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RELATÓRIO. O Exmº. Sr. Desembargador Federal EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR (Relator):

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RELATÓRIO

O Exmº. Sr. Desembargador Federal EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR (Relator):

Trata-se de apelação interposta pela UNIÃO em face de sentença que, confirmando a tutela antecipada, julgou procedente a pretensão do autor, ora apelado, de inscrição no concurso para ingresso no Posto de Arquiteto e Urbanista do Serviço Técnico Temporário da Marinha do Brasil, sob o fundamento de que a fixação de limite de idade prevista no Edital não se mostra razoável, além de não está prevista na Lei nº 12.705/12.

Em suas razões, alega a apelante, preliminarmente, que sejam analisadas as razões do agravo de instrumento, convertido em retido por esta Corte, interposto em face de decisão que antecipou a tutela, nos termos do art. 523, caput, do CPC. No mérito, aduz que a previsão de limite de idade para o ingresso nas Forças Armadas não configura discriminação, já que a exigência do critério etário é razoável e necessário ao exercício das manobras militares. Esclarece, ainda, que o edital contém um limite de idade para a entrada no serviço, considerando o limite legal de permanência, ou seja, a idade de saída para o posto de Suboficial que é a patente máxima alcançada por um praça (art. 16 do Estatuto dos Militares), de modo que não é sem qualquer razão e por mero capricho da administração que tal limitação é imposta. Antes de ultimar, sustenta a impossibilidade da concessão da medida antecipatória, por expressa vedação legal.

Contrarrazões apresentadas. É o relatório.

PROCESSO Nº: 0800242-33.2015.4.05.8500 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO APELANTE: UNIÃO FEDERAL

APELADO: VALTER FERREIRA ROCHA

ADVOGADO: KLEIDSON NASCIMENTO DOS SANTOS

RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL EDILSON PEREIRA NOBRE JUNIOR - 4ª

TURMA

PROCESSO Nº: 0800242-33.2015.4.05.8500 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO APELANTE: UNIÃO FEDERAL

APELADO: VALTER FERREIRA ROCHA

ADVOGADO: KLEIDSON NASCIMENTO DOS SANTOS

RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL EDILSON PEREIRA NOBRE JUNIOR - 4ª

TURMA

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O Exmº. Sr. Desembargador Federal EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR (Relator):

De início, no que concerne ao pedido de efeito suspensivo formulado no bojo do agravo retido, melhor sorte não ampara a União, ora recorrente. É que, no caso dos autos, o risco da demora, revelado no fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, milita em desfavor da parte recorrida, como foi reconhecido na decisão hostilizada, havendo o recurso de apelação de ser recebido apenas no efeito devolutivo.

Quanto ao mérito do agravo retido, deixo de apreciá-lo separadamente, porquanto a matéria nele tratada é idêntica à declinada nas razões de apelação.

Passo, pois, à análise meritória.

Como relatado, Valter Ferreira Rocha ajuizou a presente ação ordinária de anulação de cláusula editalícia que fixa limite mínimo e máximo de idade, com pedido de tutela antecipada, contra a União, com o objetivo de assegurar a sua inscrição no Concurso para ingresso no Posto de Arquiteto e Urbanista do Serviço Técnico Temporário da Marinha do Brasil.

O limite de idade como requisito de concurso público para ingresso nas Forças Armadas foi objeto de repercussão geral julgada pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal no RE nº 600.885/RS.

Nesse representativo ficou assentado que a fixação do limite de idade em concursos militares somente pode ser determinado por lei, em consonância com o disposto no art. 142, §3º, inciso X, da Constituição da República e, por conseguinte, foi declarada a não recepção da expressão "nos regulamentos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica" do art. 10 da Lei nº 6.880/90", dispositivo que trata justamente do ingresso nas Forças Armadas.

Ao longo de sua fundamentação, a eminente relatora, a Ministra Carmem Lúcia, ressaltou que "tendo a Constituição determinado que os requisitos para o ingresso nas Forças Armadas são os previstos em lei, com referência constitucional expressa ao critério de idade, não cabe regulamentação por meio de outra espécie normativa - na espécie o edital de abertura do concurso público -, sob pena de contrariedade à opção constitucional quanto ao processo legal adequado para a disciplina da matéria".

Por outro lado, em observância da segurança jurídica, os efeitos do julgamento foram modulados para preservar a validade dos certames realizados pelas Forças Armadas até 31/11/2011 e em cujos editais e regulamentos se tinha fixado o limite de idade com base no referido art. 10 da Lei nº 6.880/180. Tal modulação foi prorrogada, no julgamento dos Embargos de Declaração, até 31/12/2012, visando também dar prazo razoável ao Congresso Nacional para editar uma lei que amparasse a adoção de requisito etário para o ingresso nas Forças Armadas. Nesse passo, em consonância com o entendimento sufragado pelo STF, resta saber se há previsão legal que disponha sobre os limites de idade para o ingresso na carreira pretendida pelo autor. Se há lei específica, aplicam-se os seus dispositivos; em caso contrário, segue-se a diretriz da Corte Suprema.

Pois bem. Analisando os elementos materiais acostados aos autos, constata-se que o autor pretende se inscrever na seleção pública da Marinha do Brasil para profissionais voluntários de nível superior, com vistas à prestação do serviço militar temporário no ano de 2015, para a área de Arquitetura e Urbanismo.

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ter o candidato "mais de 18 anos e menos de 45 anos de idade, até o 31 de dezembro do ano de sua incorporação".

Louvando a exigência constitucional e em atenção ao que fora decidido pelo STF, a Lei nº 12.704/2012 alterou a Lei nº 11.279/2006 para dar nova redação ao capítulo que dispõe sobre os requisitos para ingresso nas Carreiras da Marinha, o qual passou a apresentar a seguinte redação:

CAPÍTULO II-A

(Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

DOS REQUISITOS DE INGRESSO NA MARINHA

Art. 11-A. A matrícula nos cursos que permitem o ingresso nas Carreiras da Marinha depende de aprovação prévia em concurso público, atendidos os seguintes requisitos, dentre outros estabelecidos, decorrentes da estrutura e dos princípios próprios dos militares: (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

XIV - atender os seguintes limites de idade, referenciados a 1o de janeiro do ano correspondente ao início do respectivo curso de formação militar: (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

a) Concurso de Admissão ao Colégio Naval: ter 15 (quinze) anos completos e menos de 18 (dezoito) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

b) Concurso de Admissão à Escola Naval: ter 18 (dezoito) anos completos e menos de 23 (vinte e três) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

c) Concurso para ingresso nos Quadros Complementares de Oficiais: ter menos de 29 (vinte e nove) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

d) Concurso para ingresso no Corpo de Saúde da Marinha: ter menos de 36 (trinta e seis) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

e) Concurso para ingresso no Corpo de Engenheiros da Marinha: ter menos de 36 (trinta e seis) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

f) Concurso para ingresso no Quadro Técnico do Corpo Auxiliar da Marinha: ter menos de 36 (trinta e seis) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

g) Concurso de Admissão às Escolas de Aprendizes-Marinheiros: ter 18 (dezoito) anos completos e menos de 22 (vinte e dois) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

h) Concurso para ingresso no Corpo Praças da Armada e no Corpo Auxiliar de Praças: ter 18 (dezoito) anos completos e menos de 25 (vinte e cinco) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

i) Concurso ao Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais: ter 18 (dezoito) anos completos e menos de 22 (vinte e dois) anos de idade; e (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

j) Concurso ao Curso de Formação de Sargentos Músicos Fuzileiros Navais: ter 18 (dezoito) anos completos e menos de 25 (vinte e cinco) anos de idade. (Incluído pela Lei nº 12.704, de 2012)

É de ver-se, pois, às expressas, que a seleção pleiteada pelo autor - cadastramento de profissionais de nível superior das áreas técnicas, apoio à saúde e engenharia, para prestação do serviço militar voluntário (SMV) como oficiais de 2º Classe da Reserva da Marinha - não foi contemplado por essa lei de regência. Assim sendo, ante a ausência de lei específica, o limite de

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idade constante no referido edital não encontra respaldo no ordenamento jurídico pátrio.

Além disso, cumpre ressaltar, como bem o fez o douto juiz sentenciante, que a existência de ato normativo infralegal prevendo requisito etário - como, por exemplo, a limitação prevista nos artigos 19 e 20 do Decreto nº 57.654/1966[1] - por si só, não autoriza a exigência editalícia, ora combatida, já que somente por lei em sentido estrito, repita-se, é possível determinar critérios de natureza etária para o ingresso na carreira das Forças Armadas.

Dessa maneira, correta a sentença que reconheceu a ilegalidade do impedimento de cadastramento do autor no processo seletivo em questão por conta da sua idade.

Por outro lado, entendo que não deve persistir a condenação da União em multa diária no valor de R$100,00 (cem reais) em caso de descumprimento da tutela antecipada. Isso porque, como é por demais sabido, as astreintes são fixadas com o objetivo de constranger o obrigado ao adimplemento da obrigação específica ordenada pelo juízo e, como no presente caso a União cumpriu prontamente a determinação, permitindo a participação do autor em todas as etapas do Aviso de Convocação nº 1/2015, do Comando do 2º distrito Naval, independente de sua idade, não se justifica a permanência de tal imposição.

Com essas considerações, nego provimento ao agravo retido e à apelação; e dou parcial

provimento à remessa oficial, apenas para afastar a condenação da União ao pagamento da

multa diária no valor de R$ 100,00 (cem reais) a título de astreintes. É como voto.

[1] CAPÍTULO IV - DA DURAÇÃO DO SERVIÇO MILITAR

Art. 19. A obrigação para com o Serviço Militar, em tempo de paz, começa no 1º dia de janeiro do ano em que o brasileiro completar 18 (dezoito) anos de idade e subsistirá até 31 de dezembro do ano em que completar 45 (quarenta e cinco) anos.

Parágrafo único. Em tempo de guerra, esse período poderá ser ampliado, de acordo com os interesses da defesa nacional.

Art. 20. Será permitida aos brasileiros a prestação do Serviço Militar como voluntário, a partir do ano em que completarem 17 (dezessete) anos e até o limite de idade fixado no artigo anterior, e na forma do prescrito no Art. 127 e seus parágrafos, deste Regulamento.

PROCESSO Nº: 0800242-33.2015.4.05.8500 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO APELANTE: UNIÃO FEDERAL

APELADO: VALTER FERREIRA ROCHA

ADVOGADO: KLEIDSON NASCIMENTO DOS SANTOS

RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL EDILSON PEREIRA NOBRE JUNIOR - 4ª

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EMENTA

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MILITAR. SELEÇÃO PARA INGRESSO NO SERVIÇO TÉCNICO TEMPORÁRIO DA MARINHA NO POSTO DE ARQUITETO E URBANISTA. LIMITE DE IDADE. EDITAL. AUSÊNCIA DE LEI ESPECÍFICA. OBSERVÂNCIA DO JULGAMENTO DO RE 600.885/RS PELO STF EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL. IMPOSSIBILIDADE. MULTA DIÁRIA. AFASTAMENTO. AGRAVO RETIDO E APELAÇÃO IMPROVIDOS. REMESSA OFICIAL PARCIALMENTE PROVIDA.

1. O limite de idade como requisito de concurso público para ingresso nas Forças Armadas foi objeto de repercussão geral julgada pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal no RE nº 600.885/RS, no qual ficou assentado que a fixação do limite etário em concursos militares somente pode ser determinado por lei, em consonância com o disposto no art. 142, §3º, inciso X, da Constituição da República, sendo declarada, por conseguinte, a não recepção da expressão "nos regulamentos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica" do art. 10 da Lei nº 6.880/90", dispositivo que trata justamente do ingresso nas Forças Armadas.

2. Em observância da segurança jurídica, os efeitos do julgamento desse representativo foram modulados para preservar a validade dos certames realizados pelas Forças Armadas até 31/11/2011 e em cujos editais/regulamentos se tenha fixado o limite de idade com base no referido art. 10 da Lei nº 6.880/180. Tal modulação foi prorrogada, no julgamento dos Embargos de Declaração, até 31/12/2012, visando também dar prazo razoável ao Congresso Nacional para a edição da lei que contemplasse o requisito etário para o ingresso nas Forças Armadas.

3. Na espécie, constata-se que não há lei específica determinando o limite de idade para a seleção pleiteada pelo autor (cadastramento de profissionais de nível superior das áreas técnicas, apoio à saúde e engenharia, para prestação do serviço militar voluntário (SMV) como oficiais de 2º Classe da Reserva da Marinha), razão pela qual a cláusula editalícia, ora impugnada, não encontra respaldo no ordenamento jurídico pátrio, conforme entendimento do STF referenciado. 4. Reconhecimento do direito do autor de poder se cadastrar no processo seletivo de Convocação nº 1/2015, do Comando do 2º distrito Naval independente de sua idade.

5. As astreintes são fixadas com o objetivo de constranger o obrigado ao adimplemento da obrigação específica ordenada pelo juízo e, como no presente caso a União cumpriu prontamente a determinação, não se justifica a permanência de tal imposição.

6. Agravo retido e apelação da União improvidas. Remessa oficial parcialmente provida, apenas para afastar a multa diária, cominada a título de astreintes.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos do processo tombado sob o número em epígrafe, em que são partes as acima identificadas, acordam os Desembargadores Federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em sessão realizada nesta data, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas que integram o presente, por unanimidade, negar provimento ao

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agravo retido e à apelação da União e dar parcial provimento à remessa oficial, nos termos do voto do Relator.

Recife (PE), 15 de agosto de 2015 (data do julgamento).

mmsa

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