• Nenhum resultado encontrado

apontamentos_completos Cumprimento e não cumprimento das obrigações

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "apontamentos_completos Cumprimento e não cumprimento das obrigações"

Copied!
110
0
0

Texto

(1)

Capítulo I – Cumprimento das obrigações

Aspectos gerais

Noção de cumprimento – artigo 762º

- 762º Nº1: o devedor cumpre a obrigação quando realiza a prestação a que está vinculado.

Existem três sentidos para o cumprimento:

 Sentido comum/menos rigoroso (artigo 762º nº1) – realização voluntária de prestação debitória por parte do devedor.

 Sentido amplo – realização voluntária ou coactiva da prestação debitória (abrange o artigo 817º do CC – princípio geral sobre a acção de cumprimento, envolve também uma realização compulsiva, isto é, realização forçada com recurso a tribunal).

 Sentido intermédio (829ºA) – o devedor cumpre sob ameaça de sanção compulsória. Exemplo: o devedor que não cumpra a obrigação no prazo estipulado de acordo com o sentido comum de comprimento, deverá pagar uma sanção compulsória por cada dia em que não cumpra.

Duas notas acerca deste sentido intermédio: - Não constitui em rigor cumprimento;

- O professor Antunes Varela critica esta alteração; o professor Galvão da Silva defende-a.

Princípios que regem o cumprimento:

Não são os princípios gerais do contrato, mas sim de quaisquer obrigações, desde que respeitam ao momento do cumprimento. 1) Princípio da Boa fé – artigo 762º nº2

2) Princípio da Pontualidade – 406º nº1 3) Princípio da Integralidade – 763º Princípio da boa fé:

- Aplicação aos contratos (aquando): a) Celebração dos contratos b) Na sua vigência

c) No cumprimento das obrigações contratuais

 Deveres primários da prestação (entrega da coisa)

 Deveres secundários da prestação (coisa embolada/entregue na residência)

 Deveres acessórios da prestação (informação sobre a coisa)

(2)

Violação destes últimos gera violação do princípio da Boa fé que, por sua vez, gera responsabilidade contratual.

Princípio da pontualidade:

- “Pontualmente cumprido” – tem que ser cumprido em todos os aspectos que estão estipulados – artigo 406º nº2.

Princípio da Integralidade:

- Quando há uma determinada obrigação, ela tem que ser cumprida integralmente (e não por partes), a não ser que tenha sido convencionado de maneira diferente pelas partes (exemplo: pagamento a prestação).

[?] Atenção: isto é, difere de várias obrigações dentro do mesmo contrato (exemplo: rendas no arrendamento a cada mês correspondem a uma obrigação, portanto não se aplica aquele regime de antecipação das prestações, porque são obrigações diferentes).

- Importância prática – se a prestação tem que ser feita por inteiro, e só se oferece metade, quem é que fica em mora em relação à metade que estou disposta a dar? O credor pode recusar-se a receber essa metade? Sim, consequência do princípio em causa, logo, o devedor fica em mora relativamente a toda a quantia.

Excepções convencionais : estabelecidas pelas partes.

Excepções legais: impostas pela lei. Quando é que a lei impõe que o credor está obrigado a aceitar uma parte da prestação?

1 – Obrigações incorporadas em letras e cheques (matéria de Direito Comercial).

2 – Regime da imputação do cumprimento (A tem 5 dívidas com B e a quantia que entrega não chega para pagar todas as dívidas, então, existem regras para saber a que divida se destina a quantia ou se se distribui por várias dívidas).

3 – Compensação parcial – desvio ao princípio da integralidade, paga-se uma parte e fica-se a dever a outra (817º nº2). Exemplo: X, devedor de Y, deve 1000€ e Y deve 200€, não é preciso que paguem um ao outro a totalidade do valor, isto é, se operar a compensação parcial, X fica a dever a Y 800€.

Requisitos do cumprimento:

Para que ele seja válido e eficaz é preciso: 1 – A capacidade do devedor (764º nº1):

(3)

- Nº1, 1ª parte (até disposição):

 Regras diferentes do regime geral da capacidade negocial (excepção)

 Em certas situações em que o devedor é incapaz, o cumprimento é valido;

 Atenção que aqui acto dispositivo é tradicionalmente contraposto a acto material e não a acto administrativo (ex: cortar relva; pintar uma parede);

 Acto de disposição – um menor ou um interdito podem realizar actos materiais;

 O devedor tem que ser capaz (ex: um menor não pode celebrar um contrato de CV, mas pode entregar a coisa, porque a transmissão da propriedade assume no momento da celebração do contrato).

Esta regra do nº1 é igual à regra da capacidade negocial? O menor de 12 anos pode celebrar um contrato para cortar relva por 10 €? Não, tinha que ser celebrado pelo representante. Aqui falamos sim de capacidade de cumprimento, o devedor tem capacidade para levar a cabo apenas actos meramente materiais.

Agora, imaginando que o negócio foi celebrado pelo representante legal, mas ainda não se entregou a coisa? O credor vai a casa do menor e este sem saber entrega-lhe a coisa, embora ela já tivesse vendida? È um acto material ou de disposição? É um acto material, porque no Direito Português, o acto de disposição deu-se com a celebração do contrato (artigo 408º nº1). Entregar uma coisa já vendida não é o mesmo que vendê-la.

2ª Parte do nº1:

1 – Se forem praticados actos de disposição por devedor incapaz, que situações abrange? Quando o acto de cumprimento é inválido = pode ser destruído pela parte a quem prejudica; o representante legal pode impugnar o cumprimento; o credor pode opor-se à impugnação do cumprimento, impugnando que o devedor não foi afectado pelo cumprimento. Ex: Dívida pecuniária – jovem de 14 anos deve 100 €, o credor bate à porta no dia em que vence a dívida e o pai do menor não está, mas o cheque está em cima da mesa e a criança entrega o cheque. Este é

(4)

um caso em que o devedor fica prejudicado? Pode ser impugnado? Não nos parece e cabe ao credor demonstrar que não. Já no caso de existirem dívidas recíprocas: C deve ao incapaz 500€ e este 100€ (compensação parcial), contudo paga tudo, aqui é notoriamente prejudicial.

2 – Capacidade do credor:

 Artigo 764º nº2

 Se o credor for incapaz, é o seu representante legal que recebe a prestação;

 Se o incapaz porventura recebe a prestação e se a prestação chega ao incapaz, o representante não pode impugnar; se o incapaz recebe a prestação e fica com ela, o capaz não pode impugnar o acto também, mas se o incapaz deitou a prestação fora, já pode.

3 – Legitimidade do devedor para dispor do objecto da prestação:

 Exemplo: Falta do consentimento do cônjuge para a alienação de um bem = falta de legitimidade.

Invalidade do cumprimento

Depende de saber qual a natureza do acto de cumprimento. Que natureza tem o acto de cumprimento?

- Solução consensual na doutrina: não é um negócio jurídico, mas sim, acto jurídico simples (artigo 295º).

Assim, sendo um acto jurídico simples, aplica-se o artigo 295º, que remete para a aplicação analógica do regime de invalidade dos negócios jurídicos (com as devidas aplicações), podendo desta forma ser objecto de uma acção de nulidade = aplicação extensiva do regime da declaração de nulidade e anulação do negócio jurídico.

Quem pode fazer a prestação?

-

Artigo 767º – Princípios:

 O devedor, na maioria dos casos.

 E um terceiro?

- Nº1 – 3º interessado ou não (porque a intenção passa pelo cumprimento da obrigação do credor) no cumprimento da obrigação (Ex: Alberto paga a dívida de Joana, sem a conhecer de lado nenhum).

(5)

- Nº2 – Prestações infungíveis não podem ser cumpridas por terceiros.

[?] E se o credor não quiser receber?

- O credor não pode recusar a prestação feita por terceiro, se esta for fungível.

- Se o credor recusar a prestação por terceiro quando a prestação for fungível – nº1, o credor incorre em mora perante o credor.

Casos de relevância da oposição do devedor relativamente à realização da prestação por parte de um terceiro (importância do interesse do credor, com a relevância secundária do interesse do devedor - artigo 768º nº2 – dois pressupostos:

1 – Se o credor quiser recusar também ele a prestação

2 – O terceiro não pode ficar sub-rogado no lugar do credor

nos termos do artigo 592º (sub-rogação legal).

Desta forma, é muito difícil que um terceiro que queira realizar a prestação, não a possa realizar.

Importância: 768º nº2 – última parte. Consequências do regime do 768º nº1 e 2º?

i) O terceiro pode cumprir contra a vontade do credor, se o devedor estiver de acordo;

ii) O terceiro pode cumprir contra a vontade do devedor, se o credor estiver de acordo (nº2 parte final);

iii) O terceiro pode cumprir contra a vontade de ambos, se for alguém se encontre numa das duas situações do 592º (nº2, 1ª parte) – regime de sub – rogação legal (= coloca-se no lugar de outrem, como forma de transmissão de direitos, neste caso).

Porque aqui não é um terceiro qualquer, é um terceiro que por lei, está interessado no cumprimento do crédito.

Situações de sub – rogação legal (592º):

 Quando o terceiro tenha garantido o cumprimento da obrigação (ex: o terceiro é fiador de A e paga o crédito deste para com B, passando assim a ser credor de A).

(6)

 Quando o terceiro tenha interesse no cumprimento da obrigação do devedor, para além dos casos anteriores (ex. sublocatário quanto à renda do locatário).

L Renda A

Renda

S – L (3º terceiro)

Se L não pagar a A, SL vai perder automaticamente o quarto, portanto S-L vai ter interesse em cumprir a obrigação de L, ficando sub-rogado no lugar de A contra L.

A quem pode ser feita a prestação?

 Ao credor actual (pode não ser o originário, podem ser os herdeiros).

 Ao representante legal, quando o credor for incapaz.

 Aos titulares dos órgãos com função de representação da pessoa colectiva quando o credor for a pessoa colectiva.

 E nos casos da prestação feita a 3º? Em princípio extingue a obrigação (excepção 770º).

 E nos casos da prestação feita ao credor do credor?

Exemplo: A deve 1000 € a B, B deve 1000 € C, A paga os 1000 € a C, a dívida extingue-se?

O terceiro pode cumprir, isso não se contesta, porque é 3º (767º) – é fungível – logo a segunda dívida extingue-se obviamente.

[?] A dúvida está em saber se a 1ª obrigação também fica extinta (770º alínea d)?

- 1ª Parte: o credor B aproveita-se do cumprimento feito por A a C.

- 2ª Parte é discutível: há casos em que o credor tem interesse fundado (vantagem) em não considerar a obrigação como feita a si próprio (exemplo típico: excepção do incumprimento do contrato – se a 1ª dívida se considerar extinta, B não pode invocar este meio para pressionar A, ou seja, B vai preferir que se considere que a obrigação não foi feita a si próprio).

E se o devedor cumprir a um credor aparente?

- A prestação não extingue a obrigação, salvo em situações excepcionais. Exemplo: cessão de créditos: D --- C1 que elabora uma cessão de créditos a C2; D paga a C1 quando o credor actual era C2. Nesse caso, se o devedor cumprir antes de ter conhecimento da cessão, a obrigação extingue-se.

(7)

Lugar e tempo da prestação

Regime: 772º - 776º CC Lugar:

Atenção, a principal razão pela qual se erra muito nesta questão prende-se com a aplicação do artigo 772º como regra – mãe: só que as excepções são mais importantes que a regra (pergunta comum de exame).

Há que ver as normas especiais na regra dos “Contratos em especial”, a mais importante e comum é a regra especial do artigo 885º (compra e venda) – nº1 – no momento e lugar da entrega da coisa vendida (ou seja, não tem nada a ver com o domicilio do credor 772º).

Qual é o lugar de entrega da coisa móvel? 773º - No lugar onde a coisa se encontrava ao tempo da conclusão do negócio (na loja por exemplo). Assim a resposta envolve a aplicação do artigo 885º + 773º.

774º - As obrigações pecuniárias devem ser cumpridas no domicílio do credor (ao contrário do princípio geral do artigo 772º).

Logo, o 772º nº1 (no domicílio do devedor) é regra supletiva. Tempo:

Obrigações puras/sem prazo (777º nº1) versus obrigações a prazo

 Pode ser exigida a todo o tempo

 O devedor pode cumprir a qualquer altura

 São muito raras hoje em dia

 O 777º nº2 prevê que se possa atribuir um prazo a uma obrigação pura (através da intervenção do tribunal = processo judicial de fixação de prazo (777º nº2 + CPC).

Quando há prazo, este decorre a favor do devedor (presunção – artigo 779º). Ex: requisitamos um livro na biblioteca e dão – nos 15 dias, podemos devolvê-lo no 15º se quisermos. O beneficio do prazo é do devedor, excepto se o prazo tiver sido fixado/estabelecido em favor do credor ou em favor dos dois (por exemplo, o devedor quer cumprir, o credor não quer logo, este último incorre em mora e vice-versa).

(8)

Perda do benefício do prazo (780º):

- Situação de insolvência do devedor

- Diminuição das garantias prestadas ou falta das garantias prometidas por causa imputável ao devedor (ex. uma casa está hipotecada e arde = a garantia desceu de valor, logo a dívida está menos protegida, logo o credor pode exigir o cumprimento imediatamente).

Regime especial quanto a obrigações liquidáveis (781º) (+ regime especial relativamente à CV a prestações – 934º).

 Antecipação da exigibilidade (não é automático) e não do “vencimento” (é automático)? A doutrina diz que a expressão “vencimento” é infeliz, porque o credor pode não querer o vencimento automático das prestações (o 781º aponta para isso) – a doutrina prefere a leitura como “exigibilidade”, de modo a que o credor tenha de exigir do devedor o pagamento das prestações, se assim o desejar (se não o desejar, o prazo mantém-se como estava).

O 934º prevê a exigibilidade, o que vem reforçar a posição da doutrina quanto ao 781º (dizem que o legislador não usou a expressão “vencimento” no sentido rigoroso).

Artigo 778º

Nº1: O credor tem de provar que o devedor já tem a possibilidade de cumprir, para poder exigir a prestação. Mas se o devedor morrer, a prova não é necessária.

Nº2: Se o devedor puder cumprir quando quiser, o credor só pode exigir dos herdeiros a satisfação da prestação através do património da herança e não do património próprios dos herdeiros.

[?] E se ficar acordado que o devedor só cumpre se quiser? Não é uma obrigação jurídica, é meramente moral ou social.

Imputação do cumprimento

D tem três dívidas para com C: uma de 100.000€; a segunda de 20.000€; e outra de 10.000€. Contudo só tem 50.000€. Como é que esta questão se resolve?

Aplicação do artigo 783º = se o devedor tem várias dívidas da mesma espécie (por exemplo todas em €), pode escolher a dívida a ser paga com o seu património (desde que respeite o princípio da integralidade).

(9)

Nº2 – se não for possível seguir as regras do nº1, os 50.000€ são

imputados nas 3 dívidas, de forma

proporcionalmente/rateadamente (excepção ao princípio da integralidade).

785º - Se o património do devedor não chegar para isto tudo, paga-se pela ordem expressa no nº1 (despesas, indemnizações, juros, capital).

Capítulo II – Formas de extinção das obrigações

Para além do cumprimento: realização do interesse do credor, da prestação a que estava vinculado; existem outras formas de extinção das obrigações.

a) Dação em cumprimento: 837º e seguintes;

b) Dação em função do cumprimento: 840º - não é uma forma de extinção imediata da obrigação, apenas se for realmente satisfeito o interesse do credor;

c) Cessão de bens aos credores: 831º e seguintes (também não é uma forma imediata);

d) Consignação em depósito: 841º e seguintes; e) Compensação: 847º e seguintes; f) Novação: 857º e seguintes; g) Remissão: 863º e seguintes; h) Confusão: 868º. a) Dação em cumprimento: - Noção: 837º CC

- Necessidade de concordância do credor – ex: A deve 1000€ a B, quando A deve restituir, não tem esse dinheiro mas, tem um carro que vale o mesmo, menos ou mais, e, apresenta ao credor a possibilidade de lhe entregar o carro como forma de extinguir a dívida, e o credor aceita. Isto é possível, não foi através do cumprimento que a obrigação se extinguiu, mas sim através de uma prestação diversa.

- Três elementos de caracterização da figura:

1. Realização de uma prestação diferente da que era devida;

2. Realização dessa prestação diversa tem que ter por fim, extinguir imediatamente a obrigação.

3. Acordo do credor relativo à exoneração do devedor em relação à obrigação.

(10)

1. “Prestação de coisa diversa da que é devida”: dá a entender que, a exoneração teria apenas de se dar através de uma coisa, circunscrevendo-se à prestação de coisas. Contudo não é assim, devemos fazer uma interpretação ampla. Qual é então o âmbito de aplicação?

- Pode ser através da prestação de uma coisa diversa da que era devida (ex. dado a trás = transmissão do Direito de propriedade). Mas, pode aplicar-se também à transmissão de um usufruto ou, até de um Direito de Crédito (ex. A credor de B, em 1000€; B não tem dinheiro na data de vencimento da obrigação, mas B também é credor de C, e tem um crédito com C que vale 1500€ e então pergunta: aceitas que te transmita o crédito com C? Extinguindo-se assim a minha dúvida? A aceita e transmite a B, com a consequência de se considerar imediatamente extinta a obrigação de 1000€ que me devias entregar.

2. Importante para distinguir esta da dação em função do cumprimento.

Hipótese: A devia a B 1000€ (exemplo do carro).

1 – A diz a B que recebe o carro e a dívida fica extinta e B aceita = Exemplo de Dação em cumprimento.

2 – A entrega a B o carro e este com o valor da venda do carro extingue a dívida (sendo que se vender por 1500€, os 500€ voltam para o devedor). Aqui as partes não pretendem extinguir imediatamente a obrigação mas sim, que o credor facilite o cumprimento futuro da obrigação, com a entrega da casa; a obrigação em si, só será cumprida aquando da satisfação do valor total no futuro = Exemplo de dação em função do cumprimento.

Existem duas hipóteses em que o legislador presume que, na dúvida, as partes decidiram seguir a dação em função do cumprimento – 840º nº2.

3. Exigência do acordo é um elemento que também se encontra na dação em função do cumprimento. O único elemento que permite distinguir é a vontade das partes.

Distingue-se das seguintes figuras:

(11)

- Novação: têm em comum produzirem imediatamente a extinção da obrigação. Contudo, na novação criasse uma obrigação nova em substituição da antiga (o que não acontece na dação em cumprimento).

- Obrigação com faculdade alternativa: exemplo - B diz, eu vendo este carro amarelo mas, reservo a faculdade de entregar um carro vermelho se não existir um carro amarelo na fábrica – foi no momento da celebração do contrato que o devedor reservou a faculdade de entregar coisa diversa; diferentemente, na dação em cumprimento, este acordo verifica-se no momento do cumprimento e não da celebração do contrato.

- Regime: 837º e seguintes.

- Principal efeito: extinção da obrigação com a imediata exoneração do devedor, extinguindo-se o crédito, as garantias e acessórios do crédito.

- É exigida a capacidade do devedor, tendo em conta que se trata da alteração da prestação debitória e não do estrito cumprimento do dever de prestar (764º nº1).

- Porque pode haver diferença de valor entre a prestação devida e a prestação efectuada, a dação deve ainda considerar-se exposta à impugnação pauliana (615º n1).

- Para que haja uma pura dação em cumprimento, é essencial que a diferença de valor objectivo eventualmente existente entre as prestações, estas tenham sido queridas e acordadas pelas partes como equivalente ou correspectiva uma da outra. Caso contrário, haverá uma doação mista, tendo por base de apoio uma dação em cumprimento.

[?] E se a coisa entregue em vez da prestação devida tiver um vício? Exemplo: se A deve a B 1500€ e se desonera, por acordo com o credor, mediante a entrega de um automóvel, tudo se passa praticamente como se B tivesse comprado o automóvel a A pela importância correspondente ao seu crédito. Ora, a existência de um vício que afecte a utilidade ou o valor da coisa ou direito transmitido vai determinar a protecção do credor, aplicando-se assim o artigo 838º.

Nos termos deste artigo 838º, o credor pode optar também pela prestação primitiva, acrescida da indemnização correspondente aos danos que haja sofrido. Exemplo: imaginando que o automóvel entre ao credor em lugar dos 1500€ a que ele tinha direito, já tivera uma grande avaria em consequência da qual o

(12)

motor fora aberto e não funcionava mais perfeitamente. Neste caso, o credor poderá exigir a reparação ou a substituição da coisa (914º) ou reclamar a redução do valor que lhe foi atribuído (911º), mas pode optar antes pela entrega dos 1500€, acrescidos dos juros correspondentes, a partir do momento em que a prestação deveria ter sido efectuada, comprometendo-se a abrir mão do automóvel que recebera.

É importante referir que a opção do credor pela prestação primitiva terá como efeito o renascimento da obrigação, com todas as suas garantias e acessórios, salvo se a nulidade ou a anulação da dação tiver tido origem em causa imputável ao credor (a contrario – excepção presente no artigo 839º).

[?] Admitindo que a dívida que se visa extinguir com a dação em cumprimento afinal não existe? Como fica o devedor? Este terá o direito de exigir a restituição da coisa ou o direito transmitido, nos termos da repetição do indevido (art. 476º).

b) Dação em função do cumprimento:

- Terminologia utilizada pelo legislador: “pro solvendo”

- Não está escrito na letra do artigo que é exigido o acordo e consentimento, mas é exigível por força do princípio da pontualidade (artigo 762º);

- Importância do nº2 – exemplo: Pagamento de uma dívida com um cheque: A compra uma mala e paga com cheque, não paga com dinheiro. O cheque é uma transmissão de um crédito sobre o banco. Mas e quando o cheque não tem cobertura? Eu recebi o cheque para facilitar o cumprimento, mas o meu interesse não foi satisfeito porque A não tinha dinheiro na conta, sendo assim, a dívida não se extinguiu, uma vez que não se extinguiu o interesse do credor.

* Cedências de crédito.

- Muitas vezes não fica claro entre as partes se se trata de uma dação em cumprimento ou em função do cumprimento, nestes casos, cabe ao devedor tentar provar que é uma dação em cumprimento (o que mais lhe interessa); se não conseguir provar, será uma dação em função do cumprimento (mais favorável ao credor).

- A dação em função do cumprimento facilita a extinção da obrigação por exemplo através de:

* Entrega de uma coisa * Prestação de facto

* Transmissão de um crédito * Emissão de uma letra

(13)

Nestes casos, ao lado da obrigação principal, existe uma nova obrigação, que poderá ser cumprida de forma a facilitar a extinção da principal.

Exemplo:

D 1000€ C

1000€ 1000€

Até ao dia do vencimento do crédito, o C não tem a certeza que o 3º lhe vá satisfazer o crédito, portanto aceita-o, mas a título de dação em função do cumprimento, porque se o crédito não for satisfeito, a obrigação de 1000 € de D para com C, mantém-se (embora mantém-sem D estar constituído em mora) e terá de mantém-ser cumprida. Se C aceitasse a título de dação de cumprimento, a obrigação de D para com C extinguia-se.

E se C só conseguisse reaver por exemplo 900€, a obrigação de D para com C mantinha-se em 100€.

Ou seja, quando é um crédito ou uma letra é mais complicado, porque não há nada palpável – subsistem duas obrigações. Se C se fizer pagar em excesso, a doutrina diz que a diferença a mais deve ser restituída ao devedor, porque este é que correu o risco de C não conseguir seguir pagar (e o credor não correr nenhum risco porque a obrigação D____C mantinha-se em qualquer dos casos).

Presunção do artigo 840º nº2

 Estabelece-se uma presunção legal: quando o devedor fizer uma cessão de créditos, estaremos em princípio, perante uma dação em função do cumprimento (a não ser que as partes estabeleçam o contrário).

 Isto porque uma cessão de créditos dá fracas garantias de que a obrigação seja cumprida (porque fica dependente de outra obrigação).

c) Cessão de bens aos credores: - Noção: 831º CC

- Não tem como efeito a extinção imediata da obrigação, cede-se aos credores para que cede-seja facilitada a satisfação dos cede-seus créditos, através da liquidação do património. A dívida é extinta

(14)

quando os credores satisfazem o valor com administração e disposição de bens.

- Objecto: todo o património do devedor ou apenas uma parte (ideia de universalidade). Se forem bens determinados (X ou Y), estamos perante dação em função do cumprimento (conjunto identificado).

- Não é uma acção executiva, porque esta cessão é espontânea e não forçada como na acção executiva. Esta cessão abrange os bens escolhidos pelo devedor e quem age liquidando o património do devedor são os credores.

- Regime:

* Forma – 832º (exige forma escrita + forma exigida para a validade da transmissão dos bens) + regime.

- Efeitos: não são a extinção imediata mas sim, a transmissão para com os cessionários de poderes de administração e disposição dos bens com vista à satisfação de créditos.

- O devedor tem apenas o poder de fiscalizar mais direito a prestação de contas.

- Os credores não se tornam proprietários

- 833º - Os outros credores não convencionaram, podem executar os bens através de acções executivas; só não podem os credores posteriores à cessão, nem os próprios cessionários. - Exoneração do devedor? Só a partir do momento em que os credores satisfizerem o seu crédito.

- 836º - Permitindo ao devedor desistir a todo o tempo, a desistência não tem efeito retroactivo.

d) Consignação em depósito:

- Noção: Possibilidade reconhecida ao devedor ou a requerimento do 3º a quem seja lícito efectuar a prestação de coisa. A consignação em depósito só pressupõe a coisa e não o facto. O depósito é feito judicialmente à ordem do credor (alínea a do artigo 841º).

- É a prestação de coisa ou dinheiro

[?] E se o credor recusar a colaboração necessária, pode o devedor ter legitimo interesse em se desonerar, vencendo a resistência levantada pela contraparte, seja para se libertar definitivamente de obrigações de que a mora do credor o não isenta (816º), seja para se acautelar contra as dificuldades de prova da sua tentativa de cumprimento, que o tempo pode acumular contra ele, seja por outro motivo igualmente justificado.

Exemplo: O vendedor do cavalo de corridas quis entregá-lo na data convencionada ao comprador; mas este, sob qualquer pretexto, esquivou-se de recebê-lo. O inquilino quis pagar a renda ao senhorio, que se recusou aceitá-la com o fundamento de que era superior o montante da prestação em dívida.

(15)

No primeiro caso, o devedor pode ter interesse em se libertar o mais depressa possível da obrigação de guardar, tratar e treinar o animal; no segundo, pode ter justificado interesse em não correr o risco de se ver envolvido num processo de despejo, baseado na falta de pagamento da renda.

Mas, nem só nos casos de mora do credor se verifica, na prática, o interesse do devedor em se libertar da obrigação, prescindindo da cooperação da contraparte. Situação autêntica se regista nos casos em que, sendo incapaz, ou encontrando-se ausente, o credor careça de representante legal ou de curador, e o devedor pretenda, por qualquer razão plausível, pagar a dívida que entretanto se venceu.

É precisamente para acudir todas as situações de tipo descrito, que a lei facilita ao devedor a possibilidade de se desonerar da obrigação, mesmo contra ou sem a vontade do credor, mediante o depósito da coisa devida.

Pressupostos da consignação:

- Prestação de coisa e não de facto (pode ser fungível; móvel; infungível);

- Caso de mora do credor, incapacidade do mesmo, desconhecimento do paradeiro;

- Pode ser requerida pelo devedor e por terceiro; - É a prestação de coisa ou dinheiro

- A consignação é necessariamente judicial, só é válida se se processar a extinção da obrigação por um depósito feito extrajudicialmente (1024º C. processo civil); qualquer depósito extrajudicial não tem por efeito a extinção da obrigação. Porquê este regime? Para conferir a possibilidade ao credor de se defender e impugnar o depósito (motivo justificado).

É uma faculdade conferida ao devedor, que não é obrigado a consignar.

Regime – 3 pontos:

1. Criação de uma relação jurídica processual que se vai estabelecer entre o credor e o devedor ou 3º (1022º e seguintes).

2. Relação substantiva – 841º e seguintes.

3. Sujeitos: devedor que consigna a coisa, o credor e o consignatário.

(16)

Em que situações é que pode operar a extinção? 841º CC - Nas situações do 841º a (ex. herança já está aberta, mas ainda não foi feita a partilha; o devedor ainda não sabe se deve entregar ao herdeiro X ou ao herdeiro Z e, assim, consigna a coisa em depósito e extingue a obrigação). - Quando o credor estiver em mora

- Esta figura só opera por via judicial (para o devedor fazer valer a consignação em depósito tem de interpolar o credor judicialmente (C processo civil).

d) Compensação

- Se A deve 1000€ a B e este 500€ ao primeiro, faz-se uma compensação e A só tem de pagar 500€ a B.

- Modalidades: a) Legal

b) Convencional

a) Requisitos legais (divisão doutrinal com objectivo estruturante) – 847º:

 1. Reciprocidade de créditos,

 2. Validade, exigibilidade e exequibilidade do crédito invocado ou “crédito activo” (= o da pessoa que está a invocar a compensação);

 3. Fungibilidade do objecto das obrigações (só funciona se o crédito de A for em € e o de B também; não pode ser € e vacas), a não ser que seja acordada pelas partes numa compensação convencionada;

 4. Existência ou validade do crédito a ser extinto ou “crédito passivo”.

Análise: 1: 1000€ A B Credor Devedor 1000€

(17)

A B Devedor Credor

Distinção entre crédito passivo e activo:

* Esta distinção faz-se não pela natureza dos créditos, mas sim tendo em conta quem o invoca.

Imaginemos que quem invoca o crédito de 100€ é A, o 1º crédito vai ser o activo ou invocado por quem pede e a compensação (apagar o crédito); o 2º crédito vai ser o passivo ou a ser extinto (se fosse B a invocar seria o contrario).

2:

Validade – Vamos admitir que o crédito é válido (se for inválido não pode proceder);

Exigibilidade – Tem também de ter vencido para ser exigível (porque o prazo é estabelecido em favor do devedor), créditos não vencidos não podem ser invocados para efeitos de compensação.

Exequibilidade – os créditos naturais não podem ser invocados para efeito da compensação, porque isso significaria prejudicar o detentor do crédito civil. Assim, se o crédito de A fosse um crédito natural e o de B um crédito civil, o de A não é exequível, não é judicialmente exigível (a obrigação que não sendo voluntariamente cumprida, dá direito à acção de cumprimento e execução do património do devedor – artigo 817º), logo, esta compensação não seria possível, na medida em que é preciso que este seja judicialmente exigível.

Consequência: o crédito activo não pode ser um “crédito não vencido”, nem um crédito natural.

3:

O objecto da prestação tem que ser de coisas fungíveis (da mesma espécie e qualidade). Ex: dinheiro por dinheiro.

4:

É preciso que exista e seja válido (para ser extinto), mas, o crédito passivo não tem de ser exigível e exequível, pode ser um crédito ainda não vencido, porque quem invoca o activo, renuncia ao benefício do prazo (o crédito passivo pode ainda não ser exigível). Crédito civil C. natural

Se o crédito passivo for natural (X Y/ X Y) também não há problema, porque é X que vai invocar, é o devedor desse crédito que

(18)

assim se dispõe a satisfazer um crédito natural (que não era judicialmente exigível).

O crédito passivo pode ser o crédito não vencido ou crédito natural. * Renuncia ao prazo ou satisfaz o crédito que era natural e ele não está obrigado a pagar.

Causas de exclusão da compensação (ou requisitos negativos) – revistos no artigo 853º CC:

[O Professor AV, nesta matéria dos requisitos negativos, chama crédito principal ao crédito passivo*1]

Trata-se de excepções que não permitem que o devedor considere extinta a sua dívida, por compensação com o crédito que dispõe sobre o seu credor.

____________________________________________________________________________________ *Exemplo para compreender a terminologia de Antunes Varela:

A B

Credor

B X A Credor

A invoca crédito contra B, para extinguir contra ele. É chamado crédito principal porque o objectivo é extinguir o passivo.

______________________________________________________________________

1 – 853º Nº1 alínea a – Proveniência de facto ilícito doloso:

Não podem ser extintos os créditos provenientes de factos ilícitos dolosos. Isto é, o devedor da respectiva indemnização não pode impor ao lesado a extinção da dívida com qualquer crédito que o lesante disponha contra ao seu credor.

Qual a razão justificativa desta medida? Podendo a compensação traduzir-se num benefício para o compensante (que tem, através dela, plenamente assegurada a realização indirecta do seu contra crédito), não se considera justo que o autor do facto ilícito doloso aproveite de semelhante regime. O devedor tem assim que cumprir a obrigação de indemnizar e de correr quanto à cobrança do seu crédito, os riscos que suportam todos os demais credores.

Sendo assim, nenhum fundamento existe para se permitir a compensação, na hipótese de o crédito do compensante provir também de um facto ilícito doloso. Ex. Se A dever 1000€ a B por causa dos estragos dolosamente causados nas culturas do prédio vizinho, e B dever 2000€ a A, por dolosamente ter faltado ao

(19)

cumprimento do contrato de ambos celebraram entre si, nenhum dos interessados pode desonerar-se perante o outro por compensação. Qualquer deles tem que cumprir integralmente e correr o risco da insolvência do devedor, quanto à cobrança do seu crédito.

Exemplo: X empurra Y das escadas abaixo, Y magoou-se bastante e teve despesas hospitalares = crédito que nasceu da RC (Y tem o direito de receber mas numa acção independente da de dolo) --- X não pode invocar a compensação de créditos. Só se aplica ao crédito passivo ou crédito principal, porque renuncia àquilo que está estabelecido na lei.

Contudo, a compensação pode operar, se o compensante for o credor da indemnização pelos danos provenientes do facto ilícito doloso. Exemplo: se A tiver o direito de exigir 150€ de B, que o agrediu, nada impedirá que o agredido se considere desonerado, por compensação, da dívida de igual montante por géneros que B lhe ofereceu.

2 – 853º Nº1 alínea b – Impenhorabilidade dos créditos principais: O devedor não pode livrar-se por meio da compensação, se o direito do seu credor for impenhorável.

Os créditos impenhoráveis visam, via de regra, garantir a subsistência do credor ou da respectiva família, assim se explicando que a lei não permita a sua extinção por encontro com créditos não revestidos de igual força. È impenhorável por exemplo o direito a alimentos (2008º nº2).

Exemplo: X é pai de Y e não o alimentou; depois vendeu-lhe o automóvel --- X invoca o crédito do pagamento do carro contra Y e quer compensá-lo através do crédito de Y contra X da pensão de alimentos. Não pode, só se aplica ao crédito passivo ou crédito principal, porque Y pode renunciar a essa vantagem que lhe é atribuída.

3 – Pertença do crédito principal ao Estado ou a outras pessoas colectivas públicas – nº1 alínea C:

O artigo 853º nesta alínea exclui do âmbito da compensação os créditos do Estado ou de outras pessoas colectivas públicas, salvo quando a lei expressamente o autorize. Aqui estatui-se este regime em função da pessoa do credor e não do crédito.

Exemplo: A deve 500€ ao Estado e o Estado detém um crédito de IRC de 500€ sobre A. Assim, A não pode invocar o seu crédito contra o Estado, para extinguir o crédito de 500€ do IRC do Estado contra ele.

(20)

Esta regra é recíproca, aplica-se também ao crédito activo – o Estado não poderia renunciar a essa vantagem, porque, em todo o caso tratavam-se de contas públicas (seria desvio de poder por exemplo).

Declaração de compensação:

- É uma declaração unilateral – judicial e extrajudicial (848º nº1)

- Tem eficácia retroactiva (854º - desde o momento em que o 2º crédito nasceu – ou seja, caso a compensação opere, opera em relação ao momento em que os dois créditos se tornam compensáveis.

Exemplo:

A credor de B (2005)

B devedor de A (2007) – opera a partir daqui

e) Novação:

Noção (que não está na lei): convenção pela qual as partes extinguem uma obrigação, mediante a criação de uma nova obrigação.

Como se distingue uma verdadeira novação?

Na novação nasce uma nova obrigação que ainda não está cumprida – é diferente da dação em cumprimento, porque nesta, a prestação é mesmo realizada (não há combinação), enquanto que, na novação não, trata-se sim de um combinação para o futuro.

A novação também é diferente de uma simples “modificação do conteúdo da obrigação” (não tipificada na lei e feita tendo por base o princípio da liberdade contratual) – não é novação porque não há declaração expressa. ex. em vez de dar 5 aulas de chinês, da uma, daria 10 aulas em 30 minutos.

Há uma pedra de toque para distinguir a novação de figuras afins: a exigência de declaração expressa (artigo 859º) – afirmar que querem fazer extinguir a obrigação antiga através da substituição por uma nova = tem que ficar claro que querem extinguir a anterior e contrair uma nova.

Em termos práticos, a diferença é que, eventualmente, quaisquer garantias ou meios de defesa ou características da obrigação anterior não se mantêm – ela é totalmente substituída por uma obrigação nova; se for modificação, a obrigação anterior mantém-se, mas com um novo conteúdo, logo também as garantias e meios de defesa se mantêm (não se extingue assim qualquer obrigação).

(21)

Modalidades:

 Objectiva (857º) – tem duas sub-modalidades:

1 – Substituição do objecto (ex. A devia 1000€ a B e passa a dever X

- Tem de haver declaração expressa).

2 – Alteração da causa – ex. A deve 500€ a título de pagamento de bem de uma CV a B, mas não tem dinheiro e, à data estipulada acordam que A passa a dever os 500€ a título de mútuo, porque B pode querer o regime de mútuo oneroso, com os juros compensatórios, que lhe é mais favorável do que o aditamento do pagamento do preço do CV.

 Subjectiva (858º) – quanto aos sujeitos (podem mudar) Ex. A deve 500€ a B e passa a dever a C

* É diferente da transmissão de crédito, porque aí tem as mesmas características e garantias, na novação nasce uma obrigação nova (ex. se na obrigação anterior havia um 3º a garantir com uma hipoteca, na nova deixa de haver).

Também existem formas de extinção da obrigação sem satisfação do interesse do credor (casos em que a obrigação se extingue sem ter havido prestação):

- Prescrição

Remissão:

Noção (Antunes Varela): a renúncia do credor ao direito de exigir a prestação, feita com a aquiescência da contraparte.

863º - Carácter contratual (A deve 100€ a B; contudo sabendo das fatalidades que entretanto recaíram sobre o devedor, B perdoa a dívida por via contratual = remissão).

Aqui, o interesse do credor não chega sequer a seu satisfeito, nem sequer indirecta ou potencialmente, a obrigação extingue-se sem haver prestação. Aqui, é o próprio credor que renuncia ao poder de exigir a prestação devida, afastando definitivamente da sua esfera jurídica os instrumentos de tutela do seu interesse, conferidos por lei. Perdoar uma dívida só tem o valor de remissão quando também haja acordo do devedor, caso contrário seria uma “renúncia unilateral a um direito disponível”, logo tem de ser através de um contrato.

(22)

868º - Noção (Antunes Varela): dá-se quando, pelo facto de se reunirem na mesma pessoa as qualidades de credor e devedor da mesma relação creditória, a obrigação se extingue (o crédito e a dívida).

A confusão aqui referida, é inteiramente diferente do fenómeno da reunião, na mesma pessoa, do direito de propriedade com algum outro Direito real limitado sobre a mesma coisa (ver. 1476º, 1 b; 1513º a e 1569º 1 a). Até porque a primeira é uma forma de extinção da obrigação e a segunda conduz à restauração da plena propriedade sobre a coisa.

Exemplos paradigmáticos:

1 – “Mortis causa”: B deve a 1000€ a A, A fez um testamento e nomeou B para seu herdeiro; A morre; B é devedor de si próprio, porque A deixou-lhe tudo.

2 – “Entre vivos”: A sociedade X é credora de uma dívida de 100.000€ da sociedade Y; a dada altura a X e a Y fundem-se, passam a ser uma única pessoa colectiva, que, naturalmente, não vai pagar a si própria.

Capítulo III – Obrigações Solidárias 1. Obrigações conjuntas versus obrigações solidárias

- Segundo os critérios dos sujeitos: Singulares Obrigações Plurais Conjuntas Solidárias Activas Passivas

* Duas expressões susceptíveis de gerar confusão

Obrigações conjuntas ou parciárias

Noção (Antunes Varela): são as obrigações plurais cuja prestação é fixada globalmente, mas em que a cada um dos sujeitos compete apenas uma parte do débito ou do crédito comum.

(23)

Ou

(Aula) – Aquelas em que a cada um dos credores ou devedores cabe apenas uma fracção do crédito ou débito comum.

Obrigação plural passiva – exemplo:

D1

D2 C D3

(Cada um destes devedores deve cerca de 300€, sendo a totalidade da dívida – 900€)

Obrigação plural activa – exemplo:

* C1 D * C2 * C3 * 300€ Por cada um  Totalidade da dívida = 900€ Pluralidade mista: A D B·*500€· E C F

Nestas obrigações conjuntas, as prestações dos devedores ou dos credores conjuntos resultam do fraccionamento ou parcelamento da prestação global, na qual tendem a integrar-se de novo, logo que cesse a causa da sua divisão. Nesse aspecto se distinguem das relações que nascem logo como obrigações separadas, embora ligadas por um nexo de complementaridade, mas marcadas por

C, só pode exigir a cada um dos devedores 300€, não pode exigir a totalidade da dívida a um só.

Cada um dos credores só pode exigir 300€.

(24)

vínculos distintos: o empresário que contrata para um espectáculo os quatro componentes de um quarteto musical.

Modalidades da conjugação:

 Originária: quando são vários os sujeitos da obrigação, do lado activo ou passivo, no momento em que ela se constitui;

 Superveniente: quando ao credor ou devedor originário se substituem duas ou mais pessoas por sucessão mortis causa (também quando haja cessão a duas ou mais pessoas).

Pode cessar, quer num caso quer noutro caso, mediante a reunião na titularidade da mesma pessoa dos vínculos em que a obrigação se desmembrou.

Conjugação como regime regra:

Sendo a obrigação plural, a conjugação constitui o regime regra, visto que a solidariedade, tanto no lado activo como no lado passivo, só existe se for determinada por lei ou estipulada pelos interessados (513º).

Assim: se A, B e C deverem 300€ a D, ou se obrigarem a entregar-lhe 300 moios de trigo ou 60 pipas de vinho, e nada disser na lei nem for convencionado pelas partes, cada um deles deverá apenas uma parte da prestação global.

Regime:

 O traço característico da conjugação é que havendo pluralidade de credores ou devedores, existe então uma pluralidade de vínculos, sendo cada vínculo autónomo dos outros, seguindo cada um a sua vida autónoma, podendo desta maneira cada um dos sujeitos dispor livremente do seu direito (por cessão, remissão, compensação).

 O facto porém de a prestação ter sido fixada globalmente, não deixa de reflectir-se em certos aspectos da obrigação conjunta. Assim: se A vender 20 toneladas de carne a B e C, poderá recusar a entrega da metade da mercadoria a cada um dos compradores, enquanto não receber a totalidade do preço estipulado; tal como se A entrar em mora e esta puder servir de fundamento para a resolução do negócio por B e C, só em conjunto poderão exigir a resolução do mesmo, com base na mora verificada.

Assim, não necessitam de um regime específico/especial, diferentemente das obrigações solidárias, que foram

(25)

especialmente inseridas nos artigos 512º e seguintes; não havendo então nada na lei sobre obrigações parciárias, regem-se pelo regime geral.

Obrigações solidárias (512º e seguintes)

Noção (AV): A obrigação diz-se solidária, pelo seu lado passivo, quando o credor pode exigir a prestação integral de qualquer dos devedores e a prestação efectuada por um destes os libera a todos perante o credor comum (artigo 512º nº1).

Duas notas típicas acerca da solidariedade passiva (512º nº1, 1ª parte) destacadas na lei:

1. O dever de prestação integral (que recai sobre qualquer devedor);

2. O efeito extintivo recíproco da satisfação dada por qualquer deles ao direito do credor.

Exemplo prático: Se A, B e C deverem 9000€ a D, pela compra de uma herdade que lhe compraram, sendo solidária a obrigação, o credor (D), poderá exigir de A (como de B ou de C) a entrega da totalidade do preço, e não apenas um terço dela (havendo posteriormente relações internas = entre os devedores); tal como a prestação (espontânea ou compulsiva) efectuada por qualquer um dos devedores libera os outros dois em face de D.

Duas notas típicas acerca da solidariedade activa (512º nº1, 2ª parte) destacadas na lei:

1. O direito à prestação integral por parte de qualquer dos credores;

2. O efeito extintivo (comum a todos os credores) da satisfação dada ao direito de qualquer deles.

Exemplo prático: Se A dever 600€ a B, C e D em regime de solidariedade, qualquer destes (por exemplo B), pode exigir do devedor a entrega de toda a soma devida, e não só de um terço dela. A entrega feita dos 600€ feita a B exonera o devedor perante todos os outros credores. Se B posteriormente ao cumprimento, se tornar insolvente e não puder repartir com os outros a prestação recebida, são esses concredores e não o devedor, quem suporta o prejuízo.

(26)

A solidariedade só existe quando:

 Resulta da lei (por exemplo: 497º; 507º; 467º)

 Convenção das partes

Ao contrário do que acontece com as dívidas comerciais – artigo 100º do Código Comercial, em que o regime regra é o da solidariedade. Interesse prático da solidariedade:

Solidariedade passiva:

 Muito importante porque permite satisfazer o interesse do credor mais facilmente, na medida em que aumenta a sua segurança e por outro lado a solidariedade pode beneficiar ao mesmo tempo os próprios devedores;

 Exemplos de regimes legais: 497º nº1; 507º (responsabilidade pelo risco);

 Muito frequentemente por acordo das partes no contrato. Solidariedade activa:

 Reduzido interesse prático;

 Raros os casos legais;

 Lança sobre os vários credores o risco proveniente da insolvência do que receba a prestação, posterior ao recebimento;

 Por outro lado; facilita aos credores a exigência (sobretudo aqueles que estejam ausentes; incapacitados ou venham a ausentar-se) da prestação, diminuindo o risco da obrigação prescrever por falta de interpelação do devedor, se o credor interpelante tiver poderes para exigir o cumprimento, não apenas em seu nome mas também em nome dos outros;

 Pode aproveitar ao próprio devedor, uma vez que faculta a escolha do credor, junto do qual a prestação se torne mais cómoda ou menos dispendiosa.

Características da solidariedade:

1. Extinção integral do dever de prestar (lado passivo); 2. Extinção integral do direito de exigir a prestação (lado

(27)

3. Identidade da prestação relativamente a todos os sujeitos.

1 / 2: A solidariedade pressupõe, além da pluralidade de sujeitos de um ou de ambos os lados da relação obrigacional, o direito de exigir toda a prestação de qualquer dos devedores (solidariedade passiva) ou o direito a toda a prestação por parte de qualquer dos credores (solidariedade activa).

Contudo não bastam apenas estas duas características para garantir a existência de solidariedade, aparecendo a terceira característica.

3: Muitos autores consideram requisito essencial da solidariedade a identidade da prestação que constitui objecto das obrigações. Outros afastam este requisito, com o fundamento de que os devedores solidários podem estar obrigados, mesmo nas relações externas a diferentes prestações (de diverso conteúdo).

Tese que defende que este requisito é um requisito essencial na caracterização da solidariedade:

Tese oposta:

* Na definição da obrigação solidária, a lei (art.512º nº1) estatuir que cada um dos devedores responde pela prestação integral, ou que cada um dos credores tem a faculdade de exigir, por si só, a prestação integral.

* 512º Nº2 – segundo o qual a obrigação não deixa de ser solidária pelo facto de…ser diferente o conteúdo das prestações de cada um deles.

Efeitos da solidariedade passiva

 Nas relações externas (entre credor e devedores):

- Quanto ao credor: exclusão do benefício da divisão por parte do devedor (518º) – o credor está portanto protegido, na medida e que pode exercer o seu direito na totalidade e contra qualquer devedor.

* Importância do artigo 519º nº1, 2ª parte – isto não significa que não possa pedir 900€ aos três credores por exemplo. Existe uma excepção na parte final deste nº1, que só procede em caso de insolvência.

(28)

- Quanto aos devedores: satisfação do direito do credor por um devedor extingue a obrigação em relação a todos os demais (523º).

 Nas relações internas (entre devedores):

- Direito de regresso (524º). Ex. D1 paga os 900€ e terá de receber 300€ de D2 e 300€ de D3 – atenção: não é uma transmissão de créditos (sub-rogação), é um direito diferente do credor, não tem as mesmas garantias por exemplo.

Efeitos da solidariedade activa

 Nas relações externas:

- Quanto aos credores: possibilidade de cada credor exigir a prestação por inteiro (resulta do artigo 512º, nº1, 2ª parte), exonerando o devedor por inteiro.

- Quanto ao devedor: extinção da obrigação em relação a todos os credores solidários (532º - repete o que está implicitamente referido no 512º nº1, 2ª parte).

 Nas relações internas:

- O credor que receber a prestação tem obrigação de satisfazer a parte que cabe aos demais credores (533º) – se a lei não dissesse, aplicava-se a figura do Enriquecimento sem causa.

(29)

Capítulo IV – Objecto das obrigações

Noção de objecto: o objecto da obrigação é a prestação debitória.

Noção, modalidades e requisitos da prestação:

A prestação debitória, isto é, o comportamento positivo (actividade) ou negativo (abstenção) a desenvolver pelo devedor no interesse do credor, constitui em certa perspectiva o objecto directo e imediato da obrigação. E, aquilo que deve ser prestado representa paralelamente, o seu objecto mediato e indirecto.

Em sede negocial cabe às partes fixar o critério, dentro dos limites da lei, o conteúdo da prestação (art. 398º nº1 e 405º), sendo que é consensual na doutrina que o devedor fica obrigado ao que convencionou e também ao que se infira dessa convenção, segundo os ditames da boa fé (762º nº2) - dai que se falem em deveres acessórios da prestação principal ou laterais, todos destinados à plena satisfação do interesse do credor.

 Doutrina corrente sustenta que estes deveres não têm autonomia, não prosseguem uma finalidade própria, visam apenas assegurar o exacto cumprimento dos interesses envolvidos numa relação obrigacional complexa.

Conceito alargado de prestação (defendido pela doutrina alemã): abrange quer a acção de prestar como o resultado da prestação. Isto é, são elementos integrantes desse conceito a conduta do devedor e a efectivação do interesse do credor na prestação.

(30)

Modalidades da prestação:

A) Prestação de coisa e prestação de facto: Prestação de coisa:

 Diz respeito à entrega de uma ou várias coisas, tanto móveis como imóveis;

 Pode ter 3 sentidos: - Dar *

Exemplo: A doa a B o quadro X; C vende a D 50 garrafas de vinho do Porto.

- Prestar

Exemplo: Considere-se a entrega inicial do prédio Z, efectuada por F ao arrendatário E, neste caso, o comportamento positivo do devedor traduz-se em prestar.

- Restituir *

Exemplo: E toma de arrendamento a F o prédio Z – a entrega do prédio que o inquilino E realiza no termo do contrato destina-se a devolver ao credor uma coisa que lhe pertencia mesmo antes do negócio fonte de obrigação.

_________________________________________________________________________________________________

* As prestações de dar e restituir manifestam a característica comum de a coisa ser entregue ao credor para que este a retenha como sua.

Pode a coisa emprestada continuar a pertencer ao devedor, sendo a entrega feita ao credor apenas para que este se sirva dela em determinados termos.

Prestação de facto

 Pode ser positiva (acção do devedor – exemplo: o comportamento de certa pessoa que se obriga a desenvolver uma certa actividade intelectual – 1152º) ou negativa (abstenção ou omissão).

 Nas prestações de facto, a conduta do devedor pode ter:

- Mero carácter material = prestação de facto material. Exemplo: a construção de um edifício a que o empreiteiro se obrigou.

- Consistir num acto jurídica = prestação de acto jurídico. Exemplo: a prática pelo mandatário de um ou mais actos jurídicos.

(31)

B) Prestações fungíveis e não fungíveis:

Fungível: quando pode ser realizada tanto pelo devedor como por outra pessoa, sem prejuízo para o credor.

Exemplos: serão fungíveis as prestações que se traduzem na realização de trabalho meramente material, que não requeira uma confiança ou competência especiais.

Não fungível: quando a prestação obrigacional tem ser necessariamente cumprida pelo devedor. A infungibilidade da prestação resulta da sua própria natureza ou da vontade das partes (767º nº2).

Exemplos: a pintura de um quadro de arte; o tratamento de uma doença ou uma intervenção cirúrgica, em que se atende às qualidades pessoais do devedor.

Relevância prática:

 Caso de inadimplemento:

- Se a obrigação não é fungível, o credor tem apenas o direito de exigir uma indemnização dos danos para ele resultantes do não cumprimento.

- Tratando-se de uma obrigação fungível, detém a faculdade presente no artigo 828º CC.

 Só a certas obrigações de prestação de facto infungível, positivo ou negativo, se podem aplicar sanções pecuniárias compulsórias (art. 829.ºA). Constituem simples meios destinados a constranger o devedor ao cumprimento.

 Quanto à determinação das situações de impossibilidade subjectiva do cumprimento:

- Prestação fungível: a impossibilidade quanto há pessoa do devedor não o exonera do cumprimento, visto que pode fazer-se substituir por terceiro.

- Prestação na fungível: tem como consequência extinguir-se a obrigação (art. 791º).

C) Prestações instantâneas e prestações duradouras:

(32)

 Instantânea ou transeunte: respeita à prestação a executar num determinado momento, extinguindo-se a correspondente obrigação com esextinguindo-se único acto isolado de satisfação do interesse do credor. Exemplo: a entrega de determinada quantia ou coisa; a declaração de vontade negocial.

- Para o efeito não se consideram os actos prévios, eventualmente necessários, pois correspondem a meros deveres acessórios da realização da prestação principal.

 Duradoura: comportamento, positivo ou negativo, que se distenda no tempo. Aqui podemos encontrar duas sub-modalidades:

- Divididas (fraccionadas ou repartidas): quando o cumprimento se efectua por partes, em momentos temporais diferentes. Exemplo: o preço pago a prestações.

- Continuativas (contínuas ou de execução continuada): considera-se a prestação que consiste numa actividade ou abstenção que se prolonga ininterruptamente durante um período mais ou menos longo. Exemplo: a obrigação do trabalhador no contrato de trabalho.

Prestações reiteradas, repetidas, com trato sucessivo ou periódicas: quando em vez de uma única prestação a realizar por partes (prestação fraccionada), existam (sendo que decorrem de uma só relação obrigacional) diversas prestações (repetidas) a satisfazer regularmente (ex: obrigação do inquilino pagar renda mensal ou anual) ou sem regularidade exacta (ex: obrigação de fazer reparações em determinada coisa, à medida que sejam necessárias).

Só as dívidas liquidáveis fraccionadamente estão sujeitas à regra do artigo 781º ou ao regime especial dos artigos 934º e seguintes para a venda a prestações.

Importância do artigo 793º - nos contratos de prestação periódica ou continuada, a impossibilidade de prestação de uma das partes durante x tempo, exonera a outra da contraprestação relativa a esse tempo.

(33)

Numa prestação instantânea – pode o risco ficar de vez a cargo do credor: se A vende a B, o objecto X e este perece depois do contrato por caso fortuito, B deve satisfazer o preço embora fique sem a coisa comprada (arts. 408º e 796º).

Requisitos da prestação:

Para que a relação obrigacional se constitua validamente, exige-se que a prestação debitória obedeça a certos requisitos.

A) Possibilidade e licitude:

 A prestação tem que ser física e legalmente possível (280º nº1).

 A impossibilidade da prestação pode ser: - Originária: existe na altura da constituição do vínculo obrigacional; impede que a obrigação se constitua validamente.

OU

- Superveniente: aparece após a constituição do vínculo; extingue a obrigação quando esta se mostrar não imputável ao devedor ou então, transforma-a em responsabilidade civil (artigo 790º e seguintes).

Para aqui interessa a impossibilidade originária que, determina a nulidade do negócio jurídico (401º nº1), atende-se para o efeito à data em que a obrigação se constituiu, sendo indiferente que se trate de uma impossibilidade definitiva da prestação ou de uma impossibilidade susceptível de desaparecer mais tarde. Importância:

- Da excepção contida no artigo 401º nº2;

- Do nº3 deste mesmo artigo: impossibilidade objectiva (para todas as pessoas) versus subjectiva (apenas para o devedor).

Isto significa:

Que só a impossibilidade objectiva invalida a obrigação, uma vez que não pode ser cumprida pelo devedor nem por qualquer outra pessoa; já a mera

(34)

impossibilidade subjectiva não impede a válida constituição da obrigação, fazendo-se o devedor substituir no cumprimento por outrem. Só não será assim caso se prometa um facto a prestar pelo próprio promitente e apenas por ele (prestação na fungível) – aqui a impossibilidade assume um carácter objectivo e determina a nulidade.

 Impossibilidade absoluta e relativa: - Absoluta: impossibilidade propriamente dita; - Relativa: simples dificuldade ou onerosidade excessiva da prestação. Esta não produz qualquer feito anulatório, ressalvando-se a matéria do erro.

 Impossibilidade física e legal/jurídica:

- Física: resulta da própria natureza das coisas.

Exemplo: a prestação que verse sobre irrealizável (esgotar a água do mar) ou que consista na prestação de uma coisa que não existe, embora por ventura já tenha existido, ou que nem mesmo pode vir a existir.

- Importância do artigo 399º - o que foi agora dito não exclui a validade dos contratos que tenham por objecto a prestação de coisas futuras. Ver também 211º CC.

Noção de coisa futura: as coisas que ainda não têm existência material e jurídica (ex: mercadoria a fabricar) mas também, as que existem só que ainda não pertencem ao alienante e são tomadas pelas partes

(35)

que sobre elas negoceiam, como coisas alheias.

* Assim, a lei admite a venda de bens futuros (artigo 880º) e de bens alheios (isto se as partes os

considerarem nesse

qualidade – artigo 893º; 939º). Estas normas aplicam-se aos outros contratos onerosos, por força do artigo 939º.

- Legal: deriva da lei.

Exemplo: quando a

prestação debitória consiste em algo que a lei de todo obstacula a que se produza,

designadamente a

celebração de um negócio proibido e considerado nulo caso se realize. Exemplos: 202º nº2 CC: contrato através do qual uma pessoa se obriga a vender uma coisa do domínio público; 875º: alguém se obriga a vender uma coisa imóvel por simples escrito particular. Distinção entre impossibilidade legal e ilicitude:

- Artigo 280º nº1;

- Existira ilicitude quando a prestação devida (fisicamente possível e não se analisando num acto que a ordem jurídica impeça de modo directo ou imediato) consista, num comportamento que viole uma proibição legal (ex: difamar, danificar a propriedade alheia, realizar um negócio jurídico proibido, embora não sob pena de nulidade.

- A ilicitude do conteúdo negocial pode resultar, não da violação de um preceito especial da lei, mas da ofensa dos princípios de ordem pública*1 ou dos bons costumes*2 (280º nº2). Nos dois primeiros casos haverá ilicitude por ilegalidade e, no último caso, ilicitude por imoralidade.

________________________________________________________________ *1 – Noção de ordem pública: são normas que visam directa e

fundamentalmente tutelar os interesses superiores da colectividade. *2 – Noção de bons costumes: substitui a de moral pública, utilizada pelo antigo código.

(36)

________________________________________________________________ Nota:

- 281º CC: embora a prestação a prestação em si mesma se mostre possível (física e legalmente) e lícita (conforme à lei, à ordem pública e aos bons costumes), ainda assim a obrigação será nula, desde que ambas as partes prossigam com o negócio jurídico com fim contrário à lei, à ordem pública ou, ofensivo dos bons costumes. Exemplo: A vende a B uma espingarda, sabendo os dois que esta se destina a assassinar C.

B) Determinação ou determinabilidade:

 Pressupõe que o respectivo conteúdo fique desde logo determinado, ou se assim não acontecer, que seja determinável em momento posterior, através de um critério fixado pelas partes ou pela própria lei (artigo 280º nº1 + 400º).

 Razão desta exigência: não será valida a obrigação se o objecto da prestação não se encontrar desde logo completamente individualizado e nem possa vir a sê-lo por falta, ou inoperância, de um critério para esse efeito estabelecido pelas partes, no respectivo negócio jurídico, ou pela lei, em normas supletivas.

A indeterminação do facto ou da coisa a prestar pode verificar-se em graus diversos. Especificando, as obrigações genéricas são obrigações de objecto apenas determinável (art. 539º e segs.), tal como as obrigações alternativas (art. 543º e segs.).

De quem fica a cargo a determinação do conteúdo do objecto (art. 400º nº1)?

- Pode ficar a cargo de uma das partes ou de terceiro, devendo em qualquer dos casos, ser efectuada segundo juízos de equidade, na falta de fixação de outros critérios.

Artigo 400º nº2 – Princípio geral: se a determinação não puder ser feita ou não tiver sido feita no tempo devido, sê-lo-á pelo tribunal, sem prejuízo do disposto para as obrigações genéricas e alternativas.

C) Conteúdo digno de protecção jurídica: artigo 398º nº2

 Princípio da liberdade negocial (“as partes podem fixar livremente, dentro dos limites da lei, o conteúdo positivo ou negativo da prestação”) + “ a prestação não necessita de ter valor pecuniário; mas deve corresponder a um interesse do credor, digno de protecção legal” – artigo 398º nº1 e 2º).

Referências

Documentos relacionados

(b) manifestações informais do discurso, por meio de conversas mantidas com servidores lota- dos em setores administrativos ligados diretamente ou não ao tema e de observações

Embora cresça no país o número de pesquisas sobre educação ambiental em escolas e comunidades, patrocinadas por secretarias municipais ou estaduais e

Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus interposto em face do acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul - TJRS, que denegou a impetração originária,

Para além de ser pastor das Igrejas da Figueira da Foz, Granja do Ulmeiro e Buarcos, continua como professor do Seminário em Carcavelos, onde se desloca 2 vezes por

Também é importante lembrar que parte da relevância de citar este grupo para traçar um panorama da crítica a arquitetura paulista está no fato de que seus membros eram professoras

Mesmo que parte desse capital tenha sido recuperado posteriormente por seus clientes, as notícias de falências das maiores casas bancárias do Rio de Janeiro trouxeram insegurança

A menos que você faça isso, a verdadeira razão pela qual você não pode acreditar em Cristo é porque você acredita em si mesmo, e essa é uma razão muito triste para a

Ao voltar recentemente das margens do Xingu, após uma estada de quarenta dias entre os índios assurini, ela trouxe também elementos para uma denúncia sobre