PIAUÍ Ofício n° 552/2014-GP
2a V/A (RECIBO)
Teresina-PI, 04 de setembro de 2014.
A Sua Excelência o Senhor
Des. Sebastião Ribeiro Martins
Corregedor Geral de Justiça do Estado do Piauí Praça Desembargador Edgard Nogueira - Cabral CEP: 64000-830
Teresina-PI
Assunto: Depósitos e Alvarás Judiciais. Alteração do Código de Normas.
Excelentíssimo Senhor Corregedor,
Ao tempo em que o cumprimentamos, vimos respeitosamente à presença de Vossa Excelência solicitar a edição de ato normativo que modifique o Código de
Normas dessa Corregedoria. padronizando e otimizando a regulamentação da matéria de alvarás judiciais no âmbito do Io grau de jurisdição, inclusive nos Juizados Especiais.
Nesse contexto, é relevante que sejam abordados o conteúdo (forma de confecção) dos alvarás judiciais para levantamento de valores depositados em instituições financeiras, indicando-se o objeto do alvará, o beneficiário do respectivo valor, o(s) legitimado(s) para retirar o documento junto à Secretaria Judicial, bem como para levantamento (saque) do numerário junto à instituição financeira credenciada.
No intuito de melhor detalhar o presente pleito, trazemos à apreciação de Vossa Excelência todas as situações que esta Seccional entende possíveis no que diz
respeito a essa matéria, bem como a normas aplicáveis para cada uma delas.
I - VALORES OBJETO DOS ALVARÁS JUDICIAIS A) benefício econômico da parte;
A.l - ação com procuração adjudicia sem poderes especiais;
A.2 - ação com procuração ad judicia com poderes especiais para receber e
dar quitação;
B) honorários advocatícios contratuais a serem pagos do benefício
econômico da parte (honorários de êxito / cláusula quota litis /percentual); C) honorários advocatícios de sucumbência.
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II - QUADRO ESQUEMÁTICO. NORMAS APLICÁVEIS.
Objeto do Alvará Beneficiário
do valor Legitimado(s) para retirar o alvará na Secretaria Judicial Legitimado(s) para realizar o levantamento (saque) no banco A.l - Benefício econômico da parte, com procuração sem poderes especiais
Parte Parte ou Advogado Parte, na presença do Advogado (munido de certidão de habilitação no processo) A.2 - Benefício econômico da parte, com procuração com poderes especiais para receber e dar quitação (art. 38
do CPC1
Parte Parte ou Advogado
Parte, na presença do Advogado o u Advogado, isoladamente (munido de certidão de habilitação no processo) B - Honorários advocatícios contratuais (art. 22, § 4°, da Lei 8.906794)2
Advogado Advogado Advogado
C - Honorários advocatícios sucumbcnciais
(art. 23 da Lei 8.906/94)3
Advogado Advogado Advogado
1 Art. 38. A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao
direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso.
2 Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos
honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência. (-)
§ 4o Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o
mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos
diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já
os pagou.
3 Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem
ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo
requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor.
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Apresentado o quadro acima, é pertinente apresentar as seguintes
considerações:
II.1 - Ato de retirada do Alvará em Secretaria Judicial
Uma vez expedido o alvará referente ao benefício econômico auferido pela
parte, é legítimo tanto a ela própria quanto ao seu advogado retirar tal documento em secretaria.
Isso, porque a posse do documento diz respeito a ambos: à parte, enquanto destinatária da verba a ser paga pelo banco; e ao advogado, por ser o profissional habilitado para praticar o ato da retirada do documento em secretaria, que nada mais é do que um ato processual.
Além disso, requisitar a presença de ambos para o ato de retirada do alvará
em secretaria se mostra um esforço desnecessário, uma vez que caso seja exigida a presença de ambos para o saque do numerário junto ao banco (na forma ora requerida e exposta no tópico seguinte), estará excluída a possibilidade de qualquer dos envolvidos
(parte ou advogado) receber o dinheiro sem o conhecimento do outro.
Desse modo, requer-se normatização no sentido de garantir tanto à parte quanto ao(s) seu(s) advogado(s) a retirada, junto à Secretaria Judicial competente, do alvará referente ao benefício econômico auferido pelo jurisdicionado por força da
decisão prolatada no processo.
II.2 - Necessidade de a parte estar acompanhada do advogado perante a instituição
financeira
Quando o advogado não faz uso do direito previsto no art. 22, § 4o, da Lei
8.906/94, qual seja, o de expedição de alvará em apartado (em seu próprio nome) para
recebimento de honorários contratuais de êxito, tal verba fica pendente de pagamento
pela parte ao advogado que por ela trabalhou.
Ocorre que esta Seccional tem recebido relatos de advogados informando que, em algumas oportunidades, os constituintes recebem os valores junto ao banco e dificultam o pagamento dos honorários contratuais devidos aos patronos que atuaram da
c a u s a .
Visando evitar esse tipo de situação, que impede o advogado de receber verba de natureza alimentar, mostra-se razoável que a parte se faça acompanhar por seu
advogado no momento do recebimento dos valores junto à instituição financeira, oportunidade apropriada para o adimplemento da obrigação de pagamento dos
honorários contratuais.
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Ressalte-se que tal modelo já é adotado há alguns anos e de forma exitosa pelo Tribunal Regional do Trabalho da 22a Região (vide cópia do alvará em anexo), onde praticamente se extirpou o problema de inadimplemento de honorários contratuais devidos pelas partes a seus advogados.
Portanto, requer-se que tal sistemática seja adotada também pelo Poder Judiciário do Piauí, de forma garantir o bom funcionamento do Sistema de Justiça.
II.3 - Procuração com poderes especiais para receber e dar quitação. Expedição de certidão de habilitação do (s) advogado(s) pela Secretaria da Vara/Juizado.
Conforme consta do art. 38 do CPC, a procuração judicial deixa de ser geral
e passa a ser especial quando nela consta expressamente a outorga de alguns poderes, tais como o de receber valores em do constituinte (parte) e o dar a respectiva quitação.
Em razão disso, o Conselho Federal da OAB estabeleceu entendimento com
o Conselho da Justiça Federal, que já orientou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica
Federal a respeito do tema (vide ofício em anexo).
Nesse contexto, é permitido ao advogado a utilização, para saque junto à
instituição financeira, da procuração já constante dos autos, qual seja. ad judicia com poderes especiais para receber e dar quitação em nome da parte (beneficiária dos valores), que lhe legitimamente constituíra o causídico para esse fim.
Assim, requer-se que nesses casos o alvará judicial indique expressamente que o advogado está autorizado a, independentemente da presença do beneficiário do valor (parte), receber os valores depositados em favor da mesma, bem como que o alvará seja acompanhado de certidão emitida pela Secretaria da Vara/Juizado, atestando qual ou quais os advogados estão habilitados nos autos e que poderão, isoladamente,
sacar o numerário da parte junto ao banco.
II.4 - Honorários advocatícios contratuais e sucumbenciais.
Por fim, insta ressaltar que os honorários advocatícios, sejam contratuais, sucumbenciais ou fixados por arbitrados judicialmente, são verbas de natureza alimentar
e que, por não se confundirem com os valores a que têm direito as partes, podem ser
executados autonomamente pelos advogados. Trata-se, a propósito, de matéria pacífica
tanto no Supremo Tribunal Federal4 quanto no Superior Tribunal de Justiçai
4 AgRgSusp. Liminar 158-2 em EDcl em RE 470.407-2, j. 11.10.2007. 5 REsp 293.552, j. 06.12.2007.
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III - DA REDAÇÃO PROPOSTA
A fim de contemplar o presente requerimento, propõe-se a seguinte redação
para o artigo 140 do Código de Normas da Corregedoria-Geral de Justiça:
Art. 140. O levantamento ou a utilização das importâncias depositadas será realizado por meio de alvará assinado pelo Juiz, sendo obrigatória a utilização de selo de fiscalização. § Io O alvará conterá o nome da parte beneficiária pelo levantamento, bem como o número da conta, o número dos autos e o valor autorizado.
§ 2°No alvará referente ao benefício econômico auferido pela parte deverá constar a orientação de que a instituição financeira depositária do valor somente deverá efetuar o pagamento à parte beneficiária caso a mesma se faça acompanhar, no ato do recebimento do numerário, de um
dos advogados habilitados no processo.
§ 3o Quando houver nos autos procuração outorgando ao advogado poderes especiais para receber e dar quitação, no
alvará referente ao benefício econômico auferido pela parte
deverá constar a orientação de que a instituição financeira depositária do valor está autorizada a efetuar o pagamento ao advogado, isoladamente, ou à parte beneficiária, desde que a mesma se faça acompanhar, no ato do recebimento do
numerário, de um dos advogados habilitados no processo.
§ 4o Nos casos dos §§ 3o e 4o, deverá a Secretaria Judicial
expedir certidão indicando qual ou quais os advogados estão habilitados nos autos para representar e/ou acompanhar a
parte beneficiária junto à instituição financeira.
§ 5o O alvará referente ao benefício econômico auferido pela parte poderá ser retirado junto à Secretaria Judicial pelo próprio beneficiário ou por um de seus advogados
habilitados no processo.
§ 6o O crédito referente a honorários advocatícios
sucumbenciais será objeto de alvará específico.
§ T O crédito referente a honorários advocatícios
contratuais poderá ser objeto de alvará específico, desde que
atendidos os requisitos estabelecidos no art. 22, § 4o, da Lei
8.906/94.
§ 8o Em qualquer caso, o alvará referente a honorários
advocatícios indicará o nome de um ou mais advogados
beneficiários e somente poderá ser retirado junto à
Secretaria Judicial por qualquer deles.
§ 9o Dos alvarás de que tratam este artigo serão juntadas
cópias aos autos, nas quais constará o recebimento da via
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IV - DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, a Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Piauí
requer a Vossa Excelência seja acatada a presente proposta referente à matéria de
alvarás para levantamento de depósitos judiciais, de forma a incluí-la no Código de
Normas da Corregedoria Geral de Justiça.
Uma vez definida a normatização, requer seja expedido ofício circular ao
Banco do Brasil e às demais instituições financeiras credenciadas, esclarecendo acerca dos procedimentos a serem adotados pelas unidades jurisdicionais do Estado do Piauí acerca dos alvarás judiciais, bem como solicitando a colaboração das referidas instituições - através de todas as suas agências - com a implementação do procedimento, como meio de garantir o bom funcionamento do Sistema de Justiça.
Na certeza da atenção usualmente prestada a esta Seccional, externamos votos de elevado respeito.
Atenciosamente,
Willian Guimarães Santosjm: Carvalho
Presidentèsáa_OAÉ/PlSigifroiMoreno Filho
Presidente da Comissão de Relacionamento com o Poder Judiciário da OAB/PI
Danil
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