PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAUL O ACÓRDÃO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
AGRAVO DE INSTRUMENTO n° 614.281-4/8-00, da Comarca de
ITAQUAQUECETUBA, em que é agravante OLI MA INDUSTRIA DE
ALIMENTOS LIMITADA:
ACORDAM, em Décima Câmara de Direito Privado do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a
seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, V.U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos
Desembargadores GALDINO TOLEDO JÚNIOR e MAURÍCIO VIDIGAL.
São Paulo, 04 de agosto de 2009.
.ANA DE LOURDES COUTINHpT SILVA ^ Presidente e Relatora
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VOTO N ° : 3 6 8 7
AGVO N ° : 6 1 4 . 2 8 1 - 4 / 8 - 0 0
COMARCA: ITAQUAQUECETUBA / POA
AGVTE. : OLI MA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS LIMITADA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL)
AGVDO. : CONCÓRDIA S/A CORRETORA DE VALORES MOBILIÁRIOS, CÂMBIO E COMMODITIES (ADMINISTRADORA DE)
IMISSÃO DE POSSE - Liminar - Pretensão de reforma da decisão que deferiu pedido para liminar imissão da agravada na posse de bem imóvel - Alegação de que não foi notificada da cessão de crédito ocorrida entre o Banco Indusval S/A e a agravada Descabimento -Hipótese em que havia permissão expressa da agravante para que o crédito fosse cedido sem a
sua autorização ou qualquer aviso - Ausência da
aventada violação do artigo 290 do Código Civil - Recurso desprovido.
IMISSÃO DE POSSE - Liminar - Pretensão de reforma da decisão que deferiu pedido de medida liminar para imissão da agravada na posse de bem imóvel - Alegação de que a agravada estava obrigada pela convenção arbitrai pactuada entre a agravante e o Banco Indusval S/A -Descabimento - Hipótese em que o compromisso arbitrai estava previsto para discussões acerca da exigibilidade, certeza ou liquidez do título, bem como para a incidência de juros, entre outros encargos - Desnecessidade de que todas as controvérsias oriundas de um contrato sejam submetidas à solução arbitrai - Precedente do Superior Tribunal de Justiça - Recurso desprovido.
IMISSÃO DE POSSE - Liminar - Pretensão de reforma da decisão que deferiu pedido liminar para imissão da agravada na posse de bem imóvel
Alegação de que não foi constituída em mora -Descabimento - Hipótese em que houve duas notificações extrajudiciais para purgar a mora, nos termos do artigo 26, SI", da Lei n. 9.514/97
(fls. 201-203 e 205-207) - Recurso desprovido. IMISSÃO DE POSSE - Liminar - Pretensão de reforma da decisão que deferiu pedido liminar para imissão da agravada na posse de bem imóvel - Alegação da agravante de que está em recuperação judicial - Descabimento - Hipótese em que que o crédito do proprietário fiduciârio não se submete aos efeitos da recuperação
Agravo de Instrumento n" 614.281-4/8-00 - Itaquaquecetuba / Poa - Voto n° 3687
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judicial, nos termos do artigo 49, parágrafo 3o, da Lei n" 11.101/05 - Prazo de 180 dias de suspensão, previsto no parágrafo 4", do artigo 6a da referida lei, que já se esgotou, de modo a restabelecer, "após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial" - Recurso desprovido.
Trata-se de recurso de agravo, sob a forma de instrumento, interposto por Oli MA Indústria de Alimentos Limitada (em Recuperação Judicial), contra a respeitável decisão reproduzida às fls. 125-126, que, em demanda com pedido de imissão de posse ajuizada por Concórdia S/A Corretora de Valores Mobiliários, Câmbio e Commodities, deferiu a medida liminar requerida para
"a
imissão do autor na posse do imóvel consistente em
prédio industrial com 6.552,65 m
2de área construída e
seu respectivo terreno, constituído pelos lotes 08, 09,
10 e 10-A do loteamento denominado Quinta da Boa Vista,
localizado à Rua.Flor de Maio, n. 656, neste Município
de Itaquaquecetuba" (fls. 126).
Alega a agravante que não foi intimada
"
acerca da cessão de crédito realizada pelo então
credor Banco Indusval S/A e o Agravado Multicrédito,
consoante exige o artigo 290, do Código Civil"
(fls.
09) .
Argumenta que, ddiante da ausência da
notificação da
"cessão havida entre o Banco Indusval
S/A, seu credor original, e o Agravado, esta permanece
sem efeito com relação à Agravante, razão pela qual não
pode ser o Agravado imitido na posse do imóvel da
Agravante com fundamento no referido documento"
(fls.
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Aduz que "o Agravado cessionário estava
também obrigado ao Compromisso Arbitrai firmado entre a Agravante e o primitivo credor" e que o instrumento
particular para instituição de arbitragem "é expresso
ao excluir do compromisso arbitrai apenas e tão somente o caso de *(...) execução de títulos executivos, que será feita judicialmente, nos termos do Livro II, do Código de Processo Civil'" (...) "o que não é o caso, já que o Agravado indevidamente teve a propriedade consolidada em seu favor via execução extrajudicial"
(fls. 11-12).
Sustenta que o "Agravado não juntou aos autos nenhuma comprovação da constituição em mora da Agravante para caracterização do suposto esbulho possessorio, requisito necessário para o deferimento da
liminar" (fls. 13).
Por fim, afirma que "para alcançar o
pleno cumprimento de sua Recuperação Judicial é imperiosa a manutenção da posse da Agravante no imóvel em testilha, dado ser o parque industrial da Agravante, sem o qual restará paralisada toda a atividade industrial, inviabilizando a sua recuperação" (fls. 17) .
Recurso bem processado, deferido o efeito suspensivo (fls. 156) e respondido.
Informações prestadas pelo Juiz singular, às fls. 398-399 e 407-408.
É o relatório.
O presente recurso não comporta provimento.
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Com efeito, em virtude do Contrato de Alienação Fiduciária de Imóvel em Garantia (fls. 195),
foi emitida pela recorrente Cédula de Crédito Bancário em favor do Banco Indusval S/A (fls. 196-199) no valor de R$ 10.000.000,00, sendo alienado fiduciariamente em garantia ao credor o imóvel referido.
O Banco Indusval S/A, por sua vez, cedeu os direitos de crédito à agravada, nos termos do pactuado com a agravante na cláusula 8 da referida
Cédula de Crédito Bancário:
m8. O Indusval, independentemente de aviso
ou autorização, poderá ceder o crédito garantido por este instrumento, hipótese em que também serão transferidos ao novo cessionário, todos os direitos e obrigações inerentes à propriedade em seu nome, nos termos deste instrumento" (fls. 198) .
Portanto, ainda em cognição sumária da situação de direito material, vê-se que havia permissão expressa da agravante de que o crédito poderia ser cedido sem sua.autorização ou qualquer aviso, de modo que não houve a aventada violação ao artigo 290 do Código Civil.
Ademais, a cessão de crédito foi devidamente registrada na matrícula do imóvel, conforme fls. 46 e 46v°.
Em relação ao compromisso arbitrai, foi celebrado entre a agravante e o Banco Indusval S/A um instrumento particular para instituição de arbitragem (Compromisso Arbitrai) (fls. 143), onde ficou pactuado
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w2 . Assim, decidem as partes que, com exceção da execução de títulos executivos, que será feita judicialmente, nos termos do Livro II, do Código de Processo Civil, todas as demais questões referentes a qualquer operação de crédito firmada entre as partes
(em especial, mas não apenas aquelas que digam respeito à discussão dos juros, taxas ou encargos, bem assim à liquidez, à certeza ou à exigibilidade do Contrato, da Cédula de Crédito Bancário ou de qualquer título a eles relacionado), serão definitivamente resolvidas mediante Arbitragem" (fls. 143) .
Pela interpretação da referida cláusula, também ainda em cognição não exauriente exercida no âmbito do presente recurso de agravo, observa-se que a arbitragem seria instituída para a discussão da exigibilidade, certeza ou liquidez do referido título, bem como dúvidas sobre a incidência de juros e outros encargos sobre seu valor.
Todavia, a agravante não se insurgiu contra o valor ou contra a certeza, exigibilidade ou liquidez do título, embora devidamente notificada extrajudicialmente para purgar a mora, nos termos do artigo 26, parágrafo Io, da Lei n° 9.514/97 (fls. 201-203 e 205-207) .
Desse modo, a existência de convenção arbitrai não teria relevância na hipótese ora examinada e não impediria a imissão na posse deferida liminarmente em favor da agravada.
Por outro lado, o Colendo Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou, em caso semlhante, que, ainda que haja cláusula compromissória
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de arbitragem, é possível a execução de título extrajudicial:
PROCESSO CIVIL. POSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO DE TÍTULO QUE CONTÉM CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE AFASTADA. CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS DEVIDA.
- Deve-se a d m i t i r que a c l á u s u l a compromissória p o s s a c o n v i v e r com a n a t u r e z a e x e c u t i v a do t í t u l o . Não s e e x i g e que t o d a s a s c o n t r o v é r s i a s o r i u n d a s de um c o n t r a t o sejam submetidas à s o l u ç ã o a r b i t r a i . Ademais, não é r a z o á v e l e x i g i r que o c r e d o r s e j a o b r i g a d o a i n i c i a r uma a r b i t r a g e m p a r a o b t e r j u i z o de c e r t e z a s o b r e uma c o n f i s s ã o de d í v i d a que, no seu e n t e n d e r , j á c o n s t a do t í t u l o e x e c u t i v o . Além d i s s o , é c e r t o que o á r b i t r o não tem poder c o e r c i t i v o d i r e t o , não podendo impor, c o n t r a a v o n t a d e do devedor, r e s t r i ç õ e s a seu p a t r i m ô n i o , como a p e n h o r a , e nem excussão f o r ç a d a de s e u s b e n s .
- São devidos h o n o r á r i o s t a n t o na p r o c e d ê n c i a quanto na improcedência da exceção de p r é -e x -e c u t i v i d a d -e , d-esd-e qu-e n -e s t a ú l t i m a h i p ó t -e s -e t e n h a se formado c o n t r a d i t ó r i o s o b r e a q u e s t ã o l e v a n t a d a . Recurso E s p e c i a l improvido. (REsp
9 4 4 9 1 7 / S P , R e i . M i n i s t r a NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, j u l g a d o em 1 8 / 0 9 / 2 0 0 8 , DJe 0 3 / 1 0 / 2 0 0 8 ) .
Portanto, não era mesmo caso de
u t i l i z a r - s e da arbitragem para confirmar o c r é d i t o
estampado na Cédula de Crédito Bancária.
Nesse contexto, não se vislumbra
i r r e g u l a r i d a d e alguma no procedimento e x t r a j u d i c i a l
adotado e p r e v i s t o pela Lei n
c9.514/97, que culminou
na adjudicação do imóvel pela agravada, de modo que tem
o credor f i d u c i á r i o o d i r e i t o de ser imitido na posse
do imóvel alienado fiduciariamente nos termos do a r t i g o
30 da r e f e r i d a l e i .
Quanto ao f a t o da r e c o r r e n t e e s t a r em
Recuperação J u d i c i a l , o que se v e r i f i c a é que o c r é d i t o
a* •
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do proprietário fiduciario não se submete aos efeitos da recuperação judicial, nos termos do artigo 49, parágrafo 3°, da Lei n° 11.101/05.
Ademais, o prazo de 180 dias de
suspensão, previsto no parágrafo 4o, do artigo 6o da
referida lei, já se esgotou, de modo a restabelecer, "após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial"
Assim, presentes os requisitos autorizadores para a concessão liminar da imissão na posse do imóvel, de rigor a manutenção integral da r. decisão agravada.
Diante de todo o exposto, nega-se
provimento ao recurso. * . ANA DE LOURDES COUTINH0 SILVA
^ Relatora
Agravo de Instrumento n° 614.281-4/8-00 - Itaquaquecetuba / Poa - Voto n° 3687