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Resenha: sobre os principio da Justiça em John Rawls 1

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Amazônia em Foco. Ed. Especial: Temas Contemporâneos de Direitos Humanos, n. 2, p. 199-214, Nov., 2013.

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Em seu livro Uma Teoria da Justiça John Rawls produziu uma das mais importantes obras filosóficas do século XX. Essa produção filosófica foi desenvolvida por um autor liberal que tem por objetivo fornecer as garantias necessárias para uma sociedade onde se prezasse a soberania popular na conservação e proteção dos direitos e garantias fundamentais das pessoas através do consentimento racional de pessoas livres e iguais no uso de sua razão. (WERLE, 2012, p. 260-2)

Dessa maneira o autor pretende fornecer uma nova interpretação da justiça através do que ele denomina de princípios da justiça, posição original e véu de ignorância que juntos possibilitam aos indivíduos fazerem a mais sensata e racional escolha para vida em sociedade.

Nessa resenha pretendemos abordar o conteúdo dos princípios da justiça no que diz respeito à forma e à matéria, seus critérios de especialidade e importância. Neste sentido, os princípios da justiça são:

Primeiro princípio:

(...) Cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema total de liberdades básicas iguais que seja compatível com um sistema semelhante de liberdades para todos (...). (RAWLS, 2000, p.333)

Segundo princípio

(...) As desigualdades econômicas e sociais devem ser ordenadas de tal modo que, ao mesmo tempo (...): (a) Tragam o maior benefício possível para os menos favorecidos, obedecendo às restrições do princípio da poupança justa, e (b) Sejam vinculadas a cargos e posições abertos a todos em condições de igualdade equitativa de oportunidades. (RAWLS, 2000, p.333)

1 Produção científica sobre Uma Teoria da Justiça orientada pelo Prof. MsC. Davi José de Souza da Silva

durante o 2º semestre de 2013.

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Amazônia em Foco. Ed. Especial: Temas Contemporâneos de Direitos Humanos, n. 2, p. 199-214, Nov., 2013.

200 Primeira regra de prioridade (Prioridade da liberdade)

(...) Os princípios da justiça devem ser classificados em ordem lexical e, portanto as liberdades básicas só podem ser restringidas em nome da liberdade (...). (RAWLS, 2000, p.333)

Existem dos casos:

(a) Uma redução da liberdade deve fortalecer o sistema total das liberdades partilhadas por todos;

(b) Uma liberdade desigual deve ser aceitável para aqueles que têm liberdade menor. (RAWLS 2000 p.334)

Segunda regra de prioridade (A prioridade da justiça sobre a

eficiência e sobre o bem-estar)

(...) O segundo princípio da justiça é lexicalmente anterior ao princípio da eficiência e ao princípio da maximização da soma de vantagens; e a igualdade equitativa de oportunidades é anterior ao principio da diferença. Existem dois casos (...): (a) Uma desigualdade de oportunidade deve aumentar as oportunidades daqueles que têm uma oportunidade menor; (b) Uma taxa excessiva de poupança deve, avaliados todos os fatores, tudo é somado, mitigar as dificuldades dos que carregam esse fardo. (RAWLS 2000 p.334)

A partir dos princípios supradescritos passamos a demonstrar alguns pontos importantes alusivos a essa principiologia.

Importante mencionar que os princípios do justo e da justiça têm por objetivo determinar os direitos e deveres dos indivíduos, indicando os fundamentos para resolução dos conflitos existentes em sociedades plurais e complexas. Por sua vez, o princípio da equidade tem por objetivo ordenar as relações sociais.

Assim sendo irei explicar a posição original e o véu de ignorância para que se possa entender a escolha dos citados princípios da justiça.

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A posição original é um ponto preponderante na doutrina rawlsiana, pois estabelece um procedimento de escolha de princípios de justiça para servir de orientação na estrutura básica de uma sociedade democrática já existente.

Desse modo a posição original, entendida como consenso original ou contrato original, remete à aceitação racional e pública de princípios de justiça para uma vida em sociedade; logo é um estado hipotético onde se obtém uma solução razoável que leve à escolha de princípios de justiça pré-existente na sociedade. A posição original é, portanto, um mecanismo de teste que os indivíduos possuem para escolher os melhores princípios de justiça. (WERLE 2012 p. 266-70)

Partindo dessa premissa faz-se necessário entender as condições em que se encontra a justiça. Para isso Rawls desenvolve alguns pressupostos que os homens na posição original seguiriam.

Vale dizer que os pressupostos da posição original seriam os seguintes: os indivíduos teriam um conhecimento restrito sobre questões sociais específicas, seriam pessoas desinteressadas e não estariam dispostas a sacrificar seus interesses em detrimento dos outros por entenderem que suas reivindicações têm igual valor, pois se entende que as pessoas sempre preferem ter uma quantidade maior de bens sociais primários a uma menor.

Para compreender a posição original. Rawls divide as circunstâncias da justiça em condições subjetivas e objetivas razoáveis para a cooperação. (RAWLS, 2000, p. 137)

As circunstâncias objetivas da justiça competem à capacidade humana, ou seja, às possibilidades relativamente iguais tanto para ganho como para perda em um sistema de cooperação social, onde, ressalta-se, a importância de saber delinear os limites para manter o equilíbrio, o que ele chama “escassez moderada”. (RAWLS, 2000, p. 137)

Já as circunstâncias subjetivas dizem respeito aos planos que cada indivíduo tem para sua concepção do bem, o que, por conseguinte, gera os conflitos de interesse entre as pessoas; em consequência a circunstâncias da justiça caracteriza-se pela deliberação de interesses mediante uma escassez moderada. (RAWLS, 2000, p. 137)

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Em seguida Rawls faz cinco restrições formais de escolha do conceito do justo para assim dar uma maior legitimidade nas reivindicações que os indivíduos fazem entre si e entre as instituições, pois acima de tudo os princípios de justiça têm que estabelecer a cooperação social, o equilíbrio, estabilidade da sociedade e a justiça.

A primeira restrição feita diz respeito ao princípio ser geral em sua forma, dai a sua compreensão não pode exigir das pessoas conhecimento especifico de fatores sociais de modo que prejudique o entendimento e a aceitação das pessoas. Outra condição primordial é que os princípios devem ser universais na sua aplicação, pois sua aplicabilidade deve ser para todos no sentindo da resolução de suas deliberações em um sistema de cooperação social. (RAWLS, 2000, p.141-43)

A terceira condição está ligada à publicidade, ou seja, faz-se necessário que todos sejam sabedores dos princípios da justiça para se manter o equilíbrio e a ordem social. A publicidade é fator preponderante em Rawls por ele pertencer à doutrina contratualista3·. A penúltima condição recai sobre a ordenação que os princípios da justiça devem ter para a ordem social, pois é de suma relevância que os princípios tenham como função organizar e manter a ordem sobre as reivindicações existentes ou as que possivelmente podem aparecer em uma sociedade. (RAWLS, 2000, p.143-44)

A última condição exige que os princípios tenham caráter terminativo. É determinar que os princípios do justo devam ser o Máximo da excelência do raciocínio prático, nesse sentido, ser o último estádio de argumentação para resolver as problemáticas e reivindicações que o indivíduo possa ter. Os princípios devem ter esta configuração: (RAWLS, 2000, p.145)

(...) Uma concepção do justo é um conjunto de princípios, gerais em sua forma e universais em sua aplicação, que deve ser publicamente reconhecido como uma última instância de apelação para a ordenação das reivindicações conflitantes de pessoas éticas (...). (RAWLS, 2000, p.145.)

Vale lembrar que mesmo com a presença de todas essas condições que os princípios devêm ter ainda assim não se determinou se os indivíduos escolheriam os princípios da justiça como equidade, pois poderiam ser escolhidos tantos princípios intuicionistas e princípios utilitaristas. Para isso Rawls desenvolve outros pressupostos que ajudam a delinear a escolha dos indivíduos em direção aos princípios da justiça defendidos por ele.

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Nessa linha de raciocínio, a posição original tenta estabelecer a equidade para a escolha de princípios justos e para isso Rawls desenvolve em sua teoria um pressuposto importantíssimo, o véu de ignorância.

O véu de ignorância é desenvolvido com o intuito de impedir que circunstâncias sociais e naturais interfiram nas escolhas acerca do seu conceito do justo e principalmente de seus princípios do justo e da justiça. É bom lembrar que para Rawls as contingências poderiam moldar interesses que prejudicassem a escolha de princípios que prezassem a plena igualdade, já que os gostos, situação financeira, posição social, dentre outros contingências, impediriam que se firmasse um acordo que beneficiaria a todos. (RAWLS, 2000, p.146)

Vejamos como Rawls descreve o véu de ignorância, ipsis litteris:

(...) Em primeiro lugar, ninguém sabe qual é o seu lugar na sociedade, a sua posição de classe ou status social; além disso, ninguém conhece a sua sorte na distribuição de dotes naturais e habilidades, sua inteligência e força e assim por diante. Também ninguém conhece a sua concepção do bem, as particularidades de seu plano de vida racional, e nem mesmo os traços característicos de sua psicologia, como por exemplo, a sua aversão ao risco ou sua tendência ao otimismo ou ao pessimismo. Mais ainda, admito que as partes não conhecem as circunstancia particulares de sua própria sociedade. Ou seja, elas não conhecem a posição econômica e política dessa sociedade, ou o nível de civilização e cultura que ela foi capaz de atingir. As pessoas na posição original não têm informação sobre a qual geração pertencem. (...) (RAWLS, 2000 p.147)

Entretanto, mesmo com toda essa situação hipotética que o véu de ignorância proporciona ainda sim as pessoas na posição original irão permanecer com conhecimento de fatos genéricos, ou seja, elas entenderão sobre política, economia, direito, gestão social etc., pois seria incoerente que indivíduos racionais não pudessem ter qualquer noção básica para escolher princípios tão relevantes para o estabelecimento de uma sociedade que preze a cooperação social. (RAWLS, 2000, p.148)

Pode-se ver, contudo, o quão importante é o véu de ignorância para a teoria Rawlsiana. Devido esse mecanismo hipotético não há como as partes tentarem fazer barganha ou grupos de interesses, pois não têm como saber se seus objetivos particulares irão realmente ser realizados haja vista que as partes não sabem sua situação na sociedade. Tem-se, portanto que os indivíduos na posição original terão de escolher princípios que estabeleçam a cooperação social de forma equitativa. (RAWLS, 2000, p.148-53)

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Decerto entende-se por que a teoria Rawlsiana é conhecida como uma teoria de justiça como equidade, pois em todo o seu desenvolvimento hipotético nem um tipo de informação particular pode beneficiar ou prejudicar pessoas, dai se pode concluir que a equidade é um dos fundamentos de sua teoria.

Nesse contexto é com o intuito de se chegar à escolha dos dois princípios da justiça como equidade que Rawls desenvolve posteriormente ao véu de ignorância sua explicação sobre a racionalidade das partes. Antes de qualquer coisa, o autor irá propor atributos aos indivíduos, os quais qualificam as pessoas como racionais e não invejosos. A racionalidade é a capacidade dos indivíduos de avaliar e escolher as preferências dentre as disponíveis que tem maior probabilidade de se realizar satisfazendo seus desejos, já a falta de inveja se dá pela inferência de que os indivíduos não estão dispostos a perder para verem os outros perdendo haja vista que seria ruim para todos. (RAWLS, 2000, p.154)

Ressalta-se algo primordial nos atributos dos indivíduos, a falta da inveja possibilita que a autoestima seja preservada, pois as pessoas terão convicção de que as suas concepções do bem estarão protegidas por não haver inveja ou qualquer sentimento semelhante comprometendo. . (RAWLS, 2000, p.155)

Sabe-se que sem a inveja os indivíduos não terão de preocupar-se com possíveis boicotes que os outros possam fazer para atrapalhar o desenvolvimento de seus planos racionais de vida, o que é fundamental na constituição de uma sociedade equilibrada. (RAWLS, 2000, p.155-6)

Além da racionalidade, os indivíduos possuem senso de justiça, ou seja, as pessoas são capazes de entender as concepções da justiça e estão dispostas a cumprir o acordo estabelecido entre eles. As pessoas acabam por criar vínculos de confiança mutua o que, por conseguinte, gera uma estabilidade social sólida. (RAWLS, 2000, p.156)

Mediante o que já foi exposto vimos vários mecanismos e pressupostos que os indivíduos teriam de seguir para fazer a escolha dos princípios de justiça, porém nenhuma das imposições pode concluir que os melhores princípios a serem seguidos eram os propostos por Rawls. Devido a esse problema Rawls procura desenvolver o raciocínio que nos leve aos princípios da justiça como equidade defendidos por ele como o melhor em comparação com princípio da utilidade média.

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Rawls inicia a seção 26 de seu livro argumentando que os indivíduos após o véu de ignorância não teriam meios para obter maiores vantagens e consequentemente não estariam dispostos a aceitar princípios que lhes causam-se desvantagens. Seguindo esse raciocínio seria irracional aceitar princípios que diminuíssem os bens primários4 das pessoas, por este motivo seria racional escolher princípios que preservassem as liberdades dos indivíduos e a igualdade plena o que ocorreria caso a justiça como equidade fossem escolhida. (RAWLS, 2000, p.162)

A argumentação prossegue com a afirmação de que pessoas livres querem ter uma quantidade maior a uma menor de liberdade, e os princípios que protegem as liberdades de forma prioritária5 são os da justiça equitativa devida sua ordem serial6. Já o da utilidade prever que se pode diminuir a liberdade de alguns em detrimento de um saldo maior de felicidade para a maioria. (RAWLS, 2000, p.164)

Em seguida Rawls utiliza da regra do maximin7 para comprovar a preeminência dos

seus princípios. Essa regra é utilizada em situações de incerteza, onde a instabilidade encontra-se presente no seio social, o que a torna indesejável, pois como já foi dito os indivíduos preferem viver em uma sociedade estável a uma incerta. Segundo o que é proposto pela regra do maximin em situações especiais8, peculiares da posição original seria mais racional a escolha dos princípios da justiça como equidade (RAWLS, 2000, p.165-68)

A teoria defendida por Rawls tem como um dos objetivos, ser a mais racional das escolhas em detrimento principalmente dos princípios Utilitaristas clássicos9 e “modernos” 10

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: “Os bens primários, para apresentá-los em categorias amplas, são direitos, liberdades e oportunidades, assim como renda e riqueza” (RAWLS 2000, P.98).

5 Vale dizer que Rawls prever alguns casos onde a liberdade pode ser diminuída, porém isso em detrimento da

própria liberdade isso fica mais fundamentado na parte II (instituições) da obra quando ele explica com mais detalhe essa exceções.

6 Regra de prioridade adotada por Rawls na definição dos critérios de importância entre os princípios. 7 “A regra do maximin determina que classifiquemos as alternativas em vista de seu pior resultado possível:

devemos adotar as alternativas cujo pior resultado seja superior aos piores resultados das outras” (RAWLS 2000, P. 165).

8 Rawls desenvolve três situações peculiares da situação inicial para demonstrar que os princípios da justiça

como equidade são mais racionais e plausíveis em relação ao principio da utilidade media.

9 “O principio clássico exige que as instituições sejam ordenadas de forma a maximizar a soma ponderada

absoluta das expectativas dos homens representativos envolvidos” (RAWLS 2000, p.174).

10 “(...) o principio da utilidade média leva sociedade a maximizar não a utilidade total, mas a utilidade média

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que dominaram nos últimos dois séculos o cenário das teorias de justiça nos países anglo-saxões. (RAWLS, 2000, p.173-4)

O argumento adotado pelo autor é descrever uma situação especial onde a utilidade média pode ser a possível escolha das pessoas, para isso Rawls atribui como comum aos indivíduos às mesmas preferências pessoais, onde todas as sociedades possuem os mesmos recursos e a mesma divisão de talentos naturais. Porém, indivíduos com diferentes talentos têm rendas diferentes etc. Baseando-se nessas possíveis situações poder-se-ia dizer que seria razoável a utilidade média como o princípio a ser seguido, pois a como prever o bem-estar que se pode desfrutar em cada uma dessas sociedades. (RAWLS, 2000, p.176)

Contudo Rawls refuta qualquer possibilidade de escolha arraigada a tal inferência, pois a posição original como sendo o método de extração de princípios não admite de forma alguma que informação especifica possam contribuir para barganha social, pois se abre precedência para cálculos o que impossível devido o véu de ignorância impedir qualquer tipo de informação que fira a premissa de que as escolhas devam está pautada em uma situação inicial de equidade.

Continuo a argumentação de Rawls contra a utilidade média desenvolvendo as críticas feitas por ele na seção 28, a primeira objeção feita diz respeito ao principio da utilidade precisar fazer uso cálculos probabilísticos que tenham de considerar as pessoas como iguais em suas concepções do bem, o que deveras é extremamente intuitivo, pois se tem a necessidade de recorrer ao principio da razão insuficiente para que seja no mínimo razoável a utilidade média.

Ressalta-se que ao descrever os indivíduos como sendo iguais na busca da realização de suas expectativas e, portanto não tendo interesses e objetivos fundamentais que possam vir a decidir que pessoa você desejaria se tornar infere-se que o indivíduo é desprovido de vontade, ou seja, de autonomia o qual fere diretamente o direito a liberdade, e como vimos à liberdade é um dos mais importantes bens sociais primários, sendo então irracional a escolha de um princípio que possa tolhe essas prerrogativas. Por esse motivo a segunda objeção se dá pelo fato dos indivíduos não possuírem a sua própria concepção do bem e autonomia em suas

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decisões o que é totalmente inaceitável para uma sociedade que quer estabelecer a cooperação social. (RAWLS, 2000, p.189-90)

Os últimos argumentos a favor dos dois princípios presente a primeira parte da obra11 dizem respeito ao seu caráter público e terminativo em relação ao cumprimento e preservação da autoestima dos indivíduos mediante a aceitação dos princípios supracitados. (RAWLS, 2000, p. 190)

Seguindo essa linha de raciocínio Rawls faz uma afirmação importantíssima, uma vez escolhidos os princípios a serem seguidos no seio social não se tem uma segunda oportunidade para rever a sua aceitação12. Aproveitando esse ensejo o primeiro argumento está ligado ao fato de se exigir dos indivíduos que ao firmarem o acordo estejam cientes da relevância de cumpri-los para que se possa ter uma sociedade estável. Mas para que isso ocorra faz necessário que os princípios escolhidos satisfaçam o inferido princípio psicológico13 das pessoas como indivíduos racionais que tendem a querer preservar suas liberdades de forma prioritária de modo que qualquer contingência social e natural possa ser atenuada e equilibrada por algum dispositivo de equilíbrio social, o qual por fim vem a fomentar a autoestima nas pessoas. (RAWLS, 2000, p. 191-93)

Rawls explora a argumentação sobre a autoestima como forma de comprovar que tanto pelo viés jurisdicional como psicológico o quão é sensata a escolha da justiça como equidade já que ela é o único que proporciona uma relação de respeito mútuo e recíproco nas ações sociais, pois preserva as liberdades e assegura a igualdade com o princípio da diferença14 sendo por esse motivo o mais completo esquema de cooperação social. (RAWLS, 2000, p. 195)

Em síntese deve-se fazer uma observação muito relevante a cerca da posição original, pois com já foi visto ela constitui base fundamental no pensamento rawlsiana.

11 A primeira parte da obra se denomina a teoria que busca ao longo de 30 seções apresentarem e descrever a

posição original e os argumentos a favor dos princípios da justiça como equidade.

12 Assemelha-se a vontade geral de Jean Jacques Rousseau. 13

“Forma de raciocínio seguido pelos indivíduos”.

14 É o princípio que busca equilibrar as desigualdades consequência de contingências naturais e principalmente

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Deveras pode ser feita a seguinte indagação por que a posição original deve ser o método de extração de princípios a ser adotado pelas pessoas?

Com essa problemática em face Rawls vem a desenvolver alguns argumentos que devem ser levados em conta na hora de decidir que método de extração deve ser adotado. A argumentação feita diz respeito à posição original ser o único método onde a justiça formal é de fato alcançada, pois como já foi descrito ela neutraliza as informações especificas dos indivíduos. No escorreito pensamento de Rawls tem-se,

A posição original é definida de modo a ser um status quo no qual o consenso atingido é justo. É um estado de coisas no qual as partes são igualmente representadas como pessoas dignas, e o resultado não é condicionado por contingências arbitrárias ou pelo equilíbrio relativo de forças sociais. (RAWLS, 2000, p. 129)

Segundo a citação feita à cima se pode dizer que o ponto chave da defesa da posição original como o mecanismo a ser adotado para extração de princípios está ligado à justiça

procedimental pura, ou seja, a igualdade plena a qual se obtém através de uma situação onde

todas as diferenças estão neutralizadas, pois qualquer que seja as contingências existentes o procedimento sendo correto e justo por consequência o resultado alcançado será justo. (RAWLS, 2000, p. 92)

Dessa forma a situação inicial de equidade defendida por Rawls preenche esses requisitos uma vez que os princípios que forem dela retirados terão de está de acordo com todas as regras por ela imposta.

A partir da exposição e explicação da posição original pode-se de fato descrever os princípios de justiça e seus critérios de especialidade. Primeiramente deve-se entender que os princípios têm como fundamento organizar a estrutura básica da sociedade, as instituições15 mais importantes para assim distribuir os direitos e obrigações dos indivíduos, pois se entende que à estrutura básica determina de forma objetiva as condutas que devem ser praticadas pelas pessoas através da delimitação justo e do injusto do permissível do proibido do ponto de vista formal do sistema social. (RAWLS, 2000, p. 57- 60)

Em vista do que foi descrito faz-se necessário alguns esclarecimentos pertinentes feitos por Rawls a cerca da justiça formal das instituições. Rawls é bem claro quando explica

15 “Por instituição entendo um sistema público de regras que define cargos e posições com seus direitos e

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que o fato de existir princípios que organizem a sociedade não se prossegue que tais princípios satisfazem a justiça substancial, ou seja, a justiça que leva em conta os direitos fundamentais das pessoas, as diferenças sociais e naturais dos indivíduos etc. Nesse sentido Rawls enfatiza os princípios de justiça precisam levar em conta as diferenças existentes, pois se assim não fizer as instituições serão injustas. (RAWLS, 2000, p. 60- 4)

Rawls na teoria da justiça tem o objetivo de propor princípios que possam prescrever a conduta da estrutura básica organizando de forma harmoniosa as relações dos indivíduos em sociedade. Com esse propósito em vista, iremos começar a análise do primeiro princípio: (RAWLS, 2000, p. 64)

Primeiro princípio:

(...) Cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema total de liberdades básicas iguais que seja compatível com um sistema semelhante de liberdades para todos (...). (RAWLS, 2000, p.333)

O primeiro princípio se refere às instituições proporcionarem de forma igualitária o acesso de todos ao mais completo sistema de liberdades básicas, liberdades básicas estas entendidas como:

(...) liberdade política (o direito de votar ocupar um cargo público), liberdade expressão e reunião; liberdade de consciência e de pensamento; as liberdades da pessoa, que incluem a proteção contra a opressão psicológica e a agressão física (integridade da pessoa); o direito a propriedade privada e a proteção contra prisão e detenção arbitrárias, de acordo com o conceito de estado de direito (...) (RAWLS, 2000, p. 65).

É de suma relevância que se entenda a defesa das liberdades fundamentais em Rawls, pois a base de sua teoria repousa sobre a prioridade da liberdade16 em relação a fatores econômicos, para tanto Rawls determina que os princípios por ele proposto estejam em ordem lexical17 uma vez que contingências sociais não podem servir de justificação para diminuição das liberdades. Mas trataremos desse problema de prioridade após a descrição do segundo princípio. Portanto o segundo princípio é:

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Ver seção 39 de uma teoria da justiça.

17 Entende-se por ordem lexical, a organização dos princípios pela sua importância para os indivíduos no

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210 Segundo princípio

(...) As desigualdades econômicas e sociais devem ser ordenadas de tal modo que, ao mesmo tempo (...): (a) Tragam o maior benefício possível para os menos favorecidos, obedecendo às restrições do princípio da poupança justa, e (b) sejam vinculadas a cargos e posições abertos a todos em condições de igualdade equitativa de oportunidades.(RAWLS, 2000, p.333)

O segundo princípio está preocupado com as oportunidades de acesso, de modo que contingências sociais e naturais possam ser ordenadas de maneira a não interferir no resultado das relações sociais. Nesse sentido Rawls dividiu o segundo princípio em duas partes.

A primeira parte trata das interferências naturais e sociais, Rawls admite que pelo fato de alguns ocuparem posições sociais menos relevantes a de certo modo dano, pois seu acesso aos bens sociais primários é menor o que por sua vez caracteriza uma injustiça social, nessa linha de raciocínio Rawls propõem que os mais bem afortunados devam trabalhar de modo que seu desempenho beneficie também os menos favorecidos da sociedade. Esse procedimento de equilíbrio se deve ao que Rawls denomina princípio da diferença.

O princípio da diferença tem por objetivo estabiliza as diferenças econômicas, sociais e naturais redistribuindo o saldo de ganho de bens primários beneficiando os menos favorecidos da sociedade. Para ilustrar dar-se-á um exemplo, suponhamos que o individuo X possua uma grande quantidade de bens primários e que o indivíduo Y possua uma quantidade inferior a X, pelo princípio da diferença X ao maximizar suas preferências deve também maximizar as de Y, pois a doutrina rawlsiana preza pela igualdade democrática de acesso aos bens primários.

Nota-se que no final da primeira parte descreve-se a seguinte observação obedecendo às restrições do princípio da poupança justa. A poupança justa remete a um problema entre gerações que não irei me aprofundar neste trabalho. No entanto deve-se entender que essa restrição feita por Rawls diz respeito a como os indivíduos devem poupar tendo em vista a estabilidade das gerações futuras, pois como a posição original neutraliza o conhecimento sobre que geração pertence seria racional escolher um procedimento que preze pela economia e manutenção dos recursos econômicos, sociais, culturais dentre outros para que se mantenha estável o funcionamento das instituições encarregadas pelo estabelecimento da justiça.

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A segunda parte está preocupada com a igual oportunidade de acesso a cargos e posições presente na sociedade. Rawls percebe que contingências sociais e naturais podem ocasionar um desequilíbrio no acesso de oportunidades por esse motivo ele busca ser muito claro quando diz igualdade equitativa de oportunidade, ou seja, o sistema público tem de oferecer condições iguais de acesso respeitando a diferença existente, para assim o estado não se tornar um mero sistema formal, como Rawls explicitou em sua obra a justiça não tem der ser exclusivamente formal mais acima de tudo substancial, pois só assim a igualdade plena será respeitada e justiça alcançada.

Em suma, chegam-se as regras de prioridades previstas por Rawls para casos específicos. Essas regras têm por intuito ser o guia norteador na resolução de conflitos, onde se chocam os direitos que devem ser priorizados. Com este problema em vista Rawls propõem duais regras para resolver possíveis antinomias. Tendo essas informações em mente podemos começar a analisar o conteúdo desses dispositivos estabilizadores dos princípios.

Primeira regra de prioridade (Prioridade da liberdade)

(...) Os princípios da justiça devem ser classificados em ordem lexical e, portanto as liberdades básicas só podem ser restringidas em nome da liberdade (...). (RAWLS, 2000, p.333)

Existem dos casos:

(a) Uma redução da liberdade deve fortalecer o sistema total das liberdades partilhadas por todos; (b) Uma liberdade desigual deve ser aceitável para aqueles que têm liberdade menor. (RAWLS, 2000, p.334)

Durante o desenvolver deste texto pode-se notar que em diversos momentos Rawls sempre destacou a importância de respeitar e preservar as liberdades dos indivíduos atribuindo-lhe o status de um dos mais relevantes bens primários. Isso se deve aos princípios estarem organizados em ordem lexical.

Nesse intento, Rawls percebeu que em certas circunstancias haveria a possibilidade de se diminuir as liberdades, para tanto ele descreve algumas situações onde seria razoável a interferência. (RAWLS, 2000, p. 267-8)

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Amazônia em Foco. Ed. Especial: Temas Contemporâneos de Direitos Humanos, n. 2, p. 199-214, Nov., 2013.

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A de se ressaltar que a algumas situações descritas por Rawls, dentre estas à primeira diz respeito à diminuição se feita em detrimento de acidentes naturais, contingências histórico-sociais como exemplo tem-se a liberdade menor das crianças referente à vida política. A segunda liga-se a circunstancias onde se diminui a liberdade em nome da preservação da própria liberdade como em casos que crenças religiosas, filosóficas podem assumir um caráter intolerável prejudicando toda sociedade. Porém tais restrições devem ser justificadas de acordo com a justiça, como descreve Rawls: (RAWLS, 2000, p. 268).

As liberdades básicas podem ser ou menos amplas, mesmo permanecendo iguais, ou podem ser desiguais. Se a liberdade for menos ampla, o cidadão representativo, ao fazer o balanço da situação, deve julgar esse fato como um ganho para sua liberdade; e se a liberdade for desigual, a liberdade dos que têm uma liberdade menor deve ter maiores garantias. (RAWLS, 2000, p. 267)

Portanto, o que se deve entender primordialmente da primeira regra de prioridade é que havendo situações onde as liberdades possam ser diminuídas a métrica de limitação tem de estar de acordo com a manutenção do sistema total das liberdades baseando-se pela ótica dos menos afortunados, ou seja, dos indivíduos que por ventura sofrerem mais com limitação. Contudo todo esse processo não pode está ligado qualquer tipo de barganha social, pois Rawls argumenta a liberdade só pode ser diminuída em detrimento da preservação do sistema total de liberdades.

Segunda regra de prioridade (A prioridade da justiça sobre a

eficiência e sobre o bem-estar)

(...) O segundo princípio da justiça é lexicalmente anterior ao princípio da eficiência e ao princípio da maximização da soma de vantagens; e a igualdade equitativa de oportunidades é anterior ao principio da diferença. Existem dois casos (...):(RAWLS, 2000, p.334).

(a) Uma desigualdade de oportunidade deve aumentar as oportunidades daqueles que têm uma oportunidade menor;

(b) Uma taxa excessiva de poupança deve, avaliados todos os fatores, tudo é somado, mitigar as dificuldades dos que carregam esse fardo.

A segunda regra de prioridade está preocupada com a manutenção da justiça mediante um cenário de maximização. Percebe-se que Rawls reconhece a existência de

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Amazônia em Foco. Ed. Especial: Temas Contemporâneos de Direitos Humanos, n. 2, p. 199-214, Nov., 2013.

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desigualdades que podem permanecer mesmo após o estabelecimento dos princípios de justiça, isso se deve em grande parte as contingências naturais como: talentos, dons, virtudes etc. Que são deveras arbitrárias, pois não tem como corrigir a falta de um talento em um indivíduo pelo viés de princípios, porque se assim for ter-se-ia uma doutrina perfeccionista18 a qual se opõem aos preceitos de justiça rawlsiana.

Com este breve esclarecimento pode-se de fato fazer uma analise desta regra de prioridade. A primeira parte está ligada com o princípio da diferença, pois a regra se pauta em um sistema de equilíbrio de acesso a oportunidade baseando-se na primazia do princípio da diferença. Deve-se compreender nessa regra que Rawls busca manter a plena liberdade para os indivíduos desenvolverem seu plano racional de vida, pois é notório que mesmo com criação dos princípios da justiça ainda sim as interferências naturais (talentos, dons) irão proporcionar certo grau de desigualdade de oportunidades, por isso equilibrar o acesso através do princípio da diferença. É interessante notar o cuidado dado ao livre arbítrio dos indivíduos uma vez que a liberdade proporciona a elevação da autoestima19 das pessoas.

A parte final está interessada em oferecer mediante uma poupança justa feita pelos indivíduos em sociedade uma base econômica que possa ser utilizada para atenuar as desigualdades existentes seja de cunho social ou natural levando-se em conta a posição, acesso e oportunidades dos menos favorecidos do meio social. Essa segunda condição posta por Rawls tem um viés mais intervencionista por parte do estado, pois nesse caso ele deve mediar através de planos sociais às possíveis alternativas na resolução das extremas desigualdades.

18 O perfeccionismo é uma doutrina que estabelece padrões que devem ser seguidos e entendidos como o certo

para o convívio social, Rawls argumenta na segunda parte do livro seção 50 que seria injusto basear-se em princípios perfeccionistas.

19 Rawls argumenta na terceira parte do livro que um dos mais importantes bens primários e a autoestima, pois

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Amazônia em Foco. Ed. Especial: Temas Contemporâneos de Direitos Humanos, n. 2, p. 199-214, Nov., 2013.

214 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

RAWLS J. Uma Teoria Da Justiça. São Paulo; Martins fontes; 2000.

RAMOS F.L, MELO. R, FRATESCHI. Y. Manual De Filosofia Política. São Paulo; Saraiva; 2012.

Referências

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