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CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS PARA BAILARINOS ADOLESCENTES

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CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS

PSICOLÓGICOS PARA BAILARINOS ADOLESCENTES

Renan de Morais Afonso

Faculdade de Psicologia

Centro de Ciências da Vida renan.ma@puccamp.edu.br

Profa. Dra. Sônia Regina Fiorim Enumo

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

Centro de Ciências da Vida sonia.enumo@puc-campinas.edu.br

Resumo: A prática de esportes e atividades físicas,

incluindo a dança, vem aumentando nos últimos a-nos. Mais pessoas têm aderido, seja para participar de competições de alto nível ou melhorar a qualidade de vida. Em ambos os casos, o esporte, como fenô-meno, carrega consigo aspectos culturais e sociais, sendo tema de diversas áreas do conhecimento, en-tre elas, a Psicologia do Esporte e da Atividade Físi-ca. A dança é uma área que se destaca nessa área. Embora não seja considerada um esporte, pode ter os conceitos da área aplicados, como a percepção de autoeficácia e o enfrentamento da dor. O desem-penho em um espetáculo de dança depende direta-mente das estratégias de enfrentamento (coping) que os bailarinos utilizam para lidar os estressores. Con-tudo, são fenômenos menos estudados e avaliados. Este estudo teve como objetivo descrever a metodo-logia utilizada para a construção e validação de dois instrumentos psicológicos para bailarinos, para au-toeficácia e coping da dor. Inicialmente, foi feita uma revisão da literatura das áreas de Psicologia, Educa-ção Física e Dança. Para a elaboraEduca-ção dos instru-mentos, além desse embasamento teórico, contou-se com a experiência em dança de uma das pesquisa-doras do grupo. A construção dos itens passou por juízes e o processo de busca de evidências de vali-dade foi feita com uma amostra grande. Os resulta-dos demonstraram que a Escala de Autoeficácia para Bailarinos tem evidências de validade suficientes pa-ra ser considepa-rada adequada papa-ra aplicação prática. O Inventário do Coping da Dor para Bailarinos tam-bém demonstrou evidências para aplicação prática, após aplicação de métodos estatísticos mais robus-tos, como a Teoria de Resposta ao Item e Análise de Redes. A falta de instrumentos disponíveis para ava-liar atletas e bailarinos é um problema para o desen-volvimento da área e nota-se a importância em inte-grar prática com teoria para o desenvolvimento dessa área.

Palavras-chave: Avaliação Psicológica, Psicologia

do Esporte, Dança.

Área do Conhecimento: Psicologia – Construção e

Validade de Testes, Escalas e Outras Medidas Psi-cológicas.

1. INTRODUÇÃO

O esporte é um fenômeno com aspectos culturais e sociais. Cada vez mais pessoas têm aderido à sua prática. Ele pode ser competitivo, na qual simboliza a expressão máxima do fenômeno cultural[1] ou pode ser praticada apenas como atividade física com fins para melhorar a saúde tanto física quanto mental. A dança não é considerada um esporte, mas apli-cam-se os conceitos da área da Psicologia do Espor-te e da Atividade Física justamenEspor-te por ser uma ativi-dade física, já que sua prática produz movimentos que resultam em gastos energéticos e possuem de-terminantes biopsicossociais, culturais e comporta-mentais[2,3]. Aspectos físicos, emocionais e psicológi-co influenciam diretamente o desempenho dos baila-rinos e, por consequência, seu desempenho final. Alguns fatores devem ser melhor investigados, como, por exemplo, o enfrentamento (coping) da dor, a an-siedade e a percepção de autoeficácia. Destacamos, neste estudo, os conceitos de coping da dor e de

autoeficácia.

A autoeficácia é um conceito que foi utilizado pela primeira vez pelo Bandura em 1977, referindo-se aos julgamentos que as pessoas fazem de suas capaci-dades para organizar e executar seus planos de ação necessários para atingir determinados tipos de ren-dimento[4]. Portanto, a autoeficácia é o que a pessoa acha sobre suas próprias habilidades e não as suas habilidades reais. Esse constructo se relaciona com o esporte e a prática de atividade física, pois apre-senta-se uma correlação positiva entre autoeficácia e performance[5]. Também é um indicador psicossocial muito bom de adesão à atividade física[6].

Por sua vez, a dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável, que é associada a lesões reais ou potenciais ou descrita em termos de tais lesões[7]. A percepção da dor está diretamen-te relacionada com a prática de atividades físicas e,

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por esse motivo, o exercício físico é importante como forma de enfrentamento dessa adversidade[8]. No entanto, esse estressor é uma variável constante na vida dos atletas, pois, na busca constante de supera-ção dos seus limites, a dor muitas vezes é inevitá-vel[9]. A dor também faz parte do cotidiano dos baila-rinos, no qual, muitas vezes não se separa ensai-o/treino da dor[10].

A relação entre dor e autoeficácia se encontra na medida em que, quanto menor a crença de autoefi-cácia, maior a quantidade de comportamentos dolo-rosos e de evitação da dor[11]. Além disso, a percep-ção de autoeficácia pode influenciar na tolerância da dor e até ajudar na redução da depressão[12].

Relacionados a esses dois constructos, tem-se o conceito de coping. Adotando aqui uma abordagem desenvolvimentista desse conceito, proposta da Teo-ria Motivacional do Coping, por Ellen Skinner e cols., esse constructo é definido como uma ação regulató-ria, que descreve como as pessoas regulam seus próprios comportamentos, emoções e orientações motivacionais[13]. Engloba esforços individuais para manter, restaurar e reparar as necessidades psicoló-gicas básicas de relacionamento, competência e au-tonomia afetadas pelas situações estressantes[13]. No meio esportivo, há várias estratégias de enfren-tamento [EE] (ways of coping) muito utilizadas pelos atletas, assim como por bailarinos, existindo uma relação entre coping e desempenho atlético[14]. O

coping de atletas e bailarinos também tem paralelo

nas tomadas de decisões diante de situações estres-santes[15].

Nesse contexto, o coping da dor é muito presente em atletas e bailarinos, pois a dor faz parte do cotidiano, de forma que, para continuar treinando e/ou ensaian-do, deve-se utilizar EE para lidar com essas situa-ções estressantes. Contudo, pesquisas demonstram que bailarinos não exibem EE da dor similares à de atletas de outros esportes[16]. Por isso, percebe-se que, embora ambos participem de competições de alto nível, há especificidades que precisam ser ob-servadas e que influenciam nos padrões psicológicos utilizados.

2. OBJETIVOS

Este estudo teve por objetivo descrever a metodolo-gia utilizada para a construção e validação de dois instrumentos psicológicos específicos para bailarinos relatando as dificuldades do processo.

Mais especificamente, pretendeu-se:

1) relatar as dificuldades apresentadas e as tomadas de decisões metodológicas;

2) demonstrar as evidências de validade e de adap-tação da Escala de Autoeficácia para Bailarinos (AEBAI);

3) demonstrar as evidências de validade do Inventá-rio de Coping da Dor para Bailarinos (ICDB).

3. A CONSTRUÇÃO DOS INSTRUMENTOS

Para a elaboração dos instrumentos, realizou-se uma revisão da literatura das áreas de Psicologia, Educa-ção Física e da Dança, para identificar questões per-tinentes para bailarinos adolescentes. Contou-se também com os 22 anos de experiência em dança de uma das pesquisadoras. Esta revisão permitiu identificar os principais aspectos relacionados aos constructos a serem avaliados. Para a construção da escala de Escala de Autoeficácia para Bailarinos (AEBAI), foram propostos 15 itens, tendo por base um estudo de Ferreira[17] no qual foi elaborada uma Escala de Autoeficácia para o futebol. Na AEBAI, mantiveram-se as questões breves e objetivas como no estudo original, pois tanto atletas quanto bailari-nos, em geral, não têm paciência com instrumentos psicológicos longos[18]. Além disso, como proposto por Bandura[19], o formato ideal para se elaborar um instrumento de autoeficácia e que este seja respon-dido da melhor formar possível é utilizando uma es-cala de 0 a 100%[19,20]. Considerou-se que, cultural-mente, o brasileiro está acostumado com esse tipo de escala, por conta que já na escola os sistemas de notas são feitos, em geral, de 0 a 100, facilitando a compreensão dos adolescentes.

Decidiu-se, assim, elaborar uma escala de autoeficá-cia específica para bailarinos adolescente por conta das características dessa população, tendo em vista que o adolescente está em um processo de constan-te mudanças tanto físicas quanto sociais, psicológi-cas, comportamentais e culturais[21,22,23,24]. Assim, os parâmetros de avaliação psicológica para essa popu-lação são diferentes. Considerou-se também o fato da dança não ser considerada um esporte, mas, que, pelas suas especificidades como atividade física, pode se diferenciar de outros esportes[3]. Por essas razões, é importante identificar as características das populações a serem estudadas, para desenvolver instrumentos adequados ao seu contexto, facilitando o processo de resposta e a clareza do instrumento. Também considerando que são raros os instrumen-tos que avaliam bailarinos adolescentes, optou-se pela construção do instrumento como todas as espe-cificidades citadas anteriormente. Foram propostos, assim, 15 itens[25].

A aplicação-piloto contou com a participação de 30 bailarinos de uma escola de dança do interior de São

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Paulo. Após a aplicação e correção da escala, res-pondida como uma escala composta por um

conti-nuum, variando de zero a 100%, considerou-se

coe-rente com o proposto, dando-se continuidade ao es-tudo, com o processo de obtenção de evidencias de validade, descrito no próximo tópico.

O segundo instrumento - Inventário do Coping da Dor para Bailarinos (ICDB) - foi baseado na Teoria Moti-vacional do Coping [TMC], que tem como principal expoente Ellen Skinner e cols.[13,26,27,28]. A TMC con-sidera os aspectos desenvolvimentistas no processo de coping, que entendido como parte da autorregula-ção. Com essa abordagem, é possível classificar melhor as estratégias de enfrentamento [EE] e ter uma análise mais detalhada sobre o processo estu-dado e suas funções adaptativas no médio e longo prazo. Esta decisão foi tomada após análise dos ins-trumentos da área[29].

Atualmente, o que se encontra na literatura da área são instrumentos inspirados na teoria de Lazarus e Folkman, que tem um foco mais cognitivista, sendo aplicados como questionários para pessoas não pra-ticantes de atividade física ou para atletas [30]. Nessa perspectiva teórica, o coping é visto como “focalizado na emoção” e “focalizado no problema” [31], com as críticas que esta divisão acarreta[27,32].

Não existia outro instrumento de avaliação, até en-tão, proposto para a área do esporte e da atividade física com base na TMC, que considera o coping como um processo de autorregulação voltado ao a-tendimento de três necessidades humanas básicas – de Relacionamento, Competência e de Autonomia. Após uma revisão dos instrumentos da área, Skinner et al.[27] consideraram haver 12 grandes categorias de alta ordem, com desfechos adaptativos - Autoconfi-ança, Busca de Suporte, Resolução de Problemas, Busca de Informações, Acomodação, Negociação – e mal adaptativos no médio e longo prazo - Delega-ção, Isolamento, Desamparo, Fuga, Submissão e Oposição[27].

Assim, foi proposto um novo instrumento, com possi-bilidades de uma classificação mais clara sobre o fenômeno, em suas relações com processos adapta-tivos. E essa classificação se torna mais eficaz le-vando em conta que o instrumento é focado em um estressor específico, no caso, a dor, em uma fase específica do desenvolvimento, que é a adolescência e especialmente na modalidade que é a dança (baila-rinos). Também se deve ressaltar que, na literatura, o que se encontra são instrumentos focados no coping atlético[33] e, portanto, não especificando o estressor, muitas vezes, não sendo adaptados para a faixa etá-ria.

Com esta abordagem, foram construídos 118 itens para avaliar o coping da dor em bailarinos adolescen-tes. A quantidade de itens foi elevada, pois já se es-perava a exclusão de boa parte deles por não conte-rem os critérios selecionados pelos juízes.

Após a construção dos itens, o instrumento seguiu para a avaliação de seis juízes, sendo dois professo-res de português, dois psicólogos do esporte e dois especialistas em dança, para verificar pertinência prática, teórica e linguagem. Tais critérios tiveram um índice maior que 0,80, salvo alguns itens que foram excluídos por não obterem índice igual ou superior a 0,80. Depois, o instrumento seguiu para avaliação de juízes especialistas na área motivacional do coping e após a avaliação deles o instrumento passou a ter 36 itens.

O instrumento é composto por duas colunas, na qual o bailarino responde, em uma escala tipo likert de 1 (nunca) a 5 (sempre), se utilizou aquela determinada estratégia e o quanto utilizou. Na segunda coluna, pergunta se aquele método funcionou ou não. O bai-larino responde com “nada”, “pouco” ou “muito”. Após a avaliação dos juízes especialistas e o parecer do Comité de Ética da PUC-Campinas (nº 465.153), o instrumento seguiu para o estudo-piloto com 30 bailarinos, de uma escola de dança do interior de São Paulo. Percebeu-se que os adolescentes entre 10 a 12 anos tiveram certa dificuldade em relação à segunda coluna, não compreendendo como funcio-nava. Por conta disso, foi necessário readequar es-ses termos, mas o que se pressupõe é que esse ins-trumento seja aplicado em adolescentes acima de 12 anos. A aplicação entre 10 e 12 anos, precisa ser assistida com mediação, em grupos pequenos ou individualmente, de preferência.

4. A VALIDAÇÃO DOS INSTRUMENTOS PARA BAILARINOS

A validação da EABAI foi feitacom a participação de 410 bailarinos brasileiros (93,42% do sexo feminino) entre 10 a 19 anos (M= 15,35; ± 3,36) de nível soci-oeconômico médio de C1 (renda média de R$1.541,00, segundo os Critérios de Classificação Econômica Brasil [ABEP] de 2013).

Calculou-se a estrutura interna do instrumento com análise fatorial exploratória para identificação dos fatores no instrumento. A partir disso, foi gerado um banco de dados para o software MPlus, versão 6.12 [34] para obtenção de índices de ajustes, que indicam a adequação da estrutura encontrada com base na amostra analisada. Essa análise fatorial exploratória dos itens gerou dois fatores os quais foram denomi-nados Autoeficácia Física e Autoeficácia Psicológica

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com alfa de Cronbach de 0,82 e 0,81, respectiva-mente. O item 8 foi o único que apresentou carga fatorial alta para os dois fatores, mas optou-se pela permanência dele no fator 2, pois verificou-se o in-cremento ao índice de fidedignidade do fator 2 por esse item. Houve equilíbrio entre os fatores (Fator 1 com 7 itens; Fator 2 com 8 itens) fazendo com que a escala em sua versão final ficasse com 15 itens, que podem ser respondidos de 0% (nenhuma confiança) a 100% (confiança absoluta) pelos bailarinos.

Percebe-se que a EABAI pode ser utilizada em todos os tipos de dança, pois são movimentações que a-brangem diversas modalidades e itens que focam nas questões psicológicas que influenciam a dança como um todo. Portanto, a AEBAI apresentou propri-edades psicométricas adequadas para ser utilizada em bailarinos entre 10 a 19 anos. Neste caso, as es-tatísticas foram de encontro com o que foi pensado teoricamente, em concordância com o exposto pelos juízes e pelo estudo-piloto. Um caso mais complexo ocorreu com o instrumento que avalia o coping da dor, como será descrito a seguir.

O ICDB passou por processo de validação com uma amostra de 386 bailarinos (93,42% mulheres) entre 10 e 19 anos (M = 15,35; ± 3,36) de nível socioeco-nômico médio C1 (renda média de R$1.541,00 se-gundo os Critérios de Classificação Econômica Brasil [ABEP] de 2013).

Depois da coleta de dados, foram feitas as análises estatísticas. Aplicou-se, inicialmente, testes basea-dos na Teoria Clássica basea-dos Testes (TCT)[35]. Foram mantidos os números de fatores na análise fatorial exploratória, com base na análise paralela[36]. Após isto, foi realizada a análise fatorial exploratória com variáveis policóricas e análise fatorial exploratória com base na correlação de Pearson das subescalas. Dada a complexidade do constructo do Inventário de

Coping da Dor para Bailarinos, as análises

estatísti-cas feitas com base na Teoria Clássica dos Testes (TCT) não foram suficientemente capazes de expli-car o constructo avaliado. O que se notou foi que a estatística mais clássica não foi capaz de distinguir as 12 famílias de coping propostas pela TMC, sepa-rando-as apenas nas grandes categorias de famílias em “adaptativas” e “mal adaptativas”. Uma possível hipótese para isso é que, para constructos psicológi-cos complexos, como é o caso, não há métodos es-tatísticos suficientemente robustos para captar essas diferenças minuciosas. Essas análises costumam ser feitas de modo qualitativo.

Por conta disso, buscou-se na Teoria de Resposta ao Item (TRI)[37] uma justificativa estatística para

manter os itens relevantes. A vantagem de se utilizar a TRI está no fato de que ela avalia cada item sepa-radamente do teste e não o instrumento de forma geral, como na TCT. Por isso, a TRI poderia explicar os itens relevantes. Portanto, pela TRI, o escore do instrumento analisado permanece razoavelmente estável, independentemente dos sujeitos que com-põem a amostra. Na análise pela TRI, foi possível manter os itens do instrumento, pois todos os crité-rios colocados por ela foram considerados adequa-dos.

A Análise de Redes[38] também foi um outro método utilizado para buscar uma justificativa estatisticamen-te coerenestatisticamen-te com os iestatisticamen-tens analisados. Esestatisticamen-te último mé-todo é formado por nodos e linhas, os quais repre-sentam as variáveis analisadas e as relações entre as mesmas. Optou-se, ao final, pela Análise de Re-des, pois a base da TCT consiste em um ou mais conjuntos de itens que agrupados explicam um ou mais conjuntos de variáveis latentes. Contudo, o que se observou na prática não condizia com a teoria. Por esse motivo, utilizou-se a Análise de Redes, pois, diferentemente da TCT, considera que não existem variáveis latentes, mas, sim, uma estrutura dinâmica de variáveis em um sistema.

Por conta disso, considerou-se a Análise de Redes como o melhor método estatístico, pois conseguiu captar as inversões de funções psicológicas, ou seja, o que na teoria é dada como mal adaptativa na práti-ca percebeu-se que teve função adaptativa. Isso foi possível observar na aplicação do estudo longitudinal da tese de Silva[39], pois percebeu-se que algumas famílias de coping que teoricamente são considera-das adaptativas, como, por exemplo Negociação, na prática, para os bailarinos, foi considerada mal adap-tativa. Para as bailarinas, é pior ter que negociar com o(a) professor(a)/coreografo(a) uma atividade mais leve, por conta da dor, por correrem o risco de sair da coreografia. Então, a “negociação” que, teorica-mente, tem função adaptativa, na prática, é entendi-da como mal aentendi-daptativa para os bailarinos. Por conta disso, a única análise estatística robusta o suficiente para entender esse processo foi a Análise de Redes, que conseguiu fazer isso com as correlações inver-samente proporcionais entre os itens dos instrumen-tos [40].

A Análise de Redes também foi capaz de mostrar em termos de aproximação e distanciamento dos itens, ou seja, ela mostrou quais os itens que estão mais relacionados e os que estão menos relacionados en-tre si. Aqueles itens que, pela TCT, seriam excluídos por esta análise eles mostraram relevância, como destaques na análise de redes. Por conta disso, foi o

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melhor tipo de análise para este caso, mas, mesmo assim, não foi suficientemente capaz para distinguir em 12 famílias de coping, agrupando novamente em “adaptativas” e “mal adaptativas”.

Com essas características, esse inventário de coping pode ajudar no desenvolvimento da área, já que ele abrange aspectos antes menos observados, indo além, por exemplo, algumas EE, que antes eram classificadas apenas como mal adaptativas e adapta-tivas e agora passam a serem observadas cada uma das 12 famílias de coping.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Psicologia do Esporte e da Atividade Física pode e deve ser aplicada na dança. Considerando que, para intervir, é preciso avaliar, e observando a falta de instrumentos focados para bailarinos, foi aqui descri-ta a construção e a busca de evidências de validade de dois instrumentos psicológicos, um para avaliação da autoeficácia e outro para mensuração do coping da dor, sendo relatados neste estudo os caminhos metodológicos traçados para este desenvolvimento. Alguns problemas foram encontrados, principalmente relacionado ao coping da dor que teve que usar mé-todos estatísticos mais robustos para não precisar excluir itens que na prática eram muito importantes. Mesmo assim, todo o processo metodológico foi se-guido, para ambos os instrumentos, desde a formu-lação dos itens embasada na teoria e prática, pas-sando pela avaliação de juízes especialistas, estudo piloto, reformulação de itens, aplicação final e análise de dados.

Com isso, percebeu-se que são necessários novos estudos com estes instrumentos para verificar a es-tabilidade dos mesmos; a importância de se ter ins-trumentos específicos para cada população, bem como de acordo com a faixa etária. Ambos os ins-trumentos são válidos para aplicação, considerando suas propriedades psicométricas satisfatórias.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq/MCTI, pela bolsa de Iniciação Científica e de produtividade em pesquisa em nível 1B para a orientado-ra; aos colegas do grupo de estudo; às doutorandas An-dressa M. B. Silva, pela paciência e dedicação em ajudar na coorientação, e Anita C. Bellodi pela ajuda nas corre-ções dos trabalhos; ao psicólogo Rafael A. Ribeiro (AT/CNPq), e colegas, Murilo F. Araujo, Allan W. Oliveira e Nathália Siqueira, pelo apoio e compartilhamento de expe-riências.

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