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A midiatização da Justiça: a cobertura da Operação Lava Jato e a crise de representatividade na democracia brasileira 1

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A midiatização da Justiça: a cobertura da Operação Lava Jato e a crise de representatividade na democracia brasileira1

Emanuelle BORDALLO2 Paulo César CASTRO3

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ

RESUMO

A partir de uma análise da cobertura jornalística da Lava Jato, este artigo busca avaliar como o processo de midiatização (HJARVARD) dos atores e instituições envolvidos na operação relacionam-se com a crise de representatividade na democracia liberal brasileira, sob o prisma da sociedade em rede (CASTELLS). A pesquisa tem como objetivo principal analisar como o fenômeno da midiatização foi gradualmente integrando o modus operandi da Justiça, influenciando mutuamente a mídia, os atores e as instituições que protagonizaram a operação.

PALAVRAS-CHAVE: midiatização; política; cobertura jornalística; corrupção.

INTRODUÇÃO: AS CAMADAS DO ESPETÁCULO

Cada instituição social é dotada de um poder e uma responsabilidade. No caso da mídia, o que se observa nas últimas décadas é um crescimento exponencial do seu poder ao mesmo tempo que sua responsabilidade é questionada. O que esta pesquisa pretende investigar é a progressiva inserção da lógica midiática na estrutura dos órgãos de Justiça, tendo a cobertura jornalística da Operação Lava Jato como objeto. O seu diferencial em relação aos estudos anteriores, mais focados no aspecto político, está na análise holística da operação: primeiro compreendendo o cenário político-social

1 Trabalho apresentado no IJ01 – Jornalismo, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica em

Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

2 Graduanda do 6º semestre do Curso de Jornalismo da Escola de Comunicação (ECO-UFRJ) e bolsista do Programa

de Educação Tutorial (PET-ECO), e-mail: emanuelle.bordallo@hotmail.com

3 Orientador do trabalho. Professor do Curso de Jornalismo da ECO-UFRJ e tutor do PET-ECO, e-mail: paulo.castro@eco.ufrj.br

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brasileiro; depois investigando as regras e alocações de recursos (HJARVARD, 2013) midiatizados no ordenamento das instituições jurídicas; para, por fim, analisar as marcas da questão central do trabalho em reportagens publicadas ao longo de três anos de cobertura no Portal G1, do Grupo Globo.

A partir de uma perspectiva crítica sobre os discursos (FAIRCLOUGH, 2001) que permearam a cobertura da operação, este trabalho buscará teorizar o processo de midiatização (HJARVARD, 2013) da Justiça como produto da Lava Jato. Para tanto, será traçado um panorama conjuntural relacionando a midiatização e a repercussão na audiência com a ideia de sociedade em rede (CASTELLS, 2012).

As múltiplas consequências desse processo serão detalhadas durante o artigo, começando por uma avaliação teórica sobre a ideia de corrupção no imaginário coletivo e seus desdobramentos na democracia. Em seguida, o trabalho desenvolverá os conceitos de espetacularização do processo penal (CASARA, 2016), ativismo judicial (CASARA; GALLEGO, 2018) e celebritização (DRIESSENS, 2014) de forma correlata com a midiatização. A teoria encontra a prática com a apreciação dos códigos de conduta e ética das instituições de Justiça e os resultados consolidados da pesquisa feita no Portal G1.

O FENÔMENO DA MIDIATIZAÇÃO

O conceito central para a compreensão do presente trabalho é a teoria da midiatização. A linha deste trabalho considera a midiatização como um processo macrossocial moderno em que múltiplos campos da sociedade e da cultura encontram-se tão permeados pela mídia que a lógica desta assume uma autoridade capaz de transformar a estrutura, o caráter e a função das instituições sociais e culturais (HJARVARD, 2013).

Como consequência, a mídia se torna uma instituição social própria, autodeterminada e onipresente, que estimula a dependência sistemática das demais graças a um fenômeno bilateral: por um lado, os meios de comunicação integram a estrutura e funcionamento das outras instituições; por outro, as submete ao seu próprio método (HJARVARD, 2013). Dessa forma, as interações sociais – tanto dentro dessas instituições, quanto entre elas e a sociedade – se dão obrigatoriamente por intermédio dos meios de comunicação.

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O impacto da midiatização se torna ainda maior no contexto em que as novas tecnologias da informação e da comunicação avançam continuamente, de modo que as relações sociais se dão em larga escala nos ambientes multimídia virtuais. Com isso, os conteúdos referentes às esferas midiatizadas podem se propagar – independente ou conjuntamente – com os meios de comunicação de massa tradicionais, atingindo indivíduos que antes não alcançariam. Os resultados disso são novas possibilidades de interação social e influência ainda maior da comunicação no processo de construção de significados. Essa mudança de ambiente comunicacional, que afeta diretamente a produção das relações de poder, é chamada de sociedade em rede (CASTELLS, 2012). Neste cenário, o mundo real não está separado do mundo virtual, mas se combinam em uma realidade híbrida natural para os indivíduos.

Sodré (2002) defende que é preciso, no entanto, ir além da metáfora explicativa da “rede” para compreender a sociabilidade atual, uma vez que o grande diferencial não está na presença de novas ferramentas comunicacionais em massa, mas na influência intensificadora das “neotecnologias” no tempo dos processos sociais. Assim, o poder que decorre desse fenômeno dado ao campo da comunicação contemporânea – chamado pelo autor de ciberocracia4 – confirma a tese da midiatização como uma tendência à virtualização das relações, tanto entre pessoas quanto entre instituições. O foco apenas no aspecto tecnicista destes ambientes virtuais seria uma estratégia para ocultar o compromisso social dos dispositivos midiáticos com as estruturas de poder hegemônicas (SODRÉ, 2002).

Existem duas formas principais de execução do poder na sociedade. A primeira é através da coerção, juridicamente conhecida como monopólio do uso da força, assegurada ao Estado. A segunda se dá pela construção de significados na subjetividade das pessoas (CASTELLS, 2017). Poucos sistemas institucionais sobrevivem apenas com a coerção. Assim, justifica-se porque a mídia, uma das grandes forças nesta segunda esfera de poder, possui status social privilegiado.

Para Sylvia Moretzsohn (2017), a relevância do papel da mídia ocorre, sobretudo, pelo controle que grandes corporações da comunicação exercem no fluxo de informações, inclusive na internet. Este poder é dificilmente percebido graças ao

4 Derivação da palavra “cyber”, de origem inglesa, que faz referência ao termo “cibernético”, com o

sufixo grego “kratia”, que significa “poder”. O conceito se tornou conhecido a partir do trabalho do cientista político David Ronfeldt e descreve uma forma hipotética de governo em que a informação e seu controle serão a principal fonte de poder, a evolução natural da política humana. Cf. SODRÉ, 2009.

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próprio processo de midiatização da sociedade, uma vez que a mídia encontra-se tão permeada à vida humana que é difícil estabelecer um discernimento quanto ao que realmente ela é. A principal consequência da interferência da mídia na subjetividade da audiência é o domínio da repercussão de uma agenda, determinada conforme os veículos noticiam ou não um fato e o destaque atribuído ao assunto.

A CORRUPÇÃO NA SUBJETIVIDADE

Uma agenda amplamente difundida pelos meios de comunicação brasileiros e que, de acordo com a hipótese deste artigo, edificou significados transformadores foi a ideia de corrupção generalizada na esfera pública. Sob a ótica da Teoria do Agendamento, que defende uma relação de causalidade entre as pautas veiculadas na imprensa e os assuntos considerados relevantes para os consumidores de notícia (PENA, 2008), a corrupção tornou-se um tema frequentemente discutido quando o assunto é política brasileira. A sensação de que o Brasil é um país corrupto já foi mensurada em estudos. No Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2019, feito pela Transparência Internacional5, o país obteve a pior colocação no ranking da série histórica pelo segundo ano consecutivo, com pontuação abaixo da média da região das Américas. A Operação Lava Jato foi citada no IPC como um dos motivos que cooperaram para esse sentimento em pelos menos dez países da América Latina.

Ainda que a corrupção seja uma característica presente em vários sistemas políticos e os corruptores tenham igual responsabilidade por ela, este artigo pretende demonstrar que uma das maiores consequências da cobertura da Operação Lava Jato foi inflamar o sentimento de ruptura do vínculo subjetivo entre a vontade popular e a ação dos políticos eleitos (CASTELLS, 2017). Uma pesquisa feita pelo Instituto Ipsos6 em 2017 constatou que 94% dos brasileiros não se sentiam representados pelos políticos no poder naquele momento. Para Castells (2017), a democracia privilegia o poder já cristalizado nas instituições, assim, não é possível afirmar que ela é representativa se os

5 O Índice de Percepção da Corrupção (IPC) é considerado o principal indicador de corrupção no setor

público do mundo. Ele avalia 180 países em uma escala de 0 a 100, em que 0 é o país visto como altamente corrupto e 100 o país percebido como muito íntegro.

6 Os dados do Ipsos fazem parte do levantamento Pulso Brasil, para monitorar a opinião pública sobre

política, economia, consumo e questões sociais. Foram ouvidos 1,2 mil entrevistados, em 72 municípios, entre os dias 1º e 14 de julho. A pesquisa tem margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

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cidadãos não pensam que estão sendo representados. Com o rompimento desse vínculo na subjetividade do povo, ocorre o que o autor chama de crise de legitimidade política.

Este artigo busca demonstrar como esse contexto de crise de representatividade em uma esfera altamente midiatizada como a política, alinhada à massificação das interações em rede promovida pelas tecnologias comunicacionais, criou um vácuo de poder legítimo. Abriu-se a possibilidade para uma narrativa maniqueísta, em que figuras anticorrupção puderam ocupar esse espaço. A partir disso, a Justiça brasileira passou a atuar progressivamente conforme os critérios de noticiabilidade e deadlines7 da mídia.

Em decorrência disso, a espetacularização comum aos meios de comunicação começou a integrar também a Justiça.

Embora o sistema de justiça criminal seja constitucionalmente um instrumento contramajoritário, justamente para garantir os direitos fundamentais (CASARA, 2016), essa característica vai de encontro à lógica midiática. Afinal, o enredo da espetacularização explora o antagonismo discursivo para fins comerciais. Segundo Miguel e Gallego (2018, p. 25), “a corrupção não é entendida como um produto das relações do poder político com o poder econômico, mas como um desvio de pessoas sem caráter. A resposta a ela exige, sobretudo, a punição mais efetiva dos culpados”.

No “processo penal do espetáculo”, os valores típicos da jurisdição penal de viés liberal (“verdade” e “liberdade”) são abandonados e substituídos por um enredo que aposta na prisão e no sofrimento imposto a investigados e réus como forma de manter a atenção e agradar ao público, isso faz com que a atividade processual cada vez mais limite-se a confirmar a hipótese acusatória, que faz as vezes do roteiro do espetáculo. (CASARA, 2016, p. 2)

Outra consequência relacionada à midiatização da Justiça está no processo de celebritização dos atores sociais jurídicos. “Em outras palavras, a midiatização do campo social pode ter influência positiva na criação de personalidades de mídia, ou na importância coletiva e subjetiva de obter status de celebridade” (DRIESSENS, 2014, p. 11). Obviamente, esse processo de transformação de juízes, promotores, procuradores de Justiça, membros das forças policiais em verdadeiros olimpianos8 midiáticos ocorre de maneira desigual, porém crescente, nas suas respectivas instituições.

7 Termo que, no jornalismo, significa o prazo máximo para a entrega de uma matéria jornalística.

8 Conferir o conceito em MORIN, 1997, p. 18: “Os olimpianos estão presentes em todos os setores da

cultura de massa. Heróis do imaginário cinematográfico, são também os heróis da informação vedetizada. Estão presentes nos pontos de contato entre a cultura de massa e o público: entrevistas, festas de caridade, exibições publicitárias, programas televisados ou radiofônicos. Eles fazem os três universos se comunicarem: o do imaginário, o da informação, o dos conselhos, das incitações e das normas”.

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O OBJETO EM RETROSPECTIVA

Antes de avançar propriamente nos resultados alcançados por esta pesquisa, é preciso dar um passo atrás e compreender o que é a Lava Jato e o seu papel no xadrez político do Brasil. Iniciada em 17 de março de 2014, a Operação Lava Jato é um conjunto de investigações conduzidas pela Polícia Federal em parceria com o Ministério Público Federal, considerada a maior iniciativa de combate à corrupção e lavagem de dinheiro da história do país9.

No início, a operação tinha como objetivo investigar uma rede de lavanderias e um posto de combustível em Brasília (DF) que eram utilizados para a movimentação de dinheiro ilícito. O foco era nos doleiros que atuavam no mercado de câmbio clandestino do país e viabilizavam transações financeiras por meio de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e outros crimes.

Com o avanço das investigações, o MPF e a Polícia Federal descobriram um grande esquema de corrupção na concorrência de licitações de empreiteiras com a Petrobrás. A propina, destinada ao alto escalão da estatal, era distribuída pelos mesmos operadores financeiros investigados inicialmente. A delação premiada desses doleiros foi essencial para que as instituições chegassem a nomes importantes do poder público e tornou-se parte do modus operandi da força-tarefa. Segundo dados atualizados no site do Ministério Público Federal até o dia 6 de maio de 202010, já foram realizados 419

acordos de colaboração premiada ao longo de toda a operação.

Fundamentada a partir da Lei nº 12.850/2013, também chamada de Lei de Combate às Organizações Criminosas, a delação premiada não fazia parte do vocabulário dos brasileiros até a chegada da Lava Jato. Embora o fato do esquema envolver a maior estatal do país já dotasse de relevante valor-notícia11 per si, quando os delatores passaram a citar figuras políticas notórias para atenuarem suas penas, o interesse midiático ganhou outra dimensão.

A partir disso, o discurso anticorrupção, muito forte no imaginário brasileiro quando se trata de agentes públicos, conquistou tamanho destaque na mídia que foi

9 Informações retiradas do site do Ministério Público Federal, na área reservada aos detalhes da Operação.

Todos os dados deste capítulo utilizaram as páginas oficiais do MPF e da Polícia Federal como fonte oficial.

10 Disponível em: http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/lava-jato/resultados. Acesso em: 04/10/2020. 11 Conferir em FOLHA DE S. PAULO, 2006, p. 43: Também denominado “importância da notícia”, é o

conjunto de critérios elementares que definem a relevância de uma notícia, tais como ineditismo, improbabilidade, interesse, apelo etc.

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aberto o terreno para acentuar ainda mais a midiatização da Justiça, fruto da exaltação ao ativismo judicial.

JUSTIÇA: UMA INSTITUIÇÃO MIDIATIZADA

Por meio do destaque que instituições como Ministério Público, Polícia Federal e tribunais de diversas instâncias conquistaram na mídia com a Lava Jato, o campo foi progressivamente se tornando mais midiatizado. Embora na Constituição Federal o Ministério Público seja uma instituição autônoma, a Polícia Federal integre o Poder Executivo e os tribunais façam parte do Poder Judiciário, nesta pesquisa eles foram considerados como uma unidade. Esta escolha foi deliberada por entender que, sob o prisma da cobertura jornalística da Lava Jato, essas três entidades ocupam o mesmo lado da narrativa.

Para compreender de que forma a midiatização foi integrando a estrutura dessas esferas, é necessário primeiro distinguir o que as define enquanto instituições. Parafraseando Giddens, Hjarvard (2014) elenca dois atributos centrais do conceito de instituição: regras e alocações de recursos. “Juntos, esses elementos conferem à instituição certa autonomia em relação ao mundo ao seu redor” (HJARVARD, 2014, p. 44).

As regras dividem-se em implícitas e práticas, fruto da noção básica comportamental que se deve ter dentro de uma instituição; ou explícitas e formais, quando estão codificadas em forma de lei, regulamentos ou códigos de conduta (HJARVARD, 2014). Os códigos de ética são um exemplo de regras explícitas que fundamentam as instituições analisadas e, por esse motivo, foram investigados com o objetivo de se observar a presença de normas formuladas a partir da lógica midiática.

No Código de Ética e de Conduta do Ministério Público da União e da Escola Superior do Ministério Público da União12, sancionado na Portaria nº 98 em 12 de setembro de 2017 pelo então Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, alguns trechos abordam a relação que os membros da instituição devem ter com mídia, bem como o seu devido comportamento. Destaca-se que o Código foi aprovado três anos após o início da Lava Jato. No seu Art. 4º, incisos XI e XII, da Portaria nº 98, no Capítulo “Das Condutas”, o documento estabelece:

12 Disponível em:

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XI. utilizar dos recursos e ferramentas de Tecnologia da Informação e da Comunicação, observando as normas internas, sendo vedada a utilização desses recursos para a prática de atos ilegais ou para propagação e divulgação de conteúdo que atentem contra a moralidade administrativa;

XII. zelar pela imagem institucional, agindo com cautela em suas manifestações públicas, ressalvado o exercício da livre manifestação do pensamento.

Além do Código do MPU, o Código de Ética da Magistratura13, aprovado pelo

Conselho Nacional de Justiça em 6 de agosto de 2008, também se preocupou em normatizar a relação da magistratura com a mídia. Os artigos a seguir, contidos nos autos do Processo nº 200820000007337, que regulou o respectivo Código, merecem especial destaque:

Art. 10. A atuação do magistrado deve ser transparente, documentando-se seus atos, sempre que possível, mesmo quando não legalmente previsto, de modo a favorecer sua publicidade, exceto nos casos de sigilo contemplado em lei. Art. 12. Cumpre ao magistrado, na sua relação com os meios de comunicação social, comportar-se de forma prudente e equitativa (...)

Art. 13. O magistrado deve evitar comportamentos que impliquem a busca injustificada e desmesurada por reconhecimento social, mormente a autopromoção em publicação de qualquer natureza.

Retomando a concepção de Hjarvard (2017) sobre midiatização, a influência da mídia sobre tais instituições é tão grande que foram necessárias normas que regulassem a relação de seus membros com ela – em certos momentos, estimulando a interação; em outros, observando os limites adequados. Em ambos os casos, a conceituação de Hjarvard (2017, p. 16) se faz clara e presente:

Parcela significativa de sua influência decorre de um fenômeno bilateral em que a mídia se torna parte integrante do funcionamento de outras instituições, ao mesmo tempo que alcança certo grau de autodeterminação e autoridade, obrigando tais instituições, em maior ou menor medida, a submeter-se à sua lógica.

Um exemplo internacional de midiatização da Justiça, em que a atuação de ambas as esferas foi conjunta, ocorreu na década de 1990 na Itália, durante a operação conhecida como Mani Pulite (Mãos Limpas). Considerada uma das maiores operações anticorrupção do continente Europeu, a investigação descobriu esquemas de propinas de empresários para membros do poder público e foi marcada pela pressão da opinião

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pública. A operação levou ao fim de diversos partidos políticos do país, encerrando a chamada Primeira República Italiana14.

Em 2004, o então juiz Sérgio Fernando Moro, na época no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), publicou um artigo sobre a operação italiana. Suas considerações revelam um entendimento da midiatização da Justiça como uma ferramenta importante para a efetividade da ação judicial, mesmo que tenha como consequência a deslegitimação do poder político – o que, para o jurista, era essencial para o prosseguimento da Operação Mãos Limpas (MORO, 2004). De acordo com Moro (2004, p. 57), “a deslegitimação, ao mesmo tempo em que tornava possível a ação judicial, era por ela alimentada”.

Tal processo, em que forças jurídicas assumem o protagonismo institucional em detrimento da legitimidade do Poder Executivo e Legislativo, produz um efeito de judicialização da sociedade, utilizando-se do ativismo judicial como ferramenta. De acordo com a conceituação de Casara e Gallego (2018, p. 75), “na medida em que cresce a atuação do Poder Judiciário, diminui a ação política, naquilo que se convencionou chamar de ativismo judicial”. Dessa forma, segundo os autores, a forte influência dos juízes de Direito na sociedade relaciona-se com a crise de legitimidade das demais instituições estatais, elevando os órgãos da Justiça a um locus privilegiado do campo político (CASARA; GALLEGO, 2018).

Este fenômeno provoca, além da crise de representatividade política, uma imagem positiva dos atores jurídicos. De acordo com Moro (2004), esta imagem positiva dos juízes diante da opinião pública foi fundamental para a viabilidade da operação Mãos Limpas.

Não causa surpresa que parcela dos meios de comunicação de massa procure construir a representação do ‘bom juiz’ a partir dos seus preconceitos e de sua visão descomprometida com a democracia. Não se pode esquecer que a mídia tem a capacidade de fixar sentidos e reforçar ideologias, o que interfere na formação da opinião pública e na construção do imaginário social. (CASARA; GALLEGO, 2018, p. 75)

Por fim, juntando-se à crise de legitimidade e à assessoria positiva de atores jurídicos, a midiatização da Justiça fomenta uma aliança entre as instituições que simbolizam o combate à corrupção e os veículos de comunicação de massa. A partir disso, ambos os lados se beneficiam: a grande mídia lucra com a cobertura das

14 Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141115_maos_limpas_italia_ru. Acesso em:

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operações anticorrupção através da espetacularização do antagonismo, uma receita antiga de sucesso; e as instituições jurídicas podem justificar suas ações com a premissa do apoio da opinião pública, ainda que ele seja artificialmente estimulado. Conforme conclui Moro (2004, p. 61) sobre a operação Mani Pulite:

Talvez a lição mais importante de todo o episódio seja a de que a ação judicial contra a corrupção só se mostra eficaz com o apoio da democracia. É esta quem define os limites e as possibilidades da ação judicial. Enquanto ela contar com o apoio da opinião pública, tem condições de avançar e apresentar bons resultados. Se isso não ocorrer, dificilmente encontrará êxito. Por certo, a opinião pública favorável também demanda que a ação judicial alcance bons resultados.

METODOLOGIA: UM OLHAR CRÍTICO SOBRE AS NARRATIVAS DISCURSIVAS

Para examinar o volume de notícias sobre a Operação Lava Jato veiculado no espaço temporal desta pesquisa, a Análise de Conteúdo (AC) de Laurence Bardin (2016) foi a principal metodologia aplicada. O objetivo era testar a hipótese de que a cobertura jornalística da Operação Lava Jato reforçou a midiatização dos atores jurídicos envolvidos, sob a lógica do antagonismo discursivo instaurado numa espécie de campo de batalha discursivo. Contudo, no decorrer do tratamento do corpus, observou-se a necessidade de considerar também o método da Análise Crítica do Discurso, sob a ótica de Norman Fairclough (2001).

Interessado em desenvolver uma teoria social do discurso, Fairclough se apresenta como um dos autores que propõem a Análise Crítica do Discurso (doravante ACD). Ele a defende como o resultado da síntese entre os estudos linguísticos e a teoria social, de modo que as mudanças sociais e culturais sejam avaliadas a partir das mudanças nas práticas de linguagem. Já o conceito de discurso é tomado sob uma perspectiva tridimensional, em que qualquer “evento” discursivo é considerado como simultaneamente: a) um texto; b) uma prática discursiva; e c) uma prática social.

O linguista britânico chama sua proposta teórica de crítica, diferenciando-se das vertentes não críticas, porque ela não se resume a uma descrição das práticas discursivas, mas vai além ao se propor a mostrar:

(...) como o discurso é moldado por relações de poder e ideologias e os efeitos construtivos que o discurso exerce sobre as identidades sociais, as relações sociais e os sistemas de conhecimento e crença, nenhum dos quais é normalmente aparente para os participantes do discurso. (2001, p. 31-32)

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Tal acepção é muito bem-vinda a esta pesquisa, pois um dos objetivos é mostrar como a cobertura da Operação Lava Jato pela imprensa, a partir de uma progressiva midiatização dos atores jurídicos e políticos, representa uma mudança no campo jornalístico, com consequência para transformações nos campos social, cultural e, principalmente, político. Os discursos dos meios de comunicação podem, assim, ser tomados como práticas jornalísticas, sociais, culturais, econômicas, mas também como práticas políticas e ideológicas.

A COBERTURA JORNALÍSTICA DA LAVA JATO E SEUS EFEITOS EM NÚMEROS

Diante da hipótese orientadora deste trabalho, que considera, entre outras coisas, a repercussão da midiatização dos atores jurídicos na rede, foi necessário pensar em um veículo de comunicação com notório destaque no ambiente online. Em razão disso, o portal de notícias G1, mantido pelo Grupo Globo, apareceu como uma alternativa coerente. Lançado em 2006 e atualizado 24 horas por dia, o portal disponibiliza conteúdos jornalísticos de diversas empresas do Grupo Globo, maior conglomerado de mídia e comunicação do Brasil e da América Latina, e possui uma área exclusiva sobre a Lava Jato no website.

Usando a expressão “Operação Lava Jato” para pesquisar no próprio sistema de busca do G1, entre 3 de agosto de 2015 e 8 de julho de 2018, foram recuperadas 1.742 notícias, incluindo materiais produzidos por afiliadas do Grupo Globo por todo o país. O recorte temporal foi definido considerando o período em que a Operação ganhou maior destaque na imprensa: entre a prisão do primeiro ator político de notório destaque, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (à época, do Partido dos Trabalhadores), durante a Operação Pixuleco (em 3/8/2015), até o habeas corpus concedido pelo desembargador Rogério Fravreto (TRF-4) – e revertido no mesmo dia pelo presidente à época do TRF-4, Thompson Flores – ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (em 8/7/2018), condenado pelo chamado caso triplex15.

15 Processo penal do âmbito da Lava Jato que acusou o ex-presidente Lula de corrupção passiva e

lavagem de dinheiro por suspeita de ter recebido pagamentos oriundos do esquema de corrupção da Petrobrás em forma de melhorias e reformas em um apartamento tríplex no Guarujá, do qual seria proprietário oculto. O ex-presidente foi condenado a nove anos e seis meses de prisão em primeira instância pelo então juiz Sérgio Moro e, posteriormente, a 12 anos e um mês em segunda instância pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).

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Seguindo o critério de notoriedade de Bardin (2002), foram selecionadas as notícias com pelo menos mil comentários na própria página do portal, considerando que, quanto maior esse indicador, mais importante é o conteúdo para mobilizar a audiência.

Definido o corpus com 13 matérias ao todo, foi realizada uma exploração mais detalhada do material, estabelecendo categorias que possibilitassem testar empiricamente a hipótese levantada. Para isso, em cada notícia foram enumerados os seguintes termos: refêrencias a instituições jurídicas, policiais e Ministério Público; nomes próprios de atores jurídicos, policiais ou membros do Ministério Público; “Operação Lava Jato” ou “Lava Jato”. Os termos foram categorizados conforme o local em que apareciam na notícia (título, subtítulo, lead16 ou corpo do texto). A cada categoria foi estabelecido um peso diferente, considerando o destaque do local.

Estabelecendo um paralelo com a Análise Crítica do Discurso, a interdiscursividade de Fairclough (2001) foi aplicada na categoria referente ao local da notícia. Isto porque existe um padrão jornalístico que determina a ordem que as informações sobre um acontecimento é organizada, construída sob a lógica da pirâmide invertida (do mais para o menos importante). Tal hierarquia pode sofrer variação, é claro, dependendo da linha editoral do veículo. Dessa forma, se o produtor de determinada matéria jornalística considera certas informações sobre aquele fato mais importantes que outras, elas aparecerão nos locais considerados de destaque no texto, respectivamente: título e subtítulo (espécies de resumos dos aspectos mais importantes),

lead e restante da notícia.

16 Jargão do jornalismo para nomear o primeiro parágrafo de uma notícia, que, geralmente, deve

responder a quatro das seis principais circunstâncias do acontecimento relatado: o que (ação), quem (agente), quando (tempo), onde (lugar). Todos os termos jornalísticos usados aqui são baseados no Manual da redação do jornal Folha de S. Paulo.

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Tabela 1: Análise primária das notícias sobre a Operação Lava Jato

Manchete Comentários Data

Lula é condenado na Lava Jato a 9 anos e 6 meses de prisão no caso do triplex

4895 12/07/2017

Eduardo Cunha é preso em Brasília por decisão de Sérgio Moro 3993 19/10/2016 Líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral é preso pela Polícia

Federal

3129 25/11/2015

Delcídio acerta acordo de delação premiada na Lava Jato 2750 03/03/2016 Dono da JBS gravou Temer dando aval para comprar silêncio de Cunha,

diz jornal

2677 17/05/2017

Passaporte e assinatura comprovam contas de Eduardo Cunha na Suíça 2440 16/10/2015 MPF investiga R$ 30 milhões em doações e pagamentos a Lula 2194 04/03/2016 Polícia Federal prende Antonio Palocci na 35ª fase da Operação Lava Jato 1997 26/09/2016 Polícia Federal pede ao STF para ouvir Lula em inquérito da Lava Jato 1810 11/09/2015 Ex-governador Sérgio Cabral é preso pela PF na Zona Sul do Rio 1625 17/11/2016 José Dirceu é preso na 17ª fase da Operação Lava Jato 1469 03/08/2015 Desembargador do TRF-4 manda soltar o ex-presidente Lula 1342 08/07/2018 Fachin manda afastar Aécio das funções de senador 1293 18/05/2017

Fonte: Elaborada pelos autores com base no Portal G1, 2019.

Algumas inferências interessantes foram possíveis após a análise do material. A primeira delas refere-se à presença dos nomes dos atores jurídicos nos três locais de maior destaque da notícia. Antes do dia 19 de outubro de 2016, quando foi publicada a reportagem sobre a prisão do ex-deputado federal Eduardo Cunha (MDB), nenhuma matéria do corpus fazia menção a um ator da Justiça no título, subtítulo ou lead. O destaque era direcionado às instituições e, sobretudo, à Operação Lava Jato em si. Nas ocasiões em que os atores jurídicos foram citados nesses espaços, eles não eram identificados pelos nomes pessoais; a referência era feita ao cargo. A matéria sobre Cunha representa um rompimento dessa abordagem, com o nome de um representante da Justiça no título e é também a segunda maior em número de comentários do corpus da pesquisa. Nas matérias posteriores à de Cunha, 66% continham o nome de algum ator jurídico em pelo menos um dos espaços destacados da notícia.

Outra observação possível com a análise do material foi compreender a relação entre as matérias que noticiavam prisões de atores políticos e o engajamento motivado por elas ao longo do tempo. As três matérias com maior número de comentários comunicam a prisão de algum político e retratam a abordagem editorial utilizada pelo

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G1 para noticiar a Lava Jato naquele período. A matéria sobre a prisão do então senador Delcídio Amaral (PT), em 2015, representa um momento em que o foco era na operação e não nos seus atores individualizados. Nomes de ministros do STF e do então Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, foram citados apenas no corpo do texto. As demais prisões noticiadas naquele ano, seguindo o mesmo padrão, tiveram um número menor de engajamento. Já na matéria sobre Eduardo Cunha, há ao todo seis referências ao ex-juiz Sérgio Moro, inclusive no título e no lead.

A matéria com o maior número de comentários, sobre a prisão do ex-presidente Lula (PT), representa os efeitos da midiatização da Justiça em seu máximo. Em todo o

corpus, esta foi a única reportagem em que a quantidade de referências a um ator

jurídico superou as menções às instituições. Ao todo, Moro foi citado 32 vezes, contra 11 de todas as instituições juntas. Embora não apareça na manchete, o nome do ex-juiz surge no subtítulo e no lead. É importante destacar que referências como “juiz” ou “magistrado” não foram contabilizadas, pela premissa deste trabalho considerar o nome próprio um elemento central da celebritização (DRIESSENS, 2014), decorrente do processo de midiatização do campo jurídico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se investigar neste artigo o contexto, as causas e consequências do processo de crescimento gradual da midiatização da Justiça na cobertura jornalística da Operação Lava Jato. Através da espetacularização do antagonismo discursivo sobre a pauta da corrupção, notou-se que o ativismo judiciário e a midiatização da Justiça foram dois processos que se retroalimentaram. Nesse cenário, a deslegitimação da política foi, ao mesmo tempo, consequência natural e objetivo deliberado. Ou seja, ao passo que a sociedade judicializa-se e a mídia adere à visão punitivista do combate à corrupção; o outro lado – o campo político – perde sua força representativa diante da opinião pública. Além da inserção da lógica midiática nos códigos de ética e conduta das instituições tomadas como objeto, a principal evidência da midiatização da Justiça na Lava Jato foi encontrada na análise do corpus. Gradualmente, as matérias mudaram o foco institucional e adotaram a personalização (DRIESSENS, 2014), o que impactou diretamente no engajamento da sua audiência e alçou certos atores ao status de celebridade. Além disso, o fenômeno comprovou a tese de progressividade inicialmente levantada.

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Essa transformação foi benéfica para ambas as partes: por um lado, as matérias que exploraram a midiatização dos atores jurídicos receberam mais engajamento; por outro, as ações realizadas por estes atores eram legitimadas pela opinião pública graças à mídia. Se a midiatização deste campo mantiver a progressividade encontrada neste trabalho, seus estudos merecem ser continuados. Afinal, a comunicação deve assumir a sua responsabilidade em elevar atores sociais à condição de heróis.

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