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presidente do PSD e derrotou, no Congresso, o candidato da UDN, José Américo da Almeida.

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Academic year: 2021

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No Brasil, o intervalo entre 1945 e 1964 constituiu um período histórico marcado pelo retorno às práticas democráticas que haviam sido interrompidas durante a vigência do Estado Novo (1937-1945) e pelo florescimento do populismo (prática política na qual os líderes fazem apelos diretos às massas urbanas, acenando com reformas na maioria das vezes inexequíveis) que deu origem a um quadro de instabilidade política e econômica. Embora o Brasil tenha crescido em termos econômicos, houve um aumento das distorções setoriais, regionais e sociais da renda no país. A radicalização das posições, os confrontos entre setores conservadores e progressistas e o medo do “perigo comunista” resultaram na implantação do regime militar, um período de mais de vinte anos de autoritarismo e obscurantismo político (1964-1985).

Getúlio Vargas foi deposto pelo general Góis Monteiro e, não havendo pela Constituição de 1937 o cargo de vice-presidente da República, assumiu interinamente o governo o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares. Tratava-se de uma administração eminentemente transitória, com a incumbência de assegurar a ordem, convocar e presidir as eleições prefixadas por Vargas para o dia 2 de dezembro de 1945. Disputaram a presidência o general Eurico Gaspar Dutra (pelo PSD e depois apoiado pelo PTB), o major-brigadeiro Eduardo Gomes (pela UDN), o engenheiro Yedo Fiuza (pelo PCB) e Rolim Teles (pelo Partido Agrário). Ampla margem de votos (Dutra: 55%; Gomes: 35%; Fiuza: 10%) assegurou a vitória absoluta ao candidato do PSD, ex-ministro da Guerra de Getúlio Vargas.

Juntamente com as eleições presidenciais ocorreram aquelas que indicariam os deputados e senadores da nova Assembleia Constituinte. Nessas eleições, o PSD conquistou 42% dos votos (151 cadeiras); a UDN, 26% (77 cadeiras); o PTB, 10% (22 cadeiras); e o PCB, 9% (14 deputados e um senador); os votos e cadeiras restantes couberam aos partidos menores.

A 18 de setembro de 1946, a Assembleia Constituinte promulgou a nova Constituição Federal. A Constituição restabeleceu o cargo de vice-presidente da República e o Congresso, no uso da faculdade transitória de eleger o titular no prazo inicial, escolheu Nereu Ramos (senador por Santa Catarina) para ocupá-lo. Nereu Ramos era

presidente do PSD e derrotou, no Congresso, o candidato da UDN, José Américo da Almeida.

Política interna

O início da administração Dutra foi relativamente pacífico. Mas, já no final de seu primeiro ano de mandato, a UDN posicionava-se contra ele, seguida, em dezembro de 1946, por Getúlio Vargas, senador pelo Rio Grande do Sul eleito pelo PSD (que rompeu definitivamente com Dutra). Não obstante, a maior oposição ao governo vinha do Partido Comunista, que se tornou, em 1945, o mais forte partido comunista da América Latina. Seus parlamentares atacavam violentamente os dispositivos liberais inscritos na Constituição de 1946, além de criticarem os apelos que Dutra fazia aos investidores estrangeiros.

Ocorriam constantes choques entre a polícia e os militantes comunistas. Em maio de 1946, Dutra expurgou todos os funcionários públicos conhecidos como membros do Partido Comunista. Mesmo assim, o partido adquiria cada vez mais importância. Nas eleições estaduais e suplementares para o Congresso (janeiro de 1947), manteve sua posição como o quarto mais poderoso partido do país, além de acrescentar à sua bancada mais dois deputados, elevando a 17 o total de seus parlamentares; ao mesmo tempo, elegia 46 membros em 15 legislaturas estaduais e 18 nas Assembleias do Distrito Federal, sendo a maior bancada da Câmara da capital brasileira (Rio de Janeiro); no Estado de São Paulo, o PCB chegou a superar a UDN, alijando-a do terceiro lugar na votação total. Diante dessa crescente força, o governo Dutra resolveu utilizar a repressão. Havia, na Constituição de 1946, um dispositivo mediante o qual os partidos “antidemocráticos” poderiam ser impedidos de participação aberta na política. Enquadrando o PCB nesse dispositivo, o governo Dutra, em 1947, colocou-o na ilegalidade e seus representantes tiveram seus mandatos cassados. Esse ato governamental coincidiu com o início da Guerra Fria.

Aproveitando-se dessas circunstâncias, o governo Dutra também derrubou os líderes trabalhistas da ala esquerda. A Confederação dos Trabalhadores do Brasil, organizada em 1946 e de tendência esquerdista, foi declarada ilegal e o governo federal interveio em 143 sindicatos (em um total de 944) para eliminar os elementos de esquerda. A supressão oficial do PCB fortaleceu, uma vez mais, o PTB, dirigido por Getúlio Vargas que, à época, personificava um estilo de política “populista”.

Economia

No início do governo Dutra procurou-se retomar a política liberal que havia sido interrompida durante o Estado Novo. A política econômica de seu governo, até 1947, foi responder à inflação então existente devido à guerra com

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o controle aos aumentos de preços por meio de uma política de portas abertas à importação de bens manufaturados. As reservas cambiais, que totalizavam US$ 708 milhões, foram reduzidas e os pequenos saldos externos que sobraram estavam em contas bloqueadas, reduzindo o ativo líquido no exterior a apenas US$ 92 milhões no fim do primeiro semestre de 1947.

Nos dois últimos anos do período Dutra observou-se uma industrialização auxiliada por uma política de crédito mais flexível. No final do período, o Brasil ostentava um bom índice de crescimento econômico: entre 1945 e 1951 o produto real cresceu 6% ao ano e o produto per capita, 3,2% ao ano. Diante da necessidade de coordenar os gastos públicos, Dutra propôs, em maio de 1947, o Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia) que, embora incorporado ao projeto de orçamento federal em 1949, nunca foi inteiramente aplicado, tendo sido abandonado em 1951.

Questão sucessória

Desde a posse de Dutra, os partidários de Vargas desenvolveram gestões para a candidatura deste nas eleições presidenciais de 1950. As eleições de 1945 provaram que Vargas dispunha de prestígio popular, visto que fora eleito senador por dois estados (São Paulo e Rio Grande do Sul) conforme previa a legislação, aceitando o mandato pelo PSD e por seu estado natal (Rio Grande do Sul). Em dezembro de 1946, Getúlio pronunciou um longo discurso no Senado justificando o golpe de 1937 como a única alternativa diante de uma guerra civil iminente. À altura de 1949, a estratégia de Vargas começou a dar frutos, pois conseguiu gradualmente mudar sua imagem de “Vargas, o ditador”, para “Vargas, o democrata”. Para esse novo papel (de democrata) necessitava, entretanto, de um partido. Seus esforços iniciais dirigiram-se à organização do PTB, fundado sob sua inspiração e liderança em 1945 e para o qual, em 1946, pedira apoio, definindo-o como o partido “mais bem-indicado para realizar a felicidade de todos os brasileiros”. Nas eleições de janeiro de 1947, liderando a campanha dos candidatos do PTB ao Congresso, Vargas atacava a “plutocracia” da “democracia capitalista”, na qual a liberdade política era uma “burla”, pois lhe faltava a igualdade social.

Vargas, porém, não se descuidava de seus antigos contatos; sua filiação partidária como senador era pelo PSD. A estratégia era clara: pelo PSD procurava manter a lealdade dos caciques políticos do interior e, pelo PTB, garantir a força eleitoral dos centros urbanos, por meio do enunciado de sua filosofia política, o trabalhismo (uma mistura de medidas de bem-estar social, atividade política da classe operária e nacionalismo econômico). Para alcançar a presidência, entretanto, Getúlio precisava de mais apoio. Para tanto, aproximou-se de Adhemar de Barros e, em consequência, do PSP; além disso, passou a sondar as Forças Armadas, reconciliando-se com Góis Monteiro (que o depusera em 1945) e conseguindo que os militares não vetassem sua candidatura. No início de 1950, o PSP, seguido pelo PTB, lançou sua candidatura para as eleições

presidenciais de 3 de outubro do mesmo ano. O PSD preferiu apresentar candidato próprio, Cristiano Machado, um obscuro advogado e político mineiro, nome de repercussão apenas regional.

A UDN, oposição natural, indicou novamente o brigadeiro Eduardo Gomes. Dessa forma, a força eleitoral de Getúlio repousava no PSP (importantíssimo graças à popularidade de Adhemar de Barros), no PTB e no PSD, onde sua lealdade fosse negociável (em Pernambuco, o PSD se comprometera com Cristiano Machado, e Vargas aliou-se à UDN, cuja razão de ser era o antigetulismo). Durante a campanha, Getúlio criticava o enfoque econômico do governo Dutra e propugnava o aceleramento da industrialização (mais tarde conhecido como política “desenvolvimentista”), enquanto no campo político se opunha à “velha democracia liberal e capitalista”, fundamentada na “desigualdade”, e apoiava a “democracia socialista, a democracia dos trabalhadores”. A 3 de outubro de 1950, Getúlio recebeu 3 849 040 votos (48,7% da votação total), enquanto Eduardo Gomes conseguiu 29,7% dos votos e Cristiano Machado, 21,5%. Era a volta de Getúlio Vargas ao poder.

Ao assumir a presidência em 1951, Getúlio encontrou um Brasil diferente daquele que conhecera em 1930. Embora a agricultura de exportação ainda pesasse bastante como fator de renda para a economia nacional, o Brasil, na década de 1950, já possuía uma economia relativamente diversificada, com o processo de industrialização e urbanização já desencadeado e passando a desempenhar um papel mais importante.

Oposição a Vargas

Antes mesmo da posse no cargo de presidente da República, Vargas passou a ser objeto de oposição violenta pelos udenistas, dos quais se destacavam, principalmente, Aliomar Baleeiro e o então jovem jornalista Carlos Lacerda. Jornais conservadores também não pouparam a eleição de Vargas: entre esses sobressaía-se O Estado de S. Paulo, que insinuava que a posse de Vargas significaria uma volta ao Estado Novo. Diante da oposição udenista, Vargas procurou, por meio da formação de um Ministério heterogêneo, organizar um governo de congraçamento entre as forças políticas, mas essa atitude conciliadora falhou com relação à UDN.

No seio das Forças Armadas, principalmente entre os oficiais do Exército (ainda que estes tivessem garantido a posse de Vargas), cada vez mais se tornava impossível manter a coesão. Essa cisão na oficialidade acontecia entre os chamados “nacionalistas” (que defendiam a Petrobras e o não envolvimento do Brasil na Guerra Fria) e os

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“entreguistas” (partidários das fronteiras ideológicas impostas por essa guerra). O principal expoente da primeira facção era o próprio ministro da Guerra, general Newton Estillac Leal, e o líder da outra tendência, conhecido por sua ferrenha posição anticomunista, era o general Osvaldo Cordeiro de Farias. A oposição militar ganhou tamanha proporção que, em março de 1952, o ministro da Guerra foi forçado a se demitir. Parte das dificuldades de Estillac Leal deveu-se ao agravamento de suas relações pessoais com outro general, também líder e anticomunista declarado, Zenóbio da Costa. Para substituir Estillac Leal foi indicado o general Ciro do Espírito Santo Cardoso, que logo se colocou ao lado dos “nacionalistas”.

O grande embate entre “nacionalistas” e “entreguistas” deu-se na disputa para a diretoria do Clube Militar. Os últimos, com o apoio da grande maioria da imprensa, lançaram como candidatos os generais Alcides Etchegoyen e Nélson de Melo, enquanto a outra facção apresentou à reeleição os generais Estillac Leal e Horta Barbosa. A 21 de maio de 1952, 8 288 votos garantiram ampla vitória a Etchegoyen e Nélson de Melo, sobre os 4 489 votos dados a Estillac Leal e Horta Barbosa. Essa derrota significou, implicitamente, que Vargas perdia apoio nas Forças Armadas, e a cisão refletia um aprofundamento das tensões sociais e políticas na vida brasileira de então. Entre junho e julho de 1953, Getúlio procurou reorganizar seu Ministério: as principais mudanças ocorreram no Ministério da Fazenda e no Ministério do Trabalho, para os quais foram nomeados, respectivamente, Oswaldo Aranha e João Goulart. Essa mudança indicava uma reorientação de sua política, que se voltava, agora, para o fortalecimento do PTB e, por extensão, para procurar garantir o apoio político da classe operária. O novo ministro da Fazenda revelou, em outubro de 1953, o seu programa (Plano Aranha), pelo qual seria implantada uma política de restrição de créditos e alterado o sistema cambial, visando-se conter o processo inflacionário e o deficit na balança de comércio. Esse plano, entretanto, não chegou a ser totalmente aplicado. Enquanto isso, aumentavam violentamente as tensões sociais.

Em 8 de fevereiro de 1954 foi apresentado ao Ministério da Guerra um longo memorial, assinado por 42 coronéis e 39 tenentes-coronéis, no qual se acusava implicitamente o governo de negligenciar as Forças Armadas, especialmente no que dizia respeito a salários e equipamentos. Era mais um sintoma de que se avolumava entre os militares o movimento de protesto a Getúlio. Além do “manifesto dos coronéis”, outro problema agitou a vida política brasileira: o ministro do Trabalho apresentou um projeto de aumento de 100% no salário mínimo. Se de um lado inúmeras greves operárias exigiam o aumento do salário, de outro os empresários indispunham-se com o ministro do Trabalho. Getúlio, diante da crescente oposição, reformou novamente o Ministério, nomeando Hugo de Farias para a pasta do Trabalho, enquanto o general Espírito Santo Cardoso era substituído por Zenóbio da Costa. Essa concessão indicava claramente que Getúlio perdia mais e mais suas bases de

apoio e, com a saída de Jango (João Goulart) do Ministério, o alvo das críticas da oposição passou a ser o próprio Getúlio. Mesmo assim, ele procurou levar adiante sua linha nacionalista, apresentando, em abril de 1954, um projeto de lei que criava a Eletrobrás.

Surgiu, entretanto, nova oportunidade à oposição: João Neves da Fontoura, ministro das Relações Exteriores de 1951 a 1953, deu uma entrevista à imprensa (04.04.1954) acusando Getúlio de ter negociado secretamente com Perón, na Argentina, um pacto entre os governos ABC (Argentina, Brasil e Chile), a fim de formar um bloco contra os Estados Unidos no hemisfério Ocidental. Em vista disso, a UDN decidiu afastar o presidente por meio de uma moção de impedimento (impeachment), a qual não foi aprovada pelo Congresso. À UDN restou, então, a aliança com os setores antigetulistas das Forças Armadas para conseguir a destituição de Getúlio.

Atentado da rua Toneleros

Um agressivo discurso feito em Petrópolis, no dia 1º de maio, veio acelerar a união das oposições: Getúlio anunciara que o aumento do salário mínimo seria de 100%. O clamor do protesto não se fez esperar – a UDN, a classe média e os empresários aumentavam a ofensiva contra Getúlio. No Rio de Janeiro, setores das Forças Armadas conspiravam abertamente a deposição do presidente. Carlos Lacerda, um dos opositores acérrimos de Vargas, escapou, com um leve ferimento, de um atentado, a 5 de agosto, na rua Toneleros (Rio de Janeiro), mas seu acompanhante, o major Rubens Florentino Vaz, da Aeronáutica, faleceu. Inquéritos instaurados pelo Ministério da Justiça e pela Aeronáutica apontavam elementos da guarda pessoal de Getúlio como os responsáveis. Eduardo Gomes e Juarez Távora, encabeçando um grupo de oficiais, exigiram que o ministro da Guerra Zenóbio da Costa solicitasse a renúncia de Getúlio, mas o general reiterou publicamente que “os poderes legalmente constituídos” seriam mantidos.

O auge da crise

Em 21 de agosto, Café Filho – o vice-presidente da República – sugeriu a Getúlio que ambos renunciassem. A resposta de Getúlio foi taxativa: não abandonaria o palácio antes do fim do mandato, exceto “morto”. Em 22 de agosto, um grupo de oficiais da Aeronáutica liderado por Eduardo Gomes lançou um manifesto exigindo a renúncia de Vargas. Em 23 de agosto, Café Filho rompeu publicamente com o presidente, revelando em um discurso no Congresso a proposta feita dias antes. No mesmo dia, 27 generais do Exército – tendo à frente antigetulistas como Canrobert Pereira da Costa, Juarez Távora e também os chamados generais do “centro”, Peri Constant Bevilacqua, Machado Lopes e Henrique Teixeira Lott – lançaram um manifesto em que pediam a renúncia de Getúlio. O próprio ministro da Guerra, impossibilitado de neutralizar as pressões, apresentou, na manhã de 24 de agosto, um ultimato dos militares a Vargas. Pouco depois, Getúlio cometeu o suicídio.

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Getúlio Vargas deixou uma inflamada carta-testamento na qual denunciava os interesses estrangeiros no país. Autêntica ou não, a carta-testamento foi imediatamente aceita pelo povo. Uma onda de simpatia por Getúlio envolveu o país e a reação popular surpreendeu seus opositores: Lacerda, até então “o mártir da rua Toneleros”, precisou se esconder e, em seguida, deixar o país à espera de que a fúria popular amainasse; caminhões de entrega do jornal oposicionista O Globo foram queimados pela multidão enfurecida que se lançou ao assalto da embaixada dos Estados Unidos.

Organização do novo governo

No mesmo dia do suicídio de Vargas, assumiu a Presidência do país o vice-presidente da República, Café Filho, líder do PSP eleito na mesma chapa de Vargas, em 1950, como parte do acordo com Adhemar de Barros. Organizou um Ministério que incluía diversos opositores do ex-presidente, principalmente da UDN, entre os quais se destacavam: Eugênio Gudin, para o Ministério da Fazenda, conhecido por suas posições ortodoxas em questões de economia; Eduardo Gomes, para a pasta da Aeronáutica; almirante Amorim do Vale, para o Ministério da Marinha; e o general Lott, considerado um elemento apolítico, para o Ministério da Guerra.

O primeiro teste político no governo Café Filho ocorreu nas eleições de 3 de outubro de 1954, para o Congresso. Com elas, o PTB aumentou em cinco o número de cadeiras que possuía na Câmara, elegendo 74 deputados, enquanto o PSD aumentou em dois sua representação, passando a ter 114 deputados. Esse resultado indicava que quem quer que fosse eleito no próximo pleito presidencial enfrentaria um Congresso tão complexo quanto aquele que Vargas enfrentara.

Sucessão presidencial

No início de 1955 começaram as movimentações para a sucessão presidencial, cujas eleições seriam em outubro desse ano. O PSD apresentou como candidato a presidente da República o governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek de Oliveira, herdeiro, em certo sentido, de uma das alas do sistema político de Getúlio Vargas. Assim, o PSD procurou entrar em acordo com o PTB para a formação de uma frente comum e, em abril de 1955, a aliança foi celebrada, sendo lançado candidato à vice-presidência da República o ex-ministro do Trabalho de Getúlio, João Goulart. Em maio, sem se deixar deter por sua derrota em outubro de 1954 para Jânio Quadros (que se elegera governador de São Paulo), Adhemar de Barros também se candidatou à Presidência, sendo indicado pelo PSP.

Embora já houvesse lançado Etelvino Lins como candidato, a UDN retirou sua candidatura devido à sua falta de projeção nacional e o substituiu, em junho, por Juarez

Távora. O general Juarez Távora foi líder dos tenentes, aliado de Vargas na Revolução de 1930, “vice-rei do Nordeste” em 1931 e rompeu com Vargas em 1937, tornando-se adido militar no Chile. Retornou ao país em 1945, passando a militar na Cruzada Democrática (eminentemente antigetulista), sendo depois comandante da Escola Superior de Guerra (outro núcleo antigetulista). No governo Café Filho, foi nomeado chefe da Casa Militar do Governo. Antes de sua indicação pela UDN, em maio, Juarez Távora foi indicado pelo Partido Democrata Cristão (PDC).

A oposição getulista, considerando mais do que provável a eleição de JK-JG (PSD e PTB), passou, principalmente por intermédio de Lacerda, a criticar as eleições e solicitar um “pronunciamento” das Forças Armadas. Começaram, então, a circular rumores de golpe, caso a aliança PSD-PTB saísse vitoriosa nas urnas. No dia 3 de outubro, os eleitores sufragaram Juscelino e Jango. Juscelino obteve 36% dos votos; Juarez, 30%; Ademar, 26%; e Plínio Salgado, candidato pelo PRP (Partido de Representação Popular) e antigo dirigente fascista, recebeu 8% dos votos.

Tentativas de golpe

Antes mesmo da posse, os advogados do golpe se manifestaram. Os apelos de Carlos Lacerda tinham o endereço de sempre: para “quem tem nas mãos a força capaz de decidir a questão. Basta que ouçam a voz do seu patriotismo e não a dos que falam em legalidade para entregar o Brasil a contraventores e criminosos do pior dos crimes, que é o de enganar o povo com o dinheiro que lhe roubam”. Foram os comunistas que elegeram Juscelino e Jango, afirmavam seus opositores. A Cruzada Brasileira Anticomunista exigia, pela imprensa, que os dois não tivessem permissão para assumir os cargos para os quais haviam sido “indevidamente eleitos”. Porém, a figura-chave nesse ambiente de tensão era o ministro da Guerra, general Lott, que a 8 de outubro declarou que a Constituição seria cumprida e os eleitos, empossados. Lacerda, por seu lado, esperava poder convocar os generais e intervir diretamente, usando para isso o contato que tinha com um grupo da oficialidade jovem. O primeiro passo foi publicar um documento (a carta Brandi) que tentava provar que Jango havia comprado armas de Perón, em 1953, para equipar milícias operárias. Além de Perón ter sido deposto em setembro de 1955, uma sindicância do Exército constatou que a carta era apócrifa. Isso liberou Jango da acusação, mas a crise continuou a aumentar. Em 1955, no funeral do general Canrobert Pereira da Costa, conhecido antigetulista e anticomunista, a oração fúnebre foi feita pelo então coronel Jurandir Bizarria Mamede, que, após elogios extravagantes à coragem de Canrobert, declarou: “Não será por acaso indiscutível mentira democrática um regime presidencial que, dada a enorme soma de poder que concentra em mãos do Executivo, possa vir a consagrar, para a investidura do mais alto mandatário da nação, uma vitória da minoria?” O general Lott havia forçado a demissão do general Zenóbio da Costa pelo fato de, duas semanas antes, ter exigido

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publicamente a posse dos eleitos. Não punir Mamede seria, portanto, minar seus esforços de evitar pronunciamentos políticos por militares. Porém, o coronel pertencia ao Estado-Maior da Escola Superior de Guerra, subordinado à Presidência da República, e não ao ministro da Guerra. Lott, por meio da assessoria da Presidência, pediu a punição de Mamede mas, a 3 de novembro, Café Filho sofreu um ataque cardíaco que o impossibilitou de prosseguir no cargo. O presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz, assumiu interinamente a Presidência da República.

Governo Carlos Luz (09.11.1955-11.11.1955)

Embora do PSD, Carlos Luz havia se oposto à candidatura de Juscelino e suas relações com o general Lott não eram boas. No dia 9 de novembro, durante a primeira reunião ministerial presidida por Carlos Luz, este se negou a atender ao pedido do Ministério da Guerra de punição ao coronel Mamede. Em protesto, Lott renunciou no dia 10, sendo indicado para substituí-lo o general Fiúza de Castro. Mas Lott já se articulava, mobilizando o comando do Exército no Rio de Janeiro. No dia seguinte, 11 de novembro, unidades do Exército ocuparam os principais prédios públicos, rádios e jornais. Em vista disso, Carlos Luz fugiu em um cruzador, o Tamandaré, que zarpou rumo a Santos. Lott procurou, então, legalizar a deposição de Carlos Luz e constituir outro governo legal. Para isso, o Congresso entrou em sessão no mesmo dia, e por 185 votos contra 72 aprovou a passagem da Presidência da República para o presidente do Senado Federal, Nereu Ramos, de acordo com o prescrito na Constituição.

Em 21 de novembro, Café Filho, ao sair do hospital, declarou que pretendia reassumir os poderes presidenciais. Repetiu-se o que acontecera a 11 de novembro: o Exército nas ruas cercando prédios públicos, rádios e jornais. Em 22 de novembro, a Câmara dos Deputados desqualificou Café Filho do cargo e confirmou Nereu Ramos na Presidência até a posse de Juscelino, em janeiro de 1956. Em 24 de novembro, o Congresso aprovou a solicitação dos ministros militares (de 30 dias de estado de sítio, que foram prorrogados por mais um mês). Carlos Lacerda, que havia embarcado no Tamandaré no dia 11 de novembro, voltou a terra firme e solicitou asilo à Embaixada de Cuba, exilando-se em seguida por um ano.

Os dois “pronunciamentos” militares de novembro levaram a uma reorganização da cisão das Forças Armadas: a divisão, agora, era entre os que apoiaram o “movimento 24 de agosto” e os do “movimento 11 de novembro”. O PSD, o PTB e a própria esquerda viam no “movimento 11 de novembro”, cujo líder era o general Lott, o seu braço militar, enquanto a UDN entendia a oficialidade ligada ao “movimento 24 de agosto” como seu braço político. No dia 31 de janeiro de 1956, Juscelino e Jango foram empossados, respectivamente, na Presidência e vice-Presidência da República.

Desenvolvimento econômico

A administração de Juscelino Kubitschek ficou marcada por suas realizações econômicas. “Energia e transporte” era o lema de seu governo. O presidente havia prometido “50 anos de progresso em 5 de governo” e, com efeito, em sua administração ocorreu um grande desenvolvimento econômico no país. Por exemplo, entre 1955 e 1961:

a produção industrial cresceu 80%; a indústria do aço, 100%;

a indústria mecânica, 125%;

as indústrias elétricas e de comunicações, 380%; as indústrias de equipamentos e transportes, 600%. Entre 1957 e 1961, a taxa de crescimento real foi de 7% ao ano, aproximadamente 4% per capita. Na década de 1950, o crescimento per capita efetivo do Brasil foi cerca de três vezes maior do que o do resto da América Latina. Um conjunto de fatores propiciou esse surto desenvolvimentista, entre os quais se destacaram a existência de um mercado interno em franca expansão e uma política econômica destinada a atrair capitais estrangeiros.

Incentivo às importações destinadas à indústria A fim de implementar seu plano econômico, Juscelino Kubitschek visitou, antes da posse, países com a finalidade de atrair investidores para o setor industrial, acenando com a existência de um mercado de consumo em expansão, mão de obra barata e facilidades fiscais. Para facilitar a importação de equipamentos e insumos industriais, o presidente da República autorizou a importação desses produtos sem o necessário desembolso antecipado de seu valor (como era a prática até então). Segundo esse procedimento, o capital ficava muito tempo imobilizado, desde o momento do pedido de importação até a chegada do produto. Agora, as mercadorias seriam pagas somente quando chegassem ao porto de destino. Essa prática veio facilitar as compras no exterior e fortaleceu as empresas estrangeiras aqui instaladas, que importavam os produtos de suas respectivas matrizes.

De maneira geral, essa medida provocou, entre outros aspectos, uma maior abertura da economia brasileira ao mercado internacional, o fortalecimento das empresas estrangeiras estabelecidas no país e foi um grande estímulo à industrialização acelerada.

Plano de Metas e a construção de Brasília

Também no setor público foi programado um plano de investimentos nas áreas consideradas pontos de estrangulamento da economia nacional, especialmente na geração de energia (hidrelétricas) e vias de comunicação (sobretudo rodovias).

Esses planos foram formalmente apresentados no chamado Plano de Metas. Esse “desenvolvimentismo” da

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era Kubitschek só foi possível, entretanto, devido à relativa estabilidade política que conseguiu manter durante o seu governo.

Em 1956, Juscelino levou ao Congresso um projeto que autorizava a transferência da Capital Federal para o interior e sua construção. Embora essa transferência já estivesse consignada na Constituição de 1891, nunca fora levada adiante pois, devido às condições econômicas do país, era considerada um projeto utópico.

Aprovado o projeto, Juscelino confiou sua execução ao arquiteto Oscar Niemeyer e ao urbanista Lúcio Costa. A construção de Brasília (nome dado à nova capital) serviu também para outros fins, à medida que desviava a atenção de outros problemas difíceis nos setores social e econômico.

JK e os Estados Unidos

Em uma época marcada pela polarização da Guerra Fria, Juscelino Kubitschek seguiu uma política externa de alinhamento com os Estados Unidos, o que agradava a vários setores anticomunistas das Forças Armadas. Contudo, havia na sociedade civil (sobretudo entre grupos de esquerda) abertas expressões de antiamericanismo. Em

meio a manifestações hostis aos Estados Unidos, o vice-presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, visitou,

em maio de 1958, a América Latina como enviado especial do presidente Dwight D. Eisenhower.

Juscelino enviou, em vista das reações à visita, uma carta ao presidente dos Estados Unidos na qual propunha a Operação Pan-Americana (OPA), que implicava um programa de ajuda norte-americana à América Latina, procurando, com isso, conter o surgimento de regimes extremistas, quer de direita, quer de esquerda. Essa proposta teve, no entanto, uma recepção fria por parte de Eisenhower. Esse programa de ajuda, sob novo rótulo, foi mais tarde adotado por Kennedy (a “Aliança para o Progresso”).

Desdobramentos do desenvolvimentismo

Cedo, entretanto, a política econômica de Juscelino Kubitschek mostrou seus flancos vulneráveis: a manutenção dos financiamentos e a inflação. Em 1957, a balança de pagamentos apresentava um deficit de US$ 286 milhões. Em outubro de 1958, Lucas Lopes e Roberto Campos, respectivamente ministro da Fazenda e diretor do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE), lançaram um programa anti-inflacionário de deflação e controle de créditos que, entretanto, era contraditório com a política do governo (favorável à manutenção do fluxo de créditos e investimentos). Juscelino fez uma opção em favor da manutenção da política desenvolvimentista, sepultando o programa anti-inflacionário.

Sucessão presidencial

Na campanha presidencial de 1960 surgiu uma importante figura no cenário político brasileiro. Jânio Quadros, advogado e professor, elegeu-se sucessivamente como

vereador, deputado estadual, prefeito de São Paulo e, em 1954, derrotou a poderosa legenda do PSP paulista para se tornar governador de São Paulo. Seu estilo político baseava-se em uma imagem de “antipolítico” e “administrador honesto”. Procurou colocar-se acima dos partidos políticos: apoiado inicialmente pelo PDC (com o qual rompeu em 1954), elegeu-se, em 1958, deputado federal no Paraná pelo PTB; sua candidatura à Presidência da República foi lançada pela UDN, em novembro de 1959. Enquanto isso, o PSP lançava novamente a candidatura de Adhemar de Barros e a aliança PTB-PSD indicava a chapa Lott-João Goulart. Jânio foi eleito com 48% dos votos, enquanto Lott obteve 28% e Adhemar, 23%. As eleições mostraram também o crescimento do eleitorado: 5,9 milhões em 1945; 7,9 milhões em 1950; 8,6 milhões em 1955 e, em 1960, 11,7 milhões. O vice-presidente eleito foi João Goulart (PTB), que venceu os candidatos Milton Campos (UDN) e Fernando Ferrari (PDC). Apesar da vitória de Jânio, a UDN não era o partido no poder, pois Jânio, por ocasião da homologação de sua candidatura, eximiu-se explicitamente de compromissos políticos com o partido.

Organização do novo governo

O Ministério nomeado por Jânio Quadros representava uma mistura de componentes de partidos cuja razão de ser era o antigetulismo, com destaque para a UDN. Não foram nomeados os líderes de movimentos sem partidos, muito importantes na campanha janista (por exemplo, o Movimento Popular Jânio Quadros – MPJQ).

Clemente Mariani, udenista baiano, ex-presidente do Banco do Brasil (1954--1955) e assessor de Eugênio Gudin no governo Café Filho, foi nomeado ministro da Fazenda. Para o Ministério das Relações Exteriores foi indicado Afonso Arinos de Melo Franco, da UDN mineira. A facção do PSD que apoiou Jânio foi contemplada com o Ministério dos Transportes, para o qual foi nomeado Clóvis Pestana. No Ministério da Guerra foi mantido o ministro do fim do governo de Juscelino, o general Odílio Denys.

Política interna

Em seu discurso de posse, Jânio deu ênfase a dois problemas: a ineficiência governamental e a crise financeira. Destacou o deficit nas dívidas externas: US$ 2 bilhões que deveriam ser pagos durante seu mandato, dos quais US$ 600 milhões ainda em 1961. A campanha presidencial de Jânio Quadros em 1960 o identificava como a “esperança” do “povo abandonado” e tinha como símbolo uma vassoura. De fato, o candidato prometia “varrer a corrupção do país”*.

(*) No Chile, entre 1952 e 1958, o presidente da República era Carlos Ibáñes del Campo que, na campanha eleitoral em 1952, anunciava “varrer com sua vassoura” a corrupção do país, criando na campanha o slogan “O general da esperança”.

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Em março de 1961, desvalorizou o cruzeiro em relação ao dólar e cortou o subsídio dado às importações de trigo e petróleo, o que levou a um aumento nos preços do pão e dos transportes. Desenvolvendo uma política anti-inflacionária de cortes substanciais nos créditos, Jânio anunciou, em maio e junho de 1961, ter conseguido um empréstimo de US$ 2 bilhões, mais US$ 300 milhões para novos financiamentos, o que consolidou a dívida externa brasileira, quer com os EUA, quer com os bancos europeus. Entretanto, as pressões dos empresários e as tensões sociais levaram-no a alterar essa política, seis meses após a posse.

Outro aspecto do governo Jânio Quadros foi o constante ataque à corrupção e à ineficiência da administração pública. Mas, ao lado dos decretos que controlavam as regulamentações administrativas, outras proibições sobre temas de importância quase nula (e desproporcionais ao

cargo de presidente da República) eram emitidas: proibiu-se o uso de lança-perfumes no carnaval, de biquínis

nas praias e as brigas de galos. Política externa

Pano de fundo para grandes controvérsias e aceleração da crise, a política externa foi um importante aspecto de sua administração. Em 1959, Fidel Castro derrubou o ditador Fulgêncio Batista, de Cuba, e profundas transformações políticas e econômicas foram levadas a efeito. Os líderes da revolução vitoriosa, Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara, visitaram quase todos os países da América (inclusive os EUA), explicando o significado da Revolução Cubana. Foram efetuadas reformas, entre as quais se destacava uma radical reforma agrária que afetou interesses estrangeiros em Cuba, principalmente norte-americanos. Apoiada inicialmente pela unanimidade dos países da América, à medida que a revolução aprofundava as reformas no plano interno o aplauso foi sendo substituído pela oposição aberta. Essa situação agravou-se em 1961, quando Fidel Castro declarou que a Revolução Cubana era de caráter socialista. Liderada pelos Estados Unidos, a Organização dos Estados Americanos (OEA) votou a expulsão de Cuba da organização, bem como o bloqueio econômico à ilha.

Antes das eleições presidenciais, Jânio foi convidado, juntamente com o general Lott, a visitar Cuba. Apenas Jânio aceitou o convite e para lá partiu em fins de 1960. Quando assumiu o poder, elaborou, por intermédio de Afonso Arinos, ministro das Relações Exteriores, o que chamou de “política externa independente”, que significava o não reconhecimento das “fronteiras ideológicas” instauradas a partir da Guerra Fria. Essa política, no plano econômico, visava abrir novos mercados para os produtos brasileiros nos países socialistas, assim como garantir créditos estrangeiros que não proviessem dos EUA e das agências internacionais de financiamento, em especial o Fundo Monetário Internacional (FMI). No entanto, essa política externa foi imediatamente contestada, quer no plano externo, quer no plano interno, em que liderava os protestos o então governador do estado da Guanabara, o

porta-voz dos setores declaradamente anticomunistas, Carlos Lacerda. A crise aguçou-se a 19 de agosto de 1961, quando Jânio Quadros condecorou o ministro da Economia de Cuba, Ernesto “Che” Guevara, com a mais alta honraria da Nação: a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Parlamentares, imprensa e militares abriram suas baterias contra esse ato do presidente da República.

Renúncia

Na noite de 24 de agosto, Carlos Lacerda, pela televisão, denunciou “a preparação de um golpe de gabinete” e a conspiração, por Jânio, para a instalação de uma ditadura no Brasil. Na manhã seguinte, 25 de agosto, após participar das solenidades do Dia do Soldado, Jânio deslocou-se para São Paulo, tendo deixado com o seu ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, uma carta-renúncia para ser entregue ao Congresso. O Congresso Nacional reconheceu o ato de renúncia e deu posse como presidente da República, em caráter provisório, ao presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli.

Da renúncia à crise

Pelo artigo 79 da Constituição de 1946, em caso de vacância da Presidência da República, deveria ser empossado imediatamente o vice-presidente. Entretanto, João Goulart encontrava-se em missão oficial na República Popular da China, encabeçando as negociações brasileiras para o desenvolvimento das relações comerciais com aquele país e para tratar do futuro reconhecimento diplomático. Como o vice-presidente não se encontrava no país (e para se cumprir a Constituição), foi empossado interinamente Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados. Embora o presidente fosse Mazzilli, o poder estava de fato em mãos dos ministros militares, ou seja, o general Odílio Denys (Guerra), o brigadeiro Gabriel Grün Moss (Aeronáutica) e o almirante Sílvio Heck (Marinha). Eles declararam imediatamente o estado de sítio*, procurando, dessa forma, impedir possíveis manifestações populares que, nos três dias que se seguiram à renúncia, demonstraram ser de pouca ou quase nenhuma importância. Jânio não institucionalizou, à maneira de Getúlio, um movimento de massas que lhe fosse favorável. No Rio de Janeiro foi publicado um manifesto de líderes operários pedindo a volta de Jânio ao poder, enquanto intelectuais e estudantes manifestavam-se com o mesmo propósito no Rio de Janeiro e em Recife. Alguns governadores – entre os quais Magalhães Pinto (Minas Gerais) e Carvalho Pinto (São Paulo) – publicaram um manifesto implorando a volta do ex-presidente ao poder e a não aceitação da renúncia pelo Congresso Nacional.

(*) Estado de sítio: medida que toma um governo para combater o perigo interno ou externo que ameaça o país, em razão do qual o

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governo assume poderes excepcionais, suspendendo as garantias constitucionais.

Oposição militar à posse de João Goulart

A renúncia de Jânio Quadros criou, porém, um novo problema: João Goulart era tido por muitos setores (entre eles importante facção das Forças Armadas) como pró-comunista. Esses setores opunham-se, com determinação, à sua posse.

Em 28 de agosto de 1961, Ranieri Mazzilli informou ao Congresso Nacional que os ministros militares consideravam a volta de João Goulart ao Brasil “inadmissível por motivos de segurança nacional”. Com isso, esperavam forçar o Congresso Nacional a repetir 1955, quando, em resposta ao golpe preventivo do general Lott, votara-se o impedimento de Carlos Luz. Esse plano incluía também a manutenção de Ranieri Mazzilli no poder até serem convocadas novas eleições presidenciais em um prazo de 60 dias. O Congresso Nacional não aceitou as pressões militares, votando pela posse de João Goulart e propondo uma alternativa por meio da adoção do parlamentarismo no Brasil.

No dia 29 de agosto, os ministros militares publicaram um manifesto em que reiteravam como inaceitável a posse de João Goulart, acusando-o de ser “um notório agitador dos meios operários e de ter entregado a agentes do comunismo internacional postos-chaves nos sindicatos...”. Essa opinião, entretanto, não era unânime no Exército: o general Lott já se manifestara pelo cumprimento da Constituição, insistindo na posse de João Goulart, o que lhe custou a prisão imediata por ordem do ministro da Guerra.

Apoio à posse de João Goulart

O general José Machado Lopes, comandante do 3º Exército (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com quartel-general em Porto Alegre), declarou publicamente seu apoio à posse, tendo sido apoiado por Leonel Brizola (governador do Rio Grande do Sul e cunhado de João Goulart). A partir de então, até o dia 4 de setembro, desenvolveu-se intensa movimentação no meio militar: o tenente-coronel Alfeu de Alcântara Monteiro, que exercia o comando da 5ª zona aérea (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com sede em Porto Alegre) em substituição ao brigadeiro João Arelano dos Passos, declarou-se contra a pretensão dos ministros militares. A situação quase chegou a uma guerra civil.

Rede da legalidade

Os governadores Mauro Borges (Goiás) e Nei Braga (Paraná) também se colocaram, em 30 de agosto de 1961, a favor da posse do vice-presidente. No sul, formou-se a chamada Rede da legalidade que, liderada pelo governador gaúcho Leonel Brizola, conclamava a população a defender a Constituição e, em consequência, a posse de João Goulart.

Nos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, portuários, metalúrgicos, ferroviários, operários navais, rodoviários e

operários da indústria do vidro entraram em greve e proclamaram seu apoio a João Goulart. Em 1º de setembro, 37 sindicatos lançaram um manifesto pela posse de João Goulart. O prefeito de Recife, Miguel Arraes, também garantiu apoio aos governadores do Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás.

Solução para a crise: o parlamentarismo

Ante a possibilidade de uma guerra civil, os ministros militares recuaram e conseguiu-se uma solução conciliatória. O Congresso Nacional aprovou, em 3 de setembro de 1961, o Ato Adicional nº 4 à Constituição de 1946, que instituiu o parlamentarismo no Brasil, fazendo constar, em seu artigo 25, “a realização de um plebiscito que decida pela manutenção do sistema parlamentar ou a volta do sistema presidencial, devendo em tal caso fazer-se a consulta plebiscitária nove mefazer-ses antes do término do atual mandato presidencial”.

Se por um lado garantiu a posse de João Goulart, por outro o parlamentarismo restringiu amplamente o Poder Executivo na medida em que muitos poderes eram transferidos ao primeiro-ministro. Em 7 de setembro de 1961, João Goulart assumiu a Presidência da República.

Posse sob o regime parlamentarista O governo João Goulart pode ser dividido em duas fases:

Fase parlamentarista: 07.09.1961 a 23.01.1963

Fase presidencialista: 23.01.1963 a 31.03.1964

Ao ser empossado, João Goulart organizou seu ministério de modo a respeitar a proporcionalidade do parlamento: ao PSD, partido majoritário, foram destinadas quatro pastas, incluindo o primeiro-ministro (Tancredo Neves). Ao PTB, dois ministérios, entre eles o das Relações Exteriores (San Tiago Dantas). À UDN foram destinados também dois ministérios. O general João de Segadas Viana, mediador entre os militares posicionados contra a posse de João Goulart e aqueles que queriam cumprir a Constituição, recebeu o sempre importante Ministério da Guerra.

Durante a vigência do regime parlamentarista, ocuparam o cargo de primeiro-ministro, sucessivamente, Tancredo Neves, Auro de Moura Andrade (por apenas 48 horas), Francisco Brochado da Rocha e Hermes Lima. Nos seis primeiros meses de governo, João Goulart procurou firmar sua imagem de democrata, acentuando princípios anticomunistas; nesse sentido, viajou a Washington para se encontrar com o presidente norte-americano John Kennedy, de quem conseguiu uma ajuda de US$ 131 milhões para o Nordeste; repudiou o regime cubano e reafirmou os princípios do sistema interamericano. Disso resultou um abrandamento das pressões contra o presidente.

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Reformas de Base

Desde sua campanha para a vice-presidência, João Goulart defendia um programa de reformas fundamentais em setores como o tributário, o administrativo, o bancário-fiscal e o agrário. O programa, que ficou conhecido como Reformas de Base, visava remover aqueles obstáculos que impediam o desenvolvimento do Brasil. As reformas, de amplo espectro, envolviam controversas questões, entre as quais a reforma agrária, o planejamento econômico de pequeno e médio prazos (que resultou no Plano Trienal de Celso Furtado) e a remessa de lucros das empresas estrangeiras para o exterior.

Nos primeiros meses de sua administração, João Goulart procurou ganhar a confiança dos políticos moderados e dos militares, fazendo um governo de conciliação. No entanto, em um discurso proferido em 1º de maio de 1962, João Goulart passou à ofensiva, reclamando a reforma agrária e a modificação do dispositivo constitucional que determinava o pagamento em dinheiro aos proprietários de terras expropriadas. Essa era uma das mais delicadas questões políticas, pois envolvia grandes interesses, sobretudo dos ruralistas. O posicionamento de João Goulart em relação à reforma agrária foi visto pelos setores militares como um indício de que o governo se direcionava para a esquerda, tanto que, pouco antes, como consequência das negociações iniciadas durante o governo de Jânio Quadros, foram reatadas as relações diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética, interrompidas desde 1947.

Por outro lado, João Goulart manobrou para que fossem restabelecidos seus plenos poderes, com a volta ao presidencialismo. Assim, procurando reforçar a corrente de opinião que desacreditava do parlamentarismo, Tancredo Neves renunciou, em junho de 1962, ao cargo de primeiro-ministro. João Goulart indicou San Tiago Dantas para substituí-lo, mas este foi impugnado pelo Exército e a Câmara não aprovou seu nome em função de dois motivos básicos: quando ministro das Relações Exteriores defendeu o não alinhamento automático do Brasil com os Estados Unidos e, internamente, era apoiado pela esquerda do Parlamento e pelo movimento sindical. Portanto, não era um nome confiável e era mais um indício da inclinação à esquerda de João Goulart.

Em razão do clima de tensão que se criou, João Goulart fez uma manobra política, procurando uma saída conciliatória. Indicou, para primeiro-ministro, Auro de Moura Andrade, presidente do Senado e um dos líderes do PSD. Alegando que o presidente da República recusara os ministros por ele indicados, o novo primeiro-ministro renunciou ao cargo. Tal fato colocou o Exército de prontidão e levou a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI) a declarar greve geral. Esse impasse foi resolvido quando João Goulart indicou Francisco de Paula Brochado da Rocha (um dos líderes do PSD do Rio Grande do Sul) para o cargo de primeiro-ministro. A Câmara concordou e foi aprovado outro gabinete, que incluiu Walter Moreira Sales, banqueiro

eminente, no Ministério da Fazenda, e José Ermírio de Moraes, industrial “nacionalista”, como ministro da Indústria e Comércio.

Em agosto de 1962, Brochado da Rocha solicitou poderes especiais ao Congresso, que incluíam a autoridade para o gabinete legislar por decreto. Junto a essa solicitação, apresentou uma lei para que o plebiscito fosse realizado em dezembro de 1962, cerca de dois anos antes do que fora estipulado pelo Ato Adicional (ou seja, em abril de 1965 – ao término do mandato de João Goulart). Os ânimos novamente se exaltaram, sobretudo no meio militar.

O plebiscito e a volta ao presidencialismo

O conflito militar sobre o plebiscito atingiu o auge em fins de agosto, quando os ministros militares (Nélson de Melo, da Guerra; Pedro Paulo de Araújo Suzano, da Marinha; Reinaldo de Carvalho, da Aeronáutica) lançaram um manifesto de apoio à antecipação do plebiscito. Em setembro, o general Jair Dantas Ribeiro, então comandante do 3º Exército, telegrafou ao presidente, ao primeiro-ministro e ao primeiro-ministro da Guerra informando não poder garantir a ordem “se o povo se insurgir contra o fato de o Congresso recusar a marcar o plebiscito para antes ou, no máximo, simultaneamente às eleições de outubro próximo”. Em meio a um quadro de grande instabilidade política, o primeiro-ministro Brochado da Rocha renunciou. Em 14 de setembro de 1962 assumiu o posto Hermes Lima, ministro das Relações Exteriores que passou a acumular as duas funções. No dia seguinte era aprovada pela Câmara a Lei Complementar Capanema-Valadares, que antecipava o plebiscito para 6 de janeiro de 1963.

O parlamentarismo foi revogado por maioria esmagadora de votos e, a 23 de janeiro de 1963, João Goulart recebia plenos poderes para governar, constituindo, em seguida, seu Ministério, no qual se destacaram: João Mangabeira, na Justiça; San Tiago Dantas, na Fazenda; Almino Affonso, no Trabalho; Hermes Lima, nas Relações Exteriores; José Ermírio de Moraes, na Agricultura; Amaury Kruel, na Guerra; Reinaldo de Carvalho, na Aeronáutica; Pedro Paulo de Araújo Suzano, na Marinha; Celso Furtado, no Ministério Extraordinário para Assuntos de Desenvolvimento Econômico.

Problemas econômicos

Ultrapassado esse obstáculo, João Goulart precisava pôr um fim às acusações que lhe eram feitas de negligenciar os problemas econômicos e sociais do país. Assim, encarregou Celso Furtado, o fundador da Sudene, de elaborar um plano de desenvolvimento nacional que resultou no Plano Trienal, cuja primeira fase exigia medidas impopulares, tais como contenção de créditos e rígido congelamento salarial, o que, já de início, provocou manifestações contrárias. Era necessário executar uma lei de reforma fiscal votada pelo Congresso Nacional em fins de 1962 e, logo após, uniformizar as taxas cambiais, o que desvalorizou o cruzeiro. Essa medida contribuiu para o aumento do custo de vida ao elevar o custo (em cruzeiros) das importações para o consumo doméstico. Tal fato serviu

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para que o governo João Goulart (e principalmente seu ministro da Fazenda) se vissem atacados pela esquerda e pela direita, acirrando ainda mais a oposição ao governo. Não bastasse isso, outro problema sério era colocado em discussão: o aumento dos funcionários civis e militares da União, os quais se rebelavam contra o congelamento salarial.

João Goulart apresentou, em março de 1963, um projeto de reforma agrária ao Congresso no qual as expropriações seriam pagas em apólices do governo e não em dinheiro (como determinava a Constituição). Embora constasse do Plano Trienal, tal medida supunha uma emenda constitucional, e esta seria quase impossível de ser aprovada, pois a maioria dos parlamentares estava, direta ou indiretamente, ligada à propriedade da terra, o que levou a emenda a receber uma acirrada oposição. Em junho de 1963, o Ministério foi novamente reformado: a

pasta da Fazenda foi entregue a Carvalho Pinto, ex-governador de São Paulo que, em razão da grave crise

econômica, pouco tempo ficou no cargo, renunciando em dezembro. Assumiu a pasta Nei Galvão, do Rio Grande do Sul. Para tentar debelar a crise, estabeleceram-se controles diretos de preços, criando-se, no início de 1964, a Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab). A sucessão de crises e agitações políticas parecia comprovar a incapacidade de João Goulart para dirigir o governo. A inquietação era geral e cada vez mais João Goulart perdia o apoio daqueles que eram a base de sua sustentação política no Congresso Nacional.

Em busca do respaldo popular

Perdendo suas bases políticas no Congresso Nacional, João Goulart procurou ganhar o apoio popular: marcou para 13 de março de 1964 (sexta-feira) um comício na Praça da República, em frente à estação de trens Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse comício (conhecido como Comício da Central ou Comício das Reformas), 150 mil pessoas assistiram a João Goulart assinar dois decretos: o primeiro nacionalizava todas as refinarias de petróleo particulares; o segundo, que ficou conhecido como “decreto da Supra” (Superintendência da Política Agrária), órgão criado em outubro de 1962, declarava sujeitas a desapropriação todas as propriedades com mais de 100 hectares, localizadas em uma faixa de 10 quilômetros à margem de rodovias ou ferrovias federais, e as terras de mais de 30 hectares, quando situadas em zonas que constituíssem bacias de irrigação dos açudes públicos federais. Na verdade, com seu discurso João Goulart parecia, aos olhos da oposição, ter-se bandeado em definitivo para a esquerda.

Marcha da Família com Deus pela Liberdade Em resposta ao comício, organizou-se em São Paulo, a 19 de março de 1964, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, como um protesto contra as medidas adotadas pelo governo João Goulart. Organizada sobretudo por parte do clero e algumas organizações femininas, congregava setores da classe média sensíveis ao “perigo

comunista”. O movimento era amplamente favorável à deposição do presidente da República. O movimento se expandiu e ganhou a adesão da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, bem como do próprio governador do Estado, Adhemar de Barros. Calcula-se que a manifestação teve a participação de aproximadamente 300 mil pessoas, com a presença do presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, e do governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda. Durante o trajeto, distribuiu-se à população o Manifesto ao povo do Brasil, conclamando o povo a lutar pela deposição de João Goulart. A “Marcha” foi importante como indício da insustentável situação para a qual caminhava o presidente.

A Revolta dos Marinheiros e a crise militar

Um novo incidente ajudou a precipitar a crise: o ministro da Marinha, almirante Sílvio Borges de Sousa Mota, determinou a prisão de um marinheiro por razões disciplinares. Isso levou à rebeldia um grande número de marinheiros e fuzileiros navais que se entrincheiraram, no dia 25 de março de 1964, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro. João Goulart estava em São Borja (Rio Grande do Sul) e foi chamado às pressas ao Rio de Janeiro. No momento em que outras forças da Marinha e do Exército preparavam-se para desalojar os revoltosos, o primeiro ato do presidente foi demitir o ministro, substituindo-o pelo almirante já reformado Paulo Rodrigues. O novo ministro decretou ampla anistia aos rebelados, o que resultou em um manifesto do Clube Militar e de um grupo de almirantes, denunciando o atentado à disciplina e à quebra da hierarquia.

Na noite de 30 de março de 1964, na sede do Automóvel Clube, João Goulart procurou justificar sua atitude na revolta dos marinheiros perante uma enorme plateia de soldados e marinheiros. Pelo tom inflamado dos discursos lá proferidos, à exceção do discurso de João Goulart, já se sabia que a situação era insustentável.

A queda de João Goulart

Nem bem o comício terminou, na madrugada de 31 de março de 1964, e o general Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar do 1º Exército (sediada em Juiz de Fora, Minas Gerais), mobilizava suas tropas em

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direção ao Rio de Janeiro. Paralelamente, em Belo Horizonte, o comandante da 4ª Infantaria Divisionária, general Carlos Luís Guedes, ordenou a prontidão e foi apoiado pelo governador Magalhães Pinto. Enquanto as tropas do general Mourão Filho se deslocavam em direção ao Rio de Janeiro esperando um possível choque com o general Armando de Moraes Ancora (comandante do 1º Exército), Carlos Lacerda entrincheirava-se no Palácio das Laranjeiras, armado com metralhadoras.

Porém, o desfecho dependia da decisão a ser tomada pelo general Amaury Kruel, comandante do 2º Exército em São Paulo. Este, na tarde do dia 31, deu ordens para que seus tanques se deslocassem para o Rio de Janeiro. Na madrugada de 1º de abril, João Goulart deixava o Rio de Janeiro em direção a Brasília. O que parecia ser o início de uma guerra civil transformou-se em uma confraternização entre os soldados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, bem como do 1º e 2º Exércitos. Aproveitando a ida de João Goulart para Porto Alegre na noite de 1º de abril, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vaga, na madrugada do dia 3, à presidência da República e deu posse ao presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli. Esse ato foi ilegal, pois João Goulart deixou o solo brasileiro apenas às 11h30 do dia 3, o que configurou um golpe de Estado.

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