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GEOMORFOLOGIA: UMA DISCUSSÃO PRELIMINAR SOBRE AS ABORDAGENS MORFOGÊNESE E MORFODINÂMICA E A GEOGRAFIA

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GEOMORFOLOGIA: UMA DISCUSSÃO PRELIMINAR SOBRE AS ABORDAGENS MORFOGÊNESE E MORFODINÂMICA E A GEOGRAFIA

Francisco Cesar de Oliveira Mattos.

Graduando do Curso de Geografia Centro Universitário de Belo Horizonte – UNIBH. E-mail: chicomattos05@yahoo.com.br.

Carla Juscélia de Oliveira Souza.

Professora Doutora do Curso de Geografia Centro Universitário de Belo Horizonte - UNIBH.

E-mail: carlaju@uol.com.br.

INTRODUÇÃO

Este trabalho é uma breve discussão acerca das abordagens morfogênese e morfodinâmica presentes no campo da Geomorfologia e, também, alguns elementos relativos à sua epistemologia. O principal objetivo do trabalho é discutir as concepções e importância dessas abordagens para a Geomorfologia e a Geografia. Para isso, foram contempladas as principais características e aplicações dessas abordagens em estudos geomorfológicos e geográficos. Foi importante também apontar as diferenças das duas abordagens, principalmente entre as escalas de tempo e espaço (na análise geográfica), nos estudos geomorfológicos e geográficos. Não menos importante, outro objetivo deste estudo, foi levantar a relevância da Geomorfologia dentro da Geografia e abordar o caráter holístico e agregador desta.

Este trabalho apóia-se em trabalhos de autores brasileiros, direta ou indiretamente ligados à epistemologia da Geomorfologia, como Abreu (2003), Vitte (2008), Suertegaray (2001, 2002, 2009). Durante as leituras, buscou-se identificar no interior de cada trabalho os seguintes aspectos: a) Os elementos conceituais que compõem a concepção da morfogênese e morfodinâmica, como: escalas de tempo e espaço, concepção historicista e funcionalista; processos geomorfológicos; b) Os aspectos que auxiliam a refletir a relação realidade e processos geomorfológicos. Aspectos esses como função social de conhecimento e raciocínio sistêmico e complexo e c) Da discussão que as duas abordagens levantam como: O papel da

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Geomorfologia para levantamentos ambientais; a relevância da Geomorfologia para a Geografia.

É importante levantar essa discussão porque, é através dela que podemos apontar a importância da Geomorfologia para a Geografia e também distinguir as duas abordagens: Morfogênese e Morfodinâmica. Apresentar essa discussão dentro da Geomorfologia e problematizá-la pode trazer avanços nos estudos da Geografia e em suas aplicações na relação sociedade/natureza.

1. O CARÁTER HISTORICISTA: MORFOGÊNESE

A abordagem, com base na Morfogênese, que utiliza a estrutura geológica como aspecto explicativo das formas de relevo tem como principal característica o historicismo, para direcionar seus estudos. As escalas de tempo são sempre muito grandes e chegam sempre a extrapolar a história do homem. Enquanto a escala cartográfica é sempre a menor, pois se trata de estudos de grandes formações geológicas e geomorfológicas regionais, pontuando as características globais do fenômeno e os processos geológicos e geomorfológicos. O caráter endógeno é o mais evidente nessa abordagem, que preconiza a gênese do relevo a partir do tempo geológico.

A linhagem epistemológica Anglo-Americana apoiava-se no paradigma proposto por Davis, perdurando até a segunda grande guerra, com seu grande sucesso ligado a língua inglesa e francesa (ABREU, 2003). Para o autor a base do estudo de Davis é principalmente estrutural “[...] na qual o relevo surgia como uma função da estrutura geológica, dos processos operantes e do tempo, dando a este último a tônica em um modelo que valoriza particularmente o aspecto histórico” (ABREU, 2003, p. 54).

Sendo assim, o paradigma colocado por Davis seria o estrutural geológico, como uma importante condicionante para a geração das macroformas de relevo. Estas seriam modeladas pelas águas fluviais, como expresso na sua teoria “Erosão Normal”. Davis não considerava os demais processos geomorfológicos envolvidos na formação do relevo. Esse aspecto foi um

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dos apontados pelas críticas na época. Deixando o paradigma de lado, Abreu (2003) ainda afirma que o seu aspecto finalista e a não dedicação aos processos, conduziram a Geomorfologia ao afastamento das ciências naturais e dentro da Geografia, pouco ou nem iria se articular com a climatologia e biogeografia.

A ênfase na estrutura e forma, pautada no tempo geológico de milhões de anos, que poderia ser entre 20 e 200 milhões de anos (CHRISTOFOLETTI, 1980), “impedia” o estudo detalhado dos processos exógenos, uma vez que não caberia e nem seria significante a abordagem dos mesmos dentro de um contexto geral de evolução do relevo em milhões de anos.

De acordo com Birot (1955), existem outros aspectos que dificultavam o estudo dos processos exógenos no entendimento das formas de relevo, à luz da história e da análise estrutural. O estudo dos processos na paisagem demanda observação precisa e até mesmo experiências difíceis e estudos aplicados. Ainda segundo Birot (1955), esse estudo é auxiliado por resultados produzidos por engenheiros hidráulicos e arquitetos, como contribuição multidisciplinar. Isto implicaria, materialmente, em um estudo incapacitado de um programa autônomo, ou seja, estaria sempre dependente de dados de outros profissionais.

A linhagem Epistemológica Alemã para Abreu (2003) teve como principais autores o A. Penck e F.F. Von Richtofen. Estes autores apoiados em seus antecessores (Humboldt e Goethe) encaminharam os estudos e as análises dos fenômenos onde a Geomorfologia se relacionava com a petrografia, química do solo, hidrologia e climatologia. Para Abreu (2003), a escola alemã, através dos institutos do estudo da Terra, era a que mantinha uma crítica mais contundente à teoria estrutural de Davis. Seus pontos principais estavam relacionados às atribuições da investigação de espaço com natureza climática diversificada, ou seja, que modelos estruturais deixam lacunas importantes no estudo das formas da Terra.

No Brasil, a evolução do conceito Morfogênese, é observada por Vitte (2008) em “duas fases” da Geomorfologia brasileira: a primeira seria os primórdios, quando há forte vinculação

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com a teoria davisiana, e a segunda fase seria a ruptura epistemologia dos anos 1950, marcada pela teoria de pediplanação do autor Lester King (VITTE, 2008).

As concepções de escala espacial, temporal e de formas, empregadas nos estudos realizados nas duas fases, foram incorporadas pela Geografia como um fundamento para a classificação de um determinado espaço geográfico, empregando-se classificações e nomenclaturas definidas pela geologia (SOUZA, 2009), como região com relevos tabuliformes, de cuesta, relevo esculpidos em dobras e outros. A influência dos termos e nomenclaturas geológicas fizeram-se presentes, também, nos livros paradidáticos e manuais didáticos, como os elaborados por Ab’Saber (1975), que publicou três volumes intitulados: Formas de relevo:

textos básicos (Volume 1), Trabalhos práticos (Volume 2) e Guia do professor (Volume

3).

No Brasil, segundo Vitte (2008), aconteceu uma ruptura epistemológica na década de 1950, principalmente depois da obra de Lester King. Os estudos nesta fase (e em ordem mundial) estão voltados para os oceanos, sendo estudados os sedimentos em seu fundo e trabalhando com a sedimentologia e a estratigrafia. É nessa fase que acontece a descoberta das “variações climáticas da Terra e a possibilidade de associar as evidências destas variações com os sedimentos continentais” (VITTE, 2008, p.48).

Com o trabalho de King no Brasil, os “Geógrafos - Geomorfológos” adotaram mudanças nas estratégias conceituais e teóricas, promovendo uma mudança mundial dentro da Geomorfologia Climática (VITTE, 2008). Através de Jean Tricart e seus trabalhos houve uma revolução na Geomorfologia Climática e também na Biogeografia, seus trabalhos transformaram conceitos como “a noção de domínios morfoclimáticos e refúgios biogeográficos” (VITTE 2008, p.50).

A abordagem da Geomorfologia Climática, de acordo com Souza (2009), introduziu outros conceitos como sistema morfoclimático e domínio morfoclimático, além de reforçar a importância dos processos geomórficos e dos agentes. Além desses conceitos, a abordagem climática introduz o princípio que "processos morfogenéticos diferentes produzem formas de

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relevo diferentes; e que as características do modelado devem refletir até certo ponto as condições climáticas sob as quais se desenvolveu a topografia" (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 31).

Nessa perspectiva, encontra-se a ideia do estudo do relevo, na qual se considera a paisagem como reveladora de evidências sobre o processo de evolução do relevo.

De acordo com SOUZA (2009, p. 40),

É importante observar que, sob a abordagem integrada da paisagem, retoma-se a ideia de processos exógenos como importante fenômeno de esculturação das formas, porém, agora, de elaboração de conjuntos paisagísticos, em função das condições climáticas, que vão influenciar o tipo de agente, processo, formas esculpidas ou de acumulação, de acordo com a intensidade, frequência e magnitude dos processos.

A abordagem climática, com foco nos processos geomórficos que ocorrem ao longo do tempo geológico e nos diferentes domínios morfoclimáticos, possibilitou ampliar o número de trabalhos voltados para o entendimento dos processos superficiais e a complexidade existente entre eles.

2. A PREVISÃO DE FENÔMENOS: MORFODINÂMICA

A morfodinâmica, diferentemente da morfogênese, tem como principal característica a funcionalidade dos processos no tempo e espaço, onde se trabalha com escalas cartográficas melhores e escalas temporais de períodos curtos. A autora Suertegaray (2001) problematiza a questão:

Se anteriormente a pesquisa geomorfológica regional apresentava uma característica de cunho mais descritivo e genético, pois era preciso conhecer grandes domínios morfológicos (morfogênese), atualmente as pesquisas geomorfológicas têm tido uma preocupação maior com as questões ambientais de cunho pontual (morfodinâmica) (SUERTEGARAY, 2001, p.18).

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Suertegaray (2002) coloca que esta mudança na leitura do espaço geográfico pelo viés da morfodinâmica é relevante e inevitável:

Voltando a Geomorfologia, diria que, desde os anos de 1950, esse campo do saber vem sofrendo transformações em sua clássica forma de ler o relevo. Desde lá, assume importância maior a preocupação com os processos, isto é, os estudos morfodinâmicos. Nesse caso, a ênfase é dada aos estudos da funcionalidade em escalas de tempo curto (SUERTEGARAY, 2002, p.160).

Ainda para Suertegaray (2002) a morfodinâmica pode se envolver com a previsão de fenômenos ambientais: “Trata-se agora, de buscar a compreensão da dinâmica da natureza, dinâmica essa entendida como interação de processos no presente com vistas à projeção de “cenários” para o futuro” (SUERTEGARAY, 2002, p.160). Estes cenários podem ser desde uma pesquisa sobre uma possível área de loteamento, ou em estudos relacionados a áreas de risco urbanas.

Guerra e Marçal (2006) colocam que nos três últimos séculos, a ciência buscou compreender os fenômenos naturais e ambientais, sendo que, no início, a compreensão dos fenômenos voltava-se para regularidade, estabilidade e permanência. Em um segundo momento, houve a necessidade de levar em conta as incertezas e as irregularidades dos fenômenos, considerando-os sob uma ótica mais complexa e compreendendo-os de maneira não fragmentada, mas sim como um todo complexo, dinâmico e sistêmico em uma abordagem holística da natureza.

A autora Suertegaray (2002) também afirma que é através da morfodinâmica que se pode pensar em uma Geomorfologia atual, que possa lidar com as imposições postas a ela, e ainda conduzir pesquisas que tratem da degradação da natureza e da busca de meios de viabilizar uma sociedade sustentável. É possível que a Morfodinâmica seja um instrumento não somente atrelado a Geologia (como citado pela autora), mas sim um dos principais ramos da Geografia, no que tange os estudos e análises ambientais interdisciplinares:

O que quero dizer é que a Geomorfologia no presente e os estudos da natureza por extensão, por conta da degeneração da natureza, por conta da necessidade de generação, estão analiticamente associados aos estudos da morfodinâmica, da funcionalidade, do sistemismo, com vistas ao reconhecimento cada vez mais preciso das derivações

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naturais, dos impactos. Esses estudos são objetivados, na linguagem ambiental, por meio de diagnósticos, dos monitoramentos e das medidas mitigadoras (SUERTEGARAY, 2002, p.162).

No Brasil, a preocupação com as questões ambientais e as suas implicações na sociedade começa na década de 1970. E nesta fase que no Brasil, segundo o Vitte (2008), a Geografia sofre grande influência da Teoria Geral de Sistemas. Jean Tricart e Jean Kilian produzem uma obra com aspectos mais detalhados do relevo que “pode ser considerado grande marco metodológico para os estudos ambientais nas mais variadas escalas territoriais, com grande destaque para o papel do relevo e de seus processos na degradação ambiental” (VITTE, 2008, p.50).

3. GEOGRAFIA – MORFOGÊNESE E MORFODINÂMICA

Postas as noções de morfogênese e morfodinâmica pode-se refletir sobre alguns apontamentos principais: a) estruturalismo da morfogênese atrelado à geologia, a escala espacial regional e descrição; b) e os processos e sistemas da morfodinâmica pensadas na escala espacial local, da vertente e a partir da crise ambiental.

Para a Geografia é importante salientar que a Geomorfologia é um dos seus principais campos de conhecimento, como afirma Casseti (1991),

Entendida (a Geomorfologia) como uma ciência que busca explicar dinamicamente as transformações do geo-relevo, portanto, não apenas quanto à morfologia (forma) como também a fisiologia (função), incorporado organicamente ao movimento histórico das sociedades, é natural que sua vinculação com a Geografia é mais que justificável. Como responsável pelo entendimento das relações do geo-relevo, constitui-se em importante referencial para a manutenção e estruturação dos sistemas físico-naturais diante das transformações sociais, o que justifica sua função ambiental (CASSETI, 1991, p.36).

Suertegaray (2002) pensa que a Geomorfologia enquanto disciplina está em um grande paradigma em suas abordagens e consequentemente, seus usos. A abordagem de Geomorfologia no prisma da gênese do relevo passa a ser insuficiente para entender a

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complexidade da crise ecológica ecoada na pós-modernidade. Esta crise precisa ser gerida, e a geomorfologia, assume o papel de principal articuladora.

Trata-se de investir no seu conhecimento, na perspectiva não mais de sua compreensão no tempo longo, ou seja, no tempo de sua formação. Cabe agora compreender a funcionalidade da natureza, suas derivações no tempo curto... Conceber sua dinâmica para efetivamente gerir e controlar (SUERTEGARAY, 2002, p.162).

A reavaliação das abordagens da Geomorfologia está intrinsecamente ligada à necessidade atual de se promover uma Geomorfologia que atenda as necessidades da Geografia, não podendo ser somente uma ciência descritiva. É necessário pensar sobre a construção da Geografia, pois a discussão encontra-se em debate dentro da epistemologia da ciência (SUERTEGARAY, 2009).

A abordagem morfogênese esteve relativamente muito atrelada à “Geografia Física”, ou então a Geologia, diferenciando-a da Geografia como afirma Abreu (2003): “O resultado será um isolamento da Geomorfologia em relação ao resto da Geografia, particularmente nítido no período mais aceso entre possibilistas e deterministas” (ABREU, 2003, p.62). Esta discussão não está propondo a “exclusão” dos métodos morfogéneticos e nem seu isolamento, eles são relevantes, mas sim uma (re) aproximação das duas abordagens resgatando a principal característica da Geografia, a observação do espaço e as relações sociedade/natureza. A autora Sales em sua obra “Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem Crítica” aponta para esta (re) aproximação dentro da Geografia:

O discurso ambiental hoje tem como elemento de aceitação e identificação cultural na comunidade geográfica a possibilidade de superação da dicotomia entre físico e humano e a concretização da unicidade da Geografia ( MONTEIRO, 1981; SEABRA, 1988 apud SALES, 2004, p. 126).

O ambiente e o espaço geográfico podem ser concebidos de diversas maneiras dentro da Geografia, que ao longo de seu tempo de construção o definiu como uma realidade a ser lida a partir da materialização e produção da vida do homem na superfície da Terra (MENDONÇA, 2004). Esta concepção da vida do homem e sua reprodução trouxeram a

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discussão ambiental à tona nos estudos de Geografia e, também, à ciência em geral. Verifica-se ainda que

Este debate está pautado pela análise do mundo construído sobre as perspectivas que se denominavam de modernidade e que, entre tantas conseqüências, desencadearam um processo progressivo de separação do homem da natureza; uma compreensão de natureza como recurso a suprir as necessidades humanas inatas e mesmo criadas culturalmente. Um desenvolvimento técnico – cientifico capaz de transformar as condições de produção, capaz de transformar o mundo do trabalho e ainda capaz de adensar e, portanto, artificializar/transfigurar a natureza (MENDONÇA, 2004, p.117).

Observa-se que a necessidade é de integração do homem com a natureza, sendo que a abordagem que pode contemplar essa integração é o conceito de bacias hidrográficas. Essa mudança analítica enquanto unidade de estudo da relação sociedade/natureza, compreende análises da funcionalidade dos processos, em tempos curtos, pela explicação da morfodinâmica, em relação à análise morfogenética do relevo; da paisagem (SUERTEGARAY, 2009).

Guerra e Marçal (2006) pontuam que a abordagem morfodinâmica tem grande importância para o planejamento e gestão ambiental, pois é a partir destas análises pontuais, que o fenômeno será diagnosticado ou previsto. A importância do estudo integrado da paisagem transforma a Geomorfologia em um grande contribuinte para o planejamento ambiental, sendo que a compreensão dos fenômenos está focada nos processos, com uma perspectiva interdisciplinar e integrada, dos fenômenos que interagem natureza e sociedade (GUERRA e MARÇAL, 2006).

Não se pode somente relevar questões do meio físico para se estudar a complexidade de uma análise ambiental, com a particularidade de a questão ambiental ser interdisciplinar por natureza (SUERTEGARAY, 2001). Essa particularidade dos estudos ambientais faz com que os geógrafos repensem sua área de atuação, não sendo possível mais pensar somente no físico natural em separado da reprodução do espaço expressa pelo homem, pois se necessita agora não só a busca de recursos para a produção, mas também ações reparadoras da natureza e sua dinâmica.

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O que era inatingível fisicamente passa a ser alcançável através do domínio maior da chamada engenharia técnica de intervenção. Com isto, busca-se constantemente o detalhamento da “anatomia da natureza”, para pretensamente saber construir, destruir, reconstruir novos espaços físicos e sociais conforme os interesses econômicos e políticos dominantes para cada tempo histórico (SUERTEGARAY, 2001, p.17).

Observa-se então, outra perspectiva em relação ao tempo, no que diz respeito à valorização prioritária em relação ao espaço, contexto econômico e política atual. A discussão é encaminhada para o desenvolvimento técnico que a atual sociedade alcançou, superando as dimensões espaciais com velocidade, porém imprimindo ao espaço a mesma técnica e velocidade. É assim que a Geomorfologia entra em outra ênfase, que é a do estudo dos seus processos atuando no presente (SUERTEGARAY, 2001).

Hoje a Geomorfologia pode analisar grandes formações regionais de relevo através da Morfogênese, ou então estudar uma vertente em uma área de risco. Essa pluralidade, principalmente nas diferentes abordagens das escalas tempo e espaço, implicam para a disciplina novas discussões. Dentro da relação homem e espaço, a Geomorfologia, pode sim trazer avanços.

Diante disso, a Geomorfologia disciplinar, no ensino superior, deve contribuir para que o profissional em Geografia seja capaz de atuar satisfatoriamente frente às demandas da sociedade desse novo século. Sabe-se que é impossível negligenciar a interação entre o conhecimento científico e as correspondentes condições técnicas, políticas, econômicas, filosóficas e até religiosa, nas quais a sociedade vive em cada tempo (SOUZA, 2009).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente discussão permite perceber o importante papel social da Geografia hoje, seja para um estudo ambiental ou então para o entendimento, planejamento, gestão da organização espacial, onde o homem se apropria e reproduz seu espaço. A Geografia e a Geomorfologia devem assumir plenamente esse papel que tem com a sociedade.

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Percebe-se que a Geomorfologia assume de fato o papel de interlocutor entre sociedade e natureza. Enquanto a Geografia deve assumir a postura (através da Geomorfologia) condizente com sua proposta, que é a de estudar o espaço com todos os seus constituintes, não obstante de sua importância como aglutinador interdisciplinar.

Acredita-se que as reflexões realizadas neste texto não devam ocorrer somente na esfera acadêmica, mas se estender até o ensino de base. Neste nível de ensino se pode iniciar o processo de ruptura da visão dicotômica da Geografia entre o físico e o humano, a partir dos aspectos vividos e percebidos pelos sujeitos diante a realidade. Esta é marcada por paisagens e territórios cujas configurações compreendem a interação dos diversos componentes do espaço geográfico sejam eles culturais, econômicos, políticos e naturais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SALES, Vanda C. Geografia. Sistemas e Análise Ambiental: Abordagem Crítica. GEOUSP

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SOUZA, Carla J. de O. (2009) – Geomorfologia no ensino superior: difícil, mas

interessante! Por quê? Uma discussão a partir dos conhecimentos e das dificuldades entre graduandos de geografia – IGC/UFMG. Belo Horizonte: IGC - UFMG (Tese de

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