SECÇÃO IV
SECÇÃO IV
OUTROS ASSUNTOS
I.
Trabalho relativo à declaração de rendimentos e interesses
patrimoniais
Nos termos do n.º 5 do art. 4.º da Lei n.º 10/2000, compete ao CCAC “fi scalizar a licitude e a correcção administrativa de actos que envolvem interesses patrimoniais”.
Em 2010, fez 12 anos da entrada em vigor da Lei da Declaração de Rendimentos e Interesses Patrimoniais (em vigor desde 1998). Ao longo destes 12 anos, o CCAC reforçou a comunicação com serviços públicos e conseguiu a cooperação dos trabalhadores da função pública e respectivos cônjuges ou unidos de facto, não tendo nenhum declarante ou pessoa que se limite a facultar os elementos necessários ao preenchimento da declaração sido juridicamente responsabilizado por falta de entrega da declaração ou pela sua apresentação com irregularidades, tendo os trabalhos relativos à declaração de rendimentos e interesses patrimoniais obtido o resultado desejado.
Em 2010, o CCAC recebeu 13.015 declarações de rendimentos e interesses patrimoniais dos trabalhadores da função pública. Apresenta-se de seguida a estatística correspondente ao número de declarantes em 2010.
MAPA ESTATÍSTICO DO NÚMERO DE PESSOAS QUE APRESENTARAM DECLARAÇÕES DE RENDIMENTOS
No âmbito das actividades de divulgação e promoção junto da comunidade, o CCAC continuou, em 2010, a realizar sessões de esclarecimento sobre a declaração de rendimentos e interesses patrimoniais destinadas aos serviços públicos que recrutaram novos trabalhadores. A realização destas sessões de esclarecimento permitiu aos novos trabalhadores da função pública, por um lado, compreender melhor o signifi cado e a importância do dever de apresentação da declaração e conhecer o teor da respectiva legislação, e, por outro, auxiliá-los a proceder, na prática, a um correcto preenchimento da declaração. A divulgação e os trabalhos relacionados com a declaração de rendimentos são tarefas contínuas do CCAC que permitem aos funcionários públicos e residentes conhecerem melhor o respectivo regime jurídico, reforçando, deste modo, o apoio e a participação no cumprimento da lei. Nesta medida, tendo em vista a edifi cação de um governo efi ciente e transparente, estas acções possuem grande importância.
II. Acções de formação e intercâmbio
No intuito de reforçar a equipa de investigação dos Serviços contra a Corrupção, e considerando que 4 fi nalistas do 7.º Curso de Formação para Pessoal Investigador não haviam ainda ingressado na carreira de investigador, o Comissariado realizou, em Abril de 2010, a transição destes elementos para a respectiva carreira, reforçando assim os seus recursos humanos para fazer face ao crescente trabalho no âmbito do combate à corrupção e melhorar as estratégias de investigação dos casos relacionados com a corrupção no sector privado.
1. Formação profi ssional
O Comissariado tem sempre atribuído grande importância à formação profi ssional do seu pessoal. Em 2010, foram organizados vários cursos internos, entre os quais, os seguintes:
(1) Palestra sobre a provedoria de justiça, presidida pelo Dr. Alberto Manuel Gonçalves Mendes, ex-juiz desembargador de Portugal, para reforçar o conhecimento profi ssional dos investigadores neste âmbito.
(2) Curso de Formação sobre o Regime Jurídico de Aquisição de Bens e Serviços, para elevar o conhecimento do seu pessoal sobre o tema.
(3) Curso de aperfeiçoamento de técnicas de investigação, co-organizado pela Universidade de Segurança Pública do Povo da China, no âmbito do qual foram enviados 10 investigadores a Pequim.
A par disso, o Comissariado enviou o aludido pessoal para participar em vários cursos de formação no exterior, destacando-se o “30th Chief Investigators Command
Course (CICC)” e o “Firearms and Close Protection Course”, realizados na
Comissão Independente contra a Corrupção (ICAC) de Hong Kong, e o “Financial
Investigation Course” e o “Use of Force Instructor Course”, realizados pela Polícia
de Hong Kong.
2. Seminário “Publicidade do Orçamento e Prevenção e Combate à Corrupção”, realizado conjuntamente pelo Ministério da Supervisão da China, pelo CCAC de Macau e pela ICAC de Hong Kong
Comissário contra a Corrupção, Fong Man Chong, e Reitor da Universidade de Segurança
Pública do Povo Chinês, Cheng Lin (centro), presidindo à cerimónia de encerramento Dr. Alberto Mendes, ex-juiz desembargador de
Portugal, formando o pessoal investigador do CCAC
Em Agosto de 2010, o Ministério da Supervisão da República Popular da China, o CCAC e a Comissão Independente contra a Corrupção (ICAC) de Hong Kong realizaram conjuntamente um seminário sobre “Publicidade do Orçamento e Prevenção e Combate à Corrupção”, no município de Harbin da Província de Heilongjiang, no intuito de discutir práticas efi cazes destinadas a promover a publicidade do orçamento nas
três regiões e a desempenhar efi cazmente as funções de supervisão e anti-corrupção. O Seminário contou com a presença da Ministra da Supervisão e Directora da Direcção Nacional de Prevenção da Corrupção, Ma Wen; do Vice-Ministro e Sub-Director da Direcção Nacional de Prevenção da Corrupção, Qu Wanxiang; do Vice-Governador do Governo Popular da Província de Heilongjiang, Du Jiahao; do Sub-Director da Direcção Nacional de Prevenção da Corrupção, Cui Hairong; do Comissário contra a Corrupção de Macau, Fong Man Chong e do Comissário da Comissão Independente contra a Corrupção de Hong Kong, Timothy Tong Hin-ming, que também presidiram à respectiva cerimónia de abertura.
O seminário foi dividido em três painéis subordinados a diversos temas, designadamente, “Fundamentos legais e efeitos práticos da publicidade do orçamento”, “Conteúdo e formas de publicidade do orçamento”, e “Garantia de supervisão e perspectivas da publicidade do orçamento”. O evento contou com a presença de cerca de 80 participantes, incluindo representantes dos respectivos departamentos do Conselho do Estado, de algumas províncias e municípios, especialistas, académicos e as delegações de Hong Kong e Macau. Os representantes das três regiões encetaram discussões profundas e partilharam experiências sobre os problemas da publicidade do orçamento bem como a forma mais efi caz para a sua fi scalização. Os representantes do CCAC, da Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça e da Direcção dos Serviços de Finanças proferiram também no seminário os respectivos discursos.
Comissário contra a Corrupção, Fong Man Chong, discursando no seminário
3. Participação em seminários do exterior
Em 2010, o Comissariado enviou delegações a participarem em seminários realizados pelas autoridades contra a corrupção do exterior, com o intuito de reforçar contactos com as suas instituições congéneres e de trocar ideias sobre os trabalhos de combate à corrupção e de promoção da integridade para a promoção de uma sociedade íntegra. Inclui-se, entre outros, a participação no Seminário “Collaborative
Governance and Integrity Management”, organizado pela ICAC de Hong Kong,
onde os elementos do CCAC discutiram o tema com especialistas e académicos provenientes da China Continental, de Hong Kong, do Reino Unido e dos EUA, e apresentaram a gestão íntegra do Governo da RAEM.
Além disso, uma delegação enviada pelo Comissariado participou na Conferência sobre Controlo e Fiscalização do Poder e 3.º Fórum de Xihu, subordinado ao tema “Luta contra a Corrupção”, co-organizado pelo Gabinete de Estudos da Comissão Central de Inspecção Disciplinar do Partido Comunista da China e pelo Centro de Estudos contra a Corrupção do Ministério da Supervisão. A convite da entidade organizadora, o Comissário contra a Corrupção, Fong Man Chong, apresentou no seu discurso o regime vigente em Macau e o conjunto de acções promovidas pelo Governo da RAEM para a promoção da integridade.
4. 5.os Jogos Desportivos dos Agentes de Autoridades das Instituições contra a
Corrupção de Guangdong, Hong Kong e Macau
Entre 15 e 16 de Outubro de 2010, realizaram-se, no município de Jiangmen da Província de Guangdong, os “5.os Jogos
Desportivos dos Agentes de Autoridades das Instituições contra a Corrupção de Guangdong, Hong Kong e Macau”. O Comissariado enviou 46 elementos para participar em várias modalidades, incluindo basquetebol, badminton, ténis de mesa, bowling e corrida.
A cerimónia de inauguração foi presidida pelo Vice-Procurador da Procuradoria Popular da Província de Guangdong, Ou Mingyu; pelo Director de Investigação (Sector Governamental) da ICAC de Hong Kong, Ryan Wong Sai Chiu; e pelo Chefe do Gabinete do Comissário contra a Corrupção de Macau, Sam Vai Keong. Após 2 dias de jogos, o CCAC ganhou o primeiro lugar no resultado fi nal, obtendo 2 medalhas de ouro, 2 medalhas de prata e 1 medalha de bronze. Este foi o resultado do esforço dos atletas do Comissariado que participaram com entusiasmo e alto espírito de equipa.
A cerimónia de encerramento foi realizada a 16 de Outubro. O Chefe do Gabinete do Comissário, Sam Vai Keong, salientou que o evento desportivo conseguiu os objectivos a que se propôs, nomeadamente, reforçar os contactos e a cooperação entre as autoridades das instituições contra a corrupção das três partes. Sam Vai Keong manifestou o desejo de que, no próximo ano, os dirigentes e os atletas de Guongdong e Hong Kong possam deslocar-se a Macau para participar nos “6.os
Jogos Desportivos dos Agentes de Autoridades das Instituições contra a Corrupção de Guangdong, Hong Kong e Macau”.
Participando nos 5.os Jogos Desportivos dos Agentes
de Autoridade das Instituições contra a Corrupção de Guangdong, Hong Kong e Macau
III. Alteração à Lei do Comissariado contra a Corrupção da Região
Administrativa Especial de Macau e ao actual regime jurídico de
Declaração de Rendimentos e Interesses Patrimoniais
1. Alteração à Lei do Comissariado contra a Corrupção da Região Administrativa Especial de Macau
Considerando que decorreram mais de 10 anos desde a entrada em vigor da Lei n.º 10/2000, de 14 de Agosto (“Comissariado contra a Corrupção da Região Administrativa Especial de Macau”), entendeu-se ser este o momento oportuno para proceder a uma refl exão e revisão do seu conteúdo. Pretende-se assim, com esta revisão, alcançar essencialmente dois objectivos fundamentais, nomeadamente:
(1) Aumentar a capacidade de resposta do Comissariado.
(2) Reforçar as competências funcionais do CCAC, em especial as relativas à provedoria de justiça, o que representará, no fundo, um reforço dos poderes de fi scalização dos actos administrativos por parte do CCAC. Com a entrada em vigor da Lei n.º 19/2009 (“Lei de Prevenção e Repressão da Corrupção no Sector Privado”), no dia 1 de Março de 2010, o CCAC considera ser necessário proceder a reajustamentos a vários níveis, nomeadamente:
(1) Na estrutura orgânica;
(2) Na dotação e gestão de pessoal;
(3) Nos procedimentos internos e métodos de funcionamento; (4) Nas instalações e equipamentos.
Sendo, para o efeito, imprescindível proceder à revisão da Lei n.º 10/2000, de 14 de Agosto.
Tendo presente que a questão da necessidade de existência de um prazo para a conclusão ou arquivamento dos casos investigados pelo CCAC tem constituído tema de discussão constante junto da sociedade, e tendo ainda em consideração o actual regime processual penal e os princípios fundamentais de Direito, bem como os regimes jurídicos estrangeiros e teorias mais avançadas em matéria de investigação
criminal, o CCAC considera importante fi xar-se um período de investigação para melhor defender os direitos fundamentais dos investigados e garantir que as acções de investigação sejam efectuadas de acordo com a lei, elevando consequentemente a sua capacidade e nível de investigação.
De acordo com a Lei n.º 10/2000, os trabalhos relativos à provedoria de justiça encontram-se integrados nas atribuições do CCAC, podendo este proceder, a priori ou a posteriori, à fi scalização de actos administrativos. Com base na experiência acumulada, o CCAC entende ser necessário defi nir, com maior clareza, o regime e o modelo deste tipo de fi scalização, de forma a reforçar o papel e a importância do CCAC na promoção de programas de modernização e de melhoramento da efi ciência administrativa.
A proposta de alteração desta lei foi já submetida à apreciação do Conselho Executivo e será apresentada à Assembleia Legislativa para discussão após o necessário reajustamento técnico.
2. Alteração ao actual regime jurídico de Declaração de Rendimentos e Interesses Patrimoniais
Na medida em que se procede à revisão do regime de declaração de rendimentos e interesses patrimoniais dos trabalhadores da Administração Pública e dos titulares de cargos políticos da Região Administrativa Especial de Macau, considerou-se importante desenvolver um estudo sobre os modelos de declaração de bens patrimoniais e interesses seguidos por países ou regiões mais avançados, nomeadamente, RAEHK, Portugal, Canadá, EUA, Reino Unido, Singapura e Austrália. Apesar de possuírem características diferentes, têm como traço comum o facto de estabelecerem um regime de fi scalização da declaração de bens patrimoniais e interesses adaptado às especifi cidades da respectiva cultura e com capacidade de acompanhar a evolução do próprio ordenamento jurídico.
Após cerca de dez meses de recolha e análise de informação, o Comissariado contra a Corrupção adquiriu o necessário conhecimento sobre os sistemas de declaração de bens patrimoniais e interesses dirigidos aos funcionários públicos e titulares de cargos públicos vigentes nos países e regiões desenvolvidas, facto que contribuiu enormemente para o aperfeiçoamento do regime vigente na RAEM.
Após a competente análise, o CCAC concluiu que o regime vigente na RAEM se encontra em bom estado de evolução quando comparado com os regimes dos
outros países e regiões objecto de estudo, pelas razões a seguir apresentadas:
(1) Desde 1998, a legislação de Macau determina a obrigatoriedade dos trabalhadores da Administração Pública de todos os níveis de apresentar a declaração de rendimentos e interesses patrimoniais. No entanto, não há normas correspondentes nos países e regiões desenvolvidos.
(2) A legislação dos países e regiões desenvolvidos não determina a obrigatoriedade de publicidade de todas as informações declaradas. Por exemplo, em Singapura, não se tornam públicas as informações da declaração e, em outros países e regiões estudadas (tais como Hong Kong, EUA, Reino Unido e Canadá), apenas se torna público o sumário da declaração.
(3) O regime de declaração de rendimentos e interesses patrimoniais não é a única via disponível para a implementação dos valores da integridade, sendo apenas uma de várias medidas ao alcance. A tendência mundial é legislar no sentido de transferir o foco da declaração para o domínio prévio de situações que possam causar confl ito de interesses, solicitando-se, neste sentido, aos trabalhadores que declarem a detenção de participações de investimento em empresas e o seu estatuto em associações.
(4) A implementação dos valores de integridade numa região está condicionada pela efi cácia no funcionamento do sistema administrativo, pela transparência e legalidade do processo de decisão e pela observância rigorosa do regime de impedimentos. Estes são elementos-chave para a respectiva implementação.
O regime de declaração de bens patrimoniais e interesses teve por objectivo inicial fi scalizar a situação patrimonial dos funcionários públicos, especialmente dos dirigentes que detêm efectivamente o poder de decisão (fi scalização passiva). Face ao desenvolvimento social e dos sistemas de informação, o referido modelo de fi scalização acabou por fi car desactualizado e foi sendo gradualmente substituído por um outro modelo (de fi scalização mais activa). É importante reconhecer que os dirigentes são frequentemente confrontados com a necessidade de tomar decisões e, perante situações de confl ito de interesses, poderão eventualmente deixar-se infl uenciar, afectando assim a imparcialidade no exercício das suas funções. Por esta razão, se considera de extrema importância focar, em especial, na regulação desta matéria, as situações que possam envolver confl ito de interesses. O referido modelo
de fi scalização tem-se provado na prática como o modelo mais efi caz e com efeitos de natureza preventiva.
O Comissariado consultou todos os serviços públicos de Macau (incluindo entidades autónomas e órgãos judiciais), bem como instituições públicas da RAEM com sede no exterior, sobre o actual regime de declaração de bens patrimoniais e interesses. A partir de 1 de Janeiro de 2011, a proposta de alteração ao actual regime estará por dois meses sob consulta pública. O Comissariado organizará e analisará todas as opiniões manifestadas, no sentido de as tomar em consideração aquando da elaboração da versão fi nal da proposta de lei, que será submetida ao Chefe do Executivo.