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ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL

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1 DATA DA SESSÃO: 3/4/2018

EMBGTE.: CECATO NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA. EMBGDO.: MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL

RELATOR: O SR. DESEMBARGADOR DÉLIO JOSÉ ROCHA SOBRINHO

R E L A T Ó R I O

O SR. DESEMBARGADOR DÉLIO JOSÉ ROCHA SOBRINHO (RELATOR):-

Cuida-se de embargos de declaração opostos por CECATO NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA contra o v. acórdão exarado às fls. 1194/1198, frente e verso, por intermédio do qual a colenda Segunda Câmara Cível conferiu provimento ao recurso de apelação cível interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, para reformar a sentença fustigada a fim de julgar procedente a dúvida suscitada pela Oficiala do Cartório do 1º Ofício da 2ª Zona da Serra, determinando-lhe que se abstenha de proceder à abertura de novas matrículas, a partir do desmembramento do imóvel registrado sob o n.º 27.805, e de promover as demais transcrições pretendidas pela ora embargante, até que houvesse expressa autorização do juízo cível nesse sentido.

Em arrazoado, a sociedade recorrente aponta pretensa contradição no decisum embargado, “que em momento construtor da fundamentação utiliza-se da tese de impossibilidade momentânea de julgamento pela previsão legal de suspensão do feito, e no estágio derradeiro e conclusivo do voto opta pelo enfrentamento da matéria como pano de fundo à procedência e extinção da suscitação de dúvida” (fls. 1202/1203).

Aduz, em seguida, que este douto Colegiado omitiu-se em relação ao acordo firmado pela embargante e as partes que litigam no bojo da demanda tombada sob o n.º 0015989-49.2013.8.08.0048, a qual, em seu entender, “não poderia servir de fundamento para o não julgamento do caráter dominial da matrícula nº 27.805” (fl. 1204).

Acusa a existência de suposta obscuridade no dispositivo do acórdão, “porquanto restou anotado que a dúvida é improcedente até o h. juízo cível expressamente liberar as matrículas” (fl. 1.204).

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2 efeitos infringentes para modificação da decisão objurgada.

Certificada a tempestividade do recurso em apreço (fl. 1.206), a embargante voltou a peticionar nos autos a fim de noticiar fato novo que, de sua perspectiva, corrobora os fundamentos dos aclaratórios, consubstanciado na extinção do litígio cível retromencionado, sem julgamento do mérito, com a conseguinte ordem de cancelamento do bloqueio da matrícula n.º 27.805 (fls. 1.207/1.208).

Com a aludida petição veio a documentação de fls. 1.209/1.212.

As partes que litigaram perante o Juízo cível foram, então, instadas a se manifestarem a esse respeito, nos termos do despacho por mim exarado às fls. 1.214/1.215, frente e verso.

CREUSA ZEFERINO MACHADO, meeira de Alberto Daniel, confirmou a extinção da ação reivindicatória em razão do pedido de desistência formulado pelo Espólio de Amadeu Lopes Freire, mas ponderou não vislumbrar fundamento jurídico para a reforma do acórdão fustigado, “uma vez que os Embargantes já estão habilitados e capacitados a registrarem e/ou averbarem no […] ofício registral todos os títulos possessórios e dominiais havidos pela compra e venda e/ou cessão de direitos havidos na relação negocial concertada com a Meeira, Herdeiros e Sucessos de ALBERTO DANIEL” (fl. 1.217).

O ESPÓLIO DE AMADEU LOPES FREIRE, de modo similar, corroborou a ocorrência de fato novo, qual seja a “prolação de sentença pelo juízo da 5ª Vara Cível de Serra/ES que extinguiu, sem julgamento de mérito, o Processo nº. 0015989-49.2013.8.08.0048 e, via de consequência, determinou o cancelamento do bloqueio outrora efetivado na matrícula 27.805” (fl. 1.382).

Remetidos os autos à douta Procuradoria-Geral de Justiça (fls. 1383/1385), o Ministério Público ofertou suas contrarrazões às fls. 1386/1388, frente e verso, em que consignou não haver “como se opor à modificação do v. acórdão ora embargado, considerando não mais existir um dos óbices ao registro público, cuja solicitação ensejou a suscitação de dúvida em comento” (fl. 1.387).

Observou, todavia, que “a tabeliã do Cartório do 1º Ofício [da] 2ª Zona de Serra […] apresentou várias outras indagações que devem ser dirimidas pelo Poder Judiciário”

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3 (fl. 1.387), reiteradas no apelo interposto pelo Parquet às fls. 201/211, frente e verso, concernentes “à não equivalência da área do imóvel; à ausência do caráter dominial do título de cessão de direitos hereditários levado a registro; bem como à violação ao princípio da continuidade dos registros” (fl. 1.387, verso).

Ao final de sua manifestação, pugna pelo acolhimento dos vertentes embargos declaratórios, “modificando-se o v. acórdão objurgado, a fim de ser considerado o fato novo apresentado pela embargante, bem como para serem enfrentados os demais argumentos lançados no recurso de apelação interposto” (fls. 1.387-verso/1.388).

É o relatório.

PEÇO DIA para julgamento, na forma do artigo 76, parágrafo único, do Regimento Interno deste Tribunal de Justiça, com nova redação dada pela Emenda Regimental n.º 04/2016 (DJe de 20.10.2016).

Vitória/ES, 27 de fevereiro de 2018.

* O SR. ADVOGADO AROLDO LIMONGE:-

Eminente Presidente, pela ordem. A apelação foi exatamente ao apelo do Ministério Público, foi dado provimento e remetido ao juízo de Serra em função do fato de que o juízo detinha a competência para decidir sobre a questão.

Naquela oportunidade já existia, inclusive, uma decisão. Mais do que isso, houve a desistência da ação originária pelo espólio o que remeteu as partes na definitividade da solução jurídica para o caso concreto com sentença transitada em julgado qual fosse os embargos do Cecato seria por que haveria dúvida quanto ao fato de quem seria legítimo proprietário e o possuidor da área por ele adquirida. Tanto assim que houvera a afirmação de que ele teria comprado duas vezes, de um espólio e doto. Houve com a desistência da ação a confissão e o reconhecimento da titularidade dominial de Alberto Daniel razão pela qual houve a determinação de que todos os imóveis fossem registrados em nome do espólio de Alberto Daniel e o seus sucessores o que já foi concluído e houve a prova e remessa. É prejudicial da questão dar os efeitos infringentes para retornar ao status quo ante porque a questão jurídica já foi definida, a essa altura todos os imóveis já estão registrados

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4 documentadas.

*

O SR. ADVOGADO MARCUS MODENESI VICENTE:- Eminente Presidente, pela ordem.

Gostaria de prestar um esclarecimento. Os autos são originários de uma suscitação de dúvida feita pelo Cartório do 1º Ofício da Comarca de Serra. Não se trata da ação processória referida pelo nobre colega doutor Aroldo.

Houve transação, na ação referida, entre as partes na qual a Cecato não participou e ela era a causa que havia suspendido, que havia reformado a sentença. Como ocorreu nesse interregno de tempo fato novo suscitado, que seria esse acordo entabulado entre as partes, colocou-se em julgamento esses embargos de declaração. De fato, não há registro ainda efetuado. O registro pende da análise da suscitação de dúvida que está sendo feita neste exato momento.

*

RETORNO DOS AUTOS

O SR. DESEMBARGADOR DÉLIO JOSÉ ROCHA SOBRINHO (RELATOR):-

Eminente Presidente, peço retorno dos autos para examinar melhor essas considerações.

* jrp*

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5 CONTINUAÇÃO DO JULGAMENTO: 10/4/2018

V O T O

(RETORNO DOS AUTOS)

O SR. DESEMBARGADOR DÉLIO JOSÉ ROCHA SOBRINHO (RELATOR):- Eminentes Desembargadores,

Trata-se de embargos de declaração opostos por CECATO NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA. contra o v. acórdão exarado às fls. 1.194/1.198, frente e verso, por intermédio do qual a colenda Segunda Câmara Cível conferiu provimento ao recurso de apelação cível interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, para reformar a sentença fustigada a fim de julgar procedente a dúvida suscitada pela Oficiala do Cartório do 1º Ofício da 2ª Zona da Serra, determinando-lhe que se abstenha de proceder à abertura de novas matrículas, a partir do desmembramento do imóvel registrado sob o n.º 27.805, e de promover as demais transcrições pretendidas pela ora embargante, até que houvesse expressa autorização do Juízo Cível nesse sentido.

Em homenagem aos nobres Causídicos que, pela ordem, fizeram uso da palavra na última sessão, pedi o retorno dos autos para melhor examinar as sustentações deduzidas da Tribuna.

Cumpre-me, de plano, consignar que o pedido de intervenção de terceiro formulado por CREUSA ZEFERINO MACHADO, meeira de Alberto Daniel (fls. 252/265), sob o patrocínio do ilustre Dr. AROLDO LIMONGE, foi rejeitado por este douto Colegiado quando do julgamento da apelação cível, porquanto incompatível com o procedimento da dúvida registrária, que não admite dilação probatória.

Embora a matéria já tenha sido alcançada pelo fenômeno preclusivo, saliento, nesta oportunidade, que a atribuição de efeitos infringentes à vertente irresignação não tem o condão de tornar insubsistentes os registros imobiliários já realizados em nome do espólio de Alberto Daniel, visto que a tutela postulada nestes autos não possui vocação desconstitutiva.

Feitos esses esclarecimentos, passo à análise dos embargos de declaração ora submetidos a julgamento.

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6 Em seu arrazoado, a sociedade recorrente aponta pretensa contradição no decisum embargado, “que em momento construtor da fundamentação utiliza-se da tese de impossibilidade momentânea de julgamento pela previsão legal de suspensão do feito, e no estágio derradeiro e conclusivo do voto opta pelo enfrentamento da matéria como pano de fundo à procedência e extinção da suscitação de dúvida” (fls. 1.202/1.203).

Aduz, em seguida, que este douto Colegiado omitiu-se em relação ao acordo firmado pela embargante e as partes que litigam no bojo da demanda tombada sob o n.º 0015989-49.2013.8.08.0048, a qual, em seu entender, “não poderia servir de fundamento para o não julgamento do caráter dominial da matrícula nº 27.805” (fl. 1.204).

Acusa a existência de suposta obscuridade no dispositivo do acórdão, “porquanto restou anotado que a dúvida é improcedente até o h. juízo cível expressamente liberar as matrículas” (fl. 1.204).

Postula, ao final, pelo provimento de sua pretensão recursal, com atribuição de efeitos infringentes para modificação da decisão objurgada.

Em sede de contrarrazões, o Ministério Público também pugna pelo acolhimento dos embargos declaratórios em apreço, “modificando-se o v. acórdão objurgado, a fim de ser considerado o fato novo apresentado pela embargante, bem como para serem enfrentados os demais argumentos lançados no recurso de apelação interposto” (fls. 1.387-verso/1.388).

Presentes os requisitos de admissibilidade recursal exigidos pelo atual diploma adjetivo, CONHEÇO dos aclaratórios.

Como cediço, os embargos de declaração são cabíveis quando houver, na decisão judicial, obscuridade ou contradição, ou, ainda, quando for omitido ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz ou o tribunal (art. 1.022, I e II, do CPC). Admite-se, ainda, a correção de eventuais erros materiais, conforme expressa dicção do artigo 1.022, III, do atual Código de Processo Civil.

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7 De acordo com lição de José Carlos Barbosa Moreira, a falta de clareza, ou obscuridade, é defeito capital em qualquer decisão, visto que a função precípua do pronunciamento judicial é, exatamente, fixar a certeza jurídica a respeito da lide ou da questão decidida (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. vol. V, 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 547).

Já para se aferir a existência ou não de contradição, deve-se proceder a uma análise interna do que foi decidido, examinando a lógica das premissas do ato judicial, não havendo, portanto, que se falar em contradição entre julgados distintos ou entendimentos divergentes, entre as provas produzidas nos autos, etc.

No que concerne à omissão, esta restará caracterizada toda vez que o juiz ou o tribunal (ou o relator, no caso de decisão monocrática) deixar de apreciar questões relevantes para o julgamento, suscitadas pelas partes ou examináveis de ofício. Os embargos declaratórios não se prestam, portanto, ao reexame de matéria já decidida, ou mesmo para responder questionamentos das partes, servindo tão-somente como instrumento integrativo do julgado, cujo único propósito é escoimar o comando judicial de vícios que prejudicam a sua efetivação.

Feitas essas considerações, registro que o julgamento do primitivo apelo ministerial ficou assim ementado:

APELAÇÃO CÍVEL. REGISTRO PÚBLICO. SUSCITAÇÃO DE DÚVIDA. PEDIDO DE NATUREZA ADMINISTRATIVA. DISCUSSÃO SOBRE A PROPRIEDADE DO IMÓVEL NAS VIAS ORDINÁRIAS. ORDEM DE INDISPONIBILIDADE E BLOQUEIO DA MATRÍCULA. DÚVIDA PROCEDENTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A dúvida registrária, prevista no artigo 198, § 2º, da Lei Federal n.º 6.015/1973, é um procedimento de natureza administrativa, instaurado por Oficial de Cartório Extrajudicial, a requerimento do interessado, para que o Juízo competente decida sobre a legitimidade da resistência oposta ao registro de determinado título. 2. Por não se constituir em via adequada à discussão sobre a propriedade de bens imóveis, há de ser rejeitada a arguição de prevenção em virtude da prévia apreciação de questões debatidas em processos de natureza contenciosa.

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8 3. De modo semelhante, não se conhece do pedido de intervenção de terceiro e da documentação que o acompanha, porquanto incompatíveis com o procedimento em tela, que não admite dilação probatória. Precedente do STF (RMS 39.236/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 26/04/2016, DJe 03/05/2016).

4. A hipótese dos autos deflagra pretensão de registro que, em virtude das divergências relacionadas à área do imóvel e do risco de sobreposição, resulta na própria discussão sobre a propriedade do bem, pelo que se conclui ser esta via, porquanto meramente administrativa, imprópria à entrega de solução para o litígio travado na seara cível.

5. A incerteza dos dados apresentados pela empresa interessada, aqui apelada, justificam a abstenção da Oficiala em proceder ao registro, visto que, em homenagem ao princípio da segurança jurídica, as irregularidades apontadas devem ser sanadas antes de se proceder às anotações postuladas.

6. Ainda que se pudesse afirmar que as escrituras levadas a registro correspondem à verdade material dos fatos, o óbice criado por ordem do douto Juízo da 5ª Vara Cível da Serra/ES, nos autos da ação ordinária tombada sob o n.º 0015989-49.2013.8.08.0048, por si só, legitima a recusa que ensejou a suscitação de dúvida, em vista do bloqueio e indisponibilidade da matrícula n.º 27.805. 7. Recurso conhecido e provido (TJES, Classe: Apelação nº 48160182639, Relator: ÁLVARO MANOEL ROSINDO BOURGUIGNON – Relator Substituto: DELIO JOSE ROCHA SOBRINHO, Órgão julgador: SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento: 17/10/2017, Data da Publicação no Diário: 25/10/2017). Percebe-se, do exposto, que esta colenda Câmara, ao proferir o julgado ora impugnado, escorou-se em decisão judicial que impunha óbice à pretensão dos embargantes e, em última análise, corroborava a dúvida registrária suscitada na origem.

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9 Refiro-me à ordem de bloqueio e indisponibilidade da matrícula imobiliária tombada sob o n.º 27.805, pronunciada pelo douto Juízo da 5ª Vara Cível da Serra nos autos da Ação Ordinária n.º 0015989-49.2013.8.08.0048, em que se discutia o direito de propriedade sobre a área que se almeja registrar.

A aludida ordem, entretanto, veio a ser revogada após a leitura do acórdão embargado, consoante informação que se extrai do acompanhamento processual da demanda cível, in verbis:

“Conforme se depreende da petição de fls. 2829 a parte autora desistiu de prosseguir com o feito, assim sendo, não vislumbro óbice em julgar extinto o processo, sem julgamento do mérito, nos termos do art. 485, inciso VIII do Código de Processo Civil.

Diante do exposto, homologo a desistência da ação formulada, nos termos do artigo 200, parágrafo único, do Código de Processo Civil, e via de consequência, JULGO EXTINTO o processo sem resolução do mérito, nos termos do artigo 485, VIII do referido diploma processual.

Custas processuais, caso haja remanescentes, pelo requerente. Honorários advocatícios por suas partes.

Oficie-se o cartório de registro de imóvel do 1º Ofício da 2ª Zona da Serra/ES determinando o cancelamento de bloqueios/ registros de indisponibilidades efetivados nas matriculas discutidas nos autos, conforme requerido às fls. 2829.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Após o trânsito em julgado, inexistindo pendências, arquivem-se os autos.

Diligencie-se com as formalidades legais. Serra/ES, 07 de novembro de 2017. DEJAIRO XAVIER CORDEIRO”

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10 Juiz de Direito

A notícia foi confirmada tanto pelas partes interessadas neste feito quanto por aquelas que litigaram perante o juízo cível, resultando evidente a necessidade de revisão do decisum fustigado.

Note-se, todavia, que este douto Colegiado também asseverou haver outras irregularidades que justificavam a negativa da tabeliã suscitante e que merecem ser objeto de exame nesta oportunidade, como bem observou o Ministério Público em sede de contrarrazões (fls. 1.386/1.388, frente e verso).

A questão que me parece mais relevante e que ainda não foi objeto de julgamento nesta instância recursal diz respeito à natureza dos títulos que se pretende levar a registro perante o Cartório do 1º Ofício da 2ª Zona da Serra.

Em sua narrativa inicial, a tabeliã suscitante aduz, em síntese, que, “no emaranhado das escrituras exibidas, os direitos hereditários foram transformados em

propriedade de um imóvel”, pois não há registro dominial em nome do antecessor

daqueles que figuram como cedentes na transcrição de n.º 27.805 (fl. 11).

Observa, nesse particular, que “os herdeiros de Antonio Pinto da Vitória podiam ter

direitos possessórios sobre o imóvel. Podiam até ceder direitos hereditários sobre a posse do imóvel. Mas jamais poderiam ter cedido direitos hereditários sobre a propriedade do imóvel. Simplesmente porque Antonio Pinto da Vitória não

era proprietário” (fls. 11/12).

A empresa suscitada, por sua vez, salienta que a anotação original, tombada sob o n.º 25.866, foi feita pelo Cartório da 1ª Zona de Vitória em 25 de setembro de 1958, ainda na vigência do Decreto n.º 4.857/1939, que reservava a transcrição das transmissões ao Livro 3 do registro de imóveis, daí exsurgindo o seu caráter dominial.

O Douto Juízo de origem acolheu o argumento deduzido pela sociedade embargante, consignando, em sentença adunada às fls. 194/196, frente e verso, que “não há hipóteses legais de impedimento ao pretendido registro, mesmo porque, conforme afirmado, não há a apontada pretensão de fazer um direito possessório ser tido como direito de propriedade, na medida em que os registros efetivados sob o

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11

n.º 25866 e 27805 referem-se a transmissão de imóveis e, portanto, direito de propriedade” (fl. 195, verso).

Já o Ministério Público sustenta, em seu apelo, que “a normativa registral brasileira concede caráter dominial AO TÍTULO a ser registrado, e não AO LIVRO no qual se efetivou, eventualmente de forma errônea, o registro. O equívoco do ato registral não tem o condão de alterar o caráter do título registrado” (fl. 209).

Assevera, em seguida, que “a inferência que se extrai do caso concreto é a existência de ato que pretende provocar a aquisição de propriedade derivada, proveniente da transmissão por documento inábil a tal fim” (verso da fl. 209).

A partir dessas premissas o Parquet construiu a seguinte tese:

No caso dos autos, a transcrição nº. 25.866 descreve a área negociada pelo Espólio de Antônio Pinto da Vitória como um “terreno em comum com outros herdeiros”.

Não houve, portanto, transmissão de propriedade do imóvel para Manoel Francisco de Barcelos, mas tão somente a Cessão de Direitos Hereditários transmitidos pelo Espólio de Antônio Pinto da Vitória.

[…] constata-se que o Espólio de Manoel Francisco de Barcelos não transferiu a propriedade do imóvel aos herdeiros de Alberto Daniel ou às adjudicatárias elencadas na Escritura de Inventário que se pretende registrar, porque esta propriedade não lhe foi transmitida pelo Espólio de Antônio Pinto da Vitória.

A uma, porque o Espólio não poderia dispor de bem que integrava a herança, e se tratava de “terreno em comum com outros herdeiros”. E ainda, porque a Matrícula 25.866 não deriva de qualquer outra, não tendo havido, portanto, transmissão de propriedade do bem a Antônio Pinto da Vitória.

Evidencia tal constatação a transcrição 25.866, que afirma não haver registro anterior do qual derivaria, em flagrante violação ao princípio da continuidade.

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12 transcrição havida sob o nº 25.866, quer me parecer que a discussão proposta não pode ser travada no curso da dúvida registrária.

Afinal, a anotação feita pelo Cartório da 1ª Zona de Vitória confere presunção juris

tantum de propriedade ao seu objeto, porquanto realizada de acordo com o

sistema vigente na época da apresentação do título, que só pode ser vencida no bojo de ação própria, voltada à desconstituição do registro imobiliário.

De precedente firmado por este Tribunal no julgamento da Apelação Cível nº 0010693-50.2015.8.08.00241, colhem-se as seguintes razões de decidir:

A Lei nº 6.015/73 entrou em vigência no Brasil na data de 01/01/1976, de modo que o sistema registral brasileiro no período anterior era disciplinado pelo Decreto nº 4.857/39, que determinava que no registro de imóveis seriam praticados os atos de inscrição, transcrição e averbação (art. 178 do decreto supracitado).

O Decreto vigente à época previa a existência de 10 livros para a escrituração dos atos e do processo de registro, cabendo ao Livro nº 3 a transcrição das transmissões.

Importante destacar que a entrada em vigor da atual Lei dos Registros Públicos não excluiu a validade dos atos registrados no sistema anterior, permanecendo os imóveis no sistema anterior até ser realizado um ato de Registro, no Livro 2 – Registro Geral, ou ser solicitada abertura de matrícula para o imóvel.

Os imóveis registrados pelo sistema antigo estão transcritos, sendo expedida uma Certidão de Transcrição, conforme o documento apresentado à fl. 49. O fato de o imóvel estar transcrito não muda a situação jurídica do imóvel, apenas demonstra que foi registrado de acordo com o sistema vigente na época da apresentação do título de transmissão.

1

TJES, Classe: Apelação nº 24151415643, Relator: MANOEL ALVES RABELO, Órgão julgador: QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento: 31/08/2015, Data da Publicação no Diário: 11/09/2015.

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13 Sendo o documento datado de 24 de abril de 1970 e elaborado nos termos do Decreto nº 4.857/39, deve ser suficiente à propositura da demanda reivindicatória, eis que demonstra que a Senhora Idalina Ribeiro recebeu parte do imóvel em razão do inventário dos bens deixados por Orozimbo Pinto Ribeiro, falecido no ano de 1915.

Verifica-se, do exposto, que o oficial deve se valer da prévia transcrição para manter a continuidade e a integridade do registro, dando cumprimento ao comando normativo previsto no artigo 195 da Lei Federal nº 6.015/1973.

No que diz respeito à arguição de provável sobreposição de áreas em virtude da não equivalência da transcrição original do bem em relação ao título que se pretende registrar, melhor sorte não assiste ao Ministério Público.

Eis os fundamentos de sua insurgência, nesse ponto:

A “Escritura de Cessão de Meação e de Direitos Hereditários”, da qual decorrem os títulos que se pretende registrar, aponta que o imóvel teria “área presumível de 30 hectares” (fl. 53), ou seja, 300.000,00 m² (trezentos mil metros quadrados).

No entanto, na “Escritura Pública de Inventário de Manoel Francisco de Barcelos, com Cessão Onerosa de Direitos Hereditários e Adjudicação” apresentada a registro, o bem que se pretende registrar, situado em Pitanga, Distrito de Carapina, tem área de 631,597 m².

[…].

Há, portanto, um aumento de mais de CEM POR CENTO em relação à área original consignada na Matrícula 27.805. Possível e provável a sobreposição de áreas, tanto que tramita na 5ª Vara Cível desta Comarca demanda na qual se discute a propriedade da área transcrita na Matrícula objeto destes autos.

(14)

14 dimensão da área perante o Oficial de Registro de Imóveis competente, na forma preconizada nos artigos 212 c/c 213, II, da Lei de Registros Públicos […].

Ora, a embargante já promoveu a diligência sugerida pelo órgão ministerial com vistas à retificação da área perante o Cartório de Imóveis da 1ª Zona de Vitória, conforme o inteiro teor da matrícula n.º 27.805 (fls. 41/52, frente e verso), em que consta, inclusive, a anuência dos confrontantes exigida por lei (art. 213, II, Lei Federal nº 6.015/1973), dentre os quais destacam-se o Município da Serra e a SUPPIN – Superintendência de Projetos de Polarização Industrial.

Superadas, então, as objeções arguidas pelo Parquet em sua apelação cível, e considerando haver sido revogada a ordem judicial que antes obstava a pretensão da embargante, não vislumbro fundamentos para a manutenção do acórdão fustigado.

Forte em tais razões, CONHEÇO dos presentes aclaratórios e a eles CONFIRO PROVIMENTO, atribuindo-lhes efeitos infringentes, para reformar o acórdão recorrido a fim de NEGAR PROVIMENTO à apelação cível interposta pelo Ministério Público, confirmando a sentença que, por sua vez, julgou improcedente a dúvida, declarando ilegal a exigência formulada pela registradora.

É como voto.

*

O SR. DESEMBARGADOR JOSÉ PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA (NO EXERCÍCIO DA PRESIDÊNCIA):-

Eminentes Pares, respeitosamente, peço vista dos autos.

(15)

15 O SR. ADVOGADO AROLDO LIMONGE:-

Senhor Presidente, se Vossa Excelência me permitir gostaria de destacar uma ques-tão de fato que acho relevante e para esclarecer a posição.

*

O SR. DESEMBARGADOR JOSÉ PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA (NO EXERCÍCIO DA PRESIDÊNCIA):-

Pois não.

*

O SR. ADVOGADO AROLDO LIMONGE:-

Primeiro, Creuza Zeferino Machado é parte, porque fez a intervenção, ainda quando interposta a apelação pelo Ministério Público e como tal foi admitida pelo Eminente Relator. Foi para todos os atos desse recurso, formalmente, intimada e não deixou de acudir a nenhuma das intimações. Então, é parte legítima, até porque se os imó-veis estão registrados a metade e a meação do Alberto Daniel é em seu nome, ne-nhuma forma de afetação desse imóvel poderia ser levada a qualquer título, a exa-me, mesmo de ofício registral, sem que ela fosse formalmente intimada.

Ao depois, e o destaque é feito de uma forma respeitosa, mas preocupante, essas terras já foram disputadas, travestidas em outro nome perante este Egrégio Tribunal e houve, naquela época, e a aprova está documentada nesses autos do processo, porque prova documentada é feita pela Creuza Zeferino Machado. E foi rejeitada. Mas é importante, se Vossa Excelência me permitir.

E por último, em relação a esses fatos revisitados pelo Eminente Relator, aí é que trazem a preocupação, porque o ofício registral recusou o registro porque Cecato apresentava titularidade dominial, com base numa Escritura que teria sido lavrada num Cartório Montanhês e foi essa a razão da recusa do registro. E ele afirmava, como afirma no processo, que como havia dúvida fundada sobre o domínio, ele comprou duas vezes. Só que o título antecedente é de Amadeu Lopes Freire. E foi essa ação que deu origem ao bloqueio, da qual desistiu. Então, não houve transa-ção, houve desistência da ação.

(16)

16 rio um esclarecimento desses exames para que, ao invés de exatamente afastar dú-vidas, tenhamos muito maiores preocupações em relação ao fato.

Muito obrigado.

*

O SR. DESEMBARGADOR JOSÉ PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA (NO EXERCÍCIO DA PRESIDÊNCIA):-

Agradeço ao Doutor Aroldo pelo esclarecimento da questão de fato.

*

O SR. DESEMBARGADOR DÉLIO JOSÉ ROCHA SOBRINHO:-

Senhor Presidente, o patrocínio foi rejeitado por este Douto Colegiado quando do julgamento da apelação cível. Se isso restou não recorrido dessa decisão penso que tenha ficado preclusa.

*

V I S T A

O SR. DESEMBARGADOR JOSÉ PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA:- Eminentes Pares, respeitosamente, peço vista dos autos. Vamos verificar.

* gvg*

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17 CONTINUAÇÃO DO JULGAMENTO: 17/4/2018

V O T O (PEDIDO DE VISTA)

O SR. DESEMBARGADOR JOSÉ PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA:- Eminentes Pares,

Após a prolação de judicioso voto pelo Eminente Desembargador Délio José Rocha Sobrinho, respeitosamente pedi vista dos autos para melhor analisar o quadro fático-jurídico trazido a julgamento.

Todavia, compulsando o caderno processual, verifiquei a necessidade de declarar minha suspeição para atuar no feito, nos termos do § 1º do art. 145 do CPC/152, o que enseja a aplicação do § 1º do art. 190 do Regimento Interno deste Tribunal de Justiça3.

*

O SR. DESEMBARGADOR JOSÉ PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA (NO EXERCÍCIO DA PRESIDÊNCIA):-

Transfiro a presidência ao Eminente Desembargador Carlos Simões Fonseca.

*

2 Art. 145. […]

§ 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões.

3 Art. 190 – Havendo motivo legal de suspeição ou impedimento, o Desembargador deve declará-lo

por escrito, nos autos, submetendo-os à Presidência. Se Relator, para que seja determinada a substituição regular. Se Revisor, os autos irão a seu substituto legal.

§ 1º – O Desembargador vogal que se tiver por suspeito ou impedido deverá afirmá-lo na

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18 O SR. DESEMBARGADOR CARLOS SIMÕES FONSECA (NO EXERCÍCIO DA PRESIDÊNCIA):-

Acompanho o voto do Eminente Relator.

Consulto o Eminente Desembargador Fernando Estevam Bravin Ruy se tem condi-ções de voto?

*

V I S T A

O SR. DESEMBARGADOR FERNANDO ESTEVAM BRAVIN RUY:- Eminente Presidente, respeitosamente, peço vista dos autos.

*

O SR. DESEMBARGADOR CARLOS SIMÕES FONSECA (NO EXERCÍCIO DA PRESIDÊNCIA):-

Os autos irão com vista ao gabinete de Vossa Excelência.

*

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19 CONTINUAÇÃO DE JULGAMENTO: 8/5/2018

V O T O

(PEDIDO DE VISTA)

O SR. DESEMBARGADOR FERNANDO ESTEVAM BRAVIN RUY:-

Eminentes pares, na sessão do dia 10 de abril de 2018 respeitosamente, solicitei vista dos autos para analisar com maior acuidade a matéria trazida ao crivo desta Colenda Segunda Câmara Cível.

Relembro que se trata de embargos de declaração na apelação cível interposto opostos por CECATO NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA, em face do acórdão de fls. 1.194/1.198, cujo decisum conheceu e deu provimento ao recurso de apelação cível interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, reformando a sentença para “julgar procedente a dúvida suscitada pela Oficiala do Cartório da 2ª Zona da Serra, determinando-lhe que se abstenha de proceder à abertura de novas matrículas, por desmembramento do imóvel registrado sob o nº 27.805 e de promover as demais transcrições pretendidas, até que haja expressa autorização do juízo cível nesse sentido.” (fl. 1.199).

Em breve síntese, cuidam os autos de dúvida registrária, procedimento de natureza administrativa, cuja instauração se deu por Oficial do Cartório Extrajudicial, a requerimento da ora embargante CECATO NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA com escopo de que o Juízo competente decida quanto a procedência da resistência ao registro do título apresentado.

Da peça que instaurou a dúvida extrai-se que o título apresentado por CECATO NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA foi devolvido sem registro sob a justificativa de que não há previsão legal para o registro de títulos de cessão de direitos hereditários e de posse.

A Oficiala suscitante explicitou que nas diversas escrituras públicas apresentadas para registro, transmudou-se os direitos hereditários sobre o bem, em direitos de propriedade, pois não se verifica o registro de propriedade do imóvel em nome de Antônio Pinto da Vitória, primeiro na cadeia negocial de transmissão do bem, o qual cedeu o imóvel à Manoel Francisco de Barcelos, através de inventário (registrado

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20 Barcelos receberam a área, na forma da escritura registrada sob o nº 27.805. Por sua vez, a meeira e os herdeiros de Manoel Francisco de Barcelos cederam seus direitos de meação e direitos hereditários em favor de Alberto Daniel.

Através de Escritura Lavrada no Cartório do 1º Ofício de Notas de Vitória, Livro 1.286, fls. 77/124, a meeira e os herdeiros de Alberto Daniel receberam o imóvel e, na sequência, cederam para CECATO NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA as porções desmembradas denominadas de Área B4 e Área R-B7.

Afirmou a oficiala que a matrícula 25.866, do Livro 3, do Registro de Imóveis da 1ª Zona da Capital foi aberta em 1958 e que não há registro de que Antônio Pinto da Vitória tivesse adquirido o imóvel, de modo que os direitos cedidos somente poderiam dizer respeito a posse, mas não a propriedade. Afirmou, ainda, que a transcrição 27.805 não menciona registro anterior e que não haveria comprovação das medidas do local.

Na sentença, entendeu o magistrado de primeira instância que o ponto nodal da controvérsia dizia respeito à verificação do caráter dominial do registro de nº 25.866 do Cartório de Registro de Imóveis da 1ª Zona de Vitória (transmissão do imóvel do Espólio de Antônio Pinto da Vitória para Manoel Francisco Barcelos).

Asseverou, assim, que como o Registro foi lavrado na vigência do Decreto nº 4.857/39, que previa que o Livro 3 do registro de imóveis seria destinado às transmissões, os registros 25.866 e 27.805 respeitaram a legislação vigente, razão pela qual a natureza dominial do título seria incontestável, não havendo “impedimento ao pretendido registro, mesmo porque, não há a apontada pretensão de fazer um direito possessório ser tido como direito de propriedade, na medida em que os registros efetivados sob o nº 25.866 e 2.805 referem-se a transmissão de imóveis e, portanto, direitos de propriedade.”

Por fim, asseverou que embora o imóvel estivesse sub judice, a suscitação de dúvida haveria de ser julgada improcedente e tão logo cessasse o impedimento exarado pelo juízo na ação nº 0015989-49.2013.8.08.0048, os registros poderiam ser efetuados.

Da sentença, apelou o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL alegando em síntese: (I) a necessidade de anulação da sentença e suspensão da lide até o julgamento do processo nº 0015989-49.2013.8.08.0048; (II) as escrituras apresentadas para

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21 registro apresentam área do imóvel inventariado não coincidente com a contida no registro anterior; (III) a ausência do caráter dominial do registro de direitos hereditários pois “a normativa registral brasileira concede caráter dominial ao título a ser registrado e não ao livro, no qual se efetivou, de maneira errônea o registro”; (IV) a ocorrência de violação ao princípio da continuidade dos registros.

Por meio do acórdão, ora embargado, esta colenda Segunda Câmara Cível deu provimento ao apelo para “reformar a sentença a fim de julgar procedente a dúvida suscitada pela Oficiala do Cartório da 2ª Zona da Serra, determinando-lhe que se abstenha de proceder à abertura de novas matrículas, por desmembramento do imóvel registrado sob o nº 27.805 e de promover as demais transcrições pretendidas, até que haja expressa autorização do juízo cível nesse sentido.” (fl. 1.199).

Na ocasião, o eminente Desembargador Relator salientou que “a hipótese dos autos deflagra pretensão de registro que, em virtude das divergências relacionadas à área do imóvel e do suscitado risco de sobreposição, resulta na própria discussão sobre a propriedade do bem, pelo que se conclui ser esta via, porquanto meramente administrativa, imprópria para entregar a solução para o litígio travado na seara cível.”

Esclareceu, ainda, que a incerteza dos dados apresentados pela apelada justificam a abstenção da Oficiala, sendo necessário sanar as irregularidades antes de proceder as requeridas anotações, bem como, que a existência de bloqueio de indisponibilidade da matrícula nº 27.805 determinada pelo Juízo da 5ª Vara Cível da Serra, nos autos do Proc. nº 0015989-43.2013.8.08.0048 legitima a recusa que ensejou a suscitação de dúvida.

CECATO NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA interpôs embargos de declaração e em seguida, noticiou a ocorrência de fato novo, qual seja, a extinção do litígio mencionado pelo eminente Relator quando do julgamento do apelo e que não mais subsiste o bloqueio da matrícula 27.805.

Na sessão do dia 10 de abril de 2018, votou o eminente Desembargador Relator Délio José da Rocha Sobrinho, no sentido de conhecer e dar provimento aos aclaratórios, atribuindo-lhes efeitos infringentes para reformar o acórdão recorrido a fim de negar provimento à apelação cível interposta pelo Ministério Público, confirmando a sentença que julgou improcedente a dúvida, declarando ilegal a exigência formulada pela registradora.

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22 nobre Desembargador Relator.

Isto porque, a resolução do litígio cível que tramitava junto a 5ª Vara Cível da Serra e que discutia a propriedade sobre a área que almeja a suscitada registrar, trasmuda a realidade fática do bem não subsistindo a indisponibilidade da matrícula outrora determinada.

Ademais, há a informação nos autos, por parte da viúva meeira de Alberto Daniel, CREUZA ZEFERINO MACHADO de que “o Cartório Registral do 1º Ofício da 2ª Zona de Serra procedeu à regularização formal de todos os registros e averbações das áreas que integram os bens arrecadados no inventário e devidamente partilhados” de maneira que “os embargantes já estão habilitados e capacitados a registrarem e/ou averbarem no referido ofício registral todos os títulos possessórios e dominiais havidos pela compra e venda e/ou cessão de direitos havidos na relação negocial concertada com a meeira, herdeiros e sucessores de Alberto Daniel.” Portanto, não me parece que ainda haja óbice ao registro uma vez que CECATO NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA adquiriu o bem do espólio de Alberto Daniel. Os demais empecilhos arguidos pela Oficiala e pelo apelante, tal como bem sustentado pelo eminente Relator, não me parecem também perdurar, de modo que, inexistindo litígio sobre a área e tendo a meeira e os herdeiros de Alberto Daniel logrado êxito no registro do bem, a necessidade de retificação dos limites sugerida pelo órgão ministerial, não perdura.

Diante do exposto, acompanho o entendimento esposado pelo Eminente Desembargador Relator, para CONHECER e DAR PROVIMENTO aos embargos de declaração.

É, respeitosamente, como voto.

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23 D E C I S Ã O

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: à unanimidade, dar provimento ao re-curso.

*

* * jrp*

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