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Análise crítica das posições do PSTU

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Academic year: 2021

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Análise crítica das posições do PSTU

(Este texto, apresentado por Valter Pomar (SP) na III Conferência Nacional da AE, foi remetido para debate interno no conjunto da AE, pela

Conferência)

Mantemos com a direção nacional do PSTU uma relação de camaradagem política, que expressa --para além de nossas profundas divergências programáticas e estratégicas-- uma irmandade revolucionária.

Por isto mesmo, aliás, temos sido bastante enfáticos em rejeitar as seguidas propostas que eles nos fazem --publicamente-- de nos somarmos à criação de um "partido revolucionário", que reuniria o próprio PSTU, a esquerda petista e os militantes sociais que gravitam ao redor do MST.

As opiniões estratégicas do PSTU foram consolidadas, recentemente, num texto intitulado

Uma estratégia revolucionária para o Brasil

, assinado pelo companheiro Eduardo Neto. Este texto revela a existência de pelo menos três grandes diferenças entre nós e o PSTU.

A primeira diferença está no balanço que eles fazem da luta pelo socialismo no século 20. Eles organizam seu balanço em torno da contraposição entre stalinismo e trotskismo. Nós, embora nunca tenhamos feito um debate conclusivo sobre estas questões, enxergarmos de maneira mais plural o movimento revolucionário deste século, não o considerando redutível a contraposição stalinismo versus trotskismo. Tampouco achamos que a luta revolucionária do século XX, inclusive a experiência soviética, possa ser valorada de forma exclusiva ou principalmente negativa. Na mesma linha, temos uma posição de solidariedade com várias destas experiências revolucionárias e de respeito a tradição que delas emergiu, a começar por Cuba. Mutatis mutandis, não achamos possível realizar uma análise sóbria do papel do trotskismo no século XX, omitindo sua implantação marginal e seu papel irrelevante na maior parte das confrontações revolucionárias do século.

A segunda diferença entre nós e o PSTU está na questão do governo democrático e popular. Apesar de incorporarem a questão nacional com ênfase, apesar de defenderem alianças inclusive com os pequenos empresários urbanos, apesar de

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afirmarem que a luta pelo poder não está na ordem do dia, eles ainda assim atacam duramente a categoria "governo democrático e popular" e propõem o governo dos trabalhadores. Sua crítica ao governo democrático e popular repousa na crítica histórica do trotskismo à categoria de "unidade popular", como se toda unidade popular incluísse, obrigatoriamente, a burguesia.

A terceira diferença, sobre a qual queremos nos deter mais, está na maneira de encarar o PT. O texto deles ora critica

a direção

da CUT e do PT, ora critica a Articulação [Unidade na Luta], mas deixa claro que o PT é "parte do regime".

Tirando informações mal postas e raciocínios tortuosos, o centro da diferença está em como encaramos o ritmo da luta de classes, as possibilidades de construir um partido revolucionário de massas numa conjuntura como a atual, a existência ou não --e --em qu--e grau-- d--e d--escont--entam--ento das bas--es --e das massas fr--ent--e ao PT, o grau d--e integração do PT à ordem etc. Numa palavra, eles

maximizam

todos os fenômenos de domesticação do partido. Claro que, como petistas, corremos o risco oposto, de minimizar. Mas nos parece que a trajetória do PT, por exemplo no período de 17 de abril a 19 de maio de 2000, (o que ocorreu nesse período?) revelam como a posição do Partido é muito mais complexa do que qualquer caricatura.

O PSTU afirma que a revolução socialista no Brasil necessita de um partido revolucionário, "como uma das condições indispensáveis para chegar a vitória". Ocorre que se olharmos todas as revoluções ocorridas no século XX, tomando como metro o critério dos companheiros, todas --menos a russa-- foram conduzidas por partidos "aliados do imperialismo" ou portadores de defeitos gravíssimos, como o "stalinismo", a "burocratização" etc.

Mutatis mutandis, os partidos "revolucionários" --sempre segundo o figurino dos companheiros do PSTU-- não dirigiram nenhuma revolução, em lugar nenhum do mundo. O fato é as classes sociais forjam seus instrumentos com o material que têm a mão.

Eles dizem que "o reformismo da direção do PT é a válvula de segurança que a burguesia brasileira pode contar em caso de uma crise revolucionária no país". Curiosamente, Trotsky entrou no Partido Bolchevique apenas em 1917, porque discordava da estratégia defendida por Lenin e pelo restante do partido. Por sua vez, o Partido Bolchevique, entre a revolução de fevereiro e a conferência de abril, defendeu

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uma política de colaboração com o governo provisório. Foi travada uma imensa luta interna no POSDR(b), que resultou na aprovação das Teses de Abril, que defendiam a revolução socialista e a tomada do poder pelos sovietes. E quem fez a diferença? A militância operária, especialmente os novos militantes, surgidos da ebulição revolucionária de fevereiro de 1917.

É evidente que toda analogia é abusiva, mas a lembrança serve para ressaltar o quanto os critérios dos companheiros são a-históricos, doutrinários. Segundo estes critérios, até mesmo os bolcheviques seriam "válvula de segurança". Aliás, Trotski dirá praticamente isso no prefácio de

A Revolução Russa

. Mas a que conclusão prática Trotski chegou, em 1917?

Nas várias experiências revolucionárias ocorridas no século XX, vários partidos assumiram a condição de vanguarda.

No caso russo, o papel desempenhado pelos bolcheviques foi, por suposto, destacado. Mas, qual partido bolchevique? Em abril de 1917, Lenin aprova as "teses de abril" contra a posição dos "velhos bolcheviques". Em outubro de 1917, quem apóia Lenin com maior decisão são os recém-chegados ao Partido --inclusive os que vieram junto com Trotski.

No Congresso dos Sovietes e no governo revolucionário que dali nascerá, a maioria "bolchevique" só é possível porque, na verdade, existe uma coalizão mais ou menos informal com socialistas revolucionários de esquerda, com pequenos grupos mencheviques, com os anarquistas, com operários independentes etc.

O fato de Lenin --e os bolcheviques-- terem sido o centro político-organizativo, o pólo que agregou os diversos setores da revolução, não pode eludir a pluralidade da esquerda revolucionária na Rússia de 1917. E deve nos levar a enxergar de outra maneira a conveniência e a "necessidade" de termos "um" partido revolucionário no Brasil. Nesse ponto, curiosamente, o PSTU defende a mesma tradição dos partidos comunistas, segundo a qual só existe um único partido revolucionário da classe operária.

O documento supracitado do PSTU pergunta se o PT é "este partido revolucionário" e, depois, se "o PT é o partido estratégico". Acontece que as duas perguntas não são equivalentes. O PT hoje é, evidentemente, um partido social-democrata, no sentido clássico da palavra. Nesse sentido, tomado de conjunto, ele não

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trabalha para a instalação de uma situação revolucionária no país (o que não impede que setores do partido obrem nesse sentido). Outra coisa é saber se ele virá ou não a cumprir um papel revolucionário, na hipótese de uma revolução no Brasil. Novamente, é muito difícil que todo o Partido esteja na mesma trincheira. Mas onde estará a maioria?

Quanto a saber se o PT é estratégico ou não, isto implica em responder se é a partir dele,

ou também a partir dele

que, num momento de crise revolucionária, pode vir a se construir uma direção revolucionária.

O PSTU diz que o PT não é um partido estratégico, porque não se propõe a fazer a revolução (muito antes pelo contrário), e porque existe em seu interior um processo irreversível de burocratização, o que torna irreversível o caráter reformista de todo o partido.

Ambas as afirmativas contém enorme dose de verdade, mas não contém toda a verdade. Além disso, como apontamos, trata-se de uma resposta e de uma pergunta incompatíveis entre si.

O PT é a expressão político-partidária de um amplo segmento das classes trabalhadoras brasileiras. A pergunta não é, simplesmente, se o PT é estratégico ou se o PT é revolucionário. A pergunta é se este segmento que o PT representa é ou não revolucionário, se pode ou não vir a cumprir um papel revolucionário. Renunciar à disputa do PT é, de fato, renunciar à disputa deste setor da classe trabalhadora. Postura, que para ser coerente, deveria levar os que a defendem a sair da CUT e a não disputar eleições.

O PSTU reconhece que existe no PT uma esquerda revolucionária, embora "em processo de adaptacão". Valeria a pena destacar que, mesmo sem ser maioria no PT, essa esquerda é

várias vezes maior que o PSTU

. Maior eleitoralmente (só em São Paulo, nossos candidatos não- eleitos receberam mais votos que o PSTU em todo o país) e maior em número de militantes (basta dizer que a AE sozinha tinha mais delegados, no Congresso da UNE, que o PSTU).

Quanto ao processo de burocratização, ele "parece" irreversível, de fato. Mas perguntamos: no caso de haver uma crise aguda, no Brasil, no curto prazo, a quem

a

maior parte

das massas populares se dirigirá? Ao PT ou ao PSTU? E onde a esquerda

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A dolorosa experiência dos espartaquistas, durante a revolução alemã, revela que a política proposta pelo PSTU, mas também a política proposta por nós, contém riscos. Mas nosso critério fundamental deve ser manter laços com a maioria da vanguarda da classe trabalhadora. Por isso não nos dispomos a sair do PT.

Os companheiros consideram que a derrota eleitoral do PSTU nas últimas eleições não é uma base sólida para supor o isolamento como conseqüência da ruptura com o PT. Curiosamente, os companheiros não utilizam o mesmo critério para discutir a derrota eleitoral da esquerda petista, no estado de São Paulo. De toda forma, o problema não está no isolamento, mas em buscar o isolamento sem necessidade.

Segmentos majoritários da classe trabalhadora têm vínculos de lealdade com o PT. E --talvez os companheiros não compreendam isto-- nós nos sentimos, nós somos parte do PT. Nós não fizemos entrismo no PT, nós não estamos no PT de passagem. Os companheiros acham que o processo de "adaptação" do PT já se concluiu, nós enxergamos de maneira diferente este processo.

O PSTU considera que sofreu uma derrota eleitoral em 1998, mas obteve uma "vitória política". Já a esquerda petista em SP teria sofrido uma derrota eleitoral, além de não ter nenhuma vitória política, "por não ter tido condições de aparecer com suas próprias posições".

A esquerda petista foi derrotada nas eleições em São Paulo, porque não elegeu nenhum dos três deputados federais que possuía e ainda perdeu um dos dois deputados estaduais. A causa fundamental da derrota foi o divisionismo no interior da esquerda petista: excesso de candidaturas, que nos levaram em conjunto a ter mais de 200 mil votos (mais que o PSTU em todo o país) e a não eleger nenhum federal. Creditar nossa derrota a força ou aos esquemas eleitorais da direita partidária é, portanto, meia verdade.

Em segundo lugar, ao contrário do que os companheiros dizem, a esquerda petista é bastante conhecida, no partido e nos movimentos sociais. Não fosse assim, o próprio PSTU não nos daria tanta atenção. O fato de não termos legenda própria não significa que não tenhamos aparecido com nossas próprias posições. Perguntamos aos companheiros: a velha Convergência Socialista não defendia suas posições quando estava no PT?

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Os companheiros dizem que "com a melhor das intenções, a esquerda petista segue construindo um partido reformista. Os companheiros não existem como uma referência pública conhecida, são partes do PT". Tudo absolutamente correto, exceto por duas coisas: primeiro, a esquerda petista possui sim uma "referência pública conhecida". Não fosse assim, a mídia e a direita do partido não falariam volta e meia em nos expulsar do Partido. Segundo, nós construímos um partido reformista com "a melhor das intenções" de operar, nele e a partir dele, uma política que nos permita aproveitar ao máximo a conjuntura que --nós e o PSTU-- achamos que está se abrindo.

Curiosamente, os companheiros falam tudo isso do PT e da esquerda petista, mas propõem construir uma "frente única revolucionária", que demoraria talvez anos para se concretizar. Ou seja: admitem, implicitamente, conviver por anos com um bando de reformistas, incrustrados num partido adaptado ao regime.

O diagnóstico que vincula os problemas vividos pelo PT a traição de direções burocratizadas, distantes do povo, alienadas de seus compromissos com a Nação ou coisa que o valha, gera qual conclusão? Trocar a direção? Trocar de partido?

Achamos que o problema é de maior profundidade, dizendo respeito ao comportamento da base social principal do PT, qual seja, os assalariados (operários ou não). A não ser que acreditemos --como faziam parte dos que romperam com o Partido Comunista nos anos 60- que os camponeses serão os principais protagonistas de uma revolução socialista no Brasil, o principal problema da esquerda brasileira não é o PT estrito senso, mas sim a classe dos trabalhadores assalariados.

A pergunta é: como colocar esta classe em movimento? Como fazê-la reassumir o protagonismo do final dos anos 70 e dos anos 80? É mais fácil fazer isto atuando no PT ou fora dele?

Ao dizer tudo isso, não desconhecemos que o PT está vivendo a fase final de um ciclo, que pode desdobrar-se numa cisão, no definhamento ou na mudança de qualidade. Mas queremos enfrentar este desafio dentro do PT, até porque estamos convencidos de que a existência do PT é um fator positivo para a luta socialista no Brasil.

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