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IMPUGNAÇÃO PAULIANA REGISTO PREDIAL EXECUÇÃO

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 2208/2003-7

Relator: VAZ DAS NEVES Sessão: 20 Maio 2003 Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: AGRAVO

Decisão: NEGADO PROVIMENTO

IMPUGNAÇÃO PAULIANA REGISTO PREDIAL EXECUÇÃO

Sumário

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa.

I. RELATÓRIO

Na sequência do despacho de recusa do pedido de registo de acção (pedido reconvencional) a CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, S. A., interpôs o presente recurso contencioso do despacho do Exmo. Senhor Conservador da 2.ª Conservatória do Registo Predial de Lisboa, que recusou o registo a que se reporta a AP 06 de 03/04/02 sobre duas fracções autónomas designadas pelas letras "K" e "P" do prédio urbano sito na Av. .... n.º..., em Lisboa, freguesia do Campo Grande, descrito sob a ficha n.º 00042/880503 da freguesia do Campo Grande inscritas a favor de (A), com fundamento em que "O pedido

reconvencional cujo registo se requer consubstancia a impugnação pauliana da dação em cumprimento registada sob a Ap. 16 de 1996.01.11 em ambas as fracções, sendo em consequência um tipo de acção que pela sua natureza pessoal e objecto meramente obrigacional não se encontra sujeito a registo." O Digno Magistrado do Ministério Público teve vista do processo, nos termos do disposto no 146.° n.º 1 do Código do Registo Predial, emitiu parecer em sentido concordante com o Despacho do Sr. Conservador, concluindo que o presente recurso não merece provimento.

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Foi proferida decisão pelo Tribunal da 1.ª Instância que julgou procedente o recurso interposto pela Caixa Geral de Depósitos, ordenando o registo da acção.

É desta decisão que o Ministério Público interpôs o presente recurso, o qual foi devidamente admitido como agravo.

O Ministério Público apresentou alegações de recurso e formulou as seguintes conclusões:

1. Por força do artigo 3.º n.º 1, alínea a), e artigo 2.º, alínea u), do Código de Registo Predial, as acções sujeitas a registo são as destinadas a produzir efeitos sobre direitos sujeitos a registo. Não se trata só de acções reais – as que tenham como causa de pedir um direito real – mas antes de acções de que possam resultar efeitos reais ou efeitos sobre direitos inerentes a imóveis sujeitos a registo.

2. A acção pauliana é uma acção de natureza vincadamente pessoal. A sua procedência não implica qualquer extinção do direito real adquirido pelo terceiro, nem tão pouco a sua modificação, não se tratando dessa forma de qualquer acção de anulação ou de uma acção real. Apenas confere ao credor impugnante, no plano obrigacional, e com fundamento na má fé (tratando-se de negócios onerosos) ou no locupletamento (tratando-se de negócios

gratuitos), o direito de obter do terceiro adquirente, à custa dos bens que adquiriu, a quantia necessária à satisfação do crédito.

3. Por outro lado, o direito do credor impugnante também não é enquadrável na alínea u) do artigo 2.º do Código de Registo Predial, uma vez que não está prevista, em disposição expressa de direito substantivo, a sujeição a registo deste tipo de acções.

4. A sujeição a registo só tem justificação quando através dele se pretenda desencadear um efeito mínimo de oponibilidade face a terceiros. No caso da impugnação pauliana não existe esse efeito. A procedência da impugnação não implica a rescisão dos actos de disposição praticados pelo transmitente, nem no seu regime existe qualquer norma que estabeleça um efeito de

oponibilidade do direito reconhecido por sentença em relação a terceiros subadquirentes. O credor impugnante, pese embora a procedência da acção, ver-se-á sempre forçado a renovar a impugnação relativamente a cada uma das ulteriores transmissões dos bens originariamente pertencentes ao devedor, incumbindo-lhe o ónus de alegar e provar os requisitos de impugnabilidade mencionados no artigo 613.º do Código Civil acima

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referenciado.

5. A possibilidade legal do registo da acção de impugnação pauliana permitiria que as normas registrais se sobrepusessem às regras de direito substantivo, superando a exigência do requisito substancial de que o artigo 613.º do Código Civil faz depender a procedência da impugnação das transmissões posteriores.

6. Em face do exposto, a acção pauliana não está sujeita a registo.

7. Ao considerar a acção pauliana como um encargo ao direito de propriedade, enquadrável na alínea u) do artigo 2.º do Código de Registo Predial e ao

decidir que a acção pauliana é registável, a sentença recorrida violou

claramente, o disposto nos artigos 610.º, 612.º, 613.º e 616.º, todos do Código Civil, assim como os artigos 2.º, alínea u), e 3.º n.º 1, alínea a), ambos do Código de Registo Predial.

8. Em face do exposto, deverá merecer provimento o recurso de agravo interposto e, consequentemente, ser revogada a sentença proferida e

substituída por outra que considere a acção pauliana não sujeita a registo e confirme o despacho do Exmo Conservador.

A Agravada apresentou contra-alegações de recurso, defendendo a confirmação da decisão recorrida.

Colhidos os vistos legais cumpre apreciar e decidir.

II. OS FACTOS

Em face da prova documental constante dos autos, mostram-se assentes os seguintes factos com interesse para a decisão do presente recurso:

1. Por apenso aos autos de execução ordinária instaurados pela recorrente contra (B), (A) deduziu embargos, tendo a ora recorrente contestado e reconvindo nesses autos, formulando o seguinte pedido:

a) ser declarada sem efeito, relativamente à Caixa Geral de Depósitos, S. A., a dação em cumprimento efectuada por escritura pública de 15 de Dezembro de 1995 no Cartório Notarial de Alenquer, das fracções autónomas designadas pelas letras "K", "L" e "P" inscritas a favor da embargante sob G1990111016-AP 16 de 1996/01/11, do prédio urbano sito na Av. ...., n.º ..., em Lisboa,

descrito na 2.ª Conservatória do Registo Predial de Lisboa na ficha 42/880503 da freguesia de Campo Grande;

b) decretar-se a manutenção da penhora de tais fracções autónomas e

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executá-las para satisfação do seu crédito.

2. Pela AP 06 de 03/04/02 a recorrente requereu o registo deste pedido reconvencional relativamente às fracções autónomas "K" e "P", tendo esse pedido sido recusado com fundamento em que "O pedido reconvencional cujo registo se requer consubstancia a impugnação pauliana da dação em

cumprimento registada sob a Ap. 16 de 1996.0 1.11 em ambas as fracções, sendo em consequência um tipo de acção que pela sua natureza pessoal e objecto meramente obrigacional não se encontra sujeito a registo".

3. A recorrente foi notificada deste despacho em 18/04/02.

4. Sobre as aludidas fracções "K", "L" e "P" mostra-se registada a dação em cumprimento a favor da referida (A).

5. Sobre a fracção "P" mostra-se registada, provisória por natureza, a aquisição desta fracção por (C), casada com (D)

III. OS FACTOS E O DIREITO

É pelas conclusões do recurso que se delimita o seu âmbito de cognição, nos termos do disposto nos artigos 690.º e 684.º n.º 3, ambos do Código de

Processo Civil, salvo questões do conhecimento oficioso (artigo 660.º n.º 2 do Código de Processo Civil).

Embora se afigure discutível a admissibilidade de reconvenção em sede de embargos de executado, o certo é que, tendo em conta as conclusões do recorrente, não é questão a tratar no âmbito do presente recurso, que se confina tão só a apreciar a admissibilidade do registo da impugnação pauliana naqueles termos deduzida.

No caso destes autos estamos perante uma situação em que a agravada, para satisfação do seu crédito, pretende executar dois bens imóveis penhorados. Não desconhecemos que esta questão do registo da acção pauliana tem sido objecto de controvérsia quer na doutrina quer na jurisprudência como

facilmente podemos verificar do fundamento da decisão recorrida e das doutas alegações e contra-alegações deste recurso.

Esta controvérsia centra-se no facto da acção de impugnação pauliana se destinar a fazer valer um direito de natureza pessoal e não um direito de natureza real.

Estabelece o artigo 3.º n.º 1, alínea a), do Código de Registo Predial, que só as acções que tenham por fim, principal ou acessório, o reconhecimento, a

constituição, modificação ou extinção dos direitos reais ou equiparados é que é susceptível de registo. Ora, como a acção de impugnação pauliana não visa nenhum destes direitos estaríamos perante uma situação em que aquela acção

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não tinha que ser registada (neste sentido, Henrique Mesquita, Revista de

Legislação e Jurisprudência, n.º 128, pág. 254, e Acórdão da Relação do Porto,

de 25 de Maio de 2000, Proc. n.º 1605/99, não publicado). Mas não concordamos com esta tese.

No caso concreto estamos perante uma situação em que o credor impugnante pretende a penhora e posterior execução sobre dois imóveis, estando por isso na presença de actos relativos a bens imóveis.

É certo que a acção de impugnação pauliana é uma acção com natureza vincadamente pessoal e com um fim indemnizatório.

Não podemos porém ignorar que esta acção tem em vista a restituição dos bens impugnados, na medida do crédito que estiver em causa. E, procedendo a acção de impugnação pauliana, o autor fica com o direito à restituição daqueles bens, na medida do seu interesse. E, para este efeito, pode o credor impugnante executar os bens objecto da transmissão no património do

terceiro adquirente e nesse património praticar os actos de conservação da garantia patrimonial, permitidos por lei, sem que esse terceiro a tal se possa opor, nos termos do disposto no artigo 616.º n.º 1 do Código Civil (Almeida Costa, Obrigações, 3.ª edição, pág. 610, Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 25 de Fevereiro de 1997, BMJ n.º 464.º, pág. 517).

Ora, sendo garantido ao credor impugnante executar os bens objecto da

transmissão no património do terceiro adquirente e nesse património praticar os actos de conservação da garantia patrimonial, permitidos por lei, sem que esse terceiro a tal se possa opor, e não sendo permitido o registo da acção, não faria sentido que se reconhecesse esse direito e ao mesmo tempo se permitisse, sem quaisquer restrições, a transmissão daquela mesma garantia para subadquirentes. Desta forma frustrar-se-ia o direito do credor que, atentas eventuais transmissões posteriores ao reconhecimento da sua

garantia, se veria obrigado a ter que provar que tais transmissões haviam sido feitas de má fé (artigo 613.º n.º 1, alínea b), do Código Civil).

Como refere o Prof. Menezes Cordeiro, em Parecer sobre a impugnação Pauliana, Col. Jur., Ano XVII, Tomo III, pág. 63, a lei não pode conceder direitos sem lhes consignar os respectivos conteúdos, concluindo que a

restrição ao direito de propriedade do adquirente que decorre do disposto no artigo 616.º n.º 1 do Código Civil tem de ter efeitos no que respeita ao registo da acção de impugnação pauliana, enquadrando-se esse mesmo registo na previsão da alínea u) do n.º 1 do artigo 2.º do Código de Registro Predial. E, como se refere no Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 28 de Junho de 2001, Col. Jur., Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, ano IX, Tomo II, pág. 143, «o registo é tanto mais necessário quanto é certo que, a seguir-se a posição da não registabilidade, o autor da acção ficaria menos protegido se o

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adquirente transmitisse o bem exequível para terceiro de boa fé ou ver-se-ia obrigado a perseguir, sem descanso, os sucessivos adquirentes para obter contra eles o mesmo efeito que requereu na primitiva acção contra o alienante e o terceiro adquirente».

Em conclusão, entendemos que no caso concreto estamos perante uma situação que se enquadra no disposto nos artigos 610.º, 612.º, 613.º e 616.º, todos do Código Civil, e no disposto nos artigos 2.º, alínea u), e 3.º n.º 1, alínea a), ambos do Código de Registo Predial, sendo registável a acção de impugnação pauliana de actos relativos a imóveis, improcedendo todas as conclusões de recurso formuladas pelo agravante, não merecendo por isso provimento o presente recurso.

IV. DECISÃO

Por todo o exposto, tendo em conta as disposições legais citadas, acorda-se neste Tribunal da Relação de Lisboa em negar provimento ao recurso de agravo e, consequentemente, confirmar integralmente a decisão recorrida. Sem custas por o recorrente delas se encontrar isento.

Lisboa, 20 de Maio de 2003.

(Luís Maria Vaz das Neves)

(António Santos Abrantes Geraldes) (Manuel Tomé Soares Gomes)

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