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ADOÇÃO DA ESTRATÉGIA DE POSTPONEMENT EM UMA EMPRESA VITIVINÍCOLA DE MINAS GERAIS

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ADOÇÃO DA ESTRATÉGIA DE

POSTPONEMENT EM UMA EMPRESA

VITIVINÍCOLA DE MINAS GERAIS

Marcela de Lima Toledo (UFOP )

marcela_toledo2@hotmail.com

Karine Araujo Ferreira (UFOP )

karineproducao@gmail.com

Esta pesquisa teve como objetivo investigar a adoção do postponement em uma empresa do setor vitivinícola, identificando: os tipos de postponement adotados pela empresa; os principais fatores que favoreceram a aplicação da estratégia; e os principais impactos obtidos no processo produtivo após sua implementação. Para tanto, foi desenvolvido um estudo de caso em uma empresa produtora de vinhos, onde foram realizadas entrevistas com o responsável pela gestão de produção da empresa investigada. Baseado nos resultados obtidos foi possível identificar a adoção do postponement de forma (nas atividades de embalagem, de rotulagem e de manufatura final), bem como o postponement de tempo. Adicionalmente, os principais fatores que favoreceram a aplicação da estratégia na empresa são: aumento do nível de exigência dos clientes, incerteza de demanda e sazonalidade. Com aplicação do postponement, foi possível também verificar o deslocamento do ponto de desacoplamento e o aumento de atividades executadas sob pedido, o que trouxe impactos positivos para a empresa, tais como: melhoria no nível de serviço ao cliente, redução de estoques obsoletos e maior customização do produto final.

Palavras-chave: postponement, postergação, customização em massa, setor vitivinícola

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1. Introdução

Nos últimos anos, o setor vitivinícola brasileiro vem passando por desafios, representados pela estagnação e queda na comercialização dos produtos nacionais e aumento nas importações nos anos de 2013 e 2014 (IBRAVIN, 2015). Apesar da retomada do crescimento no ano de 2015, há uma necessidade de buscar novas alternativas, no intuito de tornar o setor mais competitivo diante das marcas estrangeiras. Uma dessas estratégias é o postponement, que consiste em adiar o máximo possível a configuração final e/ou movimentação de produtos e serviços, até que a demanda seja conhecida (ALDERSON, 1950; VAN HOEK, 1999). Em outras palavras, Saghiri (2011) afirma que o postponement permite gerenciar riscos e incertezas na demanda por atrasar atividades de adição de valor na cadeia de suprimentos. Assim neste artigo buscou-se responder a seguinte questão de pesquisa: Como a estratégia de

postponement poderia ser aplicada uma empresa do setor vitivinícola? Para responder esta

questão, o objetivo geral deste trabalho é investigar a adoção do postponement em uma empresa produtora de derivados da uva, localizada no interior de Minas Gerais.

Essas iniciativas são importantes, pois segundo Mello (2014), apesar do setor apresentar uma baixa representatividade na agroindústria nacional, tem oportunizado a agregação de valor em outras atividades da economia, como gastronomia e turismo. Logo, essas atividades são de extrema importância para a sustentabilidade da propriedade agricultora. A relevância deste estudo é ainda justificada pelo ineditismo da divulgação da aplicação do postponement em empresas da indústria de vitivinícola no Brasil.

Para tanto, o método de pesquisa adotado foi o estudo de caso único, realizado em uma vinícola de Minas Gerais, com abordagem de cunho qualitativo. Esta pesquisa foi conduzida por entrevistas semiestruturadas, realizadas com o responsável pela gestão da produção na empresa.

Este artigo está estruturado em cinco seções, incluindo a introdução. Na seção 2, é apresentada uma breve revisão da literatura sobre o panorama setorial vitivinícola brasileiro e o postponement, seguida pela discussão de trabalhos que descrevem sua aplicação na indústria vitivinícola. Os principais resultados do estudo de caso desenvolvido são expostos na seção 3. Por fim, são apresentadas as considerações finais do trabalho (seção 4), e em seguida, as referências bibliográficas.

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2. Revisão bibliográfica

2.1. A indústria vitivinícola no Brasil

O Brasil possui muitas regiões produtoras de vinho em todo seu território. Dentre as principais regiões, destacam-se a Região Sul e o Nordeste, no Vale do São Francisco. No Sudeste, se destacam principalmente, o estado de São Paulo e Minas Gerais.

O estado do Rio Grande do Sul concentra 90% da produção nacional, nas regiões da Serra Gaúcha, Campanha e Serra do Sudeste, onde há a predominância do cultivo de uva em pequenas propriedades rurais. O estado de Santa Catarina é outro grande produtor na região Sul, mais especificamente com a produção concentrada no Vale do Rio do Peixe (IBRAVIN, 2015).

Em relação à região nordeste, no Vale do São Francisco, as videiras que são irrigadas com a água do Rio São Francisco, e a forte exposição ao sol, apresentam uvas com alto teor de açúcar, sendo elaborados vinhos muito frutados (BORGES, 2006). Dentre as pequenas regiões produtoras, vale destacar o estado de Minas Gerais, onde a produção se concentra no sul do estado, mais especificamente nos municípios de Andradas e Caldas (BRASIL..., 1997). Tal região é importante de ser estudada, devido ao fato de ser uma das pioneiras e mais importante produtoras de vinho no Brasil durante muito tempo. A produção nesta região se iniciou por volta de 1860 (VITICULTURA, 2001).

Dados apresentados por Mello (2015) mostram que há uma oscilação da quantidade de vinhos e derivados elaborados e comercializados, durante os anos de 2010 e 2014. Identifica-se que a produção e comercialização de vinhos sofre uma redução de 2012 a 2014. A mesma autora afirma que o baixo desempenho na produção é justificado pela crise econômica mundial. Outro fator é o grande desenvolvimento do mercado de vinhos importados no Brasil de 1989 a 2014, segundo dados apresentados pelo Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior (DAUDT, 2015). Assim, devido ao ingresso de outros países no mercado, as empresas vinícolas devem se ajustar ao mercado e buscar novas soluções, a fim de tornar os produtos nacionais mais atraentes para os consumidores.

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4 O conceito de postponement é abordado na literatura acadêmica há mais de 60 anos. Inicialmente foi proposto por Alderson (1950) como o adiamento da configuração final do produto até que as preferências do consumidor sejam conhecidas, classificado como

postponement de forma. O mesmo autor definiu também a postergação da movimentação do

inventário para o último momento possível no tempo, quando se tem o pedido do cliente, como postponement de tempo. Bucklin (1965) agregou mais detalhes ao trabalho de Alderson, e criou o conceito oposto ao de postponement, a especulação, que consiste em finalizar as operações o mais cedo possível no processo de manufatura.

Depois de 1965, poucos trabalhos abordaram o assunto, e o tema foi retomado no final da década de 80 por Zinn e Bowersox (1988) que propuseram que o postponement poderia ser separado em cinco diferentes tipos, quatro relacionados com alterações de forma do produto (etiquetagem, embalagem, montagem e manufatura) e o quinto relacionado ao tempo (centralização dos estoques).

Além das classificações de Alderson (1950) e Zinn e Bowersox (1988), vários autores têm introduzido categorizações conceituais da estratégia de postponement. Entretanto, grande parte delas (embora com rótulos diferentes) tem o mesmo significado, sendo as classificações de postponement de tempo e de forma propostas originalmente por Alderson (1950) os principais tipos estudados.

Um conceito importante relacionado ao postponement é o de ponto de desacoplamento do pedido (Costumer Order Decoupling Point - CODP), que pode ser definido como o ponto do processo de produção que separa o que é produzido para estoque e o que é produzido sob encomenda, indicando até onde o cliente exerce influência sobre o produto (PIRES, 2004). Logo, o CODP aponta qual posição na cadeia ocorre a customização, isto é, as atividades antes do ponto são padronizadas e realizadas sob previsão de demanda, enquanto as atividades depois deste ponto são customizadas e realizadas sob pedido. Melo, Eulália e Bremer (2000) afirmam que tal ponto é uma das formas para medir o nível de postponement aplicado.

A adoção do postponement é dependente de características que tornam alguns setores mais favoráveis que os outros. Assim, as organizações necessitam conhecer e compreender os fatores que favorecem a adoção da estratégia. Segundo Ferreira (2009), as características operacionais e logísticas internas à empresa (características do processo e produtos, etc) são facilitadores da aplicação do conceito. Exemplos: produto e processo modular, projeto de

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5 cadeia de suprimento ágil, etc. Já os fatores externos à empresa (características de mercado) são aqueles que levam uma empresa a adotar o postponement, como por exemplo, incerteza da demanda, curto ciclo de vida do produto, consumidores mais exigentes, entre outros. Em relação aos obstáculos à implantação da estratégia, Yang (2004) afirma que as empresas devem entender como lidar com eles para uma efetiva adoção do postponement. Van Hoek (1999) considera que a falta de visão global da cadeia de suprimentos e a herança de uma organização administrativa são gargalos para a aplicação da postponement. Quanto aos obstáculos relacionados a custos, Zinn e Bowersox (1988) afirmam que para aplicar o

postponement, os diferentes custos envolvidos no processo devem ser definidos claramente,

uma vez que estes são afetados de forma diferenciada pelo adiamento.

2.3. Pesquisas exploratórias – adoção do postponement em vinícolas

Em relação à aplicação do postponement na produção de vinhos, poucas publicações abordando o tema no setor vitivinícola foram encontradas na literatura, onde se destacam os trabalhos de Van Hoek (1997), Cholette (2010) e Bouzdine-Chameeva e Cholette (2012). Van Hoek (1997) em seu trabalho apresentou um estudo de caso único de uma produtora de vinho europeia, onde analisa o uso de algumas classificações de postponement no processo produtivo do vinho. Adicionalmente, o mesmo autor investiga a estrutura operacional da empresa, onde o produto semiacabado é armazenado em tanques a espera do pedido do cliente. Então, de acordo com as especificações desejadas pelos clientes, a empresa realiza as misturas e aromatiza o produto, para então engarrafá-lo e rotulá-lo, configurando assim o

postponement de manufatura (ou forma). Neste caso, o adiamento da manufatura final

acarreta também no postponement de embalagem e de rotulagem. Dentre os resultados obtidos neste trabalho, o mesmo autor destaca que os tipos de postponement encontrados foram de manufatura final e embalagem, para atender as exigências das exportações. A adoção da estratégia possibilitou aumento de variedade e volume de produtos, mantendo a qualidade do mesmo, bem como redução dos custos de transporte.

Em um estudo survey, Cholette (2010) estudou a viabilidade da aplicação do postponement em indústrias de vinho da California e buscou investigar quais empresas da região adotam a estratégia. Para tanto, investigou 142 empresas. Como resultado, tem-se que uma pequena parte das empresas estudadas adota o postponement; e as que não adotam, não tem previsão de adoção em um futuro próximo, apesar de estas pretenderem expandir seu mercado.

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6 Possivelmente, tal resultado pode ser explicado porque a adoção do postponement acarreta complexas alterações no processo produtivo.

Em um novo survey, Bouzdine-Chameeva e Cholette (2012) compararam as indústrias de vinho da California, de Bordeaux e da Itália analisando características que possam viabilizar o

postponement. Nesta pesquisa, foram analisadas 142 empresas californianas, 275 empresas de

Bordeaux e 328 vinícolas italianas. O resultado deste trabalho apresenta que a maioria das vinícolas da Itália adota a estratégia, enquanto metade das vinícolas de Bordeaux e uma minoria das californianas aplicam o postponement.

Baseando nos resultados destes três trabalhos, é possível perceber que na indústria de vinhos, o postponement é aplicado em atividades mais a jusante da cadeia de suprimentos, geralmente relacionadas às atividades de montagem (manufatura final), rotulagem e embalagem.

3. Estudo de caso

3.1. Caracterização da empresa

A Empresa investigada (aqui denominada Empresa X) foi fundada em 1968, no interior de Minas Gerais, e atualmente, possui 80 funcionários. Tem como produto principal o vinho (tinto e branco). Além do vinho, a empresa produz outras bebidas, como espumante, suco de uva, vinagre e cachaça. Seus vinhos são comercializados sob duas diferentes marcas, uma delas se destina à produção de vinhos finos, com maior valor agregado e abastece uma menor fatia do mercado. A segunda marca compõe a maior parcela dos vinhos comercializados pela empresa, sendo produzida a partir de uvas de qualidade inferior e matérias-primas mais baratas. Consequentemente, têm menor preço de venda.

A Empresa X possui uma única unidade produtiva, sendo a maior produtora de uvas mineira, e uma das maiores vinícolas do estado. Seus produtos são comercializados nos estados de Minas Gerais e São Paulo. Toda a produção se destina ao mercado nacional e a empresa ainda não exporta seus produtos. Os clientes são tanto no atacado, quanto no varejo. A empresa possui lojas exclusivas, uma localizada em Belo Horizonte e outras três no interior de MG. A Figura 1 resume as características da Empresa X.

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Fonte: Elaborada pela autora

3.2. O processo produtivo do vinho

O processo produtivo do vinho se inicia pela poda da parreira, que deve ser feita em agosto, para que a colheita ocorra entre janeiro e fevereiro.

Após a colheita, a uva é levada para o galpão, onde o grão é separado do engace (cacho), processo conhecido como desengace. O grão separado (com a película e a polpa) passa pela maceração, que é o processo de esmagamento da fruta, para a obtenção do mosto (sumo obtido da uva). Para a vinificação do vinho branco, a película deve ser retirada do mosto logo após a maceração, uma vez que esta possui os corantes da fruta. Já o vinho tinto segue o processo com a película, quando SO2 é adicionado para quebrar as pectinas da uva e liberar as

substâncias aromáticas e corantes.

Então, o vinho segue para a cantina onde é iniciado o processo de fermentação, quando o

açúcar é transformado em álcool etílico. Em seguida, o produto do processo segue para o tanque, sem contato com o ar, onde ocorre a fermentação lenta, tanto para o vinho tinto, quanto para o vinho branco. Após o fim da fermentação, ocorre a primeira trasfega, processo

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8 que consiste em incorporar ao vinho um pouco de oxigênio, para favorecer a completa fermentação do açúcar. Para o vinho suave, há a adição de açúcares e pasteurização, e o vinho seco não passa por esse processo.

Entretanto, ocorre mais uma fermentação, a malolática, para o vinho tinto, quando as bactérias lácticas transformam o ácido málico em ácido láctico. Este último processo ocorre para que a acidez do vinho seja mais suave, e perca sua adstringência. Após a última fermentação, as bactérias, leveduras e resíduos sólidos depositam no fundo do tanque, o que não é adequado, para não transmitir aromas e sabores indesejáveis. Para tal, ocorre a segunda trasfega.

Em seguida, o vinho passa pela filtragem, para que as partículas em suspensão sejam eliminadas. E finalmente, o vinho passa pelo processo de estabilização, para garantir ao vinho a limpidez desejada.

O processo de engarrafamento ocorre em diferentes tamanhos de embalagem, de 300 ml, 750ml e 5l, como também pode ser comercializado a granel. O produto é engarrafado, em sua maioria, de acordo com o recebimento de ordem de compra. Já uma menor parte, é engarrafada de acordo com a previsão de demanda, principalmente para serem distribuídos para as lojas exclusivas. Logo, a rotulagem é feita através de duas máquinas autoadesivas para produtos de maior valor agregado, e máquina cola-papel, para produtos de menor custo. Finalizado o processo, o vinho segue para a adega para passar pelo processo de envelhecimento, até ser comercializado. Geralmente, todo o processo produtivo do vinho comum demora de 3 a 10 meses para ficar pronto, enquanto o processo do vinho fino tem duração de 1 ano e meio.

A maior parte dos produtos permanece estocada em um armazém dentro da planta produtiva, para ser distribuído aos seus clientes após o recebimento do pedido. A outra parte, em menor quantidade, segue para suas lojas próprias, que mantém um pequeno estoque destes produtos.

3.3. A aplicação do postponement na Empresa X.

Na Empresa X, foi identificada a adoção do postponement de forma, nas atividades de manufatura final, rotulagem e embalagem, conforme a classificação proposta por Zinn e Bowersox (1988), bem como o postponement de tempo. A aplicação da estratégia na iniciou há aproximadamente 20 anos, a partir da percepção da necessidade de atender à demanda dos clientes de forma mais customizada.

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9 Na atividade de embalagem, o vinho acabado permanece estocado em barris até o recebimento do pedido do cliente. Com este pedido, o vinho segue para ser embalado (engarrafado) no tamanho desejado. A postergação da etapa de engarrafamento implica no adiamento também da rotulagem do produto. Após o processo de manufatura concluído e engarrafado, o produto sem identificação da marca recebe o rótulo da Empresa X, com sua logomarca e informações. Também, o vinho pode receber um rótulo elaborado com as especificações e layout exigidos pelo consumidor. Este produto recebe a logomarca de outras empresas, pessoas físicas ou eventos. O processo ocorre para todos os tipos de vinho comercializados pela empresa, e também para os sucos de uva, a partir da escolha do consumidor. Segundo o entrevistado, o postponement de embalagem e rotulagem representam 90% da produção total da empresa investigada.

Já o postponement de manufatura final ocorre a partir de um vinho base não diferenciado. Neste caso, a partir do pedido cliente, acontece o processo de mistura específica no produto semiacabado. Neste processo, pode ocorrer a adição de componentes, como açúcar e essência que confere sabor e aroma. Pode ocorrer também uma mistura de dois tipos de vinhos produzidos a partir de variedades diferentes de uvas que pertençam a um mesmo grupo (fino ou comum). Este vinho permanece estocado em barris, e só é engarrafado e rotulado após a manufatura final ser concluída. A estratégia é adotada para todos os tipos de vinhos e a atividade de manufatura final é adiada para 30% dos vinhos comercializados. Tal adoção implica também na postergação das atividades de engarrafamento (embalagem), rotulagem. Já o postponement de tempo ocorre para todos os produtos comercializados pela empresa, uma vez que tanto os produtos acabados quanto os produtos semiacabados são mantidos em estoque dentro da unidade fabril até o recebimento do pedido do cliente. Com a ordem de compra o produto é transportado para o cliente final ou para seus pontos de venda. Esta atividade não é adiada somente para os vinhos que são estocados nas lojas exclusivas, o que representa apenas 10% do total.

Com a adoção do postponement de manufatura, do postponement de rotulagem e do

postponement de tempo é possível visualizar a alteração na posição do ponto de

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Fonte: Elaborado pela autora

A Figura 10 mostra que a adoção do postponement de forma altera a sequência de algumas atividades do processo produtivo. Quando não há a aplicação da estratégia, os processos de manufatura, engarrafamento, rotulagem e estocagem, são realizados sob previsão da demanda. Com a utilização do postponement de embalagem, as atividades de embalagem e rotulagem passam a ser realizadas somente após o conhecimento da demanda. Já no postponement de manufatura, há a adição de uma nova etapa, para realizar a manufatura final.

A aplicação do postponement de embalagem, rotulagem e manufatura na Empresa X foi motivada principalmente por clientes cada vez mais exigentes e incerteza da demanda. Este primeiro devido ao fato de consumidor demandar produtos personalizados, com rótulos específicos e misturas exclusivas. Tal fator associado ao aumento da competitividade faz com que a demanda seja cada vez mais incerta, tornando assim a imprevisibilidade da demanda um motivador do postponement.

A sazonalidade foi considerada também outro fator relevante para a adoção da estratégia no setor vitivinícola. Neste caso, como a uva é uma matéria-prima altamente perecível e disponível apenas nos meses de safra, o postponement representa uma alternativa.

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11 No caso do postponement de rotulagem, outros fatores favorecem sua adoção, como o baixo nível de complexidade dessa etapa de diferenciação e necessidade de um lead time curto. A elaboração de um rótulo personalizado é considerado pelo entrevistado da Empresa X uma atividade de baixa complexidade e sem elevação de custos para a empresa, podendo ser realizada sob pedido. Quanto ao lead time curto, após o recebimento do pedido, a empresa necessita de cinco a sete dias para entregar o produto.

Na entrevista realizada, alguns impactos foram identificados pela Empresa X com a adoção do postponement na rotulagem e na manufatura final.

Tratando-se de custos gerais de produção, transporte e estocagem, a empresa não identificou grandes alterações. Possivelmente, essa redução nos custos não é percebida pela Empresa X devido ao fato de não ser mensurada pelos funcionários da mesma. Entretanto, foram observadas a redução em estoque e obsolescência do produto, uma vez que os produtos são comercializados após a customização.

Percebe-se também um maior grau de satisfação do cliente e melhor nível de serviço, uma vez que estes possuem um produto customizado com menor prazo de entrega, e sem custo adicional.

4. Considerações finais

Este trabalho buscou investigar a adoção da estratégia de postergação em uma empresa do setor vitivinícola e responder a seguinte questão de pesquisa: Como a estratégia de

postponement poderia ser aplicada uma empresa do setor vitivinícola?

Para responder esta questão, foi realizado um estudo de caso em uma empresa produtora de vinhos. Os resultados na empresa investigada mostram que a adoção do postponement de forma, nas atividades de embalagem, rotulagem e manufatura final. Também foi identificada a adoção do postponement de tempo pela empresa investigada.

Os principais motivadores/facilitadores para a adoção tanto do postponement de embalagem, manufatura, rotulagem e postponement de tempo, são: atender a um consumidor cada vez mais exigente, incerteza da demanda e sazonalidade. Outro fator favorável para o

postponement de rotulagem é o baixo nível de complexidade da etapa de customização. Tais

fatores favorecem o postponement devido aos consumidores desejarem produtos exclusivos para determinadas finalidades. Assim, com a adoção da estratégia, estes são obtidos em um

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12 intervalo de tempo menor que o de um vinho onde todo processo produtivo é destinado para o lote específico do cliente.

Pode-se afirmar então que além de reduzir a obsolescência de estoque, a adoção do

postponement na empresa estudada possibilitou aumentar o nível de serviço e satisfação dos

clientes, ao atender suas necessidades. Entretanto, apesar destes resultados positivos, a empresa não julga viável ampliar a adoção da estratégia para outras atividades da empresa, pois julga que estas requerem maior investimento em instalações e alterações no processo. Como a empresa estudada é um caso isolado e o tema no setor vitivinícola ainda não foi profundamente explorado, as conclusões obtidas com este trabalho não podem ser generalizadas e tampouco ser considerada uma evidência clara de uma tendência a ser praticada em todo o setor no Brasil.

Uma pesquisa futura na Empresa X poderia mensurar os impactos da adoção do postponement nos custos da empresa, principalmente nos custos de vendas perdidas, uma vez que o produto será entregue somente após a sua diferenciação, aumentando assim o prazo de entrega. Atualmente, a empresa não possui este controle.

Por fim, pesquisas futuras poderão utilizar a estrutura teórica presente neste trabalho, para realizar estudos complementares e conclusivos sobre a adoção do postponement não somente no setor vitivinícola, mas também em todo o setor alimentício e demais setor, a fim desta estratégia competitiva ser mais adotada nas indústrias brasileiras.

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