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PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE DO TRABALHADOR: CONSTRUINDO

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Academic year: 2021

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SICOLOGIA E POLÍTICAS

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ÚBLICAS EM SAÚDE DO TRABALHADOR

:

CONSTRUINDO POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO

Bianca Marques Longo (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil); Carol de Moura Rocha (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, PR, Brasil); Ingridy Loof Silva (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil); Joicy Vinci Schuenck (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil); Maria Aparecida de Moraes Burali (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil); Lígia Sayuri Murassaki* (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil).

contato: murassakiligia@gmail.com

Palavras-chave: Saúde. Trabalho. Serviço Público.

Ao se falar em política pública, muitas vezes, o entendimento pode limitar-se em um conjunto de ações assistenciais aos mais desfavorecidos da sociedade, contudo, a política pública se refere, principalmente, à necessidade de “abrir espaço social necessário para o desenvolvimento de todos os indivíduos, para que alcancem as conquistas humanas de dado momento histórico” (Gonçalves, 2010, p. 64). Portanto, a política pública pressupõe um espaço de promoção de direitos, os quais devem ser constitucionalmente garantidos pelo Estado, destacando aqui o direito à saúde como dever do Estado e entendendo a saúde para além da ausência de doenças e como enuncia a Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal 8080/90), Art. 3º “A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais;”. Dentre esses determinantes da saúde, está o trabalho, contudo, que trabalho é promotor de saúde? Daí a necessidade, da mesma Lei citada, no artigo 6º, parágrafo 3, assegurar a todo cidadão trabalhador ações específicas em saúde do trabalhador que envolvem desde a promoção e proteção até a reabilitação da saúde desse público.

Tais ações também são contempladas e enunciadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e na Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), contudo, o desafio posto é a execução de tais diretrizes e estratégias de ação nas esferas do governo (federal, estadual, municipal), principalmente, devido o conflito histórico de interesses posto na relação capital-trabalho, em que a saúde do trabalhador fica à margem das demais políticas de atenção à saúde, prevalecendo a

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visão do trabalhador como objeto e a sua força de trabalho como mercadoria — o que demonstra a complexidade das ações em saúde no campo do trabalho e a miopia em perceber o sujeito-trabalhador como sujeito-humano com direito à vida e à saúde no e pelo trabalho. Trabalho esse que não é neutro em relação a vida do sujeito, mas que se apresenta como categoria constituinte do psiquismo, da identidade dos trabalhadores, com implicações diretas no modo de viver, existir, adoecer ou até morrer de cada cidadão (DEJOURS, 1992; CLOT, 2006; CODO, 2011).

É nesta complexa relação trabalho-saúde-produção que o Estado deve comparecer, mediante as políticas públicas, para garantir o direito de proteção à vida e à saúde dos trabalhadores nos diferentes contextos laborais. A falta de condições dignas e decentes que contribuem para a precarização do trabalho expõe os trabalhadores a riscos de acidentes e adoecimento, e essa situação pode se agravar devido à indiferença dos empregadores para com a saúde dos trabalhadores nos diferentes contextos de trabalho. No contexto do trabalhador público, designado “servidor” tal situação se torna mais complexa, visto que ter o Estado como patrão significa estar à mercê do descaso e do jogo político do governo, sendo que a saúde destes trabalhadores não entra na agenda dos gestores, o que agrava o estado de desproteção e desamparo. Portanto, intervir em saúde do trabalhador no serviço público implica em compreender essas múltiplas dimensões que envolvem o trabalho nessas instituições, para respaldar ações em direção da defesa dos direitos dos “servidores” a saúde no e pelo trabalho, tal como, em outros contextos laborais.

São essas reflexões que embasam o projeto de extensão: Atenção à Saúde do Trabalhador, desenvolvido por docente e discentes do curso de psicologia da Universidade Estadual de Maringá, que tem como objetivos abrir espaço dentro da instituição para um olhar e uma atenção à saúde dos servidores e oportunizar aos discentes a ampliação da visão sobre as possibilidades de atuação para além da psicologia organizacional, para uma psicologia posicionada e comprometida com os trabalhadores e seus trabalhos, adentrando, portanto, no território das políticas públicas neste campo, levando dessa experiência no projeto, algumas referências para possíveis atuações nos diversos serviços que compõe a Rede de Atenção em Saúde do Trabalhador (RENAST), composta pelos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), pela vigilância em saúde do trabalhador, Atenção Primária à Saúde (APS) e, até nos Serviços Especializados em Segurança e Medicina do trabalho (SESMTs) nos diferentes contextos de trabalho. Desta forma, objetiva-se com este trabalho apresentar um pouco da experiência do projeto, que vem sendo desenvolvido

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desde 2014, para refletir sobre as possibilidades e desafios para a atuação da psicologia em políticas públicas voltadas à saúde do trabalhador, tendo como abordagem teórica e metodológica a Psicologia Social do Trabalho (BERNARDES, 2015).

Para o desenvolvimento das ações do projeto, o primeiro contato para levantamento das informações sobre a situação de saúde dos servidores é com a equipe do SESMT e consultado o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), conhecer a condição de saúde dos servidores por setores, quadros de adoecimento e queixas mais frequentes relacionadas ao trabalho. Esses dados, vão servir de balizamento para o planejamento das ações do projeto, a escolha do setor a ser priorizado para a intervenção e os próximos passos para a aproximação com os servidores, que consiste em visita aos setores e, existindo, concordância dos mesmos em serem atendidos pelo projeto, inicia-se com a aplicação de um inventário em saúde do trabalhador em que se aborda aspectos relacionados à saúde e ao trabalho e análise destes dados, irão nortear a metodologia de intervenção, se individual ou em grupo, se palestras informativas ou visitas orientadas nos setores.

Dentre todos os casos atendidos, o setor de zeladoria foi selecionado para ser atendido em 2017 pelo projeto, de igual modo, foi constatado no SESMT que a demanda deste setor era significativa, realizou-se uma reunião com a respectiva chefia do setor para exposição do projeto e da situação de saúde das servidoras do setor e, em seguida, uma reunião com as zeladoras para esclarecimentos e uma primeira escuta das queixas relatadas pelas mesmas. Também foi realizada a aplicação do inventário em saúde e trabalho, com o intuito de verificar detalhadamente tais queixas, como forma de oferecer um panorama acerca das condições de saúde e trabalho. Com isso, pôde-se observar que os servidores deste setor apresentavam, primordialmente, problemas osteomusculares, com níveis variados de comprometimento. Assim, tendo por base a

especificidade das queixas, optou-se por um trabalho compartilhado entre a psicologia e a

fisioterapia, que na troca de conhecimento e discussão de possibilidades de intervenções, puderam realizar um trabalho articulado, que atendesse integralmente as necessidades apresentadas pelos servidores da zeladoria nesse contexto. A partir desse trabalho interdisciplinar, desenvolveu-se um grupo denominado “Saúde e Movimento”, o qual foi estruturado com base no método de roda de conversa (CAMPOS, 2000) e desenvolvido por meio de dinâmicas de grupo, ginásticas laborais, exercícios para relaxamento e orientações posturais; tais intervenções foram elaboradas com o

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intuito de valorizar o conhecimento e a subjetividade dos trabalhadores, promovendo a ressignificação do processo de adoecimento e o estímulo à participação em relação ao tratamento, de forma a garantir o autoconhecimento e a autonomia. Ao todo, foram realizados 12 encontros, que aconteceram uma vez por semana, com duração de uma hora e participaram em torno de dez a quinze zeladoras.

Os resultados obtidos com a intervenção realizada foram satisfatórios, pois verificou-se o aumento de interesse dos servidores em participar das atividades e a coesão do grupo consolidada, comprovados com participação assídua da maioria. Oferecendo esse espaço interdisciplinar, conseguiu-se criar um ambiente de acolhimento em relação aos sofrimentos e necessidades destes trabalhadores no exercício de seu trabalho. Desta forma, em uma construção conjunta, buscou-se alternativas em direção às transformações necessárias, dentro e fora do ambiente laboral, promovendo uma conscientização de luta por melhores condições de saúde e trabalho, desenvolvendo assim melhor qualidade de vida e promovendo autonomia no cuidado por parte desses trabalhadores.

Conclui-se, portanto, que as ações realizadas pelo projeto, exposto ao longo deste trabalho, torna evidente a necessária discussão sobre a complexidade do processo saúde-doença no contexto do trabalho, bem como a reflexão acerca da contribuição da psicologia para a construção de práticas que sejam efetivas no âmbito da promoção e prevenção de saúde no trabalho, entendendo, que as possibilidades de atuação da psicologia em saúde do trabalhador referem-se à responsabilidade de contribuir com a visão do trabalhador enquanto um sujeito do coletivo, levando em consideração o conhecimento e a valorização da subjetividade como aspectos indispensáveis na compreensão do processo de trabalho. (CREPOP, 2008).

Outro aspecto destacado pelo grupo, foi a urgente necessidade de se criar um programa de atenção à saúde do trabalhador na universidade, envolvendo os vários departamentos correlatos à essa questão, para que de forma mais abrangente e resolutiva enfrentar os problemas advindos da relação saúde e trabalho, ocultados nas relações com o governo, passando a ser pauta de luta e negociação, bem como, construir um espaço legitimado de cuidado e atenção aos seus trabalhadores, com foco maior na prevenção e promoção à saúde pelo trabalho.

Neste sentido, existe uma limitação política para inserção das atividades do projeto, contudo, tem se constituído um espaço para reflexão, discussão, exercício de olhar, intervir e

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aprender referências e possibilidades de atuação do psicólogo em saúde do trabalhador dentro das políticas públicas em saúde do trabalhador ou no diálogo e articulação com este campo.

Referências

Bernardes, M. H. et al. (2015) A práxis da Psicologia Social do Trabalho: reflexões sobre possibilidades de intervenção. In: Coutinho, M. C; Furtado, O. & Raitz, T. G. (Orgs.).

Psicologia social e trabalho: perspectivas críticas (pp. 16-19). Florianópolis: ABRAPSO.

Brasil. (1990) Decreto-lei n. 8080/90, de 19 de setembro de 1990. Brasília, DF.

Campos, G. W. S. (2000) Um método para co-gestão de coletivos: a constituição do sujeito, a

produção do valor e a democracia nas instituições. São Paulo: Hucitec.

CENTRO DE REFERÊNCIA TÉCNICA EM PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS (CREPOP). (2008) Saúde do Trabalhador no âmbito da Saúde Pública: referências para a

atuação do(a) psicólogo(a). Brasília, CFP.

Clot, Y. (2006) A função psicológica do trabalho. Rio de Janeiro: Vozes.

Codo, W. (2011) Um diagnóstico integrado do trabalho. In: Jacques, M. G.; Codo, W (Orgs).

Saúde Mental & Trabalho: leituras (pp. 144-173). Rio de Janeiro: Vozes.

Dejours, C. (1992) A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez-Oboré.

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