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A VIOLAÇÃO DA INTEGRIDADE SEXUAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O FENÔMENO DA REVITIMIZAÇÃO CAUSADO PELAS REPARTIÇÕES PÚBLICAS: A OITIVA ESPECIALIZADA

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A VIOLAÇÃO DA INTEGRIDADE SEXUAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O FENÔMENO DA REVITIMIZAÇÃO CAUSADO PELAS REPARTIÇÕES PÚBLICAS: A OITIVA ESPECIALIZADA

Gustavo Firmino Rodrigues1

Ulisses Pessôa2

RESUMO

O presente artigo tem o intuito de explanar o procedimento de produção de provas realizado na Vara da Infância e Juventude do Estado do Rio de Janeiro, especialmente no que tange a oitiva de crianças e adolescentes que tiveram sua integridade sexual violadas. A infância, momento de descobrir, de desenvolvimento e proteção. É nesta fase que os vínculos afetivos devem ser estabelecidos, a fim de afastar qualquer tipo de omissão e negligência. É preciso humanização e sensibilidade, não somente familiar, mas como um todo organismo que só fun-cionam juntos, dependentes para o pleno funfun-cionamento vital. Garantir a integridade sexual da criança e do adolescente é dever do Estado, da família e da sociedade, conforme dispõe o Artigo 227 da Constituição Federal, de forma que não fiquem expostos a qualquer tipo de negligência ou violência. Embora ocorra a omissão do dever Estatal, familiar e social, ainda assim, qualquer procedimento adotado no atendimento de criança e adolescente vítima deve cooperar para que a integridade psicológica seja reestabelecida, isto porque se tratam de indi-víduos de tão pouca idade e que ainda estão em processo de desenvolvimento. Neste sentido, foi realizada uma pesquisa empírica no Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, direta-mente na equipe técnica da Vara da Infância e Juventude da Comarca da Capital e Regional de Campo Grande, e ao NUDECA (Núcleo de Depoimento Especial da Criança e do Adolescente), a fim de analisar e avaliar, de forma objetiva, a escuta especializada.

Palavras-chaves: crianças e adolescente; crimes sexuais; depoimento especial; escuta huma-1 Pós Graduando em Processo Penal e Garantias Fundamentais, pela Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst-Rio); Graduado em Direito pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM); Mem-bro, pesquisador e associado (bolsista integral pelo CEJUR) do Laboratório de Ciências Criminais – Instituto Bra-sileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM-RJ); Pesquisador no grupo de pesquisa Sociedade Globalizada e o Sistema Penal (SGSP); Advogado. E-mail.: gustavorodiigues@gmail.com

2 Doutorando em Direito pela UNESA/RJ (Bolsista integral pela CAPES); Mestre em Direito pela UNESA/RJ (Bolsista integral pela CAPES); Especialista em Direito Penal e Processo Penal; Professor de Direito Penal e Proces-so Penal das graduações da UNISUAM e Signorelli; ProfesProces-sor de Direito Penal e ProcesProces-so Penal da pós-graduação da UERJ; Professor de Direito Penal e Processo Penal da FGV-LAW Program; Professor de Direito Penal e Proces-so Penal da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ); Advogado Criminalista; Coordenador do grupo de pesquisa Sociedade Globalizada e Sistema Penal (SGSP); Escritor. E-mail: ulissespessoadossantos@ gmail.com

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nizada;

ABSTRACT

The purpose of this article is to explain the procedure of production of evidence carried out in the Child and Youth Court of the State of Rio de Janeiro, especially regarding the hearing of children and adolescents who had their sexual integrity violated. Childhood, moment of discovery, of development and protection. It is at this stage that affective bonds must be es-tablished in order to ward off any kind of omission and neglect. It takes humanization and sen-sitivity, not only familiar, but as a whole organism that only work together, dependent for full vital functioning. Guaranteeing the sexual integrity of children and adolescents is the duty of the State, the family and society, as provided in Article 227 of the Federal Constitution, so that they are not exposed to any kind of negligence or violence. Although the omission of State, family and social duty occurs, however, any procedure adopted in the care of child and adoles-cent victim must cooperate so that psychological integrity is reestablished, this being because individuals are so young and still in development process. In this sense, an empirical research was carried out in the Judiciary Branch of the State of Rio de Janeiro, directly in the technical staff of the Child and Youth Court of the Region of the Capital and Regional of Campo Grande, and to NUDECA (Nucleus of Special Testimony of the Child and Adolescent), in order to analyze and evaluate, objectively, specialized listening.

Keywords: children and adolescents; sexual crimes; special testimony; humanized listening; 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Constituição Federal dispõe em seu Artigo 2273 expressa o entendimento do

consti-tuinte em proteger e salvaguardar a criança e ao adolescente de qualquer forma de violência, direta ou indiretamente, na medida em que encarrega o Estado, a família e a sociedade para garantirem a integral proteção do infante ou do adolescente, garantindo, ainda, direitos so-ciais inerentes ao seu pleno desenvolvimento.

Contudo, quando temos essas garantias e liberdades violadas, cabe, também, à famí-lia, à sociedade e ao Estado, estabelecer medidas para a construção de uma proteção especial 3 Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

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de um ser humano que ainda está em fase de desenvolvimento, isto porque, nos crimes contra a liberdade sexual de um infante, tema central da pesquisa, ainda que não haja violação física, resta completamente abalada a integridade psicológica que, por vezes, levam longos anos ou uma vida inteira para o restabelecimento de um sereno psíquico.

Com o advento da Lei 13.341/2017 e sua vigência em abril de 2018, que estabelece os mecanismos obrigatórios da Escuta Especializada e do Depoimento Especial em criança ou

adolescente vítima de violência, sua real intenção é inibir qualquer prática que revitimize as vítimas ou testemunhas de violência sexual, já que precisam ter sua integridade psicológica ainda mais protegida.

Com o auxílio da equipe técnica, Psicologia e Serviço Social, da Vara da Infância e Juven-tude do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, a pesquisa abordará o empirismo sobre a eficácia do nominado Depoimento sem dano.

0.1 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

O ordenamento jurídico brasileiro pôde contribuir significativamente a partir da déca-da de 80 em favor do direito déca-da criança e do adolescente, na medidéca-da em que foram estimu-ladas por organizações não-governamentais a implementação das diretrizes da ONU na nova Constituição Federal, isto porque a vigente Carta Constitucional surgiu com um viés completa-mente garantista e humanizador.

É fácil perceber o intuito da nova Constituição que, além de garantir a proteção e inte-gridade da criança e do adolescente, fez e faz todo seu procedimento jurisdicional pautado em um dos princípios fundadores e humanizadores do Direito, o princípio da dignidade da pessoa humana.

Pouco tempo depois, surgiu o Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, já que, logo após a promulgação da Constituição Federal, houve a necessidade da elaboração de uma legislação complementar acerca do tratamento e outras providências adequadas para crianças e adolescentes.

Em seus primeiros cinco artigos4, o Estatuto expressa direitos e garantias fundamentais 4 Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimi-nação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à

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inerentes à condição de liberdade e dignidade, de maneira que sejam criados mecanismos capazes de estimular esse processo humanizador e protetivo no tocante aos vulneráveis de tenra idade.

Foi assim que interpretou (CURY, 2008, pág. 37) o Excelentíssimo Juiz de Direito na Itália, Paolo Vercelone, ao explanar sua inquietação pelo Art. 3º do ECA, onde evidencia a ne-cessidade de um ser humano se importar por outro, na medida em que o primeiro ser é mais dependente do segundo, levando em consideração que o primeiro é mais vulnerável, já o se-gundo, mais forte por ter a capacidade de proteger. Evidencia, ainda, que a proteção antecede desigualdade, mas a desigualdade em questão está ligada ao fato de que o ser mais fraco deve seguir as instruções e orientações do mais forte, já que a real intenção do mais forte é proteger contra ameaça de terceiros (outros adultos ou autoridade pública).

Ainda nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no uso de suas atribuições constitucionais e regimentais, elaborou em 2010 a recomendação nº 33 aos tribunais, no

sen-tido de criarem mecanismos especializados para escuta de criança e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência nos processos judiciais. Depoimento Especial, como forma de garan-tir a absoluta prioridade do infante sobre os demais.

I – a implantação de sistema de depoimento vídeogravado para as crianças e os adolescentes, o qual deverá ser realizado em ambiente separado da sala de audiências, com a participação de profissional especializado para atuar nessa prática;

II – os participantes de escuta judicial deverão ser especificamente capacitados para o emprego da téc-nica do depoimento especial, usando os princípios básicos da entrevista cognitiva.

III – o acolhimento deve contemplar o esclarecimento à criança ou adolescente a respeito do motivo e efeito de sua participação no depoimento especial, com ênfase à sua condição de sujeito em desenvol-vimento e do conseqüente direito de proteção, preferencialmente com o emprego de cartilha previa-mente preparada para esta finalidade.

IV – os serviços técnicos do sistema de justiça devem estar aptos a promover o apoio, orientação e encaminhamento de assistência à saúde física e emocional da vítima ou testemunha e seus familiares, quando necessários, durante e após o procedimento judicial.

V – devem ser tomadas medidas de controle de tramitação processual que promovam a garantia do profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, explora-ção, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

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princípio da atualidade, garantindo a diminuição do tempo entre o conhecimento do fato investigado e a audiência de depoimento especial.

Na mesma linha de pensamento, em 2012 o Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro resolve instituir o Núcleo de Depoimento Especial de Crianças e Ado-lescentes, conhecidamente como NUDECA, através do Ato Executivo 4297/2012 – TJRJ:

Artigo 1º. Fica instituído o Núcleo de Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes - NUDECA, no âmbito do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, composto de salas para oitivas vídeogravadas de crianças e adolescentes, que serão realizadas por profissionais capacitados em técnicas de entrevistas investigativas.

III - estabelecer, em articulação com o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Polícia Civil, o Conselho Tutelar, as Secretarias de Saúde, e outros órgãos governamentais e não governamentais, um fluxo coor-denado de ações que evite a revitimização de crianças e adolescentes.

Cabe ressaltar que, apesar da recomendação exposta acima, nem todos os atos

judi-ciais dos tribunais brasileiros, desde 2010, eram revestidos de cautela ou permaneciam de-satualizados, o que era capaz de desencadear processos irreversíveis de danos psicológicos, justamente pela ausência de uma lei que tem por sua diretriz amenizar uma dor enfrentada por vítimas de tenra idade.

1.2 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE: A VULNERABILIDADE IMINENTE

A fase da infância é um complexo de formação na vida do indivíduo de extrema impor-tância, uma vez que nela é construído o subjetivo, ainda que na fase de recém-nascido, pois suas lembranças são carregadas para todo o resto da vida, mesmo que existam recordações mal formuladas ou fantasiosas. Segundo Maria Berenice Dias (2016), neste sentido, estamos diante do princípio da solidariedade familiar, sendo, portanto, um dever para com o próximo

do núcleo familiar, ainda que da família extensa. A fraternidade e a reciprocidade são nor-teadores neste momento, já que só é possível considerar a existência através da existência em grupo, da dependência, ainda que de forma indireta. O próprio preâmbulo constitucional assegura a diretriz de uma sociedade fraterna.

Portanto, é nessa fase inicial da vida que deve ser valorizado e respeitado todo o es-timulo de afetividade e vínculo, pois a criança e o adolescente precisam desenvolver o que

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fazem de melhor: brincar e criar.

A pouca idade consegue refletir para a sociedade a vulnerabilidade em que se encontra a criança e o adolescente, até mesmo demonstrada pela forma que se comportam, com res-salva destes que precisam, desde muito cedo, exercer o papel de um adulto, já que seu núcleo familiar é completamente estruturado e são vítimas do descaso Estatal e da negligência de seus genitores.

É, notoriamente, egoísmo pensar que o desenvolvimento da criança e do adolescente somente está pautado para uma perfeita progressão da sociedade e um mundo globalizado, este pensamento também deve ser estimulado, contudo, o cuidado e a precaução para garan-tir um presente feliz e harmônico, sem danos, deve ser a absoluta propriedade5 de um meio social.

O ambiente familiar deve ser o local de acolhimento mais importante de referência que o infanto-juvenil possa ter, já que o acolhimento institucional6 somente deve ser levado em

consideração em última ratio para que não haja abalo psicológico e desproporcionalidade ao

caso fático, sendo este regido por dois princípios importantes: excepcionalidade e provisorie-dade.

1.3. A LEI 13.341/2017 E SUAS NUANCES

A nova lei que entrou em vigor em abril de 2018 trouxe para a área da infância e ju-ventude mais um momento de efetivação das garantias constitucionais, estimulando seu de-senvolvimento sem violência e preservando sua saúde física e mental, de proteção integral e dignidade da pessoa humana. A lei foi justamente criada para evitar que as vítimas ou tes-temunhas de delitos sexuais sejam expostas de novo aos crimes, no tocante a oitiva. A mens legis7 prevê a proteção de violências psicológicas, físicas e sexuais, sendo de forma obrigatória a utilização do mecanismo do Depoimento Especial para que os infantes não sejam revitimiza-5 O termo “prioridade” é definido pelo dicionário Houaiss (2002) como: “condição do que é o primeiro em tempo, ordem, dignidade; possibilidade legal de passar à frente dos outros; preferência, primazia; condição do que está em primeiro lugar em importância, urgência, necessidade, premência”.

Ainda define o termo “absoluto” enquanto aquele “que não sofre nem comporta restrição ou reserva; inteiro, infinito; que não admite condições, obrigações, limites; incondicional; que não permite contestação ou contradi-ção; imperioso; único, superior a todos os demais” (Houaiss, 2002).

6 Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reco-nhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: VII - acolhimento institucional; § 1o O acolhimento institucional e o aco-lhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade. (grifo meu)

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dos, ou seja, não vivencie de forma integral os fatos ocorridos. Em seu art. 8º, o legislador pos-sibilitou à Polícia Judiciária e ao Poder Judiciário a utilização da oitiva sem dano, isto porque, não raras vezes, crianças e adolescente são conduzidos por seus genitores ou responsáveis le-gais à Delegacia de Polícia para noticiar um crime. Neste ato, para tanto, é necessário que haja um profissional especializado, Assistente Social ou Psicólogo, capaz de realizar a oitiva correta, sem danos e, se possível, no máximo, realiza-la apenas uma vez.

É necessário esclarecer que a oitiva da criança ou do adolescente é apenas uma facul-dade ou direito da vítima ou testemunha. Não há obrigatoriefacul-dade da vítima se manifestar a

respeito do suposto fato ocorrido. Assim dispõe o Título II – Dos Direitos e Garantias, em seu art. 5º, VI, ao expor que o entrevistado tem o direito e a garantia de ser ouvido, manifestar seus desejos ou opiniões e, até mesmo, de permanecer em silêncio.

Preceitua o art. 7º da referida lei que o procedimento acontecerá na forma de entre-vista, perante órgão de rede de proteção, sempre limitando o ato ao necessário para atingir a

finalidade: reunir provas suficientes para uma futura persecução penal. É certo que o proce-dimento ocorrerá de forma antecipada quando a demanda judicial estiver diante de casos de vítimas de violência sexual e de crianças com idade inferior a 7 (sete) anos, conforme dispõe o Art. 11, §1º.

Todo procedimento será coberto pelo manto do sigilo judicial8. Vale lembrar que é

es-clarecido à criança ou ao adolescente que seu depoimento poderá ser realizado diretamente ao juiz, se assim o entender.

Não menos importante, se de alguma forma a integridade, seja ela física ou psicológi-ca, estiver em risco, o(a) suposto(a) agressor(a) poderá ser retirado(a) da sala de audiência, lembrando que estas salas devem ser as mais distantes possíveis, de forma que a vítima se-quer tenha contato de vista com o(a) rese-querido(a).

2. A CRIMINOLOGIA E O ESTUDO DAS VÍTIMAS

A preocupação em estudar a vítima, que teve sua origem no sofrimento dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, de forma empírica, é saber que, além da busca incessante da persecução penal em condenar o indiciado ou acusado, é se preocupar ainda mais com a vítima, isto porque as marcas psicológicas ficam tatuadas em seus pensamentos, principal-mente quando se trata de um atentado contra a proteção sexual de crianças e adolescentes. Infelizmente, em razões culturais e políticas, a preocupação com o criminoso sempre foi mais 8 Art. 5º, LX, CF - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimida-de ou o interesse social o exigirem; Art. 12, § 6º, Lei 13.341/2017 - O intimida-depoimento especial tramitará em segredo de justiça.

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importante do que a vítima.

A Criminologia, por sua vez, em seu estudo sobre a Vitimologia, apresenta a

classifi-cação da Vitimização primária, secundária e terciária. O presente trabalho visa demonstrar a

junção da vítima primária e secundária, aquela sendo a vítima diretamente atingida pelo crime e esta sendo a revitimização realizada pelas instituições públicas ao realizar o procedimento

de reiteradas oitivas da criança ou adolescente, com o intuito de garantir a devida instrução processual, portanto, duplamente vítima.

O objetivo da Criminologia é estudar o crime, o criminoso, a vítima e o controle social, até mesmo o comportamento da sociedade diante de tantas atrocidades e barbaridades que ocorrem diariamente. O crime, por sua vez, fato social que atinge diretamente a vítima, inclu-sive, seus familiares, que muita das vezes são vitimizados pelos danos causados na ocorrência de um delito.

O aprofundamento no estudo das vítimas requer a completa humanização do indiví-duo, principalmente quando se trata do operador de Direito, justamente pelo costume que este vivencia ao enxergar apenas a letra fria da lei o que, muita das vezes, o cega a ponto de não se preocupar com as demandas judiciais, tornando-as um apanhado de papéis.

2.1 A REVITIMIZAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: A VITIMIZAÇÃO SECUNDÁ-RIA

No momento em que a criança ou adolescente tem sua integridade sexual violada, nas-ce para ela grandes angústias, temores, marcas que dificilmente será apagada com o tempo.

Dentro da Vitimologia, matéria que estuda as vítimas, são definidos três espécies de grupos, primária, secundária e terciária. A vítima primária consiste naquela diretamente afe-tada pelo crime, a lesionada, no crime de lesão corporal tipificado no Art.129 do Código Penal; A secundária, objeto de estudo deste artigo, trata-se da vítima ser novamente exposta ao fato criminoso ou tendo um abalo psíquico praticado pelas instâncias formais de controle social, órgãos públicos, ao realizarem o procedimento de investigação o persecução processual. Ve-rifica PENTEADO FILHO (2018, pág. 96) que se trata de um sofrimento a mais que a vítima é exposta ao realizar uma diligência no inquérito policial ou uma oitiva no processo penal.

É possível afirmar que operadores do Direito, apesar das mais diversas formações, não estão devidamente preparados para lidar com situações extremas no tocante a violação da integridade sexual da criança e adolescente, obviamente pelo fato de se tratar de fator de grande repulsa. Ao que tudo indica, não acontece pela falta de empatia, mas, sim, a sensibilidade de lidar com vítimas diferentes, isto porque não são adultos e não possuem seu

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psicológico ainda formado.

Neste sentido, existem medidas que podem ser tomadas para evitar causar danos aos infanto-juvenis, principalmente no que tange ao procedimento de oitiva em processos judi-ciais. É preciso ter sensibilidade, tanto no olhar e quanto na fala, para que a criança ou o ado-lescente se sinta confiante e seguro.

3. O PROCEDIMENTO DE OITIVA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL: A VISITA EMPÍRICA NO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Abordar uma temática quando se trata de violação de garantias fundamentais é, sobre-tudo, mergulhar num universo de violência, ainda mais quando relacionado a crimes bárbaros onde há violação da integridade sexual da criança e do adolescente. Neste sentido, desde o momento em que há grave violação aos direitos inerentes ao infanto-juvenil nasce para o Esta-do a persecução processual a fim de proteger a vítima e aplicar a medida ou pena ao agressor. Como define LOPES JR. (2017) a produção de provas consiste na oportunidade ou me-canismos que possibilitará a reconstrução do fato criminoso. Portanto, pode-se afirmar que o momento processual, neste caso, de oitiva probatória consiste em reconstruir de forma apro-ximada momentos já ocorridos.

É evidente que o contraditório e ampla defesa estarão sempre presentes nesta

em-preitada para que nenhuma garantia individual seja violada, na medida em que oportuniza ao suposto agressor a absoluta garantia de produção de provas, especialmente a prova testemu-nhal.

Em visita empírica no NUDECA (Núcleo de Depoimento Especial de Criança e Adoles-cente) do Poder Judiciário do Rio de Janeiro, pôde ser percebido a atenção especial e a con-fiança que o espaço fomenta, através dos profissionais e do ambiente acolhedor que fazem total diferença na tomada de colheita de provas.

3.1 A COMPETÊNCIA DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

É sabido que as esferas do Poder Judiciário são divididas por suas devidas competências já previstas constitucionalmente e infraconstitucional. A Vara da Infância e Juventude, por sua vez, tem sua dogmática voltada aos interesses da criança e do adolescente9, aquele entendido 9 Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,

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até doze anos de idade incompletos e este entre doze e dezoito anos de idade.10

Na propositura de uma ação cível, geralmente iniciada pelo Conselho Tutelar11, que

atua diretamente na promoção e proteção dos direitos da criança e do adolescente, instaura--se, preliminarmente, o processo de Representação por Infração Administrativa, em face dos

genitores ou representantes legais, isto porque houve algum tipo de violação aos direitos do infante ou do juvenil. Neste sentido, pautado no contraditório e na ampla defesa já previsto no Art. 5º, LV, da Constituição Federal12, é oportunizado aos requeridos o momento de exercer o

direito de defesa, a fim de rebater todas as acusações formuladas na inicial dos autos. É certo que, caso a caso, podem ser aplicadas medidas administrativas a fim de resguardar e garantir a integridade física e psicológica da vítima ou testemunha de violência, assim como dispõe o Art. 13013 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Imperioso destacar que, caso seja identificado que realmente houve violação a inte-gridade sexual da criança ou do adolescente, se as situações de grave risco e vulnerabilidade extrema persistirem, poderá ser aplicada a medida de destituição do poder familiar, ocasião

em que os genitores que realizaram o registro de nascimento do filho(a) perderá o status de

genitor(a). Geralmente, a ação de destituição do poder familiar é ajuizada pelo Ministério Pú-blico14 e seu trâmite é percorrido na própria Vara da Infância e Juventude, momento que, em

primeiro lugar, há tentativa de reintegração familiar, seja na família natural ou extensa, não sendo possível, é realizada a destituição do poder familiar e a colocação em família substitu-ta15.

A Vara da Infância e Juventude do Poder judiciário atual é composta por suas atribui-ções de magistrado, promotor, defensor ou advogado, somado com os esforços e dedicação da Equipe Técnica composta por psicólogos(as) e Assistentes Sociais, unidos, realizam a tarefa delicada e sensível que é identificar indícios de autoria e materialidade de violação de direitos sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

10 Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

11 Art. 136, ECA. São atribuições do Conselho Tutelar:

b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações. IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; (grifo meu)

12 Art. 5 º, LV, CF - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são asse-gurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

13 Art. 130, ECA. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.

14 Art. 155, ECA. O procedimento para a perda ou a suspensão do poder familiar terá início por provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse.

15 Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou o adolescente com vistas à colocação em família substituta.

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fundamentais, sempre visando o melhor interesse da criança e do adolescente16.

3.1 DEPOIMENTO SEM DANO E O DEPOIMENTO ESPECIAL: A NECESSIDADE DA

MANU-TENÇÃO DA OITIVA HUMANIZADA

Antes de entrar em vigor a lei 13.341/2017, lei que expressa o Depoimento Especial, já havia a recomendação de nº 3317 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a fim de proteger

outras formas que revitimizassem ou apenas tornar menos danoso o procedimento de oitiva de quem supostamente teria sofrido violência ou abuso sexual. Não é tarefa fácil ter que con-textualizar ou relembrar fatos que tanto machucam o psicológico do indivíduo, principalmente quando relacionado aos infantes. É preciso humanização, um olhar sensível e acolhedor na colheita das provas orais da vítima, já que, na maioria dos processos a prova testemunhal da vítima é a única existente capaz de instaurar uma persecução penal e punir o agressor.

Os dados estatísticos elaborado pela Diretoria-Geral de Apoio aos Órgãos Jurisdicio-nais – DGJUR evidenciam a eficácia e a importância do Depoimento Especial como garantia

de minimizar a o sofrimento psicológico que assolam nossas crianças e adolescentes que, algum dia, tiveram que enfrentar amargas experiências, mas que não merecem descaso de suas situações de extrema vulnerabilidade. Há, portanto, uma crescente evolução e

desen-volvimento no tocante em exercer a função Estatal com humanização.

16 Artigo 3. Convenção sobre os Direitos da Criança. (DECRETO No 99.710, DE 21 DE NOVEMBRO DE 1990.). 1. Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança.

17 I – a implantação de sistema de depoimento vídeogravado para as crianças e os adolescentes, o qual deverá ser realizado em ambiente separado da sala de audiências, com a participação de profissional especia-lizado para atuar nessa prática; a) os sistemas de vídeogravação deverão preferencialmente ser assegurados com a instalação de equipamentos eletrônicos, tela de imagem, painel remoto de controle, mesa de gravação em CD e DVD para registro de áudio e imagem, cabeamento, controle manual para zoom, ar-condicionado para manutenção dos equipamentos eletrônicos e apoio técnico qualificado para uso dos equipamentos tecnológicos instalados nas salas de audiência e de depoimento especial; b) o ambiente deverá ser adequado ao depoimento da criança e do adolescente assegurando-lhes segurança, privacidade, conforto e condições de acolhimento. II – os participantes de escuta judicial deverão ser especificamente capacitados para o emprego da técnica do depoimento especial, usando os princípios básicos da entrevista cognitiva. (grifo meu)

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Em nota pública nº 01/201819, a Coordenadoria Judiciária de Articulação das Varas da

Infância, Juventude e Idoso do Estado do Rio de Janeiro, em março de 2018, manifestou seu apoio pelos profissionais da Equipe Técnica – Psicólogos reconhecendo sua valiosa função, afirmando ser a mais adequada técnica para oitiva cognitiva em processo judicial

3.2 DA PESQUISA EMPÍRICA: A ESCUTA, O PROCEDIMENTO E O AMBIENTE ESPECIAL

A experiência de vivenciar a metodologia, enxergar de perto a realidade, fugir do mundo restrito das legislações contidas no código e tentar se colocar no indivíduo é denominada como empatia. Foi por esse motivo que o reprodutor deste trabalho des-pertou a necessidade de conhecer o ambiente acolhedor, raramente conhecido pelo operador de Direito, pautado na humanização, no princípio da dignidade da pessoa humana e na garantia de proteger a criança e o adolescente testemunha ou vítima de

abuso sexual.

Pode-se afirmar que o ambiente por todo o Tribunal de Justiça denota um local frio, pautado em aplicação da lei e no exercer diário e ininterrupto da jurisdição.

Para o operador do direito, principalmente para quem está se graduando, difi-cilmente terá conhecimento de um ambiente tão acolhedor e descontraído, de grande importância, dentro do sistema de justiça, não invalidando qualquer outra sala, mas a inclusão de sala totalmente desenvolvidas para uma oitiva especial são necessárias. 18 (Disponível em: http://www.tjrj.jus.br/web/guest/observatorio-judicial-violencia-mulher/vdfm/dados--estatisticos/nudeca )

19 A CEVIJ considera que o depoimento especial é a melhor alternativa para a escuta de criancas e ado-lescentes em processo judicial, eis que segue as orientações técnicas c cientificas da Psicologia, objetivando-se a prevenção da revitimização e a proteção desses sujeitos de Direito. A CEVIJ reconhece que o depoimento especial é urn procedimento que minimiza os danos decorrentes da violencia sofrida ou testemunhada por criancas e adolescentes, auxiliando na formação da conviccão dos Magistrados sobre os fatos. garantindo-se a aplicação do Princípio do Contraditório e melhorando-se a prestação jurisdicional. (Disponível em: http://infanciaejuventude. tjrj.jus.br/)

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Portanto, devem ser estimuladas, cada vez mais, políticas públicas para implementa-ção de mecanismo capazes de não revitimizar o indivíduo, dentro das possibilidades de recursos do Tribunal.

O ambiente completamente diferente de uma sala de audiência, longe de qualquer supremacia, afastando qualquer formalidade o possível. É nesta primeira tomada de sala que acontece o primeiro encontro entre a equipe de Psicólogos, Assistentes Sociais e Comissários com os infanto-juvenis. Nesta ocasião, é apresentado ao entrevistado (vítima ou testemunha) todo procedimento que será realizado, incluindo uma explanação sobre os atores do Poder Judiciário e suas respectivas funções, com uma linguagem clara e acessível, sem qualquer tipo-logia ou jargões que possam dificultar a compreensão. É importante relatar que a criança ou

adolescente, a todo momento, é notificado que está sendo gravado e assistido por uma outra sala que comportarão os atores jurisdicionais e os requeridos.

A equipe composta por profissionais graduados nas áreas de Psicologia e Serviço So-cial, são plenamente especializados para atuarem nas oitivas, já que realizam de maneira ade-quada para atender a demanda causídica e, diferente dos operadores do direito, realizam o procedimento não tão presente nas audiências comuns, as que geralmente possuem a tão somente finalidade de encontrar o real causador de todo o dano: técnica humanizada e o olhar sensível.

Após a sala de identificação e conversas que estabelecem a confiança entre o profis-sional entrevistador (Psicólogo, Assistente Social ou Comissário), a criança ou o adolescente é convidado a se direcionar para a sala de oitiva, composta por aparelhagem de câmera capaz de filmar toda a conversa e transferir para a sala de audiência pelos atores judiciais, ainda conta, também, com aparelho de telefone ou ponto eletrônico capaz de transferir as perguntas for-muladas pela acusação, defesa e pelo juiz.

É imperioso destacar que na visita empírica realizada no dia 07 de novembro de 2018, foi indagado ao profissional acerca das perguntas realizadas pelo magistrado, acusação e defesa e de que forma eram realizadas. A resposta foi a melhor possível: o profissional técnico tem total autonomia e liberdade funcional para repreender ou desconsiderar perguntas que, de alguma maneira, causem sofrimento ou danos ao psicológico da criança ou do adolescente. As perguntas realizadas pelo ponto eletrônico são repassadas à vítima ou testemunha de maneira diferente, bem floreada, mais uma vez, sem que o infanto-juvenil seja revitimizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Historicamente é possível identificar que os crimes sexuais em desfavor de criança e adolescente se caracteriza como um “mal qualificado”, isto porque são crimes que envolvem

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pequenos de tenra idade. Com o passar do tempo, podemos perceber o investimento e atua-lizações de políticas públicas, através dos diplomas legais e princípios garantidores, para aten-der as demandas de proteção e necessidade especiais para seu pleno desenvolvimento.

O Poder Judiciário tem se tornado um ambiente cada vez mais humanizado, ao ponto das vítimas ou testemunhas de violência ganharem mais notoriedade no sistema judicial. É preciso reconhecer que, além da necessária aplicação da lei, é, ainda mais importante, a sen-sibilidade de lidar com alguém que teve suas garantias fundamentais violadas. Não há como relativizar garantias, é importante que mecanismos sejam criados, a medida do possível, ga-rantindo um processo justo, paritário e humanizado.

Tecer considerações acerca de crianças e adolescentes não é tarefa fácil, muito pelo contrário, a emoção é capaz de nos conduzir a momentos de fragilidade, mas, ao mesmo tem-po, reconhecer e se empenhar no sentido de que há a necessidade do aprimoramento para conduzir uma oitiva especializada e a formulação correta das perguntas e comportamentos diante das situações extremas, não deixando que as curiosidades pessoais sejam superiores ao sadio estado de saúde mental do infanto-juvenil. Um comportamento incomum ou um olhar insensível é capaz de inibir qualquer conforto e eliminar toda confiança depositada pela criança, gerando a revitimização.

É necessário destacar que somente a elaboração de diplomas legais e o empenho de profissionais técnicos do poder judiciário pouco contribui para garantir a proteção integral da criança e do adolescente, não no sentido que seus trabalhos são ineficazes, mas porque há a necessidade de toda colaboração de outros órgãos públicos e, também, da própria sociedade, para que os mecanismos disponibilizados contribuam para a eficaz dignidade do infanto-juvenil. Portanto, sob a ótica da Criminologia, é preciso de mais investimentos na Política Criminal, não tão somente em repressão, já que atualmente Delegacias e até o próprio Conselho Tutelar encontram dificuldades para desenvolver atividades que não as tornem du-plamente vítimas.

Com a recomendação nº 33 do CNJ e a vigente Lei 11.341/2017 que entrou em vigor em 08 de abril de 2018, expõe o protocolo de oitiva do Art. 7º ao 12, assim, é possível conside-rar um passo importante para a garantia e proteção de crianças e adolescente, na medida em que a implementação do sistema de Depoimento Especial construa a adequada apuração dos

fatos e uma sensível Escuta Especializada. Logo, não basta apenas a existência da lei

norma-tiva, é preciso que esforços sejam erguidos para que sua finalidade e os direitos nela previsto sejam atingidos.

A capacitação dos profissionais do Poder Judiciário deve ser prioridade, mas não basta só isso, é preciso desenvolver salas e equipamentos capazes de atender a demanda das oitivas especiais.

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Assim, mais do que tudo que foi exposto, é preciso uma ótica sensível e humanizada, por todos, operadores do Direito, profissionais interdisciplinares, sociedade e do próprio Es-tado. É preciso lembrar que a dor do próximo nos remete a frase “e se fosse comigo?”. E o codinome é empatia.

REFERÊNCIAS

BARROS, Guilherme Freire de Melo, Direito da Criança e do Adolescente – 7ª Edição – Salvador:

Editora Juspodvm, 2018.

BRASIL, Constituição Federal, Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em

Assem-bléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvol-vimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e inter-nacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 1988.

CURY, Munir (coord.). Estatuto da criança e do adolescente comentado: comentários jurídi-cos e sociais. 9ª ed., atual. São Paulo: Malheiros, 2008

DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias, 11º Ed. Revista, atualizada e ampliada – Revista dos Tribunais: São Paulo, 2016.

DOMINGOS, Rafael Jorio, Crimes Sexuais – Editora Juspodvm: Salvador, 2018.

BRASIL, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências, 1990.

BRASIL, Lei 11.431/2017, Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adoles-cente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Esta-tuto da Criança e do Adolescente).

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HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Elaborado pelo Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 14ª Ed. – São Paulo: Saraiva, 2017.

PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio, Manual esquemático de criminologia - 8ª Edição – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

Referências

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