasto - REsp 538187/RJ, Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 22/11/2000; (e) alteração da ordem dos apelidos de família - REsp 1323677/MA, Relatora: Ministra

Nancy Andrighi, DJe 15/02/2011; (f) inclusão do nome de solteira da

genitora, adotado após o divórcio - REsp 1041751, Relator: Ministro Sidnei

Beneti, DJe 3/9/2009; (g) redesignação sexual - REsp 1008398/SP, Relatora:

Ministra Nancy Andrighi, julgado em 15/10/2009, DJe 18/11/2009”21. 19 O nome, além de produzir efeitos erga omnes, como um dos direitos da personalidade, também tem como características a inalienabilidade, irrenunciabilidade e a imprescritibilidade. Além dessas características, a Lei de Registros Públicos, consagrou também a imutabilidade do nome, em seu artigo 57, o qual determina que “a alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente”. -GRAMINHO, Vivian Maria Caxambu. Direito ao nome e as exceções ao princípio da imutabilidade

20 Recurso Especial. Direito Civil. Direito Civil. Registro Civil Nome. Alteração. Supressão do Patronímico Paterno. Abandono pelo Pai na Infância. Justo Motivo. Retificação do assento de Registro do Assento de Nascimento. Interpretação dos Artigos 56 e 57 da Lei n.º 6.015/73 - REsp 1304718 / SP - Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma

21 Diversas jurisprudências acerca do tema, mostrando que em princípio, o nome não pode ser modificado, porém, em casos excepcionais e desde que justificados, a lei e a jurisprudência

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2.2 O Princípio da Imutabilidade do Nome Civil e sua Flexibilização na Sociedade Contemporânea

Por questões de ordem pública, conforme abaixo se demonstrará, o legislador tornou o nome imutável, declarando implicitamente ser de interesse social a manutenção do nome pelo indivíduo, sendo elementar para a segurança jurídica.

Desta maneira, o nome passou por um longo lapso temporal fortemente regido pelo princípio da imutabilidade. A partir de 5 de outubro de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, o direito brasileiro ganha novo fôlego na seara dos direitos individuais e da personalidade, já que a nova Carta Magna trouxe à tona a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental.

A dignidade da pessoa humana passa a ser diretriz máxima da função do Estado para com o cidadão e com toda a sociedade. O Estado deve prover os meios para dar dignidade aos cidadãos.

Com essa revolução na gama de direitos do sujeito brasileiro, a imutabilidade do nome sofre uma relativização, passando-se então, a trabalhar com o preceito de que o nome deve ser garantidor da dignidade de seu portador.

Deve-se destacar que a imutabilidade do nome está sendo superada paulatinamente, isso deve à vigência de novas leis, que permitem ao indivíduo a alteração22.

O direito ao nome, conferido pelo Código Civil, não autoriza, porém, que seu portador possa defini-lo a seu bel-prazer. Continuam válidas as regras dos artigos 57 e 58 da Lei 6.015/1973. São eles:

 O erro gráfico;

 Exposição do portador do nome ao ridículo;  A alteração do nome ao atingir a maioridade civil;

 A alteração do nome pela adoção e pelo reconhecimento de filho fora do casamento;

 A alteração do nome pelo casamento, separação, divórcio e união estável;  A adoção do apelido público e notório ao nome;

 A alteração do nome pela lei de proteção às testemunhas e às vítimas;

permitem a retificação ou alteração do mesmo, prevalecendo o princípio da dignidade humana e o direito de personalidade.

22 A nova lei de adoção, as leis que alteraram o artigo 57 da Lei 6.015/1973 e as decisões dos tribunais que autorizam a alteração, pautadas na dignidade da pessoa humana, que não pode ser mitigada pelo rigor da lei infraconstitucional.

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 A possibilidade de alteração do nome por estrangeiro;  Transexual;

 Pela adoção ou reconhecimento de paternidade;  Inclusão de sobrenome do padrasto ou madrasta;

Este último objeto de nosso estudo, neste artigo:

A lei 11.924 de 17 de abril de 2009, acrescentou o § 8.° ao artigo 57 da Lei 6.015/1973 conferindo aos enteados o direito de acrescer ao seu nome, o sobrenome do padrasto ou de sua madrasta.

Tal permissivo confere ao enteado maior proximidade com seu padrasto ou madrasta podendo fazer adição do sobrenome para melhor identificação no seio familiar.

3 Reconhecimento de paternidade socioafetivo e seus efeitos

É notório que a boa relação estabelecida entre pais e filhos contribui de forma expressiva para o adequado desenvolvimento da criança, uma vez que para este ser em formação seus genitores representam um modelo a ser seguido, já que geralmente a prole tende a repetir suas condutas. Em vista dessa constatação observa-se que a ausência, o desprezo ou a mera indiferença, seja por parte da figura paterna ou da materna, trarão, na maioria das vezes, interferências danosas à formação da criança. Na visão jurídica, pai é aquele que reconhece e concede seu nome na certidão de nascimento do filho. Estabelecida, portanto a paternidade por meio do registro civil, brotam direitos e obrigações, tais como o sustento, guarda e educação da prole. Com as mudanças da sociedade e da própria legislação, esse conceito jurídico também se alterou e, na atualidade a figura do pai assume um papel que vai além do registro civil, já que para o reconhecimento do exercício concreto da paternidade, privilegia-se o vínculo afetivo, seguindo os mesmos direitos e obrigações que o pai biológico tem, ou seja, guarda, alimentos, e sucessão.

Outro ponto a se falar é que a dissolução dos vínculos afetivos não leva à cisão nem quanto aos direitos nem quanto aos deveres com relação aos filhos. O rompimento da vida comum dos genitores não deve comprometer a continuidade dos vínculos parentais, pois o exercício do poder familiar em nada é afetado pela separação. É necessário manter os laços de afetividade, minorando os efeitos que a separação acarreta nos filhos, exatamente como ocorre nos casos em que se tem filhos biológicos.

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O direito ao nome, conferido pelo Código Civil, não autoriza, porém, que seu portador possa defini-lo a seu bel-prazer. Continuam válidas as regras dos artigos 57 e 58 da Lei 6.015/1973, de forma que toda a alteração posterior ao primeiro ano da maioridade deverá ser fundada em motivo justo. Embora nos dias de hoje tenha se admitido alterar o nome em casos não expressos em legislação, essas alterações têm se pautado no princípio da dignidade da pessoa humana. A alteração sempre ocorrerá mediante autorização judicial ou administrativa com a expedição do respectivo mandado de averbação ou ainda nos casos expressamente previstos em lei, mediante procedimento administrativo, como no caso do artigo 110 da Lei 6.015/1973.

Art. 110. Os erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de necessidade de sua correção poderão ser corrigidos de ofício pelo oficial de registro no próprio cartório onde se encontrar o assentamento, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador, independentemente de pagamento de selos e taxas, após manifestação conclusiva do Ministério Público.

Essas alterações são conhecidas pelo nome de averbações, as quais são realizadas no registro que contenha erros ou omissões que possam comprometer a validade do ato registrado23.

As alterações previstas no artigo 56 serão processadas administrativamente, iniciando-se no próprio Registro Civil onde estiver assentado o registro24 e não requerem motivação, ou seja, imotivadas; sendo o prazo, para argui-la, decadencial. Assim, quando o sujeito completar 19 anos de idade não poderá mais fazê-lo administrativamente, restando-lhe as alterações previstas no artigo 57, que além de justo motivo, tratam de casos de exceção e sempre se processaram na justiça. No entanto, podem ser pleiteadas a qualquer tempo.

3.1 Reconhecimento do filho socioafetivo diretamente em cartório

Em 17 de novembro de 2017, o Conselho Nacional de Justiça publicou o Provimento 63, através do qual, dentre outros temas, disciplinou o procedimento de reconhecimento de filiação socioafetiva, perante os Ofícios do Registro Civil das Pessoas Naturais25.

23 São averbados no nascimento e no traslado de certidão de nascimento: Reconhecimento e exclusão de paternidade; suspensão e destituição de poder familiar; concessão de guarda; alteração de nome e substituição de prenome; alteração de nome materno em decorrência de subsequente casamento com o pai do registrado; perda e reaquisição da nacionalidade brasileira.

24 Depois de lavrado um registro, atos ou fatos que os modificam são praticados à sua margem e recebem o nome de averbação. Retificação é o remédio para corrigir erros percebidos após o registro ter sido lavrado e o seu objetivo é colocar o registro em consonância com a realidade.

25 Em nosso ordenamento jurídico, existe a possibilidade do reconhecimento da "paternidade socioafetiva”, através de uma sentença judicial, sendo, portanto, necessário para tal uma

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Este Provimento, veio para consolidar a possibilidade de que o reconhecimento da filiação socioafetiva seja efetivado nos cartórios do registo civil de qualquer unidade federativa, uniformizando o seu procedimento e facilitando portanto, através deste meio, que seja feito tal registro de forma simples, rápida e sem que seja necessário acionar a Justiça, ou seja via extrajudicial, tornando assim o acesso a todos que tenham o interesse em oficializar o registro mais eficiente e prático, enaltecendo cada dia mais o princípio da dignidade da pessoa humana.

Para que seja realizado o registro extrajudicial do reconhecimento da filiação socioafetivo, alguns requisitos devem ser observados, e todos eles estão elencados no

Provimento 26, um dos principais que podemos analisar, é sob a ótica da

responsabilidade do cartório, que além da manifestação de vontade do requerente, dos pais biológicos e do filho maior de 12 anos, a referida norma impõe ao oficial de registro a necessidade de observar a configuração da posse de estado de filho como condição indispensável à caracterização da filiação socioafetiva.

Temos ainda os requisitos mais burocráticos, tais como: requerimento firmado pelo ascendente socioafetivo; documento de identificação com foto do requerente; certidão de nascimento atualizada do filho; bem como os requisitos de caráter de vontade dos interessados, anuência pessoalmente dos pais biológicos na hipótese do filho ser menor de 18 anos de idade e a anuência do filho maior de 12 anos de idade.

Também devemos destacar que não poderão ter a filiação socioafetiva reconhecida os irmãos entre si nem os ascendentes e entre o requerente e o filho deve haver uma diferença de pelo menos 16 anos de idade e o como já falado anteriormente, a comprovação da posse do estado de filho27.

Ação de Reconhecimento de Paternidade/Maternidade Sociafetiva, perante o Judiciário. Esta possibilidade tem previsão no artigo 57 da Lei de Registros Públicos, porém não será objeto do estudo no artigo em questão. Para aprofundamento nessa discussão, vide os seguintes autores: CARVALHO SANTOS, em sua obra “Comentários ao Código de Processo Civil”, volume 6, p. 467, ao tratar da restauração, suprimento e da retificação dos assentamentos no Registro Civil; PEREIRA, Caio Mário da Silva. Reconhecimento de Paternidade e seus efeitos. 5ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 1997.

26 Provimento 63/20017. Seção II. Da Paternidade Socioafetiva. Artigos 10 ao 15

27 Segundo o ECA, em seu artigo 42, caput , a idade mínima para adotar é de 18 anos, independente do estado civil, semelhante ao disposto no artigo 1.618, do CC, que também estabeleceu a idade mínima de 18 anos para o adotante.

Vale dizer, que ainda há necessidade de que o adotante seja, pelo menos, dezesseis anos mais velho que o adotando (artigo 42, 3º, ECA)

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Este provimento, trouxe uma inovação muito grande e significativa para as famílias brasileiras que, por vezes, viviam situações como adoções à brasileira28 (adoção

irregular, quando se registra filho alheio como próprio), conduta esta reconhecida como crime pelo Código Penal29, por filhos originados de reprodução assistida e também

como a adoção unilateral30 , que consiste na adoção, geralmente pelo padrasto ou

madrasta, do filho do cônjuge ou companheiro, nesta modalidade de adoção, ocorre o rompimento do vínculo de filiação com um dos pais biológicos, para que seja criado um novo vínculo com o pai adotivo, já na modalidade de filiação Socioafetiva, não existe a quebra do vínculo familiar, pelo contrário o afeto símbolo marcante desta filiação, é aumentado pois o filho tem o amor dos pais biológicos, e também os pais socioafetivo. Por fim, após feito este processo no Cartório de Registro de Pessoas Naturais, lavra-se a declaração e após 03 (três) dias úteis retira-se o novo documento do filho, com a devida inclusão do nome do padastro ou madrasta no acento de registro, sendo está, portanto, a via que vem sendo muito utilizada pelas famílias atualmente, via extrajudicial.

4 CONCLUSÃO

E que após essa análise sucinta, concluo que a família que conhecemos hoje sofreu influências no decorrer da sua evolução, tornando-se um dos institutos que mais se modificou no curso do tempo.

Antigamente, o que importava era apenas o elo biológico entre pais e filhos, o Código Civil de 2002 introduziu no ordenamento o parentesco decorrente de “outra origem” evidenciando a chamada filiação ou paternidade socioafetiva. Tal filiação ou paternidade tem a característica principal pautada no afeto entre pais e filhos, não mais derivando da consanguinidade como fator primordial.

28 Adoção à brasileira” ou “adoção à moda brasileira” ocorre quando o homem e/ou a mulher declara, para fins de registro civil, o menor como sendo seu filho biológico sem que isso seja verdade.

29 Art. 242. Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:

Pena - reclusão, de dois a seis anos.

Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.

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Vimos também que embora a paternidade socioafetiva não esteja expressamente mencionada na Constituição Federal de 1988, é atribuído amparo aos filhos através dos princípios constitucionais, entre eles, princípios da dignidade da pessoa humana e afetividade, bem como pela doutrina e jurisprudência e o alcance desses objetivos para a família brasileira permitirá uma sociedade alicerçada e amparada por valores constitucionais, e assim, o fortalecimento do Estado Democrático de Direito.

Conclui-se, portanto, que quando se menciona amor e afeto, não há como mensurar ou quantificar esses sentimentos, principalmente tratando-se das relações familiares. Ademais, já está comprovada que os vínculos afetivos vão além dos laços consanguíneos ou biológicos, uma vez que esses sentimentos nascem da convivência harmoniosa e afável, transcendendo a genética e por vezes desconhecidas pela lei e pela ciência. Por este viés, o registro público orientado pela busca da segurança jurídica, trouxe a população uma facilidade por meio do provimento que o autoriza, a realizar tais inclusões dos nomes , em virtude destas relações, privilegiando-as e garantindo assim a correspondência entre a realidade registral e a realidade jurídica ao longo do tempo.

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Referências

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