• Nenhum resultado encontrado

1 Direito Processual Penal Aula 01

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "1 Direito Processual Penal Aula 01"

Copied!
25
0
0

Texto

(1)
(2)

INTRODUÇÃO AO PROCESSO PENAL E

PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS

Olá pessoal, tudo bem com vocês!?

Neste material são tratados os assuntos de fontes, princípios, aplicação da lei

processual penal no espaço e no tempo. Espero que ele ajude na

complementação do entendimento dos assuntos, sendo somente 15 páginas

de conteúdo.

Bons estudos!

(3)

Sumário

O PROCESSO PENAL ... 4

CONCEITO ... 4

1. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO... 5

1.1. LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO ... 5

PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE ... 5

1.2. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO ... 6

RESUMINDO: ... 7

2. FONTES DO PROCESSO PENAL ... 9

3. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS ... 11

3.1. SISTEMA INQUISITÓRIO ... 11

3.2. SISTEMA ACUSATÓRIO ... 12

3.3. SISTEMA MISTO ... 14

4. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS ... 14

4.1. PRINCÍPIO DA BUSCA PELA VERDADE REAL ... 14

4.2. PRINCÍPIO DA INÉRCIA ... 16

4.3. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA ... 16

4.4. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA ... 17

4.5. PRINCÍPIO DA INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS 17 4.6. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL ... 18

4.7. PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO OU “FAVOR REI” ... 19

4.8. PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ ... 20

4.9. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E DO PROMOTOR NATURAL ... 20

4.10. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE ... 21

4.11. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO ... 21

(4)

O PROCESSO PENAL

A Carta Magna dispõe em seu art. 1º, parágrafo único, que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou, diretamente, nos termos desta Constituição”. Do texto constitucional retira-se claramente que o Estado é o titular de um poder que deve ser exercido em prol da sociedade. Ocorre, contudo, que tal poder não é ilimitado e, os limites, são impostos pelas normas legais, pelo Direito. Neste contexto é que surge o processo, meio através do qual o Estado poderá exercer o seu poder jurisdicional de forma adequada, proporcional e razoável aos anseios da sociedade. A partir de agora começaremos a tratar do processo, mais especificamente do Processo Penal e, para que você compreenda corretamente este importante ramo jurídico, é necessário aprender, antes de tudo, qual o seu conceito.

CONCEITO

Podemos dizer que o Direito Processual Penal é o conjunto de normas e princípios que vai tornar possível à aplicação do Direito Penal, pelo Estado, no caso concreto. Desta forma, o Processo Penal definirá a atuação do Estado-Juiz na sua relação com o autor e réu, os três principais sujeitos processuais. O fim específico do Processo Penal é o de obter a certeza positiva ou negativa, acerca da violação da lei penal, mediante a intervenção judicial. Pode-se afirmar, portanto que o Processo Penal tem um duplo fim:

FIM ESSENCIAL - Estabelecido em prol do interesse social empenhado na punição dos delinquentes;

FIM CORRELATIVO - Estabelecido em prol da tutela (GUARDA) do interesse privado e social concernente às garantias individuais, principalmente a da liberdade.

Para finalizar a análise conceitual, os fins e objetivos desse ramo do direito (Direito Processual Penal), além de servir como ferramenta, mecanismo ou meio pelo qual o Estado poderá externar o seu Direito Subjetivo de Punir (Jus Puniendi), também servirá para que o indivíduo que está sendo processado, possa ter um devido processo penal, ou seja, para que o réu tenha a oportunidade de poder se defender das acusações que lhe são impostas.

(5)

1. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

A norma processual penal possui uma eficácia (aptidão para produzir efeitos) que não é absoluta, encontrando limitação em determinados fatores, tais como:

FATORES DE ORDEM ESPACIAL - Impõem à norma a produção de seus efeitos em determinados lugares e em outros não.

FATORES DE ORDEM TEMPORAL - Impõem à norma a produção de seus efeitos em determinados períodos de tempo. Diante do exposto, vamos analisar cada um destes fatores no processo penal brasileiro.

Lembrando inicialmente que aqui (aplicação da lei processual penal no tempo) as regras são completamente diferentes das regras do direito penal.

1.1. LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

Dispõe o Código de Processo Penal:

Art. 1°- O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvado:

EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;

II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100);

III - os processos da competência da Justiça Militar;

IV – Os processos de competência dos Tribunais Especiais V – Crimes de imprensa.

O CPP traz para o processo penal o princípio da TERRITORIALIDADE, segundo o qual a lei processual penal aplica-se a todas as infrações cometidas em território brasileiro.

(6)

Apesar de deixar claro que a regra é a territorialidade, o próprio art. 1º do CPP traz algumas exceções à territorialidade do Código de Processo Penal. Vamos conhecê-las: A) OS TRATADOS, AS CONVENÇÕES E REGRAS DE DIREITO INTERNACIONAL; A SUBSCRIÇÃO PELO BRASIL DE TRATADO OU CONVENÇÃO AFASTA A JURISDIÇÃO CRIMINAL BRASILEIRA, FAZENDO COM QUE DETERMINADOS CRIMES SEJAM APRECIADOS POR TRIBUNAIS ESTRANGEIROS.

B) AS PRERROGATIVAS CONSTITUCIONAIS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, DOS MINISTROS DE ESTADO, NOS CRIMES CONEXOS COM OS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, E DOS MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, NOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE (CF/88, ARTS. 86, 89, § 2O, E 100);

C) OS PROCESSOS DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. D) CRIMES DE IMPRENSA.

OBS – A situação do inciso IV, que trata sobre os Tribunais Especiais, sem entrar em muitos detalhes, saiba para a sua prova objetiva que esses Tribunais Especiais não existem mais. Porém, por conta da leitura da lei não apague de sua memória esse inciso, em que não seria aplicado o Código de Processo Penal a estes casos OK!

OBS – IMPORTANTE MENCIONAR QUE, APESAR DO § ÚNICO DESTE ARTIGO DISPOR SOMENTE OS CASOS DOS INCISOS IV E V, HAVENDO OMISSÃO NESSAS LEIS DE CARÁTER PROCESSUAL, O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL (COMUM) PODERÁ SER APLICADO DE FORMA SUBSIDIÁRIA (EM TODOS OS CASOS – ESSA É A POSIÇÃO DA DOUTRINA MAJORITÁRIA).

1.2. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

Este tema encontra-se definido no CPP da seguinte forma:

Art. 2º- A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

(7)

Antes de compreendermos a abrangência do referido artigo, precisamos entender alguns conceitos. Vamos a eles:

ATIVIDADE - Período situado entre a entrada em vigor e a revogação de uma lei durante o qual ela está produzindo efeitos.

EXTRATIVIDADE - É a incidência de uma lei fora do seu período de vigência. Cabe ressaltar que se a lei de caráter processual atingir atos anteriores à sua entrada em vigor, a este fenômeno se dá o nome de RETROATIVIDADE.

Diferentemente, caso produza efeitos após sua revogação, damos o nome de

ULTRATIVIDADE.

RESUMINDO:

O ART. 124 DA CF/88 DEFINE QUE CABE A JUSTIÇA MILITAR JULGAR OS CRIMES MILITARES. ESSES DELITOS VÃO SER APURADOS DE ACORDO COM O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR E NÃO CONFORME O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

DETERMINADAS CONDUTAS, POR QUESTÃO DE POLÍTICA CRIMINAL, NÃO SÃO JULGADAS PELO JUDICIÁRIO, MAS PELO LEGISLATIVO. NO CASO EM TELA, TRATA-SE DE COMPETÊNCIA DO SENADO FEDERAL. (JURISDIÇÃO POLÍTICA)

Entendidos os conceitos, podemos iniciar a análise do art. 2º, segundo o qual, conforme vimos, “a lei processual aplicar-se-á DESDE LOGO (DE APLICAÇÃO IMEDIATA), sem prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”. Quando lemos este artigo, fica claro que o legislador adotou o princípio da aplicação imediata das normas processuais. Assim, pergunto: Se a lei processual penal é mais benéfica para o réu, ela vai retroagir? Se você respondeu “SIM, claro, isso está na Constituição”. A resposta está....INCORRETA!!!

Primeiro por que não se analisa critérios de retroatividade em relação à nova lei processual que entra em vigor. Simplesmente ela vai gerar os seus efeitos a partir do momento em que ela entra em vigor, inclusive em processos em andamento, mudando as regras procedimentais.

(8)

Segundo que, mesmo que pudéssemos falar em retroatividade da lei processual, pouco importaria se ela (nova lei processual) estaria beneficiando ou prejudicando o réu quanto às regras procedimentais referentes ao processo.

Entenda, como se trata de uma lei processual, esta nova lei será aplicada aos processos novos ou aos processos em andamento. Em relação a estes processos em andamento, a nova lei processual é aplicada de imediato, independentemente do fato de prejudicar ou de beneficiar o réu desta relação processual.

Lembre-se que a Constituição fala da seguinte forma:

“Art. 5º [...] XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. (grifo nosso).

Perceba que a CF/88 fala da NÃO retroação da lei penal (ARTIGO DO CÓDIGO PENAL POR EXEMPLO) PARA PREJUDICAR e não da LEI processual penal (ARTIGO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL POR EXEMPLO).

Podemos exemplificar esta situação da seguinte forma: Mévio praticou um crime de homicídio qualificado (hediondo) e, na data do fato havia a possibilidade de concessão de fiança e liberdade provisória. Após alguns meses, durante o processo penal de Mévio, veio lei estabelecer que para crimes hediondos não seja possível os dois institutos anteriormente citados. Conforme dito, a nova lei atingirá o processo de Mévio, mesmo sendo em prejuízo do réu... ou seja... no caso de questões em prova que exijam o conhecimento da aplicação da lei processual penal no tempo em processos que estejam em andamento, se ela prejudica o Réu, AZAR o dele!!!

(APLICAÇÃO IMEDIATA). Guarde isso, se a Lei for de caráter exclusivamente PROCESSUAL, esta lei estará pouco se importando para o bem-estar do réu, ou seja, ela não faz essa análise sobre se é prejudicial ou benéfica, simplesmente é aplicada de forma imediata. (Neste caso supramencionado, Mévio se lascou processualmente)

Importante mencionar que, apesar desta regra da aplicação imediata da lei processual, inclusive nos processos em andamento, esta nova lei processual respeitará os atos processuais já praticados.

(9)

Assim, as consequências para o ordenamento jurídico da regra instituída pelo Art. 2º são:

OS ATOS PROCESSUAIS PRATICADOS NO PERÍODO DE VIGÊNCIA DA LEI REVOGADA NÃO ESTARÃO INVALIDADOS EM VIRTUDE DO ADVENTO DE NOVA LEI, AINDA QUE IMPORTE ESTA EM BENEFÍCIO AO ACUSADO.

A NOVA NORMA PROCESSUAL TERÁ APLICAÇÃO IMEDIATA, NÃO IMPORTANDO, ABSOLUTAMENTE, SE O FATO OBJETO DO PROCESSO CRIMINAL FOI PRATICADO ANTES OU DEPOIS DE SUA VIGÊNCIA.

2. FONTES DO PROCESSO PENAL

Fonte, em sentido usual, é o lugar de onde provém algo. Desta forma, podemos conceituar as fontes do processo penal como o ponto de partida das normas, princípios e preceitos que norteiam este ramo jurídico. Dentre os diversos doutrinadores, a classificação que você precisa ter conhecimento é a que divide as fontes em formais e materiais. Vamos conhecê-la:

FONTES MATERIAIS - Quando falamos em fontes materiais, estamos tratando de quem será responsável pela edição de normas específicas sobre o Processo Penal no nosso País. Para encontramos esta resposta devemos recorrer à Constituição Federal que, em seu art. 22, I, dispõe:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (grifo nosso)

Desta forma, caro (a) aluno (a), podemos afirmar que a única fonte material do Direito Processual Penal é a UNIÃO, correto? ERRADO! Excepcionalmente, lei estadual (ou distrital) poderá tratar sobre questões específicas de Processo Penal, desde que permitido pela União por meio de lei complementar.

(CUIDADO COM PALAVRAS ABSOLUTAS – SEMPRE, NUNCA, ÚNICO), ELAS TENDEM A ESTAR ERRADAS!

(10)

Art. 22, Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

FONTES FORMAIS - No que diz respeito às chamadas fontes formais, diferentemente do que vimos anteriormente, estamos tratando da forma como as normas jurídicas são exteriorizadas. No Direito brasileiro temos como principal fonte formal a lei, que recebe a denominação de fonte imediata. Dentro desta classificação, podemos abranger a Constituição Federal, a legislação infraconstitucional, os tratados, convenções e regras de Direito Internacional e as súmulas vinculantes. Estas últimas estão incluídas no art. 103-A da Carta Magna nos seguintes termos:

Art. 103 - A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

A principal característica da fonte formal imediata é o fato de ela vincular a atuação do Estado, ou seja, se uma lei diz que o Juiz deve agir de uma maneira “X”, obrigatoriamente terá que assim fazer. Além da fonte IMEDIATA, também existem fontes MEDIATAS que, embora não vinculem a atuação do Estado, servem de importante direcionamento na atuação Estatal. São elas:

OS COSTUMES - O costume, que no direito processual penal é denominado “praxe forense”, é a regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme (elemento interno), com a consciência de sua obrigatoriedade (elemento externo). Embora não mencionado no artigo 3° do CPP, que admite a aplicação da analogia e dos princípios gerais do direito, o costume é referido pelo artigo 4° da Lei de Introdução do Código Civil como uma das formas integradoras do Direito, em especial na lacuna da lei, podendo ser considerado como forma de revelação do Direito Processual Penal.

Art. 3° - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. Art. 4o (LICC). Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

(11)

Fala-se em costume secundum legem (de acordo com a lei), extra legem (na ausência de lei) e contra legem (contra a lei). O último, segundo o direito moderno, é proibido.

OS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO - São regras que embora não estejam escritas, mostram-se presentes e informam o ordenamento jurídico.

A ANALOGIA - A analogia é uma forma de auto integração da lei. Na lacuna involuntária desta, aplica-se ao fato não regulado expressamente um dispositivo que disciplina hipótese semelhante. No entender de Bettiol consiste na “extensão de uma norma jurídica de um caso previsto a um caso não previsto com fundamento na semelhança entre os dois casos, porque o princípio informador da norma que deve ser estendida abraça em si também o caso não expressamente nem implicitamente previsto”.

A DOUTRINA - É a manifestação de opinião dos renomados juristas e estudiosos do direito.

A JURISPRUDÊNCIA - Decisões reiteradas a respeito de um mesmo assunto.

Alguns doutrinadores tratam de outras fontes, mas para você, que fará uma PROVA de concurso, são essas as fontes que são de conhecimento necessário.

3. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS

3.1. SISTEMA INQUISITÓRIO

Os sistemas inquisitórios têm seu surgimento em Roma e na Europa medieval. Foram adotados pelos regimes monárquicos e encontraram guarida no direito canônico. Tais modelos foram adotados por quase todas as nações europeias durante os séculos XVI, XVII, XVIII.

Esses sistemas encontram apoio em Estados Totalitários, onde ocorrem supressões da liberdade e garantias individuais dos cidadãos. Verifica-se, também, demasiada violência Estatal em face dos indivíduos, sendo essa a grande característica que se pode apontar na aplicação do Direito Penal. Percebe-se, também, uma evidente inclinação do modelo em buscar, preferencialmente, A CONDENAÇÃO COMO FIM SATISFATÓRIO DO PROCESSO CRIMINAL.

(12)

Dentre as características desses modelos, pode-se dizer que a principal é o acúmulo, pelo mesmo órgão, das funções de acusar, defender e julgar. Outra característica, na verdade uma consequência da primeira, é que a colheita de provas é feita pelo próprio juiz. Verifica-se ainda que o réu, aqui, é tratado como objeto das investigações e não como sujeito de direitos. Sua culpa é presumida e, no mais das vezes, responde ao processo recluso. O processo é sigiloso, sendo que em algumas oportunidades, são negadas as informações até mesmo ao acusado. Como o próprio órgão julgador é o responsável também pelas funções de acusação e defesa, compromete-se a imparcialidade que se espera de todo julgamento. Entende-se que ao realizar a acusação, o julgador já está, de certa forma, apresentando um juízo de valor quanto à questão.

Rangel enumera as principais características dos sistemas inquisitórios:

1. AS TRÊS FUNÇÕES (ACUSAR, DEFENDER E JULGAR) CONCENTRAM- SE NAS MÃOS DE UMA SÓ PESSOA, INICIANDO O JUIZ, EX OFFICIO, A ACUSAÇÃO, QUEBRANDO, ASSIM, SUA IMPARCIALIDADE;

2. O PROCESSO É REGIDO PELO SIGILO, DE FORMA SECRETA, LONGE DOS OLHOS DO POVO;

3. NÃO HÁ CONTRADITÓRIO NEM AMPLA DEFESA, POIS O ACUSADO É MERO OBJETO DO PROCESSO E NÃO SUJEITO DE DIREITOS, NÃO SE LHE CONFERINDO NENHUMA GARANTIA;

4. O SISTEMA DE PROVAS É O DA PROVA TARIFADA OU PROVA LEGAL E, CONSEQUENTEMENTE, A CONFISSÃO É A RAINHA DAS PROVAS.

Pode-se perceber, pelas suas características, que esses sistemas estão em desacordo com os princípios constitucionais de um Estado Democrático de Direito, que primam pela proteção aos direitos e garantias individuais, resguardando a liberdade do cidadão como um dos bens jurídicos de maior valor e merecedor de especial proteção.

3.2. SISTEMA ACUSATÓRIO

É O SISTEMA ADOTADO NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO, apesar de haver

discussão doutrinária em sentido contrário dispondo que o sistema que foi adotado no Brasil foi o MISTO.

(13)

Apesar disso, para prova de concurso de nível médio, adote o entendimento de que o sistema processual adotado é o ACUSATÓRIO.

O que caracteriza o processo acusatório é a rígida separação entre a função de julgar, acusar e defender, a imparcialidade, a ampla defesa, o contraditório e, em decorrência, a paridade entre a acusação e a defesa, a publicidade e a oralidade dos atos processuais, entre outros. Luigi Ferrajoli enfatiza que se pode chamar acusatório "todo sistema processual que configura o juiz como um sujeito passivo rigidamente separado das partes e o processo como iniciativa da acusação, a quem compete provar o alegado, garantindo-se o contraditório”.

Podemos, ao contrário, chamar inquisitório o processo em que o juiz procede de ofício, iniciando o processo, atuando em segredo, com exclusão de qualquer contraditório ou limitação deste. Ainda, seguindo a lição de Rangel as principais características desse sistema são as seguintes:

1. HÁ A SEPARAÇÃO ENTRE AS FUNÇÕES DE ACUSAR, JULGAR E DEFENDER, COM TRÊS PERSONAGENS DISTINTOS: AUTOR, JUIZ E RÉU;

2. O PROCESSO É REGIDO PELO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS, ADMITINDO-SE, COMO EXCEÇÃO, O SIGILO NA PRÁTICA DE DETERMINADOS ATOS

3. OS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA INFORMAM TODO O PROCESSO. O RÉU É SUJEITO DE DIREITOS, GOZANDO DE TODAS AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS QUE LHE SÃO OUTORGADAS;

4. O SISTEMA DE PROVAS ADOTADO É O DO LIVRE CONVENCIMENTO, OU SEJA, A SENTENÇA DEVE SER MOTIVADA COM BASE NAS PROVAS CARREADAS PARA OS AUTOS. O JUIZ ESTÁ LIVRE NA SUA APRECIAÇÃO, PORÉM NÃO PODE SE AFASTAR DO QUE CONSTA NO PROCESSO;

5. IMPARCIALIDADE DO ÓRGÃO JULGADOR, POIS O JUIZ ESTÁ DISTANTE DO CONFLITO DE INTERESSES INSTAURADO ENTRE AS PARTES, MANTENDO SEU EQUILÍBRIO, PORÉM DIRIGINDO O PROCESSO ADOTANDO AS PROVIDENCIAS NECESSÁRIAS À INSTRUÇÃO DO FEITO, INDEFERINDO AS DILIGÊNCIAS INÚTEIS OU MERAMENTE PROTELATÓRIAS.

Na verdade, o que se observa nesse sistema é a limitação do poder estatal de intervenção na vida do indivíduo, que no caso do direito penal se revela pela forma de intervenção do estado mais gravosa, retirando-lhe a liberdade. A Constituição Federal assegura o sistema acusatório no processo penal, haja vista que: as funções de polícia judiciária e a apuração

(14)

de infrações penais incumbem às polícias civis e à polícia federal, e inclusive à militar, no que diz respeito aos crimes militares.

3.3. SISTEMA MISTO

Abrange duas fases processuais distintas: A primeira é inquisitiva, na qual ocorre uma investigação preliminar. A outra é a do julgamento, na qual se aplica todos os conceitos e princípios do sistema acusatório. Cabe ressaltar que, embora não seja um tema pacífico, parte da doutrina entende que o inquérito policial, apesar de inquisitivo, não integra o processo penal propriamente dito e, portanto, não há que se falar em aplicabilidade do sistema misto no Brasil.

Porém, para outra parte da doutrina, e para uma análise mais aprofundada e de aplicação para prova de concursos de nível superior, ou até mesmo para fases subjetivas e orais, este sistema processual misto é visto como sendo o que foi aplicado no Direito Processual Penal Brasileiro. Ainda assim, aconselho a adotar o entendimento de que o sistema adotado em nosso ordenamento jurídico foi o ACUSATÓRIO.

4. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS

O Direito Processual Penal é regido por uma série de princípios e o conhecimento destes é de suma importância para a correta compreensão deste ramo jurídico.

No Processo Penal brasileiro, os princípios representam os postulados fundamentais da política processual penal do Estado e, como refletem as características de determinado momento histórico, sofrem oscilações de acordo com as alterações do regime político. Como se vive sob a égide de um regime democrático, os princípios que regem o Processo Penal devem estar em consonância com a liberdade individual, valor tido como absoluto pela Carta Magna de 1988. Os inúmeros princípios que norteiam o Processo Penal brasileiro encontram-se determinados tanto pela Constituição Federal quanto pelo Código de Processo Penal e serão agora tratados com suas principais características.

4.1. PRINCÍPIO DA BUSCA PELA VERDADE REAL

No processo penal, o Juiz tem a obrigação de colher o maior número de provas possíveis a fim de determinar efetivamente como ocorreu o fato concreto.

(15)

Segundo o STJ: “A busca pela verdade real constitui princípio que rege o Direito Processual Penal. A produção de provas, porque constitui garantia constitucional, pode ser determinada, inclusive pelo Juiz, de ofício, quando julgar necessário”. Desta forma, para ficar bem claro, imaginemos a seguinte situação: Tício mata Mévio e, durante o processo penal, o pai de Tício assume a culpa do feito, exigindo, assim, que seu filho seja liberado. Será que o Juiz é obrigado a aceitar o que esta sendo dito?

A resposta é negativa, pois, como já dissemos, caberá ao judiciário, através da colheita de informações, objetivar a verdade REAL e decidir através da livre apreciação das provas. Contudo, este princípio não é absoluto (DIFICILMENTE VEREMOS PRINCÍPIOS TOTALMENTE ABSOLUTOS), pois há determinadas situações que constituem ressalvas à verdade real, como, por exemplo, as provas obtidas por meios ilícitos, as limitações ao depoimento de algumas testemunhas que têm conhecimento do fato em virtude da profissão, ofício, função ou ministério (art. 208, CPP) e a impossibilidade de apresentação de provas que não tiverem sido juntadas aos autos com antecedência mínima de três dias (veremos estes temas nas próximas aulas).

Diante do exposto, se em um processo penal é apresentado ao Juiz uma interceptação telefônica ilegal, na qual o réu diz “EU MATEI” e, concomitantemente, o depoimento de um padre, o qual tem o dever de silêncio em razão do ofício, que diz que no mesmo dia do homicídio o réu se confessou e contou tudo, nada disso servirá como prova.

Ainda dentro do mesmo processo, imaginemos que, como nos filmes, no momento em que o Juiz ia proferir a decisão apareceu um cinegrafista amador com imagens do momento do homicídio para apresentar. Isso servirá como prova? A resposta é negativa (impossibilidade de apresentação de provas que não tiverem sido juntadas aos autos com antecedência mínima de três dias) e a autoridade judicial terá que se basear somente nos autos, pois, neste caso, “o que não está nos autos, não está no mundo”.

Porém, havendo apresentação de prova ilícita, ou proveniente de meios ilícitos (prova por derivação), pela defesa, sendo esta prova ilícita o único meio para se obter a absolvição do réu, esta prova, mesmo seno ilícita, deverá ser aceita pelo Magistrado.

(16)

4.2. PRINCÍPIO DA INÉRCIA

O princípio da inércia é assinalado pelos axiomas latinos nemo judex sine actore e ne procedat judex ex officio (estas expressões aparecem em prova, atenção a elas), ou seja, não há juiz sem autor, ou o juiz não pode dar início ao processo de ofício sem a provocação da parte interessada.

O CPP prevê expressamente o aludido princípio quando, por intermédio dos art. 24 e art. 30 dispõem que a ação penal pública deve ser promovida pelo Ministério Público, através da denúncia, e que a ação penal privada deve ser promovida pelo ofendido ou por quem caiba representá-lo, mediante queixa.

Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá intentar a ação privada.

Tais dispositivos podem ser confirmados pelo art. 28 do mesmo diploma legal, o qual dispõe que, nos casos em que o órgão do Ministério Público deixa de oferecer a denúncia para requerer o arquivamento do inquérito policial, ainda que o Juiz não concorde com as alegações do MP, não poderá dar início à ação penal ex officio, devendo remeter os autos ao Procurador Geral para que esse tome as providências que julgar cabíveis.

4.3. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Prevê a Constituição Federal que:

Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

Consoante o texto constitucional, existe uma presunção de inocência do acusado da prática de uma infração penal até que haja uma sentença condenatória irrecorrível que o declare culpado, ou seja, é assegurado a todo e qualquer indivíduo um prévio estado de inocência, que só pode ser afastado se houver prova plena do cometimento de um delito.

(17)

Nos termos dos ensinamentos trazidos pelo jurista Antônio Magalhães GOMES FILHO, o princípio em estudo não se limita a uma garantia política do estado de inocência dos cidadãos, devendo também ser analisado sob o enfoque técnico jurídico como regra de julgamento a ser adotada sempre que houver dúvida sobre fato relevante para a decisão do processo, quando a presunção de inocência confunde-se com o princípio in dubio pro reo (na dúvida, em favor do réu).

Ademais, a mencionada norma deve orientar o tratamento do acusado ao longo de todo o processo, impedindo que ele seja equiparado ao culpado. É importante ressaltar que este princípio não impede medidas coercitivas previstas em lei como, por exemplo, a prisão temporária e provisória. Entenderemos melhor isto quando tratarmos sobre as formas de prisão.

4.4. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA

DEFESA

Dispõe a Carta Magna (CONSTITUIÇÃO FEDERAL/1988):

Art. 5º, LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; grifo nosso).

Trataremos primeiramente do contraditório, que nada mais é do que o direito que detêm as partes de terem conhecimento de todas as provas que a elas são imputadas para contradizê-las, contestá-las, enfim, preparar uma defesa. Assim, não existe no processo penal prova secreta.

A ampla defesa encontra correlação com o princípio do contraditório e é o dever que assiste ao Estado de facultar ao acusado a possibilidade de efetuar a mais completa defesa quanto à imputação que lhe foi realizada.

4.5. PRINCÍPIO DA INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS

OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS

(18)

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

Observe que o art. 157 do CPP, alterado pela lei nº 11.690/2008, também discorre sobre o tema:

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

§ 1° - São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.

Perceba que o parágrafo primeiro do supracitado artigo cita as provas derivadas das ilícitas. Deste modo, será válido como prova a arma do crime cuja localização foi obtida por uma interceptação telefônica ilegal? A resposta é negativa, pois a arma, embora lícita por si, deriva de uma prova ilegal. (TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA) Cabe, por fim, ressaltar que a jurisprudência majoritária tem admitido o uso de prova ilícita quando esta é o único meio do réu comprovar sua inocência.

Entenderemos melhor este tópico quadro tratarmos especificamente das provas.

4.6. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

Vivemos em um Estado Democrático de Direito e, assim, a lei define um devido processo para que uma penalização possa ser aplicada a um indivíduo. A fim de evitar qualquer fuga por parte do Estado dos ritos procedimentais estabelecidos no nosso ordenamento jurídico, o texto constitucional nos traz:

Art. 5º, LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

Pode-se conceituar o princípio em estudo, de acordo com a lição do doutrinador Marcos Alexandre Coelho ZILLI, como sendo uma garantia constitucional, atualmente incorporada no campo dos direitos e garantias fundamentais, que visa assegurar às partes interessadas o estabelecimento e o respeito a um processo judicial instituído em lei e conduzido por um juiz natural, sendo que este deve ser dotado de independência e

(19)

imparcialidade, resguardando-se o contraditório, a ampla defesa, a publicidade dos atos e a motivação das decisões ali proferidas.

Este Princípio poderá ser observado quando, no caso concreto, pudermos observar todos os outros Princípios sendo respeitados pelos operadores do direito.

4.7. PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO OU “FAVOR REI”

Também conhecido como princípio do in dubio pro reo, o princípio do favor rei decorre do princípio da presunção de inocência anteriormente estudado.

Baseia-se na predominância do direito de liberdade do acusado, quando colocado em confronto com o direito de punir do Estado, ou seja, na dúvida, sempre prevalece o interesse do réu. O mencionado princípio deve orientar, inclusive, as regras de interpretação, de forma que, diante da existência de duas interpretações antagônicas, deve-se escolher aquela que se apresenta mais favorável ao acusado.

No processo penal, para que seja proferida uma sentença condenatória, é necessário que haja prova da existência de todos os elementos objetivos e subjetivos da norma penal e também da inexistência de qualquer elemento capaz de excluir a culpabilidade e a pena. Algumas situações jurisdicionais não se aplicam este Princípio do In Dubio Pro Reo, mas sim o Princípio do In Dubio Pro Societa. Vejamos:

Nas decisões de recebimento de Denuncia e Queixa; Nas decisões de pronúncia.

Nesses casos supramencionados, na dúvida quanto a autoria e materialidade delitivas, o juiz, para proteger a sociedade, deve decidir pelo recebimento da denuncia ou queixa e pela pronuncia do réu.

Estas situações são permitidas, pois, não traz prejuízos de ordem definitiva e condenatória para este réu.

(20)

4.8. PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ

Quando da determinação de um Juiz para um processo, a atuação deste deve ser completamente imparcial, ou seja, desprovida de qualquer interesse pessoal.

Imaginemos um julgamento em que o Juiz decidirá pela prisão ou não de sua mãe e sua esposa... será que podemos garantir que ele será completamente neutro (imparcial)? Realmente é difícil responder a esta pergunta e, exatamente por isso, o nosso ordenamento jurídico trouxe hipóteses em que, obrigatoriamente, o Juiz deverá alegar sua impossibilidade de realizar o julgamento e outras situações em que as partes poderão solicitar a mudança da autoridade julgadora.

São as hipóteses de impedimentos e suspeições presentes nos arts. 254, 255 e 256 do Código de Processo Penal. Veremos mais detalhadamente este tema ao tratarmos dos sujeitos processuais.

4.9. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E DO PROMOTOR

NATURAL

Consagrado pela CF/88, em seu art. 5º, LIII, o princípio do Juiz natural estabelece que ninguém será sentenciado senão pela autoridade competente, representando a garantia de um órgão julgador técnico e isento, com competência estabelecida na própria Constituição e nas leis de organização judiciária de cada Estado.

Juiz natural é, assim, aquele previamente conhecido, segundo regras objetivas de competência estabelecidas anteriormente à infração penal, investido de garantias que lhe assegurem absoluta independência e imparcialidade. Decorre desse princípio a proibição de criação de juízos ou tribunais de exceção, insculpida no art. 5º, XXXVII, que impõe a declaração de nulidade de qualquer ato judicial emanado de um juízo ou tribunal que houver sido instituído após a prática de determinados fatos criminosos, especificamente para processar e julgar determinadas pessoas.

Faz-se necessário esclarecer que a proibição da constituição de tribunais de exceção não significa impedimento à criação de justiça especializada ou de vara especializada, já que, nesse caso, apenas são reservados a determinados órgãos, inseridos na estrutura

(21)

No mesmo sentido, o princípio do Promotor natural também encontra amparo no art. 5º, LIII, da CF/88, ao determinar que ninguém será processado senão por autoridade competente. O mencionado dispositivo deve ser interpretado em consonância com o art. 127 e 129 da Carta Magna, ou seja, ninguém poderá ser processado criminalmente senão pelo órgão do Ministério Público, dotado de amplas garantias pessoais e institucionais de absoluta independência e liberdade de convicção e com atribuições previamente fixadas e conhecidas.

A garantia do promotor natural consagra a independência do órgão de acusação pública. Representa, ainda, uma garantia de ordem individual, já que limita a possibilidade de persecuções criminais pré-determinadas ou a escolha de promotores específicos para a atuação em certas ações penais.

4.10. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

O princípio constitucional da publicidade, como já tratamos, é característica fundamental do sistema processual acusatório. Mirabete coloca que a publicidade:

"Trata-se de garantia para obstar arbitrariedades e violências contra o acusado e benéfico para a própria Justiça, que, em público, estará mais livre de eventuais pressões, realizando seus fins com mais transparência”.

Esse princípio da publicidade inclui os direitos de assistência, pelo público em geral, dos atos processuais, a narração dos atos processuais e a reprodução dos seus termos pelos meios de comunicação e a consulta dos autos e obtenção de cópias, extratos e certidões de quaisquer deles.

4.11. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

O princípio do duplo grau de jurisdição visa assegurar ao litigante vencido, total ou parcialmente, o direito de submeter a matéria decidida a uma nova apreciação jurisdicional, no mesmo processo, desde que atendidos determinados pressupostos específicos, previstos em lei.

Todo ato decisório do juiz que possa prejudicar um direito ou um interesse da parte deve ser recorrível, como meio de evitar ou emendar os erros e falhas que são inerentes aos

(22)

julgamentos humanos; e, também, como atenção ao sentimento de inconformismo contra julgamento único, que é natural em todo indivíduo.

A doutrina diverge em considerar o duplo grau de jurisdição como um princípio de processo inserido na Constituição Federal, já que inexiste a sua previsão expressa no texto constitucional.

Todavia, a doutrina majoritária acredita que o duplo grau de jurisdição é um princípio processual constitucional. Os doutrinadores fundamentam este posicionamento na competência recursal estabelecida na Constituição Federal. Observe alguns exemplos desta previsão implícita do duplo grau de jurisdição inserido na Carta Magna:

Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

II - julgar, em recurso ordinário:

III - julgar, mediante recurso extraordinário;

Diante disso, apesar de não constar de forma expressa na Constituição Federal, pode-se dizer que o duplo grau de jurisdição ou garantia de reexame das decisões proferidas pelo Poder Judiciário, pode ser incluído no estudo acerca dos princípios do processo penal inseridos no texto constitucional.

5. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

De acordo com Alberto Marques: “a interpretação é a operação intelectual que determina o sentido e o alcance da norma jurídica. Determinar o alcance da norma significa determinar a que casos ela se aplica. Determinar o sentido da norma significa apurar qual a solução que a norma preconiza para o caso em exame”. O tema interpretação é tratado pelo Código de Processo Penal nos seguintes termos:

Art. 3° - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

(23)

Vamos agora desmembrar o Art. 3º e entendê-lo: A lei processual penal admitirá:

INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA - Ocorre quando o intérprete percebe que a letra escrita da lei ficou aquém de sua vontade, ou seja, a lei disse menos do que queria e a

interpretação vai ampliar seu significado.

Outro exemplo é o caso do Art. 254 do CPP que trata dos casos de suspeição do JUIZ, em que é recomendável que ele se afaste do caso, ou seja, não julgue a causa, sob pena de ser declarada a nulidade relativa do seu julgamento. Ex: Quando o JUIZ é amigo íntimo ou inimigo capital de uma das partes do processo penal. Neste caso, sua imparcialidade estaria comprometida.

Apesar do art. 254 do CPP tratar somente de JUIZ, esta norma, fazendo uma análise do seu real sentido (que é a garantia de um julgado totalmente imparcial), no caso do Tribunal do Júri (responsável por julgar os crimes dolosos contra a vida), em que os JURADOS serão responsáveis pela condenação ou absolvição do réu, estas regras de suspeições também serão, por uma INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA, aplicadas a estes casos.

APLICAÇÃO ANALÓGICA - A analogia consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição relativa a um caso semelhante. Exemplo: O legislador, através da lei A, regulou o fato B. O julgador precisa decidir o fato C. Procura e não encontra no direito positivo uma lei adequada a esse fato. Percebe, porém, que há pontos de semelhança entre o fato B (regulado) e o fato C (não regulado). Então, através da analogia, aplica ao fato C a lei A.

Um exemplo mais claro ainda é, no caso de o oficial de justiça perceber que o denunciado (mais tarde denominado réu) está se furtando (fugindo) em receber a CITAÇÂO, este funcionário público realizará a CITAÇÃO POR HORA CERTA. Este instituto, que será alvo de uma outra aula específica, não está previsto no CPP, mas sim no CPC. Como existe uma LACUNA LEGISLATIVA no nosso CPP, aplica-se de forma analógica a CITAÇÃO POR HORA CERTA do CPC.

Lembrando, aqui mais uma vez, a lei processual penal está pouco se importando se essa analogia é para beneficiar ou para prejudicar, simplesmente ela é aplicada!

SUPLEMENTO DOS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO - Na lição de Carlos Roberto Gonçalves, “são regras que se encontram na consciência dos povos e são universalmente aceitas, mesmo que não escritas”.

(24)

“Bom, esta é a nossa aula inicial, responsável por

trazer entendimentos básicos e iniciais em relação

a nossa matéria de Direito Processual Penal”.

“Lembre-se que para a nossa prova de Guarda

Municipal, esta matéria terá peso dois, então,

vamos ter foco e acreditar na aprovação, mas

antes da glória, existe o esforço e a dedicação”.

Até a nossa próxima aula! Sucesso!

(25)

Referências

Documentos relacionados

A portaria designando os membros da Comissão Geral de Seleção, juntamente com as declarações de inexistência de impedimento e suspeição de cada membro dessa Comissão em função

PEOPLE ON TIME CONSULTORIA, PLANEJAMENTO E SERVIÇOS DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO LTDA - EPP GREEN LINK ESTUDOS AMBIENTAIS LTDA - ME. NEOTREND ASSESSORIA EMPRESARIAL LTDA

O efeito citotóxico dos extratos orgânicos demonstrou que o extrato etéreo apresentou melhor atividade, com inibição de 42,15% frente à linhagem celular sarcoma 180 e

Conforme destacado, a rivaroxabana é um anticoagulante corriqueiramente utilizado no tratamento de trombose venosa profunda (TVP), complicação que pode ser ocasionada

Em regiões frias de altitudes elevadas, a maturação dos frutos tende a ser mais precoce, por isso recomendam-se cultivares mais tardias para essas re- giões. Em regiões mais quentes,

0,438 Abertura de boca (qualitativa) versus Grupo Qui-quadrado de Pearson 0,662 corte axial direito versus Grupo e Deslocamento ANOVA Simples 0,037 T1 a direito versus Grupo

A presença dos caranguejos dulcícolas com distribuição normal em relação às classes de tamanho, bem como a ocorrência de fêmeas carregando jovens no

Para alcançar as finalidades enunciadas na introdução deste documento, os responsáveis do Movimento dos Focolares em Portugal, criaram uma comissão, denominada Comissão para