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Recursos imagéticos para o ensino das ciências a crianças disléxicas

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Academic year: 2021

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Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSM IISSN on-line: 2179-4588

Recursos imagéticos para o ensino das ciências a crianças disléxicas

Samantha Montes Pereira e André Amaral Gonçalves Bianco

sam-montes@hotmail.com; andrequim@gmail.com

Resumo

Estudamos a importância do uso de imagens no livro didático de ciências, para o ensino de química aos alunos disléxicos, ressaltando a influência da imagem na aprendizagem de conceitos de Química para o aluno com dislexia e comparamos o uso de textos ao de imagens no

ensino de Química para o aluno disléxico. Aplicamos atividades com utilização de imagens em seu contexto, analisando o desempenho dos alunos em relação a atividades que não utilizam imagens, mas sim textos explicativos, com aplicações de testes contendo imagens. Com isso

analisamos o desempenho dos alunos através destas avaliações e consequentemente a importância do uso de recursos imagéticos. Percebemos que o desempenho dos alunos que foram avaliados pelas provas que continham imagens foi superior ao dos alunos submetidos

a avaliações compostas por textos.

O uso de imagens em avaliações mostrou-se mais adequado do que textos, mesmo trabalhando-se em um universo sem distinção entre alunos disléxicos e não disléxicos. Esse resultado trás evidencias de que a utilização de imagens no Ensino de Ciência é útil ao processo de aprendizagem dos alunos. Sendo possível verificar que o uso da iconografia em avaliações de Ciências trás resultados mais satisfatórios do que o uso de textos. Essa evidência pode colaborar para recomendações dos modelos de avaliações externas utilizados por órgãos nacionais

e internacionais.

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1.

Análise iconográfica semiótica – contexto do relato

Imagens são importantes recursos para a comunicação de ideias científicas. No entanto, além da indiscutível importância como recursos para a visualização, contribuindo para a inteligibilidade de diversos textos científicos, as imagens também desempenham um papel fundamental na constituição das ideias científicas e na sua conceitualização (MARTINS, 2002). Procuramos então enfocar nossa pesquisa na influência do uso de imagens no ensino de ciências para crianças disléxicas.

A dislexia é uma incapacidade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica e hereditária, caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. (TALE, 2004), tendo como característica uma pré-disposição à inteligência corporal-cinestésica, musical, espacial, logo para o disléxico o uso de imagens mostra-se mais do que essencial no processo de aprendizagem.

As ferramentas de visualização são essenciais para o entendimento e a pesquisa em química. Isso é o reflexo do crescimento do número e variedade de ferramentas de visualização agora disponíveis para o ensino, aprendizado e pesquisa em ciências, incluindo recursos como: modelos físicos e moleculares, fotografias, figuras, diagramas, ilustrações, desenhos, imagens, representações por analogia, mapas, caminhos simbólicos, gráficos, ícones, imagens estáticas e dinâmicas, imagens animadas, multimídia e ambientes de realidade virtual (SCHONBOM, ANDERSON, 2006).

Assim procuramos investigar tal influência, de recursos imagéticos no ensino de alunos disléxicos no âmbito da química, tanto em questão avaliativa quanto se tratando do desenvolvimento dos mesmos em aulas.

2.

Teste iconográfico – detalhamento das atividades

Primeiramente foi feita uma revisão bibliográfica incluindo coleta de dados sobre análises iconográficas de livros didáticos, analisando se tais imagens utilizadas nos livros estão adequadas aos mesmos, tomando como base critérios utilizados pelo MEC, Ministério da Educação e da Cultura, para a seleção dos livros no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Somando tais métodos, mais os fundamentos próprios criados após o levantamento bibliográfico sobre adequação de recursos imagéticos, fizemos uma seleção de imagens para o uso no ensino e na avaliação de crianças disléxicas e não disléxicas, tanto para ser aplicada em futuras publicações em livros didáticos quanto em avaliações externas nacionais, como SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), Prova Brasil, Provinha Brasil, Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), etc.

Dentre os critérios levantados podemos citar alguns que foram fortemente considerados nas seleções de imagens utilizadas e analisadas no projeto: o fato da obra estar organizada de forma clara e coerente no contexto, ser legível, isento de erros de impressão (tamanho, cor, papel), ilustrações que se adéquam a realidade, diversidade e pluralidade da população, respeito a proporções, mostrar a fonte, isenta de erros de revisão, obra isenta de ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabacos, armas e munições, respeitando os valores éticos e sociais da pessoa e da família, dentre outros fatores considerados.

Assim com critérios estabelecidos para testarmos a real importância do uso de imagens na aprendizagem e avaliação dos alunos, elaboramos um método avaliativo/comparativo a ser aplicado em escolas a alunos do Ensino Fundamental II.

O teste fundamentou-se na seguinte hipótese: duas avaliações com conteúdos estritamente iguais, voltadas para faixa etária e intelectual dos alunos do 9º ano, levando em conta o fato destes alunos já terem tido aulas de tais matérias cobradas na seguinte avaliação, diferindo apenas um fator, uma avaliação continha textos introdutórios explicativos em cada questão e outra continha imagens auto-explicaticas, substituindo os textos, em cada questão. As avaliações continham cinco questões valendo de 0 a 10. Abaixo um exemplo de questão aplicada nas avaliações, a mesma questão em ambas as provas, uma contendo e outra não contendo imagem, cabe ressaltar que a proporção apresentada no quadro não é a mesma, estando aqui em formato menor.

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Atividade da Avaliação Com Imagem Atividade da Avaliação Sem Imagem

1. Observe o esquema abaixo e responda as questões a seguir:

O naftaleno, comercialmente conhecido como naftalina, empregado para evitar traças em roupas, funde em temperaturas superiores a 80ºC. Sabendo-se que bolinhas de naftalina, à temperatura ambiente (25ºC) têm suas massas constantemente diminuídas, terminando por desaparecer sem deixar resíduo, como podemos explicar esse fenômeno?

a) O desaparecimento das bolinhas de naftalina pode ser atribuído à fusão da naftalina.

b) O desaparecimento das bolinhas de naftalina pode ser atribuído à sublimação da naftalina.

c) O desaparecimento das bolinhas de naftalina pode ser atribuído à liquefação da naftalina.

d) A naftalina entra em ebulição dentro do armário, passando para o estado gasoso.

1. Se cubos de gelo forem retirados de um congelador e expostos à temperatura ambiente, depois de alguns instantes eles começam a derreter. Dizemos que o gelo sofre fusão (passagem do estado sólido ao líquido). O processo inverso é denominado solidificação (passagem do estado líquido para o sólido). Quando a água líquida é colocada em aquecimento, em determinado instante ela começa a ferver, e bolhas de vapor de água saem da superfície do líquido. Trata-se da ebulição da água (passagem do estado líquido ao gasoso). Porém, se uma tampa for colocada sobre o recipiente que contém a água em ebulição, o vapor de água transforma-se em água líquida na superfície interna da tampa. A passagem do estado gasoso ao líquido por diminuição de temperatura ou aumento de pressão recebe o nome de condensação ou liquefação. Alguns materiais podem passar diretamente do estado sólido ao gasoso (sublimação). É o que acontece com as bolinhas de naftalina usadas para evitar a presença de traças em armários. A naftalina sublima, e seu tamanho diminui, deixando o armário impregnado com seu cheiro (seus vapores). O processo inverso é chamado também de sublimação ou ressublimação (passagem do estado gasoso para o líquido).

Fonte: Química: ensino médio/organizador Júlio Cezar Foschini Lisboa. – 1. Ed. – São Paulo: Edições SM, 2011.

1. O naftaleno, comercialmente conhecido como naftalina é, utilizado para evitar traças em roupas e funde em temperaturas superiores a 80ºC. Sabendo-se que bolinhas de naftalina, à temperatura ambiente (25ºC), têm suas massas constantemente diminuídas, terminando por desaparecer sem deixar resíduo, como podemos explicar o desaparecimento de bolinhas de naftalina deixadas num armário?

a) O desaparecimento das bolinhas de naftalina pode ser atribuído à fusão da naftalina.

b) O desaparecimento das bolinhas de naftalina pode ser atribuído à sublimação da naftalina.

c) O desaparecimento das bolinhas de naftalina pode ser atribuído à liquefação da naftalina.

d) A naftalina entra em ebulição dentro do armário, passando para o estado gasoso.

Quadro I – Exemplo de exercício aplicado no teste iconográfico.

As aplicações foram realizadas em três escolas da região da grande São Paulo. A primeira escola a receber dos testes foi o Colégio Albert Einstein, localizado na região da Cidade Dutra, Interlagos. Aplicamos os testes em três salas do 9º ano (antiga oitava série), totalizando 51 alunos, sendo 28 avaliações sem imagens e 23 com imagens.

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A segunda escola onde aplicamos o teste foi a Escola Estadual Clarice Seiko Ikeda Chagas, localizada no bairro do Grajaú, Zona Sul de São Paulo, lá avaliamos duas salas que tinham em média trinta e cinco alunos, totalizando 57 alunos divididos entre as duas salas de 9º ano, sendo 27 avaliações sem imagens e 30 com imagens.

A terceira e ultima escola visitada foi a Escola Municipal do Ensino Fundamental José do Patrocio, que fica na cidade de São Bernardo do Campo, onde aplicamos em uma sala de 9º ano, que continha 45 alunos, assim 23 avaliações sem imagens e 22 com imagens.

Após a aplicação dos testes, todos foram corrigidos e devidamente tabelados. Assim terminamos a aplicação desta primeira analise icnográfica obtida na nossa pesquisa.

3.

Discussão e resultados – análise e discussão do relato

Com as avaliações corrigidas e tabeladas podemos analisá-las, levando em conta claro, fatores como a diversidade das escolas abrangidas, suas localizações, seu público alvo, o número de alunos avaliados por escola, etc; comparamos os resultados das avaliações que continham imagens com as que continham textos (sem imagem).

Tabela I – Quadro comparativo geral.

Podemos notar que a escola privada obteve a maior média em ambas as avaliações, e no Brasil o ensino particular se mostra superior ao ensino público, tão agravante é este quadro que notamos isso com um simples teste icnográfico onde os alunos da escola privada desenvolveram sem grandes dificuldades enquanto alunos da escola pública reclamavam de nunca terem ouvido falar em certos termos. Quanto às de mais escolas ambas do ensino público uma municipal e outra estadual, mantiveram uma nota muito próxima uma da outra.

Agora o fator mais importante e motivador da nossa pesquisa, que foi a comparação das avaliações que continham imagens e as avaliações que não continham imagens, em todos os resultados das três escolas foram unanime, todas tiveram uma média superior nas avaliações que possuíam imagens e em todos os casos esta média foi superior ou maior que o dobro das médias das avaliações sem imagens.

Embora a amostra, seja escassa com apenas 153 alunos avaliados, não podemos negar a distinção das médias, o uso de imagens nas avaliações se mostrou muito mais eficaz do que textos, importante ressaltar que as questões eram exatamente iguais mudando somente o enunciado que diferia em texto ou imagem, o grau de dificuldade foi o mesmo, então podemos considerar que os alunos tiveram sim mais facilidade de responder as questões quando estas foram compostas de maneira ilustrativa.

Se este resultado pôde ser visto em alunos aparentemente sem distúrbios de aprendizagem, então tal método quando destinado a alunos disléxicos que necessitam de tal apelo iconográfico para melhor compreensão do conteúdo que é apresentado, auxiliará não somente aos professores tanto ao ensina-los quanto ao avalia-los, e claro principalmente ao aluno com dislexia que pelas dificuldades com a leitura conseguirá com maior facilidade

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compreender aquilo que ao invés de vir em forma de um texto, vem a partir de uma imagem que passa exatamente o que o texto transparece.

4.

Considerações finais

Os resultados colhidos por nossa pesquisa foram satisfatórios embora em pequena escala, podemos mostrar a importância do uso da iconografia no ensino e na avaliação de crianças em período escolar, isso se mostra ainda mais benéfico quando nos referimos a crianças disléxicas que possuem pré disposição a recursos imagéticos para sua aprendizagem. Há uma gama muita maior ainda a ser pesquisa ainda sobre o tema, a dislexia não tem cura, mas pode ser remediada de diversas formas, usando o distúrbio em favor do aluno afetado e em auxilio do professor desafiado. Os recursos imagéticos vêm a ser importantes não somente aos alunos disléxicos, mas consequentemente a todos que tem acesso a uma didática preocupada com todos os ângulos do ensino, procurando sempre beneficiar a aprendizagem.

Referências

LEMKE, J. Multiplying meaning: visual and verbal semiotics in scientific texts. In MARTIN, I. R., Veel, R. (eds.).Reading Science. London: Routledge, 1998.

MARTINS, I. "Visual imagery in school science texts", in Graesser, A., Otero, J. e De Leon, J. A. (eds.). The psychology of scientific text comprehension. Hillsale, N. J. Lawrence Erlbaum Associate Publishers. 2002. MARTINS, I.O papel das representações visuais no ensino e na aprendizagem de ciências. Jn. Moreira, A. (org.). Atas do I Encontro de Pesquisadores em Educação em Ciências. Águas de Lindóia, 23 a 26 de novembro, pp. 294-299, 1997.

SANTAELLA, Lúcia. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

SCHONBORN, K. J., ANDERSON, T. R. (2006), The importance of Visual Literacy in the Education of Biocheminsts, Biochemistry and Molecular Biology Education, v.34, n.2, p. 94-102.

SNOWLING, Margaret J. Dislexia desenvolvimental: uma introdução e uma visão teórica geral. Livro: Dislexia, Fala e Linguagem. Margaret Argaret Snowling, Joy Stackhouse e Cols. Editora: Penso.

TELE, P. Dislexia: como identificar? Como intervir? Revista Portuguesa de Clínica Geral, v. 20, n. 6, nov.-dez. 2004.

Referências

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