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ESTUDO DA TRANSMUTAÇÃO DE ALGUNS REJEITOS RADIOATIVOS UTILIZANDO AS EQUAÇÕES DE BATEMAN

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2009 International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2009 Rio de Janeiro,RJ, Brazil, September27 to October 2, 2009 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA NUCLEAR - ABEN ISBN: 978-85-99141-03-8

ESTUDO DA TRANSMUTAÇÃO DE ALGUNS REJEITOS

RADIOATIVOS UTILIZANDO AS EQUAÇÕES DE BATEMAN

Horus Ibrahim Orlandie João M. L. Moreira Centro de Engenharia e Ciências Sociais Aplicada, CECS

Universidade Federal do ABC Rua Santa Adélia, 166 Bairro Bangú

09210-170 Santo André, SP horus.orlandi@ufabc.edu.br joao.moreira@ufabc.edu.br

RESUMO

Nesse trabalho é obtida uma solução numérica das equações de transmutação nuclear utilizando o algoritmo de Bateman. A solução numérica foi implementada em linguagem JAVA e o programa fornece a variação temporal da população de cadeias de decaimento de isótopos que surgem devido a transmutação nuclear. As cadeias de

decaimento estudadas foram as do 99Tc, 93Zr, 135Cs, 137Cs e 90Sr, devido suas longas meias-vida e elevados

rendimentos de fissão. A população dos vários isótopos das cadeias foi obtida em função do tempo. Com o resultado apresentado é possível entender o processo de decaimento radioativo e a necessidade de armazenamento dos rejeitos radioativos ao longo dos anos.

1. INTRODUCÃO

As fontes geradoras de energia no mundo como petróleo, carvão e gás natural, são as principais responsáveis pela geração de gases do efeito estufa no planeta. Por esse motivo surgiu à necessidade de se buscar fontes alternativas de energia que atendam às demandas do Protocolo de Kyoto e, entre elas, encontra-se a fonte nuclear [1-3]. Entretanto, a sociedade questiona o setor nuclear por não possuir uma solução adequada para os rejeitos radioativos [3-5]. A radioatividade é o processo em que o núcleo se desintegra espontaneamente (decaimento), emitindo radiação ao longo do tempo, até atingir a estabilidade [6]. Neste trabalho estudaram-se os aspectos relacionados aos rejeitos da fonte de energia nuclear e os tempos necessários de armazenagem de alguns dos rejeitos radioativos.

A reação nuclear de fissão por um nêutron do 235U e outros isótopos gera como produtos dois isótopos radioativos de número de massa aproximadamente a metade do núcleo fissionado, radiação gama, neutrinos e energia [6]. Imediatamente após a fissão nuclear, os produtos de fissão iniciam seus processos de decaimento radioativo, e é nesse instante que começa o problema dos rejeitos radioativos [4-7].

A meia-vida dos produtos de fissão varia muito, desde frações de segundo até milhões de anos. As cadeias de decaimento com meias vida mais longas demoram mais tempo para decair e durante este tempo requerem uma estocagem adequada.

Os isótopos considerados neste estudo são 99Tc, 93Zr, 135Cs, 137Cs e 90Sr por apresentarem longas meias-vida e seus produtos de fissão precursores surgem com grande freqüência no

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processo de fissão nuclear [5,7]. Para obter o comportamento temporal da população destes isótopos nos rejeitos radioativos foi desenvolvido um programa de computador que resolve as equações de transmutação utilizando o algoritmo de Bateman [8,9]. Na seção 2 apresenta-se as cadeias de decaimento dos isótopos estudados e a base teórica do algoritmo de Bateman, na seção 3 apresenta-se a implementação numérica do algoritmo, na seção 4, os resultados obtidos e na seção 5 as conclusões.

2. CADEIAS DE DECAIMENTO

A Tabela 1 apresenta as cadeias de decaimento, a meia-vida e o rendimento dos produtos de fissão dos isótopos aqui estudados. Em negrito encontram-se os isótopos importantes na cadeia e o primeiro de cada conjunto é o produto de fissão precursor. Os dados nucleares foram obtidos da Tabela de Nuclídeos do KAERI [10]. O processo de decaimento de um isótopo pode ser descrito por uma equação de conservação da quantidade do isótopo da seguinte forma

taxa de variação temporal da

população do isótopo = taxa de produção do isótopo - taxa de desaparecimento do isótopo (1)

onde a taxa de produção do isótopo é oriunda de decaimentos de isótopos pais e a taxa de desaparecimento é oriunda do decaimento do isótopo.

Para exemplificar, vamos considerar a cadeia de decaimento do 137Cs mostrada na Tabela 1. Sejam I(t), Xe(t), Cs(t) e Ba(t) as populações no instante t do 137I, 137Xe, 137Cs e 137Ba, respectivamente. Então as equações que descrevem a evolução temporal destes isótopos são

I dt dI I    (2) Xe I dt dXe Xe I     (3) Cs Xe dt dCs Cs Xe     (4) Cs dt dBa Cs   (5)

(3)

INAC 2009, Rio de Janeiro, RJ, Brazil.

Tabela 1. Cadeia de alguns produtos de fissão, Fonte: Ref. 10

Isótopo Meia-vida (dias) Rendimento

Cadeia TC 99 Zr 99 1,157E-5 5,62E-02 Nb 99 1,736E-4 3,93E-02 Mo 99 2,7475 6,11E-02 Tc 99 7,71E7 6,11E-02 Ru 99 Estável 6,11E-02 Cadeia Zr 93 Rb 93 6,759E-5 3,61E-02 Sr 93 5,157E-3 6,25E-02 Y 93 4,2416E-1 6,39E-02 Zr 93 5,588E8 6,39E-02 Nb 93 Estável 6,39E-02 Cadeia Cs 135 Te 135 2,199E-4 3,24E-02 I 135 0,273 6,29E-02 Xe 135 0,380 6,53E-02 Cs 135 8,40E8 6,53E-02 Ba 135 Estável 6,53E-02 Cadeia Cs 137 I 137 2,836E-4 4,26E-03 Xe 137 2,651E-3 6,11E-02 Cs 137 1,098E4 6,27E-02 Ba 137 Estável 6,27E-02 Cadeia Sr 90 Kr 90 3,740E-4 5,04E-02 Rb 90 1,828E-3 4,64E-02 Sr 90 1,0515E4 5,90E-02 Y 90 2,666 5,90E-02 Zr 90 Estável 5,90E-02

Para a solução deste sistema de equações diferenciais acopladas é necessário conhecer a condição inicial de cada isótopo. Nesta cadeia, I(0) pode ser obtida a partir do rendimento e da taxa de fissão que ocorre no reator, isto é I(0) . Os outros isótopos não existem I0 previamente e são produzidos pela sequência de decaimentos. Para eles temos as condições iniciais Xe(0)Cs(0)Ba(0)0. A solução do sistema de equações, Eqs. 3 a 6, pode ser realizada utilizando o algoritmo de Bateman mostrado na próxima seção [8,9].

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2.1. Solução utilizando o algoritmo de Bateman

As cadeias de decaimento constituem um sistema de equações acopladas que apresentam dificuldade de solução devido a grande diferença de magnitude entre os parâmetros (até 10 ordens de magnitude para a meia-vida). O algoritmo de Bateman é utilizado por sua estabilidade [9,10] e será utilizado neste trabalho. Considere uma cadeia de K decaimentos qualquer e nomeou os isótopos da cadeia como Ni, i = 0,1,...,K. A Figura 1 mostra o esquema

de decaimento.

K

N

N

N

N

0

1

2

...

Figura 1. Esquema de decaimento na cadeia para o algoritmo de Bateman

O valor inicial, ou seja, no instante zero, pode ser obtido a partir do rendimento e da taxa de fissão que ocorre no reator. Esses valores podem ser observados pelo rendimento para cada elemento da Tabela 1. O sistema de equações tem a seguinte forma

N(0) = N0 = Rendimento do produto de fissão (6)

) ( ) ( 1 1 0 0 1 t N N dt t dN   (7) ) ( ) ( ) ( 2 2 1 1 2 N t N t dt t dN   (8) ) ( ) ( ) ( 3 3 2 2 3 N t N t dt t dN   (9) ) ( ) ( 1 1N t dt t dN k k k    (10)

Os outros isótopos não existem previamente e são produzidos pela seqüência de decaimentos. Nota-se um padrão de repetição neste sistema e a solução geral para cada posição na cadeia é dada por

    

K j i j k k j k t K i j

e

N

t

N

0 1 0 1 2 1

)

(

...

)

(

(11)

(5)

INAC 2009, Rio de Janeiro, RJ, Brazil.

3. SOLUÇÃO NUMÉRICA DAS EQUAÇÕES DE BATEMAN

Os produtos de fissão, ao decaírem, podem encontrar ramificações nas cadeias de decaimento. Como existem diversas maneiras de decaimento (decaimento β– ou β+) um mesmo isótopo poderá decair em elementos diferentes. As cadeias de decaimento não são sempre lineares e, com isso, um mesmo produto de decaimento poderá ser formado por diversas cadeias. Para encontrar a variação temporal desse produto, deve-se somar todas as cadeias em que esse elemento pode receber decaimento.

Outra situação ocorre quando em uma mesma cadeia, vários de seus isótopos podem ser produtos de fissão, como mostra os exemplos da Tabela 1. Assim, para obter-se a população de todos os isótopos deve-se resolver a Eq. 12 para as várias cadeias de decaimento cujo precursor seja cada um dos produtos de fissão [8,9].

Para a solução do problema foi desenvolvido um programa em Java que resolve a Eq. 11 levando em consideração as características das cadeias de decaimento. Para edição e leitura do programa, foi utilizado o compilador gratuito IDE NetBeans [11]. Esse programa utiliza os dados da Tabela 2 como entrada, calcula a população de cada isótopo da cadeia em função do tempo e escreve esses dados em arquivos de saída, com extensão “.dat”.

4. ANÁLISE DAS CADEIAS DE DECAIMENTO

As Figuras 2 a 6 mostram a população dos vários isótopos em função do tempo para as cinco cadeias estudadas. Na Figura 2 temos que a população de 137Cs provém da formação do 137I a partir das fissões nucleares. Podemos ver através dessa figura a transmutação desse elemento para o 137Xe em questão de alguns décimos de milésimos de dia. Menos de um centésimos de dia depois já é possível observar a formação do 137Cs. Esse isótopo possui tempo de meia vida longo, de 30,6 anos. Como a cada meia vida a população é reduzida pela metade, então em 5 meias-vida temos apenas 2% da população inicial. Após cerca de 150 anos (ou aproximadamente 56.000 dias) praticamente toda a população do 137Cs é transmutada para

137Ba, que é estável. Esta cadeia deixa de ser um rejeito radioativo em cerca de 56.000 dias ou

aproximadamente 150 anos.

De maneira análoga à Figura 2 se desenvolvem as cadeias de decaimento do 90Sr, 93Zr, 135Cs e 99Tc. A título de ilustração apresentamos também a cadeia de decaimento do outros

isótopos. Podemos ver que, assim como o 137Cs, os decaimentos desses principais isótopos são bastante lentos em relação aos outros isótopos da cadeia.

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Figura 2. Cadeia de decaimento do 137Cs

Figura 3. Cadeia de decaimento do 99Tc

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INAC 2009, Rio de Janeiro, RJ, Brazil.

Figura 5. Cadeia de decaimento do 135Cs

Figura 6. Cadeia de decaimento do 933Zr

Os isótopos com cadeias de decaimentos de longa duração possuem baixa atividade e podem gerar ou não problemas à saúde de indivíduos, dependendo da energia da radiação emitida. Na Tabela 2 podemos ver o tempo de estabilidade dos principais isótopos e suas respectivas atividades para uma população inicial de 100 átomos. Analisando a tabela verificamos que os isótopos de maior risco a saúde são 137Cs e 90Sr, pois possuem uma atividade elevada e, consequentemente, requerem estocagem por mais de 100 anos.

Tabela 2. Dados dos principais rejeitos radioativos

Cadeia Tempo necessário para se estabilizar (anos) Atividade relativa (Bq) 137Cs 150 6,31E-3 90Sr 145 4,59E-3 93Zr 8x106 1,24E-7 135Cs 12x106 8,25E-8 99Tc 1x106 8,98E-7

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5. CONCLUSÃO

Foi desenvolvido um programa para estudar o comportamento temporal dos isótopos integrantes de cadeias de decaimento existentes nos rejeitos radioativos baseado no algoritmo de Bateman. O programa foi escrito em linguagem JAVA. Os isótopos considerados foram

99Tc, 93Zr, 135Cs, 137Cs e 90Sr por apresentarem longas meias-vida e precursores com grande

abundância no processo de fissão. Os resultados permitiram uma compreensão do processo de decaimento radioativo e da necessidade de estocagem de rejeitos radioativos ao longo do tempo. Por exemplo, que os isótopos de maior risco a saúde são 137Cs e 90Sr, pois possuem uma atividade elevada e, consequentemente, requerem estocagem por mais de 100 anos.

AGRADECIMENTOS

O primeiro autor agradece a UFABC pela bolsa de Iniciação Científica proporcionada e também a possibilidade de cursar a disciplina de experimentos de reatores nucleares no reator IPEN/MB-01 do IPEN/CNEN-SP.

REFERÊNCIAS

1. C. A. Nobre, Eduardo D. Assad e Marcos D. Oyama, “Mudança ambiental no Brasil”, Scientific American Brasil, 12, pp. 70 (2005).

2. J. Goldemberg, “Energia, meio ambiente e desenvolvimento”, Editora Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil (2001).

3. International Atomic Energy Agency, “Sustainable development and nuclear power”, International Atomic Energy Agency, Vienna, Austria (2006).

4. Nuclear Energy Agency, “Advanced nuclear fuel cycles and radioactive waste management”, Organisation for Economic Cooperation and Development, NEA No. 5990, France (2006).

5. Comitê de Rejeitos Radioativos e Meio Ambiente, ABEN, “Situação atual dos rejeitos radioativos no Brasil e no mundo”, Associação Brasileira de Energia Nuclear, Rio de Janeiro, Brasil (2006).

6. K. C. Chung, “Introdução a Física Nuclear”, Ed. Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil (2001).

7. R. G. Cochran, N. Tsoufanidis, “The nuclear fuel cycle: analysis and management”, Ed. American Nuclear Society, La Grange Park, USA (1999).

8. J. Cetnar, “General solution of Bateman equations for nuclear transmutation”, Annals of Nucl. Energy, 33, pp. 640 (2006).

9. G. F. Thomas, D. H. Barber, “Numerical solution of Bateman systems”, Annals of Nucl. Energy, 20, pp. 407 (1993).

10. “Table of nuclides, Korea Atomic Energy Research Institute”, http://atom.kaeri.re.kr/ (2009).

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