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CARACTERIZAÇÃO DA ICTIOFAUNA ASSOCIADA ÀS MACRÓFITAS NA LAGOA DO DEDA, UMA LAGOA MARGINAL DO RIO TAQUARI, COXIM-MS

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CARACTERIZAÇÃO DA ICTIOFAUNA ASSOCIADA ÀS

MACRÓFITAS NA LAGOA DO DEDA, UMA LAGOA MARGINAL DO

RIO TAQUARI, COXIM-MS

Cesar Adriano de Lima Ferreira 1

Priscila Gusmão Pompiani 2 1- bolsista do CNPq, 2- UEMS-Coxim

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi analisar as alterações em relação à ictiofauna

associada às macrófitas na lagoa do Deda, localizada na margem esquerda do rio Taquari no município de Coxim-MS, durante os períodos seco e chuvoso. Foram realizadas coletas bimensais, no período de agosto de 2008 a junho de 2009, utilizando peneirão com 1,0 m2 de área e malhagem de 0,5 mm e malhas 2 cm e 3 cm, relevando apenas os indivíduos adultos. Após serem coletados, os peixes foram fixados em formol 10% e conservados em álcool 70% para posterior identificação. Ao total, foram coletados 722 indivíduos, distribuídos em 6 ordens, 14 famílias e 12 subfamílias, sendo as mais representantes a ordem Characiformes (64%), a família Characidae (48%) e a subfamília Tetragonopterinae (20%). Com relação às espécies, a mais quantitativa foi E. trilineata, com 102 indivíduos capturados (14,13%) e a que obteve a maior biomassa total foi a H. orthonops, com 3205,98g (34,09%). A maioria das espécies foi considerada constante (50% do total), com destaque para as espécies E. trilineata e Hyphessobrycon eques, presentes em todas as 6 coletas realizadas (C = 100%), demonstrando que os bancos de macrófitas são locais de colonização de espécies de pequeno porte, onde elas geralmente completam todo o seu ciclo de vida nessas áreas.

PALAVRAS-CHAVE: Abundância. Biomassa. Peixes de água doce. Peixes de pequeno

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CHARACTERIZATION OF THE ICHTHYOFAUNA ASSOCIATED

WITH THE MACROPHYTES IN THE LAGOON OF THE DEDA, A

MARGINAL LAGOON OF RIVER TAQUARI, COXIM-MS.

ABSTRACT: The objective of this study was to analyze changes in the fauna of fish

associated with macrophytes in the lagoon of Deda, located on the left edge of the river Taquari in the city of Coxim-MS, during the rainy and dry seasons. Have been realized collections bimonthly, from August 2008 to June 2009 using sieve with 1.0 m2 of area and mesh size of 0.5 mm and mesh 2 cm and 3 cm, revealing only the adults. After being collected, the fishes were fixed in 10% formaldehyde and preserved in 70% alcohol for further identification. In total, 722 individuals were collected, divided into 6 orders, 14 families and 12 subfamilies, being the most representatives the order Characiformes (64%), the family Characidae (48%) and subfamily Tetragonopterinae (20%). With respect to species, was more quantitative E. trilineata with 102 individuals captured (14.13%) and demonstrating the highest total biomass was the H. orthonops, with 3205.98 g (34.09%). The majority of the species was considered constant (50% of total), especially the species E. trilineata and Hyphessobrycon eques, present in all 6 collections (C = 100%), demonstrating that banks of macrophyte are local of colonization of small species, where they usually complete their entire life in these areas.

KEY-WORDS: Abundance. Biomass. Freshwater fishes. Small fishes. Aquatic plants.

INTRODUÇÃO

Os efeitos do pulso de inundação sobre a estrutura das comunidades ícticas de lagoas marginais dependem de sua intensidade, duração e previsibilidade, além da complexidade do habitat e da disponibilidade de locais de refúgio. Lagoas muito grandes ou grupos de lagoas, geralmente associadas a zonas de inundação, são conhecidas como lagoas marginais e formam um dos principais componentes característicos do sistema rio-zona de inundação, estando ecologicamente integradas (Ferreira et al., 2000).

Welcomme (1985), afirma que sistemas aquáticos permanentes da planície de inundação são geralmente rasos, raramente excedendo 4 metros de profundidade, com ou sem comunicação com o rio. Tais ambientes aquáticos perdem água principalmente por evaporação e, em menor grau, por infiltração na estação seca. Essa perda provoca contração e até mesmo eventual dessecamento de alguns desses ambientes.

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Frequentemente, as lagoas marginais isoladas do rio há mais tempo sofrem maior assoreamento, de forma que as lagoas mais recentes são geralmente as mais profundas e estão em contato permanente ou sazonal com o rio (Vieira & Verani, 2000).

Nas lagoas marginais, grande parte do espaço é ocupada por bancos de vegetação nas porções mais rasas, podendo variar intensamente em função do período do ano (Da Silva & Pinto-Silva, 1989), determinando, em conseqüência, variação nos grupos de organismos que os ocupam, na escala espacial e temporal. Além de representar importante ambiente físico para a vida aquática, as macrófitas atuam decisivamente nos processos de ciclagem de nutrientes e representam a base de cadeias alimentares complexas (Pott & Pott, 2000). Também, esses ambientes podem manter um maior número de indivíduos e espécies de peixes, devido à presença de substratos para desova, recursos alimentares abundantes e refúgio contra predadores (Dibble et al., 1996; Agostinho et al., 2003; Pelicice et

al.,2004). De fato, a presença desta vegetação é determinante na seleção de habitat pelos

peixes (Conrow et al., 1990; Chick & Mcivor, 1997) sendo que algumas espécies estão associadas a manchas de densa vegetação durante todas as fases do ciclo de vida (Savino & Stein, 1989; Winemiller & Jepsen, 1998).

Neste trabalho foi caracterizada a estrutura da ictiofauna associada à macrófitas aquáticas, para testar a hipótese de que a estrutura da comunidade íctica é influenciada pelas mudanças nas condições limnológicas da lagoa, induzidas pelas variações hidrológicas de seca e chuva.

METODOLOGIA ÁREA DE ESTUDO

Os estudos foram realizados na Lagoa do Deda (18°25’58”S - 54°51’8”W), localizada na margem esquerda do Rio Taquari, município de Coxim-MS.

Nesta região, o rio possui altitude aproximada de 200 m e pouca profundidade, devido aos processos erosivos em suas margens, sendo possível observar extensos bancos de areia em seu leito.

A lagoa do Deda está permanentemente conectada ao rio Taquari e é uma área de pesqueiro. Ao longo da lagoa são encontrados vários bancos de macrófitas, onde foram coletdos os peixes nos meses de seca (agosto de 2008, abril e junho de 2009) e chuva (outubro e dezembro de 2008 e fevereiro de 2009).

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Figura 1. Mapa de localização das lagoas marginais ao rio Taquari, no município de Coxim, MS. Lagoa do Buritizinho (Lagoa 1), Lagoa do Ribeirão (Lagoa 2) e Lagoa do Deda (Lagoa 3).

3.2 COLETA DE DADOS

Foram realizadas coletas bimensais, durante o período de agosto/2008 a junho/2009. Para capturar a ictiofauna associada à vegetação aquática marginal foi utilizado um peneirão com 1,0 m2 de área e malhagem de 0,5 mm, realizando-se três lances junto aos bancos de macrófitas e capins submersos e redes de espera de malhas 2 cm e 3 cm entrenós, colocadas junto às macrófitas.

As amostras coletadas foram acondicionadas em sacos plásticos, identificadas quanto ao número da coleta, data e tipo de aparelho utilizado, e posteriormente, fixadas em formol 10%. No laboratório, os peixes foram separados do restante do material orgânico e conservados em frascos de vidro contendo álcool 70%, para posterior identificação. Apenas os indivíduos adultos das espécies de pequeno porte e juvenis de espécies de grande porte foram considerados para identificação, utilizando os trabalhos de Britski et al. (1999 e 2007).

De cada exemplar de peixe capturado foram registradas as seguintes informações: número de indivíduos e biomassa total de cada espécie.

A composição em espécie da comunidade de peixes foi analisada com base na abundância relativa e na constância das amostras, expressa pelo percentual de amostras em

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que uma espécie ocorreu em relação ao número total de amostragens (Dajoz, 1983), expresso por: C = (Pi x 100) / P, onde:

C = Constância da espécie; Pi = número de coletas contendo a espécie “i”; P = total de coletas realizadas.

Os valores calculados de C permitirm agrupar as espécies em três categorias: I – constantes (C ≥ 50%), II – acessórias (C ≥ 25% < 50%) e III – acidentais (C < 25%).

Foram aplicados os seguintes índices de diversidade para as amostras de peixes, nos períodos seco e chuvoso:

a) Diversidade de Shannon-Wiener (Krebs, 1989): H’ = Σ (pi). log2 (pi), onde:

H’= diversidade de espécies (bits/indivíduo); pi = proporção da espécie i na comunidade. Sabendo-se que: pi = (ni/N), onde: ni = número de indivíduos da espécie i; N = número total de indivíduos.

b) Equitabilidade, baseado em função do índice de Shannon (Krebs, 1989): J’ = H’/ log2 S,

onde: J’ = equitabilidade (variando entre 0 e 1); H’ = diversidade de Shannon- Weaver; S = número de espécies na comunidade.

c) Riqueza de espécies (Odum, 1988): d = (S – 1) / log2 N, onde: S = número de espécies;

N= número de indivíduos.

RESULTADOS

Ao todo foram capturadas 50 espécies, distribuídas em 6 ordens, 14 famílias e 13 subfamílias, totalizando 722 indivíduos, somando biomassa igual a 9405,53g. Os grupos dominantes foram: Characiformes, a família Characidae e a subfamília Tetragonopterinae, com 32, 24 e 10 espécies respectivamente.

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Tabela 1. Biomassa e número de peixes capturados durante o período de seca em 2008 e 2009, na lagoa do Deda, rio Taquari, município de Coxim-MS.

Ordem Espécies N° de indivíduos Biomassa (g)

Characiformes Acestrorhynchus pantaneiro 8 267,37

Characiformes Aphyocharax anisitsi 13 8,32

Characiformes Aphyocharax dentatus 1 1,08

Perciformes Apistogramma trifasciata 2 1,52

Characiformes Astyanax abramis 8 11,57

Characiformes Astyanax marionae 1 1,16

Siluriformes Auchenipterus nigripinnis 16 575,92

Gymnotiformes Brachyhypopomus sp. A 1 0,85

Gymnotiformes Brachyhypopomus sp. C 1 0,93

Characiformes Characidium aff. zebra 9 1,84

Characiformes Characidium lateralis 5 1,14

Perciformes Crenicichla edithae 2 3,48

Characiformes Cynopotamus kincaidi 1 0,76

Characiformes Cyphocharax gillii 27 1022,31

Gymnotiformes Eigenmannia sp. 1 0,44

Gymnotiformes Eigenmannia trilineata 50 58,87

Characiformes Gymnocorymbus ternetzi 3 2,64

Characiformes Hemiodus orthonops 52 2002,73

Characiformes Holoschestes pequira 19 6,81

Characiformes Hoplias malabaricus 3 35,14

Characiformes Hyphessobrycon eques 26 5,31

Siluriformes Hypoptopoma inexspectatum 1 2,73

Perciformes Laetacara dorsigera 17 4,8

Characiformes Leporinus lacustris 1 1,63

Characiformes Moenkhausia dichroura 10 65,36

Characiformes Moenkhausia sanctaefilomenae 9 18,71

Characiformes Odontostilbe calliura 40 9,44

Characiformes Odontostilbe kriegi 9 1,32

Characiformes Odontostilbe paraguayensis 38 4,67

Perciformes Pachyurus bonariensis 3 121,9

Siluriformes Pimelodus argenteus 2 97,51

Characiformes Poptella paraguayensis 4 12,98

Characiformes Pyrrhulina australis 4 1,08

Cyprinodontiformes Rivulus punctatus 6 0,59

Characiformes Roeboides prognathus 13 262,85

Characiformes Serrasalmus marginatus 1 93,27

Characiformes Steindachnerina nigrotaenia 5 93,59

Gymnotiformes Sternopygus macrurus 3 39,85

Synbranchiformes Synbranchus marmoratus 2 1,07

Characiformes Tetragonopterus argenteus 1 1,65

Characiformes Triportheus nematurus 2 80,41

De acordo com a Tabela 1, no período de seca foram coletados 420 peixes, distribuídos em 41 espécies, somando uma biomassa de 4925,6g. Houve grande abundância

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das espécies E. trilineata e H. orthonops, que juntas somaram aproximadamente 24,3% do total de peixes coletados.

Tabela 2. Biomassa e número de peixes capturados durante o período chuvoso em 2008 e 2009, na lagoa do Deda, rio Taquari, município de Coxim-MS.

Ordem Espécies N° de indivíduos Biomassa (g)

Characiformes Acestrorhynchus pantaneiro 10 625,92

Characiformes Aphyocharax dentatus 2 0,97

Perciformes Apistogramma trifasciata 9 4,06

Characiformes Astyanax assuncionensis 3 1,48

Characiformes Astyanax marionae 2 4,22

Siluriformes Auchenipterus nigripinnis 25 797,41

Gymnotiformes Brachyhypopomus sp. A 4 20,07

Gymnotiformes Brachyhypopomus sp. C 2 4,48

Characiformes Characidium aff. zebra 14 1,89

Characiformes Characidium lateralis 18 2,86

Perciformes Crenicichla edithae 5 19,41

Perciformes Crenicichla vittata 4 2,78

Characiformes Cynopotamus kincaidi 3 2,15

Characiformes Cyphocharax gillii 22 754,84

Gymnotiformes Eigenmannia trilineata 52 52,36

Characiformes Hemiodus orthonops 29 1203,25

Characiformes Hoplias malabaricus 2 2,56

Characiformes Hyphessobrycon eques 29 9,49

Siluriformes Hypoptopoma inexspectatum 1 2,63

Perciformes Laetacara dorsigera 1 0,29

Siluriformes Loricariichthys platymetopon 5 273,84

Characiformes Moenkhausia sanctaefilomenae 3 7,36

Characiformes Mylossoma paraguayensis 5 1,14

Characiformes Odontostilbe calliura 4 0,78

Perciformes Pachyurus bonariensis 1 66,3

Siluriformes Pimelodella gracilis 2 19,02

Siluriformes Pimelodus argenteus 5 176,1

Perciformes Plagioscion ternetzi 1 50,94

Characiformes Poptella paraguayensis 8 27,67

Characiformes Pygocentrus nattereri 2 103,24

Characiformes Roeboides descalvadensis 2 16,47

Characiformes Roeboides prognathus 8 95,78

Characiformes Serrasalmus marginatus 1 62,98

Characiformes Serrasalmus spilopleura 7 1,54

Gymnotiformes Sternopygus macrurus 6 36,74

Synbranchiformes Synbranchus marmoratus 2 1,32

Characiformes Triportheus nematurus 3 25,59

No período chuvoso houve maior abundância apenas da espécie E. trilineata, que apresentou 17,2% do total de 302 indivíduos coletados. Somente as espécies A. pantaneiro, A.

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nigripinnis, C. gillii e H. orthonops (10,81% do total de espécies no período das chuvas)

somaram juntas mais de 75% da biomassa total, 4479,93g, entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009 (Tabela 2).

Ao analisar o total de indivíduos capturados nos meses de seca e de chuva (Tabelas 1 e 2), vemos que a espécie E. trilineata foi a mais abundante, além da constância em todas as coletas. Por outro lado, algumas espéciesobtiveram um decréscimo acintoso no número de indivíduos observados, principalmente a O. calliura (que de 40 indivíduos no período de seca passou para apenas 4 no período chuvoso) e, ainda, O. paraguayensis que não apresentou representantes no período chuvoso, mesmo após apresentar a quarta maior expressividade no período anterior, com 38 indivíduos capturados. Com relação a biomassa, a espécie H.

orthonops foi a mais abundante nos dois períodos, com 34,1% do total de 9405,53g.

Em relação à constância das espécies durante os 6 meses de coleta, verificou-se que a maioria das espécies (25) foi considerada constante nos bancos de macrófitas, principalmente

E. trilineata e H. eques, presentes em todas as coletas realizadas (C = 100%). Foram

observadas 12 espécies acidentais, sendo que todas elas ocorreram em apenas uma das coletas realizadas (Figura 2).

Figura 2. Frequência de ocorrência das espécies coletadas de agosto de 2008 a junho de 2009, na lagoa do Deda, rio Taquari, município de Coxim-MS.

Foram calculados os índices ictiofaunísticos nas estações seca e chuvosa, para avaliar as variações na diversidade e na riqueza das espécies de peixes onde ficou constatado que

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houve pouca variação entre os períodos seco e chuvoso, portanto a diversidade de peixes não sofreu alteração entre os dois períodos.

Tabela 3. Índices ictiofaunísticos nas estações de seca e chuva, referentes às coletas realizadas durante o período de agosto de 2008 a junho de 2009, na lagoa do Deda, rio Taquari, município de Coxim-MS.

Período seco Período chuvoso

Diversidade 4,42 4,36

Equitabilidade 0,784 0,789

Riqueza 4,59 4,37

DISCUSSÃO

A composição da ictiofauna na lagoa do Deda mostrou maior riqueza de espécies para a ordem Characiformes (64%). As ordens Gymnotiformes, Perciformes, Siluriformes, Cyprinodontiformese Synbranchiformes também se fizeram presente. Esse evento concorda com o padrão geral esperado para ambientes neotropicais de água doce (Lowe-McConnell, 1999). Entretanto, de acordo com Agostinho et al. (2007), apesar destas ordens serem dominantes em todas as bacias sul-americanas, a composição especifica e o número de espécies entre bacias varia muito. Esse fato não só se deve as questões ambientais, que alteraram as condições limnológicas da lagoa através das variações hidrológicas de seca e chuva, mas também aos métodos de captura.

Das 50 espécies capturadas junto aos bancos de macrófitas (Eichhornia azurea, E.

crassipes, e Salvinea auriculata), 25 foram constantes (50%), 12 espécies foram acidentais

(24%) e 13 acessórias (26%). O estudo da constância de espécies, numa determinada comunidade, pode demonstrar o possível efeito de alterações sazonais sobre ela (Uieda, 1984).

Voltando-se para os índices ictiofaunísticos, pode-de observar que a diversidade, equitatibilidade e riqueza apresentaram pouca variação os períodos de seca e chuva. Não foi possível inferir nenhuma modificação na estrutura da comunidade através dos índices de diversidade e eqüitabilidade de Shannon por terem se comportado de maneira semelhante tanto no período seco quanto no chuvoso. Esses índices desconsideram a identidade das espécies no seu cálculo, sendo insensíveis às diferenças que existem na composição da

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ictiofauna. Assim, a interpretação destes resultados deve ser feita com cautela levando em consideração o papel ecológico de cada espécie.

Em estudos sobre assembléias de peixes, há uma variedade de parâmetros mensuráveis, em que o número de famílias e o número de espécies por família são medidas interessantes a serem observadas (Matthews, 1998), sendo o número de espécies um indicador da integridade do ambiente (Hughes, 1995). Segundo Moyle & Li (1979), em locais onde ocorre elevada riqueza de espécies, o número de famílias existentes é relativamente grande.

Um dos principais fatores abióticos que influenciam a diversidade biológica é a estrutura do habitat (Gorman & Karr, 1978; Ricklefs & Schluter, 1993). A complexidade ambiental propiciada pelos bancos de macrófitas aquáticas oferece alimento e refúgio para peixes, reduzem as taxas de predação e em conseqüência atraem grande quantidade de peixes presas, principalmente aqueles de pequeno porte, aumentando consideravelmente a diversidade nestes ambientes (Dibble et al., 1996; Esteves, 1998). O valor de diversidade encontrado neste ambiente está de acordo com o previsto na maioria dos modelos para ecótonos de ecossistemas de alta produtividade. No arquipélago de Anavilhanas, um dos ecossistemas de água doce mais complexos do mundo, fortemente influenciado por interfaces entre terra e água, Goulding et al. (1988) estimou a diversidade da ictiofauna em H’= 4,37. Outros corpos d’água associados ao rio Negro, estudado pelos mesmos autores, apresentaram riquezas entre 31 e 108 espécies de peixes. Na bacia Tocantins-Araguaia, vários lagos associados às áreas de inundação do rio Araguaia, apresentaram riquezas variando entre 30 e 79 espécies e diversidades entre H’=3,19 e H’=4,63 (Tejerina-Garro et al., 1998). Desta forma, tanto a riqueza de espécies como a diversidade encontradas na área amostrada, sugerem que os ecótonos formado por bancos de macrófitas no Panatanal de Mato Grosso podem ser consideradas áreas de alta complexidade, comparáveis aos ambientes de maiores riqueza e diversidade de peixes da região Neotropical. Além do mais, as 50 espécies identificadas neste estudo representam aproximadamente 18,6% das espécies de peixes descritas até o momento para todo o Pantanal, incluindo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Britski et al.,2007).

Em lagoas marginais, as espécies de pequeno porte predominam em número. Em nosso estudo, as espécies que predominaram foram E. trilineata, A. pantaneiro, A. nigripinnis,

C. gillii, H. orthonops, O. calliura. Essa predominância deve estar associada à presença

abundante de macrófitas aquáticas, que oferecem locais ideais para forrageamento (Esteves, 1996, Esteves et al., 2000, Meschiatti et al., 2000, Casatti et al., 2003, Pelicice & Agostinho, 2006) e abrigo contra predadores (Smith & Barrella 2000), além de fornecerem oxigênio

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através de suas raízes (Jedicke et al., 1989, Sánchez-Botero et al., 2003) e de constituírem micro-hábitats lênticos pouco profundos que propiciam condições favoráveis para o estabelecimento destas espécies (Ferreira et al., 2000). De acordo com esses autores, esses biótopos marginais disponibilizam abrigo e alimento para espécies de pequeno porte, constituindo-se em ambientes onde esses peixes podem completar todo o seu ciclo de vida.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq, pelo apoio financeiro e a UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul).

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